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Terapia do Esquema (TE)

Profa. Dra. Eliane Falcone


Aula 07
Estratégias Emocionais
de Mudança
Tópicos

Objetivos das estratégias emocionais


Conduzindo diálogos na imagem
Reparação parental na imagem
Exemplos
Estratégias vivenciais - objetivos

• Lutar contra os esquemas em um nível afetivo;


• Ativação das emoções conectadas ao esquema;
• Realizar a reparação parental;
• Satisfazer (parcialmente) necessidades não atendidas.

• Trabalho experiencial + Reparação parental

Luta contra o esquema em um nível emocional.


Estratégias vivenciais - objetivos

Conduzir o paciente a se sentir autorizado em seus direitos humanos


básicos.

Reverter o processo em que a voz dos pais se transformou na própria voz do paciente
(mudar o esquema de egossintônico para egodistônico).
Não vou deixar que você abuse de mim;... que me critique; ...que me controle; ...Eu precisava
de amor e você não me deu ...Eu tinha direito a ter raiva ...Eu tinha direito a uma identidade
particular...).
Ventilar a raiva do paciente para que este lute contra o esquema e se distancie do mesmo.

– Defectividade (todas as crianças devem ser tratadas com respeito).


– Privação emocional (todas as crianças têm direito a afeto, compreensão e proteção).
– Subjugação (todas as crianças têm direito a expressar seus sentimentos e necessidades).
Estratégias vivenciais - objetivos

Expressar luto pelo que aconteceu na infância

• Diferenciar o passado (esquema era verdadeiro) do presente (não é mais


verdadeiro);
• Abrir mão da expectativa de que o pai ou a mãe irá mudar, reconhecendo as
qualidades de ambos;
• Desligar-se do pai ou da mãe (quando não é possível negociar um
relacionamento saudável) e abrir-se para a formação de novos vínculos
saudáveis;
• Compaixão pelo próprio self da infância, mudando sentimentos de desprezo
ou indiferença por si próprio;
• Não há como reverter a infância sofrida, mas é possível focar o futuro e
torná-lo mais gratificante.
Conduzindo diálogos na imagem + Reparação parental

• João: tem 50 anos, engenheiro, separado;


• Sentimentos frequentes de culpa e de vazio;
• Sentimentos recorrentes de culpa em relação à mãe e à namorada atual, por
não cuidar delas como deveria (frequente nos relacionamentos amorosos);
• Sentimentos de rancor/raiva por se sentir abusado por elas;
• “Dor emocional” e sentimentos de vazio, ocorrendo principalmente pela
manhã;
• Mãe instável, autocentrada e negligente com os filhos;
• Pai faleceu quando ele era recém-nascido.
Principais Esquemas identificados

Privação Emocional: Auto-sacrifício:

– Mãe impulsiva, fria e pouco receptiva. – Mãe chorava muito;


Não havia carinho nem expressão de
afeto. – Sentia pena dela por trabalhar
muito. Passou a trabalhar cedo para
ajudá-la;
– Lembra-se de uma situação com 5 – Ao mesmo tempo, era
anos, onde se sentiu sozinho. Ela irresponsável em algumas decisões;
estava no banheiro e não abriu a porta,
mesmo com o choro dele desesperado.
– Sentia raiva e pena da mãe.
Imagem atual da “dor emocional” pela manhã
(João vivencia uma situação que é recorrente)

Situação:
Estou no meu quarto, são 8h. (descreve os detalhes físicos do quarto).

Sentimentos:
Sinto que a vida não tem sentido, que não vale a pena. Tristeza, desânimo, abandono.
Sinto que não sou importante para ninguém. Não tenho ninguém que se importe comigo.

Sensações físicas:

Angústia no peito, desesperança total.


Esquema: PRIVAÇÃO EMOCIONAL
Imagem do passado, a partir da emoção ativada na fase anterior

João: Estou na casa de minha avó, no quarto grande, que fica no segundo andar.
Tenho cerca de cinco a seis anos.

Terapeuta: O que está acontecendo na imagem?

João: Minha mãe está sentada na cama, chorando, com as mãos cobrindo o rosto. Eu me aproximo para
consolar, mas ela se recusa, ignorando a minha presença.

Terapeuta: Como você se sente?

João: Impotente, culpado. Vejo minha mãe sofrendo e não posso fazer nada. Sinto-me diminuído,
humilhado, tenso.

Terapeuta: Diga isso a ela, diga como você está se sentindo.

João: Não adianta, ela não me ouve... Nunca mais vou ser feliz... Tudo acontece errado. Sinto pena dela,
pena de mim... Estou em desvantagem... A vida me deixou assim... Sinto angústia... Estou desprotegido...
Terapeuta faz a Reparação Parental na imagem
Pede para entrar na imagem e fala com o “Joãozinho” (criança abandonada)

T: Onde você quer que eu fique? Onde você está sentado?

João: Em um banquinho. Sente perto de mim.

T: Estou aqui, sentada no chão, ao seu lado. Estou abraçando você. Consegue me ver assim?

João: Sim. Minha mãe está sofrendo, preciso fazer alguma coisa.

T: Você me permite conversar com sua mãe?

João: Sim

T (falando com a mãe na imagem): Imagino como a vida tem sido difícil para você...perder o marido tão
jovem...é muito duro mesmo...mas olhe para o seu filho agora...veja como ele está aflito, angustiado por
lhe ver assim. Ele é uma criança e precisa de você. Veja como ele se sente ignorado. Ele precisa do seu
amor, do seu carinho, de sua atenção, mas ele nem consegue se dar conta disso, porque está focado em
ajudar você...
Terapeuta faz a Reparação Parental na imagem

T: Seja a sua mãe agora e responda.

João (no papel da mãe): A vida não tem graça para mim...tudo é tão difícil...não tenho condições de
pensar em ninguém.

T: Às vezes a vida nos exige muito. Mas olhe à sua volta. Seu filho depende de você. Ele está carente,
é uma criança. Olhe para ele, ele precisa de você. Não é ele quem tem que cuidar de você. Você é
quem tem que cuidar dele. Dê atenção ao seu filho...dê carinho ao seu filho. Pare de olhar para o
próprio umbigo, por alguns instantes e olhe para o seu filho...

(Terapeuta pede ao João adulto para fazer a


reparação parental do pequeno João, dialogando
com ele, consolando etc. )
Avaliação logo após o exercício experiencial

João: Fiquei surpreso...foi libertador...agora lembro que minha mãe sempre fazia isso...mobilizava as
irmãs, meus avós...todos viviam ao redor dela, paparicando...hoje vejo que minhas tias percebem o
quanto ela é manhosa, faz birra quando as coisas não acontecem como ela quer...faz todos se
sentirem culpados.

Sessões subsequentes:

•Visão mais objetiva da mãe. Sente compaixão, em vez de culpa.


•Percebe que ela exagera nas lamentações. Ela poderia fazer algo, mas não quer.
•Percebe quando a namorada não reconhece as necessidades dele e se aborrece, mas reconhece o
seu papel de aceitar a desconsideração.
•Mudou-se para o seu próprio apartamento (não conseguia sair da casa da mãe)
•Consegue ser mais assertivo com a namorada, sem se alterar.
Referências bibliográficas

Farrell, J., Reiss, N., & Shaw, I.A. (2014). The Schema Therapy Clinician’s Guide. Malden: Wiley-Blackwell.

Mendes, M. A. & Falcone, E. M. O. (2014). Estratégias experienciais. In W. V. Melo (Ed.). Estratégias


psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva. Novo Hamburgo: Sinopsys

Stevens, B. A. & Roediger, E. (2017). Breaking negative relationship patterns. Malden: Wiley-Blackwell.

Van Vreeswijk, M. Broersen, J., Bloo, J., & Haeyen, S. (2012). Techniques within Schema Therapy. In M.
van Vreeswijk, J. Broersen, & M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy.
Theory, research, and practice. Malden: Wiley-Blackwell.

Young, J.E. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada no
esquema. Porto Alegre: Artmed.

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