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Terapia do Esquema (TE)

Profa. Dra. Eliane Falcone


Aula 06
Diálogo de Esquemas:
o trabalho com as cadeiras
Tópicos

1. Princípios básicos
2. Trabalhando com as cadeiras (Chairwork)
O trabalho com as cadeiras

Representa uma variedade de intervenções vivenciais, tendo as cadeiras


como posições (conflitos) com outras pessoas (cadeira vazia) ou de partes
internalizadas do self (conflitos internos), com o propósito terapêutico.

Criado por Jacob L. Moreno, fundador do psicodrama (1889-1974).

A percepção era nutrida principalmente através da ação, sendo esta mais


receptiva à mudança, através da encenação.

O teatro e a performance provia significados para recriar, observar e resolver


problemas pessoais.
Diálogos com as cadeiras – Duas formas de diálogo psicoterápico

Diálogos externos:

Conversas sobre assuntos não finalizados ou conexões emocionais não


resolvidas;
“Cadeira vazia” ou “duas cadeiras”;
Pesar ou luto, trauma, assertividade, perda de emprego ou de posição;
Expressar emoções para a outra pessoa.

Diálogos internos:

Técnicas cognitivas ou experienciais (desafiar crenças e esquemas


problemáticos);
Duas perspectivas de significados diferente dialogam, cada uma em sua
cadeira.
Técnicas de trabalho com as cadeiras

Confronto com pais abusivos/cruéis, que contribuíram para o desenvolver EIDs;

Diálogo de apenas uma via;


Paciente senta-se em uma cadeira e imagina o seu pai sentado em outra cadeira;
Paciente é incentivado a descrever o pai sentado na cadeira (ex.: idade, o que está vestindo,
expressão facial etc.);
Paciente é solicitado a falar com o pai sobre o que ele fez, dizendo a ele como se sente;
Durante a fala do cliente, o terapeuta o incentiva a dizer repetidamente coisas do tipo: “Você
me escravizou”, “Você fez bulliyng comigo”, “Eu queria bater em sua cara” etc.
Caso o discurso do paciente envolva outras pessoas, outra cadeira é introduzida para novo
diálogo (ex., sentimento de culpa em relação a não proteger os outros irmãos)
Os irmãos respondem ao paciente, através da voz do mesmo, etc.
Técnicas de trabalho com as cadeiras

Facilitar o diálogo com partes do self;

Tomada de decisão a partir de um conflito (diálogo entre as partes do conflito);


Dialogo entre modos de esquema (adulto saudável versus pai punitivo);
Diálogo entre o polo do Esquema e o polo do Adulto saudável (para enfrentar uma situação
difícil);
Alívio do auto criticismo (desafiar o crítico internalizado);
Diálogos da auto compaixão (self-kindness).
Conduzindo diálogos entre o “lado do esquema” e o “lado saudável”

1. O terapeuta modela o lado saudável do esquema, enquanto o paciente


desempenha o lado do esquema.

2. Invertem-se os papéis.

3. O paciente desempenha ambos os lados, mudando de cadeira. Ex.:


Conduzindo diálogos entre o “lado do esquema” e o “lado saudável”

Situação: Ir tomar café e iniciar conversa com um cliente


muito crítico e exigente

E: É melhor ficar aqui porque o risco de fazer algo errado é grande... Estou com medo de
ir... Não quero puxar assunto. Vou ficar constrangido. Não vou ter nada de inteligente
para falar, vou ficar com cara de idiota. Vou confirmar que sou idiota.
AS: É meu esquema que diz que as pessoas não estão apreciando a minha companhia.
Mas, na verdade eu sou uma pessoa agradável. Eu sinto que vou ficar com cara de
idiota. Entretanto, é meu esquema que diz que as pessoas irão me rejeitar, mas na
realidade elas gostam de conversar comigo. Algumas expressam isso claramente. O
Sergio me elogia com frequência e demonstra satisfação com a minha presença.
E: Eu não tenho nada a dizer. Estou convencido de que não sei dizer nada de valioso para
uma pessoa. Estou neste lugar por um mistério. O Sérgio sabe disso, que eu estou aqui
por acaso. Estou roubando dinheiro. Não mereço estar diante dele. É melhor eu desistir e
nem me aproximar.
Conduzindo diálogos entre o “lado do esquema” e o “lado saudável”

AS: Meu esquema de Defectividade me faz pensar que meus 20 anos de experiência não
são valiosos. Mas na verdade, a minha carreira foi construída acima dos resultados e
confirmada por muitas pessoas. O diretor de uma grande empresa explicitou mais de
uma vez que eu fui muito valioso, revistas especializadas mencionaram minhas
realizações. Eu tenho clientes idôneos que confirmam isso. Logo, eu poderia dizer algo
de valioso. Embora reconhecendo a vasta experiência dele, eu posso ajudá-lo.

E: Embora com uma carreira de sucesso, eu sou um clandestino. Acredito não poder
dizer nada ao Sergio se não tiver o mesmo nível de experiência dele. Eu sou um
autodidata e isso é motivo de vergonha para mim. Eu devia estar bem mais arrumado
para falar com o Sérgio. Pode ter outras pessoas no cafezinho e não estou com vontade
de conversar... Os outros irão ouvir minhas tentativas patéticas e vou ficar ansioso.
Conduzindo diálogos entre o “lado do esquema” e o “lado saudável”

AS: Acredito que o meu esquema me leve a ter vergonha e me impeça de ver que sou
uma boa pessoa (choro). Na verdade, eu tenho uma formação sólida... E os resultados
estão aí... (falando entre soluços).

E: Venho de uma família burra. Meu pai era burro. Ninguém prezava a inteligência...

AS: O meu esquema me prende a uma dependência com os meus pais, que eu não tenho
mais. Não é pecado me vestir bem. Tenho condições para isso. O meu esquema vem do
fato de que os meus pais não fomentaram o meu crescimento com uma identidade
separada da deles. Eu tinha vergonha do modo como eles se vestiam.

Avaliação do exercício feita pelo cliente: “No começo pareceu artificial. Aos poucos fui
entrando mais profundamente. Acho que eu tenho um pudor excessivo que me gera
estresse desnecessário no dia-a-dia.”
Conduzindo diálogos entre o “lado do esquema” e o “lado saudável”

Observações importantes:

O exercício deve continuar até que o lado saudável tenha a palavra final;
Os diálogos devem ser repetidos até que os pacientes possam desempenhar o lado
saudável de modo independente;
São necessários meses para que o paciente enfraqueça o esquema e fortaleça o lado
saudável;
É normal que os pacientes digam: “Eu realmente não acredito no lado saudável”.
O objetivo é que o paciente saiba o que é logicamente verdadeiro. Mais tarde ele dirá
isso em um nível emocional.
Referências bibliográficas

Kellogg, S. (2012). On speaking one’s mind. Using chair work dialogues in schema therapy. In M. van
Vreeswijk, J. Broersen, & M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy. Theory,
research, and practice. Malden: Wiley-Blackwell.

Kellog (2015). Transformational chairwork. Using psychotherapeutic dialogues in clinical practice.


London: Rowman & Littlefield.

Pug, M. (2020). Cognitive Behavioural chairwork. Distinctive Features. New York: Routledge.

Young, J.; Klosko, J.S. & Weishaar, M.E. (2008). Terapia do Esquema: Guia de técnicas cognitivo-
comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.

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