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Terapia do Esquema (TE)

Profa. Dra. Eliane Falcone


Aula 04
Avaliação e conceitualização
dos Esquemas (2)
Tópicos

1. Estratégias vivenciais para avaliação dos


Esquemas

2. Conceitualização dos Esquemas


Técnicas de Imagens

Objetivo: Disparar os esquemas do paciente na sessão terapêutica.

Prover uma rationale convincente;


Pedir que o paciente feche os olhos e deixe uma imagem fluir em sua mente (não forçar a
imagem);
Pedir que o paciente imagine-se como uma criança, com um de seus pais, em uma situação
perturbadora;
Pedir que o paciente descreva a imagem em voz alta e no tempo presente. Ajudar o paciente
a torná-la viva e emocionalmente real;
Pedir que o paciente crie uma imagem de sua vida atual, onde se sinta da mesma maneira
que na infância;
Começar e terminar a imagem com um lugar seguro.
Dados para a conceitualização de caso, baseada em Esquemas

Entrevistas;

Questionários de avaliação;

Observação do comportamento do cliente durante as sessões;

Avaliação dos Esquemas por imagem;

Juntando todos os dados em um relatório de conceitualização.


Exemplo clínico para conceitualização
Homem de 40 anos, casado, excelente aparência, exerce importante função em uma construtora.
Ansiedade social elevada e evitação em vários contextos sociais.

Crenças: “a pessoa irá descobrir algo sobre mim”; “pareço estúpido; não me encaixo; estou desajeitado;
estou feio; pareço incompetente; estou tão envergonhado; sou idiota; não sou atraente; sou um aleijado”.
Seu pai era frio, mal humorado e verbalmente abusivo. “Ele não reconhecia a dignidade dos outros. Era
intolerante com tudo, “Meu pai não conseguia controlar a raiva e parecia ter um desejo de anular o outro.
Sentia muito medo do pai e procurava proteger o seu irmão mais novo em situações difíceis.

A mãe omissa e submissa, procurando encontrar sempre uma justificativa para os abusos do marido.
Não consegue expressar nenhum afeto por ela. Afirma que faz tudo para pensar que ela não existe.
Preferiria que ela não frequentasse sua casa.

Sua vida melhorou aos 14 anos, quando começou a estudar em outra cidade e passava uma boa parte
do tempo fora de casa. Aos 15 anos começou a ter amizades.
Na faculdade, conheceu sua esposa, com quem teve 3 filhos. Embora com alguns conflitos, considera
seu casamento feliz.

Embora sua competência seja reconhecida no trabalho, considera-se uma fraude.


Questionário de Esquemas
PRIVAÇÃO EMOCIONAL (PE) – Pai frio, hostil, indiferente. Ausência de carinho, afeto, compreensão,
empatia por parte dos pais. Itens: Em geral, quando eu era criança, não havia pessoas para me dar
carinho, segurança e afeição; Em geral, não tenho conseguido realmente comunicar minhas verdadeiras
necessidades e sentimentos.
DESCONFIANÇA/ABUSO (DA) - Pai ameaçava bater com o cinturão, reclamava, criticava. Algumas vezes,
pegava o braço dele e torcia. Usava as seguintes estratégias evitar ser “torturado”: a) tentava distraí-lo
fazendo perguntas sobre coisas que ele gostasse de falar; b) procurava evitar o contato com ele; c)
concordava sempre com ele. Itens: Eu geralmente fico procurando os motivos verdadeiros das pessoas.
Fico com raiva quando penso como fui (mal)tratado pelas pessoas durante a minha infância.
DEFECTIVIDADE/VERGONHA (DV) – Pai muito crítico. Reclamava com freqüência do seu
comportamento, censurava as suas manifestações espontâneas. Mãe ausente e submissa com o
pai. Vergonha pelas inadequações da família. Itens: Quando as pessoas gostam de mim, sinto que
as estou enganando. Não consigo deixar que as pessoas conheçam meu verdadeiro eu.
SUBJUGAÇÃO (SB) –Tende a fazer o que os clientes querem. Acredita que o desejo do cliente, mesmo
que injusto ou errado, tem peso. Com a esposa, acaba hipercompensando algumas vezes. Itens: É difícil
não ceder ao desejo das pessoas, ou elas irão me rejeitar ou me retaliar de alguma maneira. Eu me
preocupo muito em agradar aos outros para não incomodá-los.
PADRÕES INFLEXÍVEIS (PI) – “Era impossível atender às exigências do meu pai. Quando eu fazia coisas
boas, ele dizia que era obrigação. Busquei ser perfeito como uma compensação, sacrificando o lazer”.
Itens: Tento fazer o melhor, não consigo aceitar o “suficientemente bom”. Tenho tantas coisas para fazer
que quase não me sobra tempo para relaxar de verdade.
Questionário de Estilos Parentais

Esquemas mais relevantes:

PRIVAÇÃO EMOCIONAL (5 itens paternos);


DEFECTIVIDADE (5 itens paternos);
SUBJUGAÇÃO (4 itens paternos);
PADRÕES INFLEXÍVEIS (5 itens paternos);
NEGATIVISMO/PESSIMISMO (4 itens paternos);
INIBIÇÃO EMOCIONAL (4 itens paternos).

Escreveu ao final do questionário: “Faltou registrar dimensões fortes no


relacionamento com meu pai: ódio, nojo, além do seguinte:”
• Medo constante pela presença dele.
• Falta de liberdade de expressão.
• Ele desejava que eu fizesse as coisas que ele gostava.
• Não respeitava/enxergava minha identidade.
Observação do comportamento do cliente durante as sessões

Baixo contato ocular;

Sorriso tímido durante a maior parte da fala;


Dificuldades para a autorrevelação ;
Auto declarações negativas e auto depreciativas .

Pontos fortes:

Interesse elevado em ler a literatura sobre Terapia do Esquema;


Comprometimento com a terapia (autoconsciência sobre as
próprias emoções e esquemas).
Identificando o Esquema através da imagem

Imagem de quando era um garoto de 7 anos, sentado no sofá da sala, ao lado do pai,
vendo TV. Ao tentar se aproximar do pai, mexendo em seus dedos, este se irrita e
afasta a mão bruscamente, em um gesto de censura.

Sentimento: um “imbecil”, achando que cometeu um erro.

Dizendo ao pai, na imagem, como gostaria que ele fosse: “Eu gostaria que você fosse
mais gentil, bem humorado, queria que você fosse mais feliz e que não me
infernizasse. Queria não ter medo de você, que você gostasse de mim e que não
brigasse comigo. Tudo aqui é muito pesado. Melhor seria se você não estivesse aqui”.

Logo após fazer essas declarações, começou um processo de autocrítica, culpando-se


por ter sido inadequado com o pai etc. Não foi possível continuar o exercício
experiencial para avaliar o contexto atual.
Identificando o Esquema através da imagem – Exemplo
Homem com elevada ansiedade social; Forte rejeição do pai na infância e adolescência

Principais Esquemas a partir da imagem:

Defectividade (sentiu-se um imbecil, achando que cometeu um erro; rejeição do pai);

Privação emocional (distanciamento do pai; queria que você gostasse de mim);

Subjugação (queria não ter medo de você / que não brigasse comigo).
Conceitualização

Por que o cliente procurou terapia?


• Forte ansiedade e evitação social com consequentes prejuízos (ansiedade elevada,
ataques de pânico eventuais em situações sociais, tristeza, desânimo,
impedimentos sociais no trabalho).
Impressões gerais sobre o cliente:
• Reservado, fala em tom baixo, sorrisos para disfarçar o desconforto social, evitação
de contato ocular. Algumas vezes hostil quando a terapeuta aprofunda o assunto.
Diagnóstico:
• Transtorno Evitativo da Personalidade;
• Fobia Social.
Descrição geral das experiências infantis:
• Pai hostil, abusivo física e verbalmente, desqualificador, punitivo, rejeitador;
• Mãe omissa e, por vezes, diminuindo os abusos do pai.
Possíveis fatores de temperamento:
• Timidez.
Conceitualização

Reações pessoais do terapeuta ao cliente:


• Preocupações em ser eficiente; frustração ao não conseguir aprofundar certos
temas;
• Padrões inflexíveis.
Esquemas mais relevantes:
• Defectividade; Padrões Inflexíveis; Inibição emocional.
Modos de Esquema mais relevantes:
• Criança vulnerável; Protetor desligado; Pai punitivo.
Referências bibliográficas

Hoffart, A. (2012). The case formulation process in Schema Therapy of chronic Axis I Disorder
(Affective/Anxiety Disorder. In M. van Vreeswijk, J. Broersen, & M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell
handbook of schema therapy. Theory, research, and practice. Malden: Wiley-Blackwell.

Stevens, B. A. & Roediger, E. (2017). Breaking negative relationship patterns. Malden: Wiley-Blackwell.
Van Genderen, H. (2012). Case conceptualization in Schema Therapy. In M. van Vreeswijk, J. Broersen, &
M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy. Theory, research, and practice.
Malden: Wiley-Blackwell.

Young, J.; Klosko, J.S. & Weishaar, M.E. (2008). Terapia do Esquema: Guia de técnicas cognitivo-
comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.

Young, J. E., & Klosko, J. S. (2019). Reinvente sua vida. Novo Hamburgo: Sinopsys

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