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Crianças que mandam em casa, xingam os pais, babás e professores, escolhem o que vão
comer e definem todas as escolhas da família: desde o que vai ser visto na televisão até qual é
o horário mais adequado para dormir sofrem da “Síndrome do Imperador”. São pequenos “reis”
criados sem orientação e limites. Mas o que fazer?
“Quando os pais não conseguem orientar ou dar limite aos comportamentos inadequados da
criança estão na verdade reforçando a atitude errada delas. Com isso, o filho aprende que pode
ter tudo o que deseja, no seu tempo e a seu modo, e que as pessoas irão servi-lo, tornando-se
um ‘imperador doméstico'”, explica a especialista, que conversou com o Viver Bem por e-mail
sobre essas dificuldades dos pais e como tirar o filho do “trono”. Confira!
Crianças precisam de limites e isso todos os pais sabem. Mas como saber quanto é esse
limite? Como saber se foi longe demais ou se falta repreensão?
Primeiro, os pais precisam atentar-se ao tipo de infração que o filho realizou, o contexto
da situação e o estágio de desenvolvimento da criança. Quando os progenitores “gritam”,
“xingam”, “chantageiam”, “batem” ou diminuem a estima do filho, estão ultrapassando a barreira
da orientação e do limite saudável. Os efeitos dessa atitude, quando realizada de maneira
frequente, são crianças raivosas, ansiosas e inseguras. Lembremos que as crianças são como
“esponjas”, aprendem e modelam seus comportamentos a partir dos exemplos das pessoas
que convivem com elas, principalmente dos pais.
Quando os pais são excessivamente críticos, rígidos e não conseguem expressar seus
sentimentos ou auscultar as emoções do filho, a criança tem a propensão de desenvolver
pensamentos autoderrotistas – “ninguém me ama”, “eu sou um estorvo”, “sou inadequado”,
“sou um fracasso”, “sou defeituoso”, “nunca vou dar orgulho aos meus pais”. Como
consequência, a criança terá acentuados prejuízos na autoestima e nos relacionamentos
interpessoais que poderão ser perpetuados na adultidade. O primordial é equilibrar dois
fatores: o reconhecimento pelo bom comportamento e a aplicação de limites realistas pelo
comportamento indesejado, tudo isso dentro de um ambiente terno e carinhoso.
Quais são os principais erros dos pais na hora de impor limites nas crianças “imperadores”?
Grande parte dos pais comete erros na educação de seus filhos porque reforçam os
comportamentos inadequados da criança, muitas vezes de maneira inconsciente, na tentativa
de dar proteção e afeto. Um exemplo disso é quando a mãe dá o doce que a criança deseja,
enquanto a mesma se joga no chão e chora compulsivamente. O que a criança aprendeu com
essa atitude da mãe? “É com escândalo que posso ter tudo o que quero”. Outra situação é
quando o filho, considerado travesso, um belo dia, obedece a seus pais prontamente. Por
sua vez, os pais falam, “não fez mais que a obrigação” e ficam bravos pelos comportamentos
anteriores. O que a criança aprendeu com essa atitude dos pais? “Não adianta me esforçar, eu
nunca vou dar orgulho para os meus pais”.
Quando não valorizamos as posturas positivas da criança, ela tende a não repetir os acertos.
Quando os pais discutem, brigam e xingam na frente da criança, ela aprende a ter raiva e
ansiedade e replica tais impulsos nas relações com os outros. Assim, ela não consegue
controlar o desconforto e os impulsos de tais emoções, pelo contrário, a criança aprende a
reagir agressivamente.
As crianças “imperadores” são mais comuns em famílias onde são filhos únicos? Ou mesmo em
uma família com mais crianças podem existir filhos “imperadores”?
As crianças podem apresentar a síndrome do imperador independentemente de ter ou
não irmãos. Esta síndrome é resultado de uma série de fatores, incluindo as mudanças
socioculturais da última década que levaram os pais a terem menos tempo para ficar com os
filhos e, por isso, ficam mais propensos a aceitar as birras e a superproteger, compensando,
assim, a ausência. Outro condicionante é o modelo de educação autoritária na qual os pais
foram submetidos, ou seja, ambientes de muita repressão, mágoas e culpa. Para fugir
dessa matriz e não a replicar, muitos pais acabam afrouxando as rédeas e tornam-se reféns
emocionais dos filhos ao serem lenientes com caprichos e birras deles.
Sim. As crianças “imperadores” foram criadas com mais “direitos” do que “deveres”, mais
“liberdade” do que “responsabilidade”, e com isso aprenderam que suas necessidades e
desejos devem ser atendidos imediatamente. O efeito desta educação são crianças que não
sabem lidar com o “não”, possuem baixa tolerância a frustração e não administram as emoções
de maneira saudável, reagindo com impulsividade e agressividade com as pessoas.
1) Baixa tolerância à frustração: quando a criança não tem seus desejos atendidos reage com
surtos de raiva.
3) Atenção dobrada: exige olhar especial dos pais ou dos que lhe rodeiam.
10) Deslocamento afetivo: tende a dar mais valor afetivo para os bens materiais ao invés das
pessoas.
“É importante que os pais reflitam sobre a “herança educacional e emocional” que querem
deixar para o filho. O mesmo amor que cuida, acalenta e protege, pode ser excessivo. E
quando isso ocorre os pais ficam cegos, perdem o juízo crítico e acabam menosprezando os
comportamentos errados dos filhos, banalizando os erros. Tais atitudes podem ser expressas
em frases como: “ele é muito pequeno para aprender; quando ele for maior ele vai saber o que é
correto; sabemos que não é certo deixar ele agir assim, mas é tão bonitinho”.”
Sim. As crianças mimadas podem manifestar inquietação, resposta exacerbada aos estímulos
e irritação quando seus caprichos não são atendidos, com isso os pais podem achar que a
criança é hiperativa. O ideal é buscar auxílio tanto com o psicólogo quanto com o médico
pediatra. Ambos poderão mensurar através de testes psicológicos, exames médicos e
observação da dinâmica familiar e escolar se a criança possui TDAH ou se está faltando
orientação para a família quanto aos limites realistas e a comunicação afetiva e assertiva.
Há pais que não percebem essas características de “imperador” nos próprios filhos. Essas
crianças se tornarão adultos com quais características?
O que observo na prática clínica são pais cansados, exaustos por não saberem como proceder
diante dos gritos, provocações e infinitos surtos de birras. Esta exaustão emocional acaba
atingindo o relacionamento conjugal. Os pais com medo de traumatizar emocionalmente a
criança ou com o intuito de compensar a sua ausência, não dizem “não” para o filho quando
o mesmo faz algo errado, tornando-se reféns emocionais. Com isso, os pais deixam de
almoçar em restaurantes, ir ao shopping ou no parque, ou visitar os amigos por receio do
comportamento do filho.
“Quando os pais forem orientar a criança é necessário ter em mente que a mensagem deve
ser curta e objetiva, sem sermões! Deve-se observar as emoções da criança e verbalizar o que
percebe (conexão emocional). É importante envolve-las na disciplina, ou seja, ter e manter uma
rotina saudável. Os pais devem sempre ter em mente que primeiro a criança deve realizar os
“deveres” e depois os ‘direitos'”.
Serviço:
Horário: 19h30
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