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“Fatores que protegem a criança/adolescente de problemas de comportamento e

fatores que aumentam o risco desses problemas”


(baseado em R. Pushak –Parenting Wisely)
Objetivos:
-Compreender que os problemas que as crianças/ adolescentes apresentam têm muitas
causas e não apenas uma (o pai, a mãe, a criança/adolescente, um irmão ou irmã, a
escola, a vizinhança, …) e que a mudança num dos fatores pode conduzir à mudança na
criança/adolescente e, por sua vez, essa mudança conduz a outra mudanças (natureza
sistémica do comportamento).
- Motivar os pais para a mudança e reduzir a culpa que sentem pelos problemas dos seus
filhos.

Atividades: Alguns fatores de risco e protetores


- Colocar cada um dos fatores de risco e protetores numa carta e fazer um baralho
- Pedir a cada pai que retire uma carta do baralho e comente se entende que esse fator
aumenta o risco ou reduz. Pedir a opinião do grupo.
- O dinamizador vai registando no quadro em duas colunas (o mesmo fator pode
numa situação ser um risco e em outra protetor).
- O dinamizador vai também registando os princípios a que os pais vão chegando e
colocando à frente o nome do pai ou pais que o geraram.

Alguns dos princípios a que os pais devem chegar são:


- Os pais não têm de ser necessariamente os culpados dos problemas de
comportamento
dos seus filhos. Há outros fatores que contribuem para esses problemas.
- Os filhos não são os culpados dos problemas de comportamento que apresentam.
Há muitos fatores que contribuem. Há, porém, crianças/adolescentes com um
temperamento difícil que colocam grandes desafios aos pais e lhes exigem muita
persistência: são crianças/adolescentes mais irritáveis, mais agressivas, com mais mau
humor que as crianças/adolescentes da mesma idade e contexto. Os pais podem mais
facilmente ficar cansados e frustrados o que os torna mais impulsivos e irritáveis na
relação com aquela criança/adolescente. Isto cria um ciclo negativo que tende a manter
a interação negativa entre os pais e os filhos e que é preciso quebrar.
- Inconsistência nas regras está associada a problemas de comportamento em
crianças/adolescentes.
- Práticas educativas rígidas, como berrar e bater, não reduzem os problemas de
comportamento das crianças/adolescentes. Os pais podem ter aprendido esse
comportamento com os seus próprios pais.
- A pobreza está muitas vezes associada a problemas de comportamento nas
crianças/adolescentes, não como causa direta, mas porque cria muito stresse nos pais,
porque aumenta a probabilidade da criança/adolescente viver em vizinhanças onde há
maior incidência de crime, desorganização da comunidade e escolas onde há mais
crianças/adolescentes com problemas de comportamento, o que aumenta a
probabilidade da criança/adolescente estar exposta a modelos de mau comportamento.
- O stress dos pais, por motivos financeiros, conjugais, no emprego, de saúde ou
psiquiátricos (NB. Estar atento à necessidade de apoio extra por um técnico de saúde
mental para alguns pais) pode dificultar a mudança – mas estar à espera que o stress
se
reduza não é compatível com o tempo da criança/adolescente (as crianças/adolescentes
facilmente chegariam à idade adulta antes disso acontecer) – os pais têm de encontrar
uma forma de reduzir o impacto do stress na parentalidade.
- O mau comportamento da criança/adolescente pode aumentar o isolamento social da
família, quer da família mais alargada, quer da comunidade envolvente (a família sente-
se envergonhada e auto excluiu-se ou é excluída).
- A depressão da mãe/pai e o mau comportamento da criança/adolescente estão
muitas
vezes ligados: a depressão reduz a energia da mãe/pai para dar atenção ao filho, o filho
aumenta o mau comportamento para ter a atenção de uma mãe ou pai deprimido, o
aumento do mau comportamento aumenta a depressão.

Transformar a “atenção negativa” em “atenção positiva”


As crianças/adolescentes “portam-se mal para obterem aquilo que querem”, ou seja, há
algo na forma como respondemos ao “mau comportamento da criança/adolescente” que
as faz repetir esse mau comportamento, e muitas vezes a única coisa que as
crianças/adolescentes querem é “atenção”.
Chuva de ideias:
Pedir aos pais que deem alguns exemplos de como é que os seus filhos com o “mau
comportamento” conseguem mais atenção que com o “bom comportamento”. Alguns
dos exemplos que os pais podem dar:
- se está a estudar ninguém lhe diz nada
- se está a ouvir música sem estar a implicar com o irmão até nos esquecemos dele
- se tem positiva num teste não lhe dizemos como estamos satisfeitos por ter tido
positiva
- se chega a casa à hora combinada não valorizamos pois achamos que é a sua
obrigação. Mas, se acontece o oposto, “reforçamos” o mau comportamento quando lhe
ralhamos, lhe damos ordens, lhe mostramos como estamos dececionados.
- quando lhe dizemos que se tivesse estudado mais poderia ter tido 4 em vez de 3
- quando lhe ralhamos por ter chegado 5 minutos depois da hora
- quando lhe dizemos que o seu quarto parece um curral
- quando lhe recordamos os maus comportamentos do passado
- quando nos conta alguma coisa fazemos-lhe logo uma série de perguntas e críticas o
que fará com que no futuro deixe de falar

Role-play 1
- O dinamizador coloca os pais em pares. Cada par tem de identificar um
comportamento negativo que aumenta porque os pais lhe dão atenção negativa. E têm
também de encontrar um comportamento positivo a que devem dar atenção para que
esse comportamento negativo comece a desaparecer.

Exemplo de comportamento negativos Exemplo de comportamentos positivos


alternativos
- Ralhar porque não acorda a horas/ Elogiar quando se deita cedo
- Dar um sermão por ter negativa num teste/ Elogiar por ter estudado no fim de semana
- Discutir porque chegou tarde a casa/ Elogiar por ter telefonado a dizer que ia chegar
mais tarde

Para aumentar os comportamentos positivos da criança/adolescente é importante


reforçar esses comportamentos, prestando-lhes atenção. Para aprender a prestar
atenção aos comportamentos positivos é necessário praticar. Alguns dos princípios que
se devem seguir ao prestar “ATENÇÃO POSITIVA” são:
· Elogie e encoraje as ideias e criatividade do seu filho; não o critique
· Seja uma audiência atenta e apreciadora (escute em vez de fazer perguntas)
· Restrinja o seu desejo de dar demasiadas ajudas; encoraje o seu filho a resolver os seus
problemas
· Ria e divirta-se

Princípios de uma parentalidade eficaz (características de pais


eficazes) = FEICES
Linha sobre as características de um “bom patrão” e de um “mau padrão”
Para se ser um pai/mãe eficaz há alguns princípios, para os encontrar pedir aos pais que
ajudem a completar uma linha horizontal, com uma marca no meio, em que de um lado
se colocam as características um “bom patrão”, no sentido de um patrão eficaz, e de
outro as de um “mau patrão”, alguém de quem não gostamos, como patrão, apesar de o
podermos respeitar.
Ao longo da discussão os pais devem conseguir identificar essas características.
Depois o dinamizador pergunta quais dessas características definem um pai/mãe eficaz.
Serão muito semelhantes.
Por fim, quais dessas características os filhos de cada um lhe iriam reconhecer. E aqui o
objetivo é os pais reconhecerem que com os nossos filhos nem sempre usamos as
estratégias que gostamos que os outros usem connosco e que reconhecemos a um
pai/mãe eficaz, a um pai/mãe “modelo”. O princípio é o de que nós somos os
principais MODELOS dos nossos filhos e não lhes podemos pedir aquilo que nós
próprios não fazemos.

Características associadas a Pais Eficazes


E - Específicos, claros
Dizer exatamente à criança/adolescente o que se espera dela: Em vez de “arruma o
quarto” dizer “põe a roupa suja no cesto da roupa”; em vez de “vem cedo para casa”
dizer “quero-te em casa às 18 horas”,… Recordar que as criança/adolescentes têm
cérebros menos desenvolvidos, linguagem menos complexa, e que precisam que se lhes
diga exatamente o comportamento que deve ter. Tal como uma patroa que diz a uma
empregada “faça o almoço cedo” e não diz que é para as “12 horas” e a empregada faz
para as “13 horas” porque para ela isso é cedo.

C – Consistente
A criança/adolescente tem de saber exatamente aquilo que esperam dela, caso contrário
aprenderá a manipular. Tem de se ser consistente quer com as coisas positivas
(recompensas, elogios e atenção positiva) quer com as negativas (perda de privilégios).

Os pais têm mais dificuldade com as primeiras, mas ser consistente com as respostas
positivas leva a uma modificação mais rápida do comportamento. Ninguém é 100%
consistente, mas tentar torna a vida familiar mais simples e fácil. Somos menos
consistentes quando estamos cansados, doentes, com pressa ou nos sentimos culpados
por algo (por ex. por ter passado pouco tempo com os filhos nessa semana).
Um patrão que um dia dá um enorme elogio a um empregado por ele ter acabado um
relatório antes do tempo e na vez seguinte não o faz, tem menos probabilidade que o
empregado da próxima vez se empenhe. Ser consistente é não mudar o que esperamos
dos nossos filhos porque nos apetece.

I – Resposta positiva imediata


Se a resposta positiva a um bom comportamento não for imediata a criança/adolescente
não vê a relação entre a recompensa e o comportamento e será ineficaz na sua
manutenção. As punições/perda de privilégios mesmo que não sejam imediatas podem
ser eficazes e reduz o risco de os pais serem demasiado impulsivos na sua aplicação, por
estarem demasiado zangados. As crianças/adolescentes têm mais dificuldade em adiar
recompensas que um adulto. Por ex. se um empregado se esforçou e o patrão ao ver o
serviço não elogia, mesmo que pense que está muito bem feito, o empregado sentir-se-á
menos motivado para se continuar a empenhar. Se o nosso filho tem um comportamento
que apreciamos isso deve ser-lhe dito imediatamente a seguir.

S - Consequências significativas
As recompensas e punições têm de ser adequadas à criança/adolescente: o que resulta
com uma pode não resultar com outra.
Também nós adultos somos assim. Se um empregado que não usa gravata receber uma
gravata por um serviço em que se empenhou terá menos probabilidade de manter a
motivação que se essa recompensa for um bilhete para um jogo de futebol. Os pais
devem pensar naquilo que agrada aos seus filhos.

F - Resposta significativa frequente


Escolher apenas um ou dois comportamentos que quer ver acontecer mais, dos mais
fáceis, e usar com esse comportamento respostas positivas frequentes (atenção positiva,
elogios, recompensas concretas como uma saída extra…). Quanto mais atenção positiva
(e negativa também) se der a um comportamento mais probabilidades teremos de ele se
desenvolver e manter.

E - Equilíbrio entre o positivo e o negativo


Usar com equilíbrio respostas positivas e negativas: não ficar preso na espiral das
punições, em que a criança/adolescente está sempre de castigo e sem poder fazer aquilo
que gosta. A criança/adolescente perderá todo o prazer em agradar aos pais. Estar atento
ao positivo e recompensar imediatamente. Mesmo que pensemos que ao “criticar”
estamos a motivar e que castigar é para o bem da criança/adolescentes, se pensarmos em
nós como adultos percebemos que se só somos criticados deixamos de investir e
desistimos de tentar.

Dar “atenção positiva” aos comportamentos adequados da criança através do


“elogio”: salientar o que há de melhor nos nossos filhos
O elogio tem a capacidade de aumentar em nós a motivação para nos empenharmos.
ELOGIO.
O dinamizador diz: Hoje vamos falar de um tipo de atenção positiva que é o ELOGIO.
Muitas vezes, os pais sentem-se inseguros sobre a forma e o momento em que devem
elogiar os seus filhos. Reconhecem que as crianças/adolescentes devem ser elogiadas
por coisas especiais, mas sentem que é desnecessário elogiar as coisas simples que
elas fazem todos os dias, como fazer os TPC sem ser preciso mandar, vir para casa a
horas, não mentir, ter paciência com um irmão, ser educado com pessoas que vão lá a
casa, não arranjar sarilhos na escola. Estes comportamentos são, muitas vezes, dados
como certos. De facto, muitos pais acham que as crianças/adolescentes “devem saber”
comportar-se sem serem elogiadas ou recompensadas. No entanto, esperar que a
criança/adolescente funcione sem recompensas é irrealista. A única forma de ela
aprender se deve ou não ter certo tipo de comportamento é lembrar-se se ele foi ou não
reforçado no passado. Se o comportamento foi reforçado ou valorizado pelos pais é
mais provável que ele volte a acontecer. Mas se ele foi ignorado ou punido, será menos
provável que ele volte a ocorrer no futuro. Consequentemente, nenhum comportamento
deve ser tomado como certo, ou não tardará a desaparecer.
Por vezes, os pais têm receio de que o elogio em excesso seja mau para a
criança/adolescente. Talvez pensem que, quando a criança/adolescente recebe
muitos elogios, fique mimada ou presunçosa, ou que passe a depender tanto de
reforços exteriores que os peça a toda a hora e precise cada vez de mais. De facto, o
que é verdade é exatamente o contrário. As investigações mostram que os pais bem
sucedidos não poupam nos elogios e incentivos. O que se passa é que as
crianças/adolescentes que são elogiadas interiorizam o reforço positivo e desenvolvem
uma autoestima positiva, sentem-se competentes, confiantes e parecem precisar menos
de elogios. Elogiar é a forma de mostrarmos aos nossos filhos que apreciamos os seus
esforços e isso motiva-as para continuarem.

Chuva de ideias:
O dinamizador coloca ao grupo duas questões. Uma de cada vez. Gastar
aproximadamente 5 minutos em cada pergunta, escrevendo as ideias dos pais no quadro.
1. Que benefícios poderão os nossos filhos receber ao serem elogiadas?
2. O que é que dificulta elogiarmos os nossos filhos?
Este exercício ajuda cada pai a explorar as suas próprias atitudes de elogiar e a ver
outras perspetivas. Também ajuda o dinamizador do grupo a compreender alguns dos
valores e atitudes que podem criar resistência aos pais em aprender a utilizar o elogio.
O dinamizador, em função da lista realizada, pode comentar que muitas vezes, os pais
sentem-se inseguros sobre a forma e o momento em que devem elogiar os seus filhos.

Role-Play 1
Situação – O pai chega a casa e vê o filho Diogo de 10 anos a fazer os trabalhos da
escola deitado no chão da sala e a ver TV com o seu amigo Manel.
Pai – Quantas vezes já te disse que não te quero no chão a fazer os trabalhos? E que não
quero a TV ligada?
Perguntas para Facilitar a Discussão
1. O que é que o Diogo sentiu?
2. O que é que o Diogo aprendeu?
3. O que é que pensa sobre criticarmos os nossos filhos à frente dos amigos?
4. Qual era o objetivo do pai? Será que foi eficaz?

Considerações
Este pai não está a fazer um bom trabalho ao criticar o seu filho – em vez de o elogiar
por ele estar a fazer os trabalhos (que é o que o pai quer ver continuar a acontecer)
critica-o por comportamentos que quer ver desaparecer. O Diogo sente-se humilhado
por ser criticado em frente ao amigo e da próxima vez a probabilidade de fazer os
trabalhos será menor. Mais que ouvir o que o pai está a dizer, ele está a pensar naquilo
que o amigo está a pensar dele.
Relembre a importância de nos centrarmos nos comportamentos que queremos ver
aumentar e peça ao grupo que encontre elogios específicos que o pai poderia ter dado.
Exemplos “Gosto de ver que estão a fazer os trabalhos de casa em vez de estarem a
jogar play-station” “Fico contento por ver que já não precisam que vos mandem fazer os
trabalhos de casa. Já são suficientemente crescidos para saberem quando é a hora de
fazerem” “Diogo estou orgulhoso de estares a fazer os trabalhos de casa sem ter sido
preciso eu mandar-te”.
Relembrar que muitas vezes os nossos filhos ficam embaraçados de os elogiarmos em
frente aos amigos e que os pais devem saber adaptar o elogio à idade das
crianças/adolescentes.
Discutir que se para o pai é importante a TV estar desligada e ele não estar no chão a
fazer os trabalhos (alguns pais podem não se importar) isso é um assunto que deverá
discutir mais tarde com o filho. Nunca fazer seguir um elogio de uma crítica ou de uma
observação que seja sentida como crítica pois isso destrói todo o efeito positivo de
motivar que o elogio deve ter.

Chuva de ideias:
Pedir ao grupo para dizer as palavras que utilizam para elogiar. Fazer uma lista no
quadro.
Exemplos
Elogios pouco específicos Elogios específicos
Isso mesmo/Estou tão contente que tenhas dito “Obrigada”.
Já é alguma coisa/ Fico orgulhoso quanto te esforças.
Muito bem! /Conseguiste subir a nota porque te esforçaste.
Fantástico! / Fico muito contente quando vens para a mesa logo quando te chamo
Muito obrigado!/ Muito obrigado por levantares o teu prato sem ser preciso eu mandar
Excelente trabalho!/ Excelente trabalho. É mesmo original.
Boa!/ A apresentação do teu trabalho é muito criativa
Que giro!/ Essa camisola dá-te um ar mais velho
Boa!/ És mesmo persistente. Continuas a tentar.
Muito bem!/ És um excelente amigo. Desculpaste o teu amigo porque percebeste que foi
um erro.
Os pais que utilizam elogios de uma maneira eficaz usam vozes entusiastas, sinceras;
aproximavam-se dos e olhavam-nos nos olhos, sorrindo enquanto os elogiavam. Alguns
pais utilizam o elogio, mas não são específicos no modo como o fazem. Utilizam
palavras como “Fixe!” ou “Muito bem!”. O uso destas palavras não diz à
criança/adolescente o que ela fez, exatamente, para merecer esse elogio. Por outro lado,
os elogios que descrevem qual o comportamento específico de que os pais gostaram são
muito mais eficazes.
Nas próximas situação, repare como os pais não referem objetivamente o que é que
estão a elogiar e caiem numa ratoeira comum: criticar a seguir a um elogio. Há pessoas
que dão elogios, mas sem se aperceberem também os retiram, quando são irónicas ou
quando os combinam com críticas. Isto é uma das coisas mais perturbadoras que o
adulto pode fazer no processo de reforço.

ESCUTA ACTIVA COMO FORMA DE ATENÇÃO POSITIVA


Role-play 1 (Baseado em Parenting Wisely, p.77)
- O dinamizador pede a uma mãe/pai que faça de mãe/pai e dá-lhe o guião para ler as
deixas da mãe/pai. O dinamizador faz de criança/adolescente e lê as deixas
correspondentes.
Criança/Adolescente (excitado): “Vai estar um filme espetacular para no cinema este
fim de semana e todos os meus amigos o vão ver!”
Pai/Mãe (repetindo o que foi dito mas com outras palavras): “Então, este fim de semana
vai estar um filme que tu pensas que é excelente e os teus amigos estão a planear ir.”
Discussão:
- Perguntar ao grupo o que sentiu aquela criança/adolescente (sentiu-se escutada
genuinamente; sentiu que a mãe/pai lhe estavam a dar atenção positiva; sentiu respeito
pela mãe/pai que a escutou)
- Perguntar ao grupo o que sentiu aquela mãe/pai (sentiu que o filho percebeu que ela
estava interessada naquilo que ele tinha para lhe dizer; pode confirmar se percebeu bem
ou não a mensagem do filho; sentiu que o estava a apoiar; sentiu que estava a ser um
modelo de comportamento positivo para ele)
- O que irá acontecer no futuro quando a criança/adolescente tiver algo para dizer? (vai
contar imediatamente à mãe/pai pois sentiu-se ouvida e respeitada)
Considerações:
Explicar que o que aquele pai/mãe fez foi uma forma de ouvir o outro que se chama
ESCUTA ACTIVA - Princípios
· Algo que fazemos quando queremos que uma pessoa saiba que estamos a prestar
atenção genuína ao que está a dizer.
· É uma escuta intencional: conseguimos dizer 100 a 150 palavras num minuto e o
nosso cérebro tem capacidade para processar 300, o que aumenta a probabilidade de nos
distrairmos quando alguém está a falar connosco
· Faz com que a pessoa que está a falar connosco sinta que é importante e que nos
preocupamos com ela.
· Essencial se a pessoa se está a sentir aborrecida ou em baixo e precisa da nossa
atenção e compreensão.
· Aumenta a probabilidade de falarem connosco no futuro. De se abrirem. E assim de o
facilitador e o grupo a ajudarem a resolver um problema.

VANTAGENS
_ A outra pessoa sabe que estamos a escutar atentamente
_ Aumenta o respeito do outro por nós
_ Reduz a probabilidade de compreendermos mal o que foi dito
_ Aumenta o apoio que damos aos pais
_ Ajuda todos a acreditar que as coisas melhorarão

COMO USAR
1º Escute cuidadosamente o que a outra pessoa está a dizer, ao mesmo tempo que a olha
nos olhos. Outras formas de comunicação não verbal são o sorriso, a postura e gestos.

a) Repita por palavras suas o que a outra pessoa disse
Ou
b) Identifique o significado do que a outra pessoa disse e diga-lhe
Ou
c) Diga o que pensa que a outra pessoa está a sentir (identificar sentimentos)

RECOMPENSAS CONCRETAS
Recompensas concretas (prémios)
Chuva de ideias:
O dinamizador coloca a questão – que comportamentos dos nossos filhos queremos ver
aumentar
Exemplos (formular na positiva)
- Levantar-se de manhã quando o chamam
- Estar pronto à hora combinada para irem para escola
- Fazer os TPC com a TV desligada
- Fazer os TPC sem ser preciso mandarem-no
- Fazer os TPC à hora combinada
- Tomar duche todos os dias
- Jogar pelo menos um jogo por dia com o irmão na Play-Station
- Emprestar o PSP (Play Station Portátil) durante meia hora por dia
- Vir para casa à hora combinada
- Se estiver atrasado avisar
- Pedir sempre autorização para alterar algo que estava combinado fazer

Este exercício ajuda cada pai a centrar-se em comportamentos específicos e que


queremos ver aumentar (POR ISSO TÊM DE SER FORMULADOS NA POSITIVA).
Também ajuda o dinamizador do grupo a compreender alguns dos valores e atitudes que
podem impedir a utilização eficaz de recompensas, nomeadamente se os pais estão a ser
realistas, ou seja, se estão a ser demasiado ambiciosos e a não considerar os pequenos
passos que têm de ser recompensados antes do comportamento final; ou se estão a ser
demasiado ambiciosos tendo em conta a idade e características do filho do filho (ex. 1.
Não se pode pedir que estude mal chegue a casa. Precisa de descansar pelo menos meia
hora antes. 2. Não se pode pedir que tenha o quarto impecavelmente arrumado.
Especificar que a cama tem de estar feita e a roupa suja no cesto).

Chuva de ideias:
Com todos os participantes do grupo, realçar outras recompensas de baixo custo ou sem
nenhum custo que podem ser utilizadas com crianças. Por exemplo:
30 minutos a mais para ver televisão
Tempo extra (1/2 hora) para jogar no computador
Irem juntos ao cinema
Comer um gelado
Ter um amigo a dormir em casa
Decidir o que comer à sobremesa
Escolher o canal de TV nessa noite

A REGRA DO “PRIMEIRO / DEPOIS” ou “Se….então……": a diferença entre


subornar e recompensar
Por vezes os pais estão confusos sobre se estarão a subornar ou a recompensar os seus
filhos. A principal diferença é que o suborno é dado antes do comportamento acontecer.
Uma recompensa, por outro lado, é dada por um comportamento positivo depois do
comportamento adequado ter ocorrido. É importante aplicar sempre a regra do
“primeiro / depois”; ou seja, primeiro temos o comportamento adequado e depois a
recompensa: “Se…………..então……..”.

Role-Play 1
Cena: Dois irmãos, um de 8 anos, o Daniel, e outro de 16 anos, Diogo, estão a discutir
um com o outro sobre o canal de TV que querem ver quando a mãe está a fazer um
telefonema importante. O dinamizador pede a dois pais que façam de filhos e a outro de
mãe (ou faz o dinamizador de mãe)
Mãe a falar ao telefone: Porque não fazemos uma reunião para discutir isso? A ver se
eles têm alguma ideia melhor, ok?
Filhos: discutem um com o outro sobre o canal de TV que querem ver.
Mãe virando-se para os filhos e tapando o bocal do telefone: Meninos, este é um
telefonema importante. Calem-se por favor.
Mãe a falar ao telefone: Ok! Olha, achas que…
Filhos: continuam a discutir um com o outro sobre o canal de TV que querem ver e
começam a empurrar-se…
Mãe a falar ao telefone: Por favor, espera um segundo…
Mãe respondendo aos filhos: Daniel, ouve, quando a mamã sair do telefone, vai fazer
um puzzle contigo, ok? E tu Diogo podes ir jogar na tua PSP. Agora quero que fiquem
aí sossegados. E meninos, vocês podem buscar umas bolachas se ambos se portarem
bem, ok?. Cada um de vocês pode tirar uma bolacha. Ok. Agora, quero que brinquem
juntos sossegados, ok?

Questões para facilitar a discussão:


A oferta de bolachas por parte da mãe é um suborno ou uma recompensa?
A oferta da mãe para fazer o puzzle com o rapaz mais novo e deixar o mais velho ir
jogar na PSP é uma recompensa ou um suborno?
Qual a eficácia destas duas abordagem em ajudar os filhos a portarem-se
adequadamente? Como é que no futuro eles se vão comportar numa situação
semelhante?
Quem “ganhou” a curto prazo? Quem “perdeu” a longo prazo?
Como é que se poderia ter lidado com esta situação de modo diferente? (Quando/Se –
então)

Pedir aos participantes para substituírem a cena usando frases “quando/se –


então”.
Considerações
Em vez de ensinar os rapazes a portarem-se de um modo adequado enquanto está ao
telefone, esta mãe tenta fazer com que eles não discutam oferecendo uma recompensa
ineficaz (puzzle e PSP) e um suborno (bolachas). Quando ela diz ao Daniel que vai
fazer o puzzle com ele, não fica claro que ela só o ajudará se ele ficar quieto (ela deveria
ter utilizado a regra se / então para ser mais eficaz). Depois suborna os dois rapazes com
bolachas para os levar a brincar “sossegados” (o que também é um pedido vago).
Por exemplo, ela poderia ter dito “Se forem capazes de parar de discutir, quando eu
acabar o telefonema dou-vos bolachas”. A mãe deveria ter tentado que o telefonema
fosse curto para que os filhos tivessem oportunidade de ter sucesso. (Esta é a regra se /
então. Isto é, em primeiro a criança faz o que queremos, depois a criança recebe a
recompensa ou pagamento). “Se pararem de discutir um com o outro até eu acabar o
telefonema, faço um puzzle contigo Daniel e tu Diogo podes ir jogar meia hora na tua
PSP”

SISTEMAS DE PONTO
Por vezes podemos também utilizar um sistema de pontos para motivar os nossos filhos
a modificar o seu comportamento. Nos adolescentes mais velhos pode-se substituir o
sistema de pontos por um CONTRATO.
Vamos descrever uma situação de uma família em que a mãe utiliza um sistema de
pontos para motivar os filhos a modificarem alguns dos seus comportamentos.
Já discutimos a importância de “apanhar” os nossos filhos quando estes estão a ter um
bom comportamento e fazer-lhes elogios e dar-lhes atenção de modo a aumentar o seu
comportamento apropriado. No entanto, também há alturas em que é necessário que os
adultos ou pais controlem e estabeleçam limites para os comportamentos desapropriados
dos seus filhos, quando não é possível ignorar. De facto, as famílias onde as regras não
são claramente comunicadas têm uma maior probabilidade de terem crianças com mau
comportamento. A sessão de hoje será sobre estratégias eficazes para
dar ordens e estabelecer limites claros. Quando neste programa falámos de patrões e
pais eficazes uma das características era ser “claro, específico”.

Chuva de ideias:
Quais são os possíveis benefícios que o seu filho pode ter se existirem limites
claramente estabelecidos em casa?
O que é que impede os pais de estabelecerem limites?
Escreva as ideias dos pais num quadro.

SERÁ QUE AS SUAS ORDENS SÃO SEMPRE NECESSÁRIAS?


A primeira e mais difícil tarefa para os pais é a de decidirem antes do tempo quais as
ordens que é mesmo necessário darem aos filhos. É importante tornar significativas as
ordens realmente utilizadas. Por vezes, os pais têm dificuldades não tanto porque dão
demasiadas ordens/instruções desnecessárias, mas sim porque dão muitas
instruções/ordens umas a seguir às outras. Não dão tempo ao filho para obedecer à
primeira ordem/instrução antes de começarem a dar uma série de outras
ordens/instruções. Isto pode conduzir o adolescente a desistir antes de tentar cumprir a
ordem. A próxima situação pretende mostrar isso mesmo

Role-Play 1
Situação: Uma mãe chega a casa. O filho deitado no sofá, com as sapatilhas calçadas, a
ver TV alto, com o computador ligado. A mochila está no chão, um copo sujo de leite e
um pacote de bolachas meio aberto.
Mãe: (mal entra na sala, a berrar). Não acredito. Como podes ver TV e estares com o
computador ligado? E estás outra vez com a porcaria das sapatilhas em cima do sofá. E
mais uma vez estiveste a lanchar e deixaste o copo e o pacote das bolachas no chão para
te fazerem companhia. E aposto que ainda nem fizeste os TPC. És uma vergonha.
Questões facilitadoras da discussão:
Serão todas as ordens/instruções dadas pela mãe necessárias?
Como é que a mãe poderia ter abordado esta situação de uma forma diferente?
Que efeito têm estas ordens/instruções e a forma como as dá no comportamento do
filho?
Qual o efeito de colocar uma questão sobre a TV e o computador? Como é que poderia
ter dado uma ordem clara na afirmativa?

Considerações
A mãe comete uma série de erros na sua tentativa de fazer com que o filho cumpra uma
série de ordens. Ela emite uma série de ordens/instruções, não dando tempo suficiente
ao filho. As ordens não são claras, mas dadas de uma forma sarcástica ou sobre a forma
interrogativa.
Depois, termina com uma apreciação negativa sobre o filho como pessoa (o que nada
tem a ver com os comportamentos que ele teve), o que terá como efeito desmotivar
ainda mais o filho.
Por vezes os pais zangam-se quando dão uma ordem e, como resultado, fazem a sua
ordem ineficaz ao incluir críticas ou comentários negativos com a ordem. Tente evitar
criticar quando está a dar uma ordem, porque o resultado é que o seu filho se sente
incompetente e defensivo e por isso é menos provável que obedeça à ordem. Os
sentimentos de um filho acerca dele próprio como uma pessoa importante devem ser
considerados pelo menos tão importantes como a obediência. Um adolescente que se
sinta mal ou sem valor tenderá a atuar daquela forma.
Uma ordem negativa que diga ao adolescente o que fazer é também uma declaração
crítica. Por exemplo, ordens como “Pára de gritar,” “Não faças isso,” “Pára com isso,”
“Pára,” são ordens negativas. Em vez de obter os melhores resultados, é melhor focar
em ordens do tipo “faz” por vez de ordens do tipo “pára”, e dizê-las com uma voz firme,
positiva e educada.
Antes de dar uma ordem para cumprir deve ser dado um aviso prévio. Se o adolescente
está a meio do seu programa de TV favorito deve dizer-se “No fim do programa vais…”
ou se está a jogar dizer “Daqui a 15 minutos, às 8h30, quero-te sentado na mesa para
jantarmos”.
Vimos que temos por hábito dar muitas ordens, e que provavelmente, essa não é a forma
mais eficaz de as vermos cumpridas.
Sempre que damos uma ordem devemos ter presente que temos de ser consistentes
com ela, isto é, temos de a manter. Por isso temos de pensar previamente se temos
ou não condições de a manter e, se não temos, então é preferível não dar a ordem.
A consistência por parte dos pais é muito importante para os filhos. É isso que
torna o previsível. Pelo contrário, se os pais são inconsistentes, torna-se mais difícil
para o filho aprender o que é um comportamento apropriado e a ser responsável
pelas suas escolhas.
Hoje vamos falar sobre a importância de IGNORARMOS alguns comportamentos dos
nossos filhos em vez de lhes darmos ordens desnecessárias. IGNORAR significa que
deve ser interrompido o contacto visual, o contacto físico, a expressão facial deve
ser neutra, os gritos são ignorados e não se entra em discussão com o filho. Mal o
filho comece a exibir o comportamento desejável, os pais devem começar a prestar-lhe
atenção e elogiá-lo sem sarcasmo.
É importante estar a contar que, quando se utiliza a técnica de ignorar, o
comportamento
tende a piorar no início, antes de começar a melhorar. É preciso ser firme e
consistente – caso se ceda face à insistência do filho, eliminamos o comportamento
indesejável (berrar, discutir) no imediato, mas ensinamos-lhe que quando quer levar a
dele avante
tudo quanto tem de fazer é argumentar (reforço do comportamento indesejável).
É difícil ignorar um filho se ele começa a argumentar. Nestas circunstâncias pode ser
necessário afastar-se fisicamente para uma outra divisão da casa.
Chuva de ideias:
1. Que comportamentos devem ser ignorados?
a. Amuos ou mau humor
b. Gritar
c. Discutir
d. Praguejar
e. Não responder a perguntas
f. Ameaças
2. Que comportamentos não podem ser ignorados?
a. Violência contra os pais ou irmãos
b. Que causem estragos materiais
c. Que perturbem de um modo intolerável os outros
d. Que coloquem em perigo a saúde física do próprio
e. Linguagem que é inaceitável utilizar em casa
3. Como podemos ignorar?
· não estabelecimento de contacto visual
· postura corporal relaxada
· ausência de resposta verbal
· expressão facial neutra
· mudar de divisão
4. Como nos podemos manter calmos enquanto ignoramos um comportamento
indesejável.
a. Respirar fundo
b. Contar até 5
c. Pensamentos positivos
d. Técnicas de relaxamento
e. Sair da situação
f. Ligar a música

CONSEQUÊNCIAS
Há comportamentos desadequados dos filhos que não podem ser ignorados, como por
exemplo:
a. Comportamentos que sejam perigosos para a sua integridade física
b. Que causem estragos materiais
c. Que perturbem de um modo intolerável uma actividade.
d. Que impliquem violência
Perguntar aos pais o que fazem quando não podem ignorar um comportamento
inadequado: bater; castigar, …
Quanto ao castigar perguntar como castigam: não o deixar fazer coisas que gosta…
Explicar que o tópico da sessão de hoje é falar sobre esse último aspecto, ou seja, o
adolescente perder o direito de fazer coisas que gosta porque não cumpre uma ordem
“Se…então….” (consequência lógica)
As consequências ensinam os nossos filhos a serem mais responsáveis. Estas estratégias
são mais eficazes para aqueles problemas recorrentes, em que os pais são capazes de
decidir antecipadamente o que poderão fazer quando o mau comportamento voltar a
ocorrer.
· Os pais devem desenvolver nos seus filhos a tomada de decisão, o sentido de
responsabilidade e a capacidade de aprender com os erros através do uso das
consequências lógicas e naturais.
· A consequência é natural quer resulte da acção do adolescente, quer pela
inacção, na ausência de intervenção adulta. Ou seja, se Rui adormece ou se se
recusa a ir no autocarro da escola, a consequência natural poderá ser que ele terá de ir a
pé para a escola. Se a Catarina não quer vestir o casaco, então ela irá
sentir frio. Nestes exemplos, o adolescente aprende experienciando as
consequências directas da sua própria decisão – aqui eles não foram protegidos
da possibilidade de uma consequência desagradável como resultado do seu
comportamento, por nenhuma ordem dos pais.
· Uma consequência lógica, por seu lado, é configurada pelos pais. É concebida
como uma “punição para remediar o crime”. Uma consequência lógica para um
adolescente que estragou o computador poderá ser ele trabalhar até conseguir
pagar os custos do arranjo.
· Por causa das competências cognitivas que envolvem, as consequências
naturais funcionam melhor com adolescentes que com crianças. Por
exemplo, as crianças muito novas não conseguem ver a conexão entre não comer e ficar
com fome duas horas mais tarde.
Role-Play 1
Uma adolescente está a ouvir música alto no quarto. A mãe chega junto dela e diz-lhe
que tem de baixar a música porque a mãe não consegue ouvir a televisão na sala. E que
se ela não baixar a música a mãe tira-lhe o aparelhagem do quarto durante dois dias.
Discussão:
O grupo deve discutir porque é que o comportamento da mãe foi eficaz. Discutir o que
deve a mãe fazer se a filha não obedecer (tirar a aparelhagem e guardá-la) e o que fazer
se a seguir a filha iniciar uma discussão (deve ignorar).
Também “encenar” o que deveria teria acontecido se a filha fizesse o que a mãe pediu
(dar um elogio específico “obrigado por teres baixado a música tal como eu te pedi e
por o teres feito logo a seguir” e dar uma “recompensa inesperada” como poder ficar
mais meia hora a falar no computador com os colegas). Pedir a dois pais diferentes que
o façam: um par quando obedece e outro quando não obedece.
Chuva de Ideias:
Peça ao grupo para fazer uma lista de possíveis consequências lógicas e naturais para
maus comportamentos particulares.
Depois discutam alguns dos princípios que se devem ter em conta na escolha e
aplicação das consequências:
· dar consequências próprias para a idade
· estar seguro de que consegue viver com as consequências que estabeleceu –
ser consistente = disciplina assertiva
· dar ao adolescente a possibilidade de escolher antecipadamente, envolvendo-o na
escolha
· estabelecer consequências não punitivas
· ser amigável e positivo
· oferecer rapidamente novas oportunidades de aprender a ter sucesso
3.2. CONTRATOS
Quando há desacordo e conflito entre um ou mais membros da família é muitas vezes
útil sentarem-se juntos e resolver o problema estabelecendo um contrato. Esta estratégia
é eficaz porque envolve todos e todos podem dar a sua opinião. E porque são todos
envolvidos há muito mais probabilidade de ser cumprido do que se forem os pais “a
ditar as regras”. Os contratos são particularmente úteis para usar com adolescentes
porque ensina-os a ser responsáveis e a estabelecer e manter acordos.
Pontos mais importantes que devemos ter em atenção quando estabelecemos um
contrato:
1. Identifique o problema:
Cada membro da família deve, na sua vez, deve dizer como é que o problema o afecta a
ele (Mensagem Eu) e que papel é que tem na manutenção do problema
2. Explore o problema:
Discuta quais as situações que conduzem ao problema e quais é que o seguem
3. Faça uma “chuva de ideias” sobre possíveis soluções
Cada membro deve sugerir uma ou duas soluções para o problema. Ninguém deve fazer
comentários sobre as soluções que os outros sugeriram. Peça alguém que se voluntarie
para fazer a lista das soluções
4. Avalie cada uma das soluções e decida qual a que resulta melhor
Siga as soluções da lista e discuta as vantagens e desvantagens de cada uma delas. De
novo cada pessoa pode dizer o que pensa. Tente que todos cheguem a um consenso
sobre a melhor solução ou construa uma que englobe duas ou mais das preferidas.
5. Escreva um contrato
Discuta o que cada pessoa implicada pode fazer para aplicar a solução encontrada e
resolver o problema. Escreva o acordo especificando o que cada um tem de fazer.
Discuta as recompensas para quem cumpre e as consequências para quem não cumpre e
quebra o contrato. Escreva-as também. Pode usar um sistema de pontos para as
recompensas Leia o contrato e peça a cada um que explique o que tem de fazer. Todos
assinam
6. Tornar o contrato eficaz
Coloque o contrato num local em que todos o possam ver. Faça uma revisão periódica
do contrato com todos os envolvidos (por exemplo ao fim de semana). Qualquer
alteração ao contrato tem de ser feita com todos presentes e no encontro. Seja
consistente quer com as recompensas, quer com as punições – só desta forma o seu
contrato manterá a eficácia. Não se esqueça de elogiar quem cumpre (além de
recompensar) e ignorar quem não cumpre (além de penalizar).
“Mensagens EU em vez de Bater”
Pela primeira vez introduz-se a questão do Bater como estratégia disciplinar, pois nesta
altura do programa os pais já dominam técnicas alternativas e percebem como
funcionam e já têm uma relação de confiança com os dinamizadores e com o grupo.
Discutir com o grupo as vantagens e desvantagens de “bater”. Ter em conta as seguintes
informações para orientar a discussão:
· O bater é frequentemente usado pelos pais porque é rápido e geralmente
interrompe o mau comportamento no curto prazo. O problema com o bater é que tem
desvantagens a longo prazo. A primeira é que, quando os pais batem no seu filho, eles
estão a modelar uma resposta agressiva ao mau comportamento.
Assim, crianças/adolescentes que são batidas frequentemente aprendem a recorrer a
respostas agressivas quando estão frustradas. E, o que ainda é pior, quando os pais
batem, muitas vezes perdem o controlo ou sentem-se descontrolados. Esta perca de
controlo, além de ser uma experiência aterrorizadora para o filho, cria sentimentos de
culpa nos pais, logo que eles acalmam. Podem, então, ter tendência a responder a esse
sentimento de culpa compensando o filho com recompensas (podendo fazer com que o
filho tolere ser batido pelos prémios que sabe irá receber em seguida) ou evitando
qualquer uso de disciplina no futuro. Outra dificuldade relacionada com o bater é que
este tende a “limpar o cadastro” do adolescente, deixando-o sem qualquer sensação de
remorso pelo mau comportamento. O resultado é que, com frequência, estes
adolescentes não aprendem a responsabilizar-se pelo mau comportamento e têm
tendência a portar-se de uma forma pouco apropriada quando estão noutro contexto.
Ainda outro resultado do bater é que o adolescente aprende a esconder ou a mentir
acerca dos problemas, para evitar apanhar. De facto, quanto mais rígida for a disciplina
– seja sob a forma de críticas humilhantes ou punições físicas – mais desviante e
resistente o adolescente se torna.
· Ao bater os pais estão a modelar respostas violentas que os adolescentes vão
repetir com os irmãos e amigos e, no extremo, com outros adultos, incluindo
pais e professores.
· Uma abordagem adequada à disciplina, ao mesmo tempo que permite ao
adolescente aprender quais os comportamentos que são inadequados, dá-lhe a
expectativa positiva de que será capaz de fazer melhor na próxima vez e transmite-lhe a
ideia de que ele é amado. Métodos como o ignorar, as consequências lógicas, a perda de
privilégios, a resolução de problemas e os contratos são abordagens disciplinares
efectivas, que cumprem aqueles critérios.
Modelam uma resposta não violenta ao conflito. O ignorar interrompe o conflito e a
frustração, fornece tanto aos filhos como aos pais um período para acalmar e mantém
uma relação de respeito e de confiança, na qual o adolescente sente que pode ser
honesto com os seus pais acerca dos seus problemas e erros. Ao contrário do bater, as
estratégias disciplinares referidas também obrigam o adolescente a reflectir e fomenta o
desenvolvimento de um sentido interior de responsabilidade ou consciência.
· Bater tem vantagens no curto prazo para os pais (não para os filhos) e
desvantagens a longo prazo para ambos. Pelo contrário, as estratégias discutidas têm
desvantagens a curto prazo para os pais (demoram tempo e pode ser difícil levar a
situação até ao fim) e vantagens a longo-prazo para ambos.
3.2. Mensagens EU
· O grande objectivo das mensagens Eu é transmitirmos aos outros o que estamos a
sentir sem colocar a culpa neles e assim aumentando a probabilidade de nos ouvirem.
Uma mensagem Eu, tal como o nome indica, começa sempre por EU e clarifica o que o
comportamento da outra pessoa me faz sentir e pensar.
· São muito úteis para evitar que me envolva numa discussão com outra pessoa
(incluindo os nosso filhos) cujo comportamento nos está a irritar ou a descontrolar
· Enunciam: o que estamos a pensar + o que estamos a sentir + as razões que me fazem
sentir assim
VANTAGENS
- permite a outra pessoa saber o que queremos
- evita discussões e reduz interpretações erradas
- permite-nos dizer de forma calma o que estamos a sentir com o comportamento de
alguém
- resulta em maior cooperação da parte dos outros, incluindo os nossos filhos
- os pais estão a modelar esse comportamento nos filhos e assim a aumentar as suas
competências de interacção social e a reduzir a probabilidade de comportamentos
negativos
O QUE CONTÉM
- o que estamos a sentir sobre o comportamento
- o comportamento específico que nos está a aborrecer
- sugere o que queremos ver acontecer da próxima vez
- pode (opcional) incluir sobre uma consequência negativa (punição) quando o
comportamento voltar a acontecer
“Eu sinto-me ……………quando tu ……….. . Da próxima vez gostava que………..
Se voltar a acontecer, então…………….”
Transformar uma mensagem numa mensagem eu
1. “Nunca fazes as coisas quando te peço. És impossível.”
“Eu sinto-me muito zangada (O QUE SENTE) quando te peço para fazeres uma coisa e
tenho que te dizer quatro ou cinco vezes (O COMPORTAMENTO QUE A
ABORRECE). Eu quero que faças as coisas a primeira vez que te digo (QUE
MUDANÇA QUER VER).” Se voltar a acontecer então nesse dia não tens autorização
para ligar a net (CONSEQUÊNCIA NEGATIVA/PUNIÇÃO)
Formular uma mensagem EU
Situação: João, de 14 anos e a irmã Helena, de 10 anos, todos os dias discutem sobre
quem vai escolher que programa ver na TV. A discussão normalmente leva a lutas,
discussões, insultos e choro.
Actividade: Pede ao grupo que colocando-se no lugar da mãe formulem uma mensagem
EU. Se houver tempo os pais colocam-se dois a dois, formulam a mensagem e depois
cada para escolhe o elemento que apresenta a mensagem ao grupo.
1º Identificar o que está a sentir (zangada, frustrada, preocupada, triste)
2º Identificar o que a faz sentir assim (bater e chamar nomes, não saberem escolher uma
vez um e outra vez outro)
3º Indique o que quer ver acontecer (as vossas discussões e lutas têm de acabar, vocês
têm de chegar a um acordo e mantê-lo)
4º Indique as consequências se esse comportamento continuar (desliga a TV e só volta a
ligar quando chegarem a um acordo)
“Más Notas e Más Companhias”
Explicar aos pais que a sessão hoje se concentra na resolução de um problema
específico. O objectivo é os pais pensarem como “detectives” e decidirem qual a melhor
estratégia, entre as praticadas nas sessões do programa até aqui, a aplicar e porquê.
Um pai faz de mãe, outro de mãe, outro de filho. São-lhes dados os diálogos em folhas e
escritos em pelo menos Times 14 com dois espaços. No da mãe sublinhar com caneta os
diálogos da mãe, no do pai os do pai e no dos filhos o do filho. O dinamizador faz
sempre de narrador (explica quando os actores estão a pensar em voz alta; ajuda-os a
ver a sua deixa, ). O dinamizador explica ao grupo a situação que vão ver acontecer, o
problema, a idade do/s filho/s e o problema.

Problema – Más Notas e Más Companhias (Programa Parenting Wisely)


Pai: As suas últimas notas dele foram horríveis.
Mãe: Sim, elas costumavam ser mais ou menos, mas agora…
Pai: É o João. Esse João com quem ele anda por aí.
Mãe: Acho que ele foi suspenso por andar envolvido em lutas, mas não é isso que vai
impedir o Tó de andar com ele.
Pai: Não vejo o Tó a meter-se em lutas. Mas o que me preocupa é o que os outros vão
inventar sobre ele…
O Tó entra.
Tó: Algum sinal de jantar?
Mãe: É verdade que o João foi suspenso?
Tó: Sim.
Pai: Recebemos as tuas notas.
O Tó depara-se com o olhar fixo do pai.
Mãe: Nós achamos que alguma coisa tem de mudar…
Tó: (em voz alta e revoltado) Vocês simplesmente não gostam dele! Isto das notas não
tem nada a ver com o João.
Soluções: pedir aos pais que indiquem diferentes respostas de pais a esta
situação problema
1. Dizer claramente ao Tó para não se voltar a encontrar com o João.
2. Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações enquanto pais e pedir-lhe que
venha imediatamente para casa após as aulas até melhorar as suas notas na escola.
3. Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações enquanto pais, pedir-lhe que se
encontre com o João só lá casa e que comece a estudar a sério para subir as notas na
escola.
Solução 1- Dizer claramente ao Tó para não se voltar a encontrar
com o João.
Pedir a 4 pais que dramatizem (pai, mãe, filho Tó, amigo João)
Pai: (Falando para si mesmo) Quem é que ele pensa que anda a enganar?
Pai: (num tom zangado e autoritário): Esse João é só aborrecimentos e eu não gosto de
aborrecimentos. As tuas notas eram boas antes de ele meter aqui o bedelho.
Tó: Ele não meteu o bedelho. Tu nem o conheces. Ele não tem nada a ver com as
minhas notas.
Mãe: (Para si mesma) O João é um sem futuro e o Tó é influenciável. Não vou de forma
alguma deixar o nosso trabalho com ele nestes anos todos ir por água abaixo…
Mãe: (Para o Tó, em tom autoritário ) Não te encontras mais com ele e pronto.
No próximo dia – (ao portão da escola) O João espera pelo Tó.
João: Logo vais até lá a casa?
Tó: Sim, mas tenho de ir a casa primeiro – eu levo música.
Em casa. Junto à porta. O Tó estás a postos para sair.
Tó: (Em voz alta) Eu vou até casa do Vasco.
Mãe: Nada de andares com o João.
Tó: O Vasco não se encontra com essa cambada.
O Tó sai.
Considerações
1. O que devemos fazer quando o nosso filha/a tem um amigo/a que não
aprovamos?
Se atacamos o amigo chamando-lhe nomes ou fazendo comentários depreciativos acerca
dele (ex. “O João é um sem futuro…”) então o que vamos originar é uma discussão
porque provavelmente o nosso filho vai tentar defender o amigo. O melhor é
concentrarmo-nos no problema que precisamos de resolver – as notas na escola e os
trabalhos de casa
2. É uma boa solução os pais do Tó terem-no proibido de se encontrar com o João
para sempre?
Exigir que o nosso filho deixe de passar algum tempo com um amigo é uma solução
demasiado extrema e por vezes até cruel e geralmente não conduz a bons resultados
(pensar na questão dos namorados/as e nas proibições). Primeiro porque nós não
podemos estar sempre ao lado dos nossos filhos: eles podem encontrar os amigos na
escola ou fora dela em situações que nos são impossíveis de controlar. (não imponha
regras que sabe que não vai poder controlar se são ou não cumpridas). Segundo não
queremos impedir os nossos filhos de estar com amigos que eles sentem que são
importantes para eles. Se um adolescente acredita que uma ordem dos pais é de facto
injusta eles vão sentir que têm toda a legitimidade em desobedecer e mentir aos pais.
3. O pai fez bem em ser autoritário com Tó e atribuir ao amigo dele o fracasso
escolar do filho?
Não. O pai foi demasiado confrontativo e usou um tom de voz demasiado zangado. O
Tó respondeu de uma forma rebelde e procurou mostrar a si mesmo que é independente
encontrando-se com o João na próxima oportunidade que teve.
Solução 2- Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações
enquanto pais e pedir-lhe que venha imediatamente para casa após as aulas até
melhorar as suas notas na escola
Pai: (Para si mesmo) Trabalhos de casa, são uma chatice para ele. Nós? Ele está-se
borrifando.
Pai: (Para o Tó em tom desafiador) Então se o problema não é a influência do João,
porque é que as tuas notas pioraram tanto?
Mãe: Para onde vais depois das aulas?
Pai: E nem vestígios de qualquer trabalho de casa. É direitinho para casa até melhorares
as tuas notas.
Para o Tó o som das vozes dos seus pais foi diminuindo progressivamente mas ainda vai
vendo o movimento dos seus lábios.
Tó: (Para si mesmo) Anormais. João isto e João aquilo…a escola é uma porcaria, eu
odeio-a. O que é que eles vão fazer, amarrar-me a uma cadeira? Obrigar-me a trabalhar?
Podiam expulsar-me, isso resolveria muita coisa.
Ele sorri com uma expressão de desafio do tipo “vão ver”.
Considerações
1. Este é um castigo apropriado para os pais darem?
Não. É demasiado severo. As crianças e os adolescentes precisam de tempo para relaxar
depois das aulas. Ter amigos é uma parte importante do desenvolvimento dos nossos
filhos. Colocar limites e definir regras claras sobre o tempo que joga Play Station ou
que vê TV ou que está no computador é uma estratégia mais eficaz. Mas não dar
nenhum tempo para estas actividades e durante muitos dias também vai fazer com que
os nossos filhos se sintam zangados e ressentidos com os pais.
2. Como é que os pais podem tornar o castigo mais útil para o Tó com o
objectivo de ele melhorar os trabalhos de casa?
Têm de definir com ele (resolução de problemas) objectivos específicos em relação aos
quais ele tem de trabalhar. Quais as notas que tem de melhorar? A que disciplinas? Até
quando? A partir de que momento pode começar a sair? E se não melhorar? E se
melhorar mais que o acordado? (contrato) Se os nossos filhos não tiveram uma forma
aceitável e razoável e voltar a ganhar privilégios que tinham eles podem desobedecer
aos pais ou desistir e não fazer nada.
3. O que deviam ter feito os pais do Tó antes de tirarem qualquer conclusão sobre
a razão de as notas do filho terem descido?
Deviam ter dado ao filho uma hipótese de ele explicar porque é que as suas notas
desceram. Pode ser que ele não veja bem o quadro. Pode ter perdido o livro e tenha
medo de dizer aos pais. Qualquer que seja a razão eles não a vão descobrir a não ser que
estabeleçam com ele um diálogo em que todos têm direito a falar e têm o dever de
escutar o outro (solução de problemas; escuta activa; mensagens eu).
4. Quais os principais erros que os pais do Tó cometeram com a estratégia que
usaram?
Encheram o filho de perguntas sem lhe dar hipótese de dar a sua opinião (interrogatório
tipo policial) e num tom de voz zangado e com muitas criticas. A
maioria das adolescentes nesta situação ou se defendiam usando a mesma estratégia
(voz alta, criticas, ameaças = pais como modelos) ou desligava.
“Más Notas e Más Companhias” (continuação)
Explicar aos pais que a sessão hoje se concentra na terceira solução identificada para a
resolução do problema específico discutido na última sessão. O objectivo é os pais
continuarem a pensar como “detectives” e decidirem as melhores estratégias, entre as
praticadas nas sessões do programa, a aplicar e porquê.
Um pai faz de mãe, outro de mãe, outro de filho e outro de amigo. São-lhes dados os
diálogos em folhas e escritos em pelo menos Times 14 com dois espaços.
O dinamizador recorda o problema e pede aos pais para identificarem porque é que as
duas soluções discutidas na última sessão não eram as mais eficazes.
Problema – Más Notas e Más Companhias (Programa Parenting Wisely)
Soluções:
1. Dizer claramente ao Tó para não se voltar a encontrar com o João.
2. Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações enquanto pais e pedir-lhe que
venha imediatamente para casa após as aulas até melhorar as suas notas na escola.
3. Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações enquanto pais, pedir-lhe que se
encontre com o João só lá casa e que comece a estudar a sério para subir as notas na
escola.
Solução 3
Dialogar com o Tó sobre as suas preocupações enquanto pais, pedir-lhe que se
encontre com o João só lá casa e que comece a estudar a sério para subir as notas
na escola.
Pai: (Para si mesmo) Mantém a calma, dá a volta ao texto. Sê positivo. Tremo de medo
de pensar que ele nos vá escapar por entre os dedos.
Mãe: (Para si mesma) Claro que ele defende os seus amigos, os miúdos fazem isso.
Pai: Olha, não é o João, sou eu. Eu receio que te rotulem. Nós mal o conhecemos.
Mãe: Convida-o para vir cá a casa.
Tó: Boa tentativa, mas os professores já acham que eu não valho nada, eles odeiam-me.
Mãe: E é isso que eles sentem em relação ao João?
Tó: Sim, mas os pais dele estão-se nas tintas.
Mãe: Então na escola pensam que vocês são ambos uns inúteis?
Tó encolhe os ombros.
Pai: E tu vais mostrar-lhes como é? Olha que a única maneira de lidar com os
professores é mostrar-lhes que eles estão errados. Dá a volta à questão.
Mãe: E se depois das aulas voltasses para casa? Voltassem os dois cá para casa depois
das aulas. Eu deixava-vos um lanchinho e se fizesses os trabalhos de casa e as notas
melhorassem podias sair à noite com o João ao fim de semana.
Pai: Nós só vos queremos aos dois em casa, para ninguém implicar convosco. Ficando
rotulados pela policia local a vossa folha fica feita.
Tó: O quê, tu queres o João cá em casa?
Mãe: Se for para trabalhar, sim.
Pai: Se te portares mal, em breve se saberá e depois ficas de castigo. Eu vou saber como
andam a correr as coisas na escola a partir de agora.
Tó: Sim, mas o facto é que tu não me podes impedir de estar com os meus amigos
agora, pois não?
Mãe: Podíamos estabelecer um esquema de recompensas – tal como cinco pontos para
todas as tarefas bem desempenhadas? Juntá-los para um divertimento.
Tó: O João não acharia isso um pouco – infantil?
Pai: Ah, mas os pais dele tiverem uma ideia melhor, não tiveram?
Tó: Para falar verdade eu penso que ele se sente sozinho, banido da escola e pelas ruas
tantas horas.
Mãe: Mais uma razão para eu o querer aqui.
Tó: Eu não quero que vocês fiquem por aqui a envergonhar-me.
Pai: Se juntares pontos suficientes podes usar a garagem.
Tó: Tu deixavas-nos ficar com a tua garagem?
Pai: Se tu o mereceres, eu de qualquer modo nunca lá ponho o carro. Não penses que
não vamos andar em cima da jogada no que diz respeito à escola e não penses que nos
enganas! Eu vou estar atento e informar-me sobre como é que os teus resultados na
escola estão.
Mãe: Amor, temos de confiar nele…
Três semanas depois…
O Tó e o João estão a fazer os trabalhos de casa. A televisão está ligada, ouve-se música
em alto volume, mas eles estão a trabalhar.
Pai: (Por cima do barulho) Bolas, eu não seria capaz de me ouvir a mim próprio a
pensar…mas se resulta contigo.
Tó: Eu vou com o João ao cinema – com os meus pontos.
Pai: Muito bem…
Tó: (Falando de um professor da escola) O velho cara de ratazana nem queria acreditar
quando eu recebi as minhas boas notas.
João: E eu vou voltar à escola para a semana.
Pai: Então é parabéns para todos – nada melhor que um rápido levantamento de notas
para mostrar a esses professores o que valem. Continuem e teremos de limpar a
garagem…
O pai dirige-se à saída.
João: Obrigado Sr. Santos…
O Pai volta-se ligeiramente e acena com a cabeça sorrindo.
Considerações
1. Que estratégias disciplinares eficazes usaram os pais aqui?
Mensagens Eu; Escuta Activa; Supervisão; Recompensas; Consequências lógicas;
Modelamento; Elogio
2. O que fizeram os pais eficaz?
Usaram um tom de vez menos zangado e perguntaram ao filho qual a sua opinião
(resolução de problemas) sobre ter o amigo lá em casa?
3. Quais alguns dos aspectos positivos de o Tó poder ter o amigo lá em casa?
Permitir que o filho esteja em casa com o amigo dá aos pais a oportunidade de
controlarem (supervisão) ao mesmo tempo que permite ao filho estar com o amigo.
Deste modo reduzem a probabilidade de o filho lhes desobedecer
4. Como é que o pai inicia a conversa com o filho sem meter o amigo ao
barulho?
Usou uma mensagem eu: “Olha, não é o João, sou eu. Eu receio que te rotulem. Nós
mal o conhecemos. Não culpa o amigo sobre os problemas do filho mas diz-lhe o que a
situação o faz sentir.
Deste modo está também a ser um bom “Modelo” para o filho.
5. É uma boa estratégia o pai encorajar o filho a provar aos professores que eles
estão enganados? (“E tu vais mostrar-lhes como é? Olha que a única maneira de lidar
com os professores é mostrar-lhes que eles estão errados.”)
O pai está a correr o risco de modelar alguma falta de respeito para com os professores e
criar no filho essa ideia sobre todos os professores. Ele corre esse risco porque sabe que
uma boa maneira de motivar o filho é ele surpreender os professores.
6. Porque é que é uma boa ideia os pais informarem o Tó de que vão estar atentos
ao que se vai passar na escola e que vão falar com os professores? (“Não penses que
não vamos andar em cima da jogada no que diz respeito à escola e não penses que nos
enganas”)
Porque assim ele sabe que os pais vão estar rapidamente informados sobre os seus
progressos na escola. Ele sabe que não basta fingir que estuda em casa e dar-lhes a
volta. Também sabe que as opiniões dos seus professores vão ser decisivas para ele ser
recompensado ou punido.
Na adolescência os pais têm de continuar a exercer supervisão: os filhos precisam de
saber que os pais estão atentos ao que fazem e aos seus comportamentos e notas na
escola. A supervisão permite aos pais aconselharem e apoiarem os seus filhos e ao
mesmo tempo os filhos sabem quais são as regras e que os pais estão atentos a se eles as
cumprem ou não (Disciplina Assertiva). Mostram aos filhos que estão interessados
neles e se preocupam com eles. A supervisão tem de aumentar quando os filhos estão a
ter problemas.
8. Os pais não atacaram o amigo do Tó. Porque é que isto é eficaz?
Ajuda o Tó a não se colocar numa atitude defensiva e estar aberto ao que os pais têm
para dizer. Ao permitirem-lhe estar com o amigo estão a respeitar os seus sentimentos e
ele sente que se preocupam com o que ele sente.
9. O que conseguem os pais ao usarem um sistema de Recompensas e
Supervisão em vez de ameaças?
Conseguem a cooperação do filho e aumentam-na com elogios e recompensas. Isto
fortalece a relação com o seu filho. Ao falarem com os professores mostram também ao
filho que estão atentos e que controlam os seus resultados na escola.
CHUVA DE IDEIAS:
Razões pelas quais os adolescentes escolhem os seus amigos
1) Para aumentarem a sua auto-confiança de que conseguem fazer boas escolhas
2) Para praticar a tomada de decisões
3) Para gradualmente aumentarem a sua autonomia.
Não o fazem para manterem os pais fora dos seus assuntos e não os deixar saber demais.
Razões pelas quais devemos supervisionar os nossos filhos quando eles passam
tempo com os amigos:
1) Ter mais informações sobre o nosso filho e conhecer os pontos fracos e fortes
dos seus amigos
2) Se estivermos presentes podemos orientar e se necessário dar autorização para
algo
3) Eles serão mais responsáveis porque sabem que estamos presentes
4) Quando o nosso filho nos fala dos amigos temos mais informação para poder
falar com ele
5) A supervisão mostra aos nossos filhos que nos preocupamos e estamos
interessados neles. Quando há problemas a supervisão tem de aumentar.
Razões pelas quais os pais evitam falar com os professores sobre os
problemas/dificuldades dos seus filhos na escola
1) Não querem acreditar que o seu filho está a ter problemas
2) Pensam que é um problema para ser resolvido em família
3) Sentem-se pouco confortáveis na escola e não se querem sentir julgados
4) Pensam que os professores resolveram implicar com o seu filho

O que fazer quando surgir um problema novo? Mala de ferramentas


· Pedir aos pais que identifiquem os passos a seguir quando surgir um problema
novo – pais como detectives. Os pais devem ser capazes de identificar o que
fazer, começando por reflectirem se usaram as estratégias positivas adquiridas
(elogiar, recompensar, escuta activa, mensagens eu, quadro de pontos) ou se
podem ignorar e só como etapa final recorrer à perda de privilégios e aos
contratos. Estas serão as “ferramentas” da sua “mala de pais” e sempre que
precisarem devem abrir a mala e pensar qual a mais adequada. Não se podem
esquecer da supervisão. (Pode-se oferecer uma caixa de cartão com a etiqueta
“Mala de ferramentas para pais e mães de adolescentes” e lá dentro diferentes
ferramentas em cartão e cada uma delas com o nome de uma das estratégias
praticada com os pais: chave parafusos = Ignorar + calma + paciência; alicate =
contratos e pontos; parafuso = recompensas; martelo = consequências; porca =
regras; óculos protetores = escuta activa e mensagens eu; régua = supervisão;
serra = modelar; óleo = elogios. A tampa da caixa por dentro pode ter uma
fotografia do grupo – e explicamos que essa é também uma das ferramentas a
que devem recorrer – e deve ter o nome e contacto telefónico de todos.
· Podem telefonar a um outro colega do grupo e discutir com ele qual a opção que
poderá ser mais eficaz

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