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RESUMO LIVRO:

Carinho e Firmeza com os


Filhos
Alexander Lyford-Pike
INTRODUÇÃO:
“Carinho e firmeza; uma difícil harmonia para pais com critérios rígidos
ou com uma fácil disposição para o carinho brando. Essa harmonia apenas se
consegue com uma firmeza terna ou com uma ternura firme, isto, é, quando os
pais não se guiam pelo amor espontâneo, mas optam por um amor inteligente
por seus filhos, por cada filho. Não se trata de um equilíbrio quantitativo. O
carinho e a firmeza não são recursos nem receitas. São os componentes de um
amor verdadeiro, que busca o bem dos filhos e não a comodidade própria.”
A solução dada pelo autor, para que tenhamos uma educação com
carinho e firmeza, é a Educação com personalidade (EP), ou seja, desenvolver
a firmeza da personalidade, tanto nos pais como nos filhos. Pois a firmeza dos
pais se transmite aos filhos e os ajuda a conseguir uma personalidade bem
formada.
” A base da EP é a firmeza combinada equilibradamente com o carinho.
É essencial que ambos elementos estejam integrados em um justo ponto de
equilíbrio para que a aplicação da EP tenha suas maiores possibilidades de êxito.
Um excesso de firmeza pode desembocar em um autoritarismo
contraproducente. Se, pelo contrário, o carinho impede ou dilui o exercício da
firmeza, a tentativa educativa corre sério risco de fracassar. Equilibrar o grau
justo de ambos elementos essenciais na medida adequada, sem exceder-se na
firmeza nem sufocá-la no carinho, é a tarefa mais difícil que enfrentam os pais.”

NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM AUTORIDADE


O autor comenta da grande crise da autoridade, dentro das famílias
atuais. Ele comenta dos 3 grandes efeitos que esta crise está causando:
“Deteriora ao papel da instituição familiar como núcleo básico da
organização social. Por outro, prejudica a formação de crianças e jovens para
uma vida adulta proveitosa. Esta fraqueza formativa, por sua vez, impossibilita
aos jovens de hoje para educar à geração seguinte, isto é, seus próprios filhos,
acentuando um progressivo deterioro em cadeia para a decadência da
sociedade.”
A autoridade paterna, cumpre sua função educativa, quando exercida
com carinho, estimulo e paciência. A ausência destes requisitos essenciais a
converte em um autoritarismo cujas consequências são tão perniciosas como a
equivocada permissividade que invadiu tantas sociedades modernas.
“Para algumas correntes em psicologia, corrigir aos filhos é reprimi-los,
isto é, criar-lhes traumas. Este conceito – que vai contra o sentido comum –
ambientou uma permissividade quase total em nossa sociedade contemporânea,
que desorienta aos pais e colabora a que a imaturidade humana se prolongue
eternamente. “
As crianças necessitam e buscam normas, critérios e modelos claros em
seus pais. As falhas das famílias neste campo geram potencialmente transtornos
graves de conduta em crianças e jovens, que podem chegar, em alguns casos,
a atitudes antissociais.
A ausência da autoridade converte a criança em um barco à deriva, uma
vez que não lhe transmite modelos a imitar nem a ensina que as condutas
inadequadas devem ser modificadas, melhoradas.
Apoiar para crescer
A tarefa de educar é talvez a principal missão que pode ter uma pessoa.
Não basta trazer uma criança ao mundo: Há que educá-los e os primeiros
responsáveis deles, ante Deus e ante a sociedade, são os pais. Essa
responsabilidade é indelegável ante ninguém, nem nos colégios, nem no Estado.
Por isso, são o apoio e a esperança dos filhos enquanto lhes vão ensinando a
sustentar-se por si próprios, da mesma forma que a vara ou “tutor” que se coloca
junto a uma árvore recém plantada para assegurar que cresça direito.
Ser vara ou “tutor” equivale ao exercício da autoridade no caso dos pais,
sustentando para evitar desvios ou para corrigi-los se aparecem. Esta função de
autoridade significa sustentar para crescer. Ensinar a crescer é conseguir que
os filhos aprendam a aproveitar as experiências dos pais de maneira favorável e
operativa em sua própria vida, em um clima de liberdade e responsabilidade.
“Arvore que cresce torta, nunca se endireita”.
O exercício da autoridade por parte dos pais, é como “tutor” que ajuda a
árvore recém plantada: assegura que cresça direito.
Um grave erro antropológico
É um grave erro antropológico ignorar essa desordem inata, presente
em todos nós, que nos leva frequentemente a não fazer o que queremos e a
fazer o que não queremos.
Todos temos em nós a semente do amor e do ódio, do bem e do mal, do
construir e do destruir. A semente da decomposição antissocial manifesta-se já
nas próprias crianças, quando mostram lampejos de crueldade nas suas
brincadeiras e no relacionamento com as outras crianças, bem como com os
pais.
A educação é, em grande medida, um meio de ordenar as potências
desencontradas que existem na personalidade da criança.

O QUE É A EDUCAÇÃO COM PERSONALIDADE


O exercício da EP por parte dos pais significa:

Fazer valer eficazmente os direitos próprios e, ao mesmo tempo,


respeitar os direitos dos filhos.

Conseguir que os filhos percebam e entendam a mensagem de seus


pais, incluindo seus desejos, interesses e estados emocionais no processo de
comunicação.
Tomar decisões sobre o que corresponde fazer com respeito aos filhos
e levá-las a cabo sem mudanças de posição que signifiquem uma claudicação.

Isto implica a responsabilidade de produzir a mensagem que mais ajude


à educação de um filho em uma situação determinada, transmiti-lo na forma
adequada, ou seja, com eficácia, tomar decisões para assegurar seu
cumprimento e assumir as consequências desse cumprimento.

Todas as pessoas se dividem em três grupos de acordo com a resposta


que dão ante uma situação que envolva alguma forma de conflito:

A percepção esquemática destes três níveis de resposta ajudará aos


pais a atuar assertivamente na educação dos filhos mediante o exercício
adequado da autoridade. Uma atitude de submissão insegura ou de domínio
agressivo constituem igualmente uma mensagem ineficaz em matéria de
autoridade educativa. Uma atitude assertiva, com firmeza equilibrada e com a
flexibilidade que cada situação requer, constitui a adequada mensagem eficaz.

Assertividade
Não se demonstra autoridade somente com ameaças, correções e
castigos, mas com ajuda e estímulo.
“Amo você demais para permitir que você se comporte assim. Este seu
problema de comportamento tem de terminar, e estou disposto a fazer o que seja
necessário para que compreenda que falo sério.”
Esta é a mensagem que os pais devem transmitir aos filhos diante das
condutas inapropriadas. Assim ficará claro que não há contradição entre amá-
los muito e exigir muito deles.
UM CAMINHO EM TRÊS ETAPAS
Três princípios
Ninguém nasce sabendo educar. É mais fácil aprender a curar doenças,
ensinar matemática ou apagar incêndios do que aprender a educar os filhos. As
crianças têm características próprias e precisam ser tratadas de forma individual
pelos pais. Educar é se preparar, ir à frente, o que exige dos pais esforço em
estudar sobre o tema. Existem três capacidades-chave para o exercício da
autoridade assertiva, que são a base da Educação com Personalidade:
1. Falar claro – Significa usar a forma de expressão mais
conveniente para conseguir que os filhos escutem.

2. Respaldar as palavras com atos – Para todas as crianças,


os atos valem mais do que as palavras, porque lhes demonstram
claramente e sem deixar margem de dúvida que os pais não se limitam a
falar, mas estão dispostos a lançar mão de medidas corretivas, se for
necessário.
3. Estabelecer regras de jogo firmes – Significa estabelecer
um plano sistemático de medidas corretivas diante do comportamento
inadequado de um filho, caso a comunicação assertiva e o reforço das
palavras com atos venham a se mostrar insuficientes

Obstáculos
Dadas as características da sociedade atual, os filhos estão muito
expostos a influências externas à família, que incutem neles modelos e padrões
de conduta diferentes dos pais.
Muitas vezes, a maneira de educar de uma geração não serve para a
seguinte. Além de tornar mais difícil a tarefa educativa, isso também pode criar
obstáculos ao crescimento dos próprios filhos: hoje em dia, é mais difícil superar
a adolescência do que há vinte anos.
Esses impedimentos podem levar um pai à frustrante conclusão de que
não pode fazer nada para melhorar o comportamento dos filhos. Muito pelo
contrário! Apenas lhe falta dispor das ferramentas adequadas e da autoconfiança
necessária para administrar cada situação com firmeza e flexibilidade, isto é,
assertivamente.

ALCANCE E LIMITES
Conseguir que os filhos mudem de conduta e de hábitos, não é um
processo fácil e menos ainda repentino.
As técnicas sugeridas aqui são para pais de filhos pequenos que não
apresentam alterações graves de comportamento antes de entrarem na
adolescência. Não são regras rígidas ou infalíveis, mas servem como ponto de
referência e apoio.
O QUE NÃO DEVE SER FEITO
A maioria dos pais não se dão conta de quão ineficazes são, as vezes,
suas reações ante um comportamento indesejável de seus filhos. Com
frequência não percebem que sua maneira de responder estimula aos filhos a
manter e até acentuar uma conduta inconveniente. Tais respostas ineficazes dos
pais se agrupam em duas categorias:

Inseguras

Hostis ou agressivas

RESPOSTAS INSEGURAS
Uma resposta é insegura quando não transmite à criança de forma
precisa, facilmente compreensível e firme o que se espera que faça.

Afirmação ineficaz
Mãe: “Te pedi que arrumasse seu quarto, mas ainda não o fez”.
A criança continua sem cumprir o pedido de sua mãe, ante o qual esta
repete frustrada: “Não liga para o que eu falo”.
Este tipo de respostas, além de evidenciar que muitos pais sentem que
é útil fazer ver ao filho que não está se portando adequadamente, supõem
também que as crianças não são conscientes de que estão atuando mal e que,
se o soubessem, parariam com sua conduta inconveniente.
O pedido materno para que a criança ordene seu quarto seguido apenas
por queixas porque não lhe dá importância, dilui a instrução e lhe tira força,
deixando margem para que o filho a ignore.
A resposta indefinida da mãe converte em ineficaz a comprovação
insegura da desobediência do filho.
Perguntas (seguem-se frequentemente às afirmações ineficazes)
"Por que você se comporta mal comigo?"
"Por que você não presta atenção no que eu falo?"
"Por que você está sujando o chão?"
"Quantas vezes tenho que lhe dizer que termine a lição antes de sair?"

Perguntas inseguras, só transmitem desgosto materno. Esse tom de


reclamação não funciona, demonstra falta de convicção ou fraqueza.
Súplica
Mãe: "Vá dormir."
Filho: "Não tô com sono."
Mãe: "Já é tarde, estou cansada. Por favor, vá dormir."
Filho: "Mas eu não estou cansado."
Mãe: "Mas eu estou. Por favor, vá para a cama,”

A súplica à criança, pedindo-lhe que seja compreensiva e se apiede do adulto,


transmite uma imagem paterna de fragilidade e debilidade, que induz à
desobediência e à desvalorização. Se perde assim prestígio, autoridade e não
se lhes apresenta um modelo atraente para ser imitado.

Ignorar a desobediência

Igualmente inseguro é dar ao filho uma ordem específica para que se


comporte corretamente e depois fazer-se de desentendido se não obedece.
Por exemplo:
Mãe: “Cecília, deixou todo molhado o piso do banheiro. Venha secá-lo”.
Cecília: (recostada em um sofá, lendo uma revista): “Sim, mamãe, já
vou”.
Mãe (vários minutos depois): “Cecília, te disse que deixasse essa revista
e fosse secar o banheiro!”.
Cecília: “Já vou, já vou, deixe-me terminar de ler!”.
Passa mais tempo e Cecília no sofá lendo. A mãe a vê da cozinha, mas,
vencida, continua com seu trabalho como se não tivesse percebido que Cecília
não a obedeceu.
“Dar uma ordem sem verificar que seja cumprida, é como dizer à criança;
“tenho que dar-lhe essa ordem..., mas se não obedecer, não se preocupe porque
não lhe acontecerá nada”. Proceder assim é minar a educação em suas bases.”

RESPOSTAS HOSTIS OU AGRESSIVAS


Quanto mais gritar com seu filho, mais transmitirá sua perda de controle
e debilidade, fazendo com que sua mensagem careça de autoridade. As
crianças, com uma capacidade intuitiva extraordinária, captam o descontrole;
isto os convida a colocar-se em uma luta de poderes que obstaculiza o normal
processo educativo.

Alguns exemplos de reações hostis:

- Frases que rebaixam os filhos:

"Você é uma praga!"


"Sem-vergonha irresponsável!"

- Frases que revelam falta de autodomínio:

"Você me deixa louco!"

"Você me deixa doente!"

- Ameaças sem conteúdo:

"Você vai ver!"

"Você vai me pagar!"

Geralmente completamos essas ameaças com:


"Se você continuar a se comportar mal, eu vou..."
"Se você continuar a brigar com o seu irmão, eu vou..."

As crianças aprendem a não dar importância a mensagens deste tipo e


continuam portando-se como acham melhor.
Castigos excessivos
O castigo deve ter um começo e um final. Quando é excessivo, é
frequente que os pais voltem atrás, passando assim a mensagem de que não é
preciso levá-los a sério por sua própria incoerência.

Castigos físicos
Normalmente, a agressão física pode ser uma explosão paterna não
meditada, com um efeito negativo sobre a educação da criança, que o faz sentir-
se recusada. Este distanciamento obstaculiza uma boa comunicação, baseada
no afeto, que dá fundamento às chamadas “surras bem dadas”.
COMUNICAÇÃO EFETIVA
Falar direta e assertivamente não deixa dúvidas na mente de seus filhos
sobre o que você quer exatamente que façam. Isto não os intimida, mas lhes dá
segurança, porque para eles nada é melhor do que ver em seus pais pessoas
com personalidade.
Para comunicar-se de maneira eficaz com os filhos, ou seja, fazê-los
entender o que se quer deles, é necessário aplicar quatro técnicas-chave de
comunicação, que serão descritas abaixo.

Linguagem assertiva e clara


Dirigir-se aos filhos com frases diretas e assertivas é uma atitude útil e
correta, reflete-se em mensagens como:
“Quero que arrume seu quarto neste exato momento”.
“Compreendo que você queira continuar brincando, mas já é hora de
comer e quero que guarde esses brinquedos no seu lugar agora mesmo”.
“Para de perturbar o seu irmão agora”.
Seja concreto ao falar. Evite frases vagas e imprecisas como “seja bom”
ou “comporte-se como um menino da sua idade”, que são meramente a
expressão de um desejo e não transmitem nenhuma instrução precisa, clara,
calma e firme.
Falar direta e assertivamente não deixa dúvidas na mente dos filhos
sobre o que queremos que façam. Isso não os intimida, mas transmite-lhes
segurança, porque nada é melhor para eles do que ver que os pais têm
personalidade.

Mensagens sem palavras


Para que sua ordem alcance o efeito desejado, você deve entender que
a forma como você fala é tão importante quanto aquilo que diz.
Siga os seguintes pontos:
- Nunca levante a voz ao pedir ou dar ordens;
- Fale sempre em tom firme, mas calmo;
- Transmita tranquilidade ao dar uma ordem ou instrução, o que mostrará
à criança que é você quem controla a situação;
- Sempre fale com os filhos olhando-os nos olhos (isso aumenta a
eficácia de qualquer mensagem, pois reflete o carinho e a firmeza que há por
trás daquilo que se diz.
Para dar mais ênfase e força às palavras, vale a pena acompanhá-las
com gestos que não intimidem a criança. A mão do pai sobre o ombro do filho
pode ter mais peso e significado do que as palavras. A calma, o carinho e a
firmeza transmitidos pelo contato físico predispõem a criança a aceitar as
mensagens paternas.

Controle das discussões


Há cinco técnicas ou formas básicas para manejar as situações que se
apresentam quando os filhos, em vez de obedecer a uma ordem paterna,
respondem com diferentes tipos de argumentos e tentam estabelecer uma
discussão.
São técnicas dirigidas a evitar que os pais caiam em uma estéril
discussão argumentativa com seus filhos, quando estes não apresentam razões
válidas, mas apenas tentam estabelecer desculpas para ignorar ou obscurecer
a ordem paterna.
Estas técnicas são conhecidas por “disco riscado”, “nevoeiro”,
“interrogação negativa”, “extinção” e “tempo afastado”.
TÉCNICA DO DISCO RISCADO

De modo frequente ocorre que quando você quer dizer simplesmente a


seu filho o que deve fazer, o resultado é uma discussão. Por exemplo:
Mãe: “Ricardo, por favor, pode recolher seus brinquedos? Estão
jogados por todo o quarto”.
Ricardo: “Por que sempre eu tenho que juntá-los? Alberto nunca os
junta”.
Mãe: “Você sempre deixa as coisas jogadas; ele, não”.
Ricardo (irritando-se): “Sempre implica comigo!”.
Mãe: (incomodada): “Isso não é verdade”.
Ricardo: “Está sendo injusta”.
Mãe: “Está errado, não sou injusta”.
Neste caso, a mãe terminou perguntando-se se era justa ou não e
dando-se por vencida em vez de estabelecer com firmeza o que queria, isto é,
que Ricardo recolhesse os brinquedos.
O nome reflete o fato de que quando você usa essa técnica, soa como
um disco riscado que continua repetindo sempre o mesmo, uma e outra vez, até
que consegue a penetração e aceitação de sua mensagem.
Técnica do nevoeiro
Essa técnica tem por fim evitar que os filhos deixem os pais nervosos
quando dão respostas provocativas para que os pais percam o domínio de si
próprios e da situação. A expressão significa que se procura assim isolar os pais
das provocações dos filhos, como um barco que entra em um nevoeiro e se isola
de tudo ao redor.
Os filhos ficam sem argumentos e não se distraem da mensagem que
você lhes quer transmitir. Torna-se também mais fácil para os pais manter a
calma e a serenidade, tão necessárias para formar filhos com personalidade.
Por exemplo:
Ricardo: “Você é malvada!”.
Mãe: (calmamente): “Pode ser que para você pareça que sou malvada”
(nevoeiro).
Ricardo: “Sempre zomba de mim”.
Mãe: “Pode ser que você acredite que sempre zombo de você”
(nevoeiro).
Essa técnica, combinada com a do “disco riscado”, favorece, por um
lado, não reagir à crítica do filho e a evitar ser desviado do objetivo.
TÉCNICA DE INTERROGAÇÃO NEGATIVA

Uma resposta hostil de um filho esconde, às vezes com agressividade,


a verdadeira razão de seu descontentamento. A técnica de interrogação negativa
o vai conduzindo gradualmente até chegar ao motivo real da resposta agressiva
inicial. Por exemplo:
É o aniversário de Maria. Sua mãe está lhe organizando a festa,
entretanto, Maria mostra uma atitude de crítica negativa.
O diálogo se desenvolve da seguinte forma:
Maria: “O bolo está maravilhoso”.
Mãe: “O que tem o bolo de maravilhoso?” (interrogação negativa).
Maria: “Que ficou feio”.
Mãe: “E o que tem para estar feio?” (interrogação negativa).
Maria: “É que meus colegas vão rir” (se chega ao ponto que
verdadeiramente afeta à criança).
Mãe: “Por que acha que vão rir?”.
Maria: “Sempre zombam de mim e brigam comigo, não querem brincar
comigo”.
Mãe: “E apenas zombam de você?”.
Maria: “Sim”.
Mãe: “Mas às vezes também devem zombar de outras meninas, não?”.
Maria: “Sim, às vezes sim”.
Mãe: “E não acha que parece que o fazem para irritá-la e divertir-se um
pouco a suas custas?”.
Maria: “Sim, eu me irrito e deixo de brincar com elas”.
Mãe: “E que poderia fazer para não se irritar e continuar brincando?”.
Maria: “Não lhes dar importância”.
Mãe: “Muito bem, Maria, essa é precisamente a forma que evitará que
riam de você”.
Lembre-se que quando seus filhos lhe fazem críticas agressivas estão
buscando tirá-la do sério. Dê respostas que neutralizem a agressão e esta irá
desaparecendo, especialmente se conseguiu levar a criança à verdadeira razão
de sua hostilidade e apresentar-lhe uma solução.
TÉCNICA DE EXTINÇÃO

Há um princípio psicológico que estabelece que todo estímulo que não


é respondido, se extingue. Quando não se responde ante uma reclamação
inadequada dos filhos, haverá inicialmente uma explosão de choro para captar
a atenção e forjar uma resposta favorável. Logo, esta irá se extinguindo pouco a
pouco. É imprescindível ter fortaleza para não ceder.
Por exemplo: Em um caso de conduta inapropriada, que é reforçada
positivamente, cada vez que o filho de cinco anos começa a chorar e sua mãe
lhe dá uma guloseima para consolá-lo, o estará reforçando positivamente e a
conduta de chorar a cada momento (quando isto ocorre sem razões justificadas)
continuará.
Em um caso de conduta inapropriada, que é reforçada negativamente,
se obrigamos uma criança que tem medo da escuridão a dormir com todas as
luzes apagadas, o medo à escuridão se manterá.
No primeiro caso, o hábito de chorar injustificadamente deve ser
desmotivado, ou seja, deve evitar-se reforça-lo com alguma forma inapropriada
de consolo como uma guloseima ou os braços da mãe, que incentivará a criança
a querer o consolo repetindo seu choro. Ante a não-resposta haverá inicialmente
um aumento do choro para captar mais a atenção, para a seguir ir-se extinguindo
pouco a pouco.
No segundo caso, há que buscar um método que realmente ajude a
criança a perder seu medo à escuridão, como deixar aceso um abajur de luz
fraca durante algum tempo e ir observando sua reação gradual até perceber que
perdeu o medo.

TÉCNICA DO TEMPO AFASTADO


Consiste em coibir o comportamento indesejado da criança, tirando-a do
ambiente que estimula o seu mau comportamento.
Exemplo:
Um garotinho atira bolinhas de miolo de pão durante a refeição e os seus
irmãos divertem-se com isso. A mãe ordena-lhe que pare, mas, estimulado pelos
irmãos continua com a “proeza”. O mais eficaz é tirá-lo da mesa e levá-lo para
comer sozinho em outro lugar, onde deixará de ser motivo de caos familiar e
ninguém aplaudirá o seu mau comportamento.
RECONHECIMENTO DAS BOAS CONDUTAS
Não é raro que os pais deixem de perceber a importância do elogio ou
de outras formas de alento quando as crianças se comportam adequadamente.
É preciso ter em conta que o bom estado emocional das crianças requer que
elas tenham confiança em si mesmas. Para isso, o reconhecimento dos pais tem
um papel essencial.
Não aceite as melhoras de comportamento como algo natural e
esperado, e que, portanto, não requereria um reconhecimento especial. Pelo
contrário, demonstrar apreço e alegria diante do comportamento adequado
(reforçador) comunicará à criança tanto o carinho como o senso de justiça do
pai.
O seu filho precisa da sua atenção. Se não a obtiver portando-se de
forma desejável e positiva, buscá-la-á portando-se de forma indesejável e
negativa. As palavras de ânimo, pronunciadas da maneira certa e no momento
certo, demonstram a criança a atenção e a preocupação dos pais e ajudam-na
a manter-se no bom caminho.
O elogio
Os elogios podem ser utilizados para ensinar aos filhos condutas
apropriadas. Não deve ser impensado, mas medido de acordo com o nível de
reforço que se queira dar. Não elogie desmedidamente uma melhora pequena,
mas também não economize quando a criança tiver dado um passo importante
na melhora de sua conduta.
A sua utilidade pode ser comprovada quando se diz ao filho (desde que
ele mereça) coisas como:
“Muito bem, você arrumou todas as suas coisas sozinho”.
“Você está de parabéns hoje porque fez bem a sua lição”.
Diga-lhes especificamente o que é que lhe agrada no que eles fizeram
ou estão fazendo. Ao elogiá-los, caminhe para eles ou esteja perto deles,
olhando-os nos olhos.
Evite sempre qualquer ressalva de sarcasmo e de comentário negativo,
como por exemplo:
“Que bom que você limpou o seu quarto hoje! Já era hora...”
Esse tipo de comentário é, na verdade, uma forma encoberta de
hostilidade.
Além de elogiar a criança, você pode elogiá-la, na frente de outro adulto,
que também parabeniza a criança. É uma maneira de reforçar o elogio.

RESPALDAR AS PALAVRAS COM ATOS

Quando a comunicação assertiva não dá o resultado esperado, chegou


o momento de respaldar as palavras com atos.
Antes de tomar medidas de caráter disciplinar, certifique-se que a
mensagem que foi desobedecida estava correta (tenha certeza de que aquilo
que exigem dos filhos é o melhor para eles).
Se prever que as suas ordens, mesmo comunicadas assertivamente,
vão ser ignoradas, programe com antecedência as medidas que tomará para
reforçar suas palavras (não improvise).
É importante que os pais reservem algum tempo para trocar ideias sobre
o modo de ser e os problemas de comportamento dos filhos, além de medidas
que tomarão para prevenir os problemas. Quanto mais preparados estiverem,
mais segurança e firmeza terão.

Ações corretivas
As medidas corretivas devem consistir em privar as crianças de algo de
que gostam ou em obrigá-las a fazer algo que as contraria, mas nunca podem
causar-lhes danos físicos, nem psicológicos.
Você deve decidir-se entre isolamento, retirada de privilégios ou
condicionar condutas agradáveis, por exemplo:
- se vai mandar a criança para o quarto por um determinado período de
tempo;
- se não lhe permitirá que saia no fim de semana;
- se não o deixará jogar futebol ou brincar com as bonecas;
- só poderá brincar de carrinho, depois de arrumar o seu quarto.

Proporcionalidade das ações corretivas


Deve haver uma proporção lógica entre as condutas inapropriadas e as
medidas corretivas. Exemplo:
Conduta-problema
Seu filho de seis anos molha o banheiro todo ao tomar banho.
Consequência lógica:
Fazer com que seque o banheiro.

É muito conveniente caracterizar as medidas disciplinares como uma


escolha da criança, dando-lhe a opção de parar com a sua conduta inapropriada
ou de enfrentar o castigo que essa conduta acarreta. Assim ela aprende a olhar
para as consequências dos seus atos e assumir a responsabilidade pelas suas
decisões.
Nunca cancele uma medida corretiva
Se determinada medida não funcionar, troque-a por outra, mas nunca
anule uma ação disciplinar. Se o fizer, o seu filho nunca chegará a acreditar que
você fala a sério. A constância é essencial para demonstrar à criança que você
respalda as palavras com ações em todos os casos em que se faz necessário.
Perdoar e esquecer
É preciso aprender a virar à página e a não ser inoportuno. Uma vez que
o filho tenha cumprido o castigo estabelecido, o assunto está encerrado. Assim
aprenderá que na vida estamos sempre começando e recomeçando.
Quando os filhos os põem à prova.
É frequente que os filhos ponham à prova a decisão corretiva dos pais,
desafiando-os ou vendo até onde chegam. Isso é normal. Ter pulso firme nessas
situações e resolvê-las satisfatoriamente ajudará os filhos a serem pessoas
livres e responsáveis no dia de amanhã.
Os pais que cedem quando são postos à prova pelos filhos ensinam-lhe
a seguinte lição não-assertiva:
Se você chorar ou reclamar o suficiente, conseguirá o que quiser.
Significa deixá-los à mercê de seus impulsos temperamentais, sem
permitir que vejam que uma personalidade sólida se constrói por meio da luta
por adquirir virtudes.
E daí...?
Você diz-lhes como devem comportar-se e qual será o castigo caso não
obedeçam. Elas, ao invés de irritar-se, chorar ou discutir, respondem
simplesmente: “E daí...?”
Os filhos percebem que os adultos se descontrolam facilmente e que
essa resposta sempre os deixa sem argumentos.
Nestes casos, afirme que a escolha é dela, já que não se importa, terá
mesmo aquela consequência.
Por isso é muito importante nunca dizer que terá um castigo que não
poderá aplicar depois. E nunca prometa um castigo sem aplicá-lo depois, a não
ser que flagrantemente injusto.
Exemplo:
Uma mãe foi buscar o filho no clube e ele demorou a entrar no carro. Ela
gritou-lhe: “Pedro, se você não vier logo, vai a pé para casa”. O filho lhe
respondeu desafiadoramente: “E daí...?”
A mãe ficou sem argumentos, porque não podia infligir lhe o castigo de
ir a pé para casa (a distância era muito grande). Isso enfraquece a autoridade
dos pais e não deve ser feito.

Reforçar positivamente
Para algumas crianças, especialmente as muito pequenas, o elogio
apenas, pode não ser suficiente para motivá-las a melhorar de comportamento.
Com elas é recomendável trocar os elogios por algo mais tangível, como
privilégios ou prêmios especiais. Exemplo:
Filho (sem receber nenhuma ordem, põe o pijama, dobra a roupa e
escova os dentes): “Pai, já estou pronto para ir dormir”.
Pai: Jorge, gostei muito de fazer tudo sem que eu tivesse que dizê-lo. O
que você acha de eu ler uma história?”.
Muitos pais negam-se a premiar os filhos de outra forma que não seja o
elogio, pelo receio de criar maus hábitos, como o de só se comportarem bem
para receber uma recompensa tangível.
Isto não acontecerá, porém, se, ao recorrer aos prêmios, o pai deixa
claro que é ele quem exerce a autoridade e toma as decisões.

Reforçar à curto prazo


É muito importante que o elogio, privilégio ou prêmio, sempre que seja
possível, sucedam imediatamente ao bom comportamento. Não é produtivo, por
exemplo, oferecer a um garoto de sete anos um brinquedo para o Natal, sendo
que ainda faltam vários meses até lá.
O reforço positivo deve ocorrer continuamente, durante vários dias ou
até mais tempo. Quanto mais positivo você for com os seus filhos, menos terá
de traçar-lhes limites.

Dois obstáculos a superar


Quando os dois pais trabalham fora, pode faltar-lhes tempo para refletir
em conjunto sobre a conduta dos filhos. Nesse caso, o seu cansaço
normalmente presta-lhes um enorme desserviço. É importante evitar, antes de
mais nada, a dissensão entre os cônjuges, que prejudica sua função de
educadores.
Outro obstáculo a superar é que muitas vezes os pais que dispõem de
pouco tempo para estar com os filhos pensam erroneamente que, se durante
esses escassos momentos em que estão com eles se dedicarem a corrigi-los,
acabarão por perder o afeto das crianças. Não é verdade. As crianças precisam
ser corrigidas nas condutas inapropriadas e estimuladas nos bons hábitos,
especialmente por aqueles que mais os amam e que são seus principais
educadores.

ESTABELECER AS REGRAS DO JOGO


Estabelecer as regras é um passo importante porque lança os filhos para
o futuro, para a conduta que deverão seguir quando forem adultos, e porque é
uma pelas consequências dos seus atos.
Você estará plantando neles a semente da responsabilidade pessoal,
intransferível, pelos seus atos.
Diretrizes para uma reunião de definições das regras do jogo:
- o pai e a mãe devem chamar o filho quando estiverem tranquilos (não
depois de uma briga ou quando um dos dois estiver tenso);
- só devem participar da reunião um ou ambos os pais e a criança cuja
conduta precisa melhorar;
- estabeleça o que ocorrerá se o filho cumprir as exigências;
- mostre claramente que o que acontecerá depende unicamente das
escolhas do seu filho;
- explique como você acompanhará essas instruções, mesmo quando
estiver ausente;
- coloque seu plano escrito de regras onde todos vejam (porta da
geladeira ou quarto da criança, por exemplo);
- escreva no plano o nome da criança, o comportamento que se exige
dela e o que acontecerá se ela não obedecer;
- certifique-se de que não haverá distrações enquanto estiver
conversando com a criança (desligue a televisão e o telefone);
- é muito importante que os pais atuem juntos e devem pôr-se de acordo
sobre o que exigirão dos filhos (nunca devem expressar opinião contrária à do
cônjuge diante dos filhos);
- estabeleça limites firmes e depois reforce com apoio positivo.

SITUAÇÕES ATÍPICAS
A aplicação da Educação com Personalidade, embora em si mesmo
muito útil e eficiente, nem sempre terá êxito.
A experiência demonstra a eficácia deste método quando aplicado com
ordem, firmeza e coerência. No entanto, é ineficaz nos casos em que a criança
sofre de alguma patologia.
Existem diversas patologias em que as técnicas descritas não dão
resultados: Transtorno Atencional com Hipercinésia, Depressão e Transtornos
de Ansiedade (angústia de separação e transtorno por ansiedade excessiva).
Sempre que houver suspeita de alguma patologia, será preciso
encaminhar a criança a um especialista.

FILHOS RESPONSÁVEIS
Há duas palavras-chaves para os pais na educação dos filhos:
compreensão e firmeza.
É necessário entender que a desobediência, a irritação e a rebeldia
fazem parte da personalidade infantil em formação. Corrigi-la é responsabilidade
dos pais.
O ingrediente básico para toda a utilidade do plano educativo é a firmeza
em sua aplicação.
Um pai fracassa na sua missão educativa quando cede, por pena ou
cansaço, ao ver que o filho não se comporta nem reage da forma esperada.
Bem aplicada, a Educação com Personalidade transmite aos filhos a
mensagem que os pais se preocupam com o seu bem-estar atual e futuro e com
tudo o que fazem; mesmo que as crianças não gostem de determinada medida,
sabem que é para o seu bem.
Isso ajuda os filhos mais novos a desenvolver o controle das emoções e
a aplicar cada vez mais a razão aos seus atos. A criança orientada por este
caminho dirige-se para uma adolescência equilibrada e uma maioridade madura.
A Educação com Personalidade ajuda os pais nessa tarefa difícil, mas
essencial, de encaminhar a criança para uma vida reta. Mas as medidas que
vimos não passam de um instrumento. A sua utilidade, como a de todo o
instrumento, depende da sua utilização correta e adequada. A responsabilidade
principal recai sobre os próprios pais.
O seu esforço responsável por educar os filhos com carinho, constância
e firmeza, dia após dia, é o que produzirá filhos amadurecidos e os ajudará a ser
felizes.

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