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Sexualidade Infantil – O Curso


Tira Dúvidas - Primeira Aula
Aluno(a): Como, na prática, ensinar as virtudes para os filhos desde
pequenos? Há exercício para isso? Livro? Como vamos adquirindo as virtudes a
ponto de chegar à adolescência com esses conceitos enraizados?
Na primeira aula, falei que, para termos uma sexualidade bem formada,
precisamos de duas coisas: educar as virtudes dos nossos filhos e educar a
afetividade. Acabei falando mais sobre a educação da afetividade e hoje,
portanto, gostaria de falar um pouco mais sobre a educação das virtudes.
Como educar os filhos nas virtudes desde quando eles são ainda
pequeninhos?
A educação das virtudes não é só uma intervenção pontual que se
restringe aos momentos em que o filho tem problemas com a sexualidade. A
educação das virtudes deve ser uma construção de recursos para que as
crianças consigam lidar com o assunto quando chegarem aos primeiros
impulsos sexuais, à puberdade e à adolescência.
Enfatizei, na primeira aula, a educação de duas virtudes: da fortaleza e da
temperança. A primeira tem dois braços: a capacidade de resistir às coisas e a
capacidade de empreender coisas (ou seja, de realizar tarefas difíceis). É
possível educar os filhos na fortaleza desde quando são eles pequeninhos –
mas, obviamente, enquanto ainda são pequenos, não estarão sendo formados
na virtude em si, porque a virtude exige uma vontade própria de quem a cultiva.
Ainda assim, nós, enquanto pais, estaremos ajudando-os para que eles
adquiriam hábitos que facilitem a vivência da virtude posteriormente.
Quando os filhos são pequenos, os pais funcionam como vontade auxiliar
à vontade dos filhos. A vontade é a faculdade humana que fica entre o que se
quer fazer e o que se faz realmente. Entre o querer e o fazer há um certo gap
em que a vontade trabalha. Quando os filhos são pequenos, a faculdade humana
chamada vontade quase não está funcionando neles. É apenas lá pelos sete
anos de idade, a idade da razão, que ela começa a aparecer realmente. Antes
disso, a vontade é ainda muito débil – daí que seja um pouco absurdo exigir dos
filhos decisões que demandem a própria vontade deles ou discernimento do
certo e do errado. A vontade da criança só se abre à medida que a criança
amadurece.
Para de fato haver uma pessoa virtuosa, é preciso que a faculdade humana
Vontade esteja funcionando. Enquanto não estiver, os pais serão virtude auxiliar
aos filhos. Isso significa que os pais estarão ajudando a que eles se decidam a
fazer o que devem fazer, auxiliando também com a educação da afetividade,
para que a decisão dos filhos não seja apenas uma decisão da razão, mas

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também dos afetos. Veremos, com alguns exemplos práticos, como fazemos
isso. Para que os filhos comecem a crescer, é preciso fazer como com aquelas
plantinhas que precisam de uma estaca para crescer para cima, enquanto as
raízes vão se aprofundando na terra. À medida que essas raízes vão se
aprofundando, ou seja, à medida que a faculdade humana vontade começa
realmente a funcionar e a aparecer, vai sendo possível retirar a estaca para que
ela continue crescendo sozinha para cima. Enquanto as raízes não estão
suficientemente profundas, os pais precisam auxiliar os filhos a tomarem as
melhores decisões. Aqui entram os hábitos que ajudam os filhos na vivência da
virtude da fortaleza.
Há uma enorme lista de hábitos que ajudam nesse sentido – certamente,
esses hábitos entrelaçam-se com os hábitos que auxiliam a vivência da
temperança (posteriormente transformados na virtude da temperança).
Uma criancinha comer de tudo (veja, não estou dizendo para ela comer
tudo o que há no prato necessariamente, mas comer de tudo um pouco), comer
legumes verde, legumes amarelos, legumes laranjas, leguminosos, verduras,
vários tipos de carne, enfim, comer de tudo, ajuda-a no desenvolvimento da
fortaleza mais à frente, por não criar nela o hábito de comer apenas o que está
de acordo com o apetite sensível imediato. Isso a ajudará a se vencer em algo
que não é para ela tão gostoso no momento. Ou seja, à medida que ela vai
crescendo, os pais podem ajudar a que ela se decida a comer mais as coisas de
que gosta menos, e a comer menos as coisas de que gosta mais. Isso é uma
coisa, aliás, que podemos fazer conosco mesmo.
Então, como é que conseguimos crescer na virtude da fortaleza? Um
exemplo é esse de que falei, de não sairmos das refeições sem ter exercitado a
fortaleza minimamente – ou seja, sair sem ter comido algo de que não
gostamos; sem ter posto um pouco a mais daquilo de que não gostamos, ou ter
posto um pouco a menos daquilo de que gostamos. Fazer isso é negar a
recompensa direta do apetite sensível.
Além disso, uma coisa boa é, num almoço em família, em que todo mundo
sai comendo de tudo e pegando os melhores pedaços, ao ser posta a mesa,
estimular nos nossos filhos a deixar todo mundo se servir primeiro, estimulá-
los a ficar com o pior pedaço, etc. Ou, então, quando o pai não está em casa, por
exemplo, uma coisa muito boa a se fazer é ensiná-los a guardar a sobremesa
para o papai, para que, quando ele chegue, possa comer dela também. Isso
acontece com muita freqüência na minha casa, de modo que os meninos já se
acostumaram a pensar nos irmãos; isso já se transformou num exercício de
fato para eles.
Uma outra boa coisa é ter estabelecidos horários fixos de comer, de
dormir, de higienizar-se; ter estabelecida uma ordem temporal, no sentido de
que uma coisa vem depois da outra; ter estabelecida uma ordem organizacional,
no sentido de que as coisas da casa devem ser guardadas cada qual no seu

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lugar; ter como hábito de sempre terminar uma atividade começada antes de
dar início a uma nova – muitas vezes, as crianças fazem isso: brincam, brincam,
brincam um pouquinho e, logo em seguida, já não querem mais essa brincadeira
e partem para uma outra coisa, deixando as coisas da primeira brincadeira
desorganizadas.
Na parte do estudo, por exemplo, muitas vezes, falamos o seguinte:
“Fulaninho, vai lá estudar no seu quarto. Você só sairá de lá quando acabar de
fazer o seu dever de casa”. É então que a criança fica lá por uma hora, duas
horas, três horas e nada, obviamente não fazendo o dever de casa, mas criando
o hábito da enrolação, de fazer as coisas malfeitas. Isso vai contra o hábito da
fortaleza. Se a criança tem um dever de casa para fazer, sentamos com ela,
fazemos o exercício, colocando nisso o máximo de empenho possível e, depois,
quando acabar o nosso tempo, paramos de fazê-lo.
São coisas muito pequenas, das quais não temos a noção, muitas vezes,
do quanto transcendem na educação dos nossos filhos. Olhamos para a
educação dos filhos (pequenos, sobretudo) com um olhar muito obtuso, não
vendo o quanto traria de benefício na formação do caráter deles um cuidado
maior com essas pequenas coisas. Como disse na aula de ontem, não temos o
caráter de modo inato, de nascença; adquirimos o caráter em conformidade com
a repetição de atitudes que tomamos ao longo da vida. Logo, ao estimularmos
os filhos a terem a virtude da fortaleza, eles formarão um caráter em
conformidade com a fortaleza. Podemos, inclusive, deixar isso claro para eles.
Em vez de falarmos “Coma tudo para ficar fortinho (fisicamente)”, podemos falar
– e eu falo isso com muita freqüência na minha casa – “comam tudo para que
fiquem fortes na cabeça. Quando nos vencemos ao comer algo que não
queremos tanto, a nossa cabeça fica forte”. E quando eles conseguem fazer, eu
lhes digo: “Agora, você está um menino muito mais forte do que antes; agora,
você é um homem mais forte”.
Outro bom exemplo é o hábito da execução perfeita. Nos momentos em
que as crianças estão, por exemplo, estudando ou lavando louça ou arrumando
a cama, é bom exigir-lhes que desde o princípio façam da melhor maneira
possível, para que não seja necessário retornar à mesma atividade para refazê-
la, por não tê-la feito adequadamente na primeira vez.
A própria caligrafia ajuda no desenvolvimento da virtude da fortaleza.
Quando os nossos filhos estão fazendo caligrafia e lhe dizemos que vamos
fazer, todos os dias, dez minutos de exercício, com a letra, já de início, a mais
bonita possível e usando o mínimo possível de borracha, estamos estimulando-
os a fazer as coisas bem-feito. Ao acabarem de fazer essas atividades, eles se
alegram bastante, não como quem recebeu uma recompensa direta, mas como
quem sabe ter posto um esforço considerável para fazer o que fez e do qual
veio uma recompensa real, que ninguém pode tirar deles.

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Imagino que vocês consigam fazer o link disto com a sexualidade. Temos
impulsos sexuais muito fortes, muitas vezes; mas não podemos exercitar o
prazer sexual a todo momento. No exemplo de um casal, cuja mulher esteja
grávida ou no puerpério, o homem tem de conseguir viver a continência. Se a
nossa sexualidade está desligada de outras virtudes de que precisamos,
atrapalhamos a vivência saudável da sexualidade. Somos corpo e alma; todas
as nossas virtudes e faculdades humanas devem estar ligadas entre si – daí que
é tão importante que as crianças tenham uma vivência emocional forte, que as
faça viver a sexualidade muito bem vivida. Veremos, adiante, que uma
sexualidade mal vivida vem de desequilíbrios emocionais e de tantas outras
coisas que nem mesmo imaginamos que tenham relação com ela.
Outra maneira de fazer as crianças viverem a virtude da fortaleza, que virá
a ajudar na vivência da sexualidade posteriormente, é fazer as coisas que
devem ser feitas na hora em que devem ser feitas. Geralmente, falamos aos
nossos filhos: “Fulaninho, vá lá lavar a louça” ou “Vá lá tomar banho” sem nem
prestarmos atenção se eles foram executar o que lhes ordenamos – e isso é
bastante ruim, porque a virtude da fortaleza é a capacidade de empreender e
fazer tarefas difíceis. “Samia, tomar banho não é uma tarefa difícil”. Sim; a tarefa
difícil, nesse caso, é deixar de brincar para tomar banho – isso é difícil; crianças
não gostam de fazê-lo; querem continuar a brincar. Daí a importância de
criarmos para elas o hábito, desde pequeninhas, de saber parar de brincar para
fazer algo de que elas não gostem tanto.
Uma outra coisa ainda que pode ser mencionada é o assumir os próprios
erros. Em geral, não ensinamos os nossos filhos a fazerem isso. Assumir os
erros, identificar que se errou, é uma maneira de viver a virtude da fortaleza.
Outra, ainda, é estimular que não desistam no primeiro obstáculo. Muitas
crianças têm dificuldade em se estabelecer numa atividade extracurricular: ora
fazem natação, ora judô, ora jiu-jitsu, ora ginástica olímpica etc. “Samia, mas as
pessoas precisam se encontrar no que estão fazendo”. Obviamente, temos de
levar essas coisas com sabedoria. Foi o que falei no início da primeira aula: não
estou aqui para falar para vocês o que devem necessariamente fazer com os
seus filhos, mas para que criem critérios a fim de que, no caso concreto, tenham
bom senso em definir as coisas – no caso de que estou falando, por exemplo,
chegar à conclusão de que é possível mudar de atividade física do filho ou de
que ele está fugindo de uma dificuldade ao querer trocar de atividade. Essa é a
balança que devemos ter.
Não afastar os nossos filhos de qualquer tipo de sofrimento é também uma
atitude muito boa a se tomar. Muitas vezes, afastamentos eles de qualquer tipo
de sofrimento; e isso, com o tempo, faz-nos ter dificuldades em colocar os filhos
para comerem na hora certa, de maneira certa, comendo tudo o que têm de
comer. Pelo medo de que sofram ou adquiram traumas, por fazer coisas de que
não gostam, costumamos colocar televisão, youtube, uma série de coisas. Isso
é uma grande coisa que está na boca do povo: “Isso vai criar traumas; ele vai

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ficar traumatizado se eu falar qualquer coisa; deixa ele indo e fazendo”.
Criaremos, assim, pessoas muito moles e tíbias, pessoas mornas e incapazes
de enfrentar as grandes coisas, incapazes de resistir às desavenças – quando
alguém nos diz que estamos errados, por exemplo, precisamos da fortaleza
para resistir e não desabar. Imaginem se passamos a infância inteira com
alguém que nunca nos disse que estávamos fazendo uma coisa errada. Ao
chegarmos à adolescência, e nos dizerem que estamos agindo de maneira
errada, certamente desabaremos; não teremos recursos interiores para lidar
com a situação.
Escuto freqüentemente pais reclamarem que “o nosso filho é adolescente
e acha que a nossa casa é uma pensão”, sem pensar que eles mesmo fizeram
da casa uma pensão. Ora, a criança não faz idéia de como a roupa vai parar
limpa no armário, não sabe como é limpa a roupa, não sabe como a comida é
feita, vai para colégio e, ao voltar para casa, encontra tudo simplesmente
arrumado e limpo e maravilhoso; enfim, não tem a mínima noção de como as
coisas em casa acontecem. Isso é educar os filhos para que vejam a casa como
uma pensão. Contratamos babá, empregada e uma série de coisas para que eles
não tenham o trabalho de fazer nada. Depois, reclamamos que não fazem nada
para ajudar. No fundo, atrapalhamos a educação dos nossos filhos.
Evitar recompensas imediatas. Coisas que trazem recompensas
imediatas: vídeo-game, comer o que gosta, ficar no celular a todo momento,
navegar nas redes sociais, etc. Essas coisas fazem com que os filhos se
transformem em pessoas totalmente ansiosas, que precisam sempre de
recompensas. A conseqüência disso para o futuro é a masturbação e a
pornografia – é uma coisa que simplesmente irá acontecer. Vídeo-game,
telefone, rede social e afins mexem realmente com o cérebro, aumentando os
níveis de dopamina a ponto de a pessoa ficar ansiosa, precisando cada vez mais
de estímulos para que fique bem. Com o tempo, a criança não conseguirá
estudar, por exemplo, ao que a mãe irá reclamar que o filho não consegue
sentar para ler um livro. Nada mais natural: afinal, estamos criando crianças
ansiosas, que a todo momento precisam de alguma atividade, de uma televisão,
etc.
Evitar frivolidades: ter um coração grande, pensar em grandes coisas; ou
seja, oferecer aos nossos filhos grandes exemplos – e o fazemos através dos
grandes livros, de boas leituras e boas conversas. Podemos estimular,
sobretudo as crianças mais velhas, a partir dos doze ou treze ou quatorze anos
de idade, que procurem assuntos que sirvam de debate, como o aborto, por
exemplo. Podemos já perguntar a eles: Por que você é contra o aborto ou a favor
dele?
Devemos ajudá-los a saber encontrar fontes confiáveis que tragam
argumentos favoráveis e contrários a assuntos importantes. Para que os filhos
tenham esse espírito crítico, eles precisam ter sido educados com boas coisas;
precisam saber – como propus na aula anterior – de onde vêm as idéias que

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eles têm. Da mesma maneira que alimentamos o corpo, precisamos povoar a
cabeça dos filhos com boas coisas, a fim de que tenham critérios suficientes
para conseguir olhar uma maçã ou o rei nu e declarar: é uma maçã e o rei está
nu!, sem medo de confessar essas coisas. Temos, muitas vezes, medo de
declarar essas coisas por não termos convicção no que declaramos; e não tendo
essa convicção, não passamos convicção aos nossos filhos.
Não conversamos com os filhos sobre vários temas muito importantes. A
sexualidade é apenas um deles. Então, se temos um canal aberto, um momento
de conversa – conversa em um jantar, conversa em um momento de lazer –, em
que as questões difíceis vão aparecendo, o assunto da sexualidade irá aparecer;
os filhos irão colocar as perguntas a esse respeito; e os pais precisam
responder a essas perguntas; as perguntas não podem ficar sem respostas.
Outra coisa muito importante para que os filhos saiam de si mesmos e
tenham um coração grande é estimulá-los a visitar pessoas doentes, por
exemplo, e a ganhar o próprio dinheiro. Dias atrás, certa amiga minha fez uma
coisa que achei muito legal: permitiu que os próprios filhos, cujo mais velho tem
onze anos e o mais novo oito, fizessem um panfleto no computador e o
colocassem pelo condomínio inteiro, para anunciar aos condôminos os serviços
de passeio com cachorros que os filhos faziam.
Tenho uma outra amiga cujo filho, aos quatorze ou quinze anos, ia para a
minha casa ficar de babá para os meus quatros filhos, à época. Eu saía com meu
marido e deixava os meus filhos aos cuidados dele. Quando retornávamos para
casa, o menino estava lá, com o domínio da situação. Ele nos relatava: Olha, o
Antonio tossiu, enquanto estava deitado, e então fui até ele e pus um travesseiro
um pouco mais alto para o ajudar a aliviar a tosse, porque minha mãe me
ensinou assim; o Augusto acordou, e eu lhe dei uma água; etc. Certa vez, voltei
para casa e o encontrei com o Álvaro no colo, que era o menorzinho à época, na
cadeira de balanço, balançando-o e aninhando-o. O menino tinha apenas
quatorze ou quinze anos! Isso é um adolescente responsável, capaz de pensar
em coisas muito grandes. Hoje, ele tem por volta do seus dezoito ou dezenove
anos, pensa coisas maravilhosas e é um rapaz super responsável.
Temos de estimular isso em nossos filhos. Ficamos muitas vezes com
medo de permitir que adquiram essas responsabilidades e acabamos
atrapalhando o desenvolvimento deles. Geralmente, não deixamos que eles
peguem um ônibus, por exemplo, por medo de que algo lhes aconteça; mas,
quando os filhos já são mais velhos, na adolescência, já é hora de deixarmos
eles saírem da barra da nossa saia a fim de que se deparam com as dificuldades
do dia a dia – mas não simplesmente deixá-los e pronto: precisamos deixá-los
mais soltos e, de quando em quando, ter com eles os momentos de conversa de
que falei. Nesses momentos de conversa, o assunto da sexualidade certamente
irá aparecer.

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A temperança é a virtude que nos ajuda a dominar os instintos. Certa vez,
vi uma organização, uma disposição simbólica que achei muito interessante:
Deus colocou-nos em pé, de maneira a deixar a cabeça acima do coração e
ambos acima do ventre e do sexo. É uma maneira de pensarmos as coisas; as
coisas precisam estar assim ordenadas. O coração, o ventre e o sexo podem
estar ordenados afetivamente para que ajudem a razão a funcionar muito bem.
Assim, a razão também irá ajudar o coração, a barriga e o sexo a funcionarem
bem.
A virtude da temperança pode agir mal quando usamos o que existe para
o bem como instrumento para o mal. A temperança diz respeito à comida, à
bebida, ao descanso e ao sexo. Ou seja, perdemos a saúde física e psíquica por
mau uso da comida, da bebida, do excesso de descanso, do sexo; enfim, por não
viver a temperança e transformar em tirania o que existe para o bem. A comida,
a bebida, o descanso e o sexo são coisas muito boas; mas, quando confundimos
o uso da liberdade com o “fazer o que bem entendo”, “fazer o que me dá na
veneta”, de maneira a deixar-nos escravizar por essas coisas – comendo em
excesso, a ponto de não conseguir deixar de comer e fazer dieta –, estamos
fazendo mau uso da liberdade e não estamos sendo temperados.
A liberdade nada mais é do que conseguir escolher as coisas que nos
fazem bem, não as que nos fazem mal. Ao escolhermos o que nos faz mal,
deixamos naturalmente de ser livres. Isso fica muito claro quando vemos uma
pessoa viciada em drogas, por exemplo. Era livre no momento em que decidiu
usar a droga, mas, depois de ter se viciado nela, não conseguiu e não consegue
mais deixar de usá-la e, portanto, já não é mais livre, quase não tendo a escolha
de deixar de usá-la, por estar totalmente chafurdada no vício.
Por fim, concluindo a resposta, transformar os meios em fins: não viver
para comer, mas comer para viver, por exemplo; ou, então, não transar sem
amor e regras e responsabilidades (coisas alimentadas pelo uso da pornografia,
da masturbação etc.), mas o contrário, dentro do contexto adequado.
Todas as coisas de que falei a respeito da virtude da fortaleza ajudam as
crianças a terem uma vida temperada. Um hábito que adotei com os meus filhos
é, à noite, no jantar, não tomarmos senão água. Esse é um modo de viver a
temperança. Os meus filhos podem, então, tomar um suco e comer uma
sobremesa após o almoço, mas no jantar nunca temos sobremesa e bebemos
somente água. É uma maneira de vivermos um pouco a austeridade. Graças a
Deus, vivemos num tempo em que as pessoas têm o essencial de comida –
mesmo as pessoas pobres. São raras as pessoas que têm dificuldade com o
básico de comida. A maioria tem comida. Então, mesmo as pessoas que têm o
básico da alimentação precisam viver a austeridade, em certa medida, para que
sejam depois pessoas verdadeiramente virtuosas.
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Aluno(a): Quais livros você indica para ensinarmos sobre virtudes aos
nossos filhos?

Há o livro chamado A Conquista das Virtudes, do Francisco Faus:

É um livro bom mesmo para os adultos. Para quem tem filhos


adolescentes, é também um livro muito bom.

Os livros da minha livraria (quem me acompanha no Instagram já os deve


conhecer), que falam sobre a Ordem, sobre a Preguiça, sobre a Tibieza e sobre
uma série de pontos a respeito da virtude, são também livros muito bons para
sabermos de que tratam essas virtudes. Como falei, muitas vezes, fora dos
livros, criamos critérios próprios, para termos, em seguida, bom senso e
agirmos no caso concreto com os nossos filhos. A partir de então vamos tendo
insights que nos dizem o que fazer. Em educação, não é possível dar respostas
claras a perguntas como “O que eu faço nessa situação?”. Geralmente, o pessoal
tem dúvidas como “O que faço com a birra do meu filho?”. É preciso ter algo de
insight, ter critérios próprios bem formados, para, na hora em que a birra
aparecer, ter todas as coisas na cabeça e conseguir, a partir disso, encontrar
onde foi que deu errado e atuar em cima disso.

Assim também será em relação à sexualidade. Nos momentos em que o


nosso filho faz uma pergunta e nos põe numa saia justa, nos momentos em que
ficamos em dúvida se tomamos ou não banho com os nossos filhos, devemos
ter na cabeça todas as coisas de que estamos falando, para nós mesmos, no
caso concreto, tomarmos a decisão adequada.

Como falei anteriormente, vocês são pais e responsáveis pela educação


dos filhos de vocês – não eu. Estou aqui para ajudá-los a formar os critérios
adequados para que vocês decidam sobres os filhos. Cada realidade familiar é

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diferente. A realidade familiar de vocês é diferente da realidade da minha. É
necessário, portanto, que seja como eu disse.

Outro livro que recomendo é O Livro das Virtudes, do William J. Bennet:

Esse livro tem vários contos e histórias, divididos por virtudes: lealdade,
liderança, etc. Inclusive, o texto sobre a roupa nova do rei tirei do volume I do
Livro das Virtudes.

Outros livros importantes são os de fábulas. O livro Minhas Fábulas de


Esopo, dos autores Michael Morpurgo e Emma Chichester Clark, é um livro para
crianças bem pequeninhas:

Ele tem umas ilustrações bem legais. Das fábulas, conseguimos tirar
muitas coisas boas.

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Outros livros bons para esse fim são os de ditados populares. As crianças
não entendem muito os ditados populares; elas os entendem sempre de forma
literal e concreta, nunca de forma abstrata. Isso é interessante porque
conseguimos, a partir desses ditados, ir conversando sobre coisas abstratas.
Quando conseguimos juntar isso a algumas histórias, as crianças vão falando
em ditados populares ao longo dos dias e das semanas, de maneira que, aos
poucos, vão aprendendo a pôr os ditados populares no lugar certo. Acho isso
curioso porque os ditados vão se fixando na cabeça deles quase como mantra.
“Farinha pouca, meu pirão primeiro” e coisas assim. A partir delas, vamos
explicando para as crianças o significado delas. No caso desse que mencionei,
explico: “Olha, filho, esse é um ditado popular muito egoísta, contra o que
sempre conversamos: não pegar logo tudo para si e partilhar com os demais”
etc., etc.

O livro “O Livro dos Santos e dos Heróis”, dos autores Andrew Lang e
Leonora Lang, é também um livro muito bom:

Acho-o um livro muito bom sobretudo para meninos, embora o seja


também para meninas. É um livro que vai na linha do que falei na primeira aula
sobre ter um coração grande. Ter um coração grande ajudará os filhos a viver
a sexualidade bem vivida. A vivência da sexualidade exige esse coração. Do
contrário, as pessoas acabam vivendo a sexualidade para si – e a vivência da
sexualidade deve ser para o outro. A sexualidade é uma coisa que obviamente
traz um prazer para a própria pessoa, mas é necessário que ela seja um doar-
se para o outro, porque, do contrário, acaba-se fazendo do outro um objeto – e
isso é muito ruim. Daí vem as tantas perversões que hoje em dia vemos sobre
sexualidade.

Há também alguns livros de história que são importantes, como o do Peter


Pan, do J.M. Barrie:

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Este é um livro em que fica muito clara a vivência do egoísmo; o Peter Pan
é bastante egoísta, a ponto de esquecer das coisas que não dizem respeito a
ele. Realmente, quando somos egoístas ou estamos em momento de egoísmo,
esquecemos fatos, esquecemos pessoas, esquecemos coisas etc., porque
estamos totalmente voltados para nós mesmos.

Outro livro ainda é o do Pinóquio, mas a versão original. Ele ajuda muito a
conversarmos com os filhos sobre as tentações e a mentira e as suas más
consequências. Os meus filhos, quando ouviam a história, comentavam: “Não,
Pinóquio; não faça isso não!”. A história deixa muito claro que o Pinóquio está
caindo numa tentação. É emocionante como um filme, a história.

Há um outro livro chamado A Teia de Charlotte, da autora E.B White:

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Na primeira aula falei sobre a vivência da afetividade, sobre ajudar os
filhos a modular a irritação, a mentira, a tentação, o egoísmo. A Teia de Charlotte
ajuda muito na questão do altruísmo e da vivência da morte. Os livros em geral
ajudam as crianças a viver imaginativamente essas realidades, para que, em
seguida, tenham recursos interiores para vivenciar as situações na vida real.

Há uma autora chamada Condessa de Ségur, cujos os livros são bem legais
e falam sobre virtudes.

Uma outra coisa bem legal, com estereótipos humanos, a partir da qual
conseguimos conversar bastante sobre virtudes, são os mitos gregos. O livro
Mitos Gregos, edição ilustrada do autor Nathaniel Hawthorne, é bem
interessante:

Para crianças a partir de uns sete ou oito anos já é adequado. Através dos
mitos, conseguimos conversar bastante com os nossos filhos sobre
circunstâncias da vida.
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Aluno(a): Como transmitir o gosto estético de forma que não atrapalhe ou
confunda a criança, quando não temos segurança em passá-lo por falta de
formação? Como ser efetiva nesse objetivo?
Falei, na primeira aula, em como o gosto estético ajuda os filhos a
rechaçarem coisas que lhes atrapalham a vivência de várias virtudes. Por
exemplo, expor os filhos a boas leituras, bons filmes, boas ilustrações, boas
conversas, etc., tende a fazê-los rechaçar as coisas que não são tão boas assim.
Muitas pessoas perguntam: “Há problema em meu filho ficar sem roupa em
casa?”. Eu sou das que levantam a bandeira de que isso também vai contra um
certo gosto estético. Se criamos o hábito de estar adequadamente vestidos,
mesmo quando em casa, a própria criança irá estranhar quando deparar-se

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com shorts muito curtos, barrigas de fora, degote muito grande etc., etc. Isso
pode inclusive contribuir a prevenir a violência sexual, porque a criança irá se
sentir de fato invadida, se se deparar com essas situações. Por outro lado, se
lidamos com essas coisas de forma muito relaxada, o contraste de situações
será muito menor.
A questão do gosto estético é muito importante. “Como fazermos isso se
não temos formação”. O caminho é procurar formar-se juntamente com os
filhos – que é o que eu faço, aliás. Não sei muitas coisas sobre os mitos gregos,
por exemplo; leio-os juntamente com os meus filhos e vou atrás de explicações
sobre os mitos. Vou formando meu senso estético junto com meus filhos. Nas
vezes em que exponho meus filhos a bons pintores, a boas músicas, tento me
formar ao mesmo tempo para que a coisa aconteça.
Meus filhos fazem hoje aulas de inglês, em que aprendem hinos muito
bonitos, abundantes nos EUA. Eles cantam esses hinos pela casa toda. Isso vai
fomentando um senso estético no ambiente, de maneira que nós mesmos
acabarmos formando um senso estético próprio – uma vez que em regra o
nosso senso estético é deformado, por não termos tido uma formação adequada
na infância e adolescência.
.
Aluno(a): Sobre a estabilidade emocional do casal como pilar da confiança
e segurança dos filhos: Como isso pode acontecer no caso de pais separados
que não se entendem?
Acho muito importante falarmos sobre isso. Falei, na primeira aula, que
uma das partes importantes da estabilidade emocional é que o casal esteja bem;
que a criança entenda que ela veio de duas pessoas que se amam e querem o
bem dela. Muitas vezes, no entanto, os casamentos se desfazem, e a criança
continua precisando sentir-se segura e amada, tanto pela mãe quanto pelo pai
– embora não estejam juntos. É claro que o melhor seria que estivessem juntos;
mas, em estando separados, não é consequência inevitável que os filhos não
tenham estabilidade emocional.
O caminho é não falar mal um do outro. Quando o filho está na casa da
mãe, por exemplo, não se deve falar mal do pai e da madrasta. Isso não é
saudável nem quando os pais estão casados. Como eu disse na primeira aula,
não devemos desautorizar o cônjuge na presença dos nossos filhos. É
importante, portanto, que os pais tentem ao máximo conversar sobre a
educação dos, com o objetivo de chegar a um mínimo de alinhamento.
Obviamente, não há um alinhamento total na educação dos filhos nem mesmo
entre casados, porque duas pessoas diferentes não farão exatamente as
mesmas coisas – e nem é desejável que o façam. A pluralidade, a diferença
entre pai e mãe ajuda muito na formação da personalidade das crianças. O que
não pode haver é atrito entre os pais; que não falem mal um do outro; etc. Se o
filho fica muito na casa da mãe, por exemplo, indo para a casa do pai apenas

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nos finais de semana, e a mãe vai formando-o nos critérios adequados, as
lacunas física, emocional e da inteligência vão sendo preenchidas, de maneira a
fazê-lo perceber coisas boas e ruins para ele. Nessa realidade, o diálogo, a
conversa, a presença, os momentos em que a criança consegue se abrir – tanto
com a mãe, quanto com o pai –, são muito importantes. Fazer isso procurando
nunca ficar falando mal um do outro. Ensinar os filhos a salvarem a intenção do
cônjuge é uma coisa muito importante. “Seu pai provavelmente estava cansado”,
“Sei que o seu pai trabalha muito”, etc. Sei que é difícil, que às vezes estamos
chateados com o cônjuge, que às vezes ele não ajuda em nada. Ainda assim,
precisamos ter sabedoria para relevar essas situações. Isso ajudará muito com
a estabilidade emocional dos filhos.
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Aluno(a): Como devo ser forte e gentil de modo a orientar a minha filha de
quatro anos sobre as virtudes? Achava-me fraca, omissa e sem autoridade;
agora, acho-me muito enérgica. Difícil encontrar um meio-termo.
De fato, ficamos oscilando entre o medo de ser autoritário e o medo ser
muito permissivo. Muitas vezes, em caso de pais separados, um deles se
esforça em ser firme e educar corretamente (a mãe, por exemplo), e o outro
aproveita para dar algumas liberdades a mais (o pai, para aproveitar o final de
semana, o único momento em que passa com os filhos). Na verdade, isso
acontece também em uma vida familiar normal: a mãe é aquele carrasco, que
chama os filhos para fazerem dever de casa etc., e o pai é aquele que deixa fazer
tudo, vai comer com eles no McDonald’s etc.
Há então sempre isso de não querermos ser vistos como a pessoa
autoritária e chata, de modo a ficarmos nessa dúvida de estar sendo permissivo
ou autoritário demais.
Como medir se estamos sendo muito autoritários ou muito permissivos?
Medimos isso corretamente ao olharmos mais para os nossos filhos do que para
nós mesmos. Quando a definição de uma rotina, uma regra ou uma orientação
estiver voltada para nós, por estarmos de saco cheio, por não aguentarmos
mais, por querermos nos livrar de tal história, por estarmos cansados, etc., etc.,
provavelmente seremos permissivos ou autoritários demais. Por outro lado,
quando olharmos para o bem da criança, ou seja, quando focarmos em escolher
coisas que sejam boas para o desenvolvimento da autonomia, segurança e bem-
estar emocional da criança, nossos critérios e definições de rotina
provavelmente estarão no caminho certo. Se, por acaso, não estiverem no
caminho certo, teremos a sensibilidade para ver que é necessário mudar – e
não há problema algum nisso. Não deve haver problema algum em mudar o
rumo das coisas se virmos que as coisas não estão no caminho certo.
.

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Aluno(a): Quais orientações são sugeridas para falar com uma criança de
dez anos que assiste a filmes e vídeos com conteúdo sexual? A mãe não permite.
Não me lembro se quem mandou essa pergunta foi o pai, mencionando que
a mãe não permite, mas, enfim, parece-me que a criança assiste a vídeos com
conteúdo sexual e a mãe gostaria que isso não acontecesse.
Existe uma fase que se chama fase de latência, que vai dos cinco anos à
puberdade, em que, para uma criança normal, que vive num ambiente saudável,
não há inclinações sexuais. Ou seja, o foco da vida dessa criança não está em
coisas sexuais. Então, uma criança de dez anos, que não chegou ainda na
puberdade, ser exposta a um conteúdo para o qual ela não tem maturidade para
lidar irá gerar uma confusão que posteriormente os pais não saberão resolver.
Se a criança, por exemplo, estiver assistindo a Senhor dos Anéis e, por acaso,
aparecer uma cena de beijo, pulem a cena; não há problema em pulá-la. “Ah,
mãe, por que você pulou?”, ao que podemos responder: “Porque isso não é bom
que veja, nem que você veja”. Pronto; passe para a próxima.
Muitas vezes, nós mesmos estamos assistindo a um filme e, de repente,
aparece uma cena de sexo, sem cabimento. Ficamos até meio constrangidos por
haver pessoas ao nosso lado assistindo a mesma coisa. Pulem a cena; não há
problema algum. Isso vai cuidar do nosso coração, para que vivamos a
sexualidade de forma bem vivida. Se não, podemos posteriormente acabar
comparando o corpo do ator ou da atriz com o corpo do nosso cônjuge, ou
acabar ficando estimulados num momento em que não deveríamos. Nossa
imaginação ficará a mil, e teremos mais problemas do que soluções.
Aluno(a): Até que ponto a ausência máscula interfere? Para uma mãe
solteira, como assegurar a efetividade da criança (feminino) na infância e
também na adolescência?
A presença do homem e da mulher são importantes para a educação da
afetividade das crianças. Uma criança menina que tenha o pai presente,
cuidadoso e atento irá procurar, em geral, relacionar-se com homens cuidados,
atentos e carinhosos. Isso é uma coisa que de fato acontece. No entanto, não
acho que se, por força das circunstâncias, a menina não tiver uma presença
masculina, ela necessariamente terá problemas com a formação da afetividade
– sobretudo se a mãe conseguir manejar bem a situação. A mãe, por ser
também do sexo feminino, será um espelho para a menina. Essa situação é mais
complicada no caso dos meninos. Se a criança a que se refere a pergunta fosse
um menino, o problema seria um pouco maior, porque o menino precisa se
espelhar num homem. O que normalmente acontece, no entanto, é que uma
figura masculina, seja o avô ou um tio, acaba sendo a referência masculina para
essa criança. A mãe, nesse caso, precisa ter a atenção de manter por perto
referências masculinas que sejam realmente boas para o filho, cujas pessoas
sejam responsáveis e virtuosas.

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No final das contas, isso serve para qualquer criança. Por exemplo, sou
casada com o meu marido e meu marido está sempre presente com os meus
filhos. Ainda assim, é natural que, a partir dos doze anos, tanto os meninos,
quanto as meninas, comecem a olhar para o universo externo, fora do ambiente
familiar; e, nesse universo externo, os filhos irão procurar uma figura masculina
(no caso dos meninos) e uma figura feminina (no caso das meninas) nas quais
se espelhar. É necessário que tenhamos, então, ao nosso redor, pessoas que
vemos como importantes e irão ajudar os nossos filhos a serem pessoas de
caráter e virtuosas. Então, as boas amizades dos pais são muito importantes.
Normalmente, essa referência masculina ou feminina vem dos
professores do colégio, que são os adultos com quem os filhos têm mais
relação, excetuando-se os pais. Por isso, é importante sabermos quais idéias
esses professores cultivam, porque as idéias dos nossos filhos provavelmente
começarão a vir deles.
.
Aluno(a): Sigo expondo meu filho aos melhores conteúdos e ensinamentos.
Na casa do pai, no entanto, ele faz tudo o que não deixo: Youtube, vídeo-game,
dormir tarde, não estudar etc. Como fazer ele seguir os meus exemplos?
É justamente o que falei há pouco: tentar preencher, da melhor maneira
possível, dentro do tempo em que fica com ele, as lacunas de sua educação.
Não sei a idade dessa criança, mas talvez já seja necessário ter uma
conversa com ela, porque, se ela tem muita exposição ao Youtube e vídeo-game,
e principalmente se está dormindo tarde, provavelmente ela já tem algum
contato com coisas sexuais. É interessante sondar o que ele já sabe a respeito
para poder dar as orientações necessárias. Talvez, conversar com o pai e lhe
expor essas situações, ou pedir para ele fazer o curso Sexualidade Infantil, sirva
de alguma coisa. Às vezes, o pai não faz essas coisas por não gostar da criança
ou por estar de treta com a mãe; faz simplesmente por ser um bicho muito
preguiçoso – que os leitores homens que me desculpem. A mulher é quem
geralmente aguenta essas coisas de deixar os filhos sem televisão, colocá-los
para dormir na hora certa, deixá-los sem vídeo-game etc.
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Aluno(a): Como fazer todas essas práticas sem deixar que a criança se
torne muito ingênua? A maioria das mães não pode estar com as crianças a todo
momento, e as crianças acabam entrando em contato com outras pessoas.
Exatamente. Existe a fase de latência, de que falei há pouco, que vai dos
cinco anos ao início da puberdade e dos primeiros caracteres sexuais, que
deveria ser uma fase de inocência da criança. O problema é que os nossos filhos,
através da escola (que tem educação sexual), de filmes, do Youtube, de pessoas
inclusive que têm uma boa intenção ao exibir filmes em que se fala sobre o
abuso sexual, têm contato precocemente com o assunto da sexualidade. Existe

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uma série chamada Defenda-se, em que se fala muito sobre essa coisa de se
tocar e se deixar tocar. Isso acaba expondo à criança assuntos e temas para os
quais ela ainda não tem maturidade para lidar. O ideal seria não tocarmos
nesses assuntos durante essa fase de latência; mas, por saber que isso muitas
vezes não é possível, o ideal se torna sondarmos o que a criança já sabe do
assunto para respondermos às dúvidas dela na medida do que ela sabe – fazer
isso sempre mantendo a amizade entre mãe e filho, mantendo um canal bem
aberto, mantendo momentos de conversa, mantendo a atenção para que a
criança não fique sozinha em situações que podem ser situações de risco.
A ingenuidade, num determinado momento da vida, é importante, e é
necessário que seja preservada o máximo possível. Entendo a pergunta da
aluna, em não querer que o filho não seja uma criança boba – e é óbvio que ela
não tem de ser. Não queremos que ela seja boba, mas não queremos também
que seja exposta ao assunto da sexualidade de forma irreverente e descuidada,
por pessoas que não têm o mínimo de cuidado com isso, como se fosse o
assunto um tipo de chacota. O assunto da sexualidade é um ponto importante
na estabilização emocional das crianças.

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