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Sexualidade Infantil – O Curso


Tira Dúvidas - Terceira Aula

Aluna(o): Para crianças muito pequenas, convém dizer que os bebês saem
naturalmente pela vagina? No caso, eu usaria outro termo, como, por exemplo,
“perereca”. Minha filha de quatro anos perguntou como a irmãzinha sairia da
minha barriga. Ela questionou bastante se havia algum buraco para ela sair. Eu
respondi que sim, ao que ela perguntou se a irmãzinha sairia pelo umbigo. Em
outra ocasião, após o nascimento da irmã, ela perguntou: “Mamãe, como o
menino Jesus nasceu, se, à época, não havia médico para retirar os bebês da
barriga das mamães? Acho que qualquer termo que eu usasse pareceria chulo
diante da situação.
Essas coisas de crianças são bem engraçadas; elas começam a fazer
essas elucubrações.
Gostaria de lhes mostrar um vídeo adequado para mães gestantes, antes
de dar a explicação, para elas entenderem o que é dilatação e o que é
apagamento do colo. Acho que pode ser uma experiência interessante de se
fazer com crianças, para que elas consigam entender como se dá o processo.

Aqui, a mulher pegou um balão e pôs uma bolinha de ping-pong dentro


dele. No início do vídeo, ela estava mostrando as contrações braxton hicks, que
temos ao longo da gestação e não nos causam nenhuma alteração no colo do
útero. Depois, ela vai mostrando a contração efetiva e como o colo, que seria,
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no exemplo do vídeo, a ponta do balão, vai diminuindo. Por último, depois de
chegar ao final, o colo começa a dilatar para o bebê poder sair.
A mulher vai contraindo o “útero” com a mão dela – ou seja, vai contraindo
o balão –, de modo a ilustrar como um útero real se dilata e permite a saída do
bebê.

Início da dilatação.

Meio da dilatação.

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Fim da dilatação, com o bebê já tendo saído.

É uma experiência que podemos fazer com as crianças. Tentei fazê-la em


casa, com meus filhos, mas meu balão era muito grande e acabou não dando
certo. Então, antes de mostrarem para as crianças, façam sozinhos para
assegurarem-se de que a demonstração será a correta – do contrário, as
crianças ficarão achando que barriga da mão pode estourar, por exemplo (caso
o balão estoure); criança é concreta a esse nível.
Antes de mostrar isso para a criança, é interessante aproveitar a pergunta
de como nascem os bebês e explicar para ela que o modo como o bebezinho vai
parar na barriga da mãe é um verdadeiro mistério. “Samia, nesse caso,
estaríamos mentindo para a criança, porque não é um mistério; nós sabemos
como acontece”. Não; é realmente um mistério. Não sabemos como a alma
humana une-se ao corpo das células materna e paterna e dá origem a uma nova
vida – inclusive, há experiências de tentar juntar artificialmente as células
feminina e masculina, mas não resultam em uma nova vida.
O mistério do início da vida é um mistério de amor, e é interessante que a
criança desperte para isso. Isso vai ajudar os pais a explicar muitas situações.
Normalmente, explicamos que uma nova vida vem do amor entre o pai e a mãe;
mas devemos explicar que há também um amor que é anterior a esse, que traz
o bebê à existência e o escolhe entre milhares de espermatozoides e óvulos.
Esse amor junta a célula masculina e feminina e gera uma nova vida
independentemente das circunstâncias – abuso sexual ou pais que tiveram uma
única relação e nunca mais se encontraram, por exemplo. É interessante que a
criança tenha na cabeça que ela foi escolhida para nascer, que ela veio a partir
de Alguém que lhe deu a vida e que, por isso, ela tem um papel a desempenhar
no mundo.
É importante que demos à criança essa dimensão. Devemos aproveitar
essas perguntas para dar a elas a dimensão da vida humana. De fato, o

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aparecimento de uma vida na barriga de uma mãe é um mistério, assim como é
um mistério o momento em que o nascimento do bebê acontece. Uma mãe
grávida não sabe exatamente quando irá entrar em trabalho de parto – não
sabemos quando um bebê irá nascer, se optado o parto natural.
O próprio nascimento em si é uma coisa misteriosa, impressionante: o
próprio organismo da mãe “expulsa” o bebê no momento em que ele está pronto
para vir à luz.
Podemos explicar isso para uma criança de quatro anos, envolvendo isso
numa fantasia que pode estimular a noção do quanto ela é amada na sua família,
do quanto a sua família esperou pela chegada dela, de como foi os preparativos
do dia em que ela nasceu etc. As crianças adoram saber como foi o dia em que
elas nasceram. Essas coisas vão alimentando o imaginário da criança,
ordenando a sua afetividade.
Podemos também falar da sensação que a mãe teve ao ver a criança pela
primeira vez, de como foi a recepção dos irmãos ao vê-la pela primeira vez etc.
Isto é, podemos ornar o nascimento da criança, da saída do bebê ao mundo
externo, com coisas elevadas – e não com a conversa de que existe um orifício
na mãe cujo nome é vagina, por onde a criança passa para nascer, e pronto:
acabou. Por isso é importante pensarmos sobre o que falei em uma aula
anterior: qual é a nossa visão sobre a origem da vida humana e da chegada de
um bebê? Precisamos estimular nossa imaginação, pensar nessas coisas, para
vermos qual é a melhor maneira de falarmos sobre isso aos nossos filhos.
Aluna(o): Tenho duas filhas, uma de dois e outra de cinco anos.
Recentemente, o irmão de quinze anos, filho apenas do meu esposo, fruto de
um namoro na adolescência, veio morar conosco. Ele costuma ficar sem camisa,
dentro de casa, e o meu esposo de cueca. Quanto à cueca, sei já que devo tentar
mudar a situação imediatamente; quanto à camisa do adolescente não sei o que
fazer. O que deve ser feito? Meu esposo e ele consideram muito normal.
Primeiro, devemos pensar em que brigas queremos comprar. Está
chegando um adolescente na sua casa, desacostumado com as suas ordens –
você não é a mãe dele – etc., fora o fato de adolescente já ser complicado por si
mesmo. Há todas essas circunstâncias que precisam ser levadas em
consideração. Será que a questão da camisa é a briga mais importante a se
comprar? É preciso avaliar isso. Eu acho sinceramente que a primeira
preocupação, mais importante do que o modo como esse ponto da camisa irá
influenciar na vida das suas filhas de dois e cinco anos, deve ser o adolescente
em si, o modo como ele está vivendo a própria sexualidade, o que ele já sabe
sobre sexualidade e se ele já foi orientado de alguma forma a respeito do
assunto. Você deve ajudá-lo a viver a sexualidade da maneira mais saudável
possível, porque ele, por estar dentro da sua casa, certamente irá influenciar na
sua vida, na vida do seu marido e na vida das suas filhas. É de fato necessário
que você se importe com ele, para que tudo fique organizado.
Muitas vezes, não basta olhar apenas para a sexualidade. É importante
olhar para o geral da formação desse adolescente: Como estão os estudos dele?
Com está a vivência da afetividade dele? Como está a disciplina dele? Como está

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a generosidade dele? Ele tinha alguma responsabilidade na casa anterior? Ela
terá algum encargo na sua casa? Ele terá computador no quarto, exclusivo? Há
inúmeros fatores em que você deve pensar para a vivência dele estar
harmoniosa dentro da sua casa, porque isso tudo vai influenciar na convivência
familiar.
Aluna(o): Na escola da minha filha de doze anos, várias mães estão tendo
problemas com as meninas. Algumas crianças estão se declarando bissexuais
ou gays. Quero saber como de fato orientar minha filha ao que é correto, diante
de tantos apelos voltados para o homossexualismo e toda a questão ligada ao
movimento LGBT.
É importante deixarmos claro que é necessário respeitar as decisões das
outras pessoas; elas podem decidir o que quiserem para a vida delas. O nosso
compromisso é saber como educar os nossos filhos. Não podemos negligenciar
o fato de que há um movimento ideológico forçando uma normalidade, de que
há um esforço em obrigar as pessoas a acharem que determinados
comportamentos são normais.
Sabemos que isso é uma forçação de barra, porque, quando falamos
alguma coisa contrária a isso, passamos por intolerantes, insensíveis às
escolhas e aos sofrimentos dos outros, sem empatia pelos demais etc. – e nada
disso é verdade. Estamos apenas dando nome aos bois. Um relacionamento
entre duas pessoas do mesmo sexo não configura um casamento real, porque
não há consumação do ato conjugal. E isso não é uma posição religiosa. O
próprio Direito Civil enxerga a situação dessa maneira: quando não há
consumação do ato conjugal, não há casamento – pode haver é claro, uma
relação muito íntima, uma amizade sincera de duas pessoas que se gostam e
se querem, mas não há fecundidade, entrega total (o dom de si),
complementariedade e várias outras coisas que dizemos ser características
importantes e necessárias ao amor humano e conjugal.
A questão maior, no entanto, é que a homossexualidade coloca a escolha
sexual como algo central na vida de uma pessoa; a pessoa em si se determina
pela escolha sexual dela. É necessário termos em mente que, para que
tenhamos uma vida sexual saudável, precisamos primeiramente ser pessoas,
ser alguém, a fim de que nos seja possível viver o dom de si, o doar-se para a
outra pessoa. Como daremos para outra pessoa algo que não temos? Antes de
decidir qual é a sua opção sexual, você precisa ser alguém, uma pessoa, porque,
do contrário, você não conseguirá doar-se à outra pessoa – porque ninguém dá
o que não tem.
A sexualidade é a vivência da ação corporal vinculada à nossa alma, ao
nosso ser integral. Para vivermo-la com liberdade e responsabilidade,
precisamos ser um ser humano. Novamente: antes de os nossos filhos
pensarem qual é a opção sexual deles, precisam ser gente, ser pessoa. A nossa
tarefa, então, é convidar os nossos filhos a que sejam gente, a que estudem,
sejam generosos, trabalhadores, etc., para só depois pensarem na sexualidade
deles. E o que estão fazendo hoje é primeiramente pensar na sexualidade,
colocando-a como a coisa mais importante de todas sem levar em consideração

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a pessoa em si; esquecem a pessoa que está diante deles e a olham unicamente
através da sua opção sexual. Não é assim que deve funcionar. Como vimos, a
homossexualidade é uma parte da pessoa, uma expressão corporal do que a
pessoa é.
Então, antes de qualquer coisa, precisamos ensinar aos nossos filhos,
antes de tomarem qualquer decisão em relação à sexualidade, a ser alguém;
antes de ser alguém, não poderão decidir nada – se serão héteros, homo, bi, ou
seja lá o que for. Essa é uma maneira de tirar o foco da questão.
Aluna(a): O que devo fazer quando uma menina de cinco anos diz estar
afim do meu filho de sete? Sou amiga da mãe dela e não sei se lhe devo contar;
tenho medo de ela ficar chateada comigo. Quando meu filho me contou isso,
somente sorri, sem dar importância, para que ele continue me contando as
coisas. Vez ou outra, falo que criança não namora; mas, nessa situação, não sei
o que fazer.
Você deve falar com sua amiga, para que ela possa a filha dela. Só não
esqueça a história daquele vídeo que vimos em relação ao azeite de oliva:
muitas vezes, acabamos colocando, nas indagações e falas dos nossos filhos,
conotações que nelas não existem. Certamente, uma criança de cinco anos não
diz uma coisa dessas com uma conotação sexual, nem motiva um namoro e
casamento reais – coisas que nós, adultos, fazemos. Às vezes, exageramos um
pouco ao prestar atenção em coisas como essas, ditas pelas crianças.
No entanto, como educar o seu filho para que ele saiba agir quando essas
coisas acontecerem? Pode dizer a ele que a menina é só uma criança – um
pouco diferente dele, que já está na idade da razão: ele é mais responsável que
ela e precisa ajudá-la quando for necessário, respeitando-a, protegendo-a,
sendo paciente com ela, etc., porque é isso que os homens fazem. Da história
de que a menina de cinco anos disse isso e aquilo, você parte para um conceito
educativo maior, dizendo-lhe o que os homens fazem.
Aluna(o): Fiquei encantadíssima com a leitura do livro “Os mistérios da
vida”. Nas escolas, de modo geral, para crianças de dez anos, falam de uma
maneira veterinária a respeito da sexualidade. Seria interessante falar com as
crianças antes dessa idade ou somente quando houver dúvidas por parte delas?
Se você sabe que esse assunto irá ser abordado no colégio de modo
veterinário, é importante adiantar-se sim; é importante que a criança vá para a
escola já “sabendo a matéria”. Assim, ela vai ter uma segurança no assunto,
porque, além de saber o que será dito, confia no que a mãe lhe ensinou: “Quem
me ensinou foi a minha mãe, em quem eu posso confiar”.
É interessante saber o que vai ser passado na escola e a maneira como
vai ser passado, dar uma olhadinha no livro didático, conversar com a
professora, perguntar quando vai ser a aula etc., para você já ir explicando para
o seu filho ou sua filha o assunto, dando ao assunto um ar de reverência e
falando dele de uma forma humana, com clareza e delicadeza. Depois, após a
aula ser dada, você pergunta: “Como é que foi a aula? Como é que a professora
falou e ensinou? Você ficou com alguma dúvida? Alguma coisa te impressionou

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ou deixou com a pulga atrás da orelha? Foi, em algum aspecto, diferente do que
a mamãe ensinou?”. Enfim, depois de dada aula, procurar saber se a escola
tratou o assunto de maneira chula e descuidada. Assim, você saberá como a
aula impactou a criança, e a criança criará com você uma relação de confiança
muito importante; provavelmente, terá uma abertura para falar desses assuntos
quando ela tiver dúvidas, porque ela saberá que você é uma fonte segura –
afinal, muitas vezes, você dá à conversa um tom muito mais humano e sublime,
se comparado com a professora.
Aluna(o): Fiquei com uma dúvida: Tenho uma filha de nove anos. Ela é muito
madura em vários aspectos, tendo já, por exemplo, demonstrado interesse por
um garoto da sala de aula dela. Somos muito católicos e conversamos com ela
sobre vários assuntos. Ela sabe, por exemplo, que criança não namora, mas
nunca perguntou nada a respeito de sexualidade (somos muito atentos com as
coisas que ela vê). O interesse pelo garoto durou pouco tempo e logo passou, e
a conversa sobre isso fluiu com naturalidade quando ela contou para mim e
para o meu marido. Meu ponto é: Como enfrentar a escola e os amigos, quando
chegar o momento da dúvida e eu explicar do mesmo modo que você ensinou
(que achei espetacular, aliás)? Como antecipar o colégio? Gostaria de passar a
ela com naturalidade e não gostaria que influências externas derrubassem tudo
o que eu e minha família construímos. Tenho medo de perder esse timing. Ela
confia muito em nós.
Costumamos falar aos nossos filhos que “criança não namora”. É
importante, no entanto, que criemos uma relação de compreensão com os
nossos filhos. No caso da sua filha, ela já teve uma sensação e já se “apaixonou”
pelo menino da idade; então, é interessante falar que “a mamãe já passou por
isso, eu já senti isso”, para que ela não fique achando que é uma coisa pela qual
só ela está passando. Esse é o momento de abrir a confidência de coisas que
podemos confidenciar aos nossos filhos (nem tudo podemos confidenciar a eles,
mas isso sim): “A mamãe não só já sentiu isso, mas o sentiu em relação a mais
de um menino. Ainda bem que não falei disso para todos eles, porque nem todos
entenderiam o que eu tinha a dizer. Então, não precisamos reagir a tudo o que
sentimos”.
Esse é o momento de educar a afetividade dela. Você irá falar: “Quantas
vezes a gente se irrita e nem por isso a gente sai gritando com as pessoas?
Quantas vezes a gente sente medo e precisa ser ao mesmo tempo corajoso?”
Pode, inclusive, expor suas situações a ela: “Muitas vezes, quando vou ter
bebê, sinto um medo, um medo de que o parto será doloroso. Ao mesmo tempo,
sinto uma alegria por poder receber uma nova vida na minha família, e isso é
motivo para eu enfrentar o medo. Muitas vezes, sinto alegria, por causa de
alguma coisa, mas não posso expressá-la, por ter de guardar um segredo ou
por não ser o local adequado.”.
“São muitas situações em que vem um impulso, uma inclinação de fazer
algo, mas em que precisamos nos controlar, porque é assim que os seres
humanos fazem. Os animais, por outro lado, não são assim: eles sentem o
impulso e já agem de acordo com ele. Nós, seres humanos, não somos assim.

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Então, você pode sentir muitas coisas, mas reagir de maneira diversa do que
você está sentindo. Nem tudo o que estamos sentindo devemos expressar para
as pessoas, porque é possível que essas pessoas não recebam de uma maneira
boa. É necessário fazer um filtro. Muitas vezes, podemos ficar eufóricas, gostar
de um menino, mas precisamos ter um pouco de cuidado. É importante também
entendermos que, quando somos pequeninhos e jovens, esses sentimentos são
muito fugazes: sentimo-los e logo eles passam – como aconteceu com você
mesma, filhinha. Tenha então um pouquinho de cautela em relação às coisas
que você está sentindo. Pode conversar com a mamãe, que eu te ajudo”.
Em relação a esse timing e a esse medo de que você falou quanto às
influências externas, é importante você pensar que, quando preenchemos as
devidas lacunas na educação dos nossos filhos – as lacunas da vontade, da
transcendência, da sexualidade, etc. –, as influências externas perdem a força
e têm pouco papel na formação dos nossos filhos. Se, pelo contrário, não
cuidamos em preencher essas lacunas, nossos filhos se agarraram a qualquer
coisa que lhes passe pela frente, por estarem sem norte – e agarrar-se a
qualquer coisa que passe não é o melhor a se fazer, porque essas coisas não
levam em consideração quem são os nossos filhos, a história deles, não levam
em consideração a antropologia etc.
É importante, então, preenchermos essas lacunas – e é o que estamos
tentando fazer aqui: preencher a lacuna da sexualidade dos nossos filhos. Então,
quando preenchemos essas lacunas, podem vir várias orientações contrárias,
que ainda assim a criança terá, pelo menos, um norte para dizer a si mesma:
“Isso sim; isso, não”. Não é preciso ter muito medo dessas influências externas,
se estamos dando uma boa formação para os nossos filhos – ainda que muitas
vezes, durante a adolescência, os filhos se desvirtuem um pouco.
É sempre bom termos isso em mente: estamos formando seres humanos,
e os seres humanos são livres. Por mais que eduquemos nossos filhos e lhes
mostremos como as coisas são e funcionam, eles podem decidir e optar pelo
que quiserem. O importante é que, com a formação que nós damos, eles saibam
qual é o caminho de volta, caso se desvirtuam. As coisas que lhes passamos, os
hábitos bem formados, são trilhos; é mais fácil que os filhos permaneçam nesse
trilho do que saiam dele – e, novamente, se saírem, saberão retornar ao trilho.
Aluna(o): Na fase de latência, devemos deixar os nossos filhos tomando
banho sozinhos, de porta fechada? Devemos controlar o tempo, sempre
espiando os filhos? O que é mais adequado para preservamos a intimidade e,
ainda assim, cuidarmos para evitar a masturbação, por exemplo?
A minha sugestão seria dar uma supervisionada até o surgimento dos
caracteres sexuais secundários – ou seja, até os nove ou dez anos, dar uma
olhada no que está acontecendo e acompanhá-lo. Depois, quando começam a
surgir os caracteres sexuais secundários, os filhos começam a ficar com
vergonha, e é importante que os pais respeitem esse momento dos filhos,
deixando-os tomar banho sozinhos e fechar a porta, por exemplo, mas
esclarecendo que há um tempo certo para tomar o banho, que você irá falar,

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que não é pra trancar a porta e que você pode entrar no banheiro a qualquer
momento etc. Isso irá inibir várias coisas.
Obviamente, não devemos tomar o hábito de invadir a intimidade com filho
a todo momento; temos de deixar o filho preservar alguma intimidade. Mas
precisamos mesmo cuidar das coisas para ajudarmos os nossos filhos. Muitas
vezes, as pessoas perguntam: “Até que momento o pai deve dar banho no filho
e, sobretudo, na filha?”. Quando a menina esboçasse algum tipo de vergonha em
relação ao pai, seria o momento adequado para parar de lhe dar banho. Se a
criança não esboça essa vergonha, por volta dos quatro ou cinco anos dela, o
pai já pode estimular que ela tome banho sozinha.
Até comentei nos stories do Instagram, certa vez, que o pai pode pôr uma
esponja cheia de sabão e explicar à filha como ela deve ir se esfregando;
acabando o sabão, ir mostrando a ela onde tem e não tem sabão, para que ela
possa se acostumar a olhar isso e a pôr mais sabão na esponja, quando
necessário – e, por consequência, aprender a tomar banho sozinha.
Então, determinar um tempo de banho e deixar a porta do banheiro
destrancada é uma boa opção.
Aluna(o): O que fazer quando os filhos já foram expostos a troca de roupa
na frente dos pais e estão acostumados a tomar banho com eles? Como reverter
essa situação?
Não sei, nesse caso, a idade da criança. Se a criança for muito pequeninha,
basta apenas mudar de hábito e pronto; não é necessário dar a ela uma
explicação muito elaborada. Por ocasião desse negócio de disciplina positiva,
muitos pais pensam que devem explicar tudo aos filhos. Mas não, não devemos
explicar tudo a eles. Às vezes, devemos mudar o hábito e pronto, sem delongas.
Para crianças maiores, pode ser um pouquinho mais complicado; talvez
elas questionem um pouco. “Ué, por que agora mudamos esse hábito?”,
Precisamos ser muito sinceros com elas, respondendo algo como: “Olha,
achamos melhor assim; isso não é adequado; estudamos melhor e chegamos à
conclusão de que precisamos preservar a sua intimidade e ela não pode ser
violada por qualquer pessoa; isso ajuda inclusive a evitar o abuso sexual etc.
Então, agora, cada um tomará o seu banho.”.
Aproveitando o gancho, eu gostaria de criar um questionamento em
relação a essa questão da autonomia: será que os pais que tomam banho com
os filhos não estão pecando na autonomia dos seus filhos em outros aspectos,
como, por exemplo, no sono? Será que esses pais que têm cama compartilhada
com os filhos, que ficam duas ou três horas com elas na própria cama delas até
que elas durmam não prejudicam a autonomia dos filhos? Essas crianças são
crianças que de fato não conseguem fazer nada sozinhas, porque a todo
momento contam com o apoio e suporte dos pais. Inclusive, isso prejudica
demais a autoestima dos nossos filhos, porque o que os faz ter autoestima é a
capacidade de fazer coisas. Quando uma criança se vê capaz de realizar
algumas tarefas sozinha, capaz de trabalhar e usar a própria inteligência, ela
tem uma maior autoestima; ela sabe do que é capaz e sabe seu lugar no mundo.

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Se tiramos a autonomia dos filhos, eles não irão saber o lugar deles no
mundo. No momento em que não estivermos do lado deles, não saberão dormir,
tomar banho, comer etc., etc., porque os criamos numa verdadeira redoma
intransponível, num vínculo doentio com eles. Devemos nos questionar: Para
que estamos tomando banho com os nossos filhos? Qual é o nosso objetivo
educativo com isso? Precisamos realmente mostrar o nosso amor através do
banho com eles? Ou uma melhor intenção educativa seria deixá-los tomando
banho sozinhos, fomentando a autonomia e autoestima deles?
São coisas que precisamos nos questionar. Não regam simplesmente, na
educação dos filhos, mas ajam; pensem na intenção educativa ao fazer as
coisas.
Aluna(o): Sou casada há dez anos e tenho três filhos homens. Meu marido
é médico e, apesar de ter bons valores, acredita que a pornografia e
masturbação não causam mal algum. Como não deixar meus meninos serem
influenciados por isso?
O fato de seu marido ser médico é um ponto muito importante. Ao lermos
sobre o assunto da sexualidade nos livros de medicina, percebemos neles uma
visão muito freudiana; chega a ser medonha a maneira como orientam os
médicos quanto à sexualidade. É impressionante.
Antigamente, achava-se que a masturbação era causa de mais acnes no
rosto e diminuição de testosterona, mas isso não é real. A masturbação não
causa um mal físico, nesse sentido. O problema da masturbação não está na
questão corporal propriamente, mas na visão que a pessoa adquire sobre a
sexualidade.
Não é uma questão, obviamente, de vivermos um naturalismo, dizendo não
haver problemas com a masturbação, que ela é uma coisa muito normal etc.
Pensar assim nos faz esquecer que é necessário ordenar a nossa natureza, não
por estar totalmente corrompida, mas por estar decaída. Os nossos instintos
não estão plenamente de acordo a finalidade da natureza humana. Não há mais
uma ligação entre nossos instintos e o bem da nossa alma.
É fácil perceber isso, por exemplo, quando comemos mais do que
devíamos. Comemos não apenas para a nutrição do nosso corpo, mas também
para fins gastronômicos e uma série de outras coisas, deixando os impulsos
falarem mais alto e comendo demasiadamente. Muitas vezes, descansamos
demasiadamente; muitas vezes, trabalhamos demasiadamente. Precisamos, a
todo momento, ajustar os nossos impulsos (que não são ruins em si, mas que
ficam muitas vezes desordenados).
Obviamente, é muito difícil mudarmos o outro e essa mentalidade, por
acharem que estamos vivendo a sexualidade de modo muito moralista, com
medo. Mas não é questão de achar que a sexualidade é algo ruim ou
pecaminoso, do qual precisamos ter medo; é questão de ajustar a nossa
sexualidade para a vivermos bem.
Então, precisamos conversar de fato com os filhos, mostrando o mal
concreto que a masturbação traz na sexualidade, no relacionamento deles com

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os pais, nos níveis de dopamina, na produtividade do trabalho, na vida social, na
atenção, no estudo, no respeito com as mulheres, etc. – influenciando, inclusive,
no aumento da agressividade deles e no aumento de casos de abusos sexuais.
No caso da alteração da dopamina, em decorrência da pornografia, vamos
precisando de níveis cada vez maiores para termos o mesmo prazer sexual.
Isso começa a prejudicar uma relação sexual normal, em que o sexo entre
homem e mulher já não satisfaz mais. Inclusive, muitas perversões sexuais
advêm da exposição à pornografia – heterossexuais, por exemplo, que
começam a achar que deveriam ter vivência homossexual por efeito do contato
constante com conteúdos eróticos.
Muitas pessoas acham que está tudo bem, que não há nada demais, que
estão vivendo suas vidas normalmente; mas elas não são capazes de perceber
os malefícios da pornografia. É como se víssemos uma família, cujo filho dorme
e come mal e tem uma vida totalmente desordenada e sem hábitos, e
perguntássemos para ela: “Está tudo bem?” e ela respondesse: “Sim; está tudo
bem, sim; não há nada demais acontecendo”.
É como acontece com um peixe, incapaz de enxergar que está dentro
d’água e ter uma visão geral do mar. Do mesmo modo, as pessoas da família,
por estarem submersas na situação, acabam não conseguindo analisar e
localizar o problema. Essas pessoas acham que é comum uma criança ir dormir
meia-noite, não comer nada ou comer vendo televisão etc. Enfim, há uma série
de complicações que não são vistas por essas pessoas como complicações
propriamente; e a nossa dificuldade, perante uma pessoa como essa, é chegar
e falar: “A sua vida não é normal. Você pode até achá-la normal, mas não é. Há
uma vida diferente dessa que você está vivendo, na qual é possível ser mais
saudável.”. É importante conseguirmos mostrar às pessoas onde está o
problema e quais são os benefícios de uma sexualidade bem vivida.
Aluna(o): Em relação ao texto lido (do livro The Joyful Mysteries of Life),
compreendi que se trata de um diálogo que devemos ter com um menino ou
uma menina já entrando na puberdade – ou, no máximo, na pré-puberdade, se
for o caso de adiantar o assunto por causa de alguma situação específica.
Agora, em relação a crianças de seis a onze anos: E se, mesmo explicando
para elas que a vida é um mistério, utilizando-se de todo esse diálogo profundo,
elas continuarem a querer saber como surge o corpo do bebê, podemos dizer
que existem mais detalhes dos quais elas ficarão sabendo mais à frente, só
quando crescerem um pouco, ou isso só fará atiçar a curiosidade delas?
Outra questão: podemos pedir às crianças que já estão na puberdade que
não abram o assunto com as mais novas?
A dificuldade é: Falamos para as crianças que a vida é um mistério; mas
estamos mesmo convencidos disso? Você sabe como uma vida humana de fato
surge na existência? É um mistério mesmo. Ao ensinar isso para a criança, você
não está mentindo. Então, se a criança insistir, precisamos saber de fato o que
ela quer saber, tomando o cuidado para não incorrermos no mesmo erro do
vídeo do azeite, falando demais e falando do que não devia.

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Em relação aos mais velhos, é importante que conversemos com eles,
explicando-lhes que os mais novos não têm a capacidade de entender tudo a
respeito da sexualidade, porque, para isso, precisariam alcançar dimensões
para as quais ainda não têm maturidade; explicando-lhes que precisamos tratar
a sexualidade com muita reverência, e isso implica não sair falando sobre ela
para todo o mundo, de qualquer maneira. A conversa em relação a sexualidade
precisa sempre ser pessoal, não em conjunto.
Aluna(o): Meu filho, quando tinha dez anos, estava aprendendo na
catequese os dez mandamentos, e me perguntou o que significava “não pecar
contra a castidade”. Isso foi há quatro anos. Na época, falei que significava
abster-se de relações sexuais antes do casamento, pautando-me na questão
biológica – ou “veterinária”, como você diz. Acho que fiz tudo errado. Há como
corrigir? Hoje, ele tem quatorze anos e não me dá muita abertura para
conversar sobre esses assuntos. O que fazer?
Acho que devemos ser simples com nossos filhos e falar isso para eles:
“Olha, quando você tinha dez anos, estava na catequese e me perguntou tal
coisa, eu respondi tal coisa. Você tem alguma dúvida em relação a esse assunto?
O que você já aprendeu na escola sobre esse assunto? O que é relação sexual?”
Veja, ele já tem quatorze anos; já está na fase da adolescência e provavelmente
já teve a primeira ejaculação ou polução noturna. Não sei bem se isso já
aconteceu. É necessário que você conheça seu filho, o momento por que ele
está passando, o estágio da puberdade em que ele está; é necessário observar,
através dos caracteres sexuais secundários, o que está acontecendo com ele,
observar a presença dos hormônios (que são importantes para o aumento da
massa muscular), o aumento do testículo etc., sempre levando em consideração
esse aspecto humano da sexualidade.
Então, seria bacana lhe perguntar: “O que você entende hoje por ‘não pecar
contra a castidade’? O que isso significa? Como é que você está vivendo isso na
sua vida?”. Enfim; ir conversando com o seu filho mesmo, para saber o que está
se passando com ele. Mas, em primeiro lugar, medite você mesma sobre o
assunto, sobre a vivência da sexualidade: escreva sobre o assunto, pense sobre
ele, pense nas possíveis perguntas que o filho pode perguntar a você e como
você as vai responder, e assim por diante.
Aluna(o): Uma criança de seis anos diz que o pintinho fica duro, e pergunta
por que isso acontece – inclusive, sai falando isso para todo mundo: “Olha o meu
pintinho, como cresceu! E ainda está duro.”. O que falar com essa criança?
Uma criança de seis anos é ainda muito pequena. Essa ereção de fato
acontece, e acontece quando a criança está muito tranquila, feliz, num momento
de segurança, por causa da presença de sangue, quando há uma vasodilatação.
Essa ereção pode aparecer nos momentos mais tranquilos possíveis, como, por
exemplo, quando ela acorda, quando ela está ouvindo uma história, quando ela
está rezando, inclusive. Isso não tem uma conotação sexual.
Então, o que você dizer a ela é que ela está muito tranquila, muito feliz, de
modo que haja uma vasodilatação e o seu pintinho fica desse jeito. Isso não é
engraçado exatamente; é simplesmente como a coisa acontece – e irá acontecer

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várias vezes ao longo da vida dela. Não é necessário dar uma conotação sexual
para a coisa.
Aluna(o): Como explicar para um filho de oito anos, que ainda não sabe a
versão biológica, o fato de haver homem e mulher com filhos sem serem
casados? Aconteceu de minha filha perguntar como os tios casaram no mesmo
dia em que batizaram a filhinha. A mesma pergunta pode acontecer também em
relação às mães solteiras.
Você pode explicar que eles viviam como casados, à época: “Olha, filha,
eles viviam como casados, mas não haviam assumido isso perante a Igreja. No
dia do batizado, no entanto, eles criaram um vínculo, chamado sacramento do
matrimônio, e nesse vínculo eles passam a receber graças atuais para que a
maternidade e a paternidade, o cuidado com os filhos, a manutenção financeira
da casa, as suas alegrias e dificuldades sejam um trampolim que os leva para
o céu. As coisas do casamento passam, para os que recebem o sacramento do
matrimônio, a ter um valor de eternidade. No momento em que eles se casaram,
portanto, as questões da vida conjugal passaram a ter uma outra dimensão, um
valor eterno”.
Em relação à mãe solteira, você pode explicar que ela não foi uma mãe
sozinha; ela esteve “casada” com uma pessoa (com o pai do bebê) – ou seja, ela
teve um relacionamento conjugal –, mas acabou se separando. Portanto, essa
mãe precisa de uma ajuda para criar o bebezinho sozinha – e então você convida
sua filha para rezar com você por essa mãe. Fazendo isso, você já cria na
criança uma empatia por essa mãe, e não um “nossa, que absurdo ser mãe
solteira”. Isso não é absurdo; é simplesmente a vida humana acontecendo.
Aluna(o): Tenho quatro filhos – duas meninas e dois meninos. As meninas
têm três anos, e os meninos nove e treze anos. Os meninos demoram muito no
banheiro quando vão tomar banho. Pensei que isso acontecesse porque
tomavam banho juntos; separei-os, mas ainda assim continuam demorando
muito no banho. O que devo fazer? Está na hora de falar com eles sobre
sexualidade?
Com certeza, está na hora de falar com o menino de treze anos sobre
sexualidade; com o de nove, será preciso avaliar a necessidade – avaliar o que
falar, em que momento falar etc. O mais novo tem o irmão mais velho; talvez
eles já tenham conversado sobre o assunto juntos. Você precisará sondar a
situação deles para saber até onde deve ir e o que você vai falar – lembrando
que você não deve falar com os dois filhos juntos, mas separadamente.
Sobre o banho, é importante separar as crianças a partir dos sete anos de
idade, tentando não deixar que elas tomem banhos muito longos e restringindo
esses banhos, no sentido de que podem fechar a porta mas não trancá-la (para
que você possa aparecer a qualquer momento).
Sobre computador, deixá-lo num lugar comum da casa, onde todo o mundo
passe; sobre celular, o ideal é que as crianças o tenham o mais tarde possível,
porque hoje em dia Youtube é pornografia a um clique.

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Devemos também tomar cuidado com os filmes a que assistimos, não só
para as crianças não verem, mas para nós também. Às vezes, falamos: “Ah, não,
mas o filme se encaixa, pela classificação, na faixa etária do meu filho”. Tudo
bem; mas, às vezes, a classificação não vale de nada, porque aparecem nos
filmes cenas surreais, que não serviriam nem para os adultos. Nesses casos,
podemos pular a cena simplesmente.
Aluna(o): Tenho uma filha de dois anos e meio. Temo pelo dia em que
conversarmos sobre manter a virgindade até o casamento. Falhei em cumpri-
lo, carrego essa dor na alma, e será muito difícil confessá-lo a ela se ela me
perguntar diretamente sobre isso.
Primeiramente, espero que o livro “The Joyful Mysteries of Life” saia antes
de você precisar sobre isso com ela, porque o livro irá ajudar bastante. Além
disso, precisamos fazer aquilo de que falei na aula: não depositar as nossas
frustrações e medos nos nossos filhos. Não precisamos ser completamente
sinceros com os nossos filhos falando de todo o nosso passado para eles. Às
vezes, precisamos falar de algumas coisas; às vezes, não. A sinceridade não
requer exposição total da nossa intimidade. As pessoas não têm direito de saber
de tudo o que aconteceu na nossa vida; mas, por outro lado, não precisamos
esconder necessariamente, se formos questionados a respeito dela.
No caso de a sua filha perguntar, você pode responder com muita
simplicidade: “Olha, não sabia dessas coisas à época e tive experiências que eu
gostaria que você não tivesse, por causa disso, daquilo e daquilo outro”. Sua
filha pode dizer: “Ah, mãe, mas você fez e está querendo que eu não faça!” e,
então, você responde: “Minha filha, é assim mesmo: vamos aprendendo coisas
na vida e, por isso, uma geração é sempre melhor que a anterior, por trazer
essa carga de aprendizado das outras gerações. Então, graças a Deus estou
aqui para lhe falar o que é melhor e o que é pior.”.
Talvez, mesmo com esses conselhos, a criança ou o adolescente faça
escolhas muito parecidas com as nossas, das quais nos arrependemos. Por
isso, podemos falar a eles: “Fiz escolhas das quais me arrependi.”.
Se você tem uma religião, vá e confesse os erros e, a partir daí, bola pra
frente, tentando reparar com uma boa educação para os filhos. Não há problema
nenhum em fazer coisas erradas e depois exigir que os filhos não as façam; o
nome disso é Educação. Não é porque fizemos tudo errado que não devemos
ensinar o certo para os filhos. Nós aprendemos com os próprios erros, e é
importante que falemos isso para os filhos: aprendemos com os nossos erros
e passamos o que com eles aprendemos, a nossa experiência, para as outras
pessoas.
É aquilo de que falamos em relação à virtude dos velhos, que eu acho
maravilhosa. A virtude dos velhos é a sabedoria. Então, quando vivemos,
escutamos coisas, lemos coisas e vamos adquirindo experiência, os nossos
filhos percebem essa nossa sabedoria – e a sabedoria, assim como a verdade,
atrai. Quando conseguimos falar de todas essas coisas para os nossos filhos,
não de uma maneira medrosa ou piegas, mas com uma articulação com a

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verdade, eles são atraídos a isso; a vivência de uma vida real os atrai
verdadeiramente.
Ter uma vida coerente com o que falamos e aprendemos fará com que os
filhos queiram seguir o exemplo das nossas boas coisas, não o exemplo das
nossas coisas ruins, cometidas quando tínhamos ainda sabedoria e critério.
Aluna(o): Vivo a seguinte circunstância: Quando tinha dezenove anos, fiquei
grávida da minha filha mais velha (hoje, com dezesseis anos). Foi uma gravidez
inesperada. Até os seus cinco anos de idade, criei-a sozinha, durante a minha
graduação na universidade. Nesse tempo, o pai sempre participou da vida dela,
ajudando-me também na parte financeira. Quando fiz vinte e cinco anos, conheci
meu atual esposo: namoramos por três anos e, em seguida, casamos. Hoje,
temos uma filha de sete anos e estou grávida de um menino. A filha de sete anos
sempre me pergunta por que a irmã mais velha tem dois pais. Eu respondo a
ela que no momento certo irei explicar a ela. Falo, por ora, que a história da irmã
é diferente, e que cada um tem a sua história.
Temos de ser simples ao falar. Por exemplo, “relacionei-me com o pai da
sua irmã, como se fossemos casados. Eu era à época muito jovem e imatura.
Acabamos cuidando da sua irmã separadamente. Quando conheci o teu pai,
resolvemos criar uma família: por isso você tem o teu pai e ela o pai dela, com
quem me relacionei antes de estar com o teu pai. Agora que estou com teu pai,
ela vive comigo e com ele, e o tem por pai também.”.
É muito simples; não precisamos criar muitas confusões. Acontecem
coisas na nossa vida, e não podemos negar que elas acontecem – no seu caso,
não é nem mesmo interessante que tente fazer isso, pelo bem da própria filha
mais velha. Graças a Deus, você teve essa filha mais velha e criou-a da melhor
maneira possível. É importante que ela se sinta amada nessa situação toda. Ao
conversar com a mais velha, portanto, veja como falar com ela, para que ela se
sinta amada, querida e não alheia à nova família formada.
Aluna(o): Tenho um irmão em processo de mudança de sexo. Até o fim do
ano, ele era Tio Ju; agora, quer ser chamado de Tia Antônia. Ele se veste e se
porta como mulher: usa maquiagens, faz as unhas e tem cabelo comprido. Como
lidar com essa situação? Meu filho tem cinco anos. Até o momento, o que tenho
feito é evitar o convívio o máximo possível. Continuo falando Tio Ju; expliquei ao
meu filho apenas o que ele perguntou. Mas a verdade é que ele pergunta muito
pouco; as perguntas geralmente são sobre as roupas. Eu disse ao meu filho que
algumas pessoas explicaram coisas erradas para o Tio Ju, de modo que o Tio Ju
acredita que a sua maneira de se vestir seja certa, embora saibamos que não é
certa, nem bonita. Até o momento, meu filho não perguntou nada sobre o Tio Ju
querer ser chamado por Tia Antônia, e também se esquiva do tio todas as vezes
em que com ele tem contato.
A meu ver, é necessário que você deixe claro que o seu irmão é um menino,
mas que pode escolher se vestir como menina, porque cada um é livre para
fazer as suas escolhas desde que se responsabilize por elas; que não é porque
ele está se vestindo como menina que ele será uma menina.

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Talvez não seja adequado falar com tantas minúcias, porque seu filho é
muito pequeno; ao longo do tempo, no entanto, à medida que ele for crescendo,
você pode ir esclarecendo que menino é menino, e menina é menina,
independentemente do que faça, e que, portanto, o tio será sempre menino.
É bom também não reduzir o seu irmão à opção sexual dele, mas fazer
com que seu filho, com o tempo, consiga olhar para o tio dele como uma pessoa
real e, por consequência, consiga relacionar-se com ele à altura. O externo é o
externo, uma decisão que ele tomou em relação a vida dele, que não faz dele
uma pessoa indigna, com quem o seu filho não possa ter contato.
Acho válido pedir ao seu irmão que, quando na presença do seu filho, tenha
discrição com os relacionamentos que ele possa ter, porque, como falamos, a
discrição é importante para todos os tipos de relacionamentos. Se eu tivesse
alguém na minha família que exageradamente estivesse se relacionando com
uma pessoa de maneira totalmente despudorada, acho que eu pediria para que
tivesse uma discrição que permitisse a convivência com meus filhos.
Aluna(o): Como reorganizar os conteúdos sobre sexualidade em uma
criança que já foi exposta à pornografia ou abusada sexualmente?
É o que falamos: o que foi visto, foi visto; o que foi vivido, foi vivido. Penso
que, nesse caso, valha a máxima “afogar o mal em abundância de bem”.
Devemos orientar a sexualidade para o que de fato ela é, não nos baseando na
experiência ruim que essa criança teve. A experiência, portanto, será
ressignificada pelo amor.
Aluna(o): Estou grávida de sete meses (meu primeiro filho) e tenho muito
contato com áreas rurais. No ambiente rural, meus filhos certamente irão
observar as diferenças entre macho e fêmea, ambos cruzando, a fêmea parindo
etc. Como utilizar, nesse sentido, a natureza a meu favor, mostrando as
semelhanças e diferenças dos homens para os animais?
Acho que essa seja uma ótima experiência. Para explicar a diferença entre
os homens e animais, você pode dizer que a expressão da sexualidade dos
animais não vem da alma, porque animais não têm alma – por outro lado, a
vivência da sexualidade para o ser humano é realmente uma expressão da alma,
do mundo interior.
Pode dizer também sobre a vivência em família, que nos animais não existe
exatamente, porque eles não precisam de uma para desenvolver-se (o que não
acontece com os seres humanos, porque realmente precisamos de uma família,
de educação etc.). Pode falar que os animais vivem de acordo com o instinto, e
que os seres humanos, embora muitas vezes não pareça, vivem de acordo com
as suas escolhas.
Aluna(o): Minha filha de oito anos só dorme depois de masturbar-se: ela
sua bastante; tenho a certeza de que chega ao orgasmo ou a algo semelhante.
Como fazer para parar com isso? Até então, eu tinha aquela idéia de que fazer
massagem nas genitálias não tinha nada de mais e que era uma questão de
autoconhecimento. Percebi, no entanto, que não é bem assim. Ela tem tanta
sensibilidade que, dias atrás, fui passar um lencinho umedecido, para ajudá-la
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a se limpar, e ela disse que parecia muito com quando ela fazia massagem.
Fiquei bastante preocupada com isso.
Se você passou um lenço umedecido e ela disse ter sido bastante parecido
com a sensação tida quando faz massagem, certamente não se trata de prazer
e orgasmo. Muito provavelmente, essa é a maneira como você está vendo a
vivência dela da situação.
O interessante é você conversar com ela, ver o que ela tem a dizer,
introduzir no dia a dia dela outra rotina de sono, ler para ela, fazer carinho, estar
perto na hora em que ela for dormir etc., para tirar esse hábito de massagem
antes de pegar no sono. É interessante também avaliar o contato que ela tem
com novelas, Youtube, músicas e filmes inadequados para a idade; avaliar, com
a presença de um pediatra, se ela tem vulvovaginite; avaliar se é necessário
falar com ela sobre sexualidade, levando em consideração as coisas que ela já
sabe sobre o assunto e o ambiente afim em que ela está envolvido etc.
É bom também, além de explicar que nem tudo o que ela sente ela precisa
fazer, reordenar a alimentação, o estudo, o descanso. Vimos, ao longo das aulas,
que uma criança com todas essas coisas desorganizadas, irá viver a
sexualidade, muito provavelmente, de maneira desordenada. Dar a ela alguns
encargos em casa, para ela exercitar a renúncia e a generosidade e o dom de
si, é também uma boa coisa.
Aluna(o): Meu filho de cinco anos fala desde os três sobre casamento.
Nunca estimulamos com conversa de namoro – pelo contrário, sempre falamos
que criança não namora, ao que ele logo responde: vou casar com ela quando
formos adultos.
Ele começou a escrever ano passado e, desde então, redige bilhetes com
os dizeres “você é tão linda, que quero casar com você; você é linda, eu te amo”,
seguido de o nome de uma amiguinha. Como lidar com isso? Além de não
estimular, como evitar?
Penso que você pode pedir para ele lhe mostrar as cartinhas antes de
entregá-las. Passando por você antes de serem enviadas, você as pode
modular, falando, por exemplo, “meu filho, em vez de escrever isso, que acha de
escrevermos um poema ou fazermos um desenho juntos?”. Estimule também
que ele escreva cartas e faça desenhos por ocasião do aniversário da vovó e do
vovô, de um tio ou uma tia, do irmãozinho ou de um amigo etc. Vá reorganizando
na cabeça dele a utilização dessa habilidade de escrita para onde ela precisa
estar ordenada.
Aluna(o): Sou mãe solteira; minha filha de oito anos está passando uns
dias na casa dos avós, e a avó me ligou dizendo que flagrou minha filha, no
banho, se masturbando – talvez, não tenha sido bem isso o que aconteceu, mas
foi dessa forma que ela disse. A avó então perguntou a ela desde quando ela faz
isso, e ela disse que o faz desde quando começou a tomar banho sozinha. Ora,
ela toma banho sob supervisão. Eu a ensinei que ela deveria ensaboar-se e se
enxaguar com cuidado, especialmente nas partes íntimas, por serem locais
sensíveis, evitando possíveis machucados.

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Não tive essa malícia de chegar no banheiro sem avisar para apanhá-la
em alguma atitude suspeita. Em resumo, estou sem chão, sem saber como agir.
O que faço? Como tocar nesse assunto? A forma de a avó se expressar é que
me dá medo; a minha filha ainda demorará alguns dias para voltar para casa.
Ligue para pai e converse com ele, para ver como vocês dois irão abordar
o assunto com a filha. Talvez seja o caso de conversar também com a avó, para
avaliar se isso realmente está acontecendo e para evitar que a menina fique
tomando banho sozinha por muito tempo. Deixe claro para a sua filha que vocês
podem entrar no banheiro sem avisar. É bom também falar para avó que essa
situação realmente pode acontecer novamente (procurando não a deixar muito
impressionada com a possibilidade), mas que, da sua parte, você gostaria que
esse hábito não se desenvolvesse.
Quando sua filha chegar em casa, você pode dizer que a avó ligou e falou
que tal coisa está acontecendo, e que se tal coisa de fato estiver acontecendo,
vocês vão conversar sobre isso etc. E então você vai explicando para ela as
coisas de que já falamos aqui.
Aluna(o): Na pandemia, o tempo de contato com conteúdo online da minha
filha de dez anos aumentou muito. Vi que ela estava diferente. Fui ver o histórico
das pesquisas e descobri que ela havia pesquisado por “beijo na boca”, “o que
são relações íntimas”, “camisinha” e coisas do tipo. Conversei com ela e me
coloquei aberta para conversar. Ela disse ter curiosidade por ouvir os amigos
falando do assunto. Como fomos interrompidas naquele momento, não
continuamos a conversa. Eu gostaria de uma opinião sua sobre como abordar
esse assunto com minha filha.
Penso que agora é a hora de você falar mais claramente com ela, por já
ter percebido que os amigos falam sobre esses assuntos e que sua filha está
curiosa. Então, é melhor que você fale no lugar do Youtube, dos amigos etc.
Depois de explicar todas as coisas de que falamos aqui, você pode explicar que
camisinha é um artifício para não engravidar e que, embora muitos a usem, não
devemos dissociar a expressão do amor de um homem e uma mulher do seu
caráter unitivo e procriativo. Você pode trazer também, para a realidade da
criança, que você e o pai dela gostaram um do outro e, como fruto dessa relação,
ela nasceu, de maneira que ela é um presente na sua vida e você é muito feliz
por isso.
O trecho do livro que li aqui o curso pode ser um bom meio de você explicar
para a sua filha as coisas que ela está querendo saber.
Aluna(o): Tenho dois meninos, um de quinze e outro de onze anos, e o mais
velho não demonstra ainda interesse por meninas. Como abordar com ele
assuntos como sexualidade e masturbação? Como orientá-lo, se for o caso de
um amigo lhe mostrar pornografia? O que falar numa rodinha de amigos sem
parecer “por fora”, desantenada?
Acho que você pode abordar pelo lado da dopamina, das consequências da
masturbação. Dê a ele informações científicas e claras, para que ele possa ter
argumentos com os amigos – e não só a respeito da pornografia, mas a respeito

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de todas as coisas de que tratamos no curso. Isso servirá a ele como
ferramenta, e uma ferramenta a que os amigos não têm acesso.

É isso. Analisem todo o conteúdo do curso, façam anotações, escrevam as


possíveis respostas que vocês dariam ao filho de vocês e como vocês contariam
a eles o que é a sexualidade; escrevam como vocês contariam a história de um
nascimento, avaliem a situação dos filhos de vocês, dos alunos e sobrinhos,
analisem em que fase do desenvolvimento eles estão – se na fase de latência,
se na fase da adolescência etc.; enfim, meditem sobre todas essas coisas para
que vocês estejam munidos de ferramentas eficazes, para que, na hora em que
as dúvidas e perguntas dos seus filhos vierem, vocês já saibam o que lhes
responder. Não sejam pegos de surpresa.
Vocês viram, nas aulas tira-dúvidas, várias situações que podem
acontecer com vocês. A partir do curso, então, criamos os conceitos, vocês
viram situações concretas e como eu as responderia, se estivesse no lugar de
vocês. No entanto, lembrem-se sempre de que a vida, as circunstâncias e os
filhos são de vocês; logo, a responsabilidade de educar os próprios filhos é de
vocês, não minha. Estou aqui apenas com o fim de ajudá-los a criar critérios
que formem um bom senso capaz de lidar com o caso concreto de cada um.

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