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Dar à luz sem dor:

compartilhando experiência e conhecimento

Revista Clarear, n. 1

Tive meu primeiro filho de parto normal relativamente tranquilo, com


algumas intervenções e um pouco de dor. Ainda assim, não conseguia
suportar a ideia de uma segunda gravidez, temendo passar novamente
pela experiência do parto normal e desejando menos ainda uma
cesárea. O tempo foi se encarregando de ofuscar as lembranças. Mas
quando engravidei novamente a mesma sensação veio à tona... Lá pela
metade da gravidez uma amiga me emprestou um livro que
revolucionou minha experiência de dar à luz.
Tive meu segundo filho praticamente sem dor, após dedicar-me
sozinha à leitura do livro, à prática dos exercícios indicados e à
aplicação dos conhecimentos adquiridos na hora do parto. Foi muito
tranquilo e gratificante. Pegando meu filho nos braços não consegui
deixar de pensar como será ainda melhor a vinda do próximo...
Minha experiência foi tão maravilhosa que gostaria de compartilhar
um pouco do que aprendi e me colocar a disposição para quem desejar
aprender o método com uma aprendiz.
Este texto síntese foi escrito para compartilhar minha experiência de
vivenciar um parto sem dor e o conhecimento que adquiri a partir da leitura de
inúmeras obras citadas ao final. Aqui contém informações básicas para
mulheres que desejam dar à luz de maneira natural, substituindo a dor do parto
pelo prazer de gerar e trazer ao mundo uma nova vida cheia de amor.
A expectativa que cultivo é a mais otimista possível, de que mais
pessoas tenham ao seu alcance a possibilidade de experimentar de maneira tão
maravilhosa o sublime momento de dar à luz.
Contato: Severina - severinasarah@gmail.com – (31) 99601 3393

A experiência foi maravilhosa. Vivenciando a realidade


do parto sem dor senti-me estimulada à maternidade.
Antes de conhecer o método não imaginava que ele
pudesse existir. Depois de conhecê-lo não imagino dar à
luz de outra maneira.
Quem dera todas as mulheres pudessem conhecer e
dedicar-se ao parto sem dor... Seria uma revolução na
maneira de dar à luz, um reencontro entre a sociedade
moderna e o que há de mais íntimo e belo da natureza...

SUMÁRIO
1. Parto sem Dor: o que é? ......................................................................... 3
2. As bases do método de preparação para o parto....................... 6
2.1. Reflexos condicionados positivos ............................................... 7
2.2. Atuação do córtex cerebral ............................................................ 9
3. Requisitos para dar à luz sem dor .................................................... 12
3.1. Bom condicionamento mental .................................................... 13
3.2. Ambiente e equipe médica........................................................... 14
3.3. Boa preparação através dos exercícios ................................ 15
3.4. Realizando exercícios preparatórios e de respiração ..... 20
4. Conhecendo a gravidez e trabalho de parto ............................... 23
4.1. A gravidez............................................................................................. 23
4.2. O início do trabalho de parto ....................................................... 25
4.3. Dilatação ............................................................................................... 27
4.4. Período expulsivo ............................................................................. 29
Bibliografia ............................................................................................................. 31

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1. Parto sem Dor: o que é?
Eu desconhecia totalmente a existência do método do parto sem
dor. Também não acreditaria se alguém dissesse de sua existência.
Aceitei com desconfiança o livro emprestado por minha amiga. Penso
que nem ela teve a dimensão de sua ação ao oferecê-lo. Mas a
experiência tratou de deixar-me totalmente convencida de que é
possível passar maravilhosamente pela experiência do parto sem sentir
as dores tão temidas.

O método do “parto sem” dor é também chamado de “método


psicoprofilático de preparação para o parto”. O nome está associado à
preparação psicológica e à prevenção da dor. Não se trata do uso de
anestésicos ou analgesia durante o trabalho de parto, mas de dar à luz
através de parto normal inteiramente sem o uso de mecanismos
artificiais de redução ou controle da dor. Tal situação é essencialmente
verdadeira e foi experimentada por um grande número de mulheres,
mesmo que os exemplos não sejam amplamente conhecidos.
Observa-se em algumas culturas, principalmente as que são mais
próximas à natureza, que as mulheres são menos acometidas pelas
experiências dolorosas de dar à luz. Muitas dão à luz sozinhas e sem
expressões de dor como gemidos ou gritos. Geralmente elas se afastam
do convívio social no início do trabalho de parto e retornam com a
criança nos braços, cheias de alegria por terem realizado este ato
sublime. Ao se afastarem evitam as interferências que os demais
possam direcionar durante todo o processo, o que poderia lhe gerar
situações de dor e tirar a concentração deste momento tão importante. A
narrativa a seguir ilustra situação semelhante e foi o episódio que
instigou o início da pesquisa sobre o assunto. Bendito seja este evento
que propiciou a tantas mulheres mundo afora a possibilidade de dar à
luz sem dor...
Logo após a Primeira Guerra Mundial, o médico-parteiro inglês
Dr. Dick Read, teve que assistir o trabalho de parto de uma
mulher pobre, numa choupana de Londres. Era grande moda na
época ministrar um pouco de “cheiro” às parturientes na hora da

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expulsão da criança; era o que se chama a anestesia “a la Reine”,
pois já tinha sido usada na própria rainha. Ao querer colocar a
máscara na parturiente, recusou esta o suposto alívio anestésico e,
por estar atarefado com o parto, somente depois dele terminado
pode o parteiro perguntar pelos motivos de ter rejeitado a
anestesia, tão desejada por todas as parturientes. A resposta foi:
"Não doeu; ou era pra doer, doutor?” (BEUTNER, 1962, p. 15).
O parto é uma experiência fisiológica natural que o corpo
feminino é capaz de passar sem gerar dor. Este fato certamente era mais
comum nas primeiras comunidades humanas. Em algum momento da
história, uma mulher sentiu dores, o que pode estar associado a vários
fatores: corpo muito jovem e despreparado, situações psicológicas
difíceis para aceitação da gravidez, pressão do cônjuge e familiares etc.
A partir do compartilhamento de experiências negativas as mulheres
esperavam com ansiedade o parto, o que baixava sua capacidade de
suprimir a dor e a levava realmente a vivenciar a dor. Quanto maior a
dor esperada, mais doloroso se tornava o processo. Assim as
experiências dolorosas foram se tornando predominantes a ponto de se
chegar a pensar na impossibilidade de dar à luz sem dor. As poucas
mulheres que não passavam pelas dores passaram a ser tidas como
felizes exceções, impossíveis de serem reproduzidas para as demais.
As primeiras experiências que conferiram à mulher a capacidade
de dar à luz sem dor adotando um método natural sistematicamente
investigado tiveram início em 1949 na Rússia, orientadas pelos
psiquiatras Velvoski e Platonov pelo em conjunto com os obstetras
Plotitcher e Chougom. A seguir, a partir de 1954 o método foi
difundido na França e no ocidente por intermédio de Fernand Lamaze e
de sua equipe, dentre eles Pierre Vellay (VELLAY, 1980). No Brasil
foram registradas algumas experiências localizadas, citadas a seguir.
Quanto ao Brasil, ficamos sabendo que o Dr. Schor estudou na
França com Lamaze e, em 1955, realizou em São Paulo as suas
primeiras experiências. Em São Paulo, temos ainda o Dr. Blay,
obstetra da Casa Maternal da Fundação Leonor de Barros, e o Dr.
Goldstein. Foram estes dois médicos que dirigiram o primeiro
curso na Maternidade Clara Basbaum... [...] Sabe-se também que
alguns médicos têm estagiado na Maternidade Clara Basbaum,
vindos de vários pontos do país, estão procurando divulgar o
método em seus Estados (PEREIRA, 1957, p. 6).

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Além das experiências citadas, há também a tese de doutorado
de Gerson de Barros Mascarenhas intitulada “O Parto sem Dor pelo
Método Psicoprofilático”. Também são registradas experiências mais
recentes ocorridas em Recife, conforme conta Laura de Souza Leão
Amorim em seu livro “Parto sem dor: minhas experiências”.
O método poderia ser mais a difundido, melhorando muito as
experiências positivas do parto e reduzindo significativamente o
número de cesáreas desnecessárias. No entanto, ele demanda pessoal
qualificado e esforços no trabalho de preparação. Além disso, ele é
pouco conhecido pelos médicos por não ser abordado na formação e ser
relativamente desacreditado; um dos motivos possivelmente é o fato da
medicina moderna estar centrada na realização de intervenções e uso de
medicamentos, voltada para o domínio dos processos. Os gastos
financeiros do método do parto sem dor são pequenos, pois não utiliza
medicamentos ou aparelhos especiais. Seria apenas necessário gastar na
organização de reuniões para as gestantes e com pessoal capacitado
para instruí-las, assim como preparar minimamente os espaços do parto.
A bibliografia disponível sobre o método é relativamente curta,
mas capaz de propiciar o aprendizado necessário para as mulheres que
desejarem passar por essa maravilhosa experiência. Eu por exemplo,
nunca tinha ouvido falar do método, e com a leitura atenta de apenas
um livro e seguindo suas instruções, fui capaz de dar à luz sem dor,
numa experiência maravilhosa. Ao final deste texto são enumerados
materiais consultados, a maioria livros disponíveis em lojas de usados
encontrados na internet. Quem dera pudéssemos divulgar os materiais e
experiências de parto sem dor a fim de que todas as mulheres que
desejam alcança-lo possam ter essa possibilidade.
Através da aplicação do método do parto é possível dar à luz
sem sentir dor alguma, ou vivenciando dores fracas e suportáveis. O
método baseia-se em dois fatores principais: a preparação mental
(através da substituição de reflexos condicionados negativos por
positivos) e a preparação física (que permite bom condicionamento
muscular através da realização de exercícios). Além disso, acrescenta-se
a adoção de postura ativa durante o parto, o que pode ser adquirida a
partir dos conhecimentos sobre o trabalho de parto (preparação mental),

5
permitindo saber como proceder em cada fase do nascimento
(preparação física).

2. As bases do método de preparação


para o parto
Minha mãe se assustou quando eu disse que queria ter um parto
natural. Após dar à luz a quatro filhos por parto normal, é de
pressupor que ela houvesse passado por experiências dolorosas e
terríveis, as quais não desejava para mim. Apesar das experiências
vividas por ela. Não tinha sequer um conselho útil que pudesse
contribuir para reduzir minha dor no parto, que seria inevitável...
Atitudes assim, longe de ajudar a gestante em sua preparação para o
parto, contribuem para criar ou reforçar reflexos condicionados
negativos, agravando a experiência dolorosa do parto...
As dores do parto são consideradas como parte essencial e
inevitável do processo de dar à luz, embora sentidas em graus diferentes
por cada mulher. Atualmente, muitas situações continuam tratando o
trabalho de parto como uma situação dolorosa:
 A Bíblia Sagrada enunciou após o pecado original que a mulher
iria passar por um processo doloroso associado ao dar à luz:
“Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com
dores...” (Gênesis 3, 16).
 A mãe, ao ser informada sobre a gravidez de uma filha, é tomada
por uma sensação que mistura alegria pela chegada de um neto e
apreensão pela filha que passará por um trabalho de parto,
retomando suas experiências dolorosas.
 Ao chegar ao hospital em trabalho de parto os enfermeiros e
médicos perguntam à parturiente, às vezes com semblante de
piedade: já está sentindo dor? Suas dores já estão fortes? Estou lhe
dando um medicamento para aumentar sua dor... Estão
aumentando? Qual a escala de sua dor, de 0 a 10? As dores ainda
estão suportáveis? Não se preocupe, logo as dores aumentarão...
Os conhecimentos e descobertas científicas, acrescidos das
experiências práticas na perspectiva do parto sem dor, trataram de

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possibilitar uma mudança das situações enunciadas acima. É consenso
entre os estudiosos e autores sobre o tema que
As funções do organismo quando são normais ou cumpridas
como devem, não são acompanhadas de sensações dolorosas;
estas denotam a presença de qualquer complicação; senão a
natureza se contraria a si própria porque associada a dor a tal
processo em vista de provocar uma reação de defesa e de
proteção contra o que lhe seria prejudicial. O nascimento normal
é uma função natural e deveria, por conseguinte, realizar-se sem
dores. [...] As dores são devido a reflexos condicionados
(negativos), contrariamente deflagrados por complexos
ideológicos ou afetivos errôneos (BEUTNER, 1962, p.102).
É possível dar à luz sem sentir dor, ou passando por uma
experiência de dor leve e suportável. A maior parte das mulheres poderá
se beneficiar amplamente desse método: cerca de 40% consegue dar à
luz sem nenhuma dor; em outras 45% as dores serão fracas, muito
reduzidas e apenas uma pequena parte, que se constituem como casos
anormais, sentirá as dores (de 12 a 15%) (VELLAY, p. 42-44).
Segundo experiências do médico George Beutner, as expectativas são
ainda melhores: 85 a 90% dos nascimentos preparados e acompanhados
foram realmente indolores (BEUTNER, 1962, p. 106).
A possibilidade de ter um parto sem dor baseia-se na construção
de reflexos condicionados positivos e no equilíbrio com a atuação do
córtex cerebral (que constituem a preparação mental), além da
preparação física, que serão tratados a seguir.

2.1. Reflexos condicionados positivos


As bases do método do parto sem dor estão assentadas
principalmente no trabalho de Pavlov, que estudou os reflexos
condicionados da dor, podendo ser aplicado à situação de dor no
momento do parto. Muitos dos livros sobre o assunto tratam de maneira
detalhada sobre a “teoria dos reflexos condicionados de Pavlov” na qual
se baseia a preparação mental para obter um parto sem dor. Serão
apresentadas aqui apenas as informações básicas pois não é essencial
compreender a teoria completa, mas apenas sua interferência no parto.
Quem desejar mais informações poderá obtê-las completas nos livros
indicados na bibliografia.

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Os reflexos são reações do corpo diante de algum estímulo.
Alguns reflexos são incondicionados (nascem conosco e funcionam
independente de nossa vontade), outros são reflexos condicionados (são
adquiridos a partir das experiências cotidianas). São exemplos de
reflexos incondicionados: o bebê chora ao sentir fome; puxamos a mão
quando queimamos no fogão etc. Já os reflexos condicionados, são
adquiridos no decorrer da vida, com as experiências práticas.
Dentre os reflexos condicionados, encontram-se os registros
negativos sobre a dor do parto. Desde que adquirimos algum
conhecimento sobre o trabalho de parto, o tomamos como um processo
doloroso. Tal informação é transmitida através das gerações e reforçada
pela passagem bíblica, pelo posicionamento dos médicos e
particularmente pelos depoimentos de partos difíceis e dolorosos de
nossas mães, amigas e outras pessoas sobre as quais já ouvimos falar.
Sobre o parto e a inevitabilidade da dor possuímos inúmeras
informações que evidenciam a dor como resultado de um “reflexo
condicionado doloroso advindo de registros negativos”.
A teoria dos reflexos condicionados de Pavlov demonstra que é
possível condicionar os reflexos de maneira consciente. É possível
condicionar, descondicionar e recondicionar os reflexos. Um exemplo
realizado por Pavlov em cachorros demonstra que é possível
recondicionar um reflexo de negativo em positivo; o mesmo ocorre no
ser humano na experiência do parto, que pode passar de dolorosa a
prazerosa.
Toda vez que mostrava um pedaço de carne a um cachorro,
aplicava-lhe forte choque elétrico, bastante doloroso. O cachorro,
de início, gritava. No fim de muitas repetições, no entanto,
começava a babar e abanar o rabo e a dar mostras de alegria e
satisfação, aplicando-lhe apenas o choque elétrico, mesmo sem
lhe oferecer carne (BEUTNER, 1962, p. 17).
Deparamo-nos diante de uma novidade maravilhosa trazida por
este método: É possível alterar os reflexos condicionados que
causam a dor do parto. Já que os reflexos que geram a dor do parto
provêm de informações e partilha de experiências negativas e dolorosas,
mudar esse reflexo para o procedimento de um parto sem dor requer
substituir a expectativa negativa por uma expectativa positiva. A

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primeira coisa a se fazer é acreditar que é possível dar à luz sem dor. É
necessário substituir a atmosfera de medo da dor por um ambiente
agradável de esperança e expectativa positiva sobre a chegada da
criança.
O reflexo condicionado negativo que gera a dor pode ser
substituído por um reflexo positivo. Para substituir os registros
negativos por positivos, é importante tentar esquecer o que se aprendeu
de ruim sobre o parto, as experiências dolorosas compartilhadas por
outros ou mesmo a experiência vivida de um parto com dor. Uma
possibilidade bastante eficaz para gerar registros positivos que gerem
reflexo de um parto sem dor é aprender e conversar sobre a geração da
vida, o desenvolvimento da criança no ventre e o processo de dar à luz.
É preciso ler e aprender que o parto é uma ação fisiológica
natural, típico das mulheres, que o corpo está se preparando para este
momento, que os tecidos adquirem elasticidade no momento da descida
e saída da criança no parto, que o corpo produz hormônios que
estimulam a expectativa da mãe de receber seu filho nos braços, etc.
Tudo o mais que se puder ler e conhecer sobre o parto como um
processo fisiológico natural é bem vindo para gerar registros positivos
sobre o dar à luz. No momento do parto a mulher deve estar carregada
de confiança e conhecimentos sobre sua capacidade de dar à luz.

2.2. Atuação do córtex cerebral


Outro importante aspecto sobre o qual está assentado o método
do parto sem dor é a atuação do córtex cerebral (responsável pela
identificação de sensações dolorosas) e seu equilíbrio com as funções
exercidas pelo corpo da mulher, especialmente as que atuam no
trabalho de parto. Tal equilíbrio é influenciado pelos reflexos
condicionados, daí a necessidade de recondicionar os reflexos,
alterando-os de negativos para positivos. O córtex cerebral possui uma
capacidade natural de reter a dor, podendo ser potencializado ou
enfraquecido dependendo da postura da mulher e de seus reflexos
condicionados positivos ou negativos. Vamos criar situações hipotéticas
para explicar a possível atuação do córtex cerebral, separando em
cenários.

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Cenário 1: a mulher adota uma postura neutra diante do parto,
não espera nada específico, demonstrando reflexos condicionados mais
ou menos neutros. O córtex cerebral tem uma capacidade enunciada
como valor 10, para inibir a dor que poderia advir do trabalho de parto.
À medida que o trabalho de parto progride, as contrações vão
aumentando para dilatar o colo do útero e proporcionar a saída da
criança, e esta situação gera, por exemplo, um impulso para a dor
avaliado com um valor de 5. A mulher não sabe nada sobre o parto e
não procede adequadamente e por isso aos poucos vai sentindo que as
contrações são um pouco dolorosas. A seguir a mulher sente medo do
que virá nas próximas contrações, reduzindo a capacidade do córtex
cerebral de conter a dor para 8. E as contrações tornam-se efetivamente
mais dolorosas, aliadas a falta de preparo e a respiração inadequada,
não produzindo o oxigênio necessário. Assim o processo do parto acaba
por estimular a sensação dolorosa, alcançando o valor 7. Rapidamente a
capacidade do córtex cerebral vai reduzindo, e a sensação da dor vai
aumentando. Gradativamente a mulher vai sentindo cada vez mais dor
até ultrapassar o nível suportável, quando, por exemplo, a capacidade
do córtex cerebral de reter a dor cai para 5 e a sensação dolorosa
alcança valores próximos a 10 ultrapassando o limiar da ausência de dor.
Cenário 2: a mulher carrega registros negativos de fatos
relatados ou de experiências de outras mulheres ou de si própria. Sendo
assim, o córtex cerebral já está automaticamente baixo no início do
trabalho de parto, por exemplo, 7. Tal situação, aliada a uma postura
inadequada durante as contrações, gera um processo doloroso, que
atinge, por exemplo, um grau 6 de dor. Neste caso, a mulher será
tomada, logo no início por uma experiência dolorosa e que se torna
insuportável antes de chegar ao final do processo do nascimento. E
quanto mais temerosa ela, está maiores e mais insuportáveis são as
dores. Situações como estas levam a mulher a gritar desesperadamente
e perder as forças, demandar ações dos médicos como uso de fórceps ou
o de analgésicos ou o próprio encaminhamento para o parto cirúrgico.
Cenário 3: este cenário representa o que ocorre com uma
mulher que se prepara para o parto através do método psicoprofilático.
Ela chega ao trabalho de parto carregada de expectativas positivas, seus

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reflexos negativos foram recondicionados em positivos. Ela vê o
trabalho de parto como um processo natural para o qual se sente
preparada. Automaticamente a capacidade do seu córtex cerebral de
suprimir a dor alcança o valor 10, por exemplo, mantendo-se neste
patamar. O processo fisiológico gera um valor de 5, como uma situação
natural. Mas a mulher sabe o que fazer em cada fase e como respirar
adequadamente. Aplicando as técnicas ela reduz para 2 ou 3 o estímulo
à dor proporcionado pelo trabalho de parto. Sendo assim, não chega a
sentir dor. E a cada contração sem dor, mais confiante ela se prepara
para a próxima, não sentindo dor em nenhum momento. A distância
entre a capacidade do córtex cerebral e o estímulo do trabalho de parto,
garante uma experiência maravilhosa ao dar à luz sem dor. Além de
possuir condicionamento de reflexos positivos também é importante
adotar uma postura ativa e respirar corretamente, para realimentar o
processo, mantendo o equilíbrio entre o córtex cerebral e o estímulo do
parto.
À medida que a mulher permanece confiante sobre o processo o
córtex cerebral mantém uma capacidade de identificar o trabalho de
parto como um ato fisiológico natural e não doloroso. No momento do
parto é importante garantir tudo o que for possível para que a mulher
mantenha-se confiante: o ambiente deve ser aconchegante e confortável
e inspirar segurança, o esposo ou alguém da família pode acompanha-la,
pode escutar música e se alimentar caso deseje etc. Aliado ao requisito
“registro positivo” serão trabalhados a seguir postura ativa da mulher no
trabalho de parto e respiração correta, que em conjunto, servirão para
mantê-la confiante durante todo o processo a fim de manter a
capacidade do córtex cerebral e promover a oxigenação necessária para
suprimir a possibilidade de sentir dor.
Se a mulher sente medo, insegurança ou pensa negativamente, o
córtex cerebral diminui sua capacidade de “anular” a dor, e
consequentemente, cada contração dolorosa gerará mais medo, que
levará a próxima a ser ainda mais dolorosa, podendo a mulher vivenciar
uma dor quase insuportável no processo de nascimento. Se ela se
desequilibrar por um momento, caindo na influência negativa, pode
recuperá-la no decorrer do parto por si mesma, ou incentivada pelo

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esposo, médico etc. É importante chegar ao parto com o
condicionamento de reflexos positivos nas também adotar uma postura
ativa e respirar corretamente, fatores que reduzem o estímulo à dor do
trabalho de parto e fortalecem a capacidade inibidora do córtex cerebral.

3. Requisitos para dar à luz sem dor


Aprendi a dar à luz sozinha. Dizer sozinha é pretensão, tive ajuda
de um livro. Aprendi lendo e praticando sem ajuda ou orientação
direta de ninguém. Li e reli até entender. Pratiquei os exercícios
quase todas as noites e algumas manhãs. Não contei para a médica
que o fazia. O ambiente do parto foi o cotidianamente usado pelas
mães que dão à luz de parto normal pelo SUS: uma sala de pré-
parto coletiva e posteriormente a sala de parto. As enfermeiras e
médica desconheciam o método, agiam como numa situação
cotidiana de parto doloroso, não sabiam que eu estava praticando
técnicas diferentes. Não tive ambiente especial nem equipe
preparada. Mas obtive todo o sucesso possível, podendo indicar
algumas pequenas falhas que espero ter a oportunidade de corrigir.
Alguns fatores são decisivos para se conseguir da à luz sem dor.
Algumas mulheres passaram pelo parto sem sentirem dor, mesmo sem
terem sido preparadas por este método. Isso porque, aplicaram
certamente estes procedimentos, consciente ou inconscientemente,
mesmo sem conhecê-los sistematicamente. Talvez guiadas pela própria
natureza, pelo amor vivido com o companheiro ou com a criança em
gestação... Não é indispensável adquirir todos os requisitos aqui citados,
mas quanto maior for a dedicação a eles, melhor será a chance de
sucesso.

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Segundo os autores, toda mulher é capaz de obter sucesso no
método do parto sem dor, mesmo que não realize o treinamento prévio,
desde que disponha de uma equipe preparada e capaz de instrui-la
corretamente no momento do parto (embora seja praticamente
impossível dispor desse tipo de ajuda). Mas agir como uma mulher
previdente, preparando-se adequadamente, é a melhor postura a ser
adotada, dando tudo de si, visando investir no sucesso do seu parto.
Esta postura pode ajudar a sentir segurança durante o processo de dar a
luz.

3.1. Bom condicionamento mental


Sobre o bom condicionamento mental foi esclarecido sobre a
teoria dos reflexos condicionados positivos ao tratar das bases do
método. Uma das chaves do método é estar psicologicamente preparada
para uma experiência de parto sem dor e espera-lo como se fosse a
única possibilidade. Se em algum momento perder essa condição
mental favorável e sentir dor, pode recupera-la e retomar as práticas que
suprimirão novamente a dor.
A seguir acrescenta-se de maneira sintética o que é preciso
cultivar para chegar ao trabalho de parto com um bom condicionamento
mental com sugestões do que fazer:
 Acima de tudo, acreditar que é possível dar à luz sem dor, mesmo que
muitos duvidem ou a questionem sobre sua crença;
 Ouvir ou ler testemunhos de quem viveu a experiência do parto como
algo maravilhoso, refletir sobre como a natureza é perfeita,
especialmente durante o processo de nascimento;
 Afastar-se de pessoas que tratam a gravidez como algo ruim e veem
de maneira negativa o processo do parto;
 Procurar se informar sobre o funcionamento do corpo feminino, como
ocorre a gravidez, admirando a beleza e perfeição da vida e o dom
divino de uma criança sendo gerada;
 Acompanhar passo a passo o desenvolvimento da criança, refletindo
sobre as alterações que ocorrem no seu corpo durante a gestação,
compreendendo os incômodos como situações passageiras e buscando
contorná-los;

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 Buscar compreender o processo do trabalho de parto como algo
natural, tentando visualizar o que acontece em cada fase;
 Refletir sobre o que vocês desejam para o parto, se quiser, elaborar um
plano de parto, buscando tornar a situação mais prazerosa possível;
 Conversar com o companheiro sobre o presente maravilhoso gerado
no amor de um pelo outro, conversar com a criança sobre o quanto ela
é amada desde sua concepção e esperada com alegria;
 Preparar-se com dedicação através da informação e da prática dos
exercícios orientados, acreditando que a preparação lhe possibilitará
viver e testemunhar a maravilhosa experiência de dar à luz.

3.2. Ambiente e equipe médica


O ambiente, numa situação ótima, deve ser o mais favorável
possível ao parto sem dor, dando à mulher segurança e familiaridade,
deixando-a à vontade. Mesmo quando não se trata de um ambiente tão
tranquilo como o de nossa própria casa, é possível levar coisas como
objetos e sons típicos que nos deem sensação positiva e de
familiaridade. E a presença de um acompanhante que transmita
tranquilidade contribui muito para um ambiente mais agradável.
No método de preparação para o parto sem dor como
preconizam os livros sobre o assunto, a equipe médica está preparada
para receber uma mulher em trabalho de parto e auxiliá-la na obtenção
de sucesso. Nos locais em que o parto sem dor é uma rotina
institucionalizada, a equipe é capaz de orientar a mulher no uso
adequado das técnicas de supressão da dor durante todo o trabalho de
parto. Eles sabem como conversar com ela para que seja motivada a
pensar positivamente no processo em curso, auxiliam com um ambiente
agradável, tranquilo e seguro, potencializam a atuação do córtex
cerebral na supressão da dor, atuando com o menor número possível de
intervenções artificiais, que em muitos casos são desnecessárias. A
própria equipe médica orienta a parturiente sobre como proceder
dependendo da fase em que ela se encontra, ajuda-a a adquirir um ritmo
favorável na respiração acelerada durante as contrações e relaxamento
durante todo o processo, orientam-na a fazer força corretamente no
período expulsivo etc.

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Apensar de não dispormos de equipes médicas preparadas para
esses procedimentos no Brasil. Mas isso não é um impedimento para
que a mulher possa ter um trabalho de parto sem dor, o que digo por
experiência própria. É possível conseguir “driblar” a estrutura
tradicional e a rotina dos partos dolorosos com uma disposição interior
de fazer diferente e uma postura correta e ativa.
Um dos fatores importantes a se adaptar é o modo como a
equipe médica trata do parto, supondo-o doloroso. Logo de início é
questionado à mulher sobre a intensidade de suas dores, e assim se dará
durante toda a dilatação. O ambiente parecerá que espera e deseja um
parto doloroso. A parturiente, no entanto, deve ignorá-lo e se concentrar
em seu trabalho. Se desejar responder algo, diga que não sente dores,
sente contrações, e informe se a força das contrações está aumentando
ou não. Se se sentir incomodada em excesso poderá pedir que parem de
lhe falar sobre a dor, pois em nada estão contribuindo com o processo.
Através da leitura e compreensão do processo fui capaz de dar à luz
sem dor, agindo do modo como havia aprendido, e não como a
equipe médica estava acostumada a proceder. Vinham me
perguntar sobre as dores, e como eu realmente não as sentia,
acabavam desistindo, embora estranhassem a situação e penso que
imaginavam que o parto não estaria transcorrendo bem na
dilatação. Ao final fui elogiada por todos pelo sucesso do parto,
mas eles nem sequer chegaram a saber sobre a adoção do método.
Arrependi-me de não tê-lo dito a fim de estimula-los a aprenderem
sobre o assunto e difundirem a experiência. Contei posteriormente
com a obstetra que acompanhou ou parto e sugeri a ela montar
grupos de mulheres para prepararem para o parto e compartilhar
experiências positivas.

3.3. Boa preparação através dos exercícios


Os exercícios orientados buscam atender a vários objetivos. O
primeiro deles é aprender sobre a importância da respiração na
oxigenação do corpo e preparar-se para aplicá-la no bom êxito do parto
sem dor. O segundo objetivo é preparar a musculatura que será utilizada
no decorrer do trabalho de parto. O terceiro objetivo é manter a mulher

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ocupada e concentrada durante o trabalho de parto a fim de
potencializar a atuação do córtex cerebral. Este último item corresponde
também à postura ativa que deve ser adotada pela mulher, definindo
suas preferências no momento do parto.
 Importância da respiração na oxigenação do útero e bom
êxito do parto
Os exercícios respiratórios servem também para
compreendermos a importância da oxigenação do corpo para o bom
êxito do parto sem dor. Os músculos uterinos que trabalham no parto
demandam intenso gasto de oxigênio advindo da respiração. Se não
obtiverem o oxigênio necessário, os músculos produzem ácido lático,
gerando sensações dolorosas que podem desencadear o desequilíbrio do
córtex cerebral e o aumento das dores. A boa oxigenação do corpo e do
útero é um dos fatores que muito contribuem para o bom êxito do parto
sem dor.
Para garantir o oxigênio necessário ao trabalho correto do útero
é preciso compreender como respirar durante as contrações, quando o
oxigênio é mais necessário para o útero e para o bebê. O exercício da
respiração rápida tem a função de preparar a mulher para aplicá-lo no
trabalho de parto, utilizando-os efetivamente durante as contrações. Não
seria justo que a mulher tomasse conhecimento deste tipo de respiração
e iniciasse sua prática somente no momento do parto. Chegar treinada
sobre como proceder confere muito mais confiança à parturiente. Se
houver necessidade a mulher pode solicitar balão de oxigênio para
auxiliar a respiração (ou a equipe médica pode oferecê-lo). Respirando
o ar normal o corpo absorverá apenas uma parte do oxigênio disponível,
e a quantidade pode ser maior se utilizar o oxigênio do hospital.
No período expulsivo o treino de respirar e prender a respiração
mantendo o ar preso para empurrar a criança para baixo, também
contribui para que a mulher seja mais eficiente ao fazer força,
concentrando-se e potencializando sua ação.
Ao desconhecer o método do parto sem dor, muitas mulheres,
além, de não saberem como respirar corretamente, gastam o precioso
oxigênio de maneira inadequada ao contrair o corpo durante as

16
contrações, gritar e ficar tensa, às vezes até parar de respirar. No parto
sem dor aprende-se a importância da oxigenação, como obter o
oxigênio através da respiração e como utilizá-lo de maneira otimizada
mantendo uma postura de relaxamento do corpo durante todo o
processo, sem consumir oxigênio desnecessariamente.
 Preparação da musculatura utilizada durante o trabalho de parto.
Comumente as mulheres chegam ao parto sem sequer imaginar
o que farão ao receber a instrução dos médicos sobre o momento em
que terá que “fazer força” durante o período expulsivo. O parto
demanda da mulher um gasto de energia considerável, se ela gastá-la de
maneira mais efetiva obterá melhores resultados. É também comum nos
orientarem de maneira errada sobre como fazer força, por não saberem
ao certo como nos ensinar no momento do parto.
É comum os médicos dizerem para fazer força como se
fôssemos fazer cocô. Tal instrução às vezes é a melhor que podem dar
no momento, mas não está correta. O esforço para fazer cocô utiliza os
músculos da parte baixa, não ajuda a criança a descer e sair, o que pode
acabar atrapalhando o parto e dificultando o nascimento, gerando
sensação de dor. Outras vezes a força é feita erradamente por não saber
exatamente como usar as barras onde nos fazem segurar. Forçamos as
mãos, os braços, o pescoço, saímos do parto com torcicolo e dores nas
costas e deixamos a desejar no processo de ajudar a criança a descer.
Outras vezes, por não conseguirmos fazer força corretamente,
anestesistas e enfermeiros pensam que estão nos auxiliando empurrando
a barriga pra baixo para fazerem a criança descer, fazendo com que
várias mulheres fiquem com manchas arroxeadas na barriga, além de
ser bastante desagradável. Tal procedimento tem sido considerado uma
das modalidades de violência obstétrica e pode e deve ser questionado e
impedido pela parturiente e acompanhante.
Como fazer força se não conseguem nos ensinar corretamente?
O que fazer com instruções que ao invés de ajudar, atrapalham o
trabalho de parto? Como aprender de modo eficiente no momento do
parto, cheio de pressão? Seria possível compreendermos com
antecedência os esforços que devemos realizar no parto? Dá para
exercitarmos os músculos que serão usados no esforço expulsivo do

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parto? É possível praticar como fazer força antes de chegar o momento?
A resposta a estes questionamentos é positiva e pode ser encontrada na
prática dos exercícios respiratórios que visa compreender como fazer
força, trabalhar e fortalecer os músculos utilizados e praticar o ato de
fazer força exatamente como devemos fazer no dia do parto.
Os músculos utilizados para fazer força na hora do parto serão
bem preparados e fortalecidos através dos exercícios respiratórios. Eles
são os músculos abdominais, que não utilizamos com frequência em
outras atividades. Treinar a respiração ajuda a tomar consciência dos
músculos utilizados e fortalece-os, além de promover oxigenação.
 Concentrar-se no parto para potencializar a ação do córtex cerebral
Um dos fatores que ajudam o equilíbrio positivo entre a ação do
córtex cerebral e as sensações uterinas é a atitude adotada pela mulher
de participar ativamente do seu trabalho de parto. É comum que as
mulheres se sintam frágeis neste momento e fiquem sem ação diante do
processo em curso no seu organismo. Algumas situações de abuso da
equipe médica como abandonar a mulher e usar de grosseria acontecem
devido à fragilidade em que se encontra, mas podem ser suprimidas
pela postura ativa da parturiente e pela presença de um acompanhante.
Muitas vezes a mulher adota uma atitude de entregar-se ao parto,
seja o que vier pela frente e segue sem titubear as orientações que lhe
são dadas. A melhor atitude, no entanto, é ainda diferente desta. O ideal
é saber o que esperar e agir em função de si mesma. Trata-se da própria
mulher, dotada de conhecimento sobre o processo que está em curso e
de confiança em seus conhecimentos e capacidades, ela mesma
direcionar o trabalho de parto. Isso não significa deixar de contar com o
apoio da equipe médica, mas abandonar uma atitude de passividade.
A mulher deve se manter em alerta e concentrada. Não deve
ignorar o que está lhe acontecendo e nem dormir, pois enquanto
mantém-se acordada e ativa o córtex cerebral atua suprimindo a
possibilidade de um parto doloroso. A mulher deve acompanhar o que
está acontecendo no seu corpo de maneira a contribuir com ele. A
atitude de relaxamento corporal e direcionamento da respiração
representam a ação da mulher durante o trabalho de parto. Ela deve

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estar preparada para dar à luz conhecendo o que vai acontecer e
adotando um posicionamento ativo.
Estive ativa durante todo o tempo do parto, prestando atenção ao
que sentia e praticando os exercícios desde o início das contrações.
Me lembrava de que as primeiras não eram dolorosas mas
pratiquei desde o começo para não errar no momento mais
necessário. Quando vinha a contração eu me concentrava, relaxava
o corpo e respirava. Não importasse quem estivesse por perto ou o
que estivesse fazendo. Me posicionava agradavelmente, parava a
conversa, largava o que estivesse segurando.... Foi assim que se
passaram tranquilamente as horas no período de dilatação e
cheguei ao final com ótima disposição e sem sentir dor. Na hora da
expulsão também fui ativa, me recordei dos exercícios e fui capaz
de fazer força corretamente e meu filho nasceu muito rápido.
A mulher também pode solicitar o que necessitar, manifestar
suas vontades e tomar decisões em todas as etapas do parto. Se precisar
ir ao banheiro, comer ou beber água, ajeitar-se na cama, sentir vontade
de caminhar, fazer exercícios, adotar posições não convencionais...
deve buscar atender suas necessidades e desejos. Não deve deixar de
solicitar algo ou manifestar-se contra algum procedimento, seja durante
o período de dilatação ou a expulsão da criança.
A médica me examinou e eu estava com dilatação total. Quando
vinha a contração ela queria me perguntar coisas sobre o meu
estado, para conscientemente me distrair da contração por pensar
ser um momento doloroso, que se eu não prestasse atenção iria
sentir menos dor. Senti que não era hora de responder, pois devia
me tornar ainda mais ativa neste momento. Concentrava-me no meu
trabalho de relaxar o corpo e respirar rápida e corretamente.
Dava-lhe as respostas quando a contração passava. Queriam que
eu caminhasse durante a contração, mas eu preferi me levantar
apenas ao final de uma das contrações. Fui transferida para a sala
de parto. O local era muito na horizontal. Pedi imediatamente que
levantassem a cabeceira, e não estando satisfeita pedi que
levantassem ainda mais. Senti vontade de beber água e pedi em alta
voz. A equipe se entreolhou e como ninguém se movimentou, a

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obstetra bradou: “alguém arrume água pra ela”, e arrumaram. Ao
compreender o meu papel ativo no parto, fui exercendo o que me
cabia e obtive grande sucesso. Fico muito feliz de ter podido saber
o que esperar em cada fase e mais ainda de saber o que fazer e
fazer corretamente. Gostei de ter me manifestado ativamente para
direcionar o meu trabalho de parto... Perguntaram-me se eu queria
que colocassem meu filho nos meus braços quando nascesse eu
disse “claro que sim”, e ele veio, bem mais rápido do que o
esperado...

3.4. Realizando exercícios preparatórios e de


respiração
O parto sem dor não significa parto sem esforço, ao contrário.
Demanda esforço e dedicação da mulher antes e durante o parto, assim
como no período em que toma conhecimento do método e realiza o
treinamento preparatório. A preparação pode se iniciar o quanto antes,
cuidando para que o início precoce não leve a mulher a estar
desestimulada no final do processo, preferencialmente no quinto ou
sexto mês de gestação. Durante o período de preparação deve-se
cultivar uma postura de dedicação e boa expectativa quanto ao
momento do parto. Acrescentam-se instruções úteis para este período:
 Dedicar-se a compreender o maravilhoso desenvolvimento da vida do
bebê no útero;
 Dedicar-se a compreender o método do parto sem dor e suas bases;
 Cultivar um ambiente favorável, de confiança nos ensinamentos do
método;
 Dedicar tempo e atenção na prática dos exercícios preparatórios;
 Esperar o parto como um fenômeno natural e um momento
maravilhoso, no qual se pode substituir a dor pelo prazer e alegria de
dar à luz;
 Aprender a identificar o início do trabalho de parto (rompimento da
bolsa, contrações regulares, perda de muco e sangue);
 Aprender e repassar o conhecimento sobre as fases do trabalho de
parto e informações sobre como proceder em cada uma.

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Os exercícios respiratórios dividem-se em dois grupos, os
primeiros contribuem para fortalecimento dos músculos, e os demais
são efetivamente utilizados no trabalho de parto (na dilatação e na saída
da criança). Eles deverão ser realizados com frequência e concentração.

I. Exercícios Preparatórios (devem ser feitos apenas


antes do parto)
Respiração profunda com sopro da vela: o objetivo desse
exercício é levar a mulher a tomar consciência dos seus músculos
abdominais que serão utilizados no parto, aprender a acioná-los e
fortalecer a musculatura. Também visa promover melhor oxigenação
através da expulsão do gás carbônico e inspiração de maior quantidade
de oxigênio. Deve ser praticado diariamente ao deitar durante 5 minutos,
em posição recostada e algumas vezes sentada. Este exercício é
dividido em 3 partes. Primeiramente deve-se inspirar profundamente
para encher os pulmões de ar e oxigenar o corpo, prestando atenção
como o músculo diafragma se estica e encosta sobre a parte de cima do
útero. A seguir, deixa-se o ar sair passivamente, sem esforço e observa-
se o diafragma encolhendo. A terceira etapa será a parte mais ativa,
denominada sopro da vela. Deve inclinar ligeiramente a cabeça para
frente e fazer força lentamente para que o resto do ar cheio de gás
carbônico saia dos pulmões. Pode-se fazer um biquinho e soprar
devagar como se quisesse assoprar a chama de uma vela que está a certa
distância, sem, no entanto apagá-la. O exercício se assemelha à ação de
acender um fogão à lenha. É de se surpreender com a quantidade de ar
que havia nos pulmões... Quando não houver mais ar para sair,
recomece o exercício enchendo os pulmões. Após estar treinada pode
acrescentar a este exercício uma atividade que lhe permitirá coordenar a
respiração aos movimentos de outros músculos. Neste caso, serão
acrescentados movimentos das mãos, com os braços esticados ao longo
do corpo. Quando inspirar mantenha as palmas das mãos para cima, ao
expirar vire-as para baixo. Essa atividade lhe permitirá treinar o
controle muscular de mais de uma parte do corpo ao mesmo tempo.
Testando os músculos pélvicos: este exercício não é somente
respiratório, mas exige concentração para a identificação dos músculos

21
pélvicos utilizados para urinar e evacuar. Deve fazê-lo em posição
recostada, respirar, prender a respiração e fazer força como se fosse
urinar. Depois fazer o mesmo como se fosse defecar. Esse exercício
servirá apenas para prestar atenção no esforço que não deve fazer na
hora do parto, pois utilizando estes músculos atrapalha a saída do bebê.
Ao invés de contrair esses músculos durante o período expulsivo do
parto, deve cuidar para que eles estejam o mais relaxado possível a fim
de facilitar a saída do bebê e reduzir a possibilidade de lacerações dos
músculos.

II. Exercícios aplicados durante o parto


Respiração acelerada: este exercício deve ser praticado a fim de
gerar aprendizado e domínio da técnica, pois será utilizado no período
de dilatação, o mais longo do trabalho de parto. Realizar o exercício
duas vezes ao dia, ao levantar e deitar, durante um minuto. No início do
trabalho de parto esse procedimento deve ser feito para dar segurança à
mulher e a dilatação estiver avançando ele será indispensável e
proporcionará o oxigênio necessário para o útero e o bebê. Para iniciar
este exercício deverá primeiro encher bem os pulmões e deixar o ar sair
passivamente. A seguir deve iniciar a respiração rápida, ao mesmo
tempo em que relaxa todo o corpo. Inspirar sem profundidade e soltar o
ar rapidamente. Se conseguir, inspire pelo nariz e expire pela boca
aceleradamente. Durante o exercício pode ocorrer sensação de tonteira
pelo excesso de oxigenação, o que pode ser reduzido ao diminuir a
velocidade da respiração. No momento do parto isso não ocorrerá, pois
o oxigênio estará sendo efetivamente utilizado pelo útero nas
contrações.

Respiração e treinamento sobre como fazer força durante o


período expulsivo: no período expulsivo a mulher deve ser capaz de
realizar amplo controle do seu corpo, respirando e prendendo a
respiração, contraindo alguns músculos e relaxando outros. Havendo
dilatação total do colo do útero a mulher sente vontade de fazer força
para saída da criança, são os chamados puxos. Quando for a hora de
efetivamente fazer força a respiração deve ser controlada de outra
maneira. Este exercício deve ser feito apenas uma vez por semana, para

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que se tome conhecimento dele e será praticado no período expulsivo
do parto. O objetivo é tomar consciência sobre como proceder para
fazer força no momento efetivo parto com antecedência para estar
segura quando realmente chegar o momento.
Deve-se inicialmente respirar fundo e soltar apenas um pouco do
ar, menos da metade. Prender a respiração, sentindo que o diafragma
encosta sobre a parte superior do útero servindo de apoio. A seguir,
elevar levemente a cabeça e fazer força com os músculos abdominais,
forçando-os para baixo para empurrar a criança. Ao mesmo tempo,
deve-se lembrar de relaxar a região do períneo (cujos músculos foram
testados nos exercícios de simular urinar e defecar). Perceber a pressão
exercida na parte de baixo ao contrair os músculos abdominais. Se o
exercício for feito com atenção a mulher será capaz de reproduzi-lo
com perfeição no período expulsivo. Isso possibilita um período
expulsivo mais curto em que “poucas forças” serão suficientes para
promover a saída da criança.
Ao utilizar o método do parto sem
dor a mulher quebra o ciclo de medo,
tensão e dor. A primeira coisa é não ter
medo, saber o que vai acontecer e como
proceder, impedindo de ficar tensa. Em
conjunto esses fatores levarão ao processo
não doloroso, mas prazeroso de dar à luz.

4. Conhecendo a gravidez e trabalho de parto


4.1. A gravidez
A concepção da criança acontece com a união do óvulo
feminino com o espermatozoide masculino. Pode ser que a fecundação
ocorra no mesmo dia da relação sexual ou dias depois, quando o óvulo é
liberado. A fecundação marca o início de uma nova vida que, embora
alojada no corpo da mãe e utilizando das reservas, se desenvolve
independente dela. A nova vida em formação já apresenta em seu DNA
boa parte do que será no futuro.

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A cada fase o desenvolvimento da criança vai se completando e
ela vai se tornando mais apta a sobreviver fora do útero materno. O
tempo de gravidez é normalmente contado em semanas, a partir da data
da última menstruação, por não se saber ao certo quando ocorreu a
concepção, estimando-se um intervalo de duas semanas da menstruação
à ovulação. Caso a mulher saiba quando houve a concepção poderá
contar 38 semanas de duração da gestação.
O par de células óvulo e espermatozoide da origem ao ovo, que
se desenvolve, multiplicando suas células diariamente. Cerca de 15 dias
após a fecundação tem início a formação do sistema nervoso da criança,
e com um mês, seu cérebro vai tomando forma. O embrião mede cerca
de 6 a 8 milímetros, tem a forma da cabeça esboçada e a marca dos
olhos que se formarão, também são esboçados os locais onde se
desenvolverão o coração e fígado. A formação dos braços e pernas será
iniciada na quinta semana. Durante a sétima semana forma-se o pescoço,
a cabeça é maior que o corpo, os olhos aparecem abertos por não ter
ainda pálpebras. O embrião já apresenta
movimentos fracos e desordenados e é capaz
de realizar movimentos de sucção e deglutição.
Com oito semanas de gestação é
possível ver o coração da criança batendo.
Nesta fase o embrião passa a ser chamado de
feto, por já ter totalmente aparência humana.
Se nascesse nesta data se poderia distinguir o
sexo e viveria por algum tempo fora do útero.
A partir daí ele irá aperfeiçoar sua formação,
crescendo e tornando os órgãos mais maduros

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e capazes de sobreviver sozinho fora do corpo da mãe (VELLAY, 1980,
p.62-78).

4.2. O início do trabalho de parto


Deixe uma bolsa separada com o que desejar levar para a
maternidade. Separe coisas para você e para o bebê, adequados à
estação do ano em que ocorrerá o parto e atendendo aos seus desejos e
necessidades. Elas podem conter: roupas confortáveis, utensílios de uso
pessoal (escova e pasta de dente, pente, sabonete etc), roupas e fraldas
para o bebê. Se desejar acrescente câmera fotográfica. Não esquecer os
documentos pessoais e um pouco de dinheiro caso precise comprar
alguma coisa. Quando tudo já está preparado, você fica mais tranquila e
não é tomada pela preocupação de não faltar nada que poderia desviar
sua concentração com os procedimentos a serem adotados no parto.
Além da data prevista para o nascimento da criança, preste
atenção aos sinais iniciais do trabalho de parto, para não se desgastar
indo desnecessariamente ao hospital em função de falsos sinais de que
chegou o momento. Dentre os conhecimentos importantes está a
identificação do início do trabalho de parto, que pode ser diferente em
cada mulher e cada gravidez. Saber o que esperar ajuda a ficar segura e
manter um condicionamento positivo.
O trabalho de parto pode se iniciar pelo rompimento da bolsa e
perda de líquido amniótico. É comum acontecer antes a perda do
tampão mucoso ou de sangue, indicando a abertura do colo do útero. O
líquido pode sair de uma vez, com a ruptura brusca da bolsa, molhando
o local onde a mulher se encontra. Ou pode haver rompimento pequeno,
vazando líquido aos poucos, principalmente quando faz xixi ou tosse. O
rompimento da bolsa não significa que o bebê já está saindo,
provavelmente levará ainda horas para o nascimento. É importante
prestar atenção ao tipo de líquido, pois se for escuro deve ir direto ao
hospital. Mas se for um líquido claro pode esperar um pouco em casa
descansando ou arrumando as últimas coisas. Após o rompimento da
bolsa as contrações em intervalos de tempo regulares tendem a aparecer,
tornando-se cada vez mais frequentes e fortes. Pode-se aguardar até 24h

25
após o rompimento da bolsa antes que o trabalho de parto com as
contrações se inicie, caso contrário alguma intervenção como a indução
do parto deve ser feita.
Outra possibilidade é que o trabalho de parto tenha início pela
intensificação e regularidade das contrações e a bolsa só venha a se
romper posteriormente, às vezes até de maneira artificial. Pode ser que
o trabalho de parto já esteja em curso e nem tenha sido percebido. À
medida que as contrações acontecem, o colo do útero vai se dilatando e
apagando, contribuindo para a descida da criança, que vai cada vez
mais comprimindo a parte baixa do útero e estimulando novas
contrações. No início as contrações são mais espaçadas e fracas, e com
o passar do tempo elas se tornam mais frequentes e fortes.
Quando iniciar o trabalho de parto não precisa necessariamente
se deslocar apressadamente ao hospital, pode organizar os últimos
preparativos e sair calmamente, pois possivelmente se passarão várias
horas antes da chegada do bebê. Desde o início deve-se praticar os
exercícios de relaxamento e respiração indicados a fim de obter um
período de dilatação sem dor e estar preparada para o momento em que
as contrações ficarão mais fortes.
Minha bolsa rompeu de madrugada, após as 3h. Senti um pouco de
líquido escorrer entre as pernas ao me virar na cama. Fui ao banheiro
e conferi que estava perdendo líquido claro aos poucos e que estava
próximo o momento de ter meu bebê nos braços. Mas também sabia
que não seria imediatamente, que teria tempo de voltar para a cama e
descansar um pouco mais; me levantar, ajeitar as últimas coisas que
faltavam, levar meu filho maior à escola, orientar os procedimentos
que a babá e a avó deveriam adotar... Foi o que fiz. Levantei-me um
pouco antes das 6h, às 7:30 liguei para a obstetra e dei entrada no
hospital por volta de 9h. O nascimento ocorreu às 12:33.

Como proceder no início do trabalho de parto


Logo que perceber que o trabalho de parto efetivamente se
iniciou a mulher deve seguir as seguintes instruções:
 Manter-se tranquila e com o uso pleno da razão;

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 Sentir-se ativa e positiva, e não se deixar levar pela situação,
ambiente desfavorável ou condicionamentos externos negativos;
 Comemorar a proximidade da chegada do bebê;
 Ter segurança sobre os sintomas do início do trabalho de parto;
 Concentrar-se na identificação da duração e intervalos das
contrações;
 Iniciar a prática das estratégias de respiração acelerada e
relaxamento do corpo;
 Deslocar-se tranquilamente para a maternidade ao término de uma
contração.

4.3. Dilatação
O período de dilatação costuma ser a etapa mais longa do
trabalho de parto. Ele se constitui como o tempo em que as contrações
regulares e gradativamente mais fortes irão levar à abertura do colo do
útero, até que seja possível a passagem da criança. A dilatação vai
aumentando até completar 10 centímetros, permitindo a descida e
passagem da criança.
As mulheres que dão à luz através de um parto natural doloroso
relatam que nas primeiras contrações sentem dores fracas, o que as
enche de medo quanto às próximas, que realmente são acompanhadas
pelo aumento da sensação dolorosa devido ao ciclo de tensão e medo.
Quando se adota o método de preparação para o parto a mulher aprende
a proceder desde as primeiras contrações, não havendo sensação de dor.
Quando assim percebem, mais seguras, dedicadas e treinadas se
preparam para as próximas contrações, que continuam se tornando mais
fortes, mas também não são dolorosas por adotar postura adequada de
oxigenação através da respiração e do relaxamento.

Como proceder na dilatação


O período de dilatação pode ser dividido em três fases. Em cada
uma delas deve-se proceder de uma forma diferente. É importante
conhecer o que ocorre em cada fase e o que fazer, para manter uma

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postura ativa em todos os momentos e dirigir o próprio parto conforme
vai percebendo sua evolução.
A primeira fase da dilatação é mais longa e define o início da
abertura do colo do útero, normalmente até os primeiros 3 centímetros.
Nesta fase as contrações serão mais espaçadas e fracas e não demandará
necessariamente o uso da respiração acelerada. Mas ela deve ser
praticada para que seja mantida a postura ativa e o córtex cerebral
permaneça suprimindo a possibilidade de sentir dor. Nesta fase a
mulher deve praticar a respiração acelerada, treinando para quando as
contrações de intensificarem. Deve identificar como cada contração se
inicia para começar a respirar aceleradamente antes mesmo da
contração começar. A cada sucesso na prática da respiração em evitar a
dor, melhor será a prática na próxima contração até chegar ao final da
dilatação. Neste primeiro estágio deve-se ter atenção às seguintes
instruções:
 Durante as contrações praticar o relaxamento muscular total e o
uso da respiração (superficial e acelerada);
 Tentar identificar os sinais que antecedem as contrações, para
iniciar a respiração antes da contração (movimento do útero ou do
bebê, aceleração dos batimentos cardíacos, verificação do
intervalo regular entre as contrações etc);
 Praticar a respiração profunda entre as contrações para oxigenar o
corpo, o útero e o bebê.
O segundo período da dilatação é mais rápido e possibilita a
abertura do colo do útero ir avançando até os 10 cm. Tendo praticado a
respiração acelerada na primeira fase, a mulher desempenhará muito
bem seu papel de respirar aceleradamente e relaxar os demais músculos
do corpo. A cada nova contração será demandada da mulher maior
concentração e dedicação, pois mais fortes e frequentes serão as
contrações. A dilatação evolui mais rapidamente nesta fase, pois o
corpo já estará treinado. Neste segundo estágio de dilatação deve-se
manter as práticas anteriores, acrescentando-se o seguinte: prestar
atenção para a mudança do tipo de contração, fato que indica o fim do
período de dilatação e o início da vontade de fazer força.

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A terceira fase é quando o colo já está dilatado, antecedendo o
período expulsivo, também chamado de período de transição. Esta fase
é relativamente curta e a mulher poderá sentir sintomas estranhos como
tremedeira, calafrios e dificuldade de movimentar, mas deve ficar
tranquila, pois em minutos isso passará. Deve também controlar a
vontade de fazer força respirando superficialmente para que o útero não
tenha apoio do diafragma, até que tenha certeza da dilatação completa
através do exame médico.
Desse o rompimento da bolsa comecei a praticar os ensinamentos
conjuntos de relaxar o corpo e respirar aceleradamente a cada contração.
Mesmo as primeiras contrações não sendo dolorosas, sentia que precisava
praticar desde o começo para não errar no momento mais necessário.
Quando vinha a contração eu me concentrava, relaxava o corpo e
respirava... e assim as horas do trabalho de parto pareceram minutos...
Apenas no final da dilatação senti um incômodo que não mais me permitia
ficar em pé ou sentada, acredito que tenha sido o momento de transição
entre a dilatação e o período expulsivo. Senti vontade de deitar-me e foi o
que fiz, posicionando-me de lado. O incômodo durou poucos minutos, pois
logo estava com dilatação total. No decorrer do processo fui me sentindo
dona do meu próprio parto... Sentia que sabia o que fazer, havia me
preparado, e o fazia corretamente. Quanto mais acertava, mais vontade
me dava de dedicar-me corretamente na próxima contração.

4.4. Período expulsivo


O período expulsivo é uma fase ativa e com menor duração do
trabalho de parto em que a mulher deve fazer força para a saída da
criança. Quanto mais treinada a mulher está, melhor será sua habilidade
em trazer a criança ao mundo e mais rápido isso acontecerá.
Para quem da à luz com dores, este é o período mais temido e
efetivamente o mais doloroso. É quando a mulher já está exausta pelas
contrações de dilatação e já passou por dores intensas. Vivenciará a
passagem da criança também de modo doloroso.
No entanto, no parto sem dor este momento é o mais
emocionante e interessante para a mulher, pois ela aplicará o que
aprendeu sobre como fazer força e sentirá a criança saindo e logo a
receberá nos braços.

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Como proceder durante o período expulsivo
No período expulsivo a mulher sente forte vontade de fazer
força através da contração dos músculos, os chamados puxos. Para
efetivamente fazer força para a descida e expulsão da criança deve se
concentrar na respiração, respirando profundamente, soltando apenas
um pouco do ar, prendendo a respiração e fazendo força com os
músculos abdominais treinados nos exercícios preparatórios. Deve
lembrar-se de relaxar os músculos do períneo para tornar o esforço mais
eficaz e diminuir o risco de ocorrerem lacerações.
É comum o medo da dor no momento da saída da criança e
algumas mulheres relatam sentir como que um círculo de fogo ao redor
da cabeça do bebê. No entanto, pelo método do parto sem dor também
não há o que temer nesta fase do parto. Primeiramente porque o corpo
feminino produz a relaxina e está preparado com a elasticidade
necessária para a passagem da criança. O segundo fator a considerar é
que neste momento se pratica o relaxamento da musculatura da parte
baixa facilitando a saída da criança, em sintonia com os músculos
uterinos e a força feita pela mulher com apoio do diafragma. O terceiro
fator diz respeito à redução da força quando a criança já estiver
empurrando o períneo para sair, que deve ser coordenada pela
parturiente, pois permite ajustamento lento da cabeça do bebê à
musculatura, atuando de certa maneira como uma estratégia de
anestesiar o local e reduzir também a ocorrência de lacerações.
No período expulsivo culmina o nascimento da criança e o
sucesso da mãe no processo de dar à luz prazerosamente e sem dor.
Nesta etapa ter atenção às seguintes orientações:
 Preparar-se para realizar esforços não demorados, mas intensos;
 Fazer força apenas quando as contrações vierem acompanhadas
desse desejo e após o médico certificar que tem dilatação total;
 Fazer força, de uma a duas vezes durante cada contração,
preferencialmente quando ela atingir maior força;
 Antes de fazer força, respirar profunda e rapidamente e soltar um
pouco o ar; a seguir prender a respiração mantendo olhos abertos;
 Ao fazer força duas sugestões são úteis: a) ao prender o ar após
respirar, levantar o queixo sobre o peito para mover os músculos
abdominais, ajudando-os a se posicionarem corretamente e b) ao

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fazer força abrir levemente os cotovelos e segurar nas alças
disponíveis para aumentar a curvatura do corpo;
 Quando cessar a contração, recostar-se e descansar, relaxando todo o
corpo, inspirando profundamente e com expiração prolongada;
 Se desejar usar máscara de oxigênio, que pode retirar ao expirar;
 Quando o bebê estiver quase saindo, na eminência de aparecer a
cabeça, deve parar de fazer força (movendo as costelas pra cima para
não apoiar o útero) e respirando entre normal e superficial.
 A criança sairá devagar: primeiro a cabeça, testa, olhos, nariz, boca,
queixo, a seguir os ombros e por fim o restante do corpo.
Após a saída da criança terá se completado com sucesso o parto
e chegado o grande presente por todo o esforço realizado. A seguir virá
o parto da placenta que acontecerá naturalmente e também sem dor.
O período expulsivo foi realmente interessante e incrivelmente rápido. No
início senti uns arrancos no corpo todo, como o impulso de vômito, de
maneira incontrolada, para os quais usei mal a respiração curta e rápida
para aliviar essas sensações. Quando vieram as contrações fiz força de
maneira coordenada umas três vezes e pronto, lá estava o meu pequeno. Na
primeira força que fiz, senti ele descendo por dentro e fui elogiada pela
equipe médica. Na segunda, senti ele empurrando o períneo e relutei parei,
pois achei que ia ser rápido demais. Na contração seguinte fiz força e ele
passou rápido. Tive lacerações leves, nem de longe comparadas a episiotomia
do parto anterior. Na última vez penso não deveria ter feito força, pois
relatam a saída lenta da criança, como que empurrada apenas pelo útero,
impedindo as lacerações. Também não consegui coordenar bem o
relaxamento da região do períneo. Espero ansiosa pela oportunidade de
transformar a experiência maravilhosa em perfeita da próxima vez...

Considerações Finais
Tendo compreendido as bases do método de preparação para o
parto, resta-nos ratificar que o método funciona e tem se tornado
realidade na vida de muitas parturientes que temos acompanhado.
Desejamos uma “boa hora” e muito sucesso a todas as que estão se
aproximando deste maravilhoso momento. Mantenho-me a disposição
para compartilhar experiências sobre o assunto.
Quem sabe também você também possa contribuir para a
divulgação do método relatando sua experiência...severinasarah@gmail.com

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Bibliografia

AMORIM, Laura de Souza Leão. Parto sem Dor: minhas experiências.


BEUTNER, Georg W. Parto Natural sem Dor. Rio de Janeiro: Fundo
Cultura, 1962.
ECONOMIDES, Achille. O Parto sem Dor. São Paulo: Artenova, 1977.
SCHOR, Hirsch. O que é o Parto sem Dor. Rio de Janeiro: Científica. 1970.
6ª ed.
PEREIRA, Maura de Senna. O parto sem dor. Rio de Janeiro: Org. Simões
Ed, 1957.
VANDER, A. Parto sem Dor: gravidez e parto fáceis sem... São Paulo:
MestreJou.1980.3ªed.
VELLAY, Pierre. Parto sem Dor: princípios, práticas e testemunho. SP:
Dif.Cultural, 1984. 5ª

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