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Fichamento

Texto: Filosofia do cotidiano escolar: por um diagnóstico do senso comum pedagógico


Autor: Cipriano Carlos Luckesi
Fichado por: Karolyne Lins

93 Em princípio [...], o dia-a-dia do educador escolar tem por base não uma
filosofia criticamente construída, mas sim um senso comum que foi
adquirido, ao longo do tempo, por acúmulo espontâneo de experiências ou
por introjeção acrítica de conceitos, valores e entendimentos vigentes e
dominantes no seu meio.

94 [...] A isso denominamos senso comum. São conceitos, significados e


valores que adquirimos espontaneamente, pela convivência, no ambiente
em que vivemos.

96 [...] o senso comum é um modo de compreender o mundo, constituído


acrítica e espontaneamente, que se traduz numa forma de organizar a
realidade, as ações diárias, as relações entre as pessoas, a vida como um
todo.

98 [...] não se busca um senso crítico do papel do educador no processo


educativo; não se exige do educador uma preparação adequada para o
exercício da docência, tanto do ponto de vista do compromisso político,
quanto do ponto de vista da competência técnica e científica, que ela exige.

98 [...] uma das características do educando que parece permear a prática


pedagógica é a de que ele é um ser passivo.[...] Em geral, os atos e
condutas dos professores dão a entender que eles querem que os alunos
sejam passivos, pois os ativos "dão trabalho", seja na disciplina
comportamental, seja na disciplina intelectual.

99 A segunda crença na qual se alicerça a prática pedagógica escolar é a de


que o educando é um ser dependente do educador: desde o que deve
aprender até o que deve responder.

99 Uma terceira forma do senso comum pedagógico é a de considerar que o


educando é um ser incapaz de criar. Ele tem que reter e repetir os
conhecimentos e não inventá-los.

100 Entre muitas outras características desse senso comum sobre o educando,
poderemos observar também que da ação dos professores se depreende
que o educando é um sujeito incapaz de julgamento sobre si mesmo e
sobre sua aprendizagem.

100 Professor e aluno, abordando juntos os resultados objetivos da


aprendizagem, podem formular juízos que servem para ambos e para a
melhoria do próprio processo de ensino e aprendizagem

100 [...] gostaríamos de lembrar ainda uma característica que, talvez, seja a raiz
de todas as anteriores: é a forma de considerar o educando como um
elemento isolado de tudo o mais que o cerca.

101 Há uma contradição entre essas condutas educacionais e aquilo que os


educadores dizem. [...] Só com a tomada de consciência desses elementos
do senso comum – e com sua superação – poderemos chegar a uma nova
compreensão do educando [...].

102 [...] Conhecimento é uma forma de entendimento da realidade; é a


compreensão inteligível daquilo que se passa na realidade. [...] o processo
de conhecimento é ativo. Não é uma retenção padronizada e acabada de
"lições"; ao contrário, é um processo de assimilação ativa dos
conhecimentos já estabelecidos e um processo de construção ativa de
novas compreensões da realidade.

103 Os conteúdos dos livros-textos não são os melhores e os mais corretos. [...]
ao nos basearmos no senso comum estabelecido sobre os conteúdos que
ensinamos, passamos a exigir que nossos alunos adquiram conhecimentos
errados da realidade. Se não errados, ao menos distorcidos.

103 [...] O senso comum pedagógico toma por verdade aquilo que é uma forma
de interpretar a realidade.

103 Não é porque muitos dos atuais conteúdos ensinados possuam desvios que
não se deva ensinar conteúdo algum. O que importa é recuperar o sentido
adequado dos conteúdos escolares e passar a trabalhar a partir deles.

104 Qual o significado do livro didático na prática pedagógica escolar? [...] tudo
o que está escrito nele se assume como verdade.

104 [...] o livro do professor traz, além daquilo que está contido no do aluno, as
respostas padronizadas às questões formuladas para o exercício dos
alunos. O professor deverá seguir as respostinhas dadas pelo autor do livro.
Se o aluno for um pouco além, ele terá uma conduta considerada
inadequada. Professor e aluno terão que se submeter aos ditames do livro
didático e, pois, do seu autor.

105 [...] o planejamento seria o momento decisivo sobre o que fazer; um


momento de definição política e científica da ação pedagógica, no caso da
educação. Não pode ser feito a partir do senso comum, mas,
exclusivamente, com senso crítico.

105 Não basta relacionar qualquer coisa num planejamento. Há necessidade de


estudar que procedimentos e que atividades possibilitarão, da melhor forma,
que nossos alunos atinjam o objetivo de aprender o melhor possível daquilo
que estamos pretendendo ensinar.

107 O senso comum interessa (e muito) à situação conservadora da sociedade


em que vivemos, em função de fato de que ele não possibilita o surgimento
de uma "massa crítica" de seres humanos pensantes e ativos na sociedade.
O senso comum é o meio fundamental para a proliferação da manipulação
das informações, das condutas e dos atos políticos e sociais dos dirigentes
e dos setores dominantes da sociedade.

107 [...] a prática educacional não poderia, nem deveria, de forma alguma, atuar
com base em elementos do senso comum, pois tem por objetivo formar
consciências [...] críticas, capazes de compreender, propor e agir em função
de novas perspectivas de vida.

Fonte: Luckesi, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação / Cipriano Carlos Luckesi. – São
Paulo: Cortez, 1994. – (Coleção magistério 2° grau. Série formação do professor)
Bibliografia. ISBN 85-249-0249-31. Educação – Filosofia I. Título. II. Série.

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