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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO OMBAKA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO


CURSO DE LINGUÍSTICA PORTUGUESA

ELABORADO POR: GRUPO Nº 06

DOCENTE
__________________________

BENGUELA, DEZEMBRO 2023


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO OMBAKA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE LINGUÍSTICA PORTUGUESA

Elementos do Grupo
 Adelino Evaristo
 Adelino Sala
 Elisa Kalandula
 António Dongua
 Isaac Adriano
 Isabel Luís
 Julieta Doroteia
 Manina Wado
3º Ano
Turma:
Período:
Disciplina: Introdução a administração
INTRODUÇÃO
A prática dos rituais ocorre desde os primórdios, a sua importância reside no seu
desenvolvimento e imposição silenciosa aos participantes, em sociedades simples ou
complexas. Sua aceitação e repetição é uma demonstração da própria necessidade de sua
existência, sendo que a polissêmica significação desses eventos pode ser explicada pelas
características, necessidades e evolução de cada sociedade.
Não se pode negar a eficácia do ritual para demonstrar sentimentos colectivos,
como símbolos míticos, ou determinadores de alguma essência religiosa. Sabe-se,
entretanto, que as crenças, ritos, rituais e cultos são efetivados e sentidos de diferentes
formas e contribuem essencialmente para a formação e educação das pessoas. Através
deles, elaboram-se conhecimentos, ampliam-se representações.
Na sociedade, o envolvimento com as intenções veladas das pessoas se dá pelos
símbolos que elas usam no seu cotidiano. O presente trabalho visa ilustrar um estudo de
caso realizado na aldeia de Tchindiandia I, Monte Belo-Bocoio.
MITOS
Os mitos podem ser entendidos como representações de verdades profundas da
mente, e as uniões deles em conjunto, de acordo com suas origens, formam as diversas
mitologias que conhecemos. A consciência humana afirma-se desde sua origem
como estrutura do universo.
Na antiguidade, o mito reina sem rival, pois é um tempo em que o mito
não é reconhecido como tal. Os mitos apresentam-se como possível explicação ou
interpretação da realidade e dos acontecimentos.
Para quem vive o mito, ele é a única história verdadeira, proposta numa linguagem
acessível à gênese do mundo, das coisas e do homem. Os mitos reproduzem ou repropõem
gestos criadores e significativos, que permanecem sustentando a realidade constituída.
A realidade mítica é sempre cósmica, porque todas as coisas propor
stas
constituem um cosmos. Não são objetos perdidos num todo desorde
nado. O cosmos mítico não é opaco e fixo em sua realidade ontológica. É um mundo
ordenado e vivo, transparente, harmonioso, festivo, mas, acima de tudo,
profundamente coeso em sua unidade. O mundo real apresentase sempre como
uma totalidade. A realidade é uma só, em sua consistência final.
O sobrenatural está presente na natureza, participando na constituição dos
fenômenos vividos ou admirados. Isto não significa que os homens fechassem os
olhos diante da realidade e dos fenômenos da natureza. Eles percebiam a
existência de fenômenos naturais, como a chuva, a tempestade, a maré, a
vegetação, a seca, a umidade, o vivo e o nãovivo, e percebiam igualmente a
relação que há na natureza, entre causa e efeito, bem como a diferença entre
condições favoráveis e desfavoráveis. Não possuem, porém, nenhuma razão para
refletir sobre as ligações entre fenômenos que se verificam sempre. Acontecem por
si, existem, aproveitase deles e isto basta.

Ritos, breves reflexões


O rito expressa um mito, encarnando-o. O mito é o coração do rito, sua estrutura
significativa. Rito e mito são duas faces de uma mesma realidade, essencialmente
humana.
Como afirma Stanley Krippner, criador do conceito de mitologia pessoal,
juntamente com Feinstein:
Em seu significado mais tradicional, um
mito é uma história ou crença organizadora que
inclui alguns princípios básicos, orientadores.
Para este autor, as mitologias culturais desempenhavam quatro funções:
 Ajudar os membros de uma comunidade a compreender e explicar a
natureza de um modo compreensível;
 Oferecer um modo de condução nas diversas etapas da existência;
 Estabelecer papéis sociais facilitadores nas relações pessoais congeniais
e satisfatórios padrões de trabalho.
 Permitir a participação do ser humano na maravilha e na perplexidade do
cosmos.
Para Frazer, um ritual é realizado, pela crença equivocada de que sua acção
provoca os efeitos desejados, pelo mago ou feiticeiro, numa relação linear causal.

O poder tradicional: natureza e legitimidade


As sociedades a que se reportam os chamados poderes tradicionais pela sua
diversidade não se pode falar de um poder tradicional, são sociedades linhageiras cuja
organização social é fundada no parentesco e cujo substracto filosófico-religioso se baseia
no culto dos antepassados. Em situações em que uma comunidade linhageira se impõe a
outras por via da anterioridade da ocupação do território e das alianças, que vai
estabelecendo, gera-se um poder político que é justificado como um privilégio herdado
dos antepassados da linhagem dominante. Isso favorece a criação de uma “classe”
aristocrática cujo poder político assenta no parentesco e na religião, como sistema de
representações jurídico-ideológicas, mas também nas relações económicas que se
estabelecem principalmente pela gestão do acesso à terra (facilitado aos membros da
linhagem dominante e seus aliados), pelo sistema de trocas a longa distância e pelo
pagamento dos tributos devidos pelas linhagens subalternas. O culto dos antepassados
constitui suporte do poder e é utilizado para conter reivindicações das gerações mais
jovens e com estatutos desiguais, ou dificultar ou impedir a mobilidade social.
No contexto actual de Angola o poder tradicional é um poder político anterior
ao poder de Estado, com suporte na organização social e no parentesco, não reconhecido
no plano jurídico e constitucional e cuja acção se faz sentir apenas a nível local.
As autoridades tradicionais situam-se a três níveis hierárquicos, como já se
referiu, e que oficialmente se traduzem hoje no regedor (ou soba grande), no soba e no
sekulu. Estas designações têm sido contestadas pelo facto de se impor na terminologia
oficial vocábulos de regiões sócio-culturais específicas. Por outro lado, os regedores
(sobas grandes) contestam a generalização da terminologia “autoridades tradicionais” na
medida em que isso não deixa transparecer a existência de níveis hierárquicos,
“nivelando-se o que não se deve nivelar” pois um soba grande “não pode fazer parte da
mesma reunião que um simples sekulu”. O que é certo, é que hoje existe um número
exorbitante de autoridades tradicionais.

ELOMBE (CORTE DO SOBADO ANGOLANO)


Segundo o estudo de campo realizado na aldeia de Tchindiandia I, Monte Belo-
Bocoio, o Elombe é a direcção do sobado ou seja, a constituição do sobado, o Elombe
também é o local onde se punem ou disciplinam as pessoas. Os que punem as pessoas no
Elombe são os que constituem o Elombe. O elombe pode ser:
 Elombe Lyakulu: a corte ou direcção do sobado onde se queixam os
problemas (Velombe)
 Pelombe: um lugar onde se passa ou se senta as pessoas geralmente por
debaixo de uma mulembeira ou uma mangueira é o lugar de tortura dos réus.

Hierarquia tradicional do sobado angolano


Daquilo que é a hierarquia até se chagar à regedoria está o seguinte:
1. Está na base o ondjango;
2. Está o elombe
3. Encontramos a regedoria
Regedoria

Elombe

Ondjango

ONDJANGO
O ondjango (ondjo yo hango): é a casa de conversação, dialogo, lugar onde dá-
se a iniciação, lugar onde faz-se a sentada. O Ondjango, é como se fosse uma esquadra
policial, a reportar o crime e fazer apurar no Ministério público a fim de garantir que o
problema vai no Elombe, decide-se primeiro no Ondjango como a casa de apuramento
dos factos que ocorreram numa determinada aldeia ou comunidade. (Tchivombe,
Secretario da aldeia)

ELOMBE
O elombe é uma instituição que recebe todos os problemas apurados vindo do
Ondjango. O elombe na sua comparação é como se fosse a polícia, ou seja, a polícia
tradicional de uma determinada povoação ou aldeia, esta polícia tradicional chama-se
“Okwendje Velombe”. O lesado ou a pessoa que remete a queixa de um problema seja
ele: roubo, adultério (Ukoy), luta que envolve morte ou não, e o problema que envolve
bruxaria (vinda a pessoa a morrer), o lesado se queixa na corte (Melombe) onde constam
os mais velhos que constituem o Elombe, estes mais velhos estarão reunidos no Ondjengo
a prior, afim de apurar o crime.
Assim, Vakwelombe os que mandam Elombe, ordenam aos Vankwendje
Velombe, quer dizer os sipaios ou polícia tradicional, julgar o criminoso ou réu. Todo
tipo de julgamento só acontece por todos os factos, problemas ou crimes apurados. Só há
julgamento por um crime apurado sem sombra de dúvida, como adultério (Ukoy), roubos
e factos que envolve a feitiçaria, estes casos entram no Elombe. Aqueles casos de menor
relevância como familiares e gatunos que roubam galinhas (Vakaminho Kólosandji),
ficam no Ondjango porque a corte ou Elombe fica em cima do Ondjango.
Aqueles que cometem, sentam numa cadeira desconfortada, que não se senta só
atoa, sentando nesta cadeira depois de alguns minutos, o criminoso sente algumas dores
nas nádegas, em outras palavras, digamos que é uma cadeira de punição (Omango
Yekangiso).
No elombe muitas vezes é conhecido como Tribunal, dentro do elombe se a
pessoa está negar o caso que lhe é acusado, não se faz adivinhas, mas sim chamam
testemunhas para prestar o depoimento e o reu tem que aceitar só, não dá mais para recuar
porque os factos já estão encaminhados no elombe e com provas.
Quando os casos chegam no elombe, ali quer dizer que o crime está consumado
e o processo está feito, o reu diante do juiz que é o soba neste caso e o reu por sua vez
tem os seus advogados, que normalmente cada família traz alguém que vai falar por ele,
o que queixou e o que foi queixado, neste julgamento o soba não vai decidir sozinho
porque os que constituem o elombe também participam e dão os seus subsídios dando
conta assim do erro do reú. O soba ouve todas as ideias e dá por sua vez a ultima palavra.

Constituição do sobado ou Elombe


1. Soma ou Soba
2. Epalanga Yasoma ou Soba adjunto
3. Seketa ou Secretário
4. Kesongo ou moderador/serimoniário
5. Tchimba omumbi la vanjimba anumbi ou conselheiro e os seus adjuntos

O lesado no elombe não deve esquecer que tem de levar consigo uma taxa ou
valor que varia dependendo do crime porque não se levanta atoa os mais velhos. Naquele
lugar (Pelombe) ordena o moderador (Kessongo) a estender e distender o julgamento, o
preço varia de 5.000.00 Cinco Mil Kwanzas) á 7.000.00 (Sete Mil Kwanzas) ou mais,
ambos os lados do ofendido e do criminoso, a titulo de exemplo, se for 5.000.00 os dois
lados têm de pagar 10.000.00, isto é, ao estender, e ao distender. Também os dois lados
entregam mais 10.000.00, que totaliza 20.000.00, incluindo aguardente como Kaporroto,
grades de cervejas e gasosas, dois ou mais garrafões de vinho, na presença do conselho
do soba ou do elombe (Vasekulu).
Quando o julgamento não sucede bem, o soba encaminha o caso á regedoria
como o elombe máximo, a regedoria por sua vez se desconseguir o caso, encaminha o
caso á policia.
Keongo
O Kesongo no elombe é o moderador, aquele que dirigi as palavras ao reú e ao
ofendido depois de pagarem o dinheiros, o crime estendido por ambos, o Kesongo
formula as questões a cada um deles, se as respostas não forem unanimes as testemunhas
ai têm a palavra e o soba como autoridade máxima dá a sentença ou a multa que varia
segundo o peso do crime cometido pelo reú, como por exemplo (boi, dinheiro, etc)
Na tortura do réu, envolve alguns instrumentos como:
 Cadeira desconfortáda;
 Ombala – uma concha que serve para bater;
 Um etapa – um ramo fresco e comprido de árvore;
 Olomwango – dois troncos colocados na cabeça do reu, um tronco em
cada lado da cabeça e amarrados
 Ikelo – cordas que servem para amarrar o criminoso.

O julgamento de um crime no elombe, faz-se oferenda como se fosse ao fazer


rituais nos locais sagrados como (Akokoto ou campa de um Sekulu), ou mais velhos, ou
ainda de um lugar ou entroncamento de caminhos onde se pousa a urna de qualquer pessoa
que morre. Neste caso há uma pessoa idónea com perguntas próprias depois de colocar a
urna entre os dois lados, materno e paterno, para saber onde a pessoa morreu e a urna
movimentava num dos lados. Este lugar chama-se epamba. Este lugar também podia ser
uma mulembeira. Quando a pessoa adoece de forma natural e vindo a morrer, a urna não
se mexia a nenhum lado, símbolo de que a pessoa morreu mesmo com a graça de Deus.
No elombe o soba pode aconselhar, como afirmar consciente Palisa “Camãle
clinga eti, ka kalingile eti mopye” ao conselheiro faltariam fundamentos para criticar
“ocili viso” por outro lado, “U kwendi laye ka kukutila ko epunda”.
Afirma ainda potisa que o poder é uma panela ao lume, que exige equilíbrio entre
as três pedras sobre as quais assenta.

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