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INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA DE GOIÁS - IFITEG

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA (BACHARELADO)


DISCIPLINA: FENOMENOLOGIA DA RELIGIÃO
PROFESSOR: Me. Hébert Vieira Barros
ACADÊMICO: José Arnóbio Almeida Leite
PROVA DO N1
Questão: Faça uma síntese dissertativa (conceitos basilares) descrevendo os
seguintes elementos que compõem o fenômeno religioso: sagrado, mito, rito e
símbolo citando os devidos autores estudados. Valor: 10,0 Nota:__________

O SAGRADO1

O sagrado é precipuamente uma compreensão especulativa daquilo que existe no


campo exclusivamente religioso. Consiste no elemento vivo que aparece em todas
as religiões, isto é, seu fundamento, sua essência, a parte mais íntima, da qual a
religião não pode prescindir. Rudolf Otto denomina a este elemento numinoso e o
classifica como uma categoria original, incomparável e sui generis de interpretação e
avaliação, que provoca um estado de alma, uma emoção, algo irracional no ser
humano que concebe um objeto por numinoso e passa a experimentar um
sentimento de ser criatura e de dependência. O tremendo se refere a vários tipos de
sentimento diante do mistério que faz tremer, se espalha pela alma e pode ser
compreendido por seus elementos: 1) tremor místico – o aspecto terrível e mais
primitivo do tremendo que envolve o medo mais inferior, i. é., terror ou pânico; 2)
majestas ou superioridade absoluta do poder – a consciência da inacessibilidade ao
sagrado e de dependência do mesmo geralmente aparece quando a característica
anterior foi superada; 3) orgé ou energia do numinoso – corresponde à qualidade do
numen que põe a alma em atividade, suscitando vida, paixão, excitação, êxtase,
impulsão, vivacidade, vontade, etc. O mistério é o elemento do sagrado que consiste
nos aspectos irracionais que possibilitam ao humano experimentar o sobrenatural
em sua existência terrena como base da experiencia religiosa. Caracteriza-se por
dois timbres: 1) O qualitativamente diferente – o mistério somente é mistério porque
nele o ser humano depara-se com o “totalmente outro”, infundindo no religioso o
tremendo; 2) O fascinante – o sagrado é algo atraente, cativante e isso forma uma
harmonia de contraste com o elemento distanciador do tremendo.
1
OTTO, Rudolf. O sagrado: um estudo do elemento não-racional na ideia do divino e a sua relação com o racional.
Tradução de Prócoro Velasques Filho. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista/ ciências da Religião, 1985, p. 11-31.
O MITO2
Mito, no sentido original do termo, representa uma historia verdadeira, uma revelação
primordial, uma tradição preciosa por seu timbre sagrado, seu modelo exemplar da
criação no princípio e de todas as atividades humanas, além de ter um valor religioso
e metafísico, quiçá comportamental já que normatizava as práticas profanas
individuais e coletividades na Antiguidade, às quais conferia, enfim, uma historia
primordial instauradora de sentido. Para aquelas sociedades, o mito era uma
instituição viva. Vale relatar aqui o fato de que o mito não seria uma fábula, que
significa história falseada a relatar acontecimentos que não interferiam com a
natureza humana.
O mito vivido funciona como uma verdadeira experiência religiosa na medida em que
foge do quotidiano ordinário e leva à comunicação com os entes sobrenaturais do
mundo transfigurado, e satisfaz a profundas necessidades religiosas, morais, sociais
e de trabalho cotidiano. Neste enfoque, o mito transmite os valores axiais, absolutos,
ou paradigmas recebidos dos ancestrais para guiar todas as atividades humanas,
conferindo-lhes uma existência sagrada, sempre reatualizada nos ritos, que nada
mais são que a repetição do fixo e duradouro no universo; trata-se de uma janela
transcendental que ao mesmo tempo não só abole o tempo profano e recupera o
tempo sagrado mas também permite ao homem se sentir presente no período
primordial, fazendo-o seguro de suas façanhas e sem dúvidas quanto aos resultados.
De certa forma o ritual permite a aplicação da linguagem do mundo que é formada
por símbolos, imprescindíveis para que o mundo deixe de ser uma massa amorfa
(caos) e se transforme no cosmo.
O mito revela a realidade primordial cujo conhecimento dá sentido aos ritos e à
moral e indica a forma de executar as atividades tal como os deuses as realizaram.
Esta coparticipação do homem deixa o mundo apreciável, inteligível, mais
confortável e explorável, quer dizer um mundo aberto sem deixar de ser misterioso
quanto à natureza ontológica original. E a comunicação do homem com o mundo
ocorre pela linguagem do símbolo.

2 a
ELIADE, Mircea. A Estrutura dos Mitos. Grandeza e Decadência dos Mitos. In: Mito e Realidade. Tradutor: Pola Civelli. 6
edição. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A, 1972, p. 7-23, 123-128.
O RITO3
O rito se constitui em um fenômeno social caracterizado por três aspectos inerentes a
seus atos: 1) contêm uma espécie de linguagem escondida, de aparência irracional,
que convida à decifração pela inquirição lógica da causa primeira, a qual até pode
estar num mito; 2) representam uma ação coletiva com desfechos na vida social, ao
que se chamam consequências reais; e 3) estão imbuídos de um intuito, que é um
objetivo de levar ao acatamento do ato cumprido.
Os ritos aparecem em todas as culturas, dentro das quais os crentes encontram uma
fundamentação e uma finalidade para suas práticas, ora julgados sem justificação
pelo descrente ora fúteis e inúteis para o homem moderno positivista. Podem indicar
o resquício de um culto primordial ou a tentativa de alcançar a luz na busca da
salvação ao revelar o misterioso da humanidade. Como ato individual ou coletivo, é
constituído por ações (palavras e gestos) repetitivos segundo regras invariáveis, que
em certas ocasiões comportam improvisos, embasadas no costume religioso e
garantidas pela efeitos úteis. Repetição e eficácia são as virtudes do rito,
continuidade é o seu princípio, por isso, para não perder seu valor, ele evolui de
forma lenta e imperceptível resguardando-se de mudanças bruscas, as quais só
ocorrem em uma revolução religiosa.
O rito surge da premência do homem em aceitar sua condição humana, que é o
conjunto das determinantes que se lhe impõem como condicionamento de suas
ações, limitando o campo de seu livre arbítrio ou de sua indeterminação. Neste
conflito de definir sua condição humana, o homem oscila em dois movimentos, ainda
sem encontrar uma terceira via de transposição que será exposta abaixo: tentativa de
se libertar das condicionantes ou, ao contrário, posição de se encerrar nelas. 10) ao
abandonar o poder para se fechar na sua condição estável, o numinoso é afastado
como impureza (superstição); 20) ao retomar o poder para renunciar àquela condição
estável e sem angústia, o numinoso é manejado como poder sobrenatural (ritos
mágicos) ; e 30) a via do excesso, da transposição, da sublimação, ao fundar a
condição humana definida e estável numa realidade transcendente, o numinoso é
apresentado como o caráter supra-humano do sagrado, vigente no cerne das
religiões. Em cerimônias rituais complexas, as quais englobam ritos elementares e
atualização do mito, é representado um episódio mítico.
3
CAZENEUVE, Jean. Situação do Rito na Vida Social; Natureza e Funções do Rito. In: Sociologia do Rito. Porto: Rés, s/d, p.
7-14; 23-33.
O SÍMBOLO4
O símbolo pode ser conceituado simplesmente como ”qualquer coisa que substitui e
evoca uma outra coisa”, de maneira que se verifica que o símbolo é constituído de
três elementos: o significante - como o objeto que toma o lugar da coisa a ser
substituída, o significado - como a coisa que é substituída, e a significação - como a
relação entre o significante e o significado apreendida e interpretada pelo interlocutor.
Um quarto elemento ainda se pode verificar, que é o código que define a relação
entre significado e significante, isto é, de significação para que os sujeitos a quem ele
se dirija o conheçam e possam compreendê-lo.
O homem é um animal racional e simbólico na medida em que possui a capacidade
de apreender e compreender a relação (rapport) entre o significante e o significado.
O simbolismo é um constructo da evolução biológica (se deve à lenta evolução de
órgãos e partes do corpo, sobremaneira do sistema nervoso central) e também social
pois o manejo do símbolo se dá pela interação social enquanto a sociedade se torna
sua depositária. Permite o domínio sobre o mundo de forma desproporcional à força
física, manipulando de maneira simbólica as realidades pelas palavras e pelos
conceitos.
Na ação social, o símbolo exerce duas funções essenciais: 1) comunicação, ao servir
para a transmissão de mensagens entre dois ou mais sujeitos; e 2) participação, ao
favorecer o sentimento e o modo de pertença à coletividade além de formalizar os
caracteres da organização social. Pela primeira, a função social do simbolismo ocorre
pela linguagem, tanto falada, que se utiliza de um arsenal de sons para compor as
palavras, quanto escrita, que são as mesmas palavras impressas; pode haver outras
formas como o código telegráfico, os sinais de semáforo, as placas com sinais, os
gestos, a posição do corpo, a mímica, sendo estes suplementares à linguagem para
a elaboração de conceitos pessoais e sociais que evocam uma realidade. Pela
segunda, o simbolismo influencia a ação social pela manutenção da ordem social
natural e pela solidariedade implicada e podem ser agrupados em quatro categorias:
a) os símbolos de solidariedade: bandeira, armas, hinos, cores nacionais, idioma,
comida, animal, árvore, figura pública ou típica, instituição, Constituição, etc.; b) os
símbolos da organização hierárquica: bairro, tipo de casa e de automóvel, escola dos
filhos, clubes e associações, vestuário, lazeres, férias, linguagem, local de trabalho e
suas instalações, etc.; c) os símbolos do passado: origens, história, evolução, marcos
historiográficos, vultos históricos, lugares de batalha, guerras, etc.; d) os símbolos
religiosos e mágicos: hábito e sotaina, ritos, sacramentos, vasos sagrados,
sortilégios, mandingas, etc.

4
ROCHER, Guy. O Simbolismo e a Ação Social; O Simbolismo: Função de Comunicação. In: Sociologia Geral I. Tradutor: Ana

Ravara. Lisboa: Ed. Presença, 1971, p. 155-182.

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