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A VISÃO MITOLÓGICA DO MUNDO

O que é um mito?
Antes da filosofia, todas as coisas eram explicadas por meio da crença em seres e forças
sobrenaturais que agiam sobre o mundo, governando os acontecimentos e o destino dos homens. As
crenças mitológicas e religiosas existem desde os tempos mais remotos. Os povos primitivos acreditavam
que as doenças, a morte os fenômenos naturais (tempestades, enchentes, secas, maremotos) e até mesmo
o destino das pessoas dependiam da vontade dos deuses. Procuravam, por isso, agir de modo a não lhes
provocar ira, para não serem por eles castigados. Assim sendo, tudo que acontecia de bom ou de ruim tinha
como explicação a vontade dos deuses. Por tudo isso, era também comum supor a existência de vários
deuses, cada um com um poder diferente.
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, dos homens, das
plantas, dos animais, do bem e do mal, da morte, das guerras, etc.). O mito narra a origem das coisas por
meio de forças sobrenaturais. Ele narra como seres sobrenaturais fizeram a realidade começar a existir. Aos
mitos que narram a origem dos deuses, damos o nome de teogonias (teo = deus; gonia = nascimento) e,
aos mitos que narram a origem do universo, chamamos cosmogonias (cosmos = mundo organizado; gonia
= nascimento).
Por meio do mito, o homem primitivo procurava entender o mundo, afugentar o medo e a
insegurança. O mito preenchia o desejo do homem de querer que as coisas acontecessem de forma que
pudesse satisfazer seus anseios e ambições. O objetivo do mito era fornecer aos homens uma resposta e
uma explicação satisfatória aos seus questionamentos acerca do mundo.
Às vezes é difícil distinguir os mitos das lendas e dos contos populares. Quando as histórias
explicam as origens das coisas e se acredita que elas tenham ocorrido num passado remoto (mítico), num
momento anterior ao próprio tempo, qualificam-se de mitos. As lendas, seja lá o que elas descrevem,
geralmente se referem e se situam no tempo histórico.

Uma visão mitológica do mundo


Existem perguntas que o ser humano tenta responder e não consegue. A mais antiga dessas
perguntas é: como é que as coisas surgiram? De que são feitas e como foram feitas as coisas que existem
no mundo?
Se investigarmos, poderemos descobrir, por exemplo, de que é feito e como surgiu o caderno que
temos em nossas mãos, a caneta, o lápis, as paredes da sala, a janela, etc. Todas essas coisas foram feitas
pelo homem que, como sabemos, aprendeu a criar objetos, transformando matéria prima que ele encontra
na natureza. Mas a própria natureza não foi criada pelo homem e, então, quem criou ou de onde surgiu a
natureza? Quem fez os homens, os animais, as plantas, o céu e o mar? Como e do que todas essas coisas
foram feitas?
Tentando responder a essas perguntas, ao longo da história, as pessoas passaram a desenvolver
uma série de teorias, baseadas na crença na existência de seres sobrenaturais. A ideia de que algum ser,
dono de uma inteligência superior, criou o mundo parece natural porque se nós, com a nossa inteligência,
podemos criar coisas e se não fomos nós que criamos o mundo, ele deve ter sido criado por um ser dotado
de inteligência superior a nossa. Mas que ser é esse? Como ele se originou? Onde ele se encontra? Por
que, do que e como ele fez o mundo?
Foi tentando responde a essas perguntas que surgiram os chamados mitos da criação.
Muitos povos formularam explicações sobre a origem do mundo. Alguns se referiram aos deuses
como seres criadores do mundo, outros entenderam que não houve um momento de criação porque o
universo sempre existiu; há ainda povos que desenvolveram a crença que deus é próprio universo e há,
ainda culturas que acreditam que o mundo surgiu com a morte de deus. O texto a seguir narra o surgimento
do universo a partir da morte do deus P’anKu. Essa é uma historia mítica do século III, que faz parte da
cultura chinesa; o outro texto refere-se à narração da criação do dia e da noite encontrada no livro de
Gênesis 1 : 1-5 (400 a.C) que é o mito da criação mais conhecido no mundo ocidental. Leia os dois e
compare-os:

TEXTO 1
A criação do mundo não terminou até que P’anKu morreu. Somente sua morte pôde aperfeiçoar o
universo: de seu crânio surgiu a abóbada do firmamento, e de sua pele a terra que cobre os campos; de
seus ossos vieram as pedras; de seu sangue, os rios e oceanos; de seu cabelo veio toda a vegetação. Sua
respiração se transformou em vento, sua voz em trovão; seu olho direito se transformou na Lua, seu olho
esquerdo, no Sol. De sua saliva e suor veio a chuva. E dos vermes que cobriam seu corpo surgiu a
humanidade.
(Gleiser, Marcelo.A dança do universo.São Paulo: companhia das letras, 1997, p.34.)
TEXTO 2
No princípio Deus criou o céu e a terra, porém estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do
abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse : Existia a luz. E a luz existiu. E Deus
viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou a luz de dia, e às trevas chamou de noite. E
fez-se tarde e manhã: o primeiro dia.
(Bíblia Sagrada, 47ª ed. São Paulo : edições paulinas, 1900)

Os gregos tinham uma visão mitológica para explicar a origem do mundo e do homem. Para eles,
todas as coisas aparentemente inexplicáveis eram sobrenaturais e decorrentes da ação dos deuses.
Ao longo dos séculos, os gregos foram repassando para as gerações mais novas a história de seus
deuses e de seus heróis. Contudo, com o surgimento da filosofia, a mitologia foi bastante criticada pelos
filósofos, que viam os deuses e os heróis como sendo frutos da imaginação do homem.
Por volta do século VI a.C, o mundo grego passou por um fabuloso desenvolvimento cultural. Muitas
cidades foram fundadas. A democracia atingiu o seu ponto máximo.
Os filósofos, a partir da explicação filosófica, tentaram provar que as explicações mitológicas não
eram confiáveis.
Os homens passaram a formular suas questões acerca da realidade sem ter de recorrer aos mitos e
passaram a construir um pensamento baseado na experiência e na razão.

(GADELHA, P. e NOGUEIRA, N. Filosofia, investigando o pensar. Ed. Jovem, Fortaleza, 2009. pg. 24-26)

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