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Maringá-PR
2021
Resumo
O trabalho acadêmico aborda como o homem saiu de sua condição animal através da
abstração usando sua capacidade intelectual, salientando como essa capacidade que nos
diferencia dos demais seres foi determinante para a sobrevivência da espécie humana. Do
mesmo modo que enfatiza que a vida não é natural, portanto, para ter é preciso criar, e para
isso presume conhecimento. Pieper irá ressaltar a importância da tradição para a interpretação
da realidade, e como a tradição teológica é levada em conta na reflexão que o filósofo vai
formular. Jaeger apresentará o conceito de Paidéia grega, sendo um projeto educativo para
formar o homem grego, em outras palavras, formar o homem como ser político voltado a
viver em comunidade. Platão aponta a magnitude de deixar o mundo sensível abandonando as
sensações, o sentimento e os prazeres, para adentrar o mundo inteligível, permitindo que a
sabedoria se sobressaia tornando assim, cidadãos éticos, morais e justos. Além de suceder as
ideias de Platão nos conteúdos sobre o conhecimento, as formas de governo, o homem
político, e a alma, Aristóteles acrescentará como alcançar a felicidade, sendo o objetivo
humano alcançar a eudaimonia. Ao final do texto, há a relação através de obras
cinematográficas e um artigo conceituado, com as situações atuais enfrentadas no sistema de
educação e ensino do Brasil.
Introdução
A filosofia nasce com a criação dos Deuses por meio da abstração Humana, desse
modo, antes da existência de qualquer filosofia, é dada ao homem, “desde sempre”, uma
interpretação da realidade como um todo sob a forma de uma tradição. Para filosofar é
necessário abstrair saindo de sua condição animal, e, tudo o que o homem faz é um acidente
mesmo pensando antes de agir, assim dizendo que qualquer ato de um ser humano age sobre o
outro. E a educação deve pressupor a capacidade de abstração e só através disso o ser
humano poderá agir pelo próprio pensamento, logo a educação pertence por essência a
sociedade.
O papel da filosofia na relação do surgimento de um projeto educativo para formação do
homem grego, e a capacidade política do homem pensada nas polis cria uma reflexão sobre a
capacidade de abstração e o desenvolvimento da alma intelectiva, para isso, a educação
exercerá um papel fundamental. Essa reflexão será apoiada nas obras: “Tradição, Filosofia e
Teologia” de Joseph Pieper, “PAIDÉIA: A Formação do Homem Grego” de Werner Jaeger,
“Fédon” e “A República” de Platão, “Ética a Nicômaco” de Aristóteles, “O dualismo perverso
da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento
social para os pobres” de José Carlos Libâneo, o filme de curta metragem “Ilha das Flores” de
Jorge Furtado, a alegoria de “Como se capturam porcos selvagens”, o filme “A Guerra do
Fogo” de 1981 na direção de Jean-Jacques Annaud.
Tendo isso em vista, percebe-se que essa condição não os deixava pensar e agir com sua
própria mente tornando-os “deficientes” intelectualmente e presos no mundo sensível
(ARISTÓTELES, A Alma. L. II, c. 5, 418 a 3 – 6), consequentemente tornaram-se
dependentes desse modo de vida. Só foi possível alcançar a liberdade quando eles se
desprenderam do comodismo e perceberam que a vida era muito além daquilo que
presenciaram na zona de conforto. E quando finalmente conseguiram mudar seus modos,
passaram a agir e pensar com sua própria mente, sem influências externas, suas almas
tornaram-se livres e sábias.
A filosofia política, quer dizer sobre o quão bom o homem é, e em qual posição ou qual
altura de comando ele está com a sociedade. A comunidade é composta por uma única
associação que se faz por pessoas que são independentes de concepção. Com isso, a sociedade
queria falar qual era o jeito e a maneira para o ser humano viver. Para Platão todas as pessoas
têm a capacidade de serem políticos e todos deve estar unido nesse meio, se todos realizassem
da melhor maneira possível o seu dever na comunidade e tivessem boa gestão ao ponto de não
existir desigualdade social, alcançar-se-ia a ideia de cidade perfeita, e chegaria ao bem-
comum e a felicidade. A má gestão de alguns homens faz com que a injustiça proliferar entre
a sociedade, para Platão o dever da política é corrigir essa injustiça pois ele acredita que a
justiça nada mais é do que a união entre as quatros virtudes: A moderação (coloca equilíbrio
as vontades e o poder de realizá-las), a coragem (é a atitude firme sem hesitação, sem temor
ou sem fraqueza no enfrentamento de situações emocionalmente difíceis ou perigosas), a
sabedoria (a maior das virtudes, conjunto de conhecimentos que consiste a própria essência da
alma) e a própria justiça (virtude fundamental que deve ser comum a todos, é a justiça que faz
com que todos os direitos sejam respeitados). Platão seguia cinco formas de governo, entre
elas estão: Aristocracia: governo de uma classe privilegiada. Timocracia: governo dos ricos.
Oligarquia: governo de um pequeno grupo. Tirania: governo injusto e cruel e às vezes
ilegítimo e a democracia, governo do povo. Como ilustra a tabela a seguir:
FORMAS DE GOVERNO
Critérios de Valor
Boas Corrompidas
Critérios de Um Monarquia Tirania
números Poucos Aristocracia Oligarquia
Muitos Politeia Democracia
CLARAVAL, Bernardo. De.in: TOUCHARD, Jean. História das ideias políticas. Lisboa Europa-America,1970, p 81. V. 2,
disponível em Filosofando: introdução a filosofia, P.260. Editora: Moderna. 6° edição. São Paulo, 2016.
Portanto, Platão acreditava que a melhor forma para governar e atingir a cidade perfeita
seria a aristocracia. Onde os governantes tinham que ser definidos pela sabedoria.
Zoon Politikon (Animal Político) é uma expressão utilizada pelo filósofo grego
Aristóteles de Estagira (384 a.C.–322 a.C.), o próprio diz: " o homem é por natureza um
animal político, pois ninguém escolheria sobre a posse de um mundo inteiro viver só, já que o
homem é um ser político e estar em sua natureza viver em sociedade." Desse modo, o objetivo
da vida política é fazer com que os cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações, com a
tendência natural para viver em sociedade e ter uma vida digna. A ciência política pensa pela
razão das particularidades da vida humana em sua autonomia, isto é, todo cidadão exerce uma
função política, e até quando decide não participar, é uma decisão política, visto que toda ação
do homem interfere sobre o outro, porque vivemos em sociedade. E sobre todas as
comunidades que o homem vive, a Polis tem o objetivo de garantir ao homem o viver bem,
enquanto todos que habitam nela devem viver com o objetivo de formar uma cidade com
excelência, para isso todos devem cumprir sua função utilizando-se da virtude, da ética e
moral. E, portanto, praticando dessa forma o sumo bem, levando a Polis a ser justa, já que
aquele que governa deve ser dos mais justos e virtuosos, tendo em vista que a alma intelectiva
deve dominar a vegetativa e sensitiva. Sendo assim, para governar até a si próprio é
necessário o desenvolvimento da alma intelectiva, ser justo e virtuoso, pois só tem a moral
aquele que governa a si mesmo.
Platão (c.428-347 a.C.) em sua teoria do conhecimento costumava citar alegorias e
mitos, com intuito de preparar seus discípulos e ouvintes para a exposição abstrata de suas
ideias. Na alegoria da caverna pessoas acorrentadas durante toda a sua vida, enxergando
sombras nas paredes acreditando que aquela é a realidade, no entanto se um dos indivíduos se
você soltasse das correntes, saísse para ver a luz verdadeira e voltasse seus antigos
companheiros alternar iam por louco e não acreditar em suas palavras. Conclui-se que com
essa alegoria, Platão demonstra as etapas da educação, aquele que saiu deve voltar para a
caverna e mostrar o conhecimento aos homens presos e orientá-los a assumir seus lugares
políticos na Polis. Como descreve a tabela abaixo:
DUALISMO PLATÔNICO
O Mundo Sensível Baseia-se na imagem material da ideia, tal
imagem é vista pelos sentidos do corpo.
O Mundo das Ideias É alcançado pela dialética, nele contém a
verdade que é adquirida através do
conhecimento.
Para Platão só é possível alcançar o mundo das ideias se abandonar os sentidos do corpo
humano, pois a abração acontece somente por conta da alma.
A Ética a Nicômaco funciona como manual de instrução para uma vida virtuosa e feliz,
para iniciar o caminho da virtude é ser instruído e ouvinte do conhecimento. A ética em sua
essência é o ato de agir com humanistas, deve-se viver com eudaimonia baseando na
plenitude da vida após alcançar a virtude, e a felicidade que é uma dádiva divina tal atividade
virtuosa da alma pertence a uma certa espécie (humana), além disso o que nos diferencia das
outras espécies é a capacidade de ter controle sobre as nossas ações através do pensamento.
Os meios para felicidade são a amizade, família, dinheiro, Deus e estudos. Entretanto, essas
coisas não são a felicidade e sim meios para alcançar a eudaimonia, para percorrer esse
caminho deve ser adquiri experiência através da prática e usá-la com excelência, desse modo
não é o mais virtuoso aquele que está morto só porquê não poder ser atingido por males e
importunos, por pouco menos o mais próspero que ainda sofrerá importunos.
Tudo o que fazemos tem um bem ou o sumo bem, sendo o bem algo relativo que
beneficia a quem o pratica, todo conhecimento e trabalho visa algum bem. Aquele que tem o
objetivo de ciência política e visa alcançar a razão por meio da verdade e beneficia a todos é
conhecido como sumo bem. Para pensar ética é necessário pensar primeiramente o hábito, ou
seja, a maneira que agimos constantemente, tal qual somos propícios a ter mais hábitos ruins
do que bons, a medida em que deixamos nossa alma vegetativa ou sensitiva prevalecer a cima
do nosso intelecto, contudo é necessário desenvolver a moral e a alma intelectiva para fazer o
desenvolvimento dos bons hábitos.
O homem deve alcançar a aretê (excelência) e se elevar ao mais alto nível do bem,
sendo esse bem a própria felicidade, que consiste da atividade da alma com as 4 principais
virtudes: sabedoria, temperança, coragem e prudência, tais virtudes são aprendidas por meio
da educação que é relevante porque é nela que se desenvolve a alma intelectiva, desse
modo criando então através do conhecimento a capacidade de abstração. Visto que por
Aristóteles a educação deve se basear na alma, ética e virtude.
Platão considerava a educação como a mais nobre das ciências, e tinha ela como um dos
principais pilares básicos para a formação do indivíduo, junto com a política e a ética.
Segundo ele, era preciso educar os homens para que fossem capazes de controlar seus
sentimentos e desejos e ouvirem a sua razão. Pois dessa forma, se tornariam cidadãos ativos e
com capacidade de argumentação. Essências para a formação de uma sociedade política e
eticamente justa, sendo esse, de acordo com Platão, a fundação da educação. Por conta disso,
Platão foi considerado o primeiro pedagogo, e tinha como crença que toda virtude é
conhecimento, capaz de nos fazer controlar e treinar os sentimentos, e que esta deve
prosseguir pela vida inteira.
“A educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil
e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter visão,
pois já a tem, mas, uma vez que não está na posição correta e não olha para
onde deve, dar-lhe os meios para isso”. (PLATÃO, A República, p.321).
Pois, assim como é retratado na alegoria da caverna, a educação nos permite despertar
do estado letárgico, sair da zona de conforto e partir para o estado da razão e inteligência,
sendo essa, condição necessária para criação de um novo cidadão.
Segundo Jaeger (1994, p. 1-20), a prática da educação, que vem com um grau de
desenvolvimento, que gera uma mudança consciente nos indivíduos, que eleva sua capacidade
a um nível superior onde o espírito humano descobre a si mesmo e adquiri conhecimentos do
mundo, criando formas melhores para a existência humana. A educação grega é totalmente
para o bem comum, como já foi trazido outras vezes, a educação pertence por essência à
comunidade, onde cada membro forma o caráter da comunidade, sendo a educação o
resultado da consciência da norma que rege a comunidade, e essas normas unem todos os
membros.
A filosofia foi criação do espírito grego, nela se encontra a força de pensamento da arte
grega, a razão e o intuitivo que apreende o objeto como um todo na sua “ideia”, e a percepção
da ordem permanente estando no fundo de todos os acontecimentos e mudanças da natureza e
da vida humana.
Para os gregos a educação é essencial para sociedade, e forma o indivíduo para ser um
Homem político que participa da vida em comunidade, sabendo seus direitos e deveres,
valorizando a sua capacidade intelectiva. “Dissemos que a importância universal dos Gregos
como educadores deriva da sua nova concepção do lugar do indivíduo na sociedade”
(JAEGER, 1994, p. 09). Com a Paidéia o homem atinge o “sumo bem” (ARISTÓTELES,
Ética a Nicômaco. L. I, c. 2, § 20) através da sua capacidade intelectiva e realizando o bem
comum, através do seu papel como Homem político.
Aurélio Agostinho de Hipona (354 d.C. - 430 d.C.), apresentou a importância do orador:
Agostinho se refere ao orador cristão, pois é de dever do mesmo ler os textos sagrados e
interpretá-los para ensinar os religiosos dentro da igreja, utilizando suas capacidades de
argumentação, sabedoria e retórica para refutar a mentira e defender a verdade. Desse modo
os fundamentos de Agostinho indubitavelmente servem também para o professor, já que é de
sua responsabilidade repassar os conhecimentos para os alunos, além disso é fundamental que
esse professor acredite na capacidade intelectual dos seus alunos e ajudá-los no
desenvolvimento dessa capacidade. Se sabe a verdade e não o diz e não a defende, então falha
miseravelmente na sua função.
Ser professor é muito mais que exercer uma profissão, dar aulas e aplicar exames, esse
profissional é de suma importância para a formação integral do homem, e precisa ir muito
mais além. Nessa perspectiva, o filme “Escritores da Liberdade” (2007) é baseado em uma
história real e retrata a experiência da professora Erin Gruwell numa escola de Los Angeles
EUA após entrar em vigor o programa de integração que visava a inclusão de minorias
periféricas. Isso despertou nela muito interesse, no entanto, diversos professores e membros
da diretoria daquela unidade escolar, não aceitavam o programa e passaram a culpabilizá-lo
pela decadência do nível de ensino da escola, tirando de si a responsabilidade de transmitir o
conhecimento. A obra retrata de forma bem explícita como os professores desacreditam das
potencialidades da turma, cultivando o pensamento preconceituoso de que não adianta cobrar
muitos conteúdos pois eles não têm capacidade intelectiva para compreender e aprender,
então bastava apenas passar e ler resumos dos livros. Este longa levanta o questionamento
sobre qual o real papel do professor na sociedade, e principalmente como deve agir perante
comunidades marcadas pela violência, desestruturação familiar, desigualdade social, e
descrença no futuro, esses alunos além do conteúdo didático compatível com o nível escolar,
necessitam da criação de vínculos sociais em sala de aula, precisam mais que tudo, de uma
referência.
(Percentual de disciplinas que são ministradas por professores com formação superior de licenciatura (ou equivalente) na
mesma área da disciplina (grupo1 do indicador de adequação da formação docente) nos anos finais do ensino fundamental e
ensino médio, por município - Brasil - 2020. Fonte: Elaborado por Deed/ Inep com base nos dados do censo escolar.)
Acesso em:http://inep.gov.br/informacao-da-publicacao//asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/6993024
Seguindo esse mesmo raciocínio, o filme “Pro dia nascer feliz” (2005) retrata esse
dualismo de maneira nítida quando expõe o cotidiano escolar de unidades públicas e privadas
de 3 estados diferentes, e destacando a escola do conhecimento para os ricos representada por
uma escola de elite em São Paulo SP, e a escola do acolhimento social para os pobres
simbolizadas por três escolas, uma de Manari PE escancarando a extrema pobreza, falta de
infraestrutura e também de professores, a outra é em Duque de Caxias RJ frisando o problema
sério provenientes do tráfico de drogas, e por último, a escola em Itaquaquecetuba SP que
resistem aos mesmo problemas porém sobressai a figura do professor na vida do aluno, e
como esse educador pode mudar vidas sentenciadas pela sociedade. Assim a escola pública
brasileira está longe de ser instrumento de equalização visto que favorece essa divisão de
classes quando a qualidade de ensino e aprendizagem passou a ficar em segundo plano.
Todavia, "Todo homem é culpado do bem que não fez” (VOLTAIRE, 1752, p. 60).
Considerações finais
Referências
JAEGER.W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins fontes, 1994, p. 1-20.
PIEPER, J. Tradição, filosofia e teologia. Que é filosofar? São Paulo: Loyola, 2014, cap. IV,
p 55-69.
PRO dia Nascer Feliz. Direção de João Jardim. Brasil: Copacabana Filmes, Globo Filmes,
2005. (89 min.)
VANNUCCHI, J. Série: Platão e o mundo das ideias. Acervo filosófico, disponível em:
http://www.acervofilosofico.com.br/platao-e-o-mundo-das-ideias/ . Acessado em: 14 de
outubro 2021.