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Universidade Estadual de Maringá

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes


Departamento de Fundamentos da Educação

Curso:  Pedagogia  Campus: Maringá

Departamento:  Fundamentos da Educação

Centro:  Ciências Humanas, Letras e Artes

Professora:  Terezinha Oliveira

Nome:  Filosofia da Educação: Antiguidade e Idade Média

AVALIAÇÃO  29-09-2021 – 1º. Bimestre

A FORMAÇÃO INTELECTUAL DO HOMEM NO CONVÍVIO COM A SOCIEDADE

Láisa Maria da Silva Rufino R.A.: 124063


Layra Kelly Santos Silva R.A.: 124870
Nikoly Kriki de Lima Prado R.A.: 125464
Sabrina Alline da Silva Tunes R.A.: 123524
Vitória Eduarda Matos Sousa R.A.: 125099
Vitória de Lima Manzatti R.A.: 119057

Maringá-PR
2021
Resumo
O trabalho acadêmico aborda como o homem saiu de sua condição animal através da
abstração usando sua capacidade intelectual, salientando como essa capacidade que nos
diferencia dos demais seres foi determinante para a sobrevivência da espécie humana. Do
mesmo modo que enfatiza que a vida não é natural, portanto, para ter é preciso criar, e para
isso presume conhecimento. Pieper irá ressaltar a importância da tradição para a interpretação
da realidade, e como a tradição teológica é levada em conta na reflexão que o filósofo vai
formular. Jaeger apresentará o conceito de Paidéia grega, sendo um projeto educativo para
formar o homem grego, em outras palavras, formar o homem como ser político voltado a
viver em comunidade. Platão aponta a magnitude de deixar o mundo sensível abandonando as
sensações, o sentimento e os prazeres, para adentrar o mundo inteligível, permitindo que a
sabedoria se sobressaia tornando assim, cidadãos éticos, morais e justos. Além de suceder as
ideias de Platão nos conteúdos sobre o conhecimento, as formas de governo, o homem
político, e a alma, Aristóteles acrescentará como alcançar a felicidade, sendo o objetivo
humano alcançar a eudaimonia. Ao final do texto, há a relação através de obras
cinematográficas e um artigo conceituado, com as situações atuais enfrentadas no sistema de
educação e ensino do Brasil.

Palavras-Chave: Abstração. Formação. Educação. Ética.

Introdução
 A filosofia nasce com a criação dos Deuses por meio da abstração Humana, desse
modo, antes da existência de qualquer filosofia, é dada ao homem, “desde sempre”, uma
interpretação da realidade como um todo sob a forma de uma tradição. Para filosofar é
necessário abstrair saindo de sua condição animal, e, tudo o que o homem faz é um acidente
mesmo pensando antes de agir, assim dizendo que qualquer ato de um ser humano age sobre o
outro. E a educação deve pressupor a capacidade de abstração e só através disso o ser
humano poderá agir pelo próprio pensamento, logo a educação pertence por essência a
sociedade.
O papel da filosofia na relação do surgimento de um projeto educativo para formação do
homem grego, e a capacidade política do homem pensada nas polis cria uma reflexão sobre a
capacidade de abstração e o desenvolvimento da alma intelectiva, para isso, a educação
exercerá um papel fundamental. Essa reflexão será apoiada nas obras: “Tradição, Filosofia e
Teologia” de Joseph Pieper, “PAIDÉIA: A Formação do Homem Grego” de Werner Jaeger,
“Fédon” e “A República” de Platão, “Ética a Nicômaco” de Aristóteles, “O dualismo perverso
da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento
social para os pobres” de José Carlos Libâneo, o filme de curta metragem “Ilha das Flores” de
Jorge Furtado, a alegoria de “Como se capturam porcos selvagens”, o filme “A Guerra do
Fogo” de 1981 na direção de Jean-Jacques Annaud.

Condição de existência intelectual e moral para a formação do homem


A busca do homem por tecnologias é uma condição necessária para a sobrevivência e
como pouco se concebe da pré-história é relevante através da representação cinematográfica o
filme a “Guerra do Fogo” (1981) ilustra a representação das sociedades de Homos
Neanderthalensis, Homos Sapiens e Homos Sapiens Sapiens. Na qual a história perpassa se na
relação entre os Homos Sapiens (tribo Ulan), que possuem o fogo no qual simboliza a
tecnologia, poder, defesa e união da tribo, sendo assim, sua ausência instaura-se a insegurança
e morte da tribo, ou seja, o fogo representa a sobrevivência, mas como não conhecem seu
processo de desenvolvimento, cultuam o fogo como algo divino. O conflito principia-se
quando a o fogo da tribo dos Homos Sapiens é apagado pelo Homos Neanderthalensis, e
necessitam trilharem um caminho pela busca de um novo fogo e ao se interligarem com o
Homos Sapiens Sapiens (tribo Ivaka) que são sedentários e mais desenvolvidos por
produzirem moradias, cerâmicas, instrumentos de caça prosperam sua relação com o meio as
novas perspectivas de moralidade e sentimentos. Seguindo essa premissa, Josef Pieper em seu
livro “O que é Filosofia?” (1995), no capítulo o objetivo da filosofia, propõe que a essência
do ser vivo é “estar no mundo”, sendo que o mundo é um ambiente de relação, na qual a
princípio o ser humano é o centro da relação seguindo pela capacidade de reverberar a ação.
Na cena do filme, quando a tribo Ulan, que possuem pouca comunicação e sensibilidade, ao
interagirem com os Ivaka, além de conceber o modo de preparo do fogo, percebem a
capacidade da sensibilidade de sorrir, de cuidar e de aprender. E segundo Pieper “A
capacidade de relação e inclusão dos animais é maior na medida em que o animal é capaz de
percepção sensível” (PIEPER, 1995, p 25) assim a percepção sensível e sua capacidade de
relação é sinal de desenvolvimento animal. Entretanto o ser humano não se restringe às
percepções sensoriais abstratas com o meio, mas se diferencia ao possuir um “conhecimento
espiritual”, sendo este um novo modo de possuir o mundo, na qual suplanta a condição animal
como exposto por Josef, “É da natureza do ser espiritual romper os limites do meio ambiente
e, portanto, superar ambas as coisas: a adaptação e a limitação” (PIEPER,1995, p 29). Assim,
com a alma espiritual, o ser humano rompe as limitações animais que lhe são impostas pelo
ser seu vegetativo.

Na "Alegoria da Caverna" (PLATÃO, A república. L. VII) é retratado alguns homens


acorrentados em apenas um pensamento, acreditando ser essa a única e verdadeira forma de
vida. Contudo, eles não se permitiam enxergar outras realidades principalmente por estarem
na sua zona de conforto e ilusões, assim como é tratado no conceito de mundo das ideias e
mundo sensível, onde o mundo das ideias é eterno e real e opõe-se ao mundo sensível em que
tudo é passageiro e ilusório.

Tendo isso em vista, percebe-se que essa condição não os deixava pensar e agir com sua
própria mente tornando-os “deficientes” intelectualmente e presos no mundo sensível
(ARISTÓTELES, A Alma. L. II, c. 5, 418 a 3 – 6), consequentemente tornaram-se
dependentes desse modo de vida. Só foi possível alcançar a liberdade quando eles se
desprenderam do comodismo e perceberam que a vida era muito além daquilo que
presenciaram na zona de conforto. E quando finalmente conseguiram mudar seus modos,
passaram a agir e pensar com sua própria mente, sem influências externas, suas almas
tornaram-se livres e sábias. 

Ao ascender a percepção da condição da abstração humana e o desenvolvimento de uma


comunidade, gera-se dentro do meio e da época em que se estabelecem as relações uma certa
interpretação da realidade, sendo isto a tradição que segundo Pieper está “desde sempre”
intrínseca na sociedade. Josef refere-se a Platão ao tratar que esses conhecimentos prévios da
realidade que concebemos através da tradição dos “antigos” é mais próxima da sabedoria pois
se é contemplada após sabedoria divina. Assim, para todo conhecimento temos a tradição
como véu, em que para Pieper a tradição ocidental é a baseada no cristianismo. Como todo
conhecimento filosófico “ [...]inicia-se com a contemplação da realidade em empírica visível
[...]” (PIEPER, 1995, p57) e “[...] começa "a partir de baixo", com o questionamento das
coisas encontradas na experiência cotidiana[...]” (PIEPER, 1995, p 58) como a realidade e
tradição cristã, portanto todo conhecimento filosófico deriva de um certo enunciado de fé,
como expresso em “[..]só é possível se contrapor ao cristianismo mediante enunciados de fé
[...]” (PIEPER, 1995, p 61). A tradição cristã junto com a concepção moderna de que para
filosofar deve-se rejeitar toda tradição, marcado em “[...] o começo do filosofar na oposição
entre o pensamento e a tradição[...]'' (PIEPER, 1995, p 56), estimula os questionamentos
buscando conhecimento a partir do logos. Na qual exemplifica com Jean-Paul Sartre ao
desentranhar o ateísmo existencialista, quando nega Deus afirma que o ser superior que existe
seria o homem, dessa forma a tradição é essencial para os questionamentos que desenvolvem
os conhecimentos.
Os gregos eram politeístas, e como toda crença religiosa, ela vem como uma
necessidade de explicar a origem da vida e os problemas da existência. No princípio as forças
que governavam os homens eram os Deuses, os Gregos tiveram o senso inato, do que
significava “natureza”, que as coisas do mundo eram em um todo ordenado em conexão viva,
pela qual tudo ganha posição e sentindo, essa conexão é chamada de orgânica, porque todas as
partes são consideradas membro de um todo, e os Deuses eram partes desse todo, por serem
considerados forças da natureza. Porém o universo dos Deuses vai cedendo lugar às ações
humanas, sendo o espírito grego fundamental para apreensão das leis do real, leis que os
gregos buscam o agir nas próprias coisas e através desta lei reger a vida e o pensamento do
homem. O homem sempre foi o centro do pensamento, na forma humana dos Deuses, sendo
raios de uma única e mesma luz, e por terem conexão com a vida espiritual criadora estando
sempre a serviço da comunidade, como orientadores do conhecimento e formação pessoal,
por mais pessoal que uma obra seja é considerada uma função social. Com toda essa liberdade
pelo conhecimento essencial das leis divinas a serviço de um todo que se desenvolveu o gênio
criador dos Gregos para a plenitude educadora e seus princípios espirituais voltados ao
humanismo.
De acordo com Jaeger em “PAIDÉIA: A Formação do Homem Grego” (1994, p. 1-20),
para que haja uma educação, ou até mesmo, chegar a um projeto educativo, devemos atingir
um grau de desenvolvimento. E o desenvolvimento acontece com convívio em grupos e a
necessidade de sobreviver, a princípio, como trata o filme “A Guerra do Fogo"(1981) e a
evolução vai ocorrendo gradativamente onde só sobreviver não basta, e vamos procurando
maneiras para facilitar a vida, porém para alcançarmos esses objetivos temos que abstrair,
usando nossa capacidade intelectiva.
Os gregos trazem para nós um progresso na vida em comunidade que nunca ocorreu
anteriormente, com princípios completamente novos, podemos afirmar que a “cultura só
começa com os Gregos” (JAEGER, 1994, p. 05). Esses princípios tratam da formação de um
Homem elevado, onde a ideia de educação depende de todo o esforço humano, podendo te
levar a um nível superior, tendo a capacidade de compreender e tentar melhorar o mundo a
sua volta, até porque a educação pertence por essência à comunidade. E somente o Homem
consegue conservar e transmitir a sua existência social e espiritual, por meio da razão e a
vontade de consciência.
“Em nenhuma parte o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no
esforço constante de educar” (JAEGER, 1994, p. 04). Nessa parte já podemos ligar com nosso
contexto atual de projeto educativo, onde a educação é resultado da consciência de um
regulamento que comanda a sociedade, sendo a educação e seus projetos essências para o
crescimento da sociedade no exterior, interior e espiritual. E se ocorrer um rompimento desses
regulamentos/normas gera uma debilidade que fica impossível qualquer ação educativa.
Os Gregos deixaram muitos ensinamentos como: “a estabilidade férrea das formas do
pensamento, da oratória e do estilo, que ainda hoje para nós são válidas” (JAEGER, 1994, p.
12). Mais a melhor criação do espírito grego foi a filosofia, nela contém a raiz do pensamento
e arte grega, a percepção de todos os acontecimentos e mudanças da natureza e da vida
humana, com o racional, mas apreendendo o objeto como um todo na sua ideia. Aos Gregos
foi dada a designação de helenocêntricos, a fonte espiritual, e nos estudos sempre voltamos à
Grécia para atendermos nossas necessidades vitais de compreensão, e o espírito grego nos dá
a chave para interpretar a mentalidade grega em muitas outras esferas. A filosofia, então, não
há palavras para descrever o quanto somos totalmente dependentes dela em qualquer área que
seja, mas nas questões educativas é impossível não recorrer a filosofia, porque nela contém os
ensinamentos gregos que são fundamentais para a educação, mais não somente o grego, mais
de todos os povos e tempos, nos inspirando em ideias passadas como ensinamentos, o que não
se deve repetir, o que será útil,  e usar a abstração para compreender o que está acontecendo
atualmente, para tentarmos melhorar o agora, para que no futuro tenha maior crescimento do
conhecimento.
O fato fundamental da educação grega era formar o “ser o Homem”, ou seja, sua
humanidade ligada ao Homem como ser político, os homens mais importantes estavam
sempre disponíveis para a comunidade, tendo conexão com a vida espiritual criadora, como
mestres independentes do povo e formadores de seus ideais. Os verdadeiros representantes da
Paidéia eram os poetas, músicos, filósofos, retóricos e os oradores, com a missão educadora,
sendo considerados homens de Estado. Pode haver o questionamento de como esses “artistas”
são considerados ser político? Na Paidéia o fator decisivo é a energia, a palavra e som, ritmo e
harmonia, da maneira que atuam são formadoras da alma, mesmo ligada muitas vezes ao culto
lança raízes no solo social e político, com muita razão, não sendo à toa que a história da
educação grega está ligada com a literatura, e uma questão fica clara nesse período é a
evolução e formação do Homem na poesia e arte, e esse homem político se revela nas suas
obras (JAEGER, 1994, p. 16-19).
A Paidéia demonstra muito bem como o homem deve ser educado de acordo com a
verdadeira forma humana, com o seu autêntico ser, ou seja, a essência da educação consiste
em modelar os indivíduos para conviver em comunidade sendo um Homem de Estado. Os
gregos transmitiam uma riqueza de conhecimentos imperecíveis, mas não uma norma rígida e
definitiva. Como podemos ver em geometria euclidiana e a lógica aristotélica, que são
fundamentos permanentes do espírito humano mais não excluem outras formas de
pensamentos lógico e matemático. As outras criações do gênio grego, cheias de razão e
verdade, são fortemente moldadas pelo ambiente histórico e situações do tempo, e essa
herança dos gregos é tão forte porque a tradição que eles criaram de educação para a
construção do consciente, construindo de modo correto e sem falhas, sendo uma das virtudes
humanas de mais difícil alcance, podendo considerar com propriedade essa educação como
formação, e através dessa formação vemos a excelência em suas artes e principalmente
voltado ao Estado grego, que só pode ser compreendido ao analisar a formação do homem e
da sua vida inteira, onde está tudo conectado. Os projetos de educação são de extrema
importância para o convívio em sociedade, “a educação não é propriedade individual, mas
pertence por essência à comunidade” (JAEGER, 1994, p. 04). E através da educação
aprendemos as nos relacionamos com a comunidade, tanto com os indivíduos, como com o
Estado, sabendo nossos deveres e funções como cidadãos. “A educação participa na vida e no
crescimento da sociedade” (JAEGER, 1994, p. 04). 
O estatuto de humanitas pressupõe a dialética, ou seja, pressupõe a capacidade de
reflexão. Sendo assim, é esperado um incômodo quando está aprendendo algo novo, pois se
não tem dúvidas e não há o que argumentar significa que não está pensando, logo, não está
usando a capacidade intelectiva. Nesse sentido, o curta metragem “ilha das flores” expõe a
criação clandestina de porcos nas ilhas pertencentes a Porto Alegre/RS, e apesar dos porcos
serem irracionais, possuem a vantagem de ter um dono que oferece a comida oriunda do lixo,
entretanto, o que esse dono considera impróprio para seus porcos, oferta para os moradores da
ilha que o consideram um Deus, o salvador. Seguindo essa mesma linha de pensamento, a
obra “como capturar porcos selvagens” descreve a facilidade em que os porcos trocam a
liberdade por comida fácil, na falha sensação de estar em vantagem, aceitam a servidão
esquecendo-se até mesmo, de como caçar na floresta, assim como os moradores da ilha
esqueceram da capacidade de humanitas. Nessas duas obras fica claro que, por mais que o ser
humano possua uma superioridade intelectual, se não busca o conhecimento e a reflexão,
assume um lugar pior que os seres irracionais. 
Do mesmo modo, com a "Alegoria da Caverna" (PLATÃO, A república. L. VII) onde
os moradores da caverna e da ilha, tem as mesmas capacidades intelectuais de evoluírem e
desempenharem seu papel no mundo, realmente  tornando-se seres humanos, como trata
Aristóteles em “A alma”, saindo da vida sensitiva (L. II, c. 5, 418 a 3 – 6) e evoluindo para a
vida intelectual (L. III, c. 4, 429 a 10 – b 9), porém o comodismo que é trazido "desde
sempre" na cultura, principalmente na cultura escolar, onde não há incentivo e crenças dos
próprios professores, nos acostumamos com o pouco, com o que é fácil, como trazido na
história “como capturar porcos selvagens”, onde é dado migalhas e construindo cercas aos
poucos, quando os porcos percebem estão presos, somos os porcos, presos nos mesmo
costumes, nos mesmo ideias, "pobre não estuda", "você não vai ser ninguém na vida" entre
outros. Mudar a nossa vida, só depende de nós, porque todos temos a capacidade, e para que
venha a ocorrer a mudança da sociedade, atingir a Paidéia, começa com cada indivíduo, seja
como professor, seja como aluno, seja como cidadão.
Platão afirmava que a alma humana possui três divisões, sendo elas a racional, irascível
e apetitiva. O racional faz com que nós busquemos o conhecimento, já a irascível é
responsável por nossos sentimentos, e por fim, a apetitiva nos condiciona a busca pelo prazer.
Portanto, ele acreditava que o ser humano precisava ouvir sempre o seu lado racional, para
que dessa forma pudesse tomar as decisões corretas. Afinal, quando damos ouvidos apenas
aos nossos sentimentos ou ao desejo de sentir prazer, acabamos sendo precipitados e
inconsequentes em nossas ações, trazendo diversos malefícios. Por isso, ele explica que o lado
racional tem a finalidade de levar o homem a praticar o bem para ele, e principalmente para o
meio em que está inserido. Ele também acreditava que a razão tinha sua virtude, sendo ela a
sabedoria, a qual nos faz tomar decisões sensatas, sendo possível alcançá-la apenas quando se
tem a racionalidade. Quando o ser humano consegue segui-las, acaba trazendo benefícios para
a sociedade, tornando-se um cidadão ético e moral. Platão também traz o conceito do Belo e
Bom, em que o Bom é a ideia de que precisamos viver em harmonia e praticar o bem, e o
Belo são as ações para chegar a isso. Contudo, quando o ser humano consegue ser racional e
deixa seus sentimentos e prazeres de lado, buscando apenas ser justo e verdadeiro, ele torna-
se bom e sua alma torna-se livre.
Sabemos que é de natureza humana o conhecimento, é evidente a necessidade de
reflexão sobre a causa dessa natureza, para isso compreendemos os tipos de almas; vegetativa:
crescimento, geração e alimentação, essa alma estar presente em todos seres vivos 
Alma sensitiva; essa alma corresponde às sensações (olfato, paladar, tato, visão, audição)
estar presente nos animais.
Alma intelectiva: tem todas as faculdades da alma, ela é inteligível, além da capacidade
de pensar sobre as outras coisas, tem a capacidade de pensar sobre sua própria existência, por
isso ela só pertence ao homem.
As almas influenciam diretamente no hábito que a maneira que agimos constantemente,
quando deixamos que a alma sensitiva e vegetativa domine a intelectiva temos hábitos ruins,
quando somos capazes de abstração e nossos pensamentos são mais fortes deixando a alma
intelectiva dominar as outras almas somos providos de bons hábitos, além disso é necessário o
desenvolvimento da moral.
Sociedade: a importância da Política, Ética e da Moral para formação da Polis

A filosofia política, quer dizer sobre o quão bom o homem é, e em qual posição ou qual
altura de comando ele está com a sociedade. A comunidade é composta por uma única
associação que se faz por pessoas que são independentes de concepção. Com isso, a sociedade
queria falar qual era o jeito e a maneira para o ser humano viver. Para Platão todas as pessoas
têm a capacidade de serem políticos e todos deve estar unido nesse meio, se todos realizassem
da melhor maneira possível o seu dever na comunidade e tivessem boa gestão ao ponto de não
existir desigualdade social, alcançar-se-ia a ideia de cidade perfeita, e chegaria ao bem-
comum e a felicidade. A má gestão de alguns homens faz com que a injustiça proliferar entre
a sociedade, para Platão o dever da política é corrigir essa injustiça pois ele acredita que a
justiça nada mais é do que a união entre as quatros virtudes: A moderação (coloca equilíbrio
as vontades e o poder de realizá-las), a coragem (é a atitude firme sem hesitação, sem temor
ou sem fraqueza no enfrentamento de situações emocionalmente difíceis ou perigosas), a
sabedoria (a maior das virtudes, conjunto de conhecimentos que consiste a própria essência da
alma) e a própria justiça (virtude fundamental que deve ser comum a todos, é a justiça que faz
com que todos os direitos sejam respeitados). Platão seguia cinco formas de governo, entre
elas estão: Aristocracia: governo de uma classe privilegiada. Timocracia: governo dos ricos.
Oligarquia: governo de um pequeno grupo. Tirania: governo injusto e cruel e às vezes
ilegítimo e a democracia, governo do povo. Como ilustra a tabela a seguir:

FORMAS DE GOVERNO

Critérios de Valor

Boas Corrompidas
Critérios de Um Monarquia Tirania
números Poucos Aristocracia Oligarquia
Muitos Politeia Democracia
CLARAVAL, Bernardo. De.in: TOUCHARD, Jean. História das ideias políticas. Lisboa Europa-America,1970, p 81. V. 2,
disponível em Filosofando: introdução a filosofia, P.260. Editora: Moderna. 6° edição. São Paulo, 2016.

Portanto, Platão acreditava que a melhor forma para governar e atingir a cidade perfeita
seria a aristocracia. Onde os governantes tinham que ser definidos pela sabedoria.
Zoon Politikon (Animal Político) é uma expressão utilizada pelo filósofo grego
Aristóteles de Estagira (384 a.C.–322 a.C.), o próprio diz: " o homem é por natureza um
animal político, pois ninguém escolheria sobre a posse de um mundo inteiro viver só, já que o
homem é um ser político e estar em sua natureza viver em sociedade." Desse modo, o objetivo
da vida política é fazer com que os cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações, com a
tendência natural para viver em sociedade e ter uma vida digna. A ciência política pensa pela
razão das particularidades da vida humana em sua autonomia, isto é, todo cidadão exerce uma
função política, e até quando decide não participar, é uma decisão política, visto que toda ação
do homem interfere sobre o outro, porque vivemos em sociedade. E sobre todas as
comunidades que o homem vive, a Polis tem o objetivo de garantir ao homem o viver bem,
enquanto todos que habitam nela devem viver com o objetivo de formar uma cidade com
excelência, para isso todos devem cumprir sua função utilizando-se da virtude, da ética e
moral. E, portanto, praticando dessa forma o sumo bem, levando a Polis a ser justa, já que
aquele que governa deve ser dos mais justos e virtuosos, tendo em vista que a alma intelectiva
deve dominar a vegetativa e sensitiva. Sendo assim, para governar até a si próprio é
necessário o desenvolvimento da alma intelectiva, ser justo e virtuoso, pois só tem a moral
aquele que governa a si mesmo.
Platão (c.428-347 a.C.) em sua teoria do conhecimento costumava citar alegorias e
mitos, com intuito de preparar seus discípulos e ouvintes para a exposição abstrata de suas
ideias. Na alegoria da caverna pessoas acorrentadas durante toda a sua vida, enxergando
sombras nas paredes acreditando que aquela é a realidade, no entanto se um dos indivíduos se
você soltasse das correntes, saísse para ver a luz verdadeira e voltasse seus antigos
companheiros alternar iam por louco e não acreditar em suas palavras. Conclui-se que com
essa alegoria, Platão demonstra as etapas da educação, aquele que saiu deve voltar para a
caverna e mostrar o conhecimento aos homens presos e orientá-los a assumir seus lugares
políticos na Polis. Como descreve a tabela abaixo:
DUALISMO PLATÔNICO
O Mundo Sensível Baseia-se na imagem material da ideia, tal
imagem é vista pelos sentidos do corpo.
O Mundo das Ideias É alcançado pela dialética, nele contém a
verdade que é adquirida através do
conhecimento.

Para Platão só é possível alcançar o mundo das ideias se abandonar os sentidos do corpo
humano, pois a abração acontece somente por conta da alma.
A Ética a Nicômaco funciona como manual de instrução para uma vida virtuosa e feliz,
para iniciar o caminho da virtude é ser instruído e ouvinte do conhecimento. A ética em sua
essência é o ato de agir com humanistas, deve-se viver com eudaimonia baseando na
plenitude da vida após alcançar a virtude, e a felicidade que é uma dádiva divina tal atividade
virtuosa da alma pertence a uma certa espécie (humana), além disso o que nos diferencia das
outras espécies é a capacidade de ter controle sobre as nossas ações através do pensamento.
Os meios para felicidade são a amizade, família, dinheiro, Deus e estudos. Entretanto, essas
coisas não são a felicidade e sim meios para alcançar a eudaimonia, para percorrer esse
caminho deve ser adquiri experiência através da prática e usá-la com excelência, desse modo
não é o mais virtuoso aquele que está morto só porquê não poder ser atingido por males e
importunos, por pouco menos o mais próspero que ainda sofrerá importunos.
Tudo o que fazemos tem um bem ou o sumo bem, sendo o bem algo relativo que
beneficia a quem o pratica, todo conhecimento e trabalho visa algum bem. Aquele que tem o
objetivo de ciência política e visa alcançar a razão por meio da verdade e beneficia a todos é
conhecido como sumo bem. Para pensar ética é necessário pensar primeiramente o hábito, ou
seja, a maneira que agimos constantemente, tal qual somos propícios a ter mais hábitos ruins
do que bons, a medida em que deixamos nossa alma vegetativa ou sensitiva prevalecer a cima
do nosso intelecto, contudo é necessário desenvolver a moral e a alma intelectiva para fazer o
desenvolvimento dos bons hábitos.
O homem deve alcançar a aretê (excelência) e se elevar ao mais alto nível do bem,
sendo esse bem a própria felicidade, que consiste da atividade da alma com as 4 principais
virtudes: sabedoria, temperança, coragem e prudência, tais virtudes são aprendidas por meio
da educação que é relevante porque é nela que se desenvolve a alma intelectiva, desse
modo criando então através do conhecimento a capacidade de abstração. Visto que por
Aristóteles a educação deve se basear na alma, ética e virtude. 

Ótimo é aquele que de si mesmo


            [conhece todas as coisas;
Bom, o que escuta os conselhos
             [dos homens judiciosos.
Mas o que por si não pensa, nem
          [acolhe a sabedoria alheia,
Esse é, em verdade, uma criatura
                                          [inútil.
(ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. L. I, c. 4, § 10).
A moral é um conjunto de hábitos que orienta nossa vida em sociedade, por certo ela é
adquirida através da experiência. A justiça é uma virtude moral e política, que orienta como o
homem deve agir em harmonia na Polis, indubitavelmente ninguém é justo por si, somos
justos em relação ao outro. Por seguinte também somos éticos e morais em relação ao outro,
com o fim de viver em plenitude na sociedade. 
Seguindo a teoria das 4 causas aristotélicas: causa material (do que é feito), causa formal
(formato que possui), causa eficiente (corresponde ao agente criador) e causa final
(finalidade).
Sendo o ser humano feito de carne e osso, criado pela convivência em comunidade
sendo a primeira delas a família, e a sua finalidade é a eudaimonia, pois quando se alcança a
felicidade, não é necessário alcançar outras finalidades que não é da sua natureza.
Condição de humanidade: o desenvolvimento e transmissão do conhecimento no espaço
escolar

Platão considerava a educação como a mais nobre das ciências, e tinha ela como um dos
principais pilares básicos para a formação do indivíduo, junto com a política e a ética.
Segundo ele, era preciso educar os homens para que fossem capazes de controlar seus
sentimentos e desejos e ouvirem a sua razão. Pois dessa forma, se tornariam cidadãos ativos e
com capacidade de argumentação. Essências para a formação de uma sociedade política e
eticamente justa, sendo esse, de acordo com Platão, a fundação da educação. Por conta disso,
Platão foi considerado o primeiro pedagogo, e tinha como crença que toda virtude é
conhecimento, capaz de nos fazer controlar e treinar os sentimentos, e que esta deve
prosseguir pela vida inteira.

“A educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil
e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter visão,
pois já a tem, mas, uma vez que não está na posição correta e não olha para
onde deve, dar-lhe os meios para isso”. (PLATÃO, A República, p.321).

Pois, assim como é retratado na alegoria da caverna, a educação nos permite despertar
do estado letárgico, sair da zona de conforto e partir para o estado da razão e inteligência,
sendo essa, condição necessária para criação de um novo cidadão.

Segundo Jaeger (1994, p. 1-20), a prática da educação, que vem com um grau de
desenvolvimento, que gera uma mudança consciente nos indivíduos, que eleva sua capacidade
a um nível superior onde o espírito humano descobre a si mesmo e adquiri conhecimentos do
mundo, criando formas melhores para a existência humana. A educação grega é totalmente
para o bem comum, como já foi trazido outras vezes, a educação pertence por essência à
comunidade, onde cada membro forma o caráter da comunidade, sendo a educação o
resultado da consciência da norma que rege a comunidade, e essas normas unem todos os
membros.
A filosofia foi criação do espírito grego, nela se encontra a força de pensamento da arte
grega, a razão e o intuitivo que apreende o objeto como um todo na sua “ideia”, e a percepção
da ordem permanente estando no fundo de todos os acontecimentos e mudanças da natureza e
da vida humana.

 [...] uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência


dos valores que regem a vida humana, a história da educação está
essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos
para cada sociedade (JAEGER, 1994, p. 04).

 Para os gregos a educação é essencial para sociedade, e forma o indivíduo para ser um
Homem político que participa da vida em comunidade, sabendo seus direitos e deveres,
valorizando a sua capacidade intelectiva. “Dissemos que a importância universal dos Gregos
como educadores deriva da sua nova concepção do lugar do indivíduo na sociedade”
(JAEGER, 1994, p. 09). Com a Paidéia o homem atinge o “sumo bem” (ARISTÓTELES,
Ética a Nicômaco. L. I, c. 2, § 20) através da sua capacidade intelectiva e realizando o bem
comum, através do seu papel como Homem político.

Aurélio Agostinho de Hipona (354 d.C. - 430 d.C.), apresentou a importância do orador:

O pregador é o que interpreta e ensina as divinas Escrituras. Como defensor


da fé verdadeira e adversário do erro, deve ser mediante o discurso ensinar o
bem e refutar o mal. Nesta tarefa, o mestre deve tratar de conquistar o hostil,
motivar o indiferente e informar o ignorante sobre o que deve ser feito ou
esperado. Mas ao encontrar ouvintes benévolos, atentos, dispostos a
aprender ou que os tenha assim conquistado, deverá prosseguir seu discurso
como pedem as circunstâncias. (L. IV, c. 4, p. 211)

Agostinho se refere ao orador cristão, pois é de dever do mesmo ler os textos sagrados e
interpretá-los para ensinar os religiosos dentro da igreja, utilizando suas capacidades de
argumentação, sabedoria e retórica para refutar a mentira e defender a verdade. Desse modo
os fundamentos de Agostinho indubitavelmente servem também para o professor, já que é de
sua responsabilidade repassar os conhecimentos para os alunos, além disso é fundamental que
esse professor acredite na capacidade intelectual dos seus alunos e ajudá-los no
desenvolvimento dessa capacidade. Se sabe a verdade e não o diz e não a defende, então falha
miseravelmente na sua função.

Ser professor é muito mais que exercer uma profissão, dar aulas e aplicar exames, esse
profissional é de suma importância para a formação integral do homem, e precisa ir muito
mais além. Nessa perspectiva, o filme “Escritores da Liberdade” (2007) é baseado em uma
história real e retrata a experiência da professora Erin Gruwell numa escola de Los Angeles
EUA após entrar em vigor o programa de integração que visava a inclusão de minorias
periféricas. Isso despertou nela muito interesse, no entanto, diversos professores e membros
da diretoria daquela unidade escolar, não aceitavam o programa e passaram a culpabilizá-lo
pela decadência do nível de ensino da escola, tirando de si a responsabilidade de transmitir o
conhecimento. A obra retrata de forma bem explícita como os professores desacreditam das
potencialidades da turma, cultivando o pensamento preconceituoso de que não adianta cobrar
muitos conteúdos pois eles não têm capacidade intelectiva para compreender e aprender,
então bastava apenas passar e ler resumos dos livros. Este longa levanta o questionamento
sobre qual o real papel do professor na sociedade, e principalmente como deve agir perante
comunidades marcadas pela violência, desestruturação familiar, desigualdade social, e
descrença no futuro, esses alunos além do conteúdo didático compatível com o nível escolar,
necessitam da criação de vínculos sociais em sala de aula, precisam mais que tudo, de uma
referência. 

A realidade da notoriedade do papel do professor no desenvolvimento social está


quando as taxas mais elevadas de homicídios em 2018 no Brasil são as mesmas regiões em
que há menor adequação do professor perante a formação nos anos iniciais, como
demonstram os dados a seguir.
(BRASIL: TAXA DE HOMICÍDIOS POR UF (2019). Fonte:Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de
População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica e MS/SVS/CGIAE – Sistema de
Informações sobre Mortalidade – SIM. O número de homicídios na UF de residência foi obtido pela soma das seguintes CIDs
10: X85-Y09 e Y35, ou seja: óbitos causados por agressão mais intervenção legal. Elaboração: Diest/Ipea, FBSP e IJSN.)

(Percentual de disciplinas que são ministradas por professores com formação superior de licenciatura (ou equivalente) na
mesma área da disciplina (grupo1 do indicador de adequação da formação docente) nos anos finais do ensino fundamental e
ensino médio, por município - Brasil - 2020. Fonte: Elaborado por Deed/ Inep com base nos dados do censo escolar.)
Acesso em:http://inep.gov.br/informacao-da-publicacao//asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/6993024

Dessa forma é visível como no filme "Escritores da Liberdade"(2007) perpassam a


realidade brasileira expressa através dos dados e como a formação deste professor influencia
no seu desempenho em sala e na sociedade como formador de conexão e estimula entre o ser
humano vegetativo, intelectual e social.
"A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto", dizia o antropólogo
Darcy Ribeiro, e no documentário “Nunca me sonharam” (2017) de Cacau Rhoden, mostra o
desamparo de jovens desiludidos com o futuro de uma vida melhor devido ao seu despreparo
oriundos do sucateamento da educação pública brasileira. E vai além, evidenciando histórias
de alunos que abandonaram os estudos para trabalhar, estudantes que largaram por não se
sentirem inteligentes o suficiente para acompanhar os colegas e de jovens que simplesmente
não entendem como o que eles aprendem na escola pode lhes ser útil para a vida, e esse é um
retrato real da evasão escolar no Brasil. É fato que a classe docente é a única capaz de
contornar a péssima infraestrutura oferecida pelo estado e dessa forma mudar os rumos de
uma instituição precária, no entanto, é comum passar por um professor que rouba do aluno o
direito de sonhar, seja de forma explícita através de humilhações verbais, ou subjugando a
capacidade intelectiva do aluno não proporcionando uma transmissão de conhecimento
compatível com o nível escolar. Se o professor não tiver a visão do aluno para além de
reproduzir os conteúdos, não será capaz de enxergar o que não está funcionando em seu modo
de lecionar. É preciso inspirar, instigar e acreditar nesses alunos, pois em sua grande maioria,
só tem o professor para se espelhar. A educação deve ter como função primordial permitir que
os jovens sonhem, nesse contexto, um estudante do interior do Nordeste diz no documentário
“nunca me sonharam um advogado, nunca me sonharam um médico”, expressando a forma
que toda a sociedade vê esses jovens.

Assim como expresso na constituição nacional de 1988 em:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (Constituição, 1988)

Paralelamente com o Artigo 227 da Constituição que exemplifica que é o dever da


sociedade zelar pela criança, adolescente e jovem de forma segura e digna, dessa forma como
exemplificado a realidade em "Nunca me sonharam" toda a sociedade falha, em suma do
docente que arcam com a imcumbencia de aprimorar o intelecto do aluno e assim tornando-os
conscientes e livres. Entretanto, quando esta responsabilidade não é arcada falhasse toda
sociedade.
O Plano Decenal de Educação para Todos é um documento elaborado pelo Ministério
da Educação (MEC) destinado a cumprir, no período de uma década, ou seja, até 2003, as
resoluções da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em 1990, em
Jomtien, Tailândia. De acordo com Libâneo (2012), tais políticas públicas educacionais
selaram o destino e o declínio da escola pública brasileira, ele explica no seu artigo “O
dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola
do acolhimento social para os pobres” que a proposta desse plano era economizar ainda mais
em recursos estudantis e tornar a escola técnica para formar cidadãos para o mercado.
Conforme o artigo aponta, é evidente que a educação deixou de ensinar conteúdos
significativos para apenas incluir e garantir uma sobrevivência, contudo, isso fortalece as
desigualdades sociais do acesso ao saber. De fato, a escola do conhecimento destinada aos
ricos é embasada no conhecimento intelectual e em tecnologias, esse tipo de escola é
exclusivamente conteudista e não possui preocupação em acolher seus alunos. Já a escola do
acolhimento social, a que sobrou para os pobres, assumiu o objetivo de formar cidadãos para
o mercado passando conteúdos mínimos e de forma superficial, sem nenhuma preocupação
em formar o pensamento crítico.

“não se trata mais de manter aquela velha escola assentada no conhecimento,


isto é, no domínio dos conteúdos, mas de conceber uma escola que
valorizará formas de organização das relações humanas nas quais
prevaleçam a integração social, a convivência entre diferentes, o
compartilhamento de culturas, o encontro e a solidariedade entre as pessoas”
(LIBÂNEO, 2012, p. 17)

Seguindo esse mesmo raciocínio, o filme “Pro dia nascer feliz” (2005) retrata esse
dualismo de maneira nítida quando expõe o cotidiano escolar de unidades públicas e privadas
de 3 estados diferentes, e destacando a escola do conhecimento para os ricos representada por
uma escola de elite em São Paulo SP,  e a escola do acolhimento social para os pobres
simbolizadas por três escolas, uma de Manari PE escancarando a extrema pobreza, falta de
infraestrutura e também de professores, a outra é em Duque de Caxias RJ frisando o problema
sério provenientes do tráfico de  drogas, e por último, a escola em  Itaquaquecetuba SP que
resistem aos mesmo problemas porém sobressai a figura do professor na vida do aluno, e
como esse educador pode mudar vidas sentenciadas pela sociedade. Assim a escola pública
brasileira está longe de ser instrumento de equalização visto que favorece essa divisão de
classes quando a qualidade de ensino e aprendizagem passou a ficar em segundo plano.
Todavia, "Todo homem é culpado do bem que não fez” (VOLTAIRE, 1752, p. 60).

Considerações finais

Este tratado propôs-se a concatenar no modo da existência humana. sua concepção


moral dentro da formação social da polis vanguardista na ideia de ética, moral e política e
assim o desenvolvimento de um projeto educativo, pois a ideologia de uma sociedade requer
prosperidade intelectual. Visto que os objetivos de identificar o princípio de um projeto
educativo, juntamente com a filosofia, que influencia a vida da polis grega, foram alcançados
através de pesquisas em teses filosóficas de Aristóteles, Platão, Pieper, Jaeger e suas
influências, como também em estudos sobre o desenvolvimento da condição humana.
Juntamente com amparo de mídias visuais a fim de estabelecer relações da realidade com a
filosofia clássica.

Constatou-se que a alma vegetativa do homem e suas limitações fisiológicas é uma


amarra no desenvolvimento social, devendo, pois, ser lapidada com conhecimento moral,
ético, social e intelectual para que se atinja um bem comum, sendo efetivada através da
educação, tornando pois o homem livre para exercer sua capacidade intelectiva através de
bons hábitos na vida comunitária. 

Referências

AGOSTINHO, A. H.  A doutrina cristã. Liv. IV, p. 205-216

ALMEIDA, N. A teoria da alma de Thomas de Aquino. Disponível em:


https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/32272/1/2018_NeimardeAlmeida.pdf. Acessado
em: 12 de outubro de 2021.

ARANHA. M.L, Martins.M.H, Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: moderna,


2016, cap. 8 e 9.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Liv. I e II.

BASTOS, J. Diferença entre alma vegetativa, sensitiva e intelectiva. Disponível em:


https://www.semprefamilia.com.br/blogs/agora/diferenca-entre-alma-vegetativa-sensitiva-e-
intelectiva/. Acessado em: 20 de outubro de 2021

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Centro Gráfico, 1988.
COMO se captura porcos selvagens. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/719043. Enviado por: Kostella. P. em
01/11/2007. Código do texto: T719043

ESCRITORES da Liberdade. Direção de Richard LaGravenese. EUA: MTV Films; Jersey


Films; 2S Films, 2007. (123 min.).

GUERRA do Fogo, A. Direção de Jean-Jacques Annaud. Estados Unidos, França e Canadá.


1981. (100 min.)

JAEGER.W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins fontes, 1994, p. 1-20.

LIBÂNEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola


do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social
para os pobres. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ep/a/YkhJTPw545x8jwpGFsXT3Ct/?lang=pt&format=pdf#:~:text=O
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NUNCA me sonharam. Direção de Cacau Rhoden. Brasil: 2017. (90 min.)

PIEPER, J. Tradição, filosofia e teologia. Que é filosofar? São Paulo: Loyola, 2014, cap. IV,
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PLATÃO. A República. L. IV – VII (o mito da caverna), p. 315-324.

PLATÃO. Fédon. P. 93-103.

PRO dia Nascer Feliz. Direção de João Jardim. Brasil: Copacabana Filmes, Globo Filmes,
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SOUZA, R. S. O MOVIMENTO DO HOMEM RUMO À FELICIDADE. Disponível em:


http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2750, acesso em: 10 de outubro de 2021.

VANNUCCHI, J. Série: Platão e o mundo das ideias. Acervo filosófico, disponível em:
http://www.acervofilosofico.com.br/platao-e-o-mundo-das-ideias/ . Acessado em: 14 de
outubro 2021.

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