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FILOSOFIA, E EU COM ISSO?

Ao levantar questões desta natureza, a Filosofia nos conduz a


reflexões sobre a condição humana, e muitas vezes são
O mundo contemporâneo costuma valorizar o conhecimento questões que nos trazem uma grande angústia. Ela faz com
aplicado de forma imediata: aplaudimos as pesquisas que possamos olhar para o nosso interior, nos auxiliando na
medicinais e biológicas que tentam descobrir a cura do câncer, rota do autoconhecimento, ou seja, olhar, refletir, pensar, para
vacina para o COVID, bem como glorificamos a física e a não ter uma vida automática, robótica e servil. A Filosofia dá
astronomia que pretendem nos levar à Marte. Os políticos consciência à nossa existência. No entanto, é importante
tecnocratas alçam a Matemática como principal matéria do alertar que a Filosofia não nos ensina a pensar. Pensar é um
Ensino Médio, não é à toa que ela sozinha compõe um quinto atributo natural da nossa espécie, não é ensinado. “Ah, mas a
da sua prova do ENEM. Se formos pensar de acordo com este Filosofia ensinar a pensar criticamente”, não necessariamente.
utilitarismo restritivo, a Filosofia não serve para nada. Não só a O nazismo tinha seus filósofos, a escravidão idem. Ou seja, a
Filosofia, como as outras disciplinas do grupo das Humanas. Filosofia não tem o grau de pureza e criticidade que muitas
“Errar é Humanas”, muitos dizem. Entretanto, sem a Filosofia e vezes nós esperamos, ela precisa ser purificada, ela precisa ser
as humanidades, é impossível outro olhar sobre o mundo, é direcionada para a crítica. Ser purificada significa dizer que ela
impossível desvendarmos nossos olhos perante um mundo em deve dizer as pessoas “pense nisso” e nunca “pense isso”. A
constante transformação e que tende a esconder suas mazelas Filosofia por si só não tem o poder de desalienar ninguém, tudo
e propagandear suas proezas. Um mundo de cheio de depende do conteúdo e da forma como ela vem a ser
aparências, repleto de contradições. Repensar nossa apresentada.
realidade, nossa existência, o sentido de nossa vida, nossa Apesar do mar de inquietações proporcionadas por essa
convivência, abrindo-nos à mudança, à transformação, é o que atividade, a parte boa é que filosofar não é atitude exclusiva de
faz a Filosofia em nossas vidas. A Filosofia nos ajuda a algumas mentes brilhantes e excêntricas mundo afora. Já que
interpretar o mundo, cabe a nós transformá-lo. o ser humano é um bicho naturalmente curioso e não
Filosofia é um modo de pensar sistemático, organizado e conseguimos deixar de fazer perguntas e buscar respostas
metódico com questões precisas daquilo que se faz – para sobre o mundo ao nosso redor, o filosofar é uma atitude que
indagar os porquês. E ‘por que’ não é ‘como’. Quem pergunta pode ser compartilhada por qualquer um de nós. Se você
‘como’ é a ciência. se admira, se espanta com aquilo que é tão habitual, tão
cotidiano, parabéns, você já tem o exercício filosófico presente
A Filosofia é uma forma de conhecimento que se ocupa com o na tua vida.
todo, com a totalidade. Isso distingue a Filosofia de qualquer
outra forma de saber, pois ela procura oferecer uma explicação Heidegger, filósofo alemão, resumiu muito bem tudo isso que
completa e exaustiva de cada esfera particular da realidade, o você leu agora quando afirmou que de maneira nenhuma
que torna todas as coisas, em certa medida, objetos da estamos “fora” da Filosofia, mesmo que não saibamos nada
indagação filosófica. Esta investigação, no entanto, não ocorre sobre a Filosofia, já estamos na Filosofia, no sentido de que
através da simples verificação, nem da descrição e nem mesmo desde sempre já filosofamos. Um conterrâneo seu,
da experimentação, como se fazem nos laboratórios de Wittgenstein, dizia que mesmo se todos os problemas
química, por exemplo. A Filosofia tem seu próprio método, a importantes fossem resolvidos pela ciência, ainda assim a
saber, o da justificação lógica, racional. questão do sentido da vida não teria sido sequer tocada. Por
mais que haja esforços em declarar o fim dela, a Filosofia só
A Filosofia se preocupa em pensar as razões da existência. morrerá com a extinção dos Sapiens.
Pensar aquilo que, de fato, faz com que o ser humano tenha
sentido. Por exemplo, do que é feita a realidade? Por que as Parece que, em última instância, o problema de fundo da
coisas são desse modo e não de outro? Qual o propósito que Filosofia é o do sentido das coisas e da nossa própria
as pessoas dão à vida? Qual é o lugar do mal dentro disso existência. E se você espera uma resolução categórica desse
tudo? A felicidade existe ou é ilusão? Por que existe alguma problema, tu não estás entendendo nada. Releia tudinho, vá.
coisa ao invés de simplesmente não existir nada? Por que eu Nesse ano vamos encontrar algumas interessantes respostas
estou neste mundo? Por que nós somos finitos? Será que para questionamentos igualmente instigantes. Vários dos
chamar todo mundo de amigo é superficial? pensadores até tinham a pretensão de encerrar discussões, de
encontrar verdades plenas, pontos finais. Contudo, apesar
desta intenção, a grande marca da Filosofia continua sendo a
interrogação. Vamos simbora que temos 2500 anos de
conhecimento pra desbravar!

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AULA 1
O PENSAMENTO MÍTICO E O
A caixa de Pandora
SURGIMENTO DA FILOSOFIA
Quando vira uma história, uma lenda, ele perde a sua força, sua
função. O mito, entre os povos antigos, é uma forma de se
1. A PRIMEIRA FORMA DE DAR SENTIDO AO MUNDO: O situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os
PENSAMENTO MÍTICO demais seres da natureza, na verdade, não só explicam parte
dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas
que dão, também, as formas da ação humana. Sendo parte
Sófocles dizia que das muitas maravilhas desse mundo, fundamental da tradição cultural de dada sociedade, ele
nenhuma é tão maravilhosa quanto o ser humano. A representa a própria visão de mundo (cosmovisão) daqueles
capacidade de pensar criou um bicho naturalmente angustiado, que dela fazem parte, a forma particular que as pessoas têm de
indeciso e atormentado. Isso tudinho não depende de signo conceber a realidade e viver a vida.
não, visse?
Cabe salientar, entretanto, que, a verdade do mito não obedece
Antes de a Filosofia existir, o ser humano tinha outra forma de a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica.
tentar resolver as nossas naturais indagações. Por que as É verdade intuída e dogmática, ou seja, não necessita de
coisas no mundo são assim? Qual é o meu papel no provas para ser aceita. A sua aceitação, então, tem de ser
funcionamento das coisas? Será que existe algo sobrenatural? através da fé e da crença, da confiança naquele que narra a
De onde vieram todas as coisas ao meu redor? Enfim, questões história. Quando o mito fala é como se os deuses falassem, e
que angustiam nosso coração e que nos colocam diante de com os deuses não se discute.
crises existenciais e de pensamento. O primeiro sistema de
narrativas desta realidade que nos cerca, criado para tentar O mito é uma narrativa que conta uma história sagrada; Em
acalmar nossa agonia inquiridora e colocar ordem no mundo outros termos, ele narra como entes sobrenaturais agiram
é o pensamento mítico. para determinada realidade passar a existir, seja uma realidade
total (Cosmos) ou um fragmento, um pedacinho dela: eu, você,
Quando pensamos em mitos, imediatamente lembramos de uma árvore, uma cordilheira, uma cidade, um comportamento.
vários, como o de Pandora, que abriu a caixa proibida soltando Dessa forma, é sempre uma narrativa de criação, relatando
todos os males, restando somente a esperança, ou ainda o de que modo algo foi produzido e começou a ser.
nórdico Thor, lançado em Hollywood. A impressão que fica é
que os mitos primitivos não passam de histórias fantasiosas, Justamente por isso as histórias geralmente remontam a um
diversões literárias que são contadas ao lado das histórias da passado longínquo, impreciso, já que desta forma garantem
Branca de Neve ou da Bela Adormecida, de contos de fada. O uma maior confiabilidade. Os acontecimentos contados nas
mito, porém, não é isso. mitologias ocorreram no tempo primordial, no tempo fabuloso
do “princípio”. A narrativa mítica não é datada, não é um evento
histórico passível de ser situado cronologicamente. Mito não é
História.
O mito nasce do desejo de dominar, de conhecer o mundo, para
afugentar o medo e a insegurança. O homem, à mercê das
forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar-lhes
qualidades emocionais. As coisas não são mais matéria morta,
nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao
contrário, estão sempre impregnadas de qualidades e são boas
ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais,

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fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, Apesar de não ter a mesma força e abrangência do mito antigo,
o homem se move dentro de um mundo animado por forças que a consciência mítica ainda se expressa de forma muito
ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a complexa, e ainda exerce uma forte influência nos tempos
terra seja fértil, para que a tribo ou grupo seja protegido, para contemporâneos.
que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz.
Alguns, florescem espontaneamente; já outros são produzidos
O pensamento mítico está, então, muito ligado à magia, ao deliberadamente, para servir a determinados objetivos. Muito
mistério, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um frequentemente os novos mitos representam uma fuga das
determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os restrições e das dores da nossa realidade. Não podendo ser um
rituais como meios de propiciar os acontecimentos desejados. “herói”, o homem cria heróis exemplares nas pessoas que
O ritual é o mito tornado ação. gozam de particular riqueza, sucesso, poderes. Não podendo
possuir “tesouros” reais, o homem cria tesouros supremos em
O ritual é a repetição dos atos dos deuses que foram bens de consumo dos quais ele ressalta sua importância e seu
executados no início dos tempos e que devem ser imitados e prestígio artificial.
repetidos para que as forças do bem e do mal se mantenham
sob controle. Desse modo, o ritual "atualiza", isto é, torna atual
ZÓIA: EXEMPLOS DE MITOS CONTEMPORÂNEOS
o acontecimento sagrado que teve lugar no impreciso passado
mítico. O mito, portanto, é uma primeira fala sobre o mundo, 1) Cientificismo: crença exagerada e cega no poder
uma primeira atribuição de sentido ao mundo e à nossa da ciência.
vida, sobre a qual a afetividade e a imaginação exercem grande
papel, e cuja função principal não é explicar a realidade, mas 2) Celebridades: alçadas à condições de seres
acomodar o homem ao mundo. sobrenaturais com talentos igualmente mágicos
Além de acomodar e tranquilizar o homem em face de um 3) Democracia Racial: ideologia conservadora que
mundo assustador, dando-lhe a confiança de que, através de mascara a realidade racista no Brasil afirmando que o
suas ações mágicas, o que acontece no mundo natural nosso caráter mestiço nos impede de sermos racistas.
depende, parte dos atos humanos, parte do desejo dos deuses.
Logo, o determinismo é constante nas narrativas, e partir dele, 4) Super Heróis: nascidos da inconformidade humana
o mito também fixa modelos exemplares de todas as funções diante de suas próprias e naturais fraquezas,
e atividades humanas. limitações.
O mito primitivo é sempre um mito coletivo, ele era narrado
normalmente em forma de poemas musicados pelos aedos
(poeta-cantor). Por meio destas narrativas, o indivíduo comum
entrava em contato com a memória cultural de seu povo e podia
conhecer seus heróis, deuses, valores éticos e religiosos.
O grupo, cuja sobrevivência deve ser assegurada de geração
em geração, existe antes do indivíduo e é só através dele que
o sujeito se reconhece como parte do grupo. Dentro dessa
perspectiva de coletivismo, a transgressão da norma, a não
obediência da regra afeta o transgressor e toda sua família ou
comunidade. Assim é criado o tabu - a proibição -, envolto em
clima de temor e sobrenaturalidade, cuja desobediência é
extremamente grave. Justamente por este teor sobrenatural, a
cosmovisão mitológica constitui-se como uma narrativa As celebridades são endeusadas, mitificadas, vistas como
cosmogônica e teogônica, ou seja, busca narrar a origem do entidades quase que sobrenaturais na contemporaneidade.
mundo, do universo, relacionando-as com o nascimento dos
deuses e suas obras.
Portanto, a compreensão de que o mito é uma mera maneira
fantasiosa de explicação da realidade, por falta de uma análise
racional melhor elaborada, uma forma inferior de
conhecimento, passando às vezes até mesmo como sinônimo
de “mentira”, é restrita e simplista. Os programas televisivos
“Caçadores de mitos” e “Verdade ou mito?” são exemplos
claros deste entendimento torpe.

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FILOINTERPRETANDO 2. COMO SURGIU A FILOSOFIA?

É difícil determinar o instante — se é que houve um — em que


a história do pensamento filosófico começou. Assim como a
“O problema é que os filmes de super-heróis têm essa maioria das coisas humanas, a Filosofia surge de um processo
mentalidade de que não somos mestres de nosso próprio sociocultural e histórico com causas mais ou menos
destino e o melhor que podemos fazer é sentar e esperar que modeladoras. Buscando um marco para tal surgimento,
um Senhor das Estrelas ou um maldito guaxinim nos salvem. estudiosos elegeram como ponto de partida o século VI e V a.C.
Esqueça o trabalho duro, instituições governamentais,
diplomacia, investimento. Nós só precisamos de um herói para Nesse período, testemunha do surgimento de homens como
nos salvar e assim colocamos o ‘bat-sinal’ para um homem que Sócrates (Grécia), Buda (Índia) e Lao-tsé (China), toma forma
poderia entrar e resolver todos os nossos problemas muito um pensamento mais aberto à nossa compreensão, também
rapidamente. E foi assim que conseguimos o nosso “super- marco de uma etapa que levaria o homem a procurar o
herói” mais recente: Donald Trump” sentido do mundo e da vida na própria realidade, na própria
natureza e não mais na narrativa sobrenatural mítico-
a) Qual a relação do texto crítico à indústria dos super-heróis e religiosa. É o que fazem, por exemplo, os pensadores que
a noção de ‘mitos contemporâneos’? viviam nas colônias gregas da Jônia, em meados do século VI
a.C. E a partir daí nasce o que mais tarde seria conhecido como
Filosofia ocidental.
b) Como os mitos contemporâneos podem influenciar nossas
decisões políticas? Durante muito tempo era forte a tese de que a Filosofia se
originou exclusivamente da genialidade dos gregos, sem contar
com qualquer contribuição cultural de outros povos. Essa
posição, conhecida como a do “milagre grego” é amplamente
criticada e desacreditada atualmente. Porém, o outro extremo
também não nos é salutar. Ou seja, afirmar que os gregos não
tinham nada de especial, que simplesmente sistematizaram um
conjunto de pensamentos já existentes em outros povos, é no
mínimo temerário. Vamos no caminho do meio-termo, assim
entenderemos quais condições históricas fizeram da Grécia um
terreno fértil para o germinar dessa nova forma de reflexão,
bem como as influências externas nesse processo.
Apesar de nunca ter desaparecido, a forma mítica de explicar a
realidade entrou em declínio na proporção em que crescia a
importância e a solidez das cidades-Estado (Pólis), cuja
característica central é a supremacia do ‘Lógos’ (que significa
“razão”, ou ainda, “palavra”, “discurso”), pois a decisão sobre
os assuntos públicos depende essencialmente da força das
palavras dos oradores, em substituição da força física. Ser bom
com as palavras, com a argumentação é fundamental,
especialmente em Atenas, que trouxe à tona uma forma de
governo inédita na história: a democracia.
Vê só que maravilha é essa invenção grega, a política: todos os
povos conviveram com formas de dominação (faraós no Egito,
Patesis na Mesopotâmia, Imperadores mundo afora), mas os
gregos foram os primeiros a pararem para pensar sobre isso.
Identificaram a política como a chance de debater os caminhos
a serem tomados pela comunidade (Pólis) e para a
comunidade.
Em Atenas e suas cidades aliadas, com a construção do
sistema político democrático, passa a ser a Ágora, a praça
pública, onde acontecem as transações comerciais e as
discussões sobre a vida da cidade, a começar por sua defesa.

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O acesso à Ágora torna-se cada vez maior com o tempo e as
reformas políticas, estendendo-se, a todos os que têm direito à
cidadania, ou seja, habitantes do sexo masculino, adultos e que
não sejam estrangeiros ou escravos.
Com a gradual consolidação da democracia de base escravista
- não custa lembrar que a escravidão ajudou bastante no
florescimento da Filosofia, já que possibilitou que alguns
homens dispusessem de tempo ocioso para tal exercício de
pensamento - na Grécia, a intensificação das viagens
comerciais e o consequente contato com outras culturas, as
formas tradicionais de enxergar o mundo vão naturalmente
entrando em crise. A sociedade está mudando.
Essa mudança traz reflexos intelectuais. O pensamento se
sofistica, as perguntas ficam mais complexas, acompanhando
a própria complexificação da sociedade. Fica muito patente que
a mitologia embora queira, não explica as grandes questões
que nos sufocam. O mito narra histórias, cheias de mistérios,
contradições e incompreensões. Narrar não é necessariamente
explicar.
A raiz da Filosofia está justamente em defender um tipo de
explicação para as coisas que não fosse fundamentada apenas
em histórias, mas sim em razões que as sustentassem. Essas
razões deveriam se originar naquele traço tão particular
humano e que nos diferenciar dos outros animais: a
racionalidade, a inteligência. Apesar das semelhanças, há uma diferença fundamental entre
É justamente por isso que boa parte das reflexões iniciais da o pensamento mítico e o pensamento racional dos primeiros
filosofia são idênticas àquelas que as narrativas míticas tentam filósofos. A mitologia exprimia na forma divina e celestial todo o
dar conta. O que muda é a maneira como vamos passar a lidar conjunto de relações, quer dos homens entre si, quer entre o
com essas inquietações. homem e a natureza. Assim como os deuses são criadores do
mundo, o rei é o criador da ordem social, o regulador do ciclo
Os primeiros filósofos gregos iniciaram suas indagações a da natureza. O universo divino, as relações sociais e o ritmo da
respeito da ordem que existe no mundo (cosmos) e partiram natureza confundem-se, submetidos ao comando do rei. Por
em busca da compreensão de sua natureza (Physis). isso, a mitologia apenas narra a sucessão de fenômenos
divinos, naturais e humanos. Ela não os explica, pois a
Esse novo modo de pensar, racional e filosófico, é
explicação já está dada pelo poder real.
erroneamente considerado, por alguns autores, oposto ao
pensamento mítico. É como se na Grécia do século VI a.C. o O desaparecimento do “rei divino” altera esse cenário. A Pólis
homem tivesse se libertado repentinamente da mitologia e da e a cidadania surgem como criações da vontade humana. Os
religião para se afirmar e se desenvolver racionalmente. Na acontecimentos do mundo antes considerados realizações do
verdade, a relação entre o mito e o lógos é muito mais rei (e dos deuses) perdem a base de compreensão. Tornam-se
complexa. Como aponta Jean-Pierre Vernant, os “filósofos não problemas. Para resolvê-los, o homem deve servir-se do meio
precisaram inventar um sistema de explicação do mundo: que ele próprio desenvolveu ao criar a Pólis: o lógos, a razão.
acharam-no pronto”.
Em outras palavras, a explicação filosófica é apenas a
Tome-se como exemplo a descrição da origem do universo feita explicação de um homem, e não dos deuses, desta forma, ela
por Hesíodo, no poema Teogonia. Nesta obra, ele buscou não pode impor-se sem maiores explicações causais, como
uma explicação para a relação entre o caos e a ordem anteriormente o mito se colocava. Desta maneira, a resposta
(cosmo) do mundo. Com a Filosofia nascente, esta mesma de um filósofo só fazia convidar outro a apresentar a sua versão
relação (caos e cosmo) aparece, mas a maneira de entender à questão. Isso provocou uma reação em cadeia, um efeito
essa relação muda. Enquanto o poeta vê os deuses como os dominó, e a mentalidade filosófica caminhou rapidamente até o
responsáveis por tudo o que há, os antigos pensadores seu amadurecimento. Apenas dois séculos separam Pitágoras
preferem partir das formas da natureza que esses deuses (um dos primeiros filósofos) de Platão e Aristóteles (tido como
representam (terra, água, ar) para entender a vida. os grandes pensadores gregos).

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Etimologicamente a palavra Filosofia vem do grego (philos =
amigo; Sophia = sabedoria). Diz-se que o termo surgiu pela
ZÓIA: CONDIÇÕES HISTÓRICAS DA GRÉCIA
primeira vez com Pitágoras de Samos (582-497 a.C) que, não QUE PERMITIRAM O SURGIMENTO E A
querendo definir-se como sábio, ou seja, detentor, possuidor do CONSOLIDAÇÃO DA FILOSOFIA
saber (em grego Sophos) preferiu autodenominar-se filósofo,
ou seja, aquele que busca o saber, aquele que ama a 1) Escravidão: A existência de mão-de-obra
sabedoria. compulsória liberava os mais abastados à
atividades de reflexão, como a política e a própria
Embebidos da ainda viva mentalidade mitológica, os gregos
antigos, sobretudo alguns filósofos pré-socráticos, afirmavam Filosofia. É o chamado “ócio criativo”.
que quem detinha o saber eram os deuses e não os mortais. 2) Viagens marítimas: não custa lembrar que
Dizia o próprio Pitágoras: “A sabedoria pertence aos Deuses,
mas os homens podem desejá-la, tornando-se filósofos”. Mais Mileto, cidade dos três primeiros filósofos, era
tarde, Sócrates vai levar esta discussão ao seu ponto máximo portuária e envolva em intensas trocas comerciais
com a máxima: “Só sei que nada sei”. Ou seja, fica muito claro e culturais com outros povos.
que o advento da Filosofia não implicou, de maneira nenhuma,
o total abandono da consciência mítica. Não há esta ruptura 3) Escrita alfabética: com a invenção da escrita, o
radical e total. mito, que antes era apenas narrado, ganha
diversas versões, tornando ainda mais patente as
suas contradições.
4) Vida urbana: com o crescimento do comércio,
algumas cidades se transformaram em grandes
centros. Com dinheiro circulando, havia estímulo à
criação intelectual e artística.
5) Política: tendo como característica fundamental
o discurso, a palavra, a política foi um dos fatores
mais preponderantes para o surgimento da
filosofia. O indivíduo grego quando se enxergava
como cidadão, se responsabilizava em usar a sua
A intenção da Filosofia Antiga é a compreensão racional da inteligência para a concretização do bem à
totalidade do ser. Isto quer dizer que, diferentemente das comunidade. As leis passaram a ser entendidas
explicações míticas ou religiosas, os filósofos devem fundar como a extensão da ordem cósmica na
suas pesquisas e argumentos sobre o raciocínio lógico, organização da cidade.
buscando as causas dos fenômenos. Enquanto o mito e a
religião buscam compreender o mundo através da crença e da
narrativa, a Filosofia vai fundamentar suas explicações na
Razão (Logos). Este é o seu método, que, aliás, foi herdado por
quase todas as ciências que conhecemos hoje. O objetivo da CAOS: DESORDEM,
Filosofia Antiga é bastante pretensioso: conhecer e
contemplar a verdade. DESARMONIA

COSMOS: ORDEM, HARMONIA


O cosmos era entendido como uma
ordenação racional e hierárquica da
natureza, em que há uma relação de
causalidade entre os seus elementos. É
a própria realidade natural.

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MITO: BASEADO NA IMAGINAÇÃO, HORA DE RELAXAR
NA NARRATIVA POÉTICA E
FANTASIOSA PARA COMPREENDER
O REAL, POR ISSO, NÃO NECESSITA QUESTÕES DO ENEM
DE RAZÕES
1. (Enem 2020) Na Grécia, o conceito de povo abrange tão
somente aqueles indivíduos considerados cidadãos. Assim é
possível perceber que o conceito de povo era muito restritivo.
Mesmo tendo isso em conta, a forma democrática vivenciada e
experimentada pelos gregos atenienses nos séculos IV e V a.C.
pode ser caracterizada, fundamentalmente, como direta.
LÓGOS: DISCURSO RACIONAL,
MANDUCO, A. Ciência política. São Paulo: Saraiva. 2011.
ESSENCIALMENTE
SUSTENTADO PELAS RAZÕES Naquele contexto, a emergência do sistema de governo
mencionado no excerto promoveu o(a)
DADAS ÀQUILO QUE SE a) competição para a escolha de representantes.
CONHECE OU QUE SE QUER b) campanha pela revitalização das oligarquias.
c) estabelecimento de mandatos temporários.
CONHECER d) declínio da sociedade civil organizada.
e) participação no exercício do poder.

2. (Enem PPL 2016) O aparecimento da pólis, situado entre os


séculos VIII e VII a.C., constitui, na história do pensamento
grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano
intelectual como no domínio das instituições, a vida social e as
relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja
originalidade foi plenamente sentida pelos gregos,
manifestando-se no surgimento da filosofia.

VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de


Janeiro: Difel, 2004 (adaptado).

Segundo Vernant, a filosofia na antiga Grécia foi resultado


do(a)
a) constituição do regime democrático.
b) contato dos gregos com outros povos.
c) desenvolvimento no campo das navegações.
d) aparecimento de novas instituições religiosas.
e) surgimento da cidade como organização social.

3. (Enem 2015) A filosofia grega parece começar com uma


ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz
de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e
levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar,
porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das
coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e
fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora
apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento:
Tudo é um.

NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São


Paulo: Nova Cultural. 1999

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O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da VESTIBULARES DIVERSOS
filosofia entre os gregos?
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os 5. (Uece 2020) Leia a seguinte passagem, que relaciona o
elementos sensíveis em verdades racionais. regramento democrático ao desenvolvimento de uma prática
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres social baseada na razão:
e das coisas. “A democracia representa exatamente a possibilidade de se
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira resolverem, através do entendimento mútuo, e de leis iguais
das coisas existentes. para todos, as diferenças e divergências existentes em nome
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças de um interesse comum. As decisões serão tomadas por
entre as coisas. consenso, o que acarreta persuadir, convencer, justificar,
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o explicar. Anteriormente, havia a imposição, a violência, a
que existe no real. obediência. A linguagem, o diálogo e a discussão rompem com
a violência na medida em que todos os falantes têm, no diálogo,
os mesmos direitos (isegoria): interrogar, questionar, contra-
4. (Enem 2ª aplicação 2010) “Quando Édipo nasceu, seus pais, argumentar. A razão se sobrepõe à força”.
Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma
profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-
Para evitá-la, ordenaram a um criado que matasse o menino. socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar Ed.1998.
Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um Considerando a passagem acima, analise as seguintes
casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o afirmações:
criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu I. O surgimento de todas as formas de manifestação cultural,
então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, entre elas a filosofia, a arte e a narrativa histórica deve ser
perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com entendido a partir do contexto social e histórico no qual
Laio e seu séquito, que,insolentemente, ordenou que saísse da determinada sociedade está imersa.
estrada. Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, II. O alvorecer da filosofia, no mundo antigo, teve como
sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou motivação o desenvolvimento de uma vida social
a viagem até chegar em Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele democrática, mais voltada à harmonia e conciliação de
decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou- interesses diversos, o que requeria o uso do argumento
se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia”. racional.
III. O processo democrático na Grécia antiga inaugurou a
Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em obediência ao poder de todos e para todos e isso se refletiu
no surgimento de um pensamento racional que, embora
No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino fosse inovador, continuava prisioneiro de uma visão
e do determinismo. Ambos são características do mito grego e autoritária de sociedade.
abordam a relação entre liberdade humana e providência
divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a É correto o que se afirma em
tese do determinismo é: a) I e III apenas.
a) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de b) I e II apenas.
mim mesmo.” (Jean Paul Sartre) c) II e III apenas.
b) “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus d) I, II e III.
nela escreva o que quiser.” (Santo Agostinho)
c) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da 6. (Uece 2020) Antes do surgimento do pensar racional-
morte.” (Arthur Schopenhauer) filosófico, os povos antigos possuíam outra forma de explicação
d) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para do mundo: o pensamento mítico.
permanecer o mesmo.” (Michel Foucault)
e) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e Considerando as características do conhecimento mítico,
semelhança.” (Friedrich Nietzsche) atente para o que se afirma a seguir e assinale com V o que for
verdadeiro e com F o que for falso.

( ) A mitologia foi a segunda forma de explicação sobre o


mundo, sucedendo as explicações fornecidas pelas
ciências dos antigos povos, como a agrimensura e a
astrologia.
( ) Os mitos eram transmitidos por gerações, principalmente
através da forma narrativa e faziam parte da tradição
cultural de um povo, não sendo originários da criação por

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parte de um indivíduo específico.
( ) A mitologia explicava a origem do mundo e dependia da 8. (Uem 2019) “Dédalo, a que não faltavam recursos, fabricou
adesão, pelas pessoas, de um conjunto de verdades para Ícaro e para si mesmo umas asas que colou com cera aos
tidas como inquestionáveis e imunes à crítica. seus ombros e aos do filho. Em seguida, ambos levantaram
( ) Baseado, principalmente, nas forças da natureza – physis voo. Antes de partir, Dédalo recomendara a Ícaro que não
–, as mitologias antigas, ao contrário das religiões que as voasse nem muito baixo nem muito alto. Ícaro, porém,
sucederam, evitavam o recurso às forças sobrenaturais orgulhoso, não deu ouvidos aos conselhos do pai e elevou-se
como fonte de explicação da existência. nos ares, aproximando-se tanto do Sol que a cera derreteu e o
imprudente caiu no mar que, a partir desse momento, se
A sequência correta, de cima para baixo, é: chamou Mar Icário.”
a) F, V, V, F.
b) V, F, V, F. (GRIMAL, P. Dicionário da mitologia grega e romana. Rio de
c) F, V, F, V. Janeiro: Bertrand Brasil, s.d., p. 241).
d) V, F, F, V.
Com base no fragmento e em conhecimentos sobre mitologia,
7. (Uece 2020) Atente para a seguinte passagem, que trata do assinale o que for correto.
alvorecer da filosofia: “A derrocada do sistema micênico 01) Os mitos são narrativas tradicionais que utilizam elementos
ultrapassa, largamente, em suas consequências, o domínio da simbólicos para explicar a realidade e conferir sentido à
história política e social. Ela repercute no próprio homem grego; vida humana.
modifica seu universo espiritual, transforma algumas de suas 02) Os mitos são lendas, fábulas, crendices e, portanto, um tipo
atitudes psicológicas. A Grécia se reconhece numa certa forma inferior de conhecimento a ser superado por explicações
de vida social, num tipo de reflexão que definem a seus próprios mais racionais.
olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo 04) Os mitos pertencem a um passado remoto, ultrapassado, e
bárbaro: no lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem foram superados pelo conhecimento científico.
controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida política 08) Os mitos são narrativas ricas em metáforas e em reflexões
grega pretende ser o objeto de um debate público, em plena luz sobre os homens e sua condição no mundo.
do Sol, na Ágora, da parte de cidadãos definidos como iguais e 16) Os mitos se sustentam pela crença em forças superiores,
de quem o Estado é a questão comum; no lugar das antigas que protegem ou ameaçam, recompensam ou castigam.
cosmogonias associadas a rituais reais e a mitos de soberania,
um pensamento novo procura estabelecer a ordem do mundo 9. (Uece 2019) “É no plano político que a Razão, na Grécia,
em relações de simetria, de equilíbrio, de igualdade entre os primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A
diversos elementos que compõem o cosmos”. experiência social só pôde tornar-se entre os gregos objetos de
uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um
VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia
Janeiro: Bertrand Brasil, 1996, p.6/adaptado. em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem
humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em
Com base na passagem acima, é correto afirmar que fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do
a) a filosofia decorre fundamentalmente de um longo processo número e da medida.”
de evolução dos mitos antigos, não havendo relação direta
entre seu desenvolvimento e o processo social e político dos VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de
povos que deram origem à civilização grega. Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989, p. 94.
b) o poder despótico, característico dos povos da antiguidade,
consolidou de forma gradual e constante o surgimento de Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce
movimentos sociais de contestação na Grécia antiga, o que a) após o declínio das ideias mitológicas, não havendo
foi fundamental para o surgimento da razão filosófica, no nenhuma linha de continuidade entre estas últimas e as
período clássico. novas ciências gregas.
c) a mudança de pensamento do povo grego e a originalidade b) das representações religiosas míticas que se transpõem nas
de sua reflexão sobre o cosmo se relacionam às novas representações cosmológicas jônicas.
transformações da vida política grega, na qual o debate c) da experiência do espanto, a maravilha com um mundo
público por parte de cidadãos iguais substituiu a onipotência ordenado e, portanto, belo.
do poder real ancorada em mitos de soberania. d) da experiência política grega de debate, argumentação e
d) não há diferenças significativas entre os sistema de contra-argumentação, que põe em crise as representações
organização social dos povos que viveram na Grécia míticas.
micênica e os processos sociais que vigoraram nos períodos
subsequentes, seja no período homérico, seja nos períodos 10. (Ufpr 2019) Quando soube daquele oráculo, pus-me a
arcaico e período clássico. refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto

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pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem
muito sábio nem pouco; que quererá ele então significar A narrativa mítica tem significância para a existência humana
declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, no mundo. O mito tem uma representatividade singular para
porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa transmitir e comunicar o conhecimento acerca da realidade.
incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
decidi-me por uma investigação, que passo a expor. a) Os relatos míticos são narrações fantasiosas, desvinculados
de sentido da realidade.
(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os b) O mito está privado de coerência, e sua narrativa prende-se
Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.) à existência humana no mundo.
c) O pensamento mítico está desligado do desejo de
O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar dominação do mundo, e sua narrativa impõe o medo e a
o modo como se estabelece, entre os gregos, a passagem do insegurança.
mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada: d) Os mitos devem ser acolhidos na sua significância como
base para a compreensão do homem na sua existência e
a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um convivência.
conhecimento centrado na fabulação. e) A mitologia se traduz em relato ilógico sem fundamento
b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por emotivo e tenta explicar a realidade concreta.
meio da razão.
c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade. GABARITO
d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso
de cunho religioso.
e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo 1 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11 12
Sócrates, inclusive, condenado por isso. E E C B B A C 25 D B A D

11. (Uece 2019) “Como se sabe, a palavra mythos raramente


foi empregada por Heródoto (apenas duas vezes). Caracterizar
um logos (narrativa) como mythos era para ele um meio claro
de rejeitá-lo como duvidoso e inconvincente. [...] Situado em
algum lugar além do que é visível, um mythos não pode ser
provado.”

HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília,


Editora da UnB, 2003, p. 37.

Sobre a diferença entre mythos e logos acima sugerida, é


INCORRETO afirmar que
a) o problema do mythos era limitar-se ao que é visível e, por
isso, não podia ser pensado.
b) filosofia e história nasceram, na Grécia clássica, com base
numa mesma reivindicação do logos contra o mythos.
c) o mythos não poderia ser submetido à clarificação
argumentativa e à prova — demonstração — discursiva.
d) em contraposição ao mythos, o logos era um uso
argumentativo da linguagem, capaz de criar as condições do
convencimento.

12. (Upe-ssa 1 2018) Em relação ao pensamento mítico, leia o


texto a seguir:
O homem, admirado e perplexo, diante da natureza que o
cerca, sem entender o dia, a noite, o frio, o calor, o sol, a chuva,
os relâmpagos, os trovões, a terra fértil ou árida, sem entender
a origem da vida, a morte e o seu destino eterno, a dor, o bem
e o mal, recorre aos mitos.
(SOUZA, Sônia Maria Ribeiro. Um outro olhar – filosofia. São
Paulo: FTD, 1995, p. 39.)

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