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14/07/2014 TELEGRAM

QUARTA TEORIA
ES - O mito da homossexualidade na Grécia Antiga POLÍTICA

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— INTRODUÇÃO 

Iremos reescrever a história, a história cheia de suas mentiras e distorções


Textos mais lido da semana
heterossexuais. (“The gay manifesto”).
Gustavo Morales - Castro:
Do Azul ao Vermelho
Neste artigo, refutaremos o mito de que a homossexualidade fazia parte de forma sistemática Augusto Fleck -
da sociedade grega. Não negaremos a existência da homossexualidade entre os gregos antigos Noomaquia e a Busca do
(se foram promulgadas leis contra a homossexualidade é porque houve casos), mas Logos Brasileiro
mostraremos que a moralidade tradicional reprovava esse comportamento. Também O Gnóstico
mostraremos que, na maioria dos casos, havia punições para a conduta homossexual, como a
pena de morte, o exílio ou a exclusão da vida pública.  Aleksandr Dugin - A
Impotência dos Patriotas
Russos
— A TEORIA DO PROTESTANTISMO 
Julius Evola - Os Povos de
Gog e Magog
De modo geral, podemos ver no catolicismo a repetição de alguns arquétipos e símbolos
pertencentes à Europa pré-cristã. O Renascimento e a maior parte da arte europeia estão ES - O mito da
homossexualidade na
concentrados em regiões católicas. Por outro lado, as regiões protestantes renovaram o
Grécia Antiga
fundamentalismo de atacar imagens (“idolatria”) e despiram o mundo nórdico da herança mais
dionisíaca (os protestantes eram mais “apolíneos” na importância que davam à palavra e à Mario Bozzi Sentieri - 50
Anos da Morte de Ezra
música, o que culminou em Bach), visual e litúrgica, e do legado clássico greco-romano, que era,
Pound: O Poeta e a sua
por definição, pagão. Visão Alternativa na
Política
Apesar disso, pode-se reconhecer um mérito inegável no protestantismo: ter incutido em povos Nicolas Gauthier -
inteiros o dever de ler, pois isso favoreceu a alfabetização, o acesso à leitura, à cultura e à Entrevista com Alain de
informação. O objetivo original desta política era que todos pudessem interpretar a Bíblia à sua Benoist: "A Ecologia
possui uma Força
própria maneira, pensar por si mesmos e conhecer a “palavra de Deus” em primeira mão, sem
Conservadora-
ter que recorrer a intermediários como o clero. Na prática, isso favoreceu o pensamento livre. Revolucionária"
Além disso, se houvesse divergência com o papel “oficial”, poder-se-ia fundar sua própria
Aleksandr Dugin -
comunidade religiosa com base em algum versículo bíblico e recorrer às fontes originais para Introdução à Noomaquia
tentar descobrir a verdade por conta própria. (Lição I) - Noologia: A
Disciplina Filosófica das
Estruturas Intelectuais
Neste artigo, daremos a oportunidade de o leitor descobrir a verdade sem precisar confiar em
intermediários de reputação duvidosa. Evitaremos, então, a tirania do pensamento único. Aqui, Aleksandr Dugin - A
usaremos fontes gregas para demonstrar que a homossexualidade na Grécia Antiga não era, de Desconstrução da
Democracia
forma alguma, um fenômeno socialmente aceite.

— A ORIGEM DO MITO  


SOCII

A primeira “coincidência” é que a maioria dos autores que reivindicaram o mito da Nova Resistência
homossexualidade na Grécia Antiga… eram homossexuais. Esta não é uma questão trivial, visto
que, inevitavelmente, suas perspectivas foram influenciadas por suas tendências pessoais.
COMPENDIVM
Falamos, por exemplo, de Walter Pater, Michel Foucault, John J. Winkler, John Boswell, Kenneth
►  2022 (64)
K. Dover  e  David M. Halperin. Esse círculo decadente distorceu a história grega à sua
►  2021 (93)
conveniência. 
►  2020 (80)
O criador do mito foi Walter Pater (1839–1894), professor de Oxford conhecido por se relacionar ►  2019 (49)
com seus alunos. Dessa forma, pode-se entender sua obsessão em erotizar as relações
►  2018 (15)
professor-aluno da Grécia Antiga. Provavelmente, o argumento mais desonesto de Pater é que
►  2017 (67)
“amor platônico” não tinha nada que ver com a Psiquê, sendo algo meramente sexual. Suas
elucubrações foram redescobertas um século depois por uma nova onde de autores  ― ►  2016 (72)
“coincidentemente”, a maioria homossexuais.  ►  2015 (71)
▼  2014 (80)
Seus escritos usam e abusam de suposições ambíguas para criar a margem necessária para ►  dezembro (2)
manobrar sua própria visão, sempre tendendo a ver fantasmas homossexuais onde não
►  novembro (4)
existem. Mais adiante, veremos suas falácias do espantalho. Por enquanto, enumeraremos  os
problemas sobre o mito:  ►  outubro (1)
►  setembro (5)
• Os gregos, especialmente os de herança jônica (como os atenienses) ― mais influenciados ►  agosto (4)
pelos costumes orientais ―, tendiam a “confinar” suas mulheres em casa, separando-as da vida
▼  julho (5)
pública e suprimindo a imagem feminina, o que foi bastante satirizado pelo historiador Indro
Aleksandr
Montanelli. Essa situação não era pan-helênica, já que na Esparta dórica as mulheres Dugin -
desfrutavam de uma liberdade realmente notável, mas, na maioria dos casos, os laços pessoais Batalha pelo
mais fortes costumavam ser entre homens. Estado
Guillaume
• Os gregos admiravam a beleza tanto em mulheres quanto em homens. No entanto, eles nem Durocher -
Vida e Obra
sempre traduziam essa admiração em algo sexual (algo raramente compreendido por uma de Alain
sociedade sexualizada como a nossa). Soral

ES - O mito da
• Em um povo que enfatizava tanto a formação esportiva, o combate e a camaradagem, era homossexua
lidade na
normal que ― ao passar muito tempo longe de casa durante as aventuras e as grandes batalhas
Grécia
― se formassem laços extremamente profundos. Em qualquer caso, esses laços não passavam Antiga
de um sentimento de fraternidade. Apesar da enorme importância que a relação professor-aluno
Joseph Pearce
teve na Grécia, e que, sem dúvida, conforme o tempo, alguns setores acabaram em - O que é o
homossexualidade, veremos que não foram poucas as cidades-Estado que tomaram medidas Distributism
o?
para salvaguardar a sacralidade desta instituição educacional.
Compreend..
.
• Hoje, o ideal de beleza do imaginário coletivo é a mulher por volta dos 30 anos ― o que, nem de Claudia Mende
longe, torna todas as mulheres em homossexuais. Na Grécia Antiga, o ideal de beleza era o & Katrin
jovem que estava entre a adolescência e a juventude, pois era considerado como o único tipo Gänsler - De
seita local a
humano que combinava a flor da juventude e a força da masculinidade. ...

• As palavras gregas para designar o iniciador e o iniciado que aspirava se tornar homem eram, ►  junho (7)
respectivamente, erastḗs e erṓmenos, que, traduzidas literalmente, seriam algo como “amante” e ►  maio (5)
“amado” [1]. Porém, como veremos, a mentalidade clássica fazia distinção entre o amor carnal e ►  abril (9)
o amor platônico. À vista disso, as relações professor-aluno eram baseadas no amor platônico,
►  março (12)
considerado um tipo de amor superior, altruísta, dissociado do carnal e capaz de incutir virtude e
sabedoria.  ►  fevereiro (14)
►  janeiro (12)
•  Na Grécia Antiga, pensava-se que um jovem precisava da orientação e tutela de um homem
►  2013 (95)
mais velho para prepará-lo para a vida.
►  2012 (190)
►  2011 (423)
►  2010 (151)

SAPIENTES

Aleksandr Dugin (140)

Alain de Benoist (88)

Julius Evola (62)

Guillaume Faye (25)

Alberto Buela (21)

Ernst Jünger (20)

Claudio Mutti (19)

ES (16)
Nas irmandades caçadoras-guerreiras (chamadas Kóryos em proto-indo-europeu e Männerbünde em alemão), o
Dominique Venner (15)
comportamento desviante era desaprovado. Nesses grupos, a fraternidade, o respeito, a disciplina, a honra, o trabalho
em equipe e a camaradagem predominavam sobre os instintos individuais, que eram descarregados em combate ou Robert Steuckers (14)
em mulheres. O melhor texto para se familiarizar com a mentalidade, psicologia e modo de vida de uma Männerbund
do passado, é, sem dúvida, a “Ilíada” de Homero, grande épico por excelência do mundo grego. Leonid Savin (13)

Oswald Spengler (10)


Dito isso, derrubaremos o gigante de pés de barro.
Yukio Mishima (10)

— ALGUNS APELIDOS PARA HOMOSSEXUAIS NA GRÉCIA ANTIGA Daniele Perra (7)

Ernst Niekisch (7)


Historicamente, a maioria das sociedades proibiram e/ou estigmatizaram práticas sexuais
estéreis ou perigosas. A homossexualidade abrange as duas condições, pois, por um lado, é Jack London (7)
incapaz de gerar uma nova vida e, por outro lado, o orifício utilizado não é a parte mais limpa e
José Alsina Calvés (7)
higiênica do corpo humano. Na Grécia Antiga — que não era exceção a essa regra geral —, não
havia palavras modernas como “homossexual” ou “gay”, portanto, aos homossexuais havia uma Juan Pablo Vitali (7)
série de palavras de significado depreciativo: Martin Heidegger (7)

- Eurúprōktos: ânus aberto. Adriano Romualdi (6)

Alain Soral (6)


- Lakkoprōktos: ânus de poço. 
Tomislav Sunic (6)

- Katapýgon, kataprōktós: “homossexual passivo”. Adriano Scianca (5)

Ezra Pound (5)


- Arsenokoítēs: “homossexual ativo”.
Jean Thiriart (5)
- Marikâs: efeminado.
Carl Schmitt (4)

- Andrógunos: andrógino, hermafrodita, “homem-mulher”. Christian Bouchet (4)

Diego Fusaro (4)


-  Kínaidos: “causador de vergonha”. Essa palavra deriva de  Aidos (Vergonha). Como veremos,
Aedos (Vergonha) é sempre acompanhada por Nêmesis (Indignação), uma divindade que se Marcelo Gullo (4)
encaixa no conceito de “karma” ou punição pelos pecados. Por conseguinte, podemos constatar
Pierre Drieu la Rochelle
que os gregos acreditavam que os sodomitas tinham uma espada de Dâmocles  sobre seus (4)
pescoços. Mas o fato mais importante é que, no imaginário grego, a Vergonha estava associada
Francis Parker Yockey (3)
ao ânus:
Georges Sorel (3)

Quando Zeus moldou os homens e infundiu neles diferentes sentimentos, somente Alexander Jacob (2)
esqueceu a Vergonha. E ele, não sabendo onde introduzi-la, ordenou-lhe que entrasse Mircea Eliade (2)
pelo ânus. Ao início, a Vergonha, indignada, recusou-se. Porém, depois de Zeus insistir
veementemente com ela, disse: “Mas se entrar algo atrás de mim, saio de imediato.” Sebastian J. Lorenz (2)
(Esopo, “Fábulas”, 109. ‘Zeus e a Vergonha’) Arthur Moeller van den
Bruck (1)

A partir deste mito, conclui-se que, conforme a mentalidade tradicional grega, o sexo anal Giorgio Freda (1)
implica em ser manchado pela vergonha. Jean Parvulesco (1)

Outra questão significativa é que, em uma cultura pagã europeia, onde toda atividade e todo Joseph de Maistre (1)

momento da vida tinha seu próprio “patrono”, deveria existir ― particularmente em uma Norberto Ceresole (1)
sociedade onde a homossexualidade era supostamente generalizada ― uma divindade
Pierre Vial (1)
relacionada à homossexualidade... mas não existe. Forçando muito, poderíamos pensar nos
sátiros, seres degenerados que realizavam todo tipo de perversão sexual, mas isso será Theodore Kaczynski (1)
abordado mais abaixo. Por outro lado, em uma civilização que supostamente
concede  estatuto  de normalidade à homossexualidade, favorecendo-a sobre a
heterossexualidade, o erotismo deveria ser personificado em uma divindade representada por
um jovem, mas, novamente, não é o caso: a deusa do amor, a portadora de Eros e de todas as
qualidades que fazem os homens perderem a cabeça, é Afrodite, o arquétipo da mulher alfa.
Afrodite.

— A HISTÓRIA DE LAIO

O mito de Laio é um exemplo perfeito do que acontece quando o homem atrai para si a Húbris,
de acordo com o conceito da Hélade clássica. Começaremos a falar sobre o primeiro Kínaidos
da mitologia grega.

Laio era um homem de linhagem real da cidade de Tebas, mas quando iria ascender ao trono,
seus primos fizeram uma conspiração, de maneira que Laio teve que se exilar em Pisa, onde o
rei Pélope  (daí vem Peloponeso) acolheu-o como um convidado. Pélope pediu a Laio que
ensinasse seu filho Crisipo as artes da equitação, em uma relação professor-aluno. No entanto,
Laio profanou o caráter sagrado dessa relação abusando sexualmente do pobre menino. O
menino, por vergonha (lembre-se de Aedos), comete suicídio. A transgressão de Laio causa um
forte karma em sua volta. Dessa forma, assim como Aedos conduziu Crisipo a cometer suicídio,
Nêmesis, sua parceira, pune o pecado de Laio com uma maldição sobre sua linhagem.

A maldição começa quando os deuses enviam a Esfinge para Tebas. Este ser, com corpo de
leão, cabeça de mulher e asas de pássaro, semeia o terror nos campos tebanos, destruindo as
plantações e estrangulando os homens que são incapazes de resolver seus enigmas. Laio
acaba se casando com Jocasta, mas o oráculo de Delfos o adverte para não ter filhos, pois ele
teria um menino destinado a matar o próprio pai e casar com a própria mãe.  Moira (o Destino)
não pode ser evitada, de jeito que a profecia se cumpre: Édipo, que havia sido enviado para
longe de sua família, acaba por matar seu pai e, tendo salvo Tebas da Esfinge, se casa com sua
mãe, a rainha Jocasta, tornando-se rei de Tebas até que, quando os fatos finalmente são
conhecidos, por vergonha (Aedos e Nêmesis em ação), Jocasta se enforca e Édipo arranca os
próprios olhos. A tragédia continua com os filhos nascidos desse casamento incestuoso: Por
um lado, os meninos, Etéocles e Polinices, matam-se em batalha pela disputa do trono, por outro
lado, as meninas, Antígona e Ismênia, são condenadas à morte. Por fim, a Justiça é feita.
Embora tenha conseguido matar a Esfinge e virar o rei de Tebas, o herói Édipo, por ser filho do Kínaidos Laio, foi
amaldiçoado pelos deuses. Quando soube que havia matado o próprio pai, casado com a própria mãe e tido filhos
dessa relação incestuosa (algo como a Húbris absoluta), arrancou os próprios olhos.

Em relação a esse mito, várias perguntas devem ser feitas: Por que Crisipo cometeu suicídio se
o sexo entre professor e aluno era supostamente tão normal? Por que os deuses enviaram a
Esfinge para Tebas como punição? Por que a linhagem de Laio foi amaldiçoada? O mito de Laio
possui muitas lições morais. Por um lado, que as transgressões morais são sempre punidas
pelos deuses, mais cedo ou mais tarde. Por outro lado, que os pecados dos pais são castigados,
pelo menos, até a terceira geração. Finalmente, que os monstros (como a Esfinge) são frutos de
atos aberrantes, especialmente os sexuais.

Quando pensamos que esse mito era uma história transmitida oralmente de geração em
geração e representada teatralmente ano após ano em uma civilização que atribuía extrema
importância estar em harmonia com os deuses, é difícil pensar que na Grécia Antiga esse
comportamento fosse socialmente aceite (particularmente em Tebas, onde ocorreu o mito de
Laio).

Agora, voltaremos nossa atenção para o Batalhão Sagrado de Tebas. Segundo os círculos, esse
batalhão era uma fachada homossexual. Acredita-se que há uma alusão ao Batalhão Sagrado de
Tebas no “Banquete” de Platão (178e), quando se discute a conveniência de ter “um exército de
amantes e amados”. Se examinarmos a fonte original, veremos que  a palavra erṓmenos  não
aparece. Por outro lado, só encontramos a palavra  paidikón  (menino). O que os círculos não
mencionam é que a inovação de Epaminondas, general do batalhão, consistiu em modificar as
táticas de combate do exército. No passado, os novatos (alunos, força, impulso) formavam a
linha de frente, enquanto os veteranos (professores, sabedoria, experiência) formavam a linha de
fundo. Simplesmente, o general misturou todas as linhas para combinar as qualidades dos
soldados. Igualmente, como nos outros casos, não há absolutamente nada que mostre qualquer
traço de homossexualidade. Simplesmente, foi um argumento tirado da cartola. Como
confirmação, no ano 338 AEC, após a Batalha de Queroneia, onde a resistência grega perdeu
para a invasão macedônica, o rei Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, olhou para
os soldados tebanos que lutaram heroicamente até a morte e exclamou: “Morra miseravelmente
aquele que pensar que estes homens fizeram algo vergonhoso!”

Outra referência ao caso de Laio está nas “Leis” de Platão, quando o velho ateniense,
representante do ponto de vista platônico, fala “daquela lei que era vigente antes da época de
Laio, declarando que é certo nos abster da relação sexual em que substituímos uma mulher por
um homem ou um rapaz, aduzindo como evidência a natureza dos animais selvagens e
apontando o fato do  macho não tocar o macho com esse propósito, visto que é contra a
natureza” (836c). Laio era representado como aquele que transgrediu a lei natural ao contrariar
os deuses. O ateniense defende a ideia de que a lei não deve ser branda em relação à
homossexualidade, uma vez que ela não inculca autocontrole na alma do “ativo” (que é acusado
de lascívia) ou valor na alma do “passivo” (que é acusado de imitar o papel feminino de maneira
antinatural).

— HOMOFOBIA NAS LEIS GREGAS


Neste tópico veremos uma série de citações que testemunham uma clara homofobia,
certificando que havia Estados gregos, incluindo alguns dos mais importantes, que proibiram a
homossexualidade com punições severas, e que, em tal caso, não se pode dizer que a
homossexualidade era “socialmente aceite” ou que constituía uma “instituição social”, como
alegam os círculos.

Em seu “Contra Timarco” (21), o orador Ésquines (389–314 AEC) nos fala sobre as famosas Leis
de Sólon, onde uma se destaca:

Se um ateniense tiver um companheiro do mesmo sexo, que ele não possa se


candidatar a ser um dos nove arcontes, nem ocupar um cargo de sacerdote, nem atuar
como promotor público, nem assumir cargo algum — quer interno ou no estrangeiro,
quer por sorteio ou por votação. Que ele não seja enviado como arauto, nem expresse
sua opinião, nem frequente as cerimônias públicas da assembleia, nem compareça
coroado nas celebrações com coroações coletivas, nem entre na parte purificada da
ágora. Se alguém praticar um desses atos, tendo sido condenado por atuar como
acompanhante, que seja punido com a morte.

Ésquines reforça seu discurso quando faz menção aos seus antepassados atenienses, “severos
em relação a todo comportamento vergonhoso”, e que consideravam “preciosa” a “pureza de
seus filhos e de seus concidadãos”. Ele também elogia as medidas espartanas contra a
homossexualidade, citando o ditado de que “é bom imitar a virtude mesmo de um estrangeiro”.

Portanto, algumas leis da democracia ateniense seriam taxadas hoje em dia como
homofóbicas. Na verdade, é hilário quando a democracia moderna e progressista diz se basear
na democracia da Grécia Antiga: até Atenas, talvez o Estado grego mais “liberal”, só permitia o
voto de cidadãos gregos, ou seja, homens descendentes de famílias nobres que haviam
superado extenuantes testes físicos (estamos falando de proezas esportivas que são
impraticáveis para a grande maioria das pessoas hoje) e que estavam dispostos a salvaguardar
a integridade da pólis ateniense com suas armas e com seu sangue.

Por sua parte,  Demóstenes  (384–322 AEC), um político e orador ateniense, lista uma medida
semelhante em seu “Contra Androcião” (30), quando especifica que os homens que praticam
sodomia “não terão direito de falar em público”.

A conclusão derivada desses trechos é que os homossexuais atenienses eram proibidos de


participar de eventos políticos, religiosos ou culturais, considerados cidadãos de segunda
classe.

Agora, o mais notável é o caso de Platão (427–347 AEC), por um lado, porque ele sempre elogia
as medidas espartanas (que, como veremos, eram severas em relação à homossexualidade) e,
por outro lado, porque ele fala o tempo todo sobre a importância da “abstinência”, da
“moderação”, do “comedimento” e do “autocontrole”; ele atribui grande importância ao controle
dos instintos e do prazer, a tal ponto que, hoje em dia, a maioria das pessoas o veria como um
velho ranzinza ― é por isso que “amor platônico” é sinônimo de amor idílico, puro e desprovido
de caráter sexual  ― tal como, por exemplo, expressa o poeta renascentista Francisco Petrarca,
falando de uma “etérea” amada que não é desse mundo: uma alusão ao amor ascético e ritual,
que catalisa a excelência do espírito e não coincide necessariamente com o amor físico.

Entrando no assunto, no diálogo “Leis” podemos destacar um  excerto particularmente


interessante:

Quando o macho se une à fêmea para a procriação, o prazer experimentado é


considerado devido à natureza, porém contrário à natureza quando o macho se une ao
macho ou a fêmea se une à fêmea, sendo que os primeiros responsáveis por tais
enormidades foram impelidos pelo domínio que o prazer exercia sobre eles. Devemos
acusar os cretenses de terem inventado o mito de Ganímedes. (Livro I, 636c)

Mais adiante, o velho ateniense dá duas opções possíveis para a legislação no sentido sexual:
Poderíamos impor uma de duas alternativas no que concerne às relações sexuais: ou
ninguém ousará tocar nenhuma pessoa nobre e livre, exceto sua própria esposa, nem
lançar sua semente em mulheres adúlteras, gerando filhos ilegítimos e bastardos, nem
pervertendo a natureza desperdiçando seu sêmen na sodomia; ou então deveremos
abolir inteiramente as relações com o sexo masculino. (Livro VIII, 841ce).

Em “Fedro”, Platão fala sobre como os homossexuais temem ser descobertos (o que seria
incomum em uma sociedade onde a homossexualidade supostamente fosse uma “instituição
social”):

Suponhamos que, em face das convenções, receias que a tua conduta seja divulgada,
tornando-te o alvo de críticas e intrigas. (231e)

A posteriori, Plutarco (46–120 EC), em “Diálogo sobre o Amor” (751de), contrasta “o amor entre


mulheres e homens, conforme à natureza” com  “essa outra espécie de união (…) contra a
natureza”. 

Em tempos romanos, podemos falar de Luciano de Samósata (125–181 EC), que em sua obra
“[Os dois] Amores” possui inúmeras passagens notáveis, entre as quais algumas podem ser
destacadas. No entanto, recomenda-se ler o livro inteiro, visto que, ao longo da leitura, podemos
ver um debate sobre o amor para com os homens e o amor para com as mulheres, no qual o
autor se posiciona claramente a favor do amor heterossexual e do “divino Platão”:

(…) Como, porém, era impossível que de um só ser nascesse algo, [a mãe primordial]
imaginou para cada ser uma dupla natureza: ao conceder aos machos a propriedade
exclusiva de verter esperma, e ao fazer da fêmea como que o receptáculo da semente,
insuflando, portanto, em ambos os sexos um desejo comum, uniu-os um ao outro,
prescrevendo a cada um que, obedecendo ao sagrado laço da necessidade,
permanecesse fiel à sua natureza específica, e que nem a fêmea se masculinizasse
contra a natureza, nem o macho se feminizasse indecorosamente. É assim que as
relações de homens com mulheres têm, até hoje, e por sucessões imortais, conservado
a raça humana. (…) (19)

Gaia (Mãe-Terra) era consorte de Urano (Céu). Certamente, Luciano de Samósata refere-se a Gaia quando fala de uma
“mãe primordial”.

Ora, no princípio, quando a humanidade ainda pensava à maneira dos heróis e venerava
a virtude que coabitava com os deuses, o homem obedecia aos ditames instituídos pela
natureza e, unindo-se a mulheres em idade adequada, tornavam-se pais de nobres filhos.
A pouco e pouco, porém, a sociedade, decaindo dessa grandeza e precipitando-se no
abismo da luxúria, foi traçando estranhas maneiras de prolongar os prazeres. Depois, a
luxúria que tudo ousa violou a própria natureza. Quem terá sido o primeiro que olhou
para um macho como se fosse uma fêmea, quer violando-o tiranicamente, quer
persuadindo-o manhosamente? Num único leito entrou uma única natureza. Olhando-se
uns aos outros, não tinham pejo nem do que faziam nem do que suportavam, mas, como
sói dizer-se, semeando sobre pedras estéreis, compraram por um pequeno prazer uma
grande desonra. (20)

Poderíamos enfatizar que não foram poucas as comédias teatrais que usavam uma linguagem
extremamente chula para depreciar os homossexuais, especialmente aqueles que assumiam o
papel passivo. Se a homossexualidade fosse uma prática comum, isso implicaria que o
comediante estaria ridicularizando toda a sua audiência masculina.

— ESPARTA 

As regras relativas aos prazeres em Esparta me parecem as melhores do mundo.


(Megilo, nas “Leis” de Platão, 637a).

Neste tópico, pegaremos um fragmento do capítulo 14 do livreto “Esparta e sua lei”: “O ritmo de
vida que o espartano levava era de uma intensidade para matar uma manada de rinocerontes, de
forma que nem mesmo as espartanas poderiam suportar. Assim, o mundo da milícia espartana
era em si um universo inteiro — um universo de homens. Por outro lado, a intensa relação
afetiva, o culto à virilidade e a camaradagem que existia entre os componentes da irmandade,
entre professor-aluno, na falange de combate e em toda a sociedade espartana — e que os
ressentidos de nosso tempo moderno não compreendem —, serviu para alimentar em nossos
dias o falso mito da homossexualidade grega. A questão é que os componentes da irmandade
se consideravam irmãos, já que cada espartano havia aprendido que cada homem de sua
geração era seu irmão”.

Dessa forma, podemos citar Xenofonte:

Os costumes instituídos por Licurgo estavam em oposição a todos os outros [Estados


gregos, principalmente Atenas e Corinto]. Se algum homem admirasse a alma de um
rapaz, tutelando-o, se aprovava, pois acreditava na excelência desse tipo de treinamento.
Mas se estava claro que a admiração estava na beleza exterior do rapaz, se proibia a
relação como uma abominação; e assim a purgava de toda impureza, de modo que tal
relação se assemelhava ao amor paterno e fraterno. — ("Constituição dos
lacedemônios", II, 13).

Por outro lado, o romano Cláudio Eliano disse que se dois espartanos sucumbissem à tentação
e se entregassem a relações carnais, eles deviam redimir sua afronta pelo exílio ou pela morte,
por honra à Esparta (“Varia Historia”, III, 12). ​Basicamente, isso  significa que a pena para a
homossexualidade em Esparta era a morte ou o exílio (considerado naqueles tempos pior que a
própria morte)

Temos outro exemplo que refuta as teorias sobre relações carnais entre professor-aluno em
Esparta nas “Dissertações” de Máximo de Tiro, onde ele escreve que “prazeres carnais desse
tipo são trazidos pela Húbris e são proibidos” (20.8de).

Portanto, vimos que a relação professor-aluno em Esparta era fundada em respeito e admiração,
constituindo uma formação. Mas apesar disso, os círculos distorcem a realidade com
especulações vãs sobre sinais de homossexualidade onde somente existe amizade e um
sentimento de irmandade.

— SUPOSTOS “AMANTES HOMOSSEXUAIS”

A mitologia não deve ser entendida de forma literal, certamente. Mesmo assim, a mitologia é de
suma importância para entender a mentalidade e os valores de um povo, visto que as histórias
fornecem a chave de sua psicologia, de seu imaginário coletivo, de seus ideais e de seus
sentimentos. A seguir, pegaremos as fontes originais para analisar os casos mais conhecidos
do mito da homossexualidade na Grécia Antiga. 

· Aquiles e Patróclo  
Sobre esse caso, vamos recorrer ao Canto IX, 665, da “Ilíada” de Homero:

Mas Aquiles foi deitar-se no recesso interior da tenda bem construída; ao seu lado
dormiu uma mulher, que ele trouxera de Lesbos, filha de Forbante, Diomeda de lindo
rosto. E Pátroclo deitou-se do lado oposto: junto dele dormia Ífis de bela cintura, que lhe
dera o divino Aquiles quando tomou a íngreme Esquiro, cidade de Enieu. 

Se Aquiles e Pátroclo eram amantes homossexuais, por que eles dormiam em lados opostos da
tenda, cada um com uma mulher? Onde está a menção do “amor” de Aquiles e Pátroclo como
algo sexual? A realidade é que o relacionamento entre os dois era de uma intensa amizade de
irmãos de armas. 

Sem mencionar que o comportamento de Aquiles ao longo da saga de Troia é de um “macho


alfa”. Ele se orgulha de ter tomado, arrasado e saqueado inúmeras cidades, matando vários
homens e possuído suas mulheres e filhas.  Ele enfurece-se quando Agamenão se apodera de
Briseida, sua escrava favorita. Além disso, quando os aqueus queriam que Aquiles voltasse à
guerra, não o tentavam com efebos, mas com uma infinidade de belas escravas, virgens ou
“especialistas na arte do prazer”, além de uma série de presentes materiais valiosos. Pátroclo,
mais velho do que ele, era apenas seu professor, além de amigo, e sua atitude para com Aquiles
é como a de um irmão mais velho. A intensidade das aventuras vividas em torno da guerra
forjou um vínculo particularmente intenso de camaradagem e amizade, algo que fica muito claro
quando, com a morte de Pátroclo pelas mãos do herói troiano Heitor, Aquiles mergulha no mais
tremendo desespero. Alega-se que a reação de Aquiles é muito forte para ser um mero
relacionamento fraterno, mas mais tarde, o rei Príamo sente uma tremenda angústia quando seu
filho Heitor cai sob a lança de Aquiles. Podemos concluir que, para os gregos, o amor erótico
nada tinha que ver com o desespero pela perda de um ente querido.

· Zeus e Ganímedes   

Ganímedes era um príncipe troiano que, recém-saído da adolescência, vivia um estágio


transitório de caçador-coletor em um ambiente selvagem, o que era bastante comum na Grécia
tradicional (Esparta também tinha esse costume) como um rito de passagem para marcar a
chegada da masculinidade. Impressionado com seu porte, Zeus se transforma em uma águia e
leva-o para o Olimpo para ser copeiro dos deuses.

O que significa “copeiro”? Copeiro, como o próprio nome indica, é aquele que serve as copas
(“garçom” seria um sinônimo moderno). Realmente, os deuses e deusas procuravam o copeiro
mais belo, pois, de todos os povos, os gregos eram os que atribuíam maior importância à beleza,
inevitavelmente a relacionando com um caráter divino.

Vejamos o que Homero diz sobre Ganímedes:

(…) de Trós nasceram três filhos irrepreensíveis: Ilo e Assáraco e o divino Ganimedes, ele
que foi o mais belo de todos os homens mortais. Arrebataram-no os deuses para servir
o vinho a Zeus por causa da sua beleza, para que vivesse entre os imortais. (“Ilíada”,
Canto XX, 235)

Onde estão os sinais de homossexualidade nesse mito? Pois bem, nas fontes originais não há
menção de uma relação carnal entre Zeus e Ganímedes. Os círculos dizem que os sinais são
“ocultos” e/ou “simbólicos”. No entanto, a realidade é que a mitologia grega é totalmente
explícita no tocante a esses assuntos, não deixando margem para más interpretações. Dessa
forma, na mitologia grega, temos exemplos diretos de relações heterossexuais, mas não o
contrário. Além disso,  se os gregos supostamente viviam em uma sociedade onde a
homossexualidade era socialmente aceite, então, por que as relações homossexuais estariam
escondidas entre as linhas?  Finalmente, como veremos mais abaixo, Zeus é um deus que se
envolve com dezenas, talvez até centenas de deusas e mulheres mortais (na “Ilíada” temos a
sensação de que a maioria dos soldados, heróis e reis descendem de Zeus).

· Apolo e Jacinto

Na mitologia grega, Jacinto era um príncipe espartano que o deus Apolo havia colocado sob sua
tutela para ensiná-lo a se tornar um homem. Segundo Filóstrato, Apolo treinou Jacinto para se
tornar um guerreiro. Dessa forma, podemos dizer que Apolo cumpria um papel de professor-
iniciador, não só de Jacinto, mas de toda Esparta, visto que Jacinto, por sua vez, transmitia aos
seus compatriotas os conhecimentos adquiridos.  Durante um treinamento, o deus e o jovem
estavam treinando lançamento de disco. A certa altura, Apolo atirou o disco com muita força e
Jacinto, para impressioná-lo, tentou agarrá-lo, mas ao cair do ar o disco ricocheteou no chão,
acertando-o na cabeça e matando-o. Apolo, aflito, não permitiu que Hades reivindicasse a alma
do jovem e, com seu sangue, criou a flor de jacinto.

Há algo que sugira que entre Jacinto e Apolo havia outra coisa além de um amor de irmãos ou
companheiros de treinamento? 

Depois de ler autores como Heródoto (“Histórias”), Pausânias (“Descrição da Grécia”),


Luciano  de Samósata (“Diálogos dos deuses”) e Filóstrato (“Imagens”), não se pode encontrar
nada que sugira um amor erótico, mas somente uma profunda amizade entre professor e aluno.

Bem, para os círculos, o mito de Jacinto demonstra que a homossexualidade pederasta era
generalizada em Esparta. Como vimos, Esparta reprovava a conduta homossexual. Além disso,
como veremos adiante, o comportamento de Apolo na mitologia grega não deixa margem para
más interpretações. 

Outro argumento espalhafatoso dos círculos é que  Zéfiro, o vento do Oeste,  teria desviado o
disco por ciúme de Apolo. No entanto, mais uma vez, não encontramos conotações eróticas em
nenhuma fonte original. Por outro lado, podemos encontrar declarações diretas sobre a relação
entre Zéfiro e Íris

Segundo a mitologia grega, Apolo, certa feita, gabou-se de ser um arqueiro melhor do que o Cupido (o “anjinho” que
fere os mortais com a flecha do amor à primeira vista). Como vingança, o Cupido atirou uma flecha em Apolo que o
encheu de amor por uma ninfa chamada Dafne. Mas ela, por sua vez, foi atingida por uma flecha com um efeito oposto,
de maneira que passou a ter desprezo pelo deus. Apolo, sofrendo por amor, perseguiu a ninfa, que fugiu de suas
investidas. Como um feitiço, Dafne se transformou em um loureiro no momento em que Apolo a tocou. Embora os
círculos digam que essa é uma parábola sobre o “desencanto com o sexo oposto”, a realidade é que Apolo abraçou o
loureiro e, chorando, disse “Dafne, meu primeiro amor”, a partir do qual o loureiro passou a ser sagrado para ele.  

· O caso de Alexandre, o Grande

Alexandre é uma figura manipulada a extremos. Não surpreende que quando o filme “Alexandre”
saiu em 2004, um grupo de advogados gregos ameaçou processar a Warner e Oliver Stone
(diretor do filme), acusando-os de distorcer a história grega. Na Grécia, o filme ficou em cartaz
por apenas quatro dias e foi um tremendo fracasso. Os gregos conhecem bem sua própria
história como a palma da mão, pois leem todos os livros (incluindo em grego antigo), por isso
não acreditam em reinterpretações modernas.

Em primeiro lugar, é necessário lembrar que a maioria dos fatos sobre Alexandre que chegaram
até os dias de hoje foram escritos séculos depois de sua morte e, portanto, devem ser lidos com
cuidado. No entanto, temos evidências suficientes para não ter que comprar teorias infundadas.
Assim, todas as fontes coincidem em descrever Alexandre como um homem sexualmente
contido  e de forma alguma promíscuo. Na verdade, Plutarco explica como Alexandre ficou
ofendido quando um comerciante ofereceu-lhe dois rapazes:
Filoxeno, o comandante das forças da costa, escreveu-lhe a dizer que estava com ele um
tal Teodoro, um tarentino, que tinha à venda dois rapazes de uma beleza fora de comum,
e perguntando a Alexandre se os não queria comprar. O rei ficou furioso, e fartou-se de
protestar com os amigos; insistia em perguntar se alguma vez Filoxeno teria visto nele
algum sinal de desonestidade para lhe vir com semelhante proposta. Quanto a Filoxeno
propriamente, escreveu-lhe uma carta com censuras veementes, a dar-lhe ordem de que,
a esse tal Teodoro mais à sua mercadoria, os mandasse para o inferno. Outro que lhe
mereceu também as maiores reprovações foi Hagnão, quando lhe escreveu a dizer que
tencionava comprar Crobilo, um moço famoso em Corinto pela beleza, para lho trazer.
(“Vida de Alexandre”, XXII, 1–3)

Quanto ao seu suposto caso com seu amigo Heféstio, mais uma vez, não há absolutamente
nenhuma evidência para supor que os amigos de infância tivessem uma relação homossexual.
Na verdade, Alexandre se casou com Estatira II (filha do xá Dario III) e Parisátide II (filha do xá
Artaxerxes III), enquanto que Heféstio se casou com Dripetis (também filha de Dario III), de
modo que passaram a ser cunhados. Alexandre também teve relações com Barsina (que lhe deu
um filho, Héracles) e com Roxana (que lhe deu um filho, Alexandre IV).

Em relação ao famoso beijo no eunuco Bagoas, que é frequentemente citado como prova cabal
de sua homossexualidade, vemos o que acontece, tal como nos exemplos anteriores, quando
um costume tradicional é visto com um olhar moderno: um mal-entendido.

Plutarco descreve que Bagoas venceu um concurso festivo, o que lhe valeu os aplausos das
tropas macedônias, que pediram para que Alexandre beijasse o eunuco. O imperador concordou
e beijou-o na bochecha, simplesmente. Primeiramente, esse incidente ocorreu após a travessia
do deserto de Gedrósia, que custou três quartos do exército de Alexandre, de jeito que todos os
presentes na cerimônia, incluindo Bagoas, eram sobreviventes dessa marcha. Por isso, é normal
que os soldados tenham pedido um sinal de respeito ao jovem, visto que ele ganhou o
concurso.  Entretanto, devemos entender o significado do beijo de acordo com a cultura. Por
exemplo, no Japão, tradicionalmente, o beijo era apenas uma questão de mãe para filho. Por
outro lado, no Ocidente, o beijo tinha conotações cerimoniais e públicas, como cumprimento ou
sinal de respeito. Na Pérsia antiga, onde Alexandre se encontrava, homens de posições
semelhantes se beijavam na bochecha para se cumprimentar, algo bastante simples, mas que
para o nosso contexto social é “visto com estranheza”. Novamente, não podemos julgar um
costume antigo com base na mentalidade moderna. Além disso, apenas um beijo na bochecha é
algo muito banal para concluir que Alexandre era homossexual. 

— A REALIDADE: A MITOLOGIA GREGA COMO APOLOGIA DO AMOR CRIATIVO

Depois de refutar a questão dos “amantes homossexuais”, podemos mencionar os casais


famosos da mitologia grega para mostrar o comportamento dos deuses e heróis.

• Zeus  - Hera, Leto, Deméter, Dione, Éris, Maia, Métis, Mnemósine, Selene, Têmis, Europa,
Alcmena, Dânae, Antíopa, Calisto, Carme, Egina, Elara, Electra, Eurínome, Himalia, Io, Lâmia,
Laodâmia, Leda, Mera, Níobe, Olímpia, Pirra, Taigete, Tália e muitos mais.

• Ares  - Afrodite, Érope, Agraulo, Atalanta, Cirene, Ênio, Eos, Erítia, Estéropes, Reia (a mãe de
Rômulo e Remo, os fundadores de Roma), Otrera, Pelópia, Protogênia e outras.
Ao contrário do Marte romano, o Ares grego não era um deus da virtude militar ou do valor frio do soldado, mas o deus
da violência pura, da brutalidade, da força física nua e crua, que evoca o lado obscuro do homem, fazendo-o ver tudo
em vermelho, de modo a perder o controle para estar no centro do combate ― em suma, uma forma de guerra primitiva
e bárbara. Significativamente, a única capaz de equilibrar seu ardor guerreiro é Afrodite, a outra face da moeda.

• Poseidon  -  Agamede, Álope, Amímone, Anfitrite, Arne, Astipaleia, Calirroé, Calquínia, Cânace,
Celeno, Clito, Clóris, Córcira, Deméter, Etra, Euríale, Eurínome, Europa, Gaia, Hália, Ifimédia, Líbia,
Mélia, Medusa, Mitilene, Peribeia, Quione, Salamina, Tiro, Teosa e outras.

• Apolo - Arsínoe, Cassandra, Calíope, Cirene, Corônis, Dafne, Dríope, Hécuba, Manto, Psâmate,
Quione, Sinope, Terpsícora, Urânia e outras.

Urânia, a musa da astrologia, astronomia e matemática, era consorte de Apolo, com quem teve Lino, meio-irmão de
Orfeu. No “Banquete” de Platão, ela é chamada de “Afrodite Urânia”, especificando claramente que ela estava
relacionada com um amor “celestial” e que esse tipo de amor era “livre de violência”, portanto, excluindo a possibilidade
de penetração. “Afrodite Urânia” seria, em suma, o que entendemos por “amor platônico”.

• Hades: Perséfone, Minta e Leuce.


“O rapto de Proserpina”.

•  Héracles  - Mégara, Ónfale, Dejanira, Íole, Auge e outras.  Em um episódio, Héracles chega ao
palácio do rei Téspio, onde se envolve com suas 50 filhas. Diz-se que essa é a origem dos
heráclidas. Segundo a tradição grega, os heráclidas estão associados aos dórios, que fundaram
Esparta. 

• Teseu - Ariadne, Fedra, Antíopa e outras.

• Perseu - Andrômeda.

• Peleu - Tétis.

• Aquiles - Polixena, Deidamia, Briseida, Diomeda e outras. 

• Ulisses - Penélope, Calipso, Circe e Calídice.

• Heitor - Andrômaca.

• Menelau - Helena de Troia.

• Agamenão - Clitenestra, Criseida e Cassandra.

E muito mais...

Ser-me-á dito que alguns desses deuses e heróis apesar disso tinham “amantes do sexo
masculino”. Então, é preciso provar com base nas obras originais. As mulheres mencionadas
foram descritas como sendo fisicamente possuídas pelos deuses ou heróis correspondentes. É
preciso, então, evidências na mitologia grega que os deuses ou heróis tiveram relações com
homens que supuseram um passo além de uma excelente amizade, camaradagem ou
irmandade. Como vimos, não existem evidências. Os famosos “amantes” são simplesmente
bons amigos que se consideravam irmãos.

— ASSUNTO IRREFUTÁVEL #1: O “BANQUETE” DE PLATÃO  

O “Banquete” é um diálogo filosófico em que diversos participantes prestam homenagem a Eros,


argumentando com sua visão sobre o amor. Sendo assim, constitui uma fonte primária para
conhecer a mentalidade ateniense da época (estamos falando, em qualquer caso, do século IV
AEC, uma época em decadência). Naturalmente, os círculos sempre citam o “Banquete”  de
Platão como um exemplo de que a “civilização grega era homossexual”, com base em algumas
linhas encontradas neste livro.

No entanto, os diálogos platônicos frequentemente consistiam em um debate que contrastava


os pontos de vista. O motivo é que, para Platão, todas as partes devem estar presentes em um
debate e ter a oportunidade de expor e defender suas ideias. Há personagens que representam
ideias contrárias a Sócrates, precisamente para contrastar diferentes opiniões, por isso, não
podem ser citadas como se tivessem sido proferidas pelo próprio Platão. Portanto, em cada
citação, é necessário especificar quem a proferiu, para saber se o personagem em questão
representa o ponto de platônico (do qual Sócrates e outros são porta-vozes).

Da parte de  Pausânias, pode-se dizer que ele discute várias abordagens sobre o assunto (e
nunca menciona o amor homossexual). Podemos destacar um trecho pertinente em que ele diz
que “deveria existir uma lei que não permita o amor dos jovens garotos” (181e).

Em outra citação, ele reflete por que a relação entre professor e aluno é necessária e benéfica e
não deve ser abolida, dizendo que ela “terá a capacidade de contribuir quanto à inteligência ou
qualquer outra virtude, enquanto que o outro sentirá desejo de obtê-las com vista à educação e
outras habilidades” (184d-e). Neste caso, como no espartano, estamos falando de uma relação
pretendendo a melhoria pessoal pelo treinamento,  em que a sabedoria de um homem mais
velho auxilia um jovem a se tornar um homem. Novamente, não há nenhuma menção a relações
carnais.

Depois disso, entra em cena Aristófanes, um personagem que mostra um comportamento


excêntrico e que talvez foi introduzido por Platão para mostrar ao leitor que seu ponto de vista
não deve ser levado a sério. Assim, podemos ler: 

Aristodemo disse que Aristófanes deveria então falar, mas, não se sabe se foi pelo
excesso de comida ou por outra coisa, ocorreu-lhe um acesso de soluço que o impediu
de fazer o discurso. No divã abaixo dele reclinava-se o médico Erixímaco, e Aristófanes
lhe disse: “Erixímaco, tu és a pessoa certa, ou para interromper o meu soluço ou para
falar no meu lugar, enquanto tento eu mesmo pará-lo”. E Erixímaco respondeu: “Na
verdade, vou fazer as duas coisas. Vou falar na tua vez e tu, quando tiveres acabado o
soluço, na minha. Durante minha fala, vejamos se o soluço cessa, enquanto segura tua
respiração. Se não der certo, gargareja com água. Mas se ainda assim se mostrar muito
forte, pega alguma coisa que permita coçar o nariz e espirra. Se fizeres isso uma ou
duas vezes, mesmo o mais severo soluço irá parar”. (185c-d-e).

Essa passagem causa tanta confusão que muitos participantes riem do ocorrido, especulando
sobre seu significado. Na verdade, o comportamento de Aristófanes, que sequer  conseguiu
falar  por causa de seus soluços e teve de recorrer a Erixímaco, é questionável e cômico, sem
falar que, em um ato ritualizado como era um diálogo filosófico,  em que cada intervenção era
considerada cercada por sinais dos deuses, o soluço de Aristófanes foi visto como um mau
agouro.

Quando finalmente pára de soluçar, Aristófanes desenvolve um discurso extravagante sobre os


andróginos. De acordo com seu raciocínio absurdo, esses seres desafiaram os deuses e foram
divididos ao meio. Nessa conformidade,  Aristófanes faz malabarismos argumentativos para
legitimar a homossexualidade. Assim, citando Aristófanes:

Todos os homens que são um corte do gênero combinado — os que então eram
chamados “andróginos” — sentem amor por mulheres e muitos dos adultérios são
originados dessa espécie, assim como, de seu lado, as mulheres que gostam de homens
e as adúlteras surgem desse tipo. Todas as mulheres que são corte de um todo
originalmente feminino não prestam muita atenção nos homens, mas estão sobretudo
voltadas às mulheres, e é dessa espécie que nascem as amiguinhas [“homossexuais”].
De seu lado, os machos que são cortados originalmente de um todo masculino
perseguem os homens. Uma vez que são uma fatia do masculino, enquanto são novos
desenvolvem afeição pelos homens e se regozijam em se deitar e se entrelaçar com
eles [2]. E estes, ainda na juventude e na flor da idade do ser macho, são os melhores
por serem corajosos por natureza. Alguns, aliás, falam que estes jovens são
despudorados, mas isso não é verdade, pois não é por falta de vergonha que agem
assim, mas por autoconfiança, coragem e masculinidade, acolhendo em sua conduta o
que é semelhante a eles. (191d-e-192a) 

Por causa da excentricidade de seu discurso, Aristófanes fica desconfortável com a reação de
deboche dos participantes. Em um determinado momento, ele diz  “Espero que Erixímaco não
interprete meu discurso como comédia”  (193b) e  “Esse, Erixímaco, é meu discurso sobre o
Amor, diferente do teu”. Finalmente, “Como eu te pedi, não o tomes como piada, de modo que
também ouçamos cada um dos restantes, ou melhor, cada um dos dois, pois restam somente
Agatão e Sócrates”. (193e). Embora Aristófanes represente apenas um ponto de vista entre
muitos, sua visão não é levada a sério. Mesmo assim, os círculos citam suas palavras como se
representassem o ponto de vista do próprio Platão.

Da homenagem de Agatão, uma citação poderia ser distinguida: “E quem vai negar que é pela
sabedoria do Amor que nascem e crescem todos os animais?” (197a). Aqui, deixa-se entendido
que Eros é o responsável pela procriação, ou seja, pelo amor criativo heterossexual. 

No entanto, a melhor parte do “Banquete” de Platão é,  sem dúvida, e como sempre, a
intervenção de Sócrates, professor de Platão. Sócrates cita o discurso que ouviu anos atrás de
uma mulher que ele mesmo considera “sábia”, dizendo a seus interlocutores: “E agora vou
deixar-te ir para que eu possa proceder com o discurso sobre o Amor que certa vez ouvi de uma
mulher de Mantineia, chamada Diotima. Ela era sábia neste e em muitos outros assuntos”
(201d). 

“Em que consiste realmente a função do amor? Tens condições de me dizer?”

“Posso te assegurar, Diotima, que se o pudesse eu não estaria admirado por tua
sabedoria e não te frequentaria, pretendendo aprender estas coisas.”

“Mas eu te direi”, ela falou. “A função do Amor é parir no belo, tanto no corpo como na
alma.”

“Seja lá o que for que tu queres dizer, Diotima”, eu falei, “isso requer um poder profético
para decifrar, pois não compreendo.”

“Mas vou te explicar mais claramente”, ela disse. “Todos os seres humanos fecundam,
Sócrates, no corpo e na alma, e quando chegamos a certa idade nossa natureza deseja
dar à luz. Mas não é possível dar à luz na fealdade. Somente na beleza. Sim, o intercurso
sexual de um homem e uma mulher é um tipo de nascimento. Esse processo de
gravidez e geração é divino: é o imortal fazendo-se presente numa criatura mortal,
sendo impossível que ocorra no que está em desarmonia. O que é feio, de seu lado, não
se harmoniza com nada que seja divino.” (206b-c).

“Quanto aos homens”, ela disse, “alguém pode supor que fazem isso por reflexão. Mas o
que causa essa disposição amorosa nos animais? Podes dizer-me?”

E eu, de meu lado, dizia que não sabia. Ela então disse: “Tu achas que te tornarás algum
dia brilhante em questões de amor se não souberes estas coisas?”

“Mas foi por isso que vim estudar contigo, Diotima, como disse agora há pouco, pois
percebi que precisava de professores. Então, me fale sobre essa causa e também acerca
dos demais aspectos concernentes ao amor.”

“Muito bem”, ela disse. “Se acreditas que o amor tem como objeto, por natureza, aquilo
acerca de que entramos em acordo tantas vezes, não te espantes com o que vou dizer.
Aquele mesmo princípio sobre os seres humanos vigora também no reino animal: a
natureza mortal procura na medida em que pode existir sempre e ser imortal. Isso só é
possível de um modo: pela geração, processo por meio do qual ela deixa um ser novo
no lugar do antigo.” (207b-c-d).

Portanto, vemos que Sócrates se refere a Diotima como uma sábia, elogiando sua sabedoria e
alegando que ela tinha mais conhecimento do que ele. Por fim, Sócrates reconhece que ficou
“muito surpreso” (208b), chamando-a pessoalmente de “sábia Diotima” (idem) e voltando aos
seus discípulos dizendo “Pois bem, Fedro e demais convivas, estas são as coisas ditas a mim
por Diotima. Fui convencido por seus argumentos” (212b).

De um lado, em oposição, temos Aristófanes, um personagem que estranhamente não


consegue falar devido a seu soluço e que faz uma defesa complicada da homossexualidade. Do
outro lado, temos Diotima, uma mulher que o próprio Sócrates chama de “sábia” e que faz um
grande tributo a Eros exaltando a união do homem e da mulher como um ato gerador de uma
nova vida, especificando que o poder de procriação de tal união reside em sua superioridade em
relação a qualquer outra forma de se relacionar. Nesse sentido, não há dúvida de que Sócrates
concorde com essa visão. Na verdade, o narrador mostra o desconforto de Aristófanes quando
Sócrates concluiu seu elogio a Diotima:

Quando terminou de falar essas coisas, alguns se puseram a elogiá-lo, disse Aristodemo,
enquanto Aristófanes [o único que tinha defendido a homossexualidade] tentava dizer
alguma coisa, porque Sócrates o tinha mencionado quanto a um aspecto de seu
discurso. Então, subitamente, a porta do pátio repercutiu um estrondoso barulho,
parecendo algazarra de foliões. (212c)

De fato, “Aristófanes tentava dizer alguma coisa”, mas como não poderia ser diferente, mais
uma vez, a Providência, associada em tempos pagãos com a vontade dos deuses, encerrou o
assunto ao interromper suas palavras.

“Não demorou muito e ouviu-se a voz de Alcibíades no pátio, muito bêbado e falando alto”
(212d). Agora, temos o personagem que conclui o Banquete, apresentado como se segue:
“Saudações, senhores! Aceitaríeis como companheiro de bebida um homem absolutamente
bêbado? (…) Por acaso ireis zombar de mim porque estou bêbado? Mesmo que caiais na
gargalhada, sei bem que o que vou dizer é verdade” (212e-213a).

Alcibíades diz que no passado investiu em Sócrates, sendo, notoriamente, rejeitado por ele.
Alcibíades parece estar, de fato, “apaixonado” por Sócrates, embora, como ele mesmo diz, “não é
justo comparar os discursos de um homem bêbado com os de um homem sóbrio” (214c):

Assim, sem deixá-lo dizer nada mais, levantei e pus meu manto pesado sobre a roupa
leve que ele usava, embora fosse inverno. Deitei-me sob o manto e abracei-o com as
duas mãos — este homem extraordinário e verdadeiramente um semideus. Assim
permaneci com ele por toda a noite. Não poderás, de teu lado, Sócrates, dizer que estou
mentindo. Contudo, mesmo fazendo tudo isso, este Sócrates saiu ileso das minhas
investidas, e  ainda desprezou, zombou e insultou minha beleza física  — justo aquele
atributo que eu pensava me conceder alguma substância, senhores juízes. De fato, sois
vós que ireis atuar como juízes da arrogância de Sócrates. Pois sabei bem que, por
todos os deuses e deusas, juro que  ao me levantar não achei mais interessante ter
passado a noite com Sócrates do que tê-lo feito com meu pai ou com meu irmão mais
velho. (219b-c-d).

Alcibíades foi inserido no diálogo porque  os bêbados nunca mentem, como diz o ditado “no
vinho está a verdade”.  Depois, Alcibíades elogia a indiferença de Sócrates, sua coragem em
combate, sua dureza, seu caráter espartano, sua resistência ao frio e ao álcool e sua sabedoria.
Todos esses elogios (incluindo o fato de que Sócrates o rejeitou) atestam a plausibilidade da
história pronunciada por um homem que, estando bêbado, pressupõe dizer a verdade.

Em suma, Sócrates tinha Alcibíades na palma da mão e poderia ter se envolvido com ele (o que,
em qualquer caso, excluiria, por respeito a Vergonha, qualquer tipo de penetração), mas, ao
contrário, o rejeitou.

— ASSUNTO IRREFUTÁVEL #2: OS VASOS “HOMOERÓTICOS”  


Esta imagem é a carta curinga dos círculos preocupados em representar a Grécia Antiga como uma “civilização
homossexual”, ou pelo menos uma civilização onde as práticas homossexuais eram socialmente aceites.

De fato, há vasos de cerâmica da antiguidade grega que representam atos claramente


homossexuais. Isso não será contornado. No entanto, faremos algumas notas.

Foram encontrados dezenas de milhares de vasos (só na província de Ática temos mais de 80
mil!), e, entre todos,  os vasos com um teor homoerótico claro são apenas 30,  no máximo.
Estamos falando de cerca de 0,03% do total dos vasos encontrados. Eles não deveriam ser mais
numerosos? (se estamos falando de uma suposta cultura em que a homossexualidade era
socialmente aceite). Pelo contrário, eram minoria de forma desproporcional.

Assim, afirmar a  “homossexualidade na Grécia Antiga” com base nessa evidência minúscula
seria o mesmo que afirmar que nossa cultura ocidental moderna é “homossexual” somente
porque uma minoria das personalidades da mídia são homossexuais. Se esses sinais mínimos
são uma prova de uma “civilização homossexual” (que nunca existiu), então, deveríamos se
perguntar o que seria a nossa civilização ocidental moderna, com “casamento homossexual”
(algo que não existia na Grécia), “parada gay” e outros?

Além disso, deve-se frisar que a maioria das cenas homossexuais retratadas nos vasos de
cerâmica são realizadas pelos sátiros, seres degenerados do imaginário coletivo grego, feios e
meio cabra, e que, por um impulso sexual descontrolado, realizavam as piores abominações
sexuais concebíveis pela mente humana (em algumas estatuetas eles são vistos copulando
com animais, por exemplo). Outro detalhe é que, na maioria das cenas que representam
relações homossexuais, o ato parece produzir surpresa e escândalo nas pessoas em sua volta.

A má reputação dos sátiros, além de representada em cenas bizarras que desafiam a sexualidade humana, está
esculpida nesta escultura, em que Pã, o chefe dos sátiros, incomoda Afrodite com sua lascívia, onde a deusa o
afugenta com sua sandália. 
A teoria dos vasos homoeróticos foram especuladas por Kenneth J. Dover, que apresenta como
inconteste um total de 600 vasos com um teor homoerótico, dos quais, quando muito, apenas
20 têm um conteúdo claramente homossexual. O resto (mais de 500!) são vasos com
representações normais, em que o autor recorre a meandros e falácias para “provar”, de maneira
totalmente forçada, e até cômica, sinais de homossexualidade onde simplesmente não
existem. Por exemplo, em um vaso que retrata um jovem com um aro e um galo, o autor diz que
“o aro e o galo têm seu próprio simbolismo” (?) e que o jovem está em uma “pose de
vergonha”, “possivelmente” porque “o homem que ele ama está falando com uma mulher” (?) e
“ele gostaria de tomar a iniciativa” (?). Em outra representação, um pênis pequeno e um escroto
grande significam um sinal de pederastia (???). [3]

Finalmente, ainda que houvessem algumas cenas homossexuais, deve-se constar que, no tema
do amor erótico, a grande maioria das obras de arte da Grécia Antiga representam relações
sexuais entre homens e mulheres, de forma desmedida.  Exempli gratia, no Pórtico da Glória
também há reproduções de homens em ato de sodomia e, nem de longe, concluiríamos que
toda a civilização católica gótica ou barroca era homossexual, posto que fazem parte das
representações dos vários pecados, com a intenção de estigmatizá-los.

Portanto, talvez devêssemos nos perguntar se, por acaso, da ínfima minoria dos vasos com um
teor homoerótico visível ou invisível (subjetivamente), não haveria uma porcentagem importante
destinada precisamente a criticar ou a ridicularizar a homossexualidade. 

— SOBRE O “LESBIANISMO”  

Entre todas as mentiras sobre o mito da homossexualidade da Grécia Antiga, podemos finalizar
com a calúnia contra Safo, visto que a ilha de Lesbos virou sinônimo para mulheres
homossexuais, as chamadas “lésbicas”. Safo (VII–VI AEC) é certamente a maior poetisa de
todos os tempos (Platão a chamou de “a décima musa”). Ela fundou uma escola na Ilha de
Lesbos onde jovens de toda a Grécia aprendiam poesia, música, dança, boas maneiras,
ritualismo religioso e, em geral, o que caracterizava uma mulher completa.

As sáficas estudavam na Academia da Ilha de Lesbos para se tornarem “mulheres completas”. 

A obra de Safo sobreviveu de forma muito fragmentada (só temos um poema completo,
coletado por Dionísio de Halicarnasso, sendo o restante repleto de  lacunas para fazer
conclusões, principalmente para fantasiar homossexualidade), mas consiste principalmente em
hinos e cânticos às jovens da academia. Esse gênero poético foi chamado  epitalâmio, que
falava sobre uma jovem que estava prestes a se tornar esposa e mãe. Devido aos fortes laços
construídos, Safo ficava triste com a partida de suas alunas, consideradas praticamente suas
filhas. No entanto, não existe absolutamente nada que sugira algo além de um relacionamento
puro, como um amor maternal.

Temos alguns versos dedicados a uma de suas alunas que deixa a ilha para se tornar noiva:

Aquele parece-me ser igual dos deuses, 


o homem que à tua frente 
está sentado e escuta de perto 
a tua voz tão suave
― Ele, tu e eu (fr. 31 PLF)

Segundo Kenneth J. Dover, Safo caracteriza o homem como “divino” não porque admira sua
beleza, masculinidade, porte ou força física, mas porque ele é “sortudo” e “não desmaia com a
beleza da jovem” (?)

Na verdade, Safo, além de ter sido mãe (ela teve uma filha chamada Cleis), se matou por amar
um homem, um barqueiro chamado Faonte, que aparentemente não a correspondeu com a
mesma intensidade. 

Outra questão bastante reveladora é que foram as discípulas de Safo que desenvolveram o culto
religioso de Adônis, um herói mitológico que personificava a beleza masculina. Assim, a suposta
“ilha de lésbicas” cultuava uma figura que representava o ápice da beleza masculina.

Além disso, a julgar pelos versos de Safo, sua academia parecia um reduto de feminilidade
idílica e virginal, onde a chegada de um homem simbolizava a transição menina-mulher. 

De onde vem, então, o mito das “lésbicas”, se não existe nada que sugira entre essas jovens uma
relação além de uma sororidade? Vem, novamente, do círculo de  Oxford  liderado por Walter
Pater e, recentemente, do francês Yves Battistini (1922–2009), que encontrou um verso que
dizia  πρὸς δ’ ἄλλην τινὰ χάσκει  (Anacreonte, fr. 358  PMG). Segue a tradução devida dessa
passagem: “e olha embasbacada — para outra rapariga”. No entanto, esse adulterador traduziu
esse trecho inofensivo com uma natureza romântica-sexual.

Safo cometeu suicídio por amar um homem, que é, talvez, o ato mais extremo que pode ser realizado por amor.

Doce mãe, não sou capaz de urdir esta trama! Estou subjugada
pelo desejo de um rapaz, graças à esbelta Afrodite
― Tecer é impossível (fr. 102 PLF)

— LIMPAR NOSSO VOCABULÁRIO  

O vocabulário moderno sobre homossexualidade é baseado em alterações.

“Gay” significa (ou melhor, significava) “alegre”.

Já vimos que “lésbica” se refere à ilha grega de Lesbos, onde Safo ensinava e, como mostrado,
ela não era “lésbica”.

“Pederastia” vem de paiderastíā, uma palavra que, a princípio, não tinha associação  com o
conceito moderno de “pederastia”, mas sim com a relação de instruir um menino. 

Da mesma forma, as palavras  erastḗs  e  erṓmenos  devem ser traduzidas como “professor” e
“aluno”, pois falam de uma relação fraterna de instrução sem conotações sexuais. 

Por isso, as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo devem ser chamadas
simplesmente de “homossexuais”, sejam masculinas ou femininas. Em outros casos, pode-se
utilizar as  palavras que, nascidas espontaneamente da alma popular, são autênticas,  ao
contrário das palavras politicamente corretas e orwellianas forçadas pelos militantes.

NOTAS

[1] Devemos propor um debate para encontrar traduções mais adequadas, visto que, hoje em
dia, essas palavras dão margem para conotações sexuais (diferente do significado original).
“Professor” e “aluno” seriam equivalentes muito mais fiéis ao contexto moderno. O caráter de
“amante” e “amado” representava algo como um amor puramente platônico em uma relação
baseada em admiração, respeito e fraternidade, completamente desprovido de conotações
eróticas.

[2] Aqui não se fala em “relações carnais”. Qualquer tipo de relação excluiria penetração por
respeito à Vergonha (algo que até autores mais sectários reconhecem, como K. J. Dover ou
Carola Rosenberg, que concordam que a penetração anal não fazia parte das supostas relações
homossexuais da Grécia Antiga).

[3] Outro argumento infame de K. J. Dover, quando confrontado com os argumentos de Platão
(que buscou sempre o natural inspirado pela inocência dos animais), seja afirmar que “Platão
não entendia nada sobre animais”.

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