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1 -
[WENDY] Édipo- as dores que vos afligem, sejam elas quais forem, nada valem
em comparação com as minhas; cada um de vós sofre por si mesmo, sem sentir
o mal dos outros, e eu tenho de me lamentar, ao mesmo tempo, pela cidade,
por vós e por mim.
[AMANA] CREONTE - Direi, pois, o que me disse o deus. Ordena-nos Apolo que
apaguemos a mancha que alastrou na nossa terra, que a façamos desaparecer,
em lugar de a deixarmos aumentar, devemos recear que se torne inexpiável.
[WENDY] ÉDIPO - Em nome dos deuses! Não me escondas o que sabes. Todos
nós nos prostramos diante de ti e te suplicamos...
[OTTON] ÉDIPO - Que dizes? Sabes tudo e não queres falar? Tens então o
intuito de nos trair e de perder a cidade?
[VICTOR] ÉDIPO - Tão grande é o furor que sinto que não deixarei de declarar
todas as minhas suspeitas. Ficarás sabendo, pois, que me parece que tomaste
parte no crime, que o cometeste mesmo, embora não tenhas sido o assassino;
se não fosse cego, só a ti acusaria da morte.
2-
[AMANA] TIRÉSIAS - Ah! Sim? Então vou ordenar-te que obedeças ao decreto
que promulgaste e que, de hoje por diante, não fales a nenhum destes homens,
nem a mim, porque és tu o ímpio que mancha a nossa terra.
[OTTON] ÉDIPO - Como ousas tu falar-me com essa imprudência? Julgas que
escaparás sem castigo?
[MATHEUS] ÉDIPO - Quem te disse isso? Não foi decerto o teu saber.
3-
[VICTOR] ÉDIPO - Não compreendo bem o que disseste. Repete.
[CAZ] TIRÉSIAS - Vou-me embora; mas hei de dizer primeiro por que razão vim
aqui, sem recear a tua presença, porque nunca me poderás fazer mal. O homem
que procuras, que ameaças com tuas ordens por causa da morte de Laio, esse
homem está aqui; dizem-no estrangeiro, mas dentro em pouco saberás que é de
Tebas, o que pouca alegria lhe há de dar; vê a luz e há de tronar-se cego, é rico
e há de tornar-se pobre; partirá para terras estranhas; será para todos o irmão
de seu próprio filho, o filho e esposo daquela que o gerou, aquele que ocupa o
leito de seu pai, depois de o ter matado. Vai tu para o teu palácio, pensa em
tudo isto e, se vires que menti, dize então que sou mau adivinho
[OTTON] ÉDIPO - Ah! Meus amigos! Que me ficou para ver e amar? Teria algum
prazer em falar com alguém? Levai-me já para longe daqui! Levai, amigos, este
criminoso, este homem votado a todas as execrações, este mortal que é de
todos os mortais o que maior horror faz aos deuses!
[WENDY] ÉDIPO - Não teria vindo a ser assassino de meu pai; não diriam de
mim que fui o marido da que me deu a vida. Ah! Ímpio, filho de ímpios! Ah!
Miserável! Que dormiste com quem te concebeu! E se há alguma desgraça mais
terrível do que esta, Édipo a sofreu!
[WENDY] ÉDIPO - Não tentes provar-me que não procedi bem, não me dês mais
conselhos. Não sei com que olhos poderia contemplar, depois de descer ao
Hades, meu pai e minha desgraçada mãe, contra quem cometi abomináveis
crimes, daqueles que a morte não expia. E que gosto teria eu em ver meus
filhos que nasceram de igual modo? Não, não, nunca mais.
[OTTON] ÉDIPO - Era o corpo inteiro que eu queria fechar, tornando-me surdo e
cego ao mesmo tempo; como é bom nada sentir de seus males! Ó Citero, por
que me escolheste tu? Por que não me mataste logo, para eu não revelar aos
homens quem eram os meus pais? Ó Políbio! Ó Corinto! Ó velho palácio, ó
palácio que dizem de meus pais! Como me criaste, cheio de dores sob a
aparência da beleza! Agora não sou mais que um criminoso, gerado por
criminosos.
MULHER TOURO
Édipo - Eu queria ser um touro, mas um touro livre, não desses que crescem em
cativeiro, tem dias que eu sonho com a liberdade dos touros, eu sinto a sua
força, em outros eu sou o touro, com chifres serrados, acuado, ferido e com
uma lança no peito.
Édipo - Vem a mim, MULHERTOURO, com a sua força de vênus, pela sua
abundância e transformação, vem a mim, MULHERTOURO, clamo a tua
presença, a tua perseverança, a tua riqueza e imponência, ouve a prece de um
homem, pequeno, frágil e que carrega no seu corpo os maiores horrores já
lançados pelos deuses.
Édipo - Sou Édipo, ó criatura sagrada, sou o homem que em vida carrega as
mais terríveis desgraças que os deuses já lançaram sobre os homens.
MULHERTOURO - Não acredito que irá ganhar a minha piedade homem ( Édipo,
Édipo, Édipo) Você é resultado também de seus escolhas, não culpe apenas a
nós que desenhamos os destinos, é tu quem sela com um ponto final a tua
história, foi tu afinal que feriu bravamente os seus olhos. Quando você ainda se
via no reflexo do espelho, qual era a imagem que falava com você? Não te
narro as minhas feridas, porque és tão imerso em ti, Édipo (homem homem
homem) que minhas dores não te arranham nem a superfície.
Édipo - Perder a visão não é meu castigo, é essa a única forma que cabe para
amenizar a minha dor. Posso não ser digno da tua piedade, mas não pode me
culpar por densejar a tua grandeza.
MULHERTOURO - Não lido com a culpa dos homens, homem (Édipo, Édipo ,
edipo), com a minha força eu reparo injustiças. Eu sei que não inveja minha
grandeza, como ousa mentir? Você homem, inveja sim, a força, o meu poder e
tudo que isso me possibilita, mas não sou a única que molda destinos, somos
todas filhas do tempo, de vênus, e eu irei perecer um dia tal qual você se
desfaz hoje. Que queres homem, pelo que me conta já conhece o teu destino,
espera o que de mim?
Édipo - Me ensina então a ter os sonhos dos touros, quero poder pelo menos
uma vez experimentar a sua liberdade.
(Édipos, num jogo de controle, violência e fuga, cada um conta um dos seus
medos)