Você está na página 1de 22

ARISTOFANES

AS NUVENS
Tradução e notas de Gilda Maria Reale Starzynski
PERSONAGENS
ESTREPSÍADES FlDÍPIDES
DISCÍPULO de Sócrates
SÓCRATES
CORO das Nuvens
Raciocínio JUSTO
Raciocínio INJUSTO
CREDORI
CREDOR II
DOIS DISCÍPULOS de Sócrates

Cenário — É noite. Uma praça; no centro uma estátua de Hermes. Duas


casas; uma,
paupérrima, de porta fechada, é a de Sócrates. Na outra, de portas abertas,
vêem-se
duas camas. Numa, o velho Estrepsíades se agita; na outra, um rapaz dorme
profundamente, coberto até as orelhas. Armários, bancos, lamparinas, vasos,
etc. A
um canto dois escravos roncam. Ouve-se o canto do galo.
ESTREPSÍADES: (Senta-se no leito e começa a resmungar.)"1
Ai, ai! Ó Zeus do céu! Como são compridas as noites! Parece que não
acabam !. . . Será que não vai mais amanhecer? já faz muito tempo que ouvi o
Galo cantar, e os escravos continuam roncando. . . Ah guerra maldita que me
impede de castigar meus escravo, e de castigar também este "belo" rapaz aqui
que é meu filho (aponta para o filho.) e além de não acordar, ainda fica
peidando debaixo das cobertas. (Volta-se para os espectadores.)
Há pois é o miserável dormindo feito um cavalo e eu sem conseguir pregar o
olho. Olha por causa dele, tudo por causa dele e dos malditos cavalos, eu tô
atolado até o pescoço com as dívidas que ele faz. Bom vamos ver o que é que
devo!
FIDÍPIDES: (Mexe-se no leito e sonha em voz alta.) Filão, você está
trapaceando ! Siga a sua raia. . .
ESTREPSÍADES: mas até dormindo esse filho de uma égua sonha com cavalos.
..
ESTREPSÍADES: bom deixa eu ver aqui pro Armênias eu to devendo 3 minas...
ah são as 3 minas que eu precisei pra comprar os 2 pares de roda. Pro Pásias,
Zeus do céu!! Pro Pásias eu to devendo 12 minas!!
FIDIPIDES: Leve o animal pra cocheira, mas não esqueça de mandar ferrar!!
ESTREPSÍADES: Ah! Ferrado to eu seu desgraçado, os credores já disseram
que vão me processar se até o fim do mês..
FIDIPIDES: Poh pai para de falar assim gritando na minha orelha, me deixa
dormir!!
ESTREPSÍADES: Ah ta bom volte a dormir volte! Dorme fique ai dormindo ta
bom? Mas fique sabendo que todas essas contas vão cair em cima da sua cabeça.
Maldita alcoviteira que me arranjou um casamento com a mãe desse aí! Eu tinha
uma vida simples e gostosa, com muita fartura, muito mél, muita ovelha, muita
azeitona eu vivia sujo e despreocupado. Aí casei ;-; Eu um camponês e ela uma
gran fina da cidade metida, cheia de frescura e gastona! Olha até isso aqui ela
chegou a gastar! Depois disso, quando nós dois tivemos esse filho aí (aponta o
filho), eu e minha boa mulher, desde logo brigávamos por causa do nome. . .14
Ela lhe ajuntava um "hipo": Xantipo, Caripo, ou Calípides. Eu escolhia o nome
do avô, Fidônides. E discutíamos
sem cessar! Depois, com o tempo, fizemos as pazes e, de comum acordo,
escolhemos Fidípides. Ah (volta-se para o público) vocês sabem que “hipo” quer
dizer cavalo não sabem? Pois então baixou uma cavalisse no desgraçado que
acabou por me levar à falência. É mas hoje, hoje passei a noite toda matutando de
achei uma saída demoníaca, eu só preciso convencer o safado. Então, como é que
poderia acordá-lo de maneira mais suave? (Vai para junto do filho.) Fidípides!?
Fidipidesinho?!
FIDÍPIDES: (Meio acordado.) Que é, meu pai?
ESTREPSÍADES: oh fdp zinho. Me diga uma coisa
FIDÍPIDES: (tenta se levantar)
Fica deitado ai, me diga uma coisa, você gosta de mim?
FIDÍPIDES: gosto
ESTREPSÍADES: jura?
FIDÍPIDES: juro por Posidão, o deus hípico16.
ESTREPSIADES: Não não não , nem me fale nesse hípico! Esse deus é o
causador das minhas desgraças! Mas, o filho você promete me obedecer?
FIDÍPIDES: ah prometo
ESTREPSIADES: então venha aqui fora vem vem, bora vem aqui FIDÍPIDES:
tá já to indo pai
ESTREPSÍADES: vem cá, Você está vendo aquele casebre ali?
FIDÍPEDES: Aquela porta verde ali? To! O que que à lá?
ESTREPSÍADES: (Declamando.) Aquilo é um lugar de almas sábias é aquilo é
um "pensatório". . .19 Lá moram homens que estudam o céu, são capazes de
provar que o céu é um grande forno e nos aqui em baixo sabe o que? Carvões!
Mas tem uma coisa importante Se a gente lhes der algum dinheiro, eles ensinam
a vencer qualquer discursos seja nas causas justas ou injustas22.
FIDÍPIDES: Mas quem são eles?
ESTREPSÍADES: Quem são eles? Ora quem são eles, Não sei ao certo seus
nomes. Mas sei que são pensadores meditabundos, gente de bem!
FIDÍPIDES: Haha! O senhor está falando dessa cambada de vigaristas? esses
charlatães24, pálidos e descalços25, entre os quais o Sócrates, o Querefonte e os
outros. . .26
ESTREPSIADES: Eh! silêncio! Não diga tolices! Pois você vai parar com esse
negocio de cavalos e vai se tornar um deles um deles.
FIDÍPIDES: Eu?? Nem Fodend#
ESTREPSÍADES: Oh meu filinho querido, eu imploro ! Você tem que ir lá
aprender!
FIDÍPIDES: Mas aprender o que??
ESTREPSÍADES: Eu ouvi dizer que lá dentro a gente aprende 2 raciocínios: o
certo, não reto ou é forte? Ah não sei, seja ele qual for não importa , o outro é que
importa o outro é o torto, com esse raciocínio torto a gente consegue entortar
tudo pro nosso lado, você aprende esse raciocínio torto enrola os credores e nos
não precisamos pagar as nossas dividas
FIDÍPIDES: Ah corta essa pai, o senhor acha que eu vou querer aparecer na
frente dos meus colegas cavaleiros descalso e todo desbotado?
ESTREPSÍADES: Ah, é assim é?, pois então você não há de comer as minhas
custas seu vagabundo! nem você, nem os seus cavalos, e trate de sair daqui! Saia
daqui suma daqui!! Vamos!!
FIDÍPIDES: Ah é? Mas meu tio Mégacles não vai me deixar. . . sem cavalos... e
eu to pouco me lixando para os seus problemas
(Fidípides entra. O velho sozinho encaminha-se para a casa de
Sócrates.)
ESTREPSÍADES: Bem, mas não é por ter caído que ficarei no chão. Pois eu
vou eu mesmo me instruir no pensatório. Mas será que um burro velho como eu
ainda consegue aprender as finuras do raciocínio sutiu?
o que que eu faço em gente? vou ou não vou? Vocês decidem (Afinal, decide-se.)
seja o que Zeus quiser!
(Põe-se a andar) oh de casa!! (bate na porta) oh de casa !!
DISCÍPULO: (Fala de dentro da casa.)
Vá para o inferno! Quem foi o cavalo que bateu à porta?
ESTREPSÍADES:(Solene e apavorado.) Oh meu zeus, nem me fale de cavalos,
sou Estrepsíades
DISCÍPULO: (Abre-se o "pensatório" e sai um discípulo, pálido e irritado,
deixando aporta entreaberta.) Pois uma mula é o que você é uma mula!! Dando
pontapé na porta, assim tão estupidamente, fez abortar um pensamento já
encontrado. . .33
ESTREPSIADES: Desculpe-me, eu moro longe, sou um mero camponês. Mas
fale-me desse negócio que está abortado. . .
DISCÍPULO Não posso só é permitido dizê-lo aos discípulos34.
ESTREPSIADES: Então fale Pois eu vim aqui ao "pensatório" para ser
um discípulo. . .
DISCÍPULO: Ah tudo bem nesse caso vou dizê-lo. Mas deve-se considerá-lo
um segredo se-gre-do. . . Há pouco, Sócrates interrogava Querefonte sobre uma
pulga. Indagava quantas vezes ela pode
saltar o tamanho dos seus próprios pés, porque ela mordeu a sobrancelha de
Querefonte e pulou para a cabeça de Sócrates. . .
ESTREPSÍADES: E ele consegui medir? então, como foi que ele mediu?
DISCÍPULO: Com a maior habilidade. Dissolveu cera; depois, tomou a pulga e
mergulhou os seus pés na cera. A seguir, quando a pulga esfriou, ficou com umas
botinhas à moda pérsica; ele descalçou-as e mediu a distância35.
ESTREPSÍADES: Ó Zeus do céu, esse Socrates é mesmo um gênio vocês viram
que sutileza de raciocínio !
DISCÍPULO: Sim, mas há pouco ele foi despojado de um grande pensamento
por uma lagartixa. . .
ESTREPSÍADES: Uma lagartixa? Mas de que maneira? Conte-me.
DISCÍPULO: Ele estudava os caminhos da Lua e suas evoluções. Observava a
lua de boca aberta, de noite, olhando para cima, quando de repente uma lagartixa
no teto cagou em sua boca.
ESTREPSÍADES: hahaha. Muito engraçado uma lagartixa cagou dentro da
boca do Sócrates!.
DISCÍPULO: Não vejo graça nenhuma nisso
ESTREPSÍADES: desculpa desculpa moço, mas conta mais
DISCÍPULO: Pois bem, Querefonte de Esfétio foi até Sócrates e perguntou-lhe
qual a sua opinião, se os mosquitos cantam pela boca ou pelo fiofó.
ESTREPSÍADES: E o que foi que ele respondeu?
DISCÍPULO: Ele dizia que o intestino do mosquito é estreito; como é apertado,
o ar passa por ele com violência e se encaminha diretamente para o fiofó. Ora,
como é oco e ligado a esse lugar estreito, por causa da violência do sopro, o
buraquinho ressoa.
ESTREPSÍADES: Ah, então o rabisteco do mosquito é uma trombeta!
bem-aventurado seja ele , só por essa descoberta . . conhecendo tão a fundo o
intestino dos mosquitos. . . De fato, numa defesa, facilmente seria absolvido.
Vamos depressa, abra esse pensatório aí e me apresenta esse tal de Sócrates aí!
(Abre-se a porta. Vêem-se os discípulos de Sócrates, em atitudes
estranhas, olhando para o chão. ) Eita que bicho é esse? de onde veio esse
bicho? O que que ele ta fazendo??
DISCÍPULO: Ele esta procurando o que está debaixo da terra.
ESTREPSÍADES: Ah, então ele esta procurando cebolas? Mas por que o rabo
dele está pra cima?
DISCÍPULO: Ah ele está aprendendo astronomia por conta própria Vamos,
entre, entre você não pode ficar ao ar livre por muito tempo entre entre isso
ESTREPSÍADES: Não, ainda não! Fiquem fiquem eu ia falar com eles
(Sons de Trovão!!.)
ESTREPSÍADES: Por Zeus vejam só! Quem é esse homem dependurado lá em
cima?
DISCÍPULO: É ele é ele o homi
ESTREPSÍADES:
"Ele" ele quem?
DISCÍPULO: Ele em pessoa. Sócrates!!
ESTREPSÍADES: Sócrates!? Chame ele lá para mim.
DISCÍPULO: Não eu não eu não tenho tempo, chame-o você;. (O discípulo
desaparece.)
ESTREPSÍADES: Sócrates! Socratesinho! Oh Sócrates!!
SÓCRATES: (Do alto.) Por que me chama, ó efêmera criatura ?
ESTREPSÍADES: Em primeiro lugar, explique-me o que está
Fazendo ai em cima?
SÓCRATES: Ando pelos ares e de cima observo o Sol.
ESTREPSÍADES: Ah, então é do alto que você observa os deuses e não aqui do
chão
SÓCRATES: Claro, pois eu só posso interpretar corretamente as coisas celestes
elevando o espirito e misturando o pensamento sutil com o ar que lhe é afim, do
chão é impossível pois a terra atrai para sí a seiva do pensamento, exatamente
como ocorre com o agrião.
ESTREPSÍADES: (Muito espantado.)
Como é que é? O pensamento atrai a seiva para o agrião? Perai Sócrates, não to
entendendo nada, da pra dar uma descida aqui embaixo por favor.
SÓCRATES: (Descendo.) Então o que desejas??
ESTREPSÍADES: Na verdade Sócrates eu só preciso mesmo aprender a falar.
Sabe eu to meio atolado por causa de umas dividas que eu tenho. .
SÓCRATES: E como é que você se individou?
ESTREPSÍADES: Ora Sócrates foi uma doença terrível pra dizer a verdade foi
uma doença cavalar, mas não importa me ensina logo aquele seu raciocínio, sabe
aquele de não pagar ninguém, olha você pode cobrar o preço que você quiser eu
pago, juro por todos os deuses que eu pago
SÓCRATES:(Em terra.) Deuses? Eis a primeira coisa que precisa aprender, em
nosso meio os deuses são uma moeda fora de circulação...
ESTREPSÍADES:
Ué e por quem é que vocês juram?
SÓCRATES:
Você quer conhecer as nossas divindades as nuvens? E conversar com elas?
ESTREPSÍADES: As nuvens? Eu quero sim.
SÓCRATES: Então sente-se no leito sagrado. Discipulo traga o leito sagrado
ESTREPSÍADES: Pronto; estou sentado.
SÓCRATES: (Com uma coroa nas Mãos). Pois tome aqui esta coroa. . .62
ESTREPSÍADES: Para que uma coroa? Eu vou ser sacrificado?
SÓCRATES: Não, seu ignorante é o ritual de iniciação
ESTREPSÍADES: O que é que ganho eu com isso?
SÓCRATES: Vai se tornar um embromador de primeira, um charlatão todo
imploado
(Sócrates, enquanto fala, esfrega as costas de Estrepsíades e esparge farinha
sobre a sua cabeça.) Mas, fique quieto !
ESTREPSÍADES: Oh Sócrates arr eu vou ficar e imploado com essa farinha
toda. . .
SÓCRATES: Silencio!! Que eu vou dizer a prece! (Solenemente.) Senhor
soberano64, Ar incomensurável, que sustentas a Terra suspensa no espaço!65 Éter
brilhante e veneráveis deusas, Nuvens, portadoras do trovão e do raio!66
Levantai-vos, Senhoras, mostrai-vos ao pensador, suspensas no ar!
ESTREPSÍADES: Não, não, não Sócrates! peraí (Procura cobrir a cabeça com
uma ponta do manto.) Eu preciso me cobrir primeiro, para não me encharcar. Fui
sair de casa sem nenhum bonezinho! aiai
SÓCRATES: Então vinde, Nuvens augustíssimas, para mostrar-vos a este
homem68. Quer vos assenteis nas sagradas cumeeiras do Olimpo69, batidas pelas
neves, ou estejais nos jardins do vosso pai Oceano70, compondo um coro sagrado
para as Ninfas; quer por acaso, nas cabeceiras do Nilo, despejeis de suas águas
com jarros de ouro, ou
habiteis o lago Meótis71 ou o rochedo nevoso do Mimante72. Recebei o sacrifício,
Alegrai-vos Alegrai-vos!! Com este sacro ritual (Ouve-se ao longe o Coro das
Nuvens. Troam trovões.)
CORO: (Estrofe)73 Nuvens inesgotáveis74, levantemo-nos, visíveis em nossa
natureza orvalhada e brilhante! Longe do pai, o ribombante Oceano75, vamos
aos cimos nas altas montanhas, encabelados de árvores. Contemplemos a
distância os picos
longínquos, as searas, a Terra sacrossanta e irrigada, veneráveis, fragorosos
rios, e o mar que geme com surdos ruídos. Incansável brilha o olho do Éter76 em
esplêndidos raios!. . . Eia, dissipemos a chuvosa névoa de nossa forma imortal e,
com um olho que de longe vê, contemplemos a Terra.
SÓCRATES: Oh Nuvens augustíssimas, Atendestes ao meu apelo! (A
Estrepsíades.) E você escutou?
ESTREPSÍADES: Eu ouvi, eu ouvi ó augustíssimas divindades, eu também vos
venero e adoro e quero responder com peidos esses vossos trovões. Ai a vossa
voz me faz tremer de medo! Ô Sócrates eu não sei se é permitido ou não mas eu
acho que vou soltar um aqui mesmo agora
SÓCRATES: (Impaciente.) Pare com essas grosserias, pois isto é uma comédia
de alto nível e concentre-se, pois um formidavel enxame de deusas se
movimenta, cantando.
CORO: (Antístrofe)79 Virgens portadoras da chuva, vamos ver a brilhante
cidade de Palas80, terra de heróis, de Cécrope81, amável país! É lá que existe a
veneração de inefáveis mistérios82, e, nas cerimônias sagradas, um santuário
aberto aos iniciados, com dádivas aos deuses do céu83; altivos templos, estátuas,
sacratíssimas procissões aos bem-aventurados, sacrifícios cheios de coroas,
festins em todas as estações84, e, ao chegar a primavera, a festa de Brorno85, a
exaltação melodiosa dos coros e o canto das flautas de surdos ressôos.
ESTREPSÍADES: Por Zeus, Sócrates, eu lhe peço, diga-me quem são essas que
proferiram esse canto venerável? Serão por acaso alguma assombração?
SÓCRATES: Oh criatura estupida você não percebe que são as celestes as
edivandas as nuvens e as grandiosas deusas dos ociosos, são elas que nos
professiam o saber, a dialética, o entendimento e a linguagem mirabolante e
verbosa, a arte te faz ensinar e embromar
ESTREPSÍADES: Mas ô Sócrates e-eu não to vendo, cade elas?
SÓCRATES: Olha ela tão chegando aqui
ESTREPSÍADES: Cadê?
SÓCRATES: Aqui do lado ó
ESTREPSÍADES: Ah agora eu to vendo, Nosaa como elas são divinas sócrates
(Entram as Nuvens, mulheres com vestes esvoaçantes e grandes narizes.)
SÓCRATES: Pois é, e você nem sabia que eram deusas, não é?
ESTREPSÍADES: É que eu pensava que fossem vapor, orvalho e fumaça. . .
SÓCRATES: Ah por Zeus, quanta ignorancia! Pois se são elas deusas que
protegem os sofistas, os adivinhos, os médicos e todos os demais charlatões que
há no mundo
ESTREPSÍADES: Diga-me, então, se realmente são nuvens, por que parecem
mulheres? (Aponta para o céu.) Aquelas lá pelo menos não são assim. . .102
Aquelas ali têm aparência de flocos de lã desenrolada e de algodão, não de
mulheres. Não, por Zeus, nem um pouquinho!. . . Estas aqui têm narizes. . .
SÓCRATES: Ah é então responda ao que eu perguntar103.
ESTREPSÍADES: Pode perguntar
SÓCRATES: Por acaso olhando para o céu, você nuca viu uma nuvem
semelhante a um centauro, a um leopardo, a um lobo ou a um touro?
ESTREPSÍADES: Já, muitas vezes, mas idaí?
SÓCRATES: Idaí que elas se transformam em tudo o que querem. Se veem um
ditador se transformam e lobos, se veem um político logo tomam a forma de um
rato, e o que veem. Essas coisas.
ESTREPSÍADES: Ah, e o que foi que elas viram agora que se transformaram
em mulheres?
SÓCRATES: alguns veadinhos aqui na plateia
ESTREPSÍADES: Sendo assim, então salve soberanas senhoras lançai a mim
também essa voz que ecoa em toda extensão dos céus
CORO: Salve ancião, homem dos velhos tempos, caçador dos discursos caros
das Musas. (Voltando-se para Sócrates.) E tu também, oh pontífice das tolices
sutilíssimas.
NUVEM 3: Mas dize-nos por que nos convocastes?
NUVEM 1: Tu sabes muito bem que dentre os astros sofistas só a ti e a prodigo
nós atendemos.
NUVEM 2: A ele pelo saber e a inteligência, a ti pelo seu andar soberbo pelas
ruas, por teu modo de olhar de esguelha. Pelos males que sofre andando descalço
e pela forma que te referes a nos, fingindo solenidade
ESTREPSÍADES: Ó Terra, que voz solene sagrada!
SÓCRATES: Como pode ver só elas são deusas, todo o resto é tudo papo
furado!
ESTREPSÍADES: (Assustado.) Pera lá, e zeus? Zeus não é deus pra vocês?
SÓCRATES: Que Zeus o que? Não diga asneiras! Zeus não existe!
ESTREPSÍADES: Que? Mas se zeus não existe, quem é que chove?
SÓCRATES: Elas, evidentemente! Posso lhe dar provas formais disso. Vejamos,
por acaso alguém já viu Zeus chover sem Nuvens? E, no entanto, ele deveria ter
o poder para fazer isso não deveria?
ESTREPSÍADES: (Confuso.) Realmente , por Apoio, você provou muito bem
com esse raciocínio. Ham e eu sempre pensei que era zeus que mijava por um
regador. Mas Sócrates, espera um pouco e o trovão??
SÓCRATES: Ham são elas é que trovejam, quando são roladas. . .
ESTREPSÍADES: (Muito espantado.) Mas não é zeus que fazem elas rolarem??
SÓCRATES: Claro que não. É o turbilhão etéreo114.
ESTREPSÍADES: (Estupefato.) ah há agora eu entendi Zeus não existe certo, e
no lugar dele agora quem reina agora é o Turbilhão certo?
SÓCRATES: Errado preste atenção as Nuvens quando se enchem de água ficam
pesadas e caem umas sobre as outras e estrondeiam por causa da densidade!
ESTREPSIADES: Ah não sei não se devo acreditar nisso.
SÓCRATES: Ah pois tome o teu próprio exemplo, nunca te aconteceu nas festas
de você se encher e sopa e ficar com a barriga desarranjada? Não vem de repente
um reboliço que faz sua barriga crepitar?
ESTREPSIADES: É verdade Sócrates, e logo a barriga começa a ficar
alvoroçada e o caldo estrondeia tororororo. No começo é devagar, "pa-ra, pa-pa",
mas em seguida começa a ser continuado assim, "pa-ra-ra, pa-ra-ra", por fim
quando eu solto a coisa é o próprio trovão é pruuuuuu, é assim tambem com elas
Sócrates?
SÓCRATES: Pensa bem o quanto você peidou com essa barriguinha
insignificante... imagine agora o ar que é incomensurável, não é natural que
estrodeie intensamente?
ESTREPSIADES: Ah! Claro, claro ta aprovado o trovão é um peidão. . Mas, ô
Sócrates e o raio de ond vem o raio com sua luz de fogo? Vai me dizer que não é
zeus que o atira sobre os corruptos
SÓCRATES: Ora sua múmia mofada, seu cabeça de vento. Se zeus atinge os
corruptos com seu raio como é que pode existir tantos corruptos dando sopa por
aí, e não são atingidos. No entanto muitas vezes o raio cai no próprio templo de
zeus ou mesmo nos carvalhos que é a arvore de zeus, e não me consta que o
carvalho seja corrupto.
ESTREPSIADES: (Hesitante.) Não sei, mas parece que você tem razão. . . mas
então como é que se explica o raio?
SÓCRATES: Ih nada mais simples. Sempre que um vento seco, sobe até o ceu,
fica encerrado nas Nuvens, começa a soprar dentro delas fazendo-as inflar como
uma bexiga, com a força do sopro, os ventos arrebentam, e o vento sai de dentro
delas com tamanho ímpeto e velocidade, e por causa da compressão, se incendeia
por si mesmo
ESTREPSIADES: Por Zeus, mas cê sabe que isso já aconteceu comigo? Uma
vez eu tava cozinhando um bucho pra família, e esqueci de fazer um furo nele, o
bucho foi inchando e inchando, de repente ó só, pow, deu um tremendo estouro
que o ar que saiu de dentro dele me queimou a cara, é
NUVEM 2:: (A Estrepsiades.)Oh homem que busca ávido nosso sumo saber
em Atenas e na Grécia toda tu serás venturoso se tiveres boa memória e fores
dado a habilitação se tua alma resistir as durezas e não te cansares de ficar em
pé nem de caminhar longamente. Se fores capaz de suportar o frio sem te
irritares de não jantar e ter absterte do vinho e da ginástica e de tantas outras
baboseiras. E principalmente se tiveres em mente que o bem supremo consiste
em vencer seja agindo, seja deliberando seja enfim combatendo com a língua.
SÓCRATES: E doravante não admitirá nenhum outro Deus a não ser os
nossos. O caos, as nuvens e a língua. Estes três e somente estes
ESTREPSIADES: Ai Sócrates eu te juro que se eu encontrasse qualquer um
dos outros na rua eu nem ia cumprimentar.
NUVEM 2: Dize agora o que queres que façamos por ti fala com toda
confiança. Nós o atenderemos já que nos honras e veneras e desfaças por ser
um homem né?
ESTREPSIADES: Oh minha senhora o que eu vos peço é um favorzinho de
nada. Eu só quero ser entre os gregos o mais hábil no falar só.
CORO: Seu ousas doravante da Assembleia não haverá ninguém que emita
uma opinião mais brilhante da tua.
ESTREPSIADES: Não não não mesmo assim não é isso. Eu lá estou
interessado em dar opiniões brilhantes não é isso não. Eu só quero é entortar a
justiça pro meu lado. Não precisar pagar as pessoas pra quem eu estou
devendo. Só isso.
NUVEM 2: Pois então tu terás o que almejas já que pedes tão pouco (vira para
Sócrates). Vamos Sócrates. Mãos à obra. Solda-lhe o intelecto e experimenta o
discernimento dele.
SÓCRATES: Ah, por acaso você tem boa memória?
ESTREPSIADES: Hm, depende. Quando é alguém que deve pra mim, a minha
memória é excelente, mas agora quando sou eu que tô devendo, Sócrates. Ai
Eu sou completamente desmemolhado.
SÓCRATES: Pois bem, quando eu te colocar diante de você alguma questão
erudita sobre as coisas celestes trata de devorá-la imediatamente.
ESTREPSIADES: O que?, eu vou ter que comer sabedoria como se eu fosse
um cachorro?
SÓCRATES: Mas que sujeito burro, Meu velho, você acha que você vai
precisar é de umas boas pancadas. Não. Vejamos, quando alguém lhe bate, o
que é que você faz?
ESTREPSIADES: Bom, primeiro eu apanho. Depois eu dou um tempinho e
chamo testemunhas e depois eu dou mais um tempinho e vou a justiça.
SÓCRATES: Ah agora muito bem, aprovado. Tira o manto.
ESTREPSIADES: O manto, mas por que eu vou ser revistado? Eu não roubei
nada.
SÓCRATES: É, não seu cretino, lá é lei, tem de entrar sem o manto. Sem o
manto.
ESTREPSIADES: Mas me diga uma coisa ô mestre se eu for estudioso com
qual dos seus discípulos eu vou ficar parecido?
SÓCRATES: Olha no físico certamente igual ao temerzinho
ESTREPSIADES: Temer? Eu vou ficar com cara de vampiro.
SÓCRATES: Então chega de conversa fiada. Vamos lá, me siga por aqui,
depressa, vamos entrar no Facebook.
NUVEM 1: Vai ser feliz com a tua valentia e coragem Boa sorte a este homem
que apesar da idade avançada ainda se dispõe a infernizar o espírito com
ideias novas e cultivar a filosofia.
[PASSAGEM DE TEMPO;MUSICA]
SÓCRATES: Não, não, não, não, não, não, pelo caos, pela respiração, pelo ar,
não é possível nunca vi um homem tão burro, tão bronco, tão cabeça dura em
toda a minha vida. As mínimas coisinhas que eu lhe ensino ele consegue
esquecer antes de aprendê-la. Estrepisíades venha pra cá e traga esse leito
sagrado.
ESTREPSIADES: Ai, ai, ai to indo Sócrates Calma que enrosca. Mas esse
troço aqui está cheio de pulga só. Para de reclamar.
SÓCRATES: Põe aí isso no chão e presta atenção.
ESTREPSIADES: Hã? Pronto.
SÓCRATES: Pronto. Pronto. Vem vem já. O Que é que você deseja aprender
agora das coisas que nunca ninguém lhe ensinou. Vamos, diga os versos, os
ritmos, as medidas.
ESTREPSIADES: Ah, isso, isso, as medidas. Outro dia, Sócrates, um cara me
tapeou nas medidas. Eu comprei um troço dele que media...
SÓCRATES: Não é isso seu cretino eu tô falando da medida poética da
métrica. Pra você, qual é a medida mais bela? Ontrímetro ou tritrimetro?
ESTREPSIADES: A medida mais bela? Ãh vinte centímetros.
SÓCRATES: Mas será que só sai bobagem dessa cabeça.
ESTREPSIADES: An? Má como? Por quê? Por quê?
SÓCRATES: É. Vai pro inferno, seu burro. Senta aí, ignorante, vai. Vamos ver
se você consegue aprender melhor os ritmos.
ESTREPSIADES: Os ritmos, mas pra que Sócrates? Que utilidade vão ter pro
meu pão de cada dia?
SÓCRATES: Ora não há nada mais numa reunião do que ser capaz de
distinguir de ouvido um enóprio de um dátilo
ESTREPSIADES: Dádilo?ah dátilo eu sei dátilo é dedo né? Nós aprendemos
na escola ó isso eu sei Sócrates
SÓCRATES: Então me diz que outro dátilo você conhece além deste aqui?
ESTREPSIADES: Bom, quando eu era pequeno eu usava esse aqui.
SÓCRATES: Ai meu Deus, não dá, não dá, não dá imbecilidade desse jeito é
demais, eu desisto.
ESTREPSIADES: Mas ô Sócrates diacho, não é nada disso que eu vim
aprender Sócris.
SÓCRATES: Então diz o que é?
ESTREPSIADES: Aquele troço lá, o tal do do discurso mais injusto.
SÓCRATES: Mas terá que aprender outras coisas. Veja, cite exemplos de
quadrúpedes masculino.
ESTREPSIADES: Quadrúpedes machos oh isso eu sei carneiro, bode, touro,
cachorro, avestruz.
SÓCRATES: Avestruz? aí está! percebe o erro que você comete? Você diz
avestruz tanto para a fêmea como para o macho.
ESTREPSIADES: Como assim?
SÓCRATES: O avestruz, a avestruz.
ESTREPSIADES: E comé que eu devo dizer?
SÓCRATES: Simples. O avestruzo a avestruza.
ESTREPSIADES: Avestruza. Pelo ar, pelo caos, pelos gases. Essa lição vai
resolver de vez o meu problema
SÓCRATES: Aí está outro equívoco seu, você diz problema na forma feminina,
uma palavra que é masculina.
ESTREPSIADES: Ué, e como é que eu tenho que dizer?
SÓCRATES: O problemo simples.
ESTREPSIADES: O problemo?
SÓCRATES: O problemo.
ESTREPSIADES: Bom, então tá. Está certo. Já entendi. Vamos logo tratar
daquela tema. Não daquele temo. Ah sei lá! Daquilo que eu vim aprender aqui.
SÓCRATES: Então sente-se ali no leito sagrado.
ESTREPSIADES: Ali, ali?
SÓCRATES: Sente ai No leito sagrado. E pense em alguma saída pros seus
problemas.
ESTREPSIADES: Ali não Sócrates pelos gases eu lhe imploro. Não dá pra ser..
SÓCRATES: Tem que ser aí!
ESTREPSIADES: Ai desgraçado de mim eu vou ser acabar, acabar sendo
devorado pelas pulgas.
SÓCRATES: Para de reclamar. Para de reclamar e começa a pensar. E vê se
pensa bastante. Porque agora eu vou dar uma cagada.
ESTREPSIADES: HAHAHAHAHA Por essa vocês não esperavam hein? Que o
Sócrates, até o Sócrates caga, viu?
[SONS DE CHUVA E TROVÃO]
ESTREPSIADES: Ai, ai, ai!
NUVEM 3: medita.
NUVEM 1: Examina.
NUVEM 2: Concentra-te.
CORO: Revira teu pensamento em todos os sentidos.
NUVEM 1: Se acaso caires no impasse salta imediatamente pra outra ideia que
ocorra no espírito.
NUVEM 2: E que o doce sono esteja afastado dos teus olhos.
ESTREPSIADES: Ai ai ai ai ai ai ai aiiiiiiiii
CORO: Hein? O que há? O que é que te dói?
ESTREPSIADES: AI! Eu vou morrer. Eu estou sendo devorado pelas pulgas. Ai
elas estão mordendo a minha orelha. O meu peito estão furando o meu saco.
NUVEM 2: Ora! Deixa de exagero!
ESTREPSIADES: Exagero é? as minhas coisas sumiram oh sumiu o meu
manto sumiram minhas sandálias minha cor meu gosto pela vida e do jeito que
a coisa vai daqui a pouco sou eu que vou sumir devorado pelas pulgas ai ai ai
ai ai Ai! Ai ai! Hum!
SÓCRATES: Ei! Ei! EI! Por que é que você não está pensando?
ESTREPSIADES: Eu? O que eu mas eu estou pensando.
SÓCRATES: Hum! E que pensou?
ESTREPSIADES: Eu estou pensando se alguma parte do meu corpo vai
escapar das pulgas.
SÓCRATES: Ah! Vai te catar!
ESTREPSIADES: Ué mas é justamente o que eu já estou fazendo.
SÓCRATES: Vamos lá! Pense nalguma coisa!
ESTREPSIADES: Mas no que Sócrates? No quê?
SÓCRATES: É a você que compete tomar a iniciativa de achar o que deseja
me comunicar em seguida.
ESTREPSIADES: Mas eu já disse e redisse mil vezes, é sobre os juros, sobre
sobre o modo de não pagar ninguém.
SÓCRATES: Pense então nos seus negócios, abstenha-te, atenha-te aos
pormenores e distinga-os e examina-os.
ESTREPSIADES: Ai, ai, ai, ai.
SÓCRATES: Quieto, quieto e se ficar embaraçado com alguma ideia,
abandone-a, passe adiante, depois movimente-a de novo com um pensamento
em comum da area. Ei, vou lhe propor uma questão. Se alguém lhe movesse
um processo de cinco talentos o que é que você faria para anular?
ESTREPSIADES: Que que eu faria? Bom, vejamos, eu não sei, mas eu vou
descobrir
SÓCRATES: Não role o seu pensamento sobre si mesmo. Solte inteligência ao
vento como um besouro amarrado pela pata.
ESTREPSIADES: Eureca! Achei! Até você vai ficar com a boca aberta com a
minha ideia!
SÓCRATES: Então vamos diga qual é!
ESTREPSIADES: Sabe aquela pedra transparente vendida nas drogarias?
Aquela bonita que os ricos usam pra acender o fogo?
SÓCRATES: Sim! A lente de cristal, o que que tem ela?
ESTREPSIADES: Ora as queixas são escritas em tabuinhas de cera, não são?
Pois então, eu comprava uma pedra daquela e ficava de longe, no momento
em que o escrivão estivesse anotando a queixa, eu segurava a pedra diante do
sol derreti os documentos do meu processo. Então, o que que cê acha, hein?
SÓCRATES: É, realmente uma ideia muito engenhosa, pelas graças.
ESTREPSIADES: Ah, consegui me livrar de um processo de 5 talentos.
SÓCRATES: É, e gastou mais de dez pra comprar a tal pedra. Depressa,
pegue essa daqui.
ESTREPSIADES: O quê? O quê? Ãh?
SÓCRATES: Como é que você se safaria num processo se você estivesse
prestes a ser condenado por não terem comparecido as testemunhas?
ESTREPSIADES: Ah, isso é fácil Sócrates. Eu compraria uma corda.
SÓCRATES: uma corda. pra quê?
ESTREPSIADES: Pra mim enforcar. Ninguém iria condenar um sujeito de
aborto.
SÓCRATES: Ah você não diz coisa com coisa, some daqui. Eu não vou te
ensinar mais nada, nada, nada, some, some, some.
ESTREPSIADES: Não, Sócrates pelo amor de zeus, não faça isso comigo.
SÓCRATES: Ah! Vai se danar seu velhote burro, cretino, imbecil
ESTREPSIADES: Ah e os escritores vão me ferrar Sócrates. Eu não consegui
dobrar a língua. O que que eu devo fazer, Nuvens?
CORO: Eis o nosso conselho ancião
NUVEM 2:Se tens um filho já crescido manda o aprender em teu lugar.
ESTREPSIADES: Eu tenho um filho, mas ele não quer aprender de jeito
nenhum.
NUVEM 2: E tu consentes?
ESTREPSIADES: O que que eu posso fazer? Ele é teimoso feito uma mula. É,
puxou pra mãe dele, claro . Mas vou tentar de novo, ó se ele não quiser vir eu
expulso ele de casa. Ó vocês esperem um pouco aí que eu já já volto.
CORO: Tens consciência do que fazemos por ti? Nós e só nós dentre os
deuses.
NUVEM 1: Percebes como ele está disposto a fazer tudo que quiseres? Vê,
pois se aproveitas enquanto o homem está tonto e entusiasmado e suga-o
engole-o.
NUVEM 2: e depressa porque essas coisas costumam virar.
ESTREPSIADES: Não, pelos gases você tem que me obedecer, você vai ter
que ir lá aprender. Vamos lá, vamos.
FIDÍPIDES: Mas o que que é isso pai? O senhor perdeu o juízo? Por zeus!
ESTREPSIADES: Ahaha Hum. Zeus, um baita marmanjo desse tamanho e
ainda acredito em Zeus. Ah!
FIDÍPIDES: Qual é a graça?
ESTREPSIADES: Como é que você pode um garoto pensar assim de um
modo tão antiquado? Oh vem cá! Vem cá que eu vou te ensinar uma coisa que
se você aprender, você pode se considerar um homem Fidípides ouça bem,
hein?
FIDÍPIDES: Sim, pai.
ESTREPSIADES: Zeus. Veja só como é belo aprender. Zeus! Ah! É segredo,
hein? Não ensina isso pra ninguém. Zeus!
FIDÍPIDES: Ah! Fala logo, pai!
ESTREPSIADES: Óia, pera. Zeus não existe!
FIDIPIDES: O quê?!
ESTREPSIADES: É meu filho quem reina agora é o turbilhão depois de ter
expulsado zeus.
FIDÍPIDES: Mas que bobagem é essa pai?
ESTREPSIADES: Pois fique sabendo que é isso mesmo que você está
ouvindo?
FIDÍPIDES: E e quem foi que te disse isso?
ESTREPSIADES: Foi Sócrates o ateu quer dizer não o ateniense. E também
Querefonte um que sabe até medir o pulo nas pulgas.
FIDIPIDES: Quer dizer então que isso é o que se aprende com esses malucos
aí.
ESTREPSIADES: Shiu! Não fale mal deles. Eles são cheios de sabedoria e tão
econômicos que nenhum deles corta cabelo, passa perfume ou toma banho.
Você vai ter que ir lá aprender com eles.
FIDIPIDES: Mas o que que eu poderia aprender de útil com esses pilantras?
ESTREPSIADES: Você vai conhecer-se a si próprio e saber que não sabe
nada. Espera um pouco aqui que eu vou te mostrar uma coisa. Espera aí.
FIDIPIDES: Zeus do céu meu pai tá ficando é louco, o que que eu devo fazer
com ele? Zeus do céu!
ESTREPSIADES: Ah tá aqui, espera aí, vamos ver, é essa aqui. Ó, comé que
você chama isso aqui? Espera aí vou desenrola. O que é isso aqui?
FIDIPIDES: Um avestruz
ESTREPSIADES: E isso aqui ó.
FIDIPIDES: Avestruz também.
ESTREPSIADES: Os dois com o mesmo nome É? Os dois com o mesmo
nome? Viu só como você não sabe nada? Isso aqui um é uma avestruza e o
outro é um avestruzo seu ignorante.
FIDIPIDES: Avestruza? Então foi isso que a senhora aprendeu entrando lá?
ESTREPSIADES: Foi isso e muito mais. Só que eu já estou velho Minha
cabeça já não dá mais pra coisa, eu não consigo guardar mais nada.
FIDIPIDES: Ah então é por isso que o senhor perdeu o manto, a sandália.
ESTREPSIADES: Não, não, eu não perdi, eu não perdi. Essas coisas eu
dispensei pra poder pensar Mas ó chega de conversa. Vamos lá que você tem
que aprender no meu lugar.
FIDIPIDES: Calma eu vou mas o senhor ainda vai se arrepender de tudo isso.
ESTREPSIADES: Vamos lá, vamos lá. Lá perto da casa dos homens.
Sócrates! Oh Sócrates! Vem cá Eu consegui convencer meu filho. Ele veio
aprender
FIDIPIDES: Contra a vontade.
SÓCRATES: É natural. É ainda um fedelho. Mas mas ficará bem esfolado com
as lições que tomará neste lugar.
FIDIPIDES: E você vai ficar mais esfolado ainda depois que for tomar naquele
lugar.
ESTREPSIADES: Que isso filho? Mais reflete pro seu mestre.
SÓCRATES: Naquele lugar? Ah esse menino não vai muito longe não. Como é
que ele vai escapar de uma condenação fazendo uma citação em tribunal ou
simplesmente convencer alguém? Pronunciando desse modo.
ESTREPSIADES: Mas ô Sócrates, você tem que ensinar ele é um menino
inteligente. Quando ele era pequenininho, ele até fazia sapo com miolo de pão.
Sócrates, ensine pra ele aqueles dois raciocínios, ó. Ó, se não der pra ensinar
os dois, ensine pelo menos o torto. Aquele que faz tudo virar ao nosso favor.
SÓCRATES: Pois muito bem só que ele vai aprender pelo método direto, os
dois raciocínios virão aqui em carne e osso ensinado.
RETO: Pula aqui pra fora se for homem Você não é peitudo? Vem aqui debater
comigo na frente de todo mundo.
TORTO: Você que sabe com gente assistindo vai ser ainda muito mais fácil
acabar com você querida.
RETO: Acabar comigo, quem você pensa que é?
TORTO: O raciocínio
RETO: Torço pelo que me consta.
TORTO: Sim, me chamam torto, mas eu é que vou dar um banho em você que
se diz reto.
RETO: Posso saber como?
TORTO: Apenas me valendo de ideias novas
RETO: Ora, essas tais ideias novas só florescem por causa desses cretinos
que andam por ai.
TORTO: Ah, cretinos não, queridas, sábios, eles são sábios. Sábios. Sábios.
RETO: Quer saber de uma coisa? Eu é que vou acabar com você.
TORTO: Ah eh Então, me diga, como é que você pensa em fazer isso?
RETO: Ah, só dizendo que é justo.
TORTO: Ahaha! Justo, justiça e por acaso existe isso de justiça? E você pensa
que não existe?
TORTO: Se existe, onde é que está a justiça?
RETO: Entre os deuses, por exemplo.
TORTO: Ahaha! Tá! entre os deuses, se entre os deuses existe justiça, me diga
uma coisa, como é que Zeus, Zeus, tá vendo Zeus? Zeus não foi condenado
depois de ter acorrentado o próprio pai, hein? Hein? Hein?
RETO: Zeus perdoai-o, ele não sabe o que fala.
TORTO: Ah, você não passa no velho tonto, caduco. E você?
RETO: Uma bicha louca.
TORTO: Ai, você me atira a pétalas de rosas, meu amor.
RETO: Ah, seu palhaço.
TORTO: E ainda me enfeita com o lírios.
RETO: Par-ri-ci-ta.
TORTO: Nunca fui tão elogiada em toda a minha vida.
RETO: Por sua causa, nenhum jovem quer frequentar a escola. Você só presta
pra corromper a juventude.
TORTO: É, mas quem vai instruir desse belo moço aqui é o papai aqui que não
você, sua amônia paralítica.
RETO: Isso é o que você pensa sou eu pois é preciso salvá-lo e não exercitá-lo
em blá-blá-blá.
TORTO: Ai, Fidipides Meu rapaz, venha cá, vamos deixar esse caduco aí
falando sozinho, vamos entrar? Vamos entrar.
RETO: Eu te quebro a cara se você encostar um dedo nele.
TORTO: Ai! Apelou, é? Pois então vem se for... Não te afoba hein!
CORO: Parem com isso. Isso não leva a nada.
NUVEM 3: Você Reto. Exponha o que se ensinava as gerações de outrora.
NUVEM 1: E você Torto mostrem como é a pedagogia moderna
NUVEM 2: E deixem que o moço decida por si mesmo que escola ele quer
frequentar.
CORO: Muito bem! Quem vai falar primeiro?
TORTO: Tá, tá, tá eu dou a ele o privilégio de falar primeiro, depois que ele
acabar eu acabo com a raça dele.
CORO: Muito bem.
NUVEM 1: Então atenção, senhoras e senhores, é chegada a hora de um
grande debate, os dois debatedores tentaram a partir de agora demonstrar sua
habilidade de argumentar e refutar.
NUVEM 3: A luta promete ser remida, porque é decisiva. Que vença o melhor?
NUVEM 2: Reto. Você que coroa os antigos como tantos e tão belos princípios
morais. A palavra é sua.
RETO: Pois bem. Eu vou dizer em que consistia a educação de antigamente.
Quando ainda flloreciam a justiça e a honra e a moderação era anônima. Em
primeiro lugar não se ouvia garoto algum dizer um A sequer Além disso,
quando se dirigiam para as aulas de música, tinham de caminhar pelas ruas de
maneira disciplinada, em fila e sem manto. Mesmo que estivesse levando. O
professores ensinavam suas pernas apartadas em posição de macho a
encantarem os másculos afinados no modo dórico que além de tradicional é o
mais viril de todos e se algum deles se fizesse de engraçadinho ou caísse na
besteira de modular a voz com um desses requebres esquisitos que estão em
moda hoje em dia, levá-lo a uma sonora surra. Que era pra aprender a não
desrespeitar as nuvens. Na aula de ginástica, os jovens sentavam se com as
pernas esticadas pra frente para que os de fora não ficassem de olho em
alguma parte indecente. E quem se levantasse tratava logo de aplainar a areia
pra não deixar aos candidatos a amantes nem uma marca. Na sua mocidade.
Moço algum se prostituía se dirigindo à outro homem com palinhas, doces e
amengalhas. E além disso ensinava-se também a não ser guloso, a
gargalhadas, a não cruzar as pernas, a não...
TORTO: Ixi ixi chega, chega, cês são velharias no tempo do Zagaia e do Zaga
também.
RETO: Sim, mas foi com essa educação que se formaram os heróis da
maratona. Por isso, meu rapaz, não existe escolher a mim o raciocínio reto.
Comigo você aprenderá a detestar a ágora, a evitar os banhos públicos A Corar
diante da pouca vergonha, a ceder o lugar aos mais velhos, a respeitar o seu
pai, a não chamá-lo de velho gaga.
TORTO: Cuidado, cuidado garoto se você der ouvidos a esse aí, você vai
acabar virando sabe o quê? Um verdadeiro Bundão.
RETO: Comigo meu rapaz. Você aprenderá a não correr atrás dessas putinhas
que se oferecem por aí e põe em risco a sua reputação. E aprenderá também a
não dar em clima de mulher casada pondo em risco a sua vida. Comigo, enfim,
meu rapaz, você aprenderá a ter um comportamento exemplar.
CORO: Oh! Com toda bela Alta e gloriosa sabedoria.
NUVEM 1: Que suave olor de virtude emana de suas palavras. Como eram
felizes os que viviam no tempo de outrora?
NUVEM 3: Não há dúvidas torto de que seu oponente se saiu muito bem, hein
NUVEM 2: Se você quiser mesmo derrotá-lo você terá que buscar os
argumentos muito poderosos contra ele.
TORTO: Ai, ai, ai, ai, ai Edvandica Nuvem eu estou me segurando aqui já faz
tempo morrendo de vontade de botar abaixo pra comer dos contrários uma por
uma todas essas pataquatas, Fidipides meu rapaz olha observe bem observe
como é fácil refutar a pedagogia obsoleta que esse cavalheiro aí pois tão bem
né Em primeiro lugar ele não vai deixar de frequentar as termas. Muito bem o
reto diga-me com que fundamento você censura os banhos quentes.
RETO: Os banhos quentes são péssimos. Tornam os homens uns molóides
afeminados.
TORTO: Ah é? É. Espera lá meu amor. Espera lá. Dentre os filhos de Zeus
quem é o mais vinil? Quem suportou as maiores provações?
RETO: Hércules sem dúvida.
TORTO: É pois é e nós os gregos não costumamos chamar de Termas de
Hércules. Hello Termas de Hércules, todas as fontes de águas quentes?
RETO: Aí está, é por isso que o Balneários estão sempre cheios de jovens,
tagarelando o dia inteiro, enquanto os ginásios ficam as moscas.
TORTO: É, está bom. Depois você condena também a discussão na água. Ora,
se isso fosse mal. Homero. Homero nunca teria feito de Nestor uma goreta um
amigo dos longos discursos. Por outro lado você diz também que os jovens
devem ter um comportamento exemplar, não é E por acaso, meu, você já viu,
meu amor, alguém ganhar alguma coisa por bom comportamento? Vamos, fale,
refute, hein? Hein? Hein?
RETO: Já, já, Beleu, por exemplo.
TORTO: Quem?
RETO: Beleu.
TORTO: Hã?
RETO: Por causa do seu bom comportamento, Beleu ganhou dos deuses ou
facão.
TORTO: Um facão?! Ahahahaha Um facão. Ai, mas que belo presente, um
facão. Que presentaço um facão ora não seja, ridículo. Um facão, gente. Bela
merda o facão.
RETO: É, mas pelo seu bom comportamento Beleu foi digno de desposar
Térias.
TORTO: É, é verdade, sim, mas também por causa do seu bom
comportamento, logo em seguida, ela já lhe meteu um belo par de chifres, não
foi mesmo? Uma mulher não quer saber desses negócios não me toques, não
me reges não uma mulher sabe o que que uma mulher quer? Eu vou contar pra
você uma mulher quer ser comida, quer ser devorada numa cama, entendeu
Que bom comportamento, coisa nenhuma. Fidipides um bom comportamento
meu rapaz só vai te privar de garotos, mulheres, bebidas, festas, risos e o céu
também. Eu pergunto de que vale a vida se tudo isso esse fulano ali também
eh diz que você não deve se exercitar do dom da palavra engano, ledo engano,
vamos supor que você esteja transando, né? Assim bom uma mulher, casada,
né? Não é? E aí você é apanhado pelo marido e chega de repente assim, você
tem que aquela coisa do armário e tal. Se você não souber falar porque ele vai
te descobrir lá. Você vai se ferrar por isso meu jovem comigo ao seu lado você
pode gozar a vida. Fazer tudo que você quiser e não considerar nada nada
vergonhoso ao marido que te pegue em flagrante, você prova com argumentos
que o próprio zeus, que é um Deus também não resiste ao amor das mulheres.
Então, como é que você, um simples mortal, poderia ser mais forte do que um
Deus, num é? É razoável, né?
RETO: Pera lá, pera lá. E se mesmo assim, o marido enfiar o cacete no rabo.
Ãh? Como é que com que argumentos você vai provar que nunca deu o rabo?
TORTO: Eh, e que Mau há em dar no rabo?
RETO: Ora é o que de pior pode acontecer um homem.
TORTO: A Ah é? E se eu te provar que isso é a coisa mais natural do mundo?
Mais comum?
RETO: Eu me dou por vencido.
TORTO: Pois bem, então me diga, a maioria dos políticos?
RETO: Já deram o rabo.
TORTO: A maioria dos dramaturgos?
RETO: já deram o rabo.
TORTO A maioria dos artistas?
RETO: Já deram o rabo.
TORTO: Quase a faculdade inteira. E então. Dê uma olhada na plateia agora e
me diga, qual é a maioria? Eh é isso aí.
RETO: Pelos deuses. Os que já deram o rabo são muito mais numerosos. Olha
ali tá o que eu conheço. Aquele também Aí lá no fundo tem um bando.
TORTO: Portanto, meu caro, o que é que você tem a dizer?
RETO: É, não tem jeito mesmo. Eu entrego os copos. Cambada de pervertidos
Eis o meu manto.
TORTO: Muito obrigado.
RETO: Eu passo pro lado de vocês.
TORTO: Isso aí. Muito bem. Agora não não é você Estrepsiades, Estrepsiades
agora a decisão é sua meu velho. Você quer levar o seu filho embora? Ou quer
que eu o ensine a falar em seu eu beneficio
ESTREPSIADES: Eu quero que ensine. Ó, você pode judiar, bater, castigar,
pode fazer tudo. Desde que ele saia daí com a língua bem afiada, hein?
TORTO: Não se preocupe, meu velho, ele vai sair daqui um sofisticado, sofista
sou a favor do técnico
FIDIPIDES: E pálido e infeliz.
NUVEM 2: Ei você, desconfio que ainda vai se arrepender de tudo isso.
[PASSAGEM DE TEMPO; MUSICA]
ESTREPSIADES: ai ai ai ai ai está chegando está chegando o dia em que eu
tenho que pagar os meus os meus os meus pra quem eu estou devendo os
credores vivem me ameaçando dizendo que se eu não pagar eles vão me
processar. Eh vão me processar? O que eles não sabem é que meu filho
aprendeu a falar né? Aprendeu a entortar o discurso mas será que o Fidipides
me desaprendeu mesmo? Olha eu já vou saber já. Sócrates! Oh Sócrates.
SÓCRATES: Oi como é que vai Estrepsiades como vai?
ESTREPSIADES: Vai indo, vai indo. Primeiro toma aqui ó. Umas moedinha aí.
SÓCRATES: Foi bom pra você.
ESTREPSIADES: Mas e o meu rapaz? Aquele que entrou aí com vocês,
aprendeu bem apreendido o tal do raciocínio torto?
SÓCRATES: Claro que aprendeu.
ESTREPSIADES: Oh! Onipotente vigário Viva a vigarice, a rainha do mundo.
SÓCRATES: E ele aprendeu também que você se safará de qualquer processo
que tiver.
ESTREPSIADES: E se tiver testemunha de que eu fiz um empréstimo?
SÓCRATES: Melhor ainda que seja o mil.
ESTREPSIADES: Então permita-me clamar aos quatro ventos. Ai ai de vocês
agiotas e usuários, quem vai chorar agora vão ser vocês, vocês e o vosso
capital e o vosso lucro e os nossos juros sobre juros de agora em diante eu não
vou ter mais medo de vocês não porque meu filho meu brilhante filho discípulo
de Sócrates tem uma língua de dois gumes, agora ele vai me defender, vai ser
meu protetor e salvador do meu lar, a desgraça dos meus inimigos corre,
Sócrates, vai chamar ele, vai buscar ele pra mim eu nem acredito, o meu filho
aprendeu a dobrar a língua, ai ai
SÓCRATES: Eis-o
ESTREPSIADES: Filho querido do meu coração.
SÓCRATES: Agora ele é todo seu, pode levá-lo.
ESTREPSIADES: Viva meu filho. E pro Fidipides tudo ou nada? Ah meu filho,
meu filho Mas como você está bonito com essa sua cara descorada? É só vir
pra ela e ver o trampiqueiro que você virou. Na sua cara está estampada
aquela nossa pergunta nacional? Sabes com quem estás falando? É. Que
venham os credores. Vamos meu filho, vamos. Eu vou preparar um jantar em
sua homenagem, tá bom? Vamos, vamos, vamos.
COBRADOR 1: Estrepsiades!!
ESTREPSIADES:? Quem é que está me chamando?
COBRADOR 1: Sou eu!
ESTREPSIADES: E pra que me chamam efêmera criatura?
COBRADOR 1: Sabe aquelas doze minas que lhe emprestei pra você comprar
um cavalo de raça?
ESTREPSIADES: Cavalo? Há? vocês ouviram, ela falou cavalo. Eu nunca
gostei de cavalo, sô.
COBRADOR 1: Mas foi para o seu filho que você comprou.
ESTREPSIADES: Ah pro filho, então fala com ele. Vai lá filho.
COBRADOR 1: Olha Fidipide, o seu pai jurou pelos deuses que me pagaria.
FIDIPIDES: Por quais deuses ele jurou?
COBRADOR 1: Por zeus, Hermes e possidão.
FIDIPIDES: Zeus? Hermes, possidão? Quem são esses?
COBRADOR 1: Zeus todo poderoso há de castigá-lo por essa falta de respeito.
FIDIPIDES: Ah você me mata de rir esse tal Zeus aí de que você fala, é uma
piada!
COBRADOR 1: Ria! Pode rir! Mas sedo ou mais tarde isso vai te custar muito
caro! Oh! Se vai Mas agora eu quero saber uma coisa. Eu vim aqui pra receber
o meu dinheiro. Vocês vão ou não vão resolver o meu problema
FIDIPIDES: eh eh como foi que você disse? Meu problema? Ora como você se
atreve a vir aqui receber, pedir dinheiro se não tem menor conhecimento nas
concordâncias gramaticais? Ora, é vai dando fora daqui, vai Seu
apendeopaagrafo
COBRADOR 1: Isso! Eu vou embora mas fique sabendo que eu vou te
processar e que eu morra se não fizer isso.
ESTREPSIADES: Pois vai jogar dinheiro fora, não é? Entendeu você instruído
desse jeito aí, nós tamo feito. Vamos lá, nós vamos jantar agora.
COBRADO 2: Ai, ai, ai, ai, ai, ai.
ESTREPSIADES: Epa, quem é esse personagem de tragédia que tá entrando
aí? Ô Gemebundo, Você entrou na peça errada! Tragédia foi semana passada!
COBRADOR 2: Ai ai ai você quer saber quem eu sou? Um azarado.
ESTREPSIADES: Então trate de voltar por onde entrou.
COBRADOR 2: Oh verdú inviolável, ó divindade cruel que me despedaçou o
meu carro, opa, mas que me desgraçou.
ESTREPSIADES: Rum! Eu não estou falando que esse cara errou de peça?
COBRADOR 2: Ah, não zombe de mim, eu estou dolorido. Fala pro seu filho
me pagar o dinheiro que ele me deve.
ESTREPSIADES: Dinheiro? Mas que dinheiro?
COBRADOR 2: Ah o dinheiro que ele pediu emprestado.
ESTREPSIADES: Há! Pelo jeito você está meio azarado hoje viu?
COBRADOR 2: Realmente os cavalo me jogaram no chão.
ESTREPSIADES: Pois é e agora se acaba de cair do burro.
COBRADOR 2: Como assim?
ESTREPSIADES: Eu acho que você não está regulando bem.
COBRADOR 2: Ah mas eu só vim receber o meu dinheiro.
ESTREPSIADES: O tombo te deixou foi de miolo mole sô
COBRADOR 2: De miolo mole ta você que vai ser processado por mim se não
me pagar.
ESTREPSIADES: Fala filho vai lá vai.
FIDIPIDES: Eh me diga uma coisa ah na sua opinião eh como dizer? É Zeus
que faz chover sempre uma água nova ou é sempre a mesma água que o sol
puxa daqui pra baixo?
COBRADOR 2: Ah sei lá e o que que me interessa saber isso?
FIDIPIDES: Ora veja só petulância do bofe ãh? Como quer receber o dinheiro
se não sabe nada sobre assunto celestes
COBRADOR 2: Olha, se vocês estão meio apertados, eu aceito receber só o
juros.
FIDIPIDES: Juros?
COBRADOR 2: Juros, ué.
FIDIPIDES: Que bicho é esse?
COBRADOR 2: Aquele que faz o seu dinheiro crescer, que vai aumentando,
vai aumentando, a cada dia, com o correr do tempo.
FIDIPIDES: Bem, eh, eh, eh, eh, por acaso o mar é maior agora do que ele era
antes?
COBRADOR 2: Não, é por Zeus! O mar é sempre o mesmo!
FIDIPIDES: Então infeliz! Pisou na batatinha! Se o Mar nunca cresce, como eh
mesmo com todos os rios despejando suas águas nele que história é essa de
querer que o seu dinheiro cresça? Acho melhor você ir dando fora daqui que eu
já perdi minha paciência. Pai pega a vara.
ESTREPSIADES: Está aqui está na mão.
COBRADOR 2: Isso não vai ficar assim não.
ESTREPSIADES: Mas vai ficar bem pior que eu vou fazer um furo nessa bunda
véia, é isso? Vamos filho, finalmente acabaram os meus problemos. Vamos
Fidipides. Vamos entrar aqui um jantar nos espera.
CORO: Eis no que dá a paixão do mal.
NUVEM 1: Tomado de tal paixão, esse velho pôde logar os seus credores
negando-se a pagar o que tomou emprestado.
NUVEM 3: É fatal, porém que daqui a pouco aconteça algo novo E esse sofista
seja severamente castigado pelas trapaças que empreendeu.
NUVEM 2: Eu vi. Nós todos vimos o quanto ele estava feliz por ter obtido o que
tanto procurava um filho hábil em argumentar contra tudo que é justo e capaz
de derrotar pelo discurso safado qualquer um que com ele se meter. Mas talvez
talvez o velho venha proferir que seu filho fosse mudo, talvez ele prefira.
[SONS DE PANCADAS]
ESTREPSIADES: AI!aiaiaiaiai. Socorro!! Socorro! Eu to apanhando socorro!
FIDIPIDES: E bato mesmo!!
ESTREPSIADES: Seu desgraçado, seu canalha!! Você bate no próprio pai,
aiaiaiai
FIDIPIDES: Hum hum. E por que não?
ESTREPSIADES: Mas que cara de pau! Além de bater ainda tem coragem de
confessar que bate!
FIDIPIDES: Rum. Eh, eh ,eh vou te contar uma coisa, eh bato as quantas
vezes eu quiser
ESTREPSIADES: Bandido, criminoso, desnaturado.
FIDIPIDES: Ruhuhum. Que elogios, você me joga pétalas de rosas.
ESTREPSIADES: Ah. Um filho bater no próprio pai? Como é que pode?
FIDIPIDES: Huhum. Eh olha muito obrigado pelos seus elogios, eh, eh ,eh mas
eu bato quando eu quiser! Eu posso demonstrar que não á nada mais justo, do
que um filho bater no pai.
ESTREPSIADES: Como seu desnaturado?! Como pode ser justo um crime
desses?
FIDIPIDES: Estou dizendo que posso prova-lo, qual dos dois raciocínios você
pretende utilizar?
ESTREPSIADES: Que mané raciocínio!
FIDIPIDES: O torto ou o reto?
ESTREPSIADES: Oh não! Por zeus, o que foi que eu fiz?
CORO: Sua tarefa ancião é tentar encontrar meios de sobrepujar esse rapaz
NUVEM 1: Ele certamente esta apoiado em algum fundamento. Pois caso
contrario ele não se mostraria tão atrevido.
NUVEM 3: Bem visível é a sua arrogância.
NUVEM 2: Mas antes, diga-nos: o que foi que deu início a discurssão?
ESTREPSIADES: Hora. Como vocês sabem nós estávamos comendo. Aí eu
pedi pra ele buscar a Lira e cantar algum poema de Simonedes. Sabe o que
que ele disse?
FIDIPIDES: Eu disse que era antiquado tocar e cantar na hora da comida. Ele
está pensando que eu sou uma cigarra?
ESTREPSIADES: Pois é E ainda por cima afirmou que Simonedes disse é um
poetinha de merda. Vocês não imaginam como já foi difícil me segurar. Aí eu
falei pra ele recitar então alguma coisa de Esquelo e ele então, Esquelo? Esse
poeta alambicado, retumbante, empolado, incoerente eu fiquei furioso, mas eu
engoli a raiva e disse, então recite alguma coisa desses modernos, alguma
dessas belezas de hoje e ele me recitou um trecho sabe de quem? De
Eurípedes. Zeus me livre e guarde, Eurípedes e ainda por cima aquele trecho
do irmão que estuprou a própria a própria irmã aí eu não aguentei. Eu xinguei
ele de tudo quanto é nome. Ele também começou a me xingar e nós ficamos
naquele bate-boca até que de repente o desgraçado dá um pulo me agarra e
começa a me bater.
FIDIPIDES: Não e não era pra bater Eu lá vou admitir que se fale mal de
Eurípedes o maior, o mais perfeito..
ESTREPSIADES: Eurípedes? O mais perfeito de todos ah essa é boa. Segura
ele lá.
CORO: Espere Fedipides!
NUVEM 3: Os jovens estão ansiosos para ouvir o que você tem a dizer.
NUVEM 1: Se depois de ter feito o que fez você conseguir com a sua
tagarelice, convencer o seu pai de que há justiça em tal ato eu não iria querer
estar na pele dos velhos.
NUVEM 2: Vamos mobilizador do novo palavreado. Demonstre que o que você
fez é justo.
FIDIPIDES: Hum. Como é bom conviver com as modernas correntes do
pensamento, e poder desprezar as leis que a tradição estabeleceu. Antes,
quando me dedicava, exclusivamente à equitação, não era capaz de dizer três
palavras sem errar. Mas mas agora depois que aquele grande homem acabou
com isso e me tornou uma expert em conceitos sutis, dialética e meditações
estou certo de poder demonstrar que é justo um filho bater em seu pai.
ESTREPSIADES: Ah filho então volte a montar cavalos aí eu juro que eu
sustento você, seus cavalos, juro que eu.
FIDIPIDES: Deixa eu voltar ao ponto em que fui interrompido. Responde-me
uma coisa, eh eh quando eu era pequeno você me batia?
ESTREPSIADES: Sim, claro, mas claro que batia mas era porque eu tinha
boas intenções pra com vocês.
FIDIPIDES: Então me diga, não é justo que eu, por minha vez, também te
mostro minhas boas intenções e te bata, uma vez que bater ao mesmo que ter
boas intenções. Mas você poderá refutar dizendo o que é natural, uma criança
apanhar, mas um velho não. Ora, não há um ditado que diz que os velhos são
duas vezes crianças, pois então deve apanhar duplamente
ESTREPSIADES: Ah, só que em nenhum lugar do mundo tem uma lei que
permita que um filho bata no pai.
FIDIPIDES: Acaso não foi um homem como você e como eu que estabeleceu
essa lei? Não foi pelo discurso que ele conseguiu convencer os antigos a
aceitá-la? Pois então eu pergunto o que me impede de estabelecer eu também
uma nova lei segundo a qual os filhos tem todo o direito de bater em seus pais?
ESTREPSIADES: Não não não eu tenho direito de bater em você e você de
bater no seu filho quando você tiver.
FIDIPIDES: E se eu não tiver filhos? E aí o que eu faço? Nessa altura você já
terá morrido e ficará rindo de mim, não é?
ESTREPSIADES: Homens de idade igual a minha, ele parece que tem razão
FIDIPIDES: É, eu farei uma coisa que certamente te alegrará. Eu vou bater
também em minha mãe.
ESTREPSIADES: O quê? Mas esse crime é ainda maior que o outro!
FIDIPIDES: Há! Eu posso convencê-lo com o raciocínio torto.
ESTREPSIADES: Não, não, não, você merece ser atirado lá no bárato, você o
Sócrates e seu raciocínio torto, nuvens, nuvem por causa de vocês eu tô
passando por esse sofrimento nuvens.
CORO: A culpa meu velho, a culpa é toda sua, foi você que decidi por conta
própria partir para praticas desonestas.
ESTREPSIADES: Mas por que não me disseram isso antes? Por que fizeram
isso comigo, um pobre camponês, ignorante e ainda por cima velho.
CORO: Nós sempre agimos assim. Quando percebemos que alguém tem
propensão para as más ações. E deixamos que ele caia na desgraça para
aprender a temer os deuses.
ESTREPSIADES: É, o castigo é duro, mas eu reconheço que é justo. Pois eu
não devia me negar pagar as minhas dívidas. Mas agora filho, agora nós
vamos lá, nós vamos nós dois lá junto acabar com aqueles safados do
Sócrates, o Querefontes, aqueles canalhas que enganaram vocês e que me
enganaram também. Vamos, vamos lá.
FIDIPIDES: Não, eu não poderia fazer mal aos meus mestres.
ESTREPSIADES: Você pode sim, filho, vamos por Zeus.
FIDIPIDES: Mas que Zeus? Você é mesmo antiquado Zeus não existe!
ESTREPSIADES: Não, existe filho Zeus existe sim.
FIDIPIDES: Existe nada quem reina agora é o turbilhão após ter destronado
Zeus.
ESTREPSIADES: Não! Fui eu que te disse isso mas era tudo mentira. Eu
estava louco quando desprezei os deuses por causa desse tal Sócrates
FIDIPIDES: Ah! fica aí falando sozinho que eu vou lá com meus colegas.
ESTREPSIADES: É seus colega pra cá né?
FIDIPIDES: Meus colegas da casa de Sócrates Mas eu já sei o que eu vou
fazer com esses vigaristas. Eu vou destruir a casa desses miseráveis, não vai
ficar pano sobre pano.
DISCIPULO 1: Quem é que ta derrubando a casa?
ESTREPSIADES: Ai, ai, aquele de quem vocês roubaram os mantos seus
safados!
SÓCRATES: Não sua mula! O que que você faz ai em cima?
ESTREPSIADES: Eu ando nos ares e observo o sol! É, vamos seus safados,
seus canalhas, vamos, vamos que vocês vão levar um pau agora!
CORO: Vamos embora também! O coro já dançou o suficiente por hoje!
[ MUSICA ALEATORIA PRO FINAL]

Você também pode gostar