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A Ana quer
Uma coisa que me põe triste
Já passou a Primavera
suas horas pequeninas:
e houve um milagre nos ninhos.
Pois foram mães, as meninas!
Para que me queixo em vão?
O PASSARINHO PRESO – Que espero, se contra a força
BOCAGE de nada serve a razão?
Na gaiola empoleirado,
um mimoso passarinho
trinava brandos queixumes Aqui parou de cansado
com saudades do seu ninho. o volátil carpidor;
eis que vê chegar da caça
«Nasci para ser escravo o seu bárbaro senhor.
(carpia o cantor plumoso),
não há ninguém neste mundo, Trazia encostado ao ombro
que seja tão desditoso. o arcabuz fatal, e horrendo,
e alguns pássaros no cinto,
Que é do tempo, que eu passava, uns mortos, outros morrendo.
ora descantando amores,
ora brincando nos ares, O preso vendo a tragédia,
ora pousando entre flores? coitadinho, estremeceu,
e de susto, e de piedade
Mal haja a minha imprudência, quase os sentidos perdeu.
mal haja o visco traidor;
um raio, um raio te abrase, Mas apenas do soçobro
fraudulento caçador! repentino a si tornou,
c’os olhos nos seus finados
Em que pequei? Porventura estas palavras soltou:
fiz-te à seara algum mal?
Encetei, mordi teus frutos, «Entendi que dos viventes
como o daninho pardal? eu era o mais infeliz:
que outros têm pior destino
Ah! Se a vossa liberdade aquele exemplo me diz.
zelosamente guardais,
como sois usurpadores Da minha sorte j´agora
da liberdade dos mais? queixas não torno a fazer:
antes gaiola que um tiro,
Mas ah triste! Ah malfadado! antes penar que morrer».
No comboio descendente - Fernando SER POETA – Florbela Espanca
Pessoa
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
No comboio descendente Do que os homens! Morder como quem
Vinha tudo à gargalhada, beija!
Uns por verem rir os outros É ser mendigo e dar como quem seja
E os outros sem ser por nada — Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada. É ter de mil desejos o esplendor
No comboio descendente E não saber sequer que se deseja!
Vinham todos à janela, É ter cá dentro um astro que flameja,
Uns calados para os outros É ter garras e asas de condor!
E os outros a dar-lhes trela —
No comboio descendente É ter fome, é ter sede de Infinito!
Da Cruz Quebrada a Palmela. Por elmo, as manhãs de oiro e de
No comboio descendente cetim...
Mas que grande reinação! É condensar o mundo num só grito!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não — E é amar-te, assim, perdidamente...
No comboio descendente É seres alma, e sangue, e vida em mim
De Palmela a Portimão. E dizê-lo cantando a toda a gente!
Não se separam; espiam
De um lado e de outro, assustadas,
AS FORMIGAS - Olavo Bilac
E das pedras se desviam.
Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
Entre os calhaus vão abrindo
Vão andando, vão andando…
Caminho estreito e seguro,
Aqui, ladeiras subindo,
Marcham em filas cerradas;
Acolá, galgando um muro.
Não se separam; espiam
De um lado e de outro, assustadas,
Esta carrega a migalha;
E das pedras se desviam.
Outra, com passo discreto,
Leva um pedaço de palha;
Entre os calhaus vão abrindo
Outra, uma pata de inseto.
Caminho estreito e seguro,
Aqui, ladeiras subindo,
Carrega cada formiga
Acolá, galgando um muro.
Aquilo que achou na estrada;
E nenhuma se fatiga,
Esta carrega a migalha;
Nenhuma para cansada.
Outra, com passo discreto,
Leva um pedaço de palha;
Vede! enquanto negligentes
Outra, uma pata de inseto.
Estão as cigarras cantando,
Vão as formigas prudentes
Carrega cada formiga
Trabalhando e armazenando.
Aquilo que achou na estrada;
E nenhuma se fatiga,
Nenhuma para cansada.
Também quando chega o frio,
Vede! enquanto negligentes
E todo o fruto consome,
Estão as cigarras cantando,
A formiga, que no estio
Vão as formigas prudentes
Trabalha, não sofre fome…
Trabalhando e armazenando.
Recorde-vos todo o dia
Também quando chega o frio,
Das lições da Natureza:
E todo o fruto consome,
O trabalho e a economia
A formiga, que no estio
São as bases da riqueza.
Trabalha, não sofre fome…
Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
Vão andando, vão andando…