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O sonho
“Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.”
Sebastião da Gama
Segredo
Sei um ninho
e o ninho tem um ovo;
e o ovo, redondinho,
tem lá dentro um passarinho novo.
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Urgentemente
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Os dois irmãos
Vem de sobretudo,
Vem de cachecol,
O chão onde passa
Parece um lençol.
Esqueceu as luvas
Perto do fogão:
Quando as procurou,
Roubara-as um cão.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
tipo de poesia popular de muito longa tradição: as cantigas trovadorescas, mais precisamente
as barcarolas medievais: ritmo e essa musicalidade.
A azáfama e uma certa imprudência do pescador que, embrenhado na sua atividade, não se
apercebe dos perigos que corre; trabalho contínuo e cadenciado do pescador, que continua
indiferente aos perigos que o rodeiam; evidenciar, mais uma vez, a azáfama do homem do mar
ao recolher a rede, bem como o próprio entrançamento ou emaranhamento dessa mesma rede,
com todo o perigo que daí pode advir.
Mas há outros elementos que aproximam esta poesia da lírica trovadoresca: a existência do
refrão ("Oh pescador" - na primeira estrofe seguido de um ponto de interrogação, a sugerir a
perplexidade do sujeito poético face a uma eventual imprudência do pescador que parte na
"barca bela", sabe-se lá para onde; nas outras quadras seguido de ponto de exclamação, a
traduzir já uma certa angústia do eu lírico, que antevê o pescador a caminhar gradualmente
rumo à perdição, caso não siga os seus conselhos; a simplicidade da linguagem; o discurso
repetitivo e apelativo; a estrutura dialógica; a presença da natureza; o recurso à métrica
tradicional (versos de redondilha maior, atendendo a que se juntarmos o terceiro verso e o
refrão também contamos sete sílabas métricas; e um certo clima de fatalidade e de dramatismo
pela presença da estrela e pela veemência do(s) apelo(s) do Poeta, a ressumar toda a urgência
na ultrapassagem de uma situação de perigo iminente - "Colhe a vela"; "Mas cautela"; "... foge
dela / Foge dela"; as repetições de tipo paralelístico; e a forma verbal arcaizante "vas".
Vocabulário piscatória: pescador, barca, estrela, céu, lanço, sereia, rede, remo, vela. Quanto
às formais verbais, três delas são merecedoras de uma atenção especial: pescar, porque
enuncia a ação que está na base do poema; canta, por se reportar à sereia, cujo canto
enleante seduzia inexoravelmente os homens; foge (repetida), dado que reforça o conselho
que o poeta dá ao pescador para se livrar do canto mavioso da sereia enquanto é tempo. O
adjetivo bela marca e qualifica: barca (duas vezes) e sereia: a barca é bela porque permite ao
pescador o sustento, a vida; por outro, a sereia é bela mas sedutora, arrastando
inapelavelmente o pescador para as profundidades oceânicas.
Leitura denotativa, refere-se à vida de um pescador (dos pescadores, em geral), que, na sua
azáfama diária, é (são) muitas vezes perseguido(s) pelas tragédias marítimas, vítima(s) de
naufrágios; as outras advêm das metáforas utilizadas - barca bela, mar, sereia e pescador.
Assim, pescador e mar podem ser metáforas do homem universal e da vida que ele terá de
enfrentar. Ao longo da sua existência, o homem que navega (barca bela) na vida (mar), poderá
encontrar uma infinidade de obstáculos, simbolizados pela beleza da barca e da sereia que
canta bela –
uma e outra correspondendo ao apelo de uma vida fácil, à oferta de uma estrada larga, cheia
de facilidades, para logo se estreitar insidiosamente, repleta de engodos -, pela última estrela
que no céu nublado se vela - luz que deveria iluminar o caminho a seguir, mas que se esconde
traiçoeiramente, deixando o homem entregue às trevas - e pela rede que se enreda - muitas
vezes o homem torna-se prisioneiro das suas próprias paixões. Portanto, ao mar encapelado
da vida deverá o homem agir com cautela, com prudência, com inteligência, com equilíbrio e
sabedoria. Quando o Poeta avisa o pescador para os perigos do naufrágio, ele está ao mesmo
tempo a chamar a atenção para os dramas da existência humana e para a fatalidade que
persegue os homens.