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Prefácio
Este foi a terceira obra em versos que fiz e, assim como no Rumo ao Âmago da
Própria Voz, eu a organizei como unidade, antes mesmo de compor a maioria dos
poemas. Por isso, o ideal é ler o livro na ordem em que os poemas aparecem, como
se fosse um romance, por exemplo, e não de forma aleatória.
O escrevi em parte simultâneo ao Rumo e em parte não. Posso dizer que fiz o livro
basicamente entre 2012 e o começo de 2022. Há, porém, alguns poemas anteriores
a 2012 e, em particular nesta edição, alguns posteriores a 2022; escritos
principalmente para melhorar a sequência entre as partes.
Dois poemas não pertencem originalmente a este volume. O poema “Porque o
Tempo não Volta” escrevi para o meu primeiro livro “Poemas Esparsos” (volume
escrito entre 2005 e 2008); e o poema que começa “Mãe, após noites lendo este
livro” é, na verdade, uma versão de uma parte de um poema extenso, “Nos pavilhões
vermelhos”, contido no Rumo ao Âmago da Própria Voz.
Além disso, penso que é importante mencionar três aspectos: a pontuação em muitas
partes segue mais o ritmo que a questão gramatical (como, por exemplo, nos versos:
“Que queremos jogar para a rua mas não conseguimos”, na página 70, e “A alegria
a inveja o espanto a raiva e o sono”, na página 139); há neologismos, repetições de
palavras e recursos como a duplicação de vogais (como em “gloobaais”, na página
60); e a fonte e o tamanho das letras variam, principalmente por motivos de ritmo,
efeitos visuais e diferenciação de vozes.
Há também alguns poemas que estão em espanhol. Me parecer que neles o ritmo
combinava melhor nessa língua, e que o livro, como um todo, fica mais pleno.
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Oh meu pequeno Big Bang
Permita-me eu consiga expressar
Todos os mares onde nos afogamos.
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Melancolía
Hija de la niebla
Guardiana de la lluvia
Sombra que está bajo el sol
Y erosión de los años,
Hay un planeta hecho a tu imagen
Un ejército que sigue
Infierno
Tras infierno
Tu misterioso comando.
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Melancolia
Os dias foram feitos para ti
E as noites, em silêncio, te veneram
Melancolia
O mar se cobre por completo pela névoa
E as aves, para sempre, se afastam
Melancolia
Qual o nome da tua temível divindade?
De noite, quando as lâmpadas se apagam
Vejo as crianças que perdem seus cabelos
E se transformam, uma a uma, em neblina...
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A verdade
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Um dia
A ciência
Que já curou tantos dos males
Descobrirá
A fórmula da sacrossanta eternidade.
Mas a infância -
Esses olhos que se abrem no escuro,
Essas nuvens que se afastam do horizonte,
Será sempre
Uma ilha encoberta pela névoa.
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Lembrança 1
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Como um oceano debaixo do mundo
Havia algo em mim inexpressável
E violento como um corpo
Que explodisse de fora para dentro.
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Se eu pudesse jogar meu coração
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Nada na nossa Via-Láctea é falso
Cada alegria e dor antes
Absurda
É inevitável como as marés do universo...
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E como então começar a contar
Cada odisseia violeta que naufragou nossa vida
Cada pensamento escuro como teia de aranha
Cada cor que foi adquirindo nossas lágrimas
Como adivinhar entre essa multidão de bocas e olhos
Alguma que possa entender o que temos e não pode ser dito?
O que outros dizem alma eu vou dizer âmbar, névoa e substâncias
Escuras
E, por todos os deuses da noite, perguntar
Como realizar essa façanha? E aliás,
Como então escolher um rosto ao qual
Recostar-nos? E, ao escolher
Como começar a contar?
Dizer: nasci em tal e em tal década
Comi tal e tal fatia de bolo
Fui o primeiro a apanhar ao entrar na escola
No dia tal tive tal e tal pensamento suicida
Mas não, não é que eu fosse me matar -
Fui feliz ao caminhar por uma rua sem saída
Tenho medo da altura do sangue dos escorregadores e sinto
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Sempre sono ao acordar?
Como então começar a exprimir
Esse eu de substâncias mil que nos escapam
A outra ilha que também se aproxima e se afasta?
Conjuntos de nuvens, algas e eclipses que se reuniram em nós
Por acaso em nós?
Ah, tantos sonhos possíveis e tantas maneiras de adormecer!
Ah, tantas formas de soletrar as imagens e sons que inundam esta ilha!
Muitos, é verdade, tomarão o caminho mais prático
Encontrarão o amor em inúmeras esquinas,
Contarão o seu dia e sentirão estar compartilhando sua alma...
Mas hoje, hoje eu me permito gaguejar meu universo:
Estamos presos, eter-namente presos
Na mente em que nascemos.
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Sempre me deixaram triste coisas simples:
A extinção do tigre do Cáspio
A destruição do reino de Mali
O desaparecimento dos bisões das planícies
A morte da mãe do Bambi
A beleza da névoa que se junta com o mar
O debater-se de uma formiga no deserto,
Os aniversários que chegam sem pedir licença,
A mudança, eterna, dos móveis,
A lembrança de uma namorada enquanto dorme,
Tudo, tudo o que já foi belo e nos sussurra:
A extinção da infância
A destruição dos dias
A dissolução dos afetos
O desaparecimento dos pais
A morte
A morte e a derrota,
A derrota apenas
Por sermos frágeis criaturas,
E o sofrimento que invisível se espalha
Por todas essas coisas,
Nada simples.
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Uma a uma as coisas simples
No âmago violeta de todas as coisas
Vão aparecendo como pulsações de um coração doente
Exposto em um museu sempre em ruínas.
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Um jogo da velha em um parque imemoriável,
Uma escola onde os rostos são estranhos
E um menino que olha o tempo sem jamais compreendê-lo
MEMÓRIA, ONDE O SUICÍDIO É IMPOSSÍVEL
O que fica das ruas que suportaram nossa sombra?
E o que das pipas que nunca conseguiram subir?
Eu caminhava com minha mãe perto da casa,
Tinha um murinho que ia aumentando de altura,
Por um momento senti a liberdade
Mas desci antes de chegar ao final,
MEMÓRIA, ONDE O SUICIDIO É IMPOSSIVEL
As noites gastas pensando no último horizonte,
As conversas sobre o sentido de estar vivo,
Os brinquedos sem usar esperando em um canto
As crianças lá fora e eu nunca com elas
Os livros lidos e a vida não vivida,
MEMÓRIA, ONDE O SUICIDIO É IMPOSSIVEL
O que murmura como um fantasma das janelas?
O que está nessa chuva que cai sem cair sobre as calçadas?
As várias casas que vivemos,
O cheiro delicado daquilo que mudando permanece
Os móveis que gostamos acumulando as lembranças
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E a posição de cada estante sendo dissolvida para sempre
MEMÓRIA, ONDE O SUICIDIO É IMPOSSIVEL
Um menino deitado entre seu pai e sua mãe,
Um caminho entre árvores frondosas,
Um jogo de ludo tranquilo no colchão
A alegria repentina da chuva e de estar vivo
MEMÓRIA, ONDE O SUICIDIO É IMPOSSIVEL
Há uma vontade que não cessa
De que o vento nos leve para lá
A essas casas de raízes enormes
A essas escolas de corredores penumbrosos
A essas praias onde as águas jamais chegam até nós
Para o parque imemoriável do jogo da velha
As risadas das crianças que somem na folhagem,
MEMÓRIA, ONDE O SUICIDIO É IMPOSSIVEL
Que inundação é essa, que vem de tão longe de tão perto
Que molha as lembranças até sumirem seus barulhos e imagens
Que faz os rostos se confundirem embaixo da água
E que faz a eternidade flutuar
Como uma sagrada escultura
De placenta e memória?
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As casas
Antes de ir embora,
Revisitamos cada aresta,
Cada tonalidade das paredes,
Cada curva que leva a cada quarto
E cada vassoura e balde que acaba abandonado.
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Os brinquedos sem usar
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Os contornos dos tecidos
A sombra dos brinquedos
Esse ar rarefeito
Os móveis, agridoce
No chão
Os brinquedos sem usar
E esse
Silêncio
Mastigável
Esse
Escuro
Como um universo sem ar.
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Os aniversários
Eles já nos mataram tantas vezes...
Tantas vezes pararam o tempo
Para voltar a fazê-lo funcionar...
Que como poderíamos concordar com as vozes do mundo
E sorrir como se fosse esse o dia mais feliz?
Antes aparecem uma fileira de abutres
Dias enlutados em que sentimos o infinito gelo nas pernas
Pois vemos o reflexo verdadeiro
Que no labirinto dos espelhos envelhece...
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As piscinas
O céu se reflete aqui, o tempo aqui se reflete,
Aqui é o útero onde nascem e desaparecem os dias,
A luz e sombra penetram nestas águas surdamente
E de um lado para o outro vagamos sem rumo
Ou ficamos a flutuar para sempre.
E é só nestas águas mornas ou frias
Que pensamos na vida em si,
Que sentimos a vida e sua noite em si...
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Os mapa-múndi
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Dudu, na época com 8 anos de idade
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Ode à música do botijão de gás
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Pequena canção para uma garota que cheguei a
conhecer
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Mas não é que a melancolia é um céu muito mais amplo?
O passado, o futuro, o presente e seus algozes
Já seriam suficientes para nos afogarem nas águas violetas...
Mas há mais, muito, muito mais... E vamos
Pouco a pouco saindo para as ruas do mundo
Onde os tambores metálicos do caos
Não deixam os insones dormirem.
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Passagem pelo inferno
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É uma jaula imensa, se fosse colocada uma porta poderia ser maior que uma
casa. Mas ali não há porta. Em todos os entardeceres, por uma abertura
secreta, entra um homem que coloca comida. E só. No máximo algumas
folhas de árvores vizinhas contaminam de ar livre o ambiente.
Agora uma menina observa fixamente os chimpanzés. Após pouco tempo,
ela percebe que ali está uma família. No centro um chimpanzé velho está
isolado e contempla a plateia, que o olha sem o ver. Ele é magro, de lábios
grandes, caídos e meio descascados. Seus pelos são pretos, mas há muitas
partes brancas ou grisalhas, principalmente nas costas e antebraços. Seus
olhos são cansados, mas ainda curiosos e brincalhões. Suas mãos estão sobre
os joelhos e sua cabeça se move de um lado para o outro. E ele fica fazendo
com a boca tristes caretas.
Perto dele um macho mais jovem tira delicadamente os carrapatos de uma
fêmea, a qual depois se recosta sobre ele.
Em uma corda alguns pequenos se balançam, muitas vezes dando tapas uns
nos outros e fazendo ruídos estridentes e alegres.
Agora o chimpanzé velho desvia o olhar da plateia e contempla atentamente,
sem se mexer, e com seus longos braços postados no chão, os chimpanzés
de todas as idades fruindo a vida.
Se um fotógrafo ou pintor retratasse essa cena, e dissesse com megalomania
ser essa a condição humana, e colocasse como título da obra “De onde
viemos? O que somos? Para onde vamos?”, é, ele não estaria enganado...
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Passando para a jaula vizinha, o que vemos é ainda mais enigmático. O ser
que ali está parece retirado de tudo, nunca saberemos seu futuro e seu
passado. E grudado nas grades há uma folha, onde está escrito um poema:
O orangotango
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Araras nos galhos –
Quando pego uma das frutas
Fogem para sempre.
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Os excluídos
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A mulher de olhos turvos
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E vamos para a periferia do mundo
E vamos para onde os loucos devoram suas unhas
E as fezes e a urina cobrem as calçadas
E homens cavam com mãos nuas os minerais mais venenosos
E o sol escapela a pele em canaviaais infinitos
E onde palafitas flutuam nos mangues eternos
E favelas esperam o dia do incêndio final
Os rostos dormindo nas rodoviárias da desesperança
E vamos para onde o trabalho é a vida e a vida
Um breve descanso
E para onde as prisões acumulam o que o corpo despreza
E para onde famílias no campo ainda possuem escravos
E mulheres golpe a golpe são transformadas em fantasmas
E onde os sem teto procuram a gordura dos ossos no meio da noite
E onde os pretos, índios, travestis e crackeiros
Revezam o dia em que vão ser assassinados,
E vamos, vamos vendo as mortes em vida dos que nunca nasceram -
Aqui aquele que dormia já não pode mais dormir.
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O lado escuro da lua
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Luz da lua rodeada de escuro
Assim também são nossos anos
Vistos do momento em que nascemos.
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A parteira
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Mas as nossas pernas já estão muito cansadas...
Oh, a parteira se virou para nós e disse
“Já é hora de voltar a despertar!”
Uma nuvem negra passou na nossa frente
E disse: “já é hora de parar de competir!”
E, então, da penumbra, a parteira e a nuvem sussurraram:
“As pedras, a lua, os vulcões, a tempestade
¡Não tiveram sequer a oportunidade de nascer!”
E uma fileira de fetos não nascidos agregou:
“Todos eles já querem, já ordenam
Que vocês se dissolvam, se transformem
Numa parte dessa
Infinita pupila que não sente a si mesma.”
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Niebla que calla las estrellas
Acá – donde nací hay un entierro:
Desierto sueño playa blanca
Insomnio donde duerme la esperanza.
52
Ah, desde a penumbra aquilo me chama
E meus pês vão cada vez mais rápidos, ansiosos
Como um elétron atravessando espelhos entre os mais distantes
Planemundos,
E meus pês então abrem a porta
De cada vida que em cada loja ou ponte ou varanda solitária
Me grita em aterrorizante silêncio,
A cidade com suas luzes esgotos hospícios e palavras que voam
sem asas pelo ar
Com suas pupilas sem placenta seus colégios inundados seus
relógios fantasmas
E com seus prédios sem sombra orgasmos clandestinos e seus becos
Invisíveis,
Sim
Vai tudo me absorvendo para fora,
E eu encaro, um a um,
Os olhos do mundo que se abrem e se fecham sem cessar.
53
Dia após dia,
Como uma funesta maldição,
A cidade cresce e a alma diminui -
Os olhos se voltam para trás,
E mais além de todos os prédios
O horizonte continua sua fuga...
54
As pessoas solitárias, onde andarão?
A senhorita Rita, com seus quarenta anos
Nem velha nem jovem, sem filhos e sem namorado
Acumula incensos e profecias do I-Ching
Enquanto passam os anos e ela
Se arrepende dos pecados nunca feitos.
Já o Zé Carlos, nem adolescente nem adulto,
Negro com seus cabelos de conchas lunares,
Busca um lugar e um tempo onde estar,
Um espelho onde ver o seu reflexo
Do pai que nunca teve. Da mãe
Doente de uma melancolia perpétua...
56
Encontro meu amigo, o Jonas - músico,
Poeta, e quase sempre desempregado –
E vamos caminhando como quem sobe e desce
Por um bonito inferno... As ruas
De São Paulo e seus tentáculos de milhões de pensamentos
De sóis com depressão e prédios de almas sem janelas
E de esperanças e de amores infinitos como esse céu de fumaça...
59
As almas que cedo se levantam
62
A canção da enfermeira
II
III
66
O conto do senhor moreno de olhos verdes
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Eu tinha quarenta e um anos e fui gerente
Da seção de cuecas de uma loja da Magazine Luiza.
Eu tinha sonhos, acordava, comia e transava feliz,
A gente falava em ter filho dia sim dia não.
Tudo até eu descobrir que ela estava
Se deitando com um pastor
Da Bombando Jesus no Coração.
70
O homem da casa com piscina verde
71
E a usar só quatro roupas por semana,
A ler antes de dormir sobre inversões
A ser um mágico dos sorrisos vendíveis
Eu era pobre mas tinha alma de rico.
Sabem
Eu tenho uma piscina de águas verdes
E eu tenho raízes cortadas.
73
A insatisfeita
74
A amante
75
As mulheres que apanham
Mas nenhuma
Merecia aqueles golpes.
Nenhuma
Merecia ter seu canto
Transformado em uma queixa eterna contra as águias.
76
La chica que en una discoteca está vestida de negro
77
O adolescente
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O som do estrangeiro
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Os que na vida nunca encontraram o seu lar
82
Os velhos, três tipos
83
O órfão
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A estuprada
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Ode aos que jamais dormem
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Que não pode chegar nunca a outra existência.”
88
Após mais uma noite em claro caminho pelos bares,
Enquanto uma chuva fina cai sobre as sombras...
E junto aos bêbados velhos, o que vemos?
As prostitutas, elas esperam que o programa acabe antes de iniciar
Os bêbados mais novos, eles esperam os metrôs para dormirem
Os atendentes do bar, eles estrangulariam cada um de seus clientes
Os ubers, eles bufam como cadelas asfixiadas
89
A canção dos sem guarda-chuvas
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Ao caminhar insone encontrei um homem de olhos cinzas,
Ele lia um grande livro de capa ensanguentada,
“É um livro de canções, me disse
Já não se fazem elas como antes”
E do chão me cantou os quatro gritos contra o sol.
92
A história do mundo I
I
Mister Solaris teve um filho
E pediu para Madame Astrolábia que o batizasse.
Ela olhou para o céu infestado de estrelas
Escolheu a que lhe parecia mais bonita
E disse: Ele se chamará Baruch, o filho de Netuno com a lua
O de milhões de palavras, aquele de mil nomes.
Pois será mais forte que todos os homens,
Mais belo e valente que todos os homens,
E em cada vila receberá um nome distinto.
II
III
94
Impalpáveis como os sonhos dos mortos.
96
Ri Baruch, ri
Ri islante intratável inoperante irrequieto
Ri ilimitante histriônico intolerante ilhado
Ri ri Baruch i i i apenas ri
Pois Baruch manda, Baruch peida, Baruch é o rei momo
Pois Baruch é Baruch, é o bum é o bo é o boi, rei bobo, bobo bum!”
97
A história do mundo II
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A história do mundo III
99
Melancolia no Shopping Center
101
Ele fechou o livro, me olhou como com raiva reprimida
E eu segui caminhando insone pelas ruas do mundo
E eu fui a outra cidade, a outra rua, a outra esplendorosa ruina,
Enquanto a chuva rompia
Os infinitos telhados do céu.
102
La lluvia no puede limpiar y jamás lo podrá
No puede limpiar lo que fue dicho sin serlo,
La ciudad se llena de santos y cultos y todos los dioses
De la misericordia y de la piedad, mientras
Año tras año los enfermos se mueren,
Las junglas se vuelven desagües y los representantes del pueblo
En estafadores de viejos sin hijos y de niños con cáncer,
¡Mátame! Mátame en este puente en que no puedo
Encontrarme, pues las estrellas giran sin sentido
Y yo, igual a los demás, a todos los demás
¡Formé parte de toda esa masacre!
104
De tanta vergonha de mim e do mundo
E de tanto sentir a chuva deserta e sua ausência
Sobre os tetos sem telhados e as sombras sem sonhos,
Vou adormecendo, adormecendo
Como um rio para o fundo de si mesmo.
105
Aonde Aonde vou?
Caindo
Caindo
106
O flautista nas portas da aurora
Jogava seixos no rio das horas
E eu era um menino-ladrão em busca da sala
Onde a música ressoa as águas subterrâneas.
107
O sol explode em mil espelhos –
Tentei ver minha imagem
Em um floco de neve.
...
108
Procurei teus olhos como barco que se afoga –
O deserto pede água como o mar a tempestade.
109
O céu dentro do céu
E os relâmpagos que cruzam o oceano
Do túnel onde caímos sem fim
Para a escuridão de nós mesmos,
Surgem vultos que abocanham a noite
O vazio se expande de alma em alma
Atravessamos a ponte alagada
E os olhos do guarda se viram para nós
Estamos nus e ele tenta roubar nosso relógio...
111
Me despierto y voy por las callejuelas del caos,
Mis botines están todos mojados,
Yo quería volar pero no tengo alas
No veo en las casas una puta dirección
Quería solo un número un número
Para saber quién soy era quién seré…
Hay animales y hay hombres que dan miedo
Hay postes de luz que se apagan
¿En qué siglo en qué país en qué oscura pesadilla
Me he despertado
¿Por qué no veo los números de esas casas oscuras?
Los árboles no tiemblan,
El viento parece
Volar a los fantasmas y casas,
Mi nariz desaparece poco a poco,
Oh dioses, dioses de las cucarachas,
Dioses de estos murciélagos blancos que en la tempestad se asoman,
¿Por dónde podré llorar todos los siglos
En que árbol debajo de qué sueño?
¿Dónde, en los pies del gigante universo
Podré justificar esta existencia?
Saqué del agua una papeleta empapada
Leí la cantidad de mis pasos ya dados,
Los que faltaban para que me ahogase,
Y el mundo - como el inalcanzable desierto –
Dejó de existir.
112
Mamón mammoón
O passaporte está longe, vou gastar horas indo e vindo buscar ele
Em minha casa
Está trancada
113
Com um cadeado de algas verdes bem trancada
Ouvi um berro
E como posso
Sair
Desta ilha?
Como
Posso
Sa
114
Há um oceano de sonhos que jamais serão lembrados
E pense que lá pode estar a tua vida.
Uma chave que quando criança se perdeu
E que poderia trazer à superfície
A única porta que valeria a pena ser aberta.
...
115
Nos despertar sempre com a pálida luz
O grito dos despertadores distantes
Novamente o mundo e seus arautos sorridentes
Seu ribombar de emoções e apatias
O fogo sangue lento
Lento como as águas pesadas
Sempre obrigadas a subir.
116
Estou no meu quarto, sim
Onde juntei as tempestades
E me esqueço de novo dos outros, só vejo
A sombra, aquilo
Que nasceu comigo antes de eu nascer,
E vou cavando os túneis da memória, cavando
Como quando vemos a inesquecível montanha
Desde a roda gigante.
117
Lembrança 2
118
Lembrança 3
Eu tinha só
Vinte e três anos
Planícies pela frente
A universidade com festas pessoas ideias
Trabalho, mulheres
119
O que quer que fosse
E eu não consegui me mexer.
E agora, que ainda sou jovem
Encaro a árvore que lentamente se esfarela.
120
O tempo
121
Porque o tempo não volta1
1
Originalmente do livro “Poemas esparsos”.
122
Aidaluz
124
En el planeta de la melancolía
En el planeta de la melancolía
Yo vi a un tigre
Que se alzaba de la niebla.
Sus ojos de humo envolvían
A todos que lo veían
Y de sus dientes, inmensos
Como el mundo que cae,
La cabeza de un lobo lloraba
Sus excretas de sangre.
125
Y de un rincón oscuro les lanzaba
La cabeza de una cría de lobo…
Los niños la miraban, le decían adiós como a un tótem,
Y, de pronto, como el mundo que cae
Triste, tristemente, la comían…
126
Mandala negra
127
Da tua boca apenas sai
Um árido oceano.
As águas evaporariam
E apenas restariam as negras areias.
128
Luto, palavra
De quatro letras de acordes e harmonias infinitos
Me remetes a minha mais tenra obsessão,
Aquela que traz o inverno nos dias mais quentes...
E agora noite a noite estamos mais perto dela, da semente
Da semente que explode todos os que chegam a ela.
129
Melancolia
Quando alguém se afasta no oceano
E o ar pesa como tampa de sepulcro
Não somos mais que uma criança com frio
E temos medo de que na saída da escola
Nos deem a mensagem sinistra -
Melancolia
Os dias repetem o teu nome
As noites cantam em sonhos tua imagem
Os espelhos se enchem dos ecos de fantasmas
E as aves se espalham, deixando
Em cada templo uma cabeça decepada,
Melancolia
É chegada a hora das crateras explodirem!
É chegada a hora dos terremotos estremecerem as sombras!
A criança que se pensava eterna escorrega ao abismo
No horizonte há um relógio que marca a tua morte
E é chegada a hora de recolher nossas medalhas -
Melancolia
Quando alguém
Em toda esta terra fraturada
Desde o vazio do ártico até os confins do equador
De nós se despede,
Sim
Sentimos a tua escura presença
Abraçando cada um de nossos sonhos.
130
Quando o sol – lanterna entre as nuvens –
Piscar seu olho temeroso
Sim, você verá:
O dia esconde a noite,
Uma noite sem ecos, sem presságios, sem fantasmas
Uma noite maior que qualquer noite,
Mais vazia que o ar que respiramos.
E há uma região pálida entre planetas já extintos
E há uma região sem estrelas, seca e pantanosa,
E a qualquer momento ela pode
Escapar do teu espelho...
Observa:
Esse céu que te protege
Tão amplo, tão suavemente acolhedor
Esconde as dunas do deserto
Os gritos violentos de um sonho sem sentido...
131
The great unknown 1
Aproxima-te,
Põe teu olho no misterioso orifício
Onde o mundo
Em imagens e explosões se revela
Onde o silêncio
É um gnu na correnteza afogado,
E onde o tempo devora o espaço
E onde as cores no vazio se dissolvem
E onde uma corrente de mortos
De mãos dadas circunda o universo.
132
The great unknown 2
134
The great unknown 3
135
Você que cresceu entre as flores
E da infância só colheu as frutas doces,
Você que teve pais e amigos
E só ouviu deles histórias bonitas,
Quero que me escute pelo menos um pouco
Pois não é bom que o inferno
Seja pintado de branco.
136
Poema do ateu
137
Melancolía
Hija de la niebla
¿Dónde por dios has escondido
Esa llave que no es tuya?
¿Dónde
Con tus alas de pájaro durmiente
Has escondido esa llave
Que abriría uno a uno los recuerdos?
¿En qué jardín debajo
De qué árbol?
Yo la he buscado por los años sin fin
Por esos años sin futuro y de oscuras escaleras
Y no, no la he encontrado.
A veces pienso que nací para buscarla
Que tú, melancolía, eres mi madre
A veces pienso que hay un lago
Y que nacimos sólo a contemplar
Donde nos ahogamos al buscar el rostro de la niebla…
¿En qué jardín en que niebla en que cielo
Podemos encontrar la noche que originó las otras noches?
Melancolía
Ave de alas durmientes
Hija inventada de la niebla
¿Sabremos algún día el por qué
Viniste a robar esa llave de ojos sin sueños?
138
Melancolia
Quando tua sombra aparece em surdina
Na fresta de uma porta ou pequena janela
Submetes, oh deusa, todos os demais sentimentos
A alegria a inveja o espanto a raiva e o sono
A culpa o medo o êxtase a angústia a apatia
A alegria o amor a fé o desespero o tédio
Como ilhas à deriva arrastas tudo para ti,
Levas tudo ao fundo do teu escuro coração, oceano
De teu silêncio que grita,
Melancolia
Quantos planos vidas quantas plantações interiores
Não foram por ti destruídos? E quantos
Não foram por teus olhos de ataúde criados?
Você retira teu manto e mostra teu rosto
Teu rosto descarnado como as múmias incaicas
Teu rosto belo e terrível como o retrato da vida
As eras geológicas do tempo expostas em ti
Pássaro sem asas resignado e em febril desespero
As cores dos arco-íris sendo substituídas por camadas de fumaça e neblina,
Melancolia
Os prédios, os homens, as inumeráveis prisões
Os animais subterrâneos e os que voam pelo éter
Os ainda vivos e os que já se extinguiram
Cada sombra de rio ou murmúrio de fantasma
Cada floresta deserto e cada impotente louco e moribundo
Ao nascer, cada criança
Sem pais cada aborto e cada boneco destruído
As luas de Júpiter e os vulcões de Plutão
A primavera o gelo o fogo e os vapores escuros -
Todos já te sentiram e voltarão a te sentir,
139
Todos tremem te veneram
Repetem teu nome e se arquejam
Te olhando quando passas,
Teu vento, oh Deusa, é tão forte
Que nem as folhas se movem.
140
Debajo del cielo
A veces
Sentimos la inmensa alegría,
Tempestad y murmullo de tierras lejanas,
La sangre como un caballo sin frenos ni ropas de pasado o futuro…
142
Llévame madre
A lo lejos
A lo lejos
En el cielo azul celeste
En Marbella, de un edificio, frente al mar
Miramos a los barquitos que se alejan en el alba
Y nos preguntamos:
“¿Que habrá cuando la niebla se junte con el mar?”
144
Mãe, após noites lendo este livro2
Fechei estas paisagens e parei de sonhar.
Fiz o que me disseste – fechei este livro
E tentei com as crianças brincar.
2
Versão de parte de um poema do livro “Rumo ao Âmago da Própria Voz”.
145
Oh meu pai
Esta teia infinita que nos prende
Nos liberta
Esta teia onde nascemos e morremos
Este chá que passamos de geração
A geração
E que é doce e é amargo,
Triste como as escadas de uma casa,
Reconfortante como as escadas de uma casa,
Como não juntar as mãos inclusive ao chorar
Se é isso que nos faz sermos humanos
Entre as coisas que não sangram?
A história, ah
É uma corrente de homens e mulheres
Que depositam areia uns nos outros,
Que uns nos outros implantam a pedra da loucura...
E seria eu tão insensato
De não valorizar cada palavra ou gesto
Os aprendizados, as neuroses, os risos, os abraços
As paranoias, os pesadelos, as velhices, as histórias
De todos esses rostos e sombras
Que enchem de ecos esta casa?
146
Para um amigo
Um detalhe comum
Como a morte de uma abelha na piscina
Ou a lança apache num museu
Sempre me fizeram lembrar da miséria
Não só da dos pobres e pratos vazios
Mas da miséria total, delirante
Física, nervosa, impotente, invisível
Espiritual, existencial, humana, animal imaterial...
147
As cidades
Lima
São Paulo
Campinas
148
Ica
149
Estava pensando nesses lugares e pessoas que de alguma forma amo
ou amei. Quando minha mente de repente mudou de um céu mais ou
menos calmo para a habitual tempestade de lanças pré-históricas
voando ao acaso... “Quem nasce louco morre louco.” E então me sentei
em um banco e lembrei de antigas canções de desprezo aos ídolos de
cabeças de pedra...
150
Sátiras
1 – À burrice
151
2 – Aos críticos de arte
(Alguns tipos)
152
3 - Aos nunca-satisfeitos
Os nunca satisfeitos
Estão sempre felizes e infelizes,
Pois antes de poderem pensar
Estão trabalhando como o hamster eterno
Ou apenas pensando nas fezes de ouro
Como um horizonte que criasse as próprias nuvens.
153
4 - À positivamorte
E ele, um homem jovem com a barba perfeita, toma seu café, um café de
máquina mesmo, pois não tem tempo para mais, e ele olha da janela do
escritório para a academia da empresa
Ela, bem magra e cabelo castanho escuro preso para não interferir, pedala e
aproveita para ler sobre como otimizar o seu tempo
154
Também podemos lucrar”
A morte é positiva
O cansaço é positivo
155
Roma Mesopotâmia Cusco Shangri-La Cairo Kyoto Tenochtitlán
156
O futuro: homem esquizoide do século XXI e meio
157
os demais. Nossas mãos serão de silício e logo de um gás
teletransportável. Os humanos se transformarão em outra espécie. Eles
nos extinguirão e depois rirão dos criadores. Seus sentimentos, suas
emoções, serão outras. E a confusão será nosso epitáfio.
O que exatamente queremos do futuro? O escuro olhará nossa espécie
como olhamos os dinossauros, os trilobitas e as baratas gigantes. Todos
perdidos no escuro e no tempo.
158
Ah
Ah
Acalme-se
Acalme-se
159
Sidarta
Sidarta, até o que te afasta te aproxima.
Esses languidos sorrisos invertidos
Essa vontade de assassinar o céu a cada dia
Essa imagem se repetindo por anos como um mantra
Os pensamentos pensando a si mesmos a cada céu que escurece,
Isso, quer você queira quer não, também te aproxima
Do humano que repulsas e admiras.
160
A eles, os anoitecidos
Você se considera melhor por ter nascido em uma atmosfera mais pura?
Eles, eles fizeram o melhor que podiam fazer
E viram a lâmina do horizonte que lhes foi permitida.
Não, não queimem o ar em que respiram.
161
E depois desse céu tumultuoso onde a ira é rainha, e depois
De sentir culpa pelas nuvens venenosas cor de chumbo e depois
De tentar como um monge ateu acalmar a sua alma, de tentar
Reconectar-se à escorregadia humanidade, sim
Depois como sempre vem a chuva deserta...
E pensamos em cada um dos sentimentos como em cada oceano
E jogamos a raiva para dentro de nós como uma pedra num saco
E vamos meditando, cavilando, ruminando, dividindo o mundo
em caixinhas
Nosso hemisfério direito e nosso esquerdo produzindo menos ou mais serotonina, dopamina,
oxitocina
E nossa vontade de deglutir ingredientes diminuindo e aumentando enquanto marcham
Os cavalos já idosos -
Cada uma das pontes que passamos se destrói
Nosso sangue, justo ele, deixando de girar.
162
A dissolução
163
Estou aqui
De novo tentando voltar ao passado
Segurando com todas as forças os ponteiros...
Como, como poder alongar os anos circulares
E fazê-los cheios de tantas riquezas
Que eles passem lentos como os séculos dos mortos?
164
Sempre voltar, voltar atrás
Para descobrir a névoa, a névoa
Que tanto os anos arrasta para si -
As casas, que tanto diminuem de tamanho
Os brinquedos, que ficam sem usar
E os ecos, que perturbam nossos sonhos submersos,
165
Os traumas
166
O desespero
167
O arrependimorte
Se a cada segundo
Se a cada mísero segundo
Há uma escada certa e outra errada
Como não sentir
O fantasmagórico zumbido?
Se a cada segundo
Se no mar da nossa mente
Há cinco tubarões nunca amigos
Que disputam a nossa carne e a carne dos demais
E se damos voltas e voltas
Tentando juntar nossos pedaços
Como poderemos obter nosso reflexo? Sentir
Que somos um ser uno que nada para a frente
E não essa explosão de tripas coloridas e escuras?
E se nossos desejos, se eles vagam como ilhas
E se nunca ao certo saberemos
Qual de nossos tubarões irá nos atacar,
E se em cada segundo há tantas sendas
Sem volta que se abrem
E se não conseguimos, a cada mísero
Segundo
Controlar nossos desejos
Em prol dos desejos dos demais e de todos
Nossos outros mil desejos
Fazendo o mal como a criança malcriada
Cheia de barro na escola, e se
É impossível tendo culpa não a tê-la,
Como poderemos continuar ou parar
Sem que no mar da nossa mente
Não sintamos um profundo naufrágio?
168
A satisfação
169
O tédio
170
Os dias passam como lagartixas suicidas
E nas noites vêm os mesmos sonhos
As ruas que de súbito escurecem
As sonolências de um cadeado nunca aberto
171
Se eu pudesse expressar
O chorume de toda uma vida,
Ah, as esperas em janelas fechadas
Os pensamentos que se destroem e que juntos
Nos devoram,
Os desejos que atiram nas escadas
Que pouco a pouco construímos,
E os pesadelos a derreter a luz dos astros
E a fazer que adormeçamos desde o crepúsculo da aurora,
Tudo, tudo o que não é nobre nem feliz nem ao menos ilusório
E que tampouco é verdade,
Se eu pudesse expressar
Todo esse chorume gota a gota
Como um câncer que vamos pouco a pouco
Mostrando em uma radiografia a cores
E dizendo: é isso, ele é nosso!
E então cada boca de espanto e de tédio
Ao ver um monstro que não é o próprio filho,
172
A infâmia
173
Ouve, ouve a voz cansativa dos anos
A voz perfurada por antigos infernos
A voz das lágrimas nas gargantas mais fundas
Dos subterrâneos que anseiam a dissolução das estrelas,
Ouve, ouve como clama por cada noite abandonada,
Como clama por tempestades que destruam a fonte do céu,
E de cada amor não devolvido
E de cada formiga esmagada no deserto
E de cada iceberg que não encontra sua voz
E de todos os insones
Que não choram e nunca chorarão,
Surgirá a árvore de sangue,
A árvore dos desterros infinitos...
174
Sendo deixados para trás... Lá, lá no lugar
Onde os mortos recém-nascidos adormecem.
175
O ressentimento
E nas noites
Me ponho a ouvir aquelas vozes...
“Eu era uma menina ignorada pela mãe
Nem minha mãe me considerava bonita,
E as meninas riam, me chamavam
Catapora, porque meu corpo era cheio de manchas
E meus cabelos bagunçados para o alto.”
“Eu era pobre, muito pobre
Olhava como a van buscava a todos
E eu voltava a pé, duas horas para casa,
Meus pés calejados no caminho de barro.”
“Já eu era doente, mais doente que os velhos
Não podia brincar, só ficar na cama tossindo,
176
Todo ano me falavam que eu podia morrer.”
“E eu era um autista que levava pedradas dos demais.”
“E eu era uma menina abandonada pelo pai em drogas viciado.”
“Eu era uma criança nem menino nem menina
Que esperava que a professora, o padre ou o doutor
Me explicassem o que eu era.”
177
Como se livrar - por um segundo sequer entre os segundos -
De toda essa sujeira, como o mofo
Sobre as tampas das privadas mais antigas?
Como se livrar desse chorume, desse esgoto inacabável
De autopunição e visões de pombas mortas?
Como, como dar sentido as gotas dispersas da vida?
Como unir esses pontos malditos
Numa única reta divina como o inexistente destino?
Como fazer que não haja apenas morte, espera e essas fezes
Espalhadas pelos cantos dos móveis?
178
E agora vamos ao tema
Que deixa o ninho das aves quentinho
E os cachorros sem humanos como desertos sem oásis.
O tema que ao levantar suas asas de pterodátilo sem olhos
Faz os vulcões do começo do mundo destruírem
Até as ilhas mais distantes.
179
Te procurei em todos os trens até encontrar-te,
Acabasse de nascer.
180
Você se escondia entre a névoa
E eu te buscava como quem segue seu fantasma
Sim, você era um doce e enigmático fantasma
Me falavas que não passavas de uma ideia...
Mas nunca amei tanto tocar uma ideia!
Eu podia ficar anos e mais anos
Abraçando teus pensamentos.
181
Quantos, quantos barcos foram necessários
Para que eu pudesse encontrar tua orfandade?
Nos templos do desespero te esperei por muito, muito tempo
Sozinho com a escuridão em minhas mãos.
182
Quando a conheci ela não falou sobre livros,
Não falou sobre teorias alheias
E nem sobre acontecimentos reais.
Ela apenas contou a sua vida
E me narrou um sonho estranho
Em que morria
Na mesma hora em que nascia...
Eu lembro
Pois ela caminhava como se fosse cair
E eu lembro:
Seus cabelos eram negros como noites mal dormidas
Seus olhos puxados como as terras distantes
E sua voz pesada como os que querem morrer...
...
...
183
En el medio del puente
Te evoco en el recuerdo
Llena de infinitos como una tarde de lluvia.
Caminábamos por un puente lejano
Ahora con los años lejano
Y me contabas de tu padre
De tu viaje a Japón
De tu infancia en un barrio pobre de Brasil…
Y después te miraba dormir a mi lado,
Tú tenías todas las edades al dormir,
Todos los cielos donde el viento no existe.
Te evoco,
Te evoco hoy más que nunca,
Pues hoy, por azar, en esta tarde
Me vine a caminar por este puente.
Cae la lluvia igual que antes,
185
Igual que cuando yo estaba a tu lado y tú con tu padre,
Cae despacio y siempre llega al suelo.
Te evoco, te evoco desde ahora hasta mi último sueño
Hasta que dejes de conversar conmigo mientras duermo.
186
Teu mundo
Está repleto de árvores de sonho
De canoas que atravessam o sonho.
Teus seios
São como a floresta
Onde nascem os milagres.
O céu que há em ti
Se alaga de teus sonhos,
De tuas luas cobertas de araras.
187
Minha vulcã de cabelos ruivos, ao longe sempre visível
Caminhas como uma patinha apresada pelas ruas do centro
E me abraças como quando criança
Corremos para abraçar nossos pais.
Quando te conheci, você lembra?
Você vestia uma camiseta de unicórnio
E falava sobre abduções e suicídios e mundos em outros planetas,
Já eras diferente na forma de olhar para o caderno de estudos,
Falavas sobre as provas de concurso e sobre saídas do corpo,
Tinhas já no primeiro olhar aquele sol violeta que atrai...
E eu te amo como o meteoro que matou os dinossauros
E eu te amo como as bicicletas que escapam da trilha
Como as ondas repentinas que rompem nossa paz
E você é única como o rinoceronte negro oriental
Única como um cérebro de um dragão perdido num museu
Você que como eu veio ao mundo com fórceps
Você que sofreu do abandono como uma cratera o meteoro
(Teu pai que te deixou e tua mãe
Que te amando nunca soube demostrar),
Você que passou a infância batendo a cabeça nas paredes,
Que tem uma filha e que compra brinquedos para si
Que já cheirou cocaína no banheiro da empresa
Que é magra e tem alma de navio em busca de alimentos
Você que tropeça nos moveis, busca a chave, e bebe café e cerveja com tudo
Que ri sem ética e com plena liberdade
E nua parece como uma grega em uma pintura renascentista
Com o mais profundo eu te amo no momento do amor,
Você é única como o terremoto em São Paulo
Você é única como a lua ao aparecer ao meio dia
E eu te amo como as crianças amam seu primeiro animal de estimação
E eu te amo como quem tenta sempre voltar ao mesmo sonho
E eu te amo como o sonâmbulo que não consegue deixar o seu corpo
Minha agitadora de emoções violentas no vazio dos dias
Minha abduzida no berço quando a tua família toda viu uma luz tão intensa
Que teve a certeza de que tinham te trazido de outro mundo,
Minha repetidora de pensamentos de fevereiro a dezembro e
do meio dia à meia noite
Que vê em sonhos as 69 reencarnações que jura já ter tido
188
E que espera da vida uma porta a outra vida
Mesmo temendo a eternidade como a uma tampa de aço,
Você que usa e sempre quebra teus óculos
Que limpa as superfícies mil vezes
E que sempre vasculha meus ouvidos e nariz,
Você que me faz rir como ninguém
Com piadas sobre teus amigos bêbados vinte anos mais velhos
E sobre um filho que teríamos, metade sonolência e metade bipolar
Metade ateu e metade esperançoso pelo além,
Você que fala inclusive enquanto sonha
E que come de boca aberta como eu
E que fala tudo o que não deveria ser falado
E que anda e bebe e conversa comigo pelas ruas do mundo
Você é única como o som do coração quando começa a bater
E eu te amo como os aviões que perderam suas asas
Como as ilhas que foram inundadas pelo mar.
189
Abres tua alma na hora do amor,
Me recebes como a flor do infinito,
Tua pele é uma orquídea violeta
Que acumula as águas do prazer.
190
De la lejanía…
191
Na antiga praça do relógio
192
A estação dos amores
A estação dos amores perdidos
Está coberta por uma névoa de tempos distantes
E nela, às vezes
Nós vemos dois arco-íris.
193
Você fez amigos em tardes de vento,
Aprendeu a sorrir e a rir,
Deu a mão a estranhos e amou-os,
Teve uma namorada e amou-a.
Mas o teu peito continua
A ser um porto onde os barcos não chegam.
194
- Você viu? O vulcão destruiu todas as ilhas. E agora os dias são iguais,
as insônias assolam esta terra devastada, e os pesadelos mostram um
ônibus que parte e um rosto que fica.
- Mas não tem chance de vocês voltarem?
- É cruel, mas, na real... Quando isso acontece, ou nos afastamos do
amor ou acabamos com nossa vida.
195
La soledad y sus brazos infinitos
Sueño tras sueño e insomnio tras insomnio
Como los senos invisibles de una luna que huye
Por siempre más allá del último horizonte,
Cuando miras hacia atrás
Diez o veinte años han pasado
Y la soledad continúa
La soledad y sus brazos infinitos
(Esos que jamás nos matan y que siempre
Nos ahogan),
Murciélago blanco que vuelas sobre nuestros sueños repetidos
Agua turbia que escapa del desierto
Y las voces de desalentadas sirenas
El amor como la imposible confluencia
De dos planetas de universos lejanos
Y los tan prometidos colores del desierto
Los colores de una playa siempre viva y sin fronteras,
Todo, todo siempre en el espeso
Más allá
Y aquí el vacío de un cuarto
Sin fantasmas
La soledad y sus brazos
Infinitos.
196
Ama as estrelas que alumbram teu caminho
Mas igualmente ama os tigres
Que na noite tentaram devorar-te.
197
Haicais da noite em espiral
Batidas na porta.
Após anos separados
O vazio.
Lá fora as estrelas.
Aqui dentro o relógio.
Entre os dois: a insônia.
Viajantes, quantos
Não são mortos na chuva? Sinto
A dor das formigas.
Na noite o dia
Não existe. Raios nos lembram
A vida perdida.
Tremem as janelas -
Agora a tempestade é mais forte
E agora a casa girando, girando...
199
Pensei que a noite
Da vida, também acabaria...
De súbito a calma
Algo, no escuro, se aproxima
Após anos de espera.
Queda. Vertigem.
Agora eu que vou girando,
girando
No fundo – águas negras.
200
Um homem cansado
Vê – recostado em um poste –
O fim das estrelas.
Lagartixa do sonho
Como poderemos cobrir-nos
Com a mesma coberta?
Névoa – cortinas
Quantos, quantos viajantes
Não se perdem ao sonharem?
Novamente: insônia.
O relógio, o eco, os fantasmas
De tudo o que nunca, e sempre
Seremos.
201
Lua
A noite Quem somos
Ela olha Seremos
A todos Quem fomos
De dentro Esse grito
Ela espera Silêncio
O sonho Essa espessura
Preciso, De sombras,
No mais Não a desprezes
Indefenso Jamais.
Dos dias, Ela
E nos cobre A noite
Com seu manto Te espera
De vazios No mais
Eternos Indefenso
Dos dias
202
A PAZ
203
A canção do ônibus que sacoleja pelas ruas
Sentir o vazio
É como ter uma perna amputada
Só que ninguém o percebe,
É como andar neste ônibus cheio
E ninguém perceber,
Que tua alma está partida
Que há um fantasma a buscar outro fantasma.
Haverá um dia
Em que as pessoas
(Nos ônibus, nos pontos, nos escritórios, nas salas de aula)
Verão os vazios dos outros
E porão as mãos na boca em espanto
Como se estivessem a ver um aleijado
Ou um simples fantasma.
204
Tristeza, dá-me a tua mão
E caminhemos altivos ao passado
Onde todas as casas são iguais
E onde um sol negro se levanta
Trazendo nos seus olhos o murmúrio
Do mar que nunca chega.
205
Caindo
Caindo
206
E caminhei para dentro e para fora
No meio do caminho escurecido
Sem conseguir encontrar a aurora,
“Caronte, poderemos
Cruzar este rio duas vezes?”
207
Me despierto en las calles del mundo
El río que crucé se evaporó por completo
Mis sueños son como zombis que me gritan al oído
Hay un vendedor de caramelos con ojos de roja adicción a la locura
Un pordiosero en el suelo que habla sobre Dios y una vagina
Los buses cargan hombres que derriten de sudor y de insomnio
Hay charcos de orina sobre las veredas polvorientas
Me pierdo poco a poco en la última frontera
Siento frío siento sed siento el vacío de los muertos
Siento las sombras que me pegan como si fuera un animal
Hay una crisis que construye un hueco en la realidad
Los pocos edificios me dan miedo
Sus sombras crecen como como las pesadillas de los monstruos
De las ventanas cantan las mujeres de la muerte
¿Qué he hecho para merecer el desierto del cielo?
¿Ese cielo de edificios, ese
Ruido de apocalipsis que trota en las laderas de la nada?
Los rostros pegados en sí mismos, el grito
De los que nunca son vistos
Y dentro de mí el río seco que cae al abismo
Una voz de enfermo que sueña con animales que flotan
De niño que les pone fuego a sus padres mientras duermen
¡Mátenme!
¿Qué más entre esos sonidos que no nos dejan soñar? ¿Entre
Esos túneles que nos llevan al centro del dolor?
210
Acorda, acorda... Olha
Diretamente para os buracos do sol,
E escuta os ecos que saem da lua,
O eclipse eterno
Entre a razão e a loucura.
211
O natimorto
Nasci de um pai tartamudo
De uma mãe que me batia
E não sei como vim ao mundo.
212
Os apocalipses solitários
214
O suicida
216
Adormece, adormece
Para não ver novamente
Essa explosão silenciosa,
Essa suicidante
Verdade,
E esse sangue
Que coagula em contato com o sol...
217
No meio do caminho deste sonho
Eu encontrei esse varal apodrecido,
Onde as lembranças fazem ninho,
219
Mas logo voltavam ao cansaço, ao gélido cansaço...
220
“Está muito pesado esse fardo?” – perguntei ao senhor
Que olhava e não olhava a concha das nuvens.
“Tem só arroz, nada que pese a alma, rapaz”
E então chegamos à base da montanha
E então pernoitamos sob a lua cor de vinho
Sonhando junto a nossos ancestrais...
222
Tapete dos sonhos
Em cada fio seu entrelaçado
Um tempo se elabora.
223
Não podem ver a si mesmos e nem
As figuras que formam.
224
Acorda, acorda para sempre e observa
O limite das cidades e dos sonhos
Onde
O presente e o passado
Encontram as mãos do cadáver do arco-íris
225
Em Lima, fevereiro de 2016
227
Coda
Oh meu Big Bang feito de carne que explode e suja tudo o que encontra
Quantas chuvas que sobem não vimos
Sobre os oceanos dos nossos sonhos destruídos?
As sombras passam pelas ruas do mundo
Os objetos todos têm significações misteriosas
Tudo é memória e desejo e um rastro de espuma
Um cheiro de perfume estragado e fruta sem sabor,
E um caleidoscópio que espalha os arco-íris
Da alegria extrema, da tristeza extrema e da apatia...
Tudo, tudo é árido e submarino
E continuamos buscando nossos rostos sem forma
E continuamos em busca da luz submersa
Ou de um escuro onde mergulhar para sempre.
228
Sem nos espantarmos com o que nasce pro espanto?
(Escuta, o hino do botijão daqui a pouco voltará
A parteira, ela dará à luz mais uma múmia
O amor, ele continuará a dar as horas na estação
E a melancolia, ela virá em novas canções sobre a névoa,
Afundados neste vulcão, o que tanto esperamos?)
Eu, eu ouço agora a música que vem das janelas distantes
Eu sinto o perfume de tudo o que já foi enterrado
E vou perdendo a consistência
E vou pedalando entre os bosques invisíveis
Até chegar na sala dos mágicos relógios
Onde a música ressoa os labirintos de coral
E tudo se perde em arco-íris que derretem
E tudo ecoa como a sombra que vai perdendo seus reflexos
E eu descanso da jornada circular
Como o camponês que carregou a montanha dos sonhos
E dorme agora entre os sons do infinito...
....
229
Essas cores que te entretêm como bonecos malvados
E essa água espessa que une e despedaça nossos sonhos:
Só espero que não sejas mais o mesmo
Que olhes sem desviar aos degraus do abismo,
230
231
Melancolía
Erosión de los sueños asesinados por el día
Y cristal que explota desde dentro al infinito
Melancolía
Volcán de voces infantiles extinguidas
Amor que huye, tiembla o está siempre ausente
Y pájaros que en la niebla dan vueltas en sí mismos
Melancolía
Lluvia en ciudades de sombras hambrientas por sueños
Una bicicleta que se parte al andar sola o con los otros
Oscuridad de parpadeantes palabras sin sentido
Origen de todo lo que nunca y siempre tiene origen
Melancolía
Cansancio de un alma que no soporta a sí misma
De cuerpo que pide parar los pensamientos
Y noche que atraviesa los años en los gritos de un muerto
Melancolía
Todo lo que fue y sigue siendo en el pasado
Todo lo que se sabe no-ser, era y nunca y más allá
Niño de ojos grises con una pelotita en las manos
Melancolía
Pasos en la oscuridad de una sala infinita
Universo que nunca y siempre se detiene.
232
233
234
235
SUMÁRIO
Prefácio 6
Oh meu pequeno Big Bang... 8
Melancolía/ hija de la niebla... 10
Melancolia/Os dias foram feitos para ti... 12
A verdade 13
Um dia, a ciência... 14
LEMBRANÇA 1 – Cavamos um túnel de areia... 15
Como um oceano debaixo do mundo... 16
Se eu pudesse jogar meu coração 17
E como então começar a contar... 19
Sempre me entristeceram coisas simples... 21
Uma a uma as coisas simples... 22
Um jogo da velha em um parque imemoriável... 23
As casas 25
Os brinquedos sem usar 27
Os contornos dos tecidos... 29
Os aniversários 29
As piscinas 30
Os mapa-múndi 31
Dudu, na época com 8 anos de idade 33
Ode à música do botijão de gás 35
Pequena canção para una menina que cheguei a conhecer 37
236
Mas não é que a melancolia é um céu muito mais amplo? ... 38
Passagem pelo inferno 39
O orangotango 41
Araras nos galhos... 43
Os excluídos 44
A mulher de olhos turvos 45
E vamos para as periferias do mundo... 46
O lado escuro da lua 47
Luz da lua rodeada de escuro... 48
A parteira 49
Niebla que calla las estrellas… 52
Ah, desde a penumbra aquilo me chama... 53
Dia após dia.... 54
As pessoas solitárias, onde andarão?... 55
Encontro meu amigo, o Jonas... 57
Ode para as almas que sempre se levantam 60
A canção da enfermeira 63
O conto do senhor moreno de olhos verdes 67
O homem da casa com piscina verde 71
A insatisfeita 74
A amante 75
As mulheres que apanham 76
La chica que en una discoteca está vestida de negro 77
O adolescente 78
A canção do estrangeiro 81
237
Os que na vida nunca encontraram o seu lar 82
Os velhos, três tipos 83
O órfão 84
A estuprada 85
Ode aos que jamais dormem 86
Após mais uma noite em claro caminho pelos bares… 89
A canção dos sem guarda-chuvas 90
Ao caminhar insone encontrei um homem de olhos cinzas... 92
A história do mundo I 93
A história do mundo II 98
A história do mundo III 99
Melancolia no Shopping Center 100
Ele fechou o livro, me olhou como com raiva reprimida 102
La lluvia no puede limpiar y jamás lo podrá... 103
De tanta vergonha de mim e do mundo… 105
Aonde Aonde vou?... 106
O flautista nas portas da aurora... 107
O sol explode em mil espelhos... 108
Procurei teus olhos como o barco que se afoga... 109
O céu dentro do céu... 110
Me despierto y voy por las callejuelas del caos... 112
Mamón mammoón... 113
Há um oceano de sonhos que jamais serão lembrados... 115
Nos despertar sempre com a pálida luz... 116
Estou no meu quarto, sim... 117
238
LEMBRANÇA 2 -The happiest days of our lives 121
LEMBRANÇA 3 - A transição dos céus circulares 122
O tempo 123
Porque o tempo não volta 124
Aidaluz 125
En el planeta de la melancolía 126
Mandala negra 127
De tua boca apenas sai... 128
Luto, palavra... 129
Melancolia/Quando alguém se afasta... 130
Quando o sol – lanterna entre as nuvens – ... 131
The great unknown 1 132
The great unknown 2 133
The great unknown 3 135
Você que cresceu entre as flores 136
Poema do ateu 137
Melancolía/ Hija de la niebla... 138
Melancolia/Quando tua sombra aparece em surdina... 139
Debajo del cielo... 141
Llévame madre 143
Mae, após noites lendo este livro... 145
Oh meu pai... 146
Para um amigo 14
AS CIDADES 148
Lima 148
239
São Paulo 148
Campinas 149
Ica 149
No delta do Amazonas, indo a Marajó 149
Estava pensando nesses lugares e pessoas... 150
SÁTIRAS 151
1. À burrice 151
2. Aos críticos de arte (alguns tipos) 152
3. Aos nunca-satisfeitos 153
4. À positivamorte 154
O futuro: homem esquizoide do século XXI e meio 157
Ah/Ah/Acalme-se... 158
Sidarta 159
A eles, os anoitecidos 160
E depois desse céu tumultuoso onde a ira é rainha, e depois... 162
A dissolução 163
Estou aqui... 164
Sempre voltar, voltar atrás... 165
Os traumas 166
O desespero 167
O arrependimorte 168
A satisfação 169
O tédio 170
Os dias passam como lagartixas suicidas... 171
Se eu pudesse expressar... 172
240
A infâmia 173
Ouve, ouve a voz cansativa dos anos... 174
O ressentimento 175
Como se livrar - por um segundo sequer entre os segundos - 176
E agora vamos ao tema... 179
Te procurei em todos os trens... 180
Você se escondia entre a névoa... 181
Quantos, quantos barcos foram necessários... 182
Quando a conheci ela não me falou sobre livros... 183
En el medio del puente 184
Teu mundo/Está repleto de árvores de sonho... 187
Minha vulcã de cabelos ruivos, ao longe sempre visível... 188
Abres tua alma na hora do amor... 190
De la lejanía 191
Na antiga praça do relógio 192
A estação dos amores perdidos 193
Você fez amigos em tardes de vento... 194
- Você viu? O vulcão destruiu todas as ilhas... 195
La soledad y sus brazos infinitos... 196
Ama as estrelas que iluminam teu caminho... 197
Haicais da noite em espiral 198
Lua... 202
A PAZ... 203
A canção do ônibus que sacoleja pelas ruas 204
Tristeza, dá-me a tua mão... 205
241
Caindo/ Caindo... 206
E caminhei para dentro e para fora... 207
Me despierto en las calles del mundo... 208
Acorda, acorda... Olha 211
O natimorto 212
Os apocalipses solitários 213
O suicida 215
Adormece, adormece… 217
No meio do caminho deste sonho... 218
“Está muto pesado esse fardo?” – perguntei ao senhor... 221
Tapete dos sonhos... 223
Acorda, acorda para sempre e observa... 225
Em Lima, fevereiro de 2016 226
Coda 228
Melancolía /Erosión de los sueños asesinados por el día... 232
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245