Você está na página 1de 2

Universidade Estadual do Maranhão

Centro de Estudos Superiores de Presidente Dutra - CESPD


Curso de Licenciatura em Língua e Literatura de Língua Portuguesa
Disciplina: Literatura Portuguesa do Simbolismo às tendências contemporâneas
Docente: Profa. Dra. Izenete Nobre Garcia

01. Leia atentamente o poema a seguir, e analise-o à luz do conceito de símbolo


simbolista:

POEMA 01

Para As Raparigas de Coimbra


1
7
Ó choupo magro e velhinho,
Corcundinha, todo aos nós: A cabra da velha Torre,
És tal qual meu avôzinho, Meu amor, chama por mim:
Falta-te apenas a voz. Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.
2
8
Minha capa vos acoite - E só porque o mundo zomba
Que é pra vos agazalhar: Que poes luto? Importa lá!
Se por fóra é cor da noite, Antes te vistas de pomba...
Por dentro é cor do luar... - Pombas pretas também há!

3 9

Ó sinos de Santa Clara, Terezinhas! Ursulinas!


Por quem dobraes, quem morreu? Tardes de novena, adeus!
Ah, foi-se a mais linda cara Os corações às batinas
Que houve debaixo do céu! Que diriam? sabe-os Deus...

4 10

A sereia é muito arisca, Teu coração é uma igreja:


Pescador, que estás ao sol: Numa eça dorme, ali,
Não cai, tolinho, a essa isca... Manoel, bendito seja,
Só pondo uma flor no anzol! Que morreu d’amor por ti.

5 11

A lua é a hostia branquinha, Manoel no Pio repousa:


Onde está Nosso Senhor: Todos os dias, lá vou
É d'uma certa farinha Ver se quer alguma coisa,
Que não apanha bolor! Perguntar como passou.

12
6
Agora, são tudo amores
Vou a encher a bilha e trago-a A roda de mim, no Cais,
Vazia como a levei! E, mal se apanham doutores,
Mondego, qu'é da tua agoa? Partem e não voltam mais...
Qu'é dos prantos que eu chorei?
13

Aos olhos da minha fronte


Vinde os cântaros encher:
Não há, assim, segunda fonte
Com duas bicas a correr!

14

Nossa Senhora faz meia


Com linha feita de luz:
O novelo é a lua-cheia,
As meias são pra Jesus.

15

Meu violão é um cortiço,


Tem por abelhas os sons
Que fabricam, valha-me isso,
Fadinhos de mel, tão bons...

16

Ó fogueiras, ó cantigas,
Saudades! recordações!
Bailai, bailai, raparigas!
Batei, batei, corações!

Coimbra, 1890
(NOBRE, Antônio. Só. Paris: Leon Vanier,
1892, p. 69-73)

Você também pode gostar