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CRESCER
CAVALOS
fluxo
A FUNDAÇÃO DA COLÔNIA
OS FIOS
DANÇA
pegue a minha mão e tome a minha juventude
SENHOR SOTURNO
NÃO TEM NINGUÉM OLHANDO
CELA
JOGO DE AMARELINHA
CIRANDA
ARMÁRIO
fluxo pt. dois
4.500 SUBSTÂNCIAS OU MAIS PT. DOIS
24/7
LIMBO
A CAMA ABRAÇA OS MEUS NERVOS RETESADOS TODA NOITE
PERDI AS CONTAS DE QUANTAS VEZES OLHEI NO ESPELHO E DISSE
NOITE DE ANO NOVO
você, um dia ou sob neblina reduza a velocidade
GUERRA
FRONTEIRA
mala-de-mão
nosso erro
COCEIRA
PRETEXTO
MANHÃ DE DOMINGO
SENHOR ESPANTALHO
camus
ÔNIBUS
JARDIM SECRETO
VERDE
MALDITO
VAI E VEM
estrada
moldura
NOSSA HISTÓRIA CABE EM UMA RUA DE DISTRIBUIDORAS DE BEBIDAS
COM ALVARÁ VENCIDO
VIDA ou POEMA DE TRANSIÇÃO
SYLVIA PLATH
Dediquei-o primeiro a Patti Smith.
O terminei por ela, PJ Harvey e Sylvia Plath.
E eu não tenho nada para esconder aqui exceto desejo
e eu vou embora, eu vou cair fora daqui
eu vou cair fora daqui, eu vou pegar esse trem
(...)
e eu vou viajar leve.
Oh, olhe para mim agora.
Os olhos estremecem,
canseira da caminhada,
a prostração flutua no ar rarefeito.
Efemeridade do espelho,
seco ou afluência,
exterior que sangra, é arame farpado,
interior que queima ou peito desafogado.
Hoje eu acordei.
pegue a minha mão e tome a minha juventude
Macro, micro,
eu não ignoro nenhum lado,
no entanto, as algemas deles eu vejo à distância.
três...
CIRANDA
Pai,
ainda lembro das tuas palavras
e das zombarias transmutadas
em mortalhas.
Nós regredimos,
um brinde aos envolvidos,
saúde!,
um gole de morte
Tenho as correntes,
as armadilhas montadas para forasteiros sem botas,
essa estrutura nas estradas
e nas placas,
no mal-estar que é hereditário,
e eu vivi tudo isso.
Morte e violência
e pecado e armário.
teu rosto é
como as praias
em que eu estive
ainda criança
mal lembro
um ano de idade
você confabula a
maresia
no meu ouvido
todas as noites em que
não consigo dormir
as areias brancas imaginárias
e as ondas
espumantes
como a baba
de um país
distante
me dizem como
a concha vazia de
um caramujo
tudo o que preciso
saber.
4.500 SUBSTÂNCIAS OU MAIS PT. DOIS
ai, ai,
o limbo me dá a primavera e a leva embora com as folhas mortas do inverno.
A CAMA ABRAÇA OS MEUS NERVOS RETESADOS TODA NOITE
um dia é preciso sustentar a casa, a fome, o peso do mundo, não você. um dia você
esquece de você. no espaço de uma vida você sobrevive, não vive. algumas vezes você
comemora quando sobra algum dinheiro na conta. o dinheiro vai embora rápido. um dia
acaba o gás. em outro você precisa comprar remédios. depois você precisa comprar mais
remédios porque os remédios de antes te adoeceram ainda mais. algumas vezes você bebe. e
um dia beber se torna uma das tuas poucas alegrias. um dia se torna todos. um dia você
percebe que os esforços não valem nada, que as engrenagens do capital giram e giram e giram
e você é só mais uma roda dentada. constantemente você percebe que não pode mudar nada
sozinho. falta energia. as pessoas estão tão cansadas e doentes quanto você. um dia você
coloca seus amigos, o amor, a sanidade alguns degraus abaixo. você precisa trabalhar até o
limite. na fronteira de uma vida você se desdobra para que todos tenham uma parte sua. um
dia alguém sai perdendo. um dia este alguém é você. um dia você percebe, depois de tantos
remédios, tanto aperto no peito, tanto cansaço, que a existência não tem sentido. tantos os
dias aquele em que você rebobina a fita, a juventude e a inocência perdidas, o vazio e o ódio.
um dia você se questiona se existe saída. um dia você deixa de questionar. um dia você deixa
de importar. um dia a esperança começa a rarear, antes de tudo, antes de ti. um dia morrer se
torna só um fim inevitável.
GUERRA
folhas de relva
a lápide
as estradas
espuma dos dias
destruição
moletons azuis
dentes-de-leão
você deixou coisa
demais
não deu tempo
de embalar
tudo.
nosso erro
estômago ferido,
estou em uma fase ruim mas tenho vivido assim desde os
sete. não espero que entendam. as coisas costumam
se ajeitar sozinhas na maioria das vezes.
estômago oco. me acostumei a olhar para o futuro
e caminhar nas botas de um homem louco,
a deixar o salão vazio para dançar com siameses mortos.
os sonhos de bruxa velha e riponga parecem tão
distantes agora,
restam os desvios quando a vida foi gasta fugindo dos garotos
para as cabines dos banheiros sujos da escola. acontece.
a comida que cai no estômago não sacia. isso mata,
a vida era mais fácil, antes. existe
tanta cor nas memórias. não são sépia,
mentiram. eu acreditei, as pessoas costumavam acreditar.
a fome custa a passar. estou cada dia mais próximo de me encontrar
e cada dia mais mais perdido. lá vem, lá vem, lá vem
de novo. três curtas batidas na porta.
é o futuro que vem chegando.
moldura
talvez.
SYLVIA PLATH