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deisiane barbosa

2a edição ~ andarilha ~ 2021


àquele

que penhorou minhas janelas


para que eu visse a poesia
do tempo de fora
da casa
é aqui
por enquanto
ainda não tem
cortina
tapete
luz indireta
amenizando a noite
quadros na parede

ana cristina césar


27 de junho,

destampei o sono em inverno ensolarado. as

paredes da casa amanhecem antecipadas ~ o quarto

se faz fora, feito uma tenda armada em meio ao

terreiro. a luz transpassa frestas do telhado,


diluindo onírico na velocidade que eu não sei

imitar.

essa noite, Tereza, sonhei meu avô no quintal,

abaixo das bananeiras, na cadeira de cochilar

as tardes. fazia nascer da ponta de um palito

de dente uma enorme bolha de sabão ~ tão enorme

cintilante furta-cor. vovô era um mágico capaz

de inflar uma bolha e equilibrá-la no olho de

um palito, igual balão que enfeita festa de

criança.
encantada com a proeza de vovô sorridente

sustentando a bolha numa das mãos, tive impulso

de correr ao quarto, na outra ponta da casa,

e pegar a câmera fotográfica. tentava correr,

mas não conseguia ~ exausta que estava, sequer


movia as pernas do lugar.

até que entendi.

abri mão da captura. gastei o restante do tempo

apenas sonhando aquela felicidade tão rareada

neste preâmbulo de inverno.


03 de julho,

tenho percorrido milhas em corda-bamba entremeada de nó

cego. tenho oscilado, Tereza.

acordo cedo no capricho de alargar o dia vago ~ nunca

resisto ultrapassar o horário, nunca me curvo sem culpas

ao sono desenfreado. levanto, caminho à religiosidade

dos afazeres domésticos. cuidar nas plantas, lavar as

roupas, coser os panos. mas quase não há... nada aparenta

ter saído do seu devido lugar.

em plenas dez da manhã vou à cozinha preparar um chá.

ponho-me debaixo de uma chuva fina, colho o pé da melissa,

furto dois feixes de capim-santo. em poucos minutos a

casa respira a quentura que tanto anseio.

enfrento a dificuldade de me arrumar nesses dias vagarosos.

a pressão das pisadas no chão varrido indicia minha

culpa pela fuga prematura para o quarto. tudo isso me

desapruma e me faz correr aos roteiros prévios ~ custo

muito a flertar com improvisos.

há bastante tempo sorvo os chás, instintiva e


compulsivamente ~ me aquecem, massageiam as tensões. ou,

simplesmente para preencher algo que porventura esteja

oco.

pois tenho vivido de preencher lacunas, Tereza. se falta

um pacote do leite, vou ao mercado e trago dois. se

abaixa o volume do filtro de água, reponho prontamente.

se esvazia a fruteira, trago da feira alguma dúzia de

maçãs ou laranja-lima. os varais estão sempre cheios, as

estantes, o rádio está sempre ligado, deixo sempre uma

ou outra luz acesa. não sei estar desprevenida diante de

algum vazio.

tenho vivido de preencher lacunas, Tereza. sem tanto

êxito, porém.

zelo a casa, os demais habitantes. perco-me, petisco

o chá, invento frases de sachê, quebranto os galhos

depilados da erva cidreira.

mas já não solicito que ninguém mais compreenda meus

arroubos. nem tudo eu peço ~ nem a mim mesma, inclusive,

pedirei.

a propósito, descanse, Tereza ~ não corra tanto

se já sabe que chegará

atrasada.
27 de maio,

nesses dias de frouxidão dos nós, não sei bem

o que faço, Tereza... se corro solta pela casa

vaga ou se paro quieta para ouvir meus hiatos.

sempre desacostumo da liberdade quando percebo

que a detenho. a liberdade só me é sã na esfera

das querências. a liberdade, quiçá, nunca fora

para as minhas mãos de pedreiro. e agora, cá,

entremeada por meus istos ou aquilos, sigo

vertendo dias e noites, como uma encanação

rompida no meio da calçada, bem aos olhos dos

vários passantes.

no que consistem os dias de sua vida? minha

necessidade é te escrever sem intervalos ou

finais, mas não sei tocar o ponto nevrálgico

da minha liberdade. corrompida pelas ânsias,

disperso em inúmeras falsas urgências. a noite

é grandiosa demais para que eu estacione em


perguntas alinhavadas.

fala-me talvez um pouco de amores, Tereza...

solidão. serenidades... o que te inquieta em

noites vazias, tais como esta de onde me lanço?

desculpe-me o risco, mas é que em noites assim ~

nunca domesticadas ~ o que me instiga é querer

saber como se vive sendo humano? não que haja um

modo único. a diversidade é o que me comove e me

faz ceder à agonia no sono, somente para pausar

pensamentos cortantes.

quantas vezes tentei me listar... como se fosse

possível enumerar o que sou a cada segundo de

mim.

não sei ser justa com minhas indagações. ou os

antigos sonhos de uma menina adulta que já teve

dez anos. o que eu não sei invade o mundo janelas

e portas afora de dentro desta casa esfarelada.

caminho arrastando aos tornozelos um intricado

de dúvidas ~ o vício de nunca me livrar delas.

pois ramificam-se, é tudo o que tenho de alimento

para a sede ~ compreende?


19 de junho,

em toda manhã de quinta-feira, preparo a porção de

tempero que deverá durar uma semana de cozimentos.

descasco uma dúzia de dentes de alho, pimentões

sempre verdes, coentro, tomates na flor da idade.


desfolho algumas cebolas roxas e, a essa altura,

não contenho meus olhos sensíveis. em seguida,

vou moendo o viço dos vegetais. macero junto os

pensamentos, repiso as lembranças. em seguida

~ e talvez no restante de todo o dia ~ vão

ressurgindo, aqui e ali, em pitadas de pimenta do

reino, as minhas maiores inconformidades.


07 de julho,

a noite é minha sina ~ esponja dos alheamentos.

agora mesmo: há dentro do quarto uma rodovia gemendo

a partida de seus motores. há praias, paradeiros,

notícias de corpos em festa, um trem afiando a

encruzilhada. daqui escuto tudo. daqui eu sonho.

mas não há palavra avolumando a saliva da boca. não

tenho sabido dizer o que me acontece desde os últimos

dias, Tereza. a noite é uma sina e esse quarto é leito

de sonhar espuma das nuvens.

por vezes, angustiada, sinto que não é possível

fazer nada além de desligar o fogo para que o leite

não se derrame / nada além de jamais arriscá-lo na

borda vacilante de um copo / nada além de empurrá-lo

até a última gota para dentro do estômago, por pura

precaução.
vez e outra me exaspero. dói o lombo deitado, então

mudo de posição na cama tão estreita. um haver me

lateja / um hiato que nunca soube definir muito bem.

lateja alguma espécie de banzo.

talvez porque, ultimamente, tenho temido o fim

repentino de tudo. desde que regressei à casa,

recusando sobreaviso apartar outra vez para longe da

cumeeira bamba. temo o encerrar paulatino de pequenas

pálpebras ~ essas coisas que partem à prestação: ossos

corroídos, vagarosos cabelos esbranquiçados, lento

escorrer da pele...

ouço rumores da movimentação arrastada no quarto ao

lado ~ são eles, que habitam sob as mesmas telhas

tingidas por alguma mão anônima. eles, a me fazerem

medo da velhice antiga ~ pois, decerto já fui velha

por... cento e oitenta e sete vezes e talvez nunca

tenha me habituado.

o tempo finge que caminha num pasto de capim rasteiro.

mas o tempo circula, dá voltas em torno da casa erguida

em meio ao terreiro, embala um redemoinho ininterrupto

~ a tontura do tempo / a tortura \ a tontura do tempo

/ a tortura ~ vai macerando uma cantiga assim ~ a


tontura do tempo / a tortura \ a tontura do tempo...
minha impressão constante é que amanhã tudo se acaba.

tenho chorado como se este fosse sempre o último

dia. observo as voltas do tempo e me pergunto para

quê costuro um fio que em breve se desfiará. às vezes,

parece que relembro a cada instante uma vida que não

vivi, mas que foi minha, em alguma parte, depois se

perdeu nos séculos das janelas de casas transpassadas.

dobro os dias, torno a viver um grão de areia a cada

segundo, para ver se me esgotam as possibilidades.

à noite, uma luz amarela varre os ombros que sustentam

o hiato entre eu e o externo da casa. ponho os olhos

estacados no telhado ~ a variância dos seus tons

terrosos, monotipias, caleidoscópios. parece até que

cairia a qualquer instante sobre o sono dos outros,

sobre os meus pensamentos acesos.

e eu? me poria firme em suicídio premeditado?

pois que ruíssem, todas as telhas, varrendo de

uma vez cada vestígio desse palimpsesto. adeus aos

livros nunca lidos, aos não escritos, aos tecidos não

costurados, lençóis puídos, fotografias desbotadas.

adeus aos ossos corroídos, ao cabelo falhado, aos

dentes caídos no telhado da casa. adeus. jamais nesta


vida precisaria repisar a velhice. adeus.
seria isto? o telhado caído... e pronto. uma grande

poeira erguida aos ares, invisível breu adentro. os

gemidos da rodovia não cessariam, nada se calaria

em reverência à morte da minha casa desabada no

esquecimento. e ninguém saberia o que se deu dentre as

paredes, os cadernos soterrados, nada. somente você,

Tereza, essas cartas...

aliás... não sei se quero estacar os olhos no telhado

até que ele se despregue. o que faço enquanto isso

também não sei. como fingir que não se espera por algo?

como distrair-se da expectativa de que tudo acabe por

completo, sem saber o que irá restar e se porventura

restará?

talvez quando tudo findar não sobre qualquer oco. adeus

a qualquer memória tátil. adeus ao medo de envelhecer

o corpo sem que a mente acompanhe o percurso. adeus.

por ora, seguem essas notícias, Tereza. um temor

disfarçado nos olhos ~ medo de quando a casa ruir de

vez ou de quando for irremediável o reparo das telhas.


21 de julho,

quando a minha casa enfim ruir, partirei para bem longe,

Tereza. será somente o tempo de ver a poeira assentando.

não ficarei para revirar destroços. procurarei lugar onde

erguer outras paredes, outras janelas.

levarei as lembranças do chão de tijolos, riscado pelos


chinelos de uma velha que já não tem o vigor de erguer

os próprios passos.

depois haverá somente eu, descalça em algum piso frio,

vagando fios de um passado distante. abrigada por

felicidades que virão.


18 de agosto,

anoiteci num deserto de casas distantes. estive à

deriva, à procura. fechava os olhos para ver as casas

~ só assim para enxergá-las com maior precisão. havia

os quintais de uma vida alheia, os lares de uma dúzia

de gente que não era eu. o que era a vida naquele

deserto onde armei uma tenda a fim de passar metade da

minha existência?

à noite, sonhava as casas e habitava ligeiramente

os quartos que não me pertenciam. no dia seguinte,

caminhava o mesmo círculo, buscando um vértice rumo

a outro lugar que não mais aquele. mas, permanecia.

certo dia o deserto seria deixado para trás.

a questão é que... eu não sei... quantos desertos

existem na vida, Tereza? há cautela que nos previna

da circunferência de algum deles?

só agora me ocorre: os rios são circulares? os rios

são arestas em longas distâncias / linhas sinuosas

independentes que orientam uma longa viagem. antes


de renascerem ~ se é que de fato tornam brotar dum

olho aguado ~ os rios percorrem um mundo inteiro,

sedentos.

em dias naquele deserto, procurei aflita a beirada

de algum rio. fabriquei uma canoa dos meus poucos

recursos, tecendo um barco a cada cerrar de olhos ~

é somente quando sonho que posso nascer o melhor de

mim.

o que seria esse deserto em meus dias?

ouvia vozes por trás de dunas, mas após uma vistoria

mais atenta, era apenas eu no centro do círculo.

empunhava redes para filtrar presenças naqueles grãos

de areia. era somente eu. o deserto. a sede.

dos orifícios na parede de uma concha, vez ou outra

enxergava rios caudalosos, onde almejava um banho que

lavasse as tristezas. onde deslizasse minha canoa e

vazasse as marés de dentro.

o que tanto tenho buscado além deserto?

por enquanto, seria eu e os dias circulares. logo

adiante, certamente as narinas iriam embriagar em

qualquer rastro de maresia que trafegasse o meu barco


de fios.
14 de setembro,

hoje a casa amanheceu despojada de suas janelas, Tereza.

os sons e as luzes de fora rebateram estalados em minha


alma desforrada. despertei no centro do vão, encolhida,

num esforço de ignorar toda aquela agudeza. temi abrir

os olhos. logo intuí, só depois fui remontando...

foi na madrugada já bem baixa, aportando entre as paredes

bambas, após o sobressalto do primeiro sono pesado, que


enfim atinei à palidez das janelas idas. imediatamente

engrossei a vista, cerrei de novo os olhos, adormeci

abruptamente na ânsia de desfazer aquele sonho desfigurado.

onde será que foram parar as tramelas do meu recolhimento

diário?

a minha primeira e mais firme hipótese secreta: talvez o

meu avô, naquele seu rojão paciente, houvesse penhorado

os olhos da casa. talvez fosse ele, a fim de que o inverno

partisse mais depressa, saciado que ficaria do resquício

de calor dos nossos vãos.

não o acuso. não o condeno.


às vezes ele revela os seus pensamentos. depois de tardes

inteiras, dias, ou até semanas num silêncio moderado,

ele sempre revela uma fração que denuncia o que andou

refletindo. em suas mais recentes teorias, deduziu

que este inverno viera, assim tão forte, no intuito

de despregá-lo definitivamente da casa, levando-o para

outras naturezas mais tênues.

isso ele disse apenas quando não aguentou mais guardar as

palavras. foi numa noite muito fria, sentado, ele dormia

na esquina da sala com o quarto, onde já não lhe cabia,

notando todo o vento que assaltava a casa na escuridão.

na arrumação vagarosa da sua bagagem, meu avô provocou

o despregar misterioso das janelas da casa. isto eu não

lhe disse, mas ele conhecia a minha perspicácia. talvez

ele ~ que também sabia ser resignado ~ houvesse firmado um

acordo com o inverno. uma espécie de permuta, hipoteca,

uma espécie de escambo, não sei bem... você sabe no que

consistem os interesses do inverno, Tereza?

do meu quarto, ouço um suspiro carregado ~ seriam 23

horas? as telhas, que por anos dormiram quietas, também


iniciam um despertar progressivo e almejam voar pelos

ares turbulentos.
de hora em hora a casa estilhaça um pequeno rangido,

rouqueja um dialeto incompatível aos ouvidos dispersos

~ é que nem todas as coisas sabem morrer em silêncio,

Tereza.

a casa já não é a mesma ~ já não somos. vão restando

memórias que escalam a poeira das paredes de minha

infância. vão se incrustando nos cantos do chão de

tijolos, as lembranças remanejadas.

a casa exige, calada, uma vida que vai se escasseando.

a casa, esse chão áspero, recebe os pés inchados do meu

avô. seus derradeiros passos, reduzidos ao minúsculo

atrito. o corpo descalço, cambaleando pequenos trechos,

vai rabiscando os últimos vestígios de presença. o corpo

anestesiado vai transitando um percurso restrito dentro

da casa que o engole ~ em outros tempos era ele quem a

consumava, em outros tempos foram seus próprios braços

que ergueram as paredes.

mas então já não há remédio, ele a deixa ~ esta casa

que o engole. pouco a pouco, partes de si vão partindo

esquecidas. e lá se vão

janelas, telhas, passos, passados...


09 de novembro,

estou de mudança, Tereza.

há quase um mês tenho dobrado as lembranças em

embrulhos delicados. ajunto o pó que restou das

telhas enquanto espero o caminhão chegar. arrasto

os móveis, repinto as paredes de olhos marejados.

escorre pelas ripas a água da chuva que veio numa

tarde de segunda-feira e foi embora após revirar

minha vida à procura do que levar. ventou dentro

da casa e eu estava só. o tempo caiu da estante e

não se quebrou.

ir. mas não há paraonde. o agora eu já não tenho

desde os últimos segundos. o aqui vai respingando,

caem gotas no passado. sentada na cama, despeço-

me das vigas que suportam o peso dos anos que me


frutificaram. os dias vão repousando, empilhados,

sobre as coisas intactas, intocáveis. movo os

olhos pelo que restou depois do inverno ~ abrasivo,

o inverno não tem piedade.


você já experimentou procurar-se depois de uma

chuva, numa tarde de segunda-feira, Tereza?

tenho habitado uma inércia rastejada: caminho

devagar, me deito devagar, pedalo devagar, avisto

devagar. somente a cabeça gira depressa demais no

avesso dos olhos. devagar se vai caminhando a uma

inconsciente permanência.

às vezes, canso de olhar a vida de olhos fechados.

já pensou como seria habitar uma casa sem teto,

Tereza?

talvez fosse esta curiosidade o que atrasava a

chegada repentina do caminhão. mas a espera não é

uma vida normal. enquanto espero devagar, resisto

à força da gravidade que me enlaça por dentro.

devagar como uma maneira de não ser de todo

estática. devagar como tapar o sol com a melhor

peneira que disponho.

enquanto vou ao fogo ferver a água do café, a vida

contorna o dia, insistente, emanando uma tontura

que me põe imóvel para que eu não despenque de

súbito.
seria esse o meu destino? abandonar a casa gasta,

vibrando sozinha as raspas de seus últimos ecos?

como seria habitar uma casa sem teto? ainda não

me conformo...

preciso buscar um novo abrigo. sorte de quem tem

uma varanda tranquila e um quintal de árvores

incansáveis.

mas, para quê a mudança? paraonde espero devagar?

em qual refúgio cúbico amansarei as angústias?

só esta casa agrega bem as minhas viagens. esta

casa não foi ensinada, lapidou-se com o tempo da

nossa convivência. ninguém jamais erguerá paredes

similares.

procuro um novo endereço. enquanto persiste a

espera vagarosa do caminhão que nunca chega,

procuro uma alvenaria capaz de desaguar minhas

futuras chuvas.
11 de janeiro,

o mundo é imenso feito a soma de vidas que

nele germinam. a vida é vasta, mesmo que

breve, mesmo sem tempo premeditado ~ concorda,

Tereza?

quem implanta um ritmo, somos nós ou a


bicicleta ou a estrada ou a ventania? quem

implanta o ritmo, o tempo, a vida ou a gente?

o tempo não morre, tampouco renasce.

estar viva é enfiar-se numa espécie de noite

ininterrupta ~ séculos, milênios, medidas

inúteis.

dormi e acordei, tudo estava intacto. dentro

de mim é que não. havia caos, beleza e um

vento indomável.
durmo acordo caminho ~ paraonde é que sigo,

se aparento caminhar uma roda?

onze dias desde que o ano recomeçou, não tive

a paz de estar quieta. noites atrás mergulhei

um sonho:

miúda, caía em mar revolto ~ ora revolto, ora

tranquilo. sereia, baleia, cavalo-marinho.

num instante finalmente tornei-me um jovem

polvo, cujos tentáculos, sortidos, debatiam-

se em querer tatear simultaneidades. todas as

coisas lhe escorriam, desvencilhando da sede

insistente de um ser polvo impossível.

depois, uma ostra. resguardei-me no visco,

calada. acordei. caminhei a casa, à procura

de passar a limpo os rascunhos do ano passado.

tatuei debaixo do braço o devaneio duma ostra

atônita, cuidei de olhar para dentro do que

ela dizia. colei ouvidos à sua beira. a

ostra dentro da concha, a concha em mistério

submersa. a casa e eu.

há dias acontece comigo, Tereza. pairo


alvoroçada, moída, resfolegando ansiedade

mal passada, atropelando os passos em meio


à quentura da rua, chegando atrasada aos

lugares, olhando os postes, os cachorros da

esquina, completamente dispersa. no final das

contas, minha vida está à parte de tudo o que

me rodeia, mas o meu desejo de a qualquer

custo viver, ainda que incógnita, assimétrica,

mutante, metamórfica... persiste.

há dias em que não consigo sequer escrever uma

carta. mas a real e mais urgente necessidade

mesmo é a de pausar. atirar-me num sono

incolor, sem sonho, profundo, passivo.

depois acordar. bem vagarosamente, dobrar-me

em uma, duas ou três e, totalmente arrumada,

prosseguir.

mas então eu dormi, depois acordei,


21 de fevereiro,

não parece engraçado, Tereza, o modo como giramos

na palma dos dias, contornando incansavelmente

o umbigo do tempo? ~ o ego do tempo roto, suas

ditaduras particulares.

a gente já nem sabe mais a quem obedece. a gente

num redemoinho entontece e desmaia. e ao acordar

percebe que não morreu e continua a girar in can

sa vel men te.

a gente tenta escapar, mas não há remédio que haja

ao tempo, tampouco aos nós com os quais alinhava

mãos, cabeça, pés. então, eis a maior das nossas

afinidades

servimos cegamente a um carrossel.


08 de abril,

uma flauta doce de hora em hora atravessa a noite.

interruptores delatam a inconstância do sono, os

sonhos pendidos em cada cômodo. passada a tranca

na porta da frente, tudo se abriga, quase tudo se

acomoda. atônita, contemplo o canto anônimo duma

flauta.

i, escolho a dedo um livro na estante amarela

ii, inicio as primeiras páginas encharcadas de

esquecimento de um livro azul talvez meio verde

iii, percorro letras vermelhas do batom que não

tenho mais na boca

iv, por fim, amanhã será quarta-feira ~ as horas

caminham decididas.

ainda assim, nada me distrai... o que há de desabrochar

dessa melodia doce insistente? ouço um compassado

de flauta fantasmagórica e sequer tenho arrepios. o


rádio ligado, os relógios, a caneta riscando o papel

alumiado de abajur, a flauta absurda de tão doce e

secreta ~ há muito de doçura no que não conheço ao

certo ~

respeito o mistério das coisas perdidas não ao acaso

por dentro da noite. eu mesma sou uma delas. não me

identifico a nada em horas altas. caminho desatenta

dos quilômetros, nessa casa enorme e quase toda

destampada ao sereno. dias virão e certamente alguns

passos serão suficientes para o resumo das minhas

peregrinações noturnas.

tenho procurado um abrigo, Tereza. ainda sem

coordenada precisa do meu paradeiro, tenho vislumbrado

varandas alheias, repintado imaginariamente algumas

paredes, apropriado algumas fachadas passageiras ~

efemeridades das minhas sutis moradas.

forasteira, ando pelas ruas desconhecidas com a

sensação de já ter caminhado. vislumbro casas, intuo

as intimidades e destinatários, acolhidos cada qual

em seus mistérios. visito ruas dispersas, dedico em

caixas de correio uma carta que te descubra em algum

lugar, Tereza, que percorra as léguas necessárias e


chegue para alguma mão à espera de encontro.
mas até escrever tem me abandonado... especialmente

nesses dias, com a casa desmanchando sem que eu

consiga aparar rebocos, só pelo desejo de remediar

o tempo.

cá, em meus redemoinhos sigilosos, pouco tenho saído

à procura de endereços. é possível que nas casas,

onde futuramente pousarei uma eventual demora,

reencontre uma ou outra vírgula esquecida. só assim

reconstituirei o que apagou-se antes mesmo de nascer

palavra.

andarilha de cartografias insólitas, caminho

solitária. aqui mesmo, nessa noite em concerto de

flauta, percorro quilometragem repisada nos cômodos

cada vez mais cheios de eco. percorro, quando me

levanto à procura, em pretexto das necessidades mais

urgentes, e não as encontro. ou quando, por exemplo,

perco-me de um livro que já segue encaixotado, na

bagagem à espera do caminhão talvez chegando. a

propósito, o que de mim fui deixando criptografado

nas páginas que me leram? já não me lembro, Tereza...


23 de julho,

que milagre fez o tempo na cabeça de vovô

nessa noite ainda inverno. mesmo os ossos


frágeis, a carne esvaída dos braços sem

maiores movimentos, a flacidez de sua pele

bronzeada na lavoura. ele, que já não tem

rigidez de aprumar os passos, ainda é

capaz de sonhar ladrões abrindo a porteira

e roubando um caminhão de mandiocas

estacionado à beira da casa de farinha.

que milagre fez o tempo!


o que será que a cabeça com ele conversa,

Tereza? ~ ela, que assiste o restante

do corpo afastando-se. o corpo looonge,

indo embora aos poooucos, aos poucos, aos

poucos. ela é tudo o que afinal lhe resta


repleta de sonhos ainda jovens.

seria isso a lucidez, Tereza? ~ quando

tudo o que resiste é uma cabeça astuta para

fabricar pequenos enredos mirabolantes?

quando tudo o que cabe é o dia inteiro

matutar, sentado aqui, acolá, à espera do

tempo cumprir suas obrigações ~ seria isso

a lucidez?
07 de agosto,

chegando ao quarto vi que os papéis da parede

pendiam revirados. seria mesmo o vento de agosto

invadindo as frestas, cada vez mais numerosas,

fazendo em segredo esse arraso?

vento gelando a pele quando sento à espreita da

janela para escrever qual rumo na vida do dia

seguinte. para viajar, desde o parapeito, desde os

vãos desse quarto leitoso.

não posso deixar de te escrever, Tereza. nem

deixar de ser lida pelos teus olhos pacientes.

e imaginá-la deslizando a frieza dessa casa de

recente agosto. ou cuidando no teu chá de camomila,

na cozinha calada de qualquer noite dessas, cujo

vento se afirma no alvoroço das árvores.


desconfio que para muita gente agostos são

completamente universais ~ silencioso curandeiro.

esse agosto de minha vida atenta amolecida,

desperta dormente, casulo borboleta ~ esse agosto

tem me varrido as paredes do quarto ~ assanha as

folhas pelos ares.

e sabê-lo tão recente, duradouro, quase sem saída

~ imaginá-lo assim, resoluto e tanto fôlego ~ me

faz lembrar que, imóvel e desperto, o tempo custa


passar / imóvel e dormindo o tempo já é outro /

correndo e desperto é enfim pelo qual devo agora me

levantar e mergulhar de cabeça entregue, Tereza.

não adianta que me sublinhe toda minha pressa e

ponha ao final um ponto de interrogação ~ eu não

consigo mais caminhar lentamente nas calçadas,

quando tanta gente à minha frente vai devagar.


desço o passeio e sigo pela beirada da rua, correndo

riscos. correndo o risco de mesmo assim não chegar

no horário certo de um paradeiro inventado.

mas para onde vou com tanta pressa, se quando

retornar ao quarto terei de pregar novamente os

papéis na parede?

agosto é um homem que espia pela janela. não

me volto ao seu olhar fixo. porém, ele olha ~ e

permanecerá até o trigésimo primeiro dia. sendo

assim, soprará aos meus ouvidos a gelidez de

algumas palavras intricadas. e eu, com minhas mãos

sempre quentes e desesperadas, terei de amaciá-las

com a calmaria que me é rara. aquecer as palavras

de agosto e repousá-las neste papel azul onde te

escrevo, Tereza.
07 de janeiro,

tenho sufocado, há coisa demais para caber no

pensamento. tenho de me listar, me roteirizar o

tempo inteiro e decidir o que fazer de mim nos

próximos segundos inadiáveis.

tenho de lidar com o tempo, com ele correndo feito

um cavalo disparado no pasto, teimoso demais ou

assustado demais para uma montaria passiva.

compreende, Tereza?: eu nunca farei as pazes com

o tempo.

e nunca terei a plena segurança de como viver.

parece que desisti e fui ficando ~ metamórfica,

vulcânica, marítima, lunar. fui estando à maneira

que o vento modelasse ~ porque foi isso o que

enxergaram na palma da mão estirada: que a minha

pertença era puro vento ~ o vento feito tempo.


não percebia que, por trás da cisma, o amor me

empurrava ao que nunca seria tão somente meu ~

nem de ninguém.

apaziguei.

por ora, mando-lhe tais notícias:

no anúncio de mais uma translação, não me sinto

renovada, tenho deitado sobre a rasura dos dias

~ os mesmos suspiros, a mesma ansiedade, a mesma

imprecisão.

num mesmo instante, corro para vislumbrar os dois

lados de uma moeda. não consigo me convencer de

que não posso ser a própria ventania ~ nem mesmo

ela é igual aqui e aí de onde você me lê, Tereza ~


02 de agosto,

numa manhã de inverno ensolarado, atravessei o

percurso de um besouro distraído. pelo caminho

amanhecido das oito horas, fui pedalando os

pensamentos na visão do pasto.

meu avô cochilava na sala, em meio à frieza da


casa. levantou-se, saiu e cochilou a cadeira no

sol do terreiro. uma mescla de sol e vento no

umbigo daquele dia ainda sonolento. era manhã

de sexta-feira e as coisas, me parece, tardavam

despertar ao todo. o verdume do mato não capinado

que domesticava a cerca, a galinha investigando

a terra à procura de alguma peróla, um assovio

de pássaro escondido na amendoeira. tudo isso se

espreguiçava numa lentidão mascarada. varri os

quatro cantos do dia e não via palavras para captar

aquilo tudo, Tereza.


o meu avô, recolhido do sol, perdido nos dias da

semana, desejou um dia livre / de dores. lembrei

que de novo era agosto. decerto havia remédio

mais forte no mundo. havia de ter um remédio que

fizesse esquecer a maneira como a dor se diverte ~

o esquecimento é cura, Tereza?

hoje eu desviei a rota de um besouro que se chocou

em minha têmpora poética e caiu no chão, desacordado

~ o tombo no pensamento alheio. quais mudanças eu

teria arrastado à vida do besouro quando me meti

em seu caminho?

Tereza: a vida está grande demais para que eu

consiga tocar toda sua extensão. mas não sei

esvaziar... e nem suporto o vazio. não acerto

modelar tudo o que sei que as minhas mãos são

capazes.

Tereza... a vida me pede demais os meus cuidados,

e eu não sei se consigo olhar para tantos lugares.

os meses passam tal como o besouro apressado. não

me peça para eu te descrever, agora, com minúcias,

o que tenho feito dos meus últimos dias... a vida

está enorme. mas vazio?, nem pensar!


um avião passa olhando. tudo ao redor passa

olhando. meus olhos nasceram para os fios de postes

e a ferrugem nos arames do pasto. capto retratos

quando corro em urgência na bicicleta em que vovô

pedalava a sua paciência de vida. queria contá-lo

dos meus olhares, narrar a vida que vejo passar.

ainda há tempo?

nove horas, entrego-lhe um remédio para ludibriar

momentaneamente a dor. transpasso para a caneca

rasa de água o meu impulso de querer a vida até

seu último gole.

de novo é agosto. ainda há tempo?


15 de outubro,

na casa de remendo íamos vivendo. não havia

natureza que nos fizesse deixá-la ao pó

dos dias, sujeita à fome do esvaziado, ao

diálogo surdo de suas paredes ainda tão

robustas.

mas,

em manhã de terça-feira,

parte da casa ruiu.

e você deve saber, há vários modos de

assentir dissolução no tempo, Tereza.

vovô adormeceu.
despachando então as derradeiras janelas.

parte dos cômodos seguiu cortejo estrada

afora. metade das telhas esvoaçaram,

embrenharam em repentinas nuvens. as vigas

regressaram à mata remanescente aos fundos

da roça.

vovô enfim pousou entregue aos seus sonhos

sortidos. a cabeça então pairava em outras

atmosferas, descansada de fadigas que o

corpo já não precisava mais lembrar-se

contra vontade.

como seria habitar uma casa sem teto,

Tereza?
23 de janeiro,

Tereza, preciso viajar. faz tempo, aprontei uma mala

e a deixei ao canto do quarto. álbuns, cadernos,

cartas, roupas guardadas no esquecimento, peles

deslembradas do corpo.

é que não sei partir em desordem. simplesmente


partir. largando tudo revirado ~ seguir com tudo

revirado no avesso.

há tempos estou a um passo de ir, à espera do caminhão

sempre vindo. esgotei da espera. já desfolhei não

sei quantos calendários e ainda agora não soube ao

certo um novo paradeiro.

no entanto, preciso desertar / derivar travessia sem

leme / somente velas e vontades.

há tempos busco a calmaria de um rossio feito esse,

enfestado pela coreografia das árvores.


sabe quando aquela canção te surpreende num fragmento

dourado de tarde, trazendo o sopro duma infância

vivida há séculos, talvez numa ilha? uma velha, uma

moça em mim transborda ~ por fora me contenho como

posso / titubeio um marejar, uma saudade.

é que preciso viajar, Tereza.

nem que seja depois caminhar meia volta. regressar

ao porto de agora, com as tardes saturando o laranja

do adobe desnudo. com os olhos mais límpidos para

enxergar, das paredes carcomidas, uma nova casa.

nem que saiba voltar, renascer este corpo de abrigar

grandes ventres, repovoar afetos de uma casa ainda

mais remota que esta, lembrar a mata reencarnada no

telhado. reinventar a placenta de uma amendoeira

ainda fértil, assentando no quintal a infância de

uma grande mãe.

mas agora, preciso viajar, Tereza.


13 de maio,

tudo passará, Tereza ~

não sei se faço disso a minha paz

ou o meu desespero maior...


19 de janeiro,

por Manoela Barbosa

querida,

a oportunidade de me debruçar sobre as cartas

endereçadas à Tereza me fez percorrer muitos

caminhos. todos eles me conduziram a um

espaço-tempo permeado de afetos, costurado por

memórias que me deixaram com os olhos marejados,


acenderam-me as saudades abafadas pelo peso do

cotidiano que, muitas vezes, nos distancia de

tudo o que é mais profundo e especial: nossas

memórias.

à medida que fui mergulhando nas dezenove

cartas-confissões, acessei muitas das minhas

memórias pessoais e subterrâneas e, ao longo

da leitura, também remontei um teto para chamar

de meu. esse teto imagético que me ocorreu a

partir dos acionamentos das tuas narrativas,

veio carregado de sabores, sensações e


redescobertas. assim, pude me reencontrar com

minha mãe à mesa, ensinando-me a bordar nas

folhas em branco do caderno: notícias, palavras

escolhidas pelo coração, saudades e os desejos

de reencontros que viajavam por dias até

chegarem aos familiares distantes. recordei-me

ainda da narrativa hegemônica que descreve o

gesto de escrever cartas, como aquele instante

que escapole nos fragmentos do tempo-espera em

que o encontro se torna possível, quando os

pensamentos e os desejos escritos abraçam a

outra pessoa.

ser tocada por tuas cartas (escritas para a

generosa e atenta ouvinte, Tereza), na verdade,

é mais do que um encontro, é a oportunidade

de redesenhar memórias, recriar afetos e,

principalmente, partilhar da cumplicidade

de quem se sente abrigada pela escuta e

solidariedade reelaboradas por meio do universo

ficcional. mediante o onírico e o jogo ficcional

pude andarilhar por um dos lugares considerados

mais íntimos: a casa, esse lugar-abrigo que,

muitas vezes, é palco de conflitos, mas que

aqui se constrói pleno de afeto, histórias,


memórias vivas e ressignificadas carta a carta.

a casa e suas histórias sustentadas por vigas

de persistências, afeição e resistências

compartilhadas, mas também a casa e o seu

desfazimento, reavivados no desejo-sonho-

reelaboração de nós e de uma coletividade

ancestral que nos incita a manter vivo o que

acende nossos sonhos. em tuas palavras, somente

quando sonho é que posso nascer o melhor de mim.

ao ter sido atravessada pelas narrativas,

recordei-me do pacto tácito de cumplicidade

estreitado entre aquela pessoa que escreve e

aquela que lê. assim como me fez revisitar

também Glória Anzaldúa, em seu texto falando em

línguas: uma carta para as mulheres escritoras

do terceiro mundo, no qual afirma que a escrita

é uma ferramenta para penetrar mistérios, que

pode ser uma maneira de nos ajudar a sobreviver.

a escritora também nos diz que, não é no papel

que você cria, mas no seu interior, nas vísceras

e nos tecidos vivos, ao que nomeia de escrita

orgânica.

as cartas a Tereza nos permitem acessar este

lugar orgânico que aviva memórias, sonhos, desejo


de continuidade e celebração da ancestralidade.

ao dizer que, ninguém saberia o que se deu

dentre as paredes, os cadernos soterrados,

nada. somente você, Tereza, essas cartas... me

faz recordar a potencialização da cumplicidade

vivenciada entre mulheres e toda a riqueza que

nossas experiências subjetivas permitem (re)

elaborar por meio da ficção-realidade.

permita-me finalizar esta breve carta com uma

mínima discordância, quando você diz que como

andarilha de cartografias insólitas, caminha

solitária. penso que, como mulheres, em nossas

múltiplas subjetividades e experiências, não

caminhamos sós, somos coletivamente, às vezes,

fragmentadas, noutras inteirezas. caminhamos

todas juntas!

agradeço por podermos caminhar juntas: você,

eu, Tereza e todas as pessoas que adentraram

esta casa-abrigo de memórias-raízes fincadas em

terreno insólito e fértil.

com afeto.
a autora

Deisiane Barbosa é poeta, escritora,


artista-etc, costureira de livros da
andarilha edições. nascida e caminhante
no Recôncavo da Bahia. mestra em artes
visuais (UFPE), faz pesquisas em
literatura, performance, videoarte e
livro-objeto

| bdeisiane@gmail.com
| www.cartasatereza.com.br
©Deisiane Barbosa, 2021.
©andarilha edições, 2021.
todos os direitos reservados.
proibida a reprodução parcial ou integral da obra.

revisão editorial
Manoela Barbosa

projeto gráfico & diagramação


Deisiane Barbosa

capa
George Teles

cartões-postais
Anacoruja
Fernanda Asteracea

encadernação
ateliê Alinhavos ~ Luana Oliveira

Barbosa, Deisiane.
cartas a Tereza: Deisiane Barbosa – 2. ed. –
Conceição da Feira: andarilha edições, 2021, 49 pp.

isbn: 978-65-991857-8-6
este livro foi composto em tipografia King e
Courier Prime. uma publicação da andarilha
edições, produzida na casamendoeira, no
verão de 2021, em parceria com o ateliê
Alinhavos.

Povoado do Cruzeiro, zona rural


44320-000, Conceição da Feira – Ba
www.andarilhaedicoes.com.br
andarilhaedicoes@gmail.com
@andarilhaedicoes
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da
Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia
(Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada
pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo,
Governo Federal.

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