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PIX

BOCA
DE
PIX
12981533262 SACI
bocadesaci
(12) 9 8153 3262
bocadesaci

CARUMCHO A GENTE SÓ
que miséria gostosa. o dedão do pé. chulézão no quarto o paraíso distante a gente tão perto. desperto. no cangaço
fechado. uns salgadinhos de um real grudando nas mãos. da subaqueira do meio-dia. a gente ali. labutando. suando
latinha de refri podre no canto. acende aquele cigarro. dois no meio do cachorro quente e da batata frita e do doce da
tragos e o ambiente fede. espanta os pernilongos com a coca cola. a gente ali. morrendo de vontade falando
fumaça. sono não vem. coloca um desenho aí no celular. besteira com os olhos brilhando de cansaço. radinho de
relaxa. solta um peido molhado na bermudinha de dormir. pilha. pivete lavando carro mijo na esquina gato estropiado
coisa boa. esse frio da porra. escurinho já. gente ter que e a gente. feliz. antena parabólica. igual um aborto. a gente
catar lixo hoje. não faz sarro. qualquer ainda tem pipoca. ali. poesia. no meio dessa poeira de carro como se o calor
fartura. solta um arroto que o refri já fez efeito. desleixo. fosse só nosso. como se o cheiro de fritura azeda fosse o
desbunde. estamos jantados. colméia. descasar é bom. cheiro do nosso sexo cheio de pelo. tudo pronto para ficar
igual cachorro. largado. lazarento pras pulgas. parecendo no meio do dente. ali. perto da rodoviária. estação central.
chiclete de borracha. duro de mastigar. até que fica mole. a ponto de todo mundo. a gente ali. num cantinho com gosto
gente é insistente. e tem nossas decomposições. as de gasolina na boca. ouvindo o mugido dos carros. tá tudo
devassidões de apodrecer o corpo. é isso aí. não é nada certo. a gente só.
certo. não. mascar balinha azeda na boca. a gente também
precisa de infância.
GELÉIA GERAL
prédio. ambulância. farol. soco. loló. tinol. esquece o grito. o
apito. o duende. o dente. o formato. o escravo. a abelha e o
ESTRÉPITO escaravelho e o diabo. romances. quadros abstratos.
lambuzo-me no seu sexo de purê, os olhos crocantes de atores. palco deformado. guerra. grito. discórdia. concórdia.
uva, seios de lombriga, roncando igual o yakisoba daquele modéstia. e o infinito. libélula da imaginação. saudade.
cara porco, que assoa o nariz com os dedos para benzer a ossos e velhos ranhetas. bucetas. ah. liberdade. descendo
comida, dando tapa na cara, como se fossemos repolhos pela garganta num uivo. entrando no chakra da casa do
rompendo pés esburacados, rasgando no maxilar das caralho. centenário. o dilema. a mandioca. o poema. só não
nuvens, relinchando o gozo folgado dos pássaros azuis, tem solução.
neuróticos.

JANELAS
IGUAL? esses olhos. uvas púrpuras na vaselina da palavra. sóis.
tá olhando o quê? ein? nunca viu? ou pra você é tudo solares. é a alma pensando alto. o sabor agridoce das
belezinha rede social e até mal comportamento é igual? nuvens bem sucedidas.
DANÇAR UMA FESTA FINÍSSIMA
dançar. dançar eternamente como se não houvesse corpo. esmigalhar os recalques formosos dessa plasticidade
sumir no ar. me desligar desse mundo. perfeita. do beiço dessa gente balbuciando. babando
champanhe à privada que chamam ouvido. os risos
delicados. ternos bem desenhados. umas olheiras
morféticas. gestos nobres no encalço da piada sem graça.
SUBLIMAÇÕES ESCANDALOSAS cartas na mesa. os negócios navegam de vento em popa.
segundo os antigos sábios contemporâneos o décimo roupas caras para besuntar critérios surdos. desembesto
primeiro mandamento ou: o mandamento do pós-pós-pós- no desgaste das faculdades meditativas da vidência. fosse
modernismo desalojado de etiqueta, diz mais ou menos um raio fritando o cérebro de todos e teríamos rizoto de
assim: entre amores platônicos e sublimações merda gratinado em sangria de vinho barato. essa gente só
escandalosas, a que chamaremos arte, sobreviverá a se masturba. vamos mentalizar um negócio aqui. as
humanidade. crianças do mundo. e por favor. deus está ocupadíssimo no
toalete. vomitando à vinagrete. pensem no amor.

ARMORES UTÓPICOS NEURÓSE


há dentro de mim. um pequeno nó. um intimo germe que o tempo. na rua suja e úmida. corre atrás de mim como um
me mastiga. masca minha barriga como um câncer. um assassino que lê pensamentos. ritmando o coração no
grito de boca tapada. um monstro minúsculo possuidor de medo. sinais e faróis invadindo os poros. um cigarro
uma gigantesca sombra. esse monstro. é o gérmen do caminhando o mais rápido que posso. e as cicatrizes se
amor, é o que há de mais nobre em mim. é o que me faz expõe. no rosto a sina do cavalo domesticado. o riso do
humano. imbecil. a paranoia amiga de todas as horas. pernilongos.
mas todos estão calmos tomando cerveja nas mesas de
sexta-feira. sábado. segunda. eu. sigo impune. quase
sempre precipitado. ansioso pela conclusão de cada
IMITADORES instante imprevisível. o recalque desfigurado. tantas
toda essa gente que transforma o mundo é fantástica. os mulheres desfilando. vidraças onde os cacos de mim
grandes nomes das revoluções espirituais, artísticas, tentam se reagrupar com cola de papel. o corpo é uma
políticas, sociais, etc. o deslize está sempre no fã clube que enorme ratoeira biológica onde a consciência se diverte.
faz cagadas em nome dos seus ídolos. o fã clube quer ser opto pela solidão. esqueço os dentes da aventura. procuro
importante, mas não percebe que sem autenticidade o quarto escuro e o brilho plástico da tela. esta noite sou
deixamos de ser importantes para nós mesmos. covarde?

MOÇA TRISTE NA TARDE PERDÃO


eu vi as pétalas azuis dos seus dedos. vi as borboletas não desgaste teu coração em segredos
estendendo o coração para aqueles que pensavam estar te a festa dos vaga-lumes mortos é gás incandescente.
salvando. vi os mortos se desmanchando feito lã no meio para as orquídeas pilantras que colhemos
das nuvens. vi o vagalume congelado na pupila da morte.
senti o cheiro azul da sua pele e não me desesperei. na desventura dos romances apalpe mistérios o quanto for
continuei sentado no banco daquela praça esperando sua capaz. aquela mocinha pequena e delicada que cavalgava
nudez. esperando sua tristeza completar minha face. em você. como Anaís em Miller. não existirá mais em pouco
dançando para as flores amarelas que faziam amor com a tempo. a contagem regressiva das horas é a única garantia
deusa dos ventos. de que não sairemos vivos. o transtorno de existir é um
deleite. antes de morrer o assalto da ereção fará gotas de
ejaculação esguicharem ao sol. duas, três, quatro
MANOEL cusparadas vibrantes e a natureza me perdoará. a clorofila
quero dar mais atenção às coisas simples. às moscas que das folhas servirá de suco. e tudo será esquecido.
morrem afogadas. às borboletas nuas copulando. aos
desenhos que fazem os cabelos do sol. aos vagalumes
cantando no olhar dos curiosos. ao brilho das cigarras FIGURA DE LINGUAGEM
recém nascidas. essas coisas que conversam comigo. elas Há algum tempo, escrevi um texto descrevendo um ato
contam segredos de páginas bonitas. suspiram ao coração. sexual. Mostrei o texto para alguns amigos, homens e
arrepiam a orelha. mulheres, e a maioria elogiou o trabalho em seu todo.
Quase todos apontaram uma frase onde fazia uma
metáfora, que segundo eles soava desagradável. Eu
DISTÚRBIOS (POEMA DA DÉCADA 00) comparava o sexo a uma lesma. Apesar de todas as críticas,
Estou assistindo a uma banda punk, e a vocalista é torta de elegi aquela como a melhor frase de todo o texto. Agradou
magra, absolutamente maravilhosa e autodestrutiva. Estou pouquíssimos, e foi criticada pela maioria, mas não passou
apaixonado, mas não é o tipo de mulher para mim. Esse despercebida por ninguém.
tipo de gata gosta desses caras com pose de badguy que
cheira um pó e come bosta a colheradas. A bem dizer, não
faço a mínima ideia de quem eu seja. Já fui tantos. Isso SILÊNCIO
absolutamente não interessa. Amo bandas com mulheres a memória é o guarda-roupa dos monumentos animais que
no vocal. A voz feminina me agrada infinitamente mais do guardo entre os pelos do peito. a façanha da besta
que a masculina. Parece um orgasmo infinito, uma pitada civilizada contorna meus cálculos para provar satisfações
de mistério e dor. delicadas de riso social. respire mamífero inglório. respire.

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