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A centopéia anti-arame-farpado

Eu deixei de ser patético ao ponto de me aferroar ao redundante. Ontem tive um


ótimo dia por conta disso. Consegui não me entediar com as desvantagens do não
saber. Resgatei os amigos de teimosia. Nasci de novo sem saber o que houve.
Você se torna um sujeito lúgubre no êxtase fátuo. Algumas saudades incorrigíveis.
O mau com o mal só pode dar em coisa estragada. Desencadeamentos prontos. O
bem contra o mal são outros quinhentos. Depressões no outono, pobres seres que
não valorizaram o maior presente da espécie: o de se renovarem. E nenhuma
chave serve para eles... E a chave que serve?

Vou me levar na esquina. Observar a presteza de chagas cicatrizadas. Beber a


música dos ultimatos e talvez enternecer o que se salvou pela raiz dos cabelos. Meu
amor não tem senhas. Qual Beethoven surdo compondo através da vibração.

Ponha-se no calcanhar do socorro. A cavação será para dentro,


um atracadouro descarnal. Tulipas num colchão de perfumes. Onde
repousa o cisne negro onírico. O pugilato que comeu a janela e arrotou
rachas na civilização. Enquanto a brisa desassossega blecautes e pântanos.

Não sairei para o quintal nem hoje nem nunca mais? Segundos tilintando
em berços de vidro. Onde foi deixada a letra sanguínea. O diapasão ponta numa
placenta. O aceno de sombra líquida no tórax. Quadros a cem
quilômetros por hora varando meus ouvidos. Equilibrando taças. Quando o balé
começa e os poetas balbuciam paraísos para suas amadas. E os homens são
apenas homens com seus gestos de ferrugem, suas maletas cheias de bocejos e
uma carta de despedida para o tédio de prontidão na garganta.

Talvez os desertos neuronais encontrem seus espectros. Espetaculando


moinhos de mil olhos. Sou uma andorinha com uma cruz
hospitalar no peito, voando céus convulsionados.

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