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Sobre Pés e Mãos

Depois da festa universitária com satanismo, drogas e rock’n roll; depois da


internet banda larga e depois da seca das barragens de água chegarem ao Brasil,
a única coisa que falta para o apocalipse é o Calipso abrir as festas da Copa do
mundo (lotar estádios nunca foi tão fácil). Confesso que me preocupo com os
buracos das vias daqui, porém após viradas e mais viradas culturais na cama sem
conseguir dormir me detenho em uma questão de sobrevivência: seria o Messi
robô uma atração de outro mundo ou apenas um deboche com o povo de
Maradona?

O fato é que a copa já está na copa, conforme diz o trocadilho, já trazendo uns
trocadinhos a mais (sem ofensas aos hospitais públicos). Sempre acompanhei o
Brasil nessas épocas embora prefira mais jogos de tabuleiro, num culto
intelectualóide da razão. Estou inclusive com uma pancada de livros para ler e
partidas em Database de Botvinick e Fischer disponíveis para se assistir no
computador. Não querendo ir pela contramão da mente brasileira: sou mais fã do
Rafael Leitão que do Garrincha e olhe que sou corinthiano roxo.
Voltando à pelada: acho uma coisa abominável quando os volantes apelam com
bandeirinhas e árbitros movidos tão somente pelo sangue quente. Não é assim
que nosso futebol fará chouriça do futebol do time da Argentina (outro esporte que
gosto muito, por sinal, é a gastronomia).

Tenho que encher até a boca o garrafão de piruás de novo e comprar guaraná,
reduzir o ritmo para acompanhar o fuzuê das nações espalhado pelos quatro
pontos da pátria e da cruz que carregamos num lugar tão difícil. Onde tem
carnaval fora de época quase todo dia e desigualdade decrescente a galope de
tartaruga.

Sem querer rachar a cachola demais deixarei um pouco o lugar nas mesas de
meus colegas e desafiantes nerds para dar uma segunda chance ao futebol como
desporte de destaque e a arquibancada como repouso para minha busanfan
(parafraseando Marcelo Resende).

Os militares estão voltando do Haiti e muitos imigrantes miseráveis vêm junto aos
gringos abonados. Que tenham lugar não só ante os palanques (sem querer ser
simplista), mas também na construção civil, nos restaurantes, fábricas, escolas e
faculdades, agricultura, finanças. E que os militares sejam menos estóicos e mais
humanos. E que o Brasil seja campeão e o escambal!

Reduzindo o conteúdo da sede, do vício, da politicagem quando o tempo fica


infernal é fácil entender porque viajar de avião é tão difícil e pausar a lebre mais
impressionante e fazer arte mais desgastante e sair e meter-se em alcovas, com
convites densos, deixa mais feliz a cada meia-noite.

E, a critério de registro, xeque-mate.


Carrosséis e Carroças

Hora de esquecer tudo relacionado a paixão e lembrar de tudo relacionado a


amor. Quando você pensa em fazer a maior catástrofe da sua vida ninguém diz
"oi, tudo bem?" pelo menos não aparenta a cordialidade infinita que está disposto
a oferecer, são todos pessoais demais ou realistas ao extremo. A música não dá
liga e os parentes não aparentam afeição proximal. O videogame é um baú de
intransmissibilidades e a constituição se vê em risco. Falavam de uma tal de
lobotomia, mas não estamos na Idade Média apesar dos Illuminatis.

Propulsionados a ver o que queremos e esquecer de todo o resto passamos


nossa primeira infância e final da adolescência. E ainda depois da idade adulta
ainda é difícil tirar de letra (também de calcanhar).

Os dias parecem não oferecer controle, todas as intenções parecem pressões e


balelas de lambisgóias de Goya. A vida é um mar de tinta borrada, refrescos,
dinamismos quadrados e rédeas bem irredutíveis. A vida parece uma bela de uma
droga sem analgésico. Reclamar dá um saborzinho de alecrim-saudade, o
gostinho mais disparatado das eras e das tarjas "era uma vez" de hoje. Não sei
como o mundo se vinga tanto da carne e com carnes, calmas e karmas. Só sei
que ficam apenas os ossos e os cabelos e unhas.

Grande coisa ser um curumim de uma flora e fauna do século quinze. O diabo é
crescer. Que coisa superior a energia de viver maior que as forças nucleares...

E caio em chavões, e caio do cavalo e vou de lambreta de carona num tédio


casual e passo para a Kombi em sonho, dirigindo uma bicicleta nos anos
maravilhosos até acabar com meus pés mesmo com umas meias para o frio. O
mundo é um campo de refugiados de não sei onde indo não sei porquê mas ainda
bem que vamos.

Tribos e Lares

Há vezes em que ficam os três animais domésticos em cima do mesmo sofá.


Tenho gatos e uma cadelinha como estão cansados de saber os que me vêem
pela rede social de Mark Zuckerberg. A televisão desse sofá é a maior de casa e
das únicas em que funciona a tevê a cabo, uma das queridinhas de minha
expectativa de descanso e audiência. Eles são bichinhos muito fofinhos, dá até dó
tirá-los de seu conforto então eu deixo meu pai ficar bravo de propósito já que
demonstra amor por eles de um jeito mais contido, um deles usando de termos
pejorativos (que deixaremos em ata) e outro berrando. Sempre me doei
moderadamente para o trabalho, tendo como desculpa meu dom de cuidar da vida
alheia pelas minhas dissertações e discursos de proseador. Conhecida a
concorrência e o monopólio da casa, irei por um viés mais sem noção a princípio,
ou nóia, como preferirem: O que todo mundo sabe é que balé, dança do ventre e
jazz são meios que, exercidos de forma constante e continuada, podem circular os
problemas bem como o futebol, o basquete e o tênis. Por que os primeiros são
considerados esportes de mulher e os segundos de homem? Hortência e
Baryshnikov que me desculpem, porém estariam esses preconceitos relacionados
à religião, ao machismo e à mescla de ambos a ponto até de fazer extinguir o
próprio interesse do grande público por essas artes? Bem, tanto o russo como a
brasileira abriram caminhos para o tabefe na nata pública: O segundo fazendo
sucesso até (e principalmente) em Nova Iorque após infecções continuadas de
duplo preconceito (tanto xenofobia quanto machismo) nos americanos e a
brasileira ao iniciar-se no esporte dos aros em uma época em que era
predominantemente masculino e deixar na miudeza muito valentão. Espero que os
que botam lenha na fogueira dos paradigmas fiquem mais espertos pois seus
lugares estão com os dias contados. Saudações tecnológicas aos que têm uma
fauna própria.

Visão

Meu cadarço desamarra andando de bicicleta, uso o indicador e estaciono em


frente ao mercado. A dianteira do ônibus passa por um fio (soltando aquela
baforada ensurdecedora e fazendo saltar o carburador) a buzina dá aflição, mando
à merda em pensamento. O trânsito é um cenário do jogo detetive hoje em dia.
Mata-se e morre-se por causa de razões fúteis: bebedeiras, distração e brigas. E
carros parecem nascer na horizontal da sarjeta e nas ultrapassagens que nos
lembram que Deus existe e é brasileiro. Ou em ferro-velhos embolotados nas vias
que complementam que o diabo tem cartõezinhos de visita de sobra. Sei empinar
a bicicleta e achar RLs sem querer nas esquinas, arrisco mais que na motocicleta
que têm teias de aranha na carteira de habilitação, mais para constar e mostrar
para as pequenas. Entendi, então, quando quase atropelei um skatista descendo o
morro que a cadeia alimentar do tráfego e das estradas é um retrato do mundão lá
fora e aqui dentro, sem querer ser pernóstico: Uma tabuleta com jogo de paciência
em quatro dê.

Torre de Controle

Políticos falando sobre alicerces, zeladores e aviadores indo a óbito, unidades


retornáveis retorcidas nas palmas das mãos. Engulhos pairando no céu da boca.
É assim que avança o edifício e a vila: por diálogos de praxe na subida e na
descida; um pelo elevador e a outro pela escadaria. Estugando os passos
alargados pelas milhas, comprimindo espaços na apresentação para o patrão
(sobre alquimia); não se esquecendo da vírgula no relatório: assim é glorificado o
dia em que parece que ficamos aleijados do pé direito. Tudo é a socos e
pontapés, colhendo sensações, não sabendo o fundamento disso e daquilo nos
bosques e salões das cortes contemporâneas. Vingadores, cantores, gestantes.
Analfabetos, cartomantes, farmacêuticos. Motoqueiros, açougueiros, advogados.
Todos vêm, todos passam, e a placa a cada um observa: nada de fiado. Tivesse
alguém feriado para não se exibir ao comprar o salgado, e viesse com açúcar que
se coxinha até voava!

Liquidificador

Alguns ironizam as falcatruas chutando obstáculos que podiam ser conciliadores.


Não sei até quando os trens de metáforas e paradoxos dos neurotransmissores
irão pelas sertanias do meu país malcriado e centrado rasgando e deixando
dependências em nossa saudade, acordando-nos com seus fuás qual a goiaba
branca que vem com verme dentro e que, após a mordida, faz o bichinho
espreguiçar pro mundo e depois haja café... Meu tênis descolou no meio de uma
caminhada até a psicóloga hoje... Fui meio Minotauro meio achando graça (dizem
a desgraça...), minha mãe me buscou de carro. Não sou nem de guardar segredo
nem de inaugurar eventos, não que me faça de sonso ou simplório, mas também
nem vou a eles. Ando levando só tapa na cara no site de jogos "Voe ou Morra"
(seria tentando?). Já me apelidaram de Capitão Nascimento, atualmente já acho
que tô enferrujado por conta do amadurecimento, quem sabe... Sorte é que nem
vinagre e salada: quando você tem de sobra falta sustância e quando você tem a
sustância está só o pó da rabiola o líquido da garrafa... Compremos, pois, limões
para nos protegermos das indecisões.

Magos e Madrugadas

Labirintos de vidro e areia. Dias estilhaçados na alma. Dias movidos a potências


cotidianas. Dons, fomes estranhas, formigamentos do polegar e da laringe. Dedais
de proteger unhas. Lugares sensitivos ao marcapasso. Marejos populares de
obsessões que espumam no gosto pela pluralidade. E a gratidão nos confere
soma de todos os conjuntos de parentesco e formação. E o vulto se transmuta em
impermeabilizante: poliedros tetris de cognição estigmatizada. Bola branca na
mesa geométrica de bolhas números. Seta de rapel literária. Cocos bebidos pelo
canudinho. Estrabismo estimulante dos excluídos em que me incluo. Contratos
espiralados por um furo externo: conjuntivite e quedas repentinas. Quebrados
trevos de esmeralda e quartzo, painéis e quartos, postais e portas.

Katanas

O coração em flor desgasta qual uma jiboia trocando de pele. O coração em


frangalhos muito capta de ausências. O coração holofote sem bula ou bule. O
coração pelicano nas margens da amídala vulcânica. O coração das horas, das
demoras e das receitas que dão certo e errado. O coração mais melado que favo
de mel macio, grudento, que engorda. O coração fada de variantes. No Chile os
turistas são convidados a pisar as safras e beber do suco das uvas locais. Um
barril cheio de pencas é o chamariz. Bem para os pés e para o sangue, para o
caminho e o pulsar. Mas, vem cá, por que citar tanto esses aspectos cordiais?
Tentar compreender o quebra-cabeça do universo como copo de conhaque ou
poço sem fundo? Falando em profundidades, não mastigo mais animais pesados
faz tempo: Recuperando a saúde roubada do mogimiriano aqui em Buenos Aires.
E, no amor, pra mim, não somos nem de Marte nem de Vênus, somos do sol
(sobra calor e gás). A overdose é um artesanato às avessas tropicando na cuba.
Fico com o xadrez e sua simplicidade nas técnicas básicas de fazer peões
marcharem juntos, a torre servir de farol e cada movimento ter razão de ser e
criar, alinhar e se antecipar. Com a proteção necessária do roque menor e do
domínio do núcleo do quadriculado e os saldos coletados nas aberturas e meio
jogo; um passatempo muito bom já que sem draminhas ou beatices e mais
edificante que choramingar sem trono e inteligências que vão, pouco a pouco, nos
aproximando dos drones e dos jumentos. E, comigo, nada de espertezas
desnecessárias para uma boa partida porque a paciência é o que separa os ninjas
dos meros mortais!

Indiretas Já

O que Machado de Assis, Paulo Leminski e Dalton Trevisan têm parecido? Um


compromisso com o suspense. Incrível como o poeta lutador de artes marciais, o
gago e o vampiro temperam suas obras com requintes de apreensão no folheador
de suas páginas. A caráter de comprovação: Brás Cubas sempre pende para um
lado amoroso e vive deixando a interrogação na testa do leitor: se vai por acaso
casar (mesmo que por motivação realista). O misantropo já redigiu um conto em
que o protagonista leva uma prostituta apenas para ser entrevistada em seu carro.
Já Paulo Leminski fez de si um suspense, entregando-se ao álcool e ao tabagismo
e deixando os tatames e a pergunta seguinte: entregaria-se mesmo? E se
entregou. Sou fã dos três: do curitibano, do paulista e do carioca (não
necessariamente nessa sequência). Mudando de tópico, a propaganda está
demais quando o quesito são as redes de conexão mundo-povo de Google,
Facebook, Mercado-Livre e variados. Não só citando as três, já que gigantes, mas
a internet inteira está um outdoor mutante e ambulante que pelo amor de Deus!
Em terra de Tio Sam servida no estilo Novos Bahianos não se brinca com o ramo
publicitário. A economia não vai lá essas coisas e temos milhões de motivos para
reclamar, resmungar, chutar o balde e fazer rebuliços. Aliás, a economia nunca vai
lá muito bem devido os impostos desavergonhados para serviços pífios nas terras
de Cabral e de nossa gente. Sinto que as manifestações nunca vão parar: tanto de
professores, metroviários, garis, funcionários de penitenciárias, polícia militar e
federal, Correios e de Bentinho. Portanto também estou de greve; até um dia
pessoal! Então eu me espatifo que nem o azarado Eugene do programa Hey,
Arnold... Eu tô legal (que nem poucos nesse país) e tchau.

Tentações

Se eu fosse um astronauta, um chef, um cientista, um detetive, um poliglota, um


maestro, um cosmonauta, um cacique, um jogador de boliche, de bocha, um
padeiro, um triatleta, um soldador, um marceneiro, um hacker, um forasteiro, um
mergulhador, um piloto, um boto, um banqueiro, um cafetão, um catador de
materiais recicláveis, um cineasta, um ator, um enfermeiro, um desatino em
fevereiro de carnaval... Se eu fosse um boleiro, um mafioso, um juiz da vara penal,
um diplomata, um esteticista, um imobiliário, um bóia-fria, um motorista de racha,
de táxi, de caminhão, um domador, um editor, um pianista, um empresário, um
pensionista da constelação cruzeiro do sul, um voluntário do exército da salvação.
Mas eu não sou, doutor, sou tão somente mais um na fila de votação. Com política
não brinco, haja reuniões. E nem sou lá tanto de querer votar tendo sempre as
mesmas reclamações de praxe. Quanta bagunça, quanto excesso de disparate,
sou muito é feliz assim mesmo, como engraxate!

Antiguidades Sempre Novas

Burca e beca serelepe simbiose gnose ciranda neuronal Coberta da poeira dos
cânones e seus tijolos alephs cíveis baterias de imprevisíveis capturados flashs de
geométrica mesa de bilhar binária coronário adento da erva do caldeirão da
sociedade dos magos: o tempero segredo do senso incenso aroma fátuo que
embranquece os fios qual o compasso da ponta do grafite policristalino do perene
inconsumado inconsumível régua esferográfica do ar da casta biônica relampiada
bolero dos tubos de ensaio, das prensas, bulbo informe contracaptura do
estremecimento à sutilidade usina fértil intestino da genética combinação da
corrente ciclística maratona de hamsters nanotecnológicos e sanfonas do insight
de Ícaro herança dos latifundiários das órbitas e do cirurgião anatômico que
interfere e monta o quebra cabeça desde o nucléolo e o hacker que chega ao
além portal do átomo do extrem hard disk tera do traço mágico, revisitados
visionários da relatividade das reticências, filigrama da velocidade à pausa do
neandertal ao estalar das costas, e no locomover o círculo pausar no barril da
penumbra; até os insones pajés barbudos, franciscanos ao que acerca o terreno
de Hipocrates, e do ferreiro que da linha bruta faz a claymore e a ferradura que
junto ao ourives instiga o rubi que ao sol tenta e põem em seu colo o raio e o
diâmetro. Que da turbina à termodinâmica dá lã ao corpo que leva a enchada,
silhueta na aurora. Até a primeira roldana, eureka dos montanheses catedráticos
ou dos astecas, incas e maias. Que da adoração estelar remetem à Heródoto e
seu gravador de fitas acinzentadas. Ermitão avô do que com a colher, a espátula e
o risível espanador deu luz ao Rex. Espoca-se, então, sob o velcro a captura do
primeiro atum gigante. E a queima da locomotiva do carvão e seus aguçados
poliedros de ferrolhos, pistões, cilindros. Que ao engrenar commodities em seus
vagões, e minérios, e grãos e caixas de surpresas da pátria enganam a lógica dos
lobos e lóbulos: até um Gandhi da abstinência e da maximização do direito pelo
simples. Ao que decifra os piores párias pelos complexos cálculos
temperamentais, da cliclotimia à esquizotimia, aos complexos, fobias, cismas,
neuroses, doses, déficits, savantismo. Outrossim, não menos, não mais, o teólogo,
o monge, o agregado à ioga intermitente e ao entendimento do pluvial lírio. Motivo
do temor ou troça do metereologista, ser biruta com seus barômetros,
anemômetros, radares.
Andaimes

O corte da serralheira é mais preciso que o da serra mas não é o ideal para um
corpo aristotélico, uma relevância no ser e os serviços de parto de calos nas
mãos.

Sempre gostei de atividades manuais, porém fiquei boquiaberto com o saldo do


serviço feito por meio de uma máquina não carnal. Meu barquinho até deslanchou
mais após ficar nos trinques.

Somos ferramentas usando ferramentas como estamos cansados de saber e


experimentar. E os cinco sentidos vão dizendo tchau. Abrindo o jornal vemos fácil
que também viemos com mais defeitos de fabricação que a maioria de nossas
amigas inanimadas.

Sempre que der um senhor blecaute na casa ou o carro morrer ao invés de


ficarmos bravos devíamos é dar um desconto, pois também vivemos apagando e
morrendo a cada dia. Trocando de carroceria e ficando crianças de novo de tão
inocentes e ultrapassados pelos demolidores de poeira da morte e os blocos de
concreto da esperança.

Medalha

Vindo e indo, correndo ou se esquivando, suportando e sendo suporte, amando e


precisando da perfeição de cada vidraça reluzente nos olhando por momentos e
de repentes. Chutando uma lata ou preparando um almoço. Contendo
constatações e contentamentos, contendo conteúdos e contas, suspiros e
comprimidos, oportunidades de êxtase e de redenção, clemência e contusões,
estatutos e estatuetas, vestes e restrições. Contendo o colossal numa pluma que
vai com o resto sem saber chegar. Correias de relógio revirando o tempo num Big
Ben planetário e invisível. Providência que não mede fisionomias e sim rugas
guardadas na bobina cardiovascular lida apenas por Deus. Contestadores com
camisas da Argentina, leques, botas; cartazes, gritos de guerra e cornetas. As
quatro horas da tarde passam placidamente. Tubos de ensaio com fragrâncias de
choro, eucalipto, avelãs. Subidas e descidas de escadas de transparências. Xícara
de chá no tabuleiro de damas. Fumacê, sorvido devagar.

Sacudida

Cachorro molhado: sorte.

Desde a época da telepatia, ou seja muitos idos vejo que é quase impossível dar
banho na minha cadelinha. Rosna muito e aprendeu a pular para não ser pega,
vira e mexe está nos sofás, camas e cadeiras. Gosta muito de sopa também;
moquecas, alfaces e doces podem igualmente ser incluídos na estranha dieta.
Não usa roupa mesmo no frio e encana com os gatos. Sabe deitar e pedir para
passear se alongando, corre disparada na frente do portão da vizinha.

É de boa raça: vira-lata.

Painel

Testamos o botão vermelho sempre que falhamos por dentro. É nossa fuga,
empreitada, cancela que sobe. Testamos as outras teclas o tempo todo e em
todos os casos hipotéticos para não precisarmos dos recursos da emergência,
assim nos consumimos, divagamos, descemos, subimos, endireitamos. Mas tudo
é que nem a pedra no lago só que atado a inundações por causa de padrões e
irmãos mil.

Quadrilha

O futebol é o pão e circo moderno mas uma atração saudável e sem violência
descarada. Enquanto o Brasil não joga vou torcendo para os compadres latinos.
Perdi a cobertura digna de um Cirque du Soleil (cheguei no gol contra do Brasil).
Creio que levemos a taça para o povo e a seleção ande de caminhão de
bombeiros. Estou ficando craque nos passatempos de mesa, quadradinhos, reis e
rainhas. Não sou de deixar cair a peteca mais e hoje tomo mais fôlego antes de
usar a voz no imperativo (geralmente para pedir água, pipoca e cobertores). Sou
uma pessoa de hábitos caninos, dormindo três ou quatro vezes por dia
intercaladamente nos fins de semana. A gente vai levando comendo salada de
batatinhas com cheiro verde e cebolas e bebendo cerveja sem álcool por causa do
psiquiatra. Hiberno e acordo mais mesmo para comer nos fins de semana: Ontem
foi pastel de queijo e chocolate quente. Que se lasquem os impostos e viva São
João. E os estopins dos rojões deixem suas marcas.

Caminhada

Somos pensantes ambivalentes, espalitadores de dentes arrogantes, livres e


cegos. Camelos e motorizados tangendo o mapa, pizza para os fins de semana
com refrigerante de cola, petit gateau e um expresso no shopping. Estrada
molhada e desenlaces legendados por avisos. Carência, curiosidade, comando,
crença. Homem deveras humano, espécie extintora. E haja luzes laranjas e
brancas, celestes e lilás. As variantes vão comendo as rodas que vão comendo a
esteira que vai comendo o homem pouco a pouco. Pouco a pouco tudo é digestão,
e isso é tanto para áreas VIP quanto áreas da classe C quanto para pessoas sem
área. Quase ninguém se importa muito porque importar-se é perder a bala ou o
doce de leite ou o petit gateau.

Incorporando
Não acompanho mais jornalismo policial por segurança do intelecto. Pensar o pior
acaba com a sanidade e faz a fertilização de sandices ir a todo vapor. Gosto de
torta de maçã e hoje tem, também sagu e uvas rubi. Comprei um relógio novo
parando de fumar. São pequenas proezas, consideráveis prendas. Visto um suéter
trazido de presente da minha mamãe de Jacutinga. Ando cabeção no xadrez,
desafiando o computador Fritz e queimando os cabelos com os retornos que ele
dá. O importante é filosofar dentro de comodidades a obra de arte de cada lance
que nos provoca o imaginário e a aventura desenvoltura. Estou mais difícil de
desabar, centrado no básico, na sintonia, nos remendos e remédios, nas táticas e
estratégias contra o exagero e a folga, as cintilâncias e gomas de mascar que
grudam no que é provisório e pontiagudo, nas injeções de calores e frios dos
gráficos, nos rolos da percepção vociferante ao tempo que sonífero na cesta já
abandonada, esquecida, pulada. Zombeteira ao passo que ficamos adultos,
depois a retomamos já velhos mais por título que por vontade mesmo. É essa
mágica indecorosa de ser cortado ao meio e a alma se separar do desejo. São
esses espelhos fictícios de nos implantar transformações malucas. É esse baralho
a favor do truque. Que tudo isso vá para o espaço, Roudini nunca se afoga e
sempre escapa das algemas do público porque todo mágico é um gatuno por
excelência. Todo escritor idem.

Máfia e Malandragens

Busca e apreensão de equipamentos de ativistas liberados pelo governo do Rio,


site da CBF hackeado, boicote à copa e aos publicitários da bola. “Bastidores da
máfia” segundo o grupo Anonymous e a Mídia Ninja; Guy Fawkes é brasileiro e
está sendo caçado. Erupção vulcânica de tablóides, mas a reportagem tradicional
emite poucas notas sobre os acossados e os acontecimentos. Na real, acho que
após as defesaças de Oschoa no jogo do México versus os anfitriões (nós) o
canto de “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” fica meio
engasgado. Esse canto, por outro ângulo, ou seja, fora dos Estádios, é mais difícil
ainda de se conseguir com verossimilhança (em hospitais públicos, por exemplo).
Não é só a nossa filmagem estigmatizada que está rodando cedo, junto a ela vão
os campeões da copa passada, os espanhóis. Por Tratado de Tordesilhas que
não é já que Portugal levou uma bela sova dos alemães. A preocupação mesmo
de Neymar Jr e cia é a laranja mecânica que quer mais que tudo uma estrela. Os
holandeses que têm a maconha liberada demonstram ter algo que leva mais além:
Pulmões para vencer qualquer seleção nas terras de Macunaíma e Cabral. Espero
que não a canarinho, que assobia no peito de nossa gente. Uma espécime nova
na fauna é o golfinho com abridor de cerveja, mais que bem vindo ao Brasil. Só
que não será cerveja quente já que os ingleses se mandaram antes da segunda
fase. Uns vão ficando, adaptando-se à ginga e outros vão batendo asas como
desde sempre e por aí vai, vamos, somos levados, levamos, leves, deslavados,
livres.

Do Lado de Fora da Vitrine


Uma lacraia? Um espantalho ou boneco de vudu? Um jogador pelado ou semi-nu?
Não, torcedor da Alemanha correndo após pular as grades do estádio recém
pronto. Outro (do Chile) pulando do navio vindo de um cruzeiro na Copa. As
pedaladas e talagadas vão bordejando o cenário dos tucanos, do Cristo Redentor
e da arquitetura do avião além da terra do pão de queijo e cafezinho a um real.
Não há muito o que comentar: Os estrangeiros sentem o gostinho azedinho do
gengibre, a polpa do açaí e o milho verde e ficam pirados (para não citar a boa e
velha cachaça). Sem muito papo os belgas mandaram os russos de volta para
seus problemas com a Ucrânia e os quebra-gelos. O altista Messi estufou as
redes do Irã e os transgressores camuflados de passe livristas arrebentaram com
as lojas em protestos renovados no fim de semana. Que há infiltrados todos
sabemos e as infraestruturas do poderio automobilístico, bancário e imobiliário vão
novamente a nocaute. Parece mais um túnel do tempo que remete aos
movimentos de sacode-sacode, esconde-esconde e salve-se quem puder com a
pátria desmaiando nos braços dos últimos românticos. Isso é um cartaz.

Ondas

Têm dias em que o torniquete acalca nos lances entre os peões e o oponente; a
vontade é de explodir o aquário da cachola e dar coices para todos os lados que
nem uma metralhadora giratória a reagir descontando tudo em tudo e em todos
com toda força e raiva carregadas nos nervos, estrias, têmporas. Tem dia que a
janela parece recipiente para tacar o CPU e o chão uma cama de gato para
aguentar o teclado e o mouse. Quanto maior o voo, maior a bolacha. Quando as
rachaduras vão paulatinamente se formando sob nossos calcanhares é melhor
sair de perto que a estrutura está indo abaixo. Com terremotos e avalanches nos
músculos mais de dentro e baba salivando na garganta. O negócio é suspirar e
fazer chá de camomila, por os leões para dormir e reduzir a marcha do rolo
compressor do espírito que vai parando de bufar e avermelhar conforme a
tempestade vira calmaria e os vendavais brisas suaves e poucas, quase
fantasmas, quase iguais a lenitivos, aspirinas. O carrossel, com a idade, vai
virando jóquei e a gente vai virando o cavalo.

Cones de Luz

Imprevisíveis, espelhados e bons de mira são os passes do kardecismo, sem tirar


nem botar, certeiros, pouco arbitrários, inerentes, funcionais, bravos, aliviadores.
Quase acabo comigo uma vez e foram eles que me resgataram da lama
sentimental em que me via, inexplicável, dogmatizada, navalha podre de
resmungos e desproporções, amarrações e penúria, exagero e sebos nas canelas
quanto aos picarotos e verdugos do temperamento. Fiquei cambaleando a base
de canja de galinha no começo, depois as chagas da febre me vazaram o ânimo
às avessas até eu poder recomeçar. Os estalidos da lenha queimando acalmam a
gente ante a lareira (percebi isso em Campos do Jordão). Também voltei a papar
mingau de aveia na ceia. De pouquinho em pouquinho a gente avança no jogador
de futebol americano e, quando somos nós que devemos aguentar as
adversidades, conseguimos apenas por conseguir, colocando mel na fervura com
erva cidreira ou se detendo na passagem de veículos ante o jardim ou
simplesmente passando a tocha e se abrindo para o próximo nível que enche o
nosso peito na hora com chama mais sutil que a levada até então (ou não se não
somos merecedores).

Reclame Sensacionalista

Cara de cachorro sem dono, milhares de flagras (e em frangalhos) por causa das
pulguinhas, valente por ser sócio do crime. Assim é que enxergo Genuíno e outros
velhinhos presos devido processos de investigação da polícia federal e atacados
por Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal de Brasília. O circo armado continua
pegando fogo, mas o patrimônio dos gangsteres vem reduzindo. Apreensão de
carros sport e dinheiro sujo, alto escalão dos servidores públicos saindo
algemados de suas funções (já poucas e feitas pelos cotovelos a não ser quando
é para nos auferir relógios de pulso). Brasil goleou Camarões. As nações jogam
em locais cheios de requinte e maior preço dos valores agregados aos projetos
inteiros e parciais (tanto de engendramento quanto de reforma) e as interrogações
que não calam até doem no ouvido: Copa para quem? Copa para que? E será que
está na hora de mexer nesse vespeiro? Eu acho que sim.

Triângulo

Nigéria e Argélia (de países pouco equipados) perderam para França e


Alemanha (de países afiados e bem equipados). Uruguai, o time do mordedor
oficial da Fifa, desclassificou. Sorrindo e se entrosando numa edição animal
(com direito ao escorpião Rodríguez e o chupa cabra Soares além do Capitão
América Bradley e o Fuleco Neymar, três ainda no páreo, vamos nos divertindo).
Eu, um árcade da escola de Steinitz, da minha área fico com os territórios
alvinegros (onde também fica minha paixão pelo Corinthians) e verde-amarelos
(pela equipe canarinho). Arrebente-se o remanescente: Um frevo, as
peregrinações dos eremitas da bola e os favoritismos tanto pela pipoca de fogão
quanto pelo gâmbito da Dama é tudo que me reanima depois das terras de
Batistuta e da chouriça. Ai de mim que jogava de goleiro agora nem me mobilizar
preciso...

Tarifa de Tevê a Cabo

Tarraxinhas e taxas, vernáculos e band aids, marijuana e lavatórios públicos,


esquilos e soldadinhos de chumbo que cercam os gramados e as nozes de
capotão, crateras causadas por meteoros em Varginha, cravos na minha cara, e
olhe que sou um chatérrimo de galochas e arremato: Meu firewall me salva de mil
e uma nojeiras e os militares que me deixam em paz no Facebook são do mesmo
time dos que protegem os segredos da Coca-Cola. E é assim, bebendo xarope e
teclando, tecendo e acreditando que torcerei para dar Celeste versus Verde louro
dessas flâmulas, o último vencendo o campeonato... Só então aspirarei fundo e
deixarei em paz meus fantasmas (que são inúmeros) e vá para o inferno cheirar a
barbecue os que discordam (que de insatisfação basta o vôo de mais um dos
meus anos ido que passou rápido). E que outros sejam bem-vindos para que eu
continue firme e forte a todos irritando. Muito Obrigado.

Engolidos pela Sombra

Quando se para de fumar é como ficar mágico sem assistente, sem coelho na
cartola, uma mão atrás outra na frente, uma bateria meio revestida e colocada tipo
gambiarra, uma muvuca de cartas de baralho pros ares, e o sumiço na neblina
num dá-não-dá-certo. Quando dei fim nisso me sentia inseguro (e acho que nunca
vou ter certeza da tal segurança romanesca e teimosa), o medo vive aparecendo
na rua, entretanto também ajuda: uma barra de chocolate ou jujubas, jabuticabas
ou picolés, fragrâncias ou lembrancinhas. Conheço gente que fuma fumo de corda
e nunca teve problemas de saúde, outros maconha e outros palheiro. Alguns
gostam de rapé, outros, ás vezes, dão cafungadas em cocaína ou bolas no crack.
Não condeno. Isso no fim de semana é até saudável a caráter de entretenimento.
A hora do rush tem dia que nem tem hora para acabar e uma semana completa já
deixa a cabeça livre de ressacas tanto morais quanto físicas. Na guerra causada
pelas cosquinhas quem menos sofre é o usuário que atrai a desgraça direto Da e
Pela boca, mas não usa revólveres ou mosquetes. O máximo risco que corre é de
levar um tiro ou atrair pessoas erradas para dentro de casa ou ser motivo de
suspeita das organizações criminosas ou da polícia tanto a honesta quanto
corrupta. Quem gosta de conviver com a aventura dramática paga o preço e o
pacto. A diversão e as sensações são garantidas, livres de imposto ou de ser
rotulado como careta. Mais ou menos a la Al Capone, ou um criminoso peixe
miúdo, é o que será quando romper de forma rebelde e com peito de pomba as
demarcações da Lei ou der com a língua nos dentes. E o Western real que ganhe
novos garanhões (ou perca). Se for para quebrar que seja praticando algum
esporte que exija menos barganha no meu caso, de quem já ficou velho cedo,
toma remédios psiquiátricos, bebe chá e é enxadrista. E que o Cristo Redentor ore
pelas vítimas de sua auréola que o esquema é generalizado mesmo e não importa
cidade, raça, idade, credo.

Semifinal

Brasil foi dissecado vivo. Argentina tapeou a Holanda nos pênaltis. Alemanha
levantou a taça. Um pó de mico geral o belo fiasco que foi essa copa para inglês
ver. Ou pó de arroz. Excessos absurdos de sal no gramado e na perspectiva. Só
chegamos até a semifinal porque enfrentamos times de quinta. E perdemos
porque somos uma equipe de segunda. Aqui infelizmente tudo que é demagogia
dá audiência: bola, bunda e big brother.

O Tamanho do Folião

O tamanho do folião não se mede com o braço dado, a censura picotada no beco
marinho, ramalhete de bem bom, tom sim, tom não, voleio de prendas, goleada, e
um fogo que chamusca até a alma. O tamanho do folião não se mede com fita
métrica, polegadas, dinamites de batuque, estribilhos de couro. O tamanho do
folião não se mede no maçarico, na serralheria, na ironia da joaninha ou no ferro
de passar e alisar. O tamanho do folião não se calcula pelo seu estrago das
bordas, pelo seu laço de competência, pelo seu desenrolar próprio dos que bufam
a imitar silvos. O tamanho do folião é uma projeção sem piada pronta. Um
hemisfério sem ter onde tombar. Um desacato do tamanho da bomba atômica,
mas dos males é o menor.

O tamanho do folião é do tamanho da solidão e é por isso que dizem que faz girar.

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