Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
*
Dias bem pacíficos, apesar de na minha caminhada ver que pinos
de cocaína vazios estavam em grande quantidade entre as vias
Pedro Botesi e Vinte e Dois de Abril. Percorri ambas as vias inteiras
após trabalhar que nem o cão para folgar agora na véspera de
Natal. Entre os consumidores de ilícito não importa se é Dezembro
ou o mês do próprio aniversário de suas mães, e digo isso porque
fui um consumidor de vários ilícitos e consegui parar apenas há
cinco anos. A substância fala mais alto, os amigos descolados
falam mais alto, as folgas no emprego, um pé na bunda, discussões
às vezes até bobas, depressão e ene outros motivos fazem com
estrago o ser se tornar escravo das sensações mais mundanas. A
cachaça mata também, o tabagismo faz suas vítimas ano a ano
também. Aqui no Brasil o grosso pode ser atribuído às
desigualdades sociais, cultura do “jeitinho”, falta de políticas que
realmente não vejam o bandido como animal peçonhento e nem o
usuário como sem-vergonha, incapaz de aprumar, mais
investimento bélico que em prevenção, conscientização e etecetera.
É a velha história do preconceito que suja os meios policiais, a
banda podre da polícia e consequentemente as revoltas que esta
truculência incute em populações mais afetadas. Só que sem
polícia o tráfico tomaria conta, sem polícia crimes paralelos iam
pulular e o cidadão acharia “normal” se aproveitar. Um lado não
enxerga o outro com bons olhos quando deveria tentar recuperar
esse outro lado seja de sua arrogância seja de sua libertinagem.
Ninguém revidará balas de fuzil com cartinhas de coração e emoji,
temos mesmo é que evitar que as balas cheguem e muito menos o
fuzil nas mãos erradas. O único tratamento que, ao meu ver,
funcionaria seria o auto-aperfeiçoamento... A vida de “ladrão” só
leva a dois destinos que são o manicômio ou prisão e ao túmulo. A
fuga desses infernos na terra tanto para ladrões quanto para
clientes de bocas de fumo é evitar o vício, a violência, a ingratidão.
Se não é a polícia quem irá lhes tratar com carinho que seja o
CAPS, seja a Igreja Católica ou outra congregação, os programas
de doze passos, sempre com apoio familiar e facilitando a sua
relação com a mudança produzindo e criando outros meios de
prazer. A solução para os departamentos policiais é denunciar e
combater as bandas podres, dar dignidade à imagem de sua
corporação, estimular mais palestras que pancadas. Mente e
coração sãos são os remédios curativos. Na teoria é tudo lindo e
maravilhoso, na prática não é só fazer a obrigação.
*
Uma vida, pequenina vida, à flor da pele do mundo, frágil e
expandindo na fase de máximo esclarecimento do que é luz é a
coisa mais bela e expressiva que se pode ter nos braços.
Aprendendo a andar de triciclo com buzina, arrancando sorrisos,
deboche inocente. Isso é o natal. Isso é Cristo nascendo sem
querer nada em troca no coração humano. Podemos falar de portas
e seres extintos que serão tão triviais perto do que o
desenvolvimento de um aparelho perfeito surte em nós. Que
seguramos, amamos e nos faz querer viver mais e melhor. Parece
que tínhamos esquecido toda vez que somos pegos de novo de
surpresa o que é tudo isso.
*
O diabo da Ômicron está pegando todo mundo: O tiozão que com
duas doses estava melhor que passando longe das livrarias, o
bobão de trinta anos que era jovem demais para vacinar, a
bolsominion cuja geração de proteína antiviral iria matar. E, claro,
os cinco porcento que tomaram todas as doses e queriam respirar
melhor nunca usando máscara e os outros cinco porcento que
fizeram tudo direito.
Um sol de lascar. As pessoas nas ruas se derretiam ou supriam
com cerveja de botecos, caldos de canas, quem tinha piscina com
certeza nem quis saber de rua. Cheguei e quis ficar uma hora no
banho mas poupei água. Dor de cabeça dos infernos depois...
tomara sol e não era marca de cerveja. Um refrigerante de cola com
limão serviu para refrescar graças à Deus.
Um estrepe e um exame para “diabretes” depois (só que com
agulha de costura ao invés de equipamento médico) e a farpa sai
após gotinhas de sangue. E hoje nem trabalhei com marcenaria.
Minha gatinha Keith gosta tanto de pentear que sugeri à mesma
uma pintura de cabelos que ela respondeu “cai fora! ” miado.
Muitas trovoadas, quando penso que vão cessar emendando com
telepatia que ainda sou muito amigo das minhas ex-mulheres mais
trovões...
Quando meu pai aposentar ele disse que terei que trabalhar mais
ao invés de menos. Eu quero trabalhar igual sempre trabalhei,
todavia creio que trabalharei menos no domingo e mais durante a
semana para que isso se concretize. Poderia até me aposentar com
quarenta anos e fazer bicos de escritor, artesão, pedreiro ou
vendedor de cartões postais nos sinais só que eu dispenso (acho).
Uma coisa é certa: Sem labuta é igual a sem chances em qualquer
idade pois o corpo precisa de atividade mínima.
Com essa pandemia toda em que a cada hora é uma variante para
torrar a paciência o jeito é comer para aquecer a economia, não
correr atrás de fotografias e filmagens que vão contra a gente ou
mesmo sem as mesmas provas, não praticarmos qualquer tipo de
ostracismo pela tevê à cabo estar em dia (até porque ela transmite
nossos dias atuais), perder as calorias caminhando ou correndo por
vias vazias, confiarmos ou não em quem tem ou não tem o dedo do
meio da mão, esperar chegar o descanso já que férias mesmo só
no funcionalismo público e privado, saber que os pinguins batem as
asas devagar mas estamos apressando os mesmos, saber que toda
história mal contada acaba com o suspeito morto (quando não
suspeito e vítimas) mas com os principais culpados gargalhando e à
solta, fazer as barras nós mesmos ou costureiros que não querem
nos tirar “duas calças”.
Meu sono de ontem para hoje foi com uns sonhos estranhos além
de pegar-me ouvindo um pano cair sem motivo aparente na pia da
cozinha e levando um copo junto, pressões e golfadas nas portas-
janelas fazendo bastante burburinho, achar que tinha mais alguém
acordado e não haver. Os sonhos seguiram essa lógica de meu
cunhado e irmã trazerem gente para casa de madrugada. O
segundo foi bem nada a ver comigo montando um laboratório e
centro de pesquisa de algumas pedrinhas vindas do espaço e
voando para estações espaciais... As pedrinhas tinham algum
atributo especial que se relacionava à vida em outros planetas. Eu
dirigia essas imagens até o mais inteligente passar a dirigir comigo
dentro. O geólogo-mor.
Os conhecimentos que temos são os motores (de saber utilizar
nosso veículo biológico), utilitário (que se refere às habilidades e
talentos que uns têm para isso e outros para aquilo: Saber pescar,
trabalhar com madeira ou lenha, se guiar numa floresta, arcabouço
em procedimentos e técnicas médicas ou jurídicas, a costura, a
cozinha, a limpeza de ambientes, a arquitetura de prédios e por aí
vai) e o transcendente ou metafísico (espírito, alma, aspiração,
centros energéticos, telepatia, doutrinas, sexto-sentido, misticismo,
outros planos, simbologia, etecetera).
Com as molduras antigas vou criar peças de artesanato ou
realizarei colagens em quadros, vasos. Não sei ainda mas vou
reaproveitá-las.
Não vejo a hora de ver meu gatinho conosco novamente.
Decidirei sobre meu tratamento mental com diálogo e exercícios e
relaxamento na próxima consulta ou até lá.
Nunca passei pelo outro cemitério da minha cidade nem o vi de
frente (também não tenho a abelhudice necessária).
E sigamos no clima “fervoroso” que faz.
Fim de semana com chuva que não para. Não é boa ideia sair para
rua nem se molhar à toa. Começou hoje de manhã novamente, mas
os três dias em que nos poupou deram para meu tio o direito (e
dever) de trazer umas boas caixas grandonas de verduras da feira
do Guaçu. A perua estava mesmo abarrotada, dos vidros não se via
espaço sem nada e até o fundo tinha quatro caixotes de plástico
empilhados lado a lado num total de doze. O movimento não nos
deixou chorar também. Nessa manhã enquanto no resto do mundo
se jogava a final da copa da África, comemorava a final das quadras
rápidas de tênis da Austrália, nevascas, black-flags, suavização das
medidas sanitárias ou não aqui o pessoal iria preparar queijinho
com manjericão e tomatinhos, recompor a geladeira e afins. Até o
cãozinho Raul foi lá e ficou bravo com minha tia que pegou ele que
nem “nenê” e ainda chamou de nenê. Meu avô como sempre bem
arrumado e em sua poltrona ouvindo seus filhos, a televisão, quem
ia papear com ele e protegido das gotículas d’água. Na Record
News de ontem à noite passou o drama da fronteira amazônica com
o Paraguai: O EPP (Exército do Povo Paraguaio) cometia
sequestros de brasileiros ricos, reivindicava a reforma agrária,
socialismo, colaborava com tráfico de armas e drogas e formava um
governo paralelo na mata. Os entrevistados relataram que o
movimento deles diminuiu pois em suas fileiras marchavam famílias
pequenas, algumas crianças viviam na Argentina e os menos
jovens com eles. Pais e mães (o pai e comandante com camisa do
Che) gravando fitas e trocando mensagens nos seus vídeos.
Famílias divididas entre Argentina (para onde fugiram os mais
velhos e crianças) e a selva (onde ostentavam fuzis e armas,
bandeiras do movimento, uniformes camuflados, frases tiradas de
sua filosofia). O caso mais divulgado de crime cometido por eles foi
de quando conseguiram quinhentos mil dólares num sequestro de
filho de empresário brasileiro. Um fazendeiro morador de
cidadezinha à beira da Amazônia contou que já teve que se fingir de
morto no rio para que eles o deixassem em paz em confronto com
ele e colegas (ele até hoje recebe escolta do exército do Paraguai
quando faz suas atividades afastadas da fazenda). Eu noto que na
América do Sul as realidades são extremamente díspares, apesar
de abusos do governo, empresas estrangeiras explorarem nossos
recursos há quem se salve nisso tudo e gere emprego, renda,
ocupação, portas, serviços e exportações para nosso povo. Há
também quem só queira acumular e dar alicerce para a indignação
verdadeira. América do Sul: Boa mesmo para quem é sacudido e
faz sua vez ao invés de reclamar ou faltar com a própria palavra.
Aliás, assim é no mundo inteiro.
Meu gatinho regressou ao lar. Não come ainda, mas belisca. Pesei-
me com ele, a diferença: Cinco quilos e meio. Farejou os sofás,
mais ciumento com a outra gata, minha mãe disse que está ainda
com o cheiro da clínica. Passeia, bisbilhota, está esperto. Quem
está mais carente com o outro, ele ou minha mãe não se sabe.
Miando um cadinho menos ...Deve ter gastado muitos miados na
jaula de espera das nossas visitas...
Fiquei uma cara sem escrever esses dias e lembrei ontem, mas
estava sem vontade. Assunto ralo, hibernação, apontar os grafites
de desenho manual (fiz o Sherlock Holmes e um peixe Marlin),
perder no xadrez por não deslocar o cavalo na última casa contra
dois peões de casas de cantinho avançando (dei bobeira pois tinha
um peão para ser promovido no meio não encurralassem meu
cavalo antes de eu ter essa ideia). Aguei as plantas, desenvolvi um
Saci Pererê, um mágico e um submarino tipo aplique de biscuit...
Sobrou massa e usei todo esse resto numa estátua de Buda. Hoje
não ajudei a descarregar o caminhão na horta, buscaram os
produtos o motorista e um funcionário então deixei quieto. A chuva
está dando enguiçadas mais longas e pude fugir um pouco das
teias de aranha indo no supermercado e andando em círculos. Não
quero saber muito quem manda no mundo (um centésimo dos
ricaços segundo uma you-tuber), nas férias do Habbo Hotel com
emblemas novos nem de parar de construir minhas tranqueiras.
Mas terei que erguer menos tranqueiras e aí verei os tais emblemas
talvez. O carro da minha mãe teve um rombo na parte da gasolina e
ficou mil e quinhentos o conserto e demos sorte dela não ter botado
fogo no carro com as faíscas que saem ao dirigir. Meu gato anda só
na dele e magro, um ambulante conhecido me cumprimentou e
fazia aniversário hoje... Mentira ou não dois cigarros ele merecia.
Nesta quarta quase todos da chácara foram ao dentista, meu tio,
minha tia e meu pai... Minha mãe gastou pepitas de ouro na boca
há alguns meses e olhou o caixa na ausência deles. Uma semana
de filme de terror? Na Dinamarca está como se a pandemia nem
tivesse existido. Na China duas bolhonas para os jogos olímpicos...
Donos do mundo, carro velho só que não em chamas, mandíbulas
em salas de espera (e em cadeiras compridas), gato mais ou
menos, magrelo comemorando com dois cigarros e Cinquenta e
Um, economizar nas esculturas para ainda ter casa para morar,
estratégia boba melhor que perder, “ô-micão”.