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Johnny Cash largou tudo, viveu loucamente, teve incríveis dores de

cabeça, virou noites e dias em claro, apaixonou-se, foi até os


últimos degraus e cavou do porão. Muitos romances, a mesma
roupa preta. Um amor, o anel de fogo. Velho, agarrou-se à boia que
poderia ser a derradeira e não se rendeu mais aos narcóticos.
Duramente suportou. Visitou prisões, sempre teve um apreço pelos
marginalizados e a cultura das ruas. Um country de gosto amargo e
requintado. Grandes cicatrizes, cordas vibrantes, banda tirando a
poeira do palco. Ele foi quase até o limite. O que o fez despertar e
brigar para renascer? Não só perder quase tudo incluindo a
sanidade. Levantar mesmo grogue, passional, ciente.

Escrever como se tudo fosse apagar. No barbeiro largo mão de


querer ter cabelo grande. Ele raspa e deixa eu parecendo um de
patente superior. Um sol para cada um na cidade. Televisão pifada
e na internet, nas emissoras ao vivo, gente brigando por política.
Reuniões diárias de alcoólicos anônimos. Informações tais quais a
de beber água aos golinhos e devagar para o organismo espalhar
melhor, não ir direto ser bombardeado pela linha de tempo da rede
social de manhã para a terapia do sono funcionar, que agora o
outro filho do Datena apresentou também o Brasil Urgente e
querendo acabar com o PIX até eles resolverem o pepino da
segurança, a árvore de natal inexistente que minha tia me mandou
montar, bolas glamorosas que não caberiam na normal, minha mãe
faz aniversário e vem pouca gente em casa. Vacina na minha
terceira dose que me deu dores no braço e sonolência por dias
(esta da Fizer para contrastar e suplementar a outra chinesa). Uma
pulseirinha de pérolas encontrada no terreno baldio perto da
delegacia, não vi a cidade iluminada e com comércio atraindo para
feriado. Xadrez tentando expandir as duas fileiras qual um obeso
com pressa no meio do ônibus. Livro A Arte de Meditar diz que não
é se concentrando, nem absorvendo-se em si mesmo, nem indo
como sugere mestres e atrás de mestres, nem enchendo-se de
promessas que se relaxa e medita bem e muito menos sempre
meditando qual sentado qual Buda: A meditação pode ocorrer no
dia-a-dia razoavelmente se quisermos. Sonho com a moça dos
cabelos azuis lembrando coisas namoro que não tivemos e nos
beijando, dançando... Eu deliro. Trabalhei mais ontem e hoje
simplesmente excedi minhas funções... Graças a Deus há trabalho.

*
Dias bem pacíficos, apesar de na minha caminhada ver que pinos
de cocaína vazios estavam em grande quantidade entre as vias
Pedro Botesi e Vinte e Dois de Abril. Percorri ambas as vias inteiras
após trabalhar que nem o cão para folgar agora na véspera de
Natal. Entre os consumidores de ilícito não importa se é Dezembro
ou o mês do próprio aniversário de suas mães, e digo isso porque
fui um consumidor de vários ilícitos e consegui parar apenas há
cinco anos. A substância fala mais alto, os amigos descolados
falam mais alto, as folgas no emprego, um pé na bunda, discussões
às vezes até bobas, depressão e ene outros motivos fazem com
estrago o ser se tornar escravo das sensações mais mundanas. A
cachaça mata também, o tabagismo faz suas vítimas ano a ano
também. Aqui no Brasil o grosso pode ser atribuído às
desigualdades sociais, cultura do “jeitinho”, falta de políticas que
realmente não vejam o bandido como animal peçonhento e nem o
usuário como sem-vergonha, incapaz de aprumar, mais
investimento bélico que em prevenção, conscientização e etecetera.
É a velha história do preconceito que suja os meios policiais, a
banda podre da polícia e consequentemente as revoltas que esta
truculência incute em populações mais afetadas. Só que sem
polícia o tráfico tomaria conta, sem polícia crimes paralelos iam
pulular e o cidadão acharia “normal” se aproveitar. Um lado não
enxerga o outro com bons olhos quando deveria tentar recuperar
esse outro lado seja de sua arrogância seja de sua libertinagem.
Ninguém revidará balas de fuzil com cartinhas de coração e emoji,
temos mesmo é que evitar que as balas cheguem e muito menos o
fuzil nas mãos erradas. O único tratamento que, ao meu ver,
funcionaria seria o auto-aperfeiçoamento... A vida de “ladrão” só
leva a dois destinos que são o manicômio ou prisão e ao túmulo. A
fuga desses infernos na terra tanto para ladrões quanto para
clientes de bocas de fumo é evitar o vício, a violência, a ingratidão.
Se não é a polícia quem irá lhes tratar com carinho que seja o
CAPS, seja a Igreja Católica ou outra congregação, os programas
de doze passos, sempre com apoio familiar e facilitando a sua
relação com a mudança produzindo e criando outros meios de
prazer. A solução para os departamentos policiais é denunciar e
combater as bandas podres, dar dignidade à imagem de sua
corporação, estimular mais palestras que pancadas. Mente e
coração sãos são os remédios curativos. Na teoria é tudo lindo e
maravilhoso, na prática não é só fazer a obrigação.

*
Uma vida, pequenina vida, à flor da pele do mundo, frágil e
expandindo na fase de máximo esclarecimento do que é luz é a
coisa mais bela e expressiva que se pode ter nos braços.
Aprendendo a andar de triciclo com buzina, arrancando sorrisos,
deboche inocente. Isso é o natal. Isso é Cristo nascendo sem
querer nada em troca no coração humano. Podemos falar de portas
e seres extintos que serão tão triviais perto do que o
desenvolvimento de um aparelho perfeito surte em nós. Que
seguramos, amamos e nos faz querer viver mais e melhor. Parece
que tínhamos esquecido toda vez que somos pegos de novo de
surpresa o que é tudo isso.

No passado eu fui uma pessoa com muito mais confusão


algazarrando a mente, eu tinha problemas sérios com o que podia e
o que não podia fazer, a minha primeira juventude foi tirando férias
de muito do meu bom-senso: Sem horário, muitas experiências com
viagens sem sair do lugar, ressacas com apagões. Eu era algo de
que não me orgulho hoje: Não compreendia a minha falta em casa,
queria ir longe sem dinheiro e usando os outros como muleta,
queria ficar doido, queria sair do corpo, queria um minuto mais de
letargia, a droga mais forte, a história mais hippie. Obviamente que
tentaram de tudo para me manter protegido. Eu tive que ir trocando
de pele, eu tive que trabalhar da maneira correta e ir consolidando
uma sobriedade. Enquanto não estava preparado para largar a
bebida de vez fui postergando o dia de beber. Agora eu parei de
beber, eu consigo dizer que não quero mais beber como artifício da
minha felicidade, da minha contemplação e louvação da rotina que
tenho. Eu quero mais, algo novo, algo que não me deixe instável. O
que significa que a realidade é melhor que a bebida e o cérebro
funcionando bem me deixa mais sintonizado, mais “doidão”, mais
assertivo, mais fascinado, mais encantado do que um cérebro
permissivo com o álcool. Não sou mentiroso em dizer que nunca
bebi sem moderação, mas foram vezes em que nunca sai tão
satisfeito. E sempre recaí para bebedeiras de virar a noite.
Calculando os prós e contras: Num dia em que eu queria beber
desde o pacto do convencimento “vou beber” até o primeiro gole eu
matutava, brigava com o nada, depois eu tinha o efeito e ficava
bobão. Ouvia músicas que não costumo escutar normalmente, tinha
que procurar uma acompanhante ou companhia. No outro dia
vinham as memórias do que eu poderia evitar. Desregulava
totalmente meu relógio biológico, ficava estressado, sem apetite,
ocioso. Hoje, francamente, nem sei porque me submetia a algo tão
mesquinho. A algo que, como alcoolista, estava fora de cogitação.
Nos dias de hoje e vindouros eu não permitirei o primeiro gole. Eu
sou impotente a ele. Eu sei que ele é uma armadilha para meu
humor, para minhas tarefas, para meu orgulho, para minha saúde.
Descobri que a minha alegria, minhas habilidades, meu sistema
cognitivo melhoram demais sem os riscos. São só vantagens, é
como tirar as barreiras da corrida, evoluir sem sofrimento
desnecessário. Se vão me xingar por ser crente, por ter tomado a
minha decisão saberei sem sombra de dúvidas que Deus está
comigo.

A vida é um tremendo mistério, ela nos guia enquanto nós achamos


que definimos nosso destino a sós. Na vida as escolhas são
esparsas ou estreitas, boas e ruins. Pela intuição é fácil não cair em
armadilhas bobas. Todo momento com interação não artificial vale
pelo menos o triplo de que com interação projetada, mas os nossos
presentes na interação projetada podem valer muito e até mais que
na interação física: Uma fotografia, um áudio, uma recordação.
Ninguém será bem-sucedido se não tentar. Porém temos que tentar
coisas edificantes: De que vale tentar comer o quinto pedaço de
pizza se precisamos emagrecer? Tentar conquistar uma amante se
já temos a mulher de nossa vida? Tentar passar num vestibular sem
recursos nem disponibilidade para nos dedicarmos às grades?
Cada dia descortina a interrogação máxima de como iremos
aproveitá-lo, isso em si mesmo já é milagroso. A paranormalidade,
por exemplo, não está apenas nos fenômenos rocambolescos:
Nunca notaram um sonho futuro? Verem-se num lugar que já
estiveram numa disposição de alerta sem, de fato, terem estado lá
fisicamente no passado? Não me aprofundarei nisto, basta dizer
que a compensação é magnânima deveras quando e tão-somente
ao fazermos o Bem e sermos soldados da Verdade. De que vale
comer mais no xadrez se levaremos um mate? De que vale chutar
um cachorro de rua? De que vale termos tudo se esse tudo nos
gerou remorso, doenças e tristeza? O planeta está instável nesse
fim de dois mil e vinte e um. O Alasca registrou vinte graus de
temperatura (a mais alta de todas por lá), pessoas não se
vacinaram por cegueira e estão morrendo, viajar é algo cada vez
mais difícil e os países enfrentam crises sérias tanto energéticas
quanto com estoque e serviços. Tanto desequilíbrio brada por
socorro, cessar da indiferença, preocupação com o vizinho. Nossas
balanças têm pratos na diagonal, crianças amazonenses sem mãe
passam na tevê sem escola e passando fome (cuidando umas das
outras como podem) e o pai tem que trabalhar numa fazenda e não
deixa o suficiente para conta na venda, Putin faz um discurso
discorrendo sobre armas nucleares na Ucrânia, nosso cérebro é
atemporal (ou seja: Ele cria o presente com base no que trazemos à
tona). Se não nos disciplinarmos tudo piorará, se não tirarmos o
olho de nossa vaidade o que é ouro voltará ao chumbo, a sociedade
carece de seres humanos se capacitando, buscando o bom-senso;
nossa casa é nosso quartel-general (microcosmos) e é nela que
juntaremos roupas, regaremos as plantas, ajudaremos idosos na
sua higiene pessoal e locomoção, separaremos recicláveis,
leremos, direcionaremos nossos entes queridos, cuidaremos de
nossos bichos de estimação... Meu conselho é que quando ela
estiver forte e desenvolvida o suficiente levemos toda essa
voluntariedade para fora, em graus cada vez mais elevados.
Saiamos da teoria e ralemos o tanto que nos faz felizes. Menos
ociosidade, lazer e entretenimento sem toxidade exacerbada. Não
há outra saída. Essa queda de braço não está perdida.
*
O bicho de sete cabeças está em dar mingau para o bicho de sete
cabeças. Se você não quer uma montanha-russa desparafusada no
seu parque contrate um especialista para casa de máquinas; se
você não quer vender gás sendo um filósofo bom qual M.S. Cortella
abra mais livros que latinhas de soda ou outra bebida qualquer, se
você pretende surpreender alguém com romantismo pesquise antes
de comprar as flores, se você quer se superar em paciência ao
invés de contar até dez conte com um psicólogo, mestre tibetano,
Kramnik, com uma vela rosa, com seu esmalte caso seja mulher,
com seu cachorro abanando o rabo para passear, com o que for
menos com artifícios, vícios, problemas deixados para lá. O bicho
de sete cabeças mora no escuro, deixar-se ficar mais vinte minutos
na cama pode acaricia-lo e irritá-lo mais do que você imagina. O
bicho de sete cabeças gosta de confusões, fake-news, sala
desarrumada, de gente pedindo dinheiro toda hora, de negar o pão
ao faminto e a vara de pescar ao que quer muitos peixes. O bicho
de sete cabeças não se imiscui de percorrer cada lugar dessa
galáxia mas experimente ficar na beira de um lago tomando sol e
comendo umas lichias para ver se não o espanta, experimente ouvir
“música de velho” tal qual Roberto Carlos novo para ver se ele não
se apavora, experimente mais na culinária. Assista La Fênix de vez
em quando, pesquise sobre pandas, cartas de tarô, sobre poetas,
sobre o que ocorreu no século dezessete na Europa, sobre o que
você quiser para aguçar sua mente (não a deixar cinzenta,
enrugada, apática). O bicho de sete cabeças faz raízes onde você
nem imagina: Na intriguinha que tende a virar “intrigona” se não
extinta, na rasura do livro emprestado com súplica de ser
valorizado, no ensaboado sapo que é lidar com clientes de uma
loja. Saiba onde atingir o bicho de sete cabeças para que você não
corte um pescoço e surjam outras duas cabeças a mais: Dê-se
amor e dê o exemplo; escolha bom cinema, consulte cinéfilos; saiba
como funcionam as leis herméticas e o psiquismo do ser-humano;
se você é bom em números faça o dinheiro trabalhar para você sem
se esquecer que seu suor ainda é indispensável; dance mais, aceite
o que você não conhece, mas não repugna, corte a bola de vôlei,
deixe um pirralhinho vencer você uma vez na vida. O bicho de sete
cabeças terá ponto final? Só depende de sua atitude.
*
Pleno domingo e pleno no domingo. Não deve ter tido feira aqui na
frente do antigo mercadão municipal mesmo assim meu tio arrumou
uns milhos na feira da outra cidade. Dormir é um defeito que não
perdi (se não dormir o defeito é maior né?). Recolhi com o carrinho
de mão as mangas que começaram a dar tarde e,
consequentemente, cair também (isso às seis da manhã de hoje).
Mesmo com alguma musculação no meu trabalho eu transpiro
pouco. Meu réveillon foi assistindo A Grande Família (episódio do
enfarte do Beiçola e saudade dos personagens que já se foram),
assistindo uns clipes do Ferrugem e ao Multishow que escolheu
clipes com pegada emocional e sensual (foi tanta produção da
Globo que o Bolsonaro iria embora antes dos fogos se estivesse
comigo). No Rio de Janeiro parece que foram dezesseis minutos de
fogos, o grande mergulho no lago gelado da Itália não pareceu
coisa lá muito fria esse ano e os clipes com djs em paisagens
paradisíacas, ilhas, pernadas de garotas de biquíni nadando ficou
para noite junto de uma palestra sobre pensamento criativo e as
trilhas sonoras de Moulin Rouge, Pearl Harbor e por aí vai,
Poderoso Chefão incluso (dormira até as duas da tarde do dia
primeiro de janeiro e tive tempo para gastar depois no sabadão). O
que não se fala e muito se mistifica no Rito Escocês Antigo e Aceito
no grau trinta e três segundo o Rizzardo da Camino é que os
grandes representantes de Deus e da moralidade como Buda,
Maomé, Jesus, Confúcio, Hermes e por aí vai dão apenas
instruções formatadas em seus modelos de vida para os Soberanos
Inspetores Gerais... Não é algo que endeusa os maçons, porém os
cobra mais ainda as virtudes... Comentar que há sincretismo
religioso e diminuição desses líderes é pretensioso e absurdo
(acabei de ler esse livro que gostei muito). Trabalhei muito num dia
em que poucos trabalharam nesse dia dois e aí atrás narrei uns três
dias completos. Três dias foi também onde chegou a leitoa que
assamos.... Não aguento mais tanta carne de porco! Reclamações
fúteis à parte, encerrei a tarde desse domingo caminhando
forçadamente no início e de modo benfazejo do primeiro quarteirão
em diante. Estou feliz comigo mesmo não bebendo e deixando os
outros beberem e viverem melhor. Passei ante o Hospital 22 de
Outubro de máscara e vi a passarela, do outro lado, cheia de gente
(no beer, nos barzinhos, padoca), o Hospital estava com vários
carros também. Enfrentei uma andança com medo da chuva, uma
igreja cheia e outra mais ou menos cheia para eu contemplar... Mas
Deus não visa quantidade nunca. Pastéis e um croissant foram
minha janta comprada no Supermercado Lavapés. Estava tão
distraído que dei doze reais pensando serem quinze e nem notei
que eram trinta e três reais o valor total a me ser efetuado. Pedi
desculpas. Agora vou estirar as pernas. Ver se pinto as africanas
semi prontas em estilo impressionista depois de amanhã... Feliz
Ano Novo! Atrasado? Creio que mais cedo que atrasado de acordo
com a espessura do calendário...

Três semanas praticamente sem rede social. Às vezes penso em


voltar não fosse por me tomar tempo precioso, por ter algumas
coisas tóxicas e por aí vai. O Kindle Unlimited que passei a assinar
já está vencendo muito o gosto de comprar livros físicos, tenho mais
leituras novas e gratuitas que um escrivão teria se fosse traduzir
todos os livros religiosos do mundo (proporcionalmente “ler versus
escrever” aqui). Comprarei livros físicos mais tarde, claro. Qual todo
brasileiro espero algum entrar... gastei oitenta reais só em bobagem
no cartão de débito hoje (comida e bebida!). Já peguei quase cem
porcento o jeito de dirigir o Ka. Esqueço-me de ninharias tais quais
para-brisa de trás quando chove e só. Aliás chove e não chove em
minha cidade há quase uma semana. É casamento de viúva e
espanhol para não dar motivo para padre nenhum reclamar. Uma
bolha saiu no meu calcanhar, eu andei e ela acabou explodindo na
meia que ficou sangrenta e encardida a ponto de ter que jogar fora.
Tenho viagem para o Chile marcada para agosto desse ano, mal
posso esperar já que não conheço nem um torrão de terra desse
país. No xadrez de ontem me distraí e joguei fora o peão que
poderia me garantir empate... acelerar quando é para se concentrar
é o mesmo que o diabético tomar três milk-shakes e duas garapas.
As rádios cada vez menos “proseiam” com o ouvinte, com exceção
da Nova Onda e da CBN... Talk-Show da Jovem Pan o restante só
pensa em lucrar e tocar música que não gosto: Sertanojo, picirico,
uns caras barbudos morrendo pelo time, horóscopo, melosidade
desnecessária. Radio Gaga tem que procurar muito.
*

Sei que o pulso pulsa, que andamos o shopping inteiro atrás da


calça vermelha da minha mãe, que os espelhos das lojas me
deixam sexy. Tudo enfeitado lá fora, menos o preço para deixar o
carro ali. Já que o concorrente eliminou este fator eles o fizeram
também, na verdade. Flashs brancos na grande fachada piscando e
piscando às dezenas e parquinho para crianças brincarem de
gangorra. Uma noite limpa, mas não linda. Fumo pouco, como
muito tanto no self-service quanto na porção de frango à
passarinho. Cozinha mineira sem limão nem torresmo. Meu pai
toma três caneconas de chope. Comento na volta que Monteiro
Lobato era racista e machista ao passarmos pela escola de mesmo
nome do escritor. Se bem que hoje as crianças estão preocupadas
com vacina, não leem mais, o TikTok é sua política, estão mal-
educadas e menos precoces em tudo. Uma exceção é minha prima
que não faz nada errado e sua vida é estudar. Na escola pública,
pelo menos até antes da pandemia, tínhamos muitas exceções
também. Algum apoiador do governo brontossauro comenta que os
médicos fizeram dois anos de faculdade por vídeo-aula. As chuvas
estão encharcando cada estado, hoje de tarde caminhei mesmo
com garoa. Poucos saindo de casa, variante Ômicron matando sua
primeira vítima aqui no Brasil e se espalhando a ponto de São
Paulo cancelar o carnaval de rua. A cultura está farta, as deidades
estão em casa, são só suspiros, Netflix anda pesada (pelo menos
para mim). Meus pensamentos ficaram mais lights. Sem álcool eu
tenho desempenho de calouro de faculdade, tudo flui, tudo tem
força, equilíbrio e contato. Não me adianta mais escapar para os
mesmos lugares que meu inimigo decorou. A cada dia o degolo
sem piedade com uma espada de prata. Está até sem graça porém
notei que novos inimigos e mais fortes começam a espreitar. Não
quero amadurecer antes da época, passar pelas ruas, não ter para
quem telefonar. Onde estão todos? Será que vivem como viviam?
Creio que não. Foi bom sentar na praça sozinho com uma cerveja
zero e sentir a chuva aumentando, aumentando até eu ter que sair
e descer a rua de casa. Essa praça era badalada. Nada já
construído com muito dinheiro e planejamento desabou, quem sofre
é quem não planeja ou reboca e a chuva vem. Os muros do
cemitério daqui avançaram. Os seres investem na curva e são
atropelados. Teclas despencando, um transtornado gritando “pá,
pá, pá!” na pista, cachorros não amam os assovios que não são de
seus donos, quem não está trabalhando pode estar melancólico.
Primeiro cavamos para uma base... Não acham estranho a nossa
base serem os pés? E eles são em “éle”, não são quadriculares.
Tive quase um mal súbito agora há pouco e ia cair para trás não
fosse o apoiar-me atrás com um outro pé. Se irmos fundo as coisas
acabam tendo razão de existir, de suas formas, suas
características, instruções, condições e função...

Podemos ter dinheiro e absorver verdades inconvenientes que não


têm nada a ver com o clima. Podemos ter um braço quebrado e
organismo intacto. Podemos ver uma bobagenzinha e continuarmos
humildes. Podemos falar o que queremos ou apenas escutar o que
queremos e ambos são erros. Podemos mirar a manga e jamais
cairá coco. Temos que nos ludibriar menos e valer mais mesmo
isso custando mais caro. Não me despedirei dessa vida sem dar
meu impossível às lentes mais “sutis”. Quando o repertório pode
engasgar, quando algo pode nos descabelar à toa, quando
enxergamos nosso passado como um grande atentado às coisas
boas é hora de parar e rogar por paz. Três semaninhas me
dedicando a ser prestativo vinte e quatro horas por dia (pelo menos
umas oito) têm me deixado mais são, desimbuído de grandes
entraves filosóficos, mais contente e me quedo menos na
introspecção. Não é por ter um chinelo com folha de cannabis de
prata no topo que eu fumo ou fumarei maconha: Eu gosto da
maconha que cura e não da que deixa apenas “loucão”. A medicina
de hoje se presta a tantos avanços que a exploração de novos
tratamentos muito pesquisados e nada aleatórios isso resolverá
doenças e deixará legados. Quando quimeras ditam nosso
caminhar qualquer pedrinha no caminho é razão para topar ser feito
de trouxa. Quando o abraço tem energias densas por trás como
esse gesto é razoável? Compreender mais e compreender sempre.
Não recorrer à inquisição, tapas, beliscões, ressentimentos, boatos
ou vexames cujo principal culpado somos nós para que moinhos
movam. Abrirá um novo museu na minha cidade e isto me deixou
feliz folheando o jornal.

Fui percorrer alguns quilômetros na garoa fina. Em certa parte do


morro quis intensamente que a chuva desse trégua e ela ficou mais
fina. Pois andando mais um quarteirão ela se intensificou, quis de
novo com força que ela reduzisse e ela só engrossou. Voltei
contrariado. Minhas roupas pareciam saídas de uma piscina ao
adentrar minha casa. Hoje fiz a barba antes dessas peripécias, não
que barbudo fizesse diferença...

Tobias Hess estava certo ao trocar farra, lampejos juvenis, revolta,


ser um sanguessuga, preguiçoso ou ser maria-vai-com-as-outras
por se debruçar em livros e percorrer a senda do conhecimento,
autoconhecimento, gnose, hermetismo, platonismo, sociedades
centradas em espalhar o maná dos antigos e tantos outros ismos de
acordo com Deus, medicina oriental, ter apenas uma mulher e amá-
la e fazer aflorar nos seus colegas esse mesmo propósito.
Ele aprendeu isso na sua infância através de uma família
conservadora e vivenciando os testamentos desde cedo. E se
dedicou ao complemento do que havia na bíblia recorrendo a várias
literaturas vindas de fora durante sua passagem pela universidade
pública alemã até então casto e puro.
Ele poderia ser o número três ou quatro de sua classe, conceder-se
mais lazer, poderia querer um pouco dos glamoures, glutonices e
êxitos populares apresentados por reis e reitores da época, ser um
advogado mão-de-vaca e por aí vai. Mas não, foi um protestante
sem conspurcação e um hierofante sem se gamar ou impor,
rebaixar-se, perder-se. Foi o número um e fez seus adeptos o
copiarem. Ordenado posteriormente pastor. Inspirado por Paracelso
seguiu a mesma carreira em botânica, criando unguentos e poções,
explorando os metais e gases pela alquimia mais velho e com doze
filhos pode até se dedicar exclusivamente a isto (com clientes fixos
e eventuais). Foi muito ridicularizado quando jovem sem se deixar
enganar (era o famoso nerd dos dias de hoje). Mestre elogiadíssimo
pela sociedade rosa-cruz inaugural. Pilar da mesma. Curou muitos
sigilosamente (e sem lucrar exacerbadamente em cima destes).

A variante Ômicron é a mais contagiosa. Não é tão letal mas se


espalha pelo mundo em ritmo avassalador, às carreiras. Em sete
dias, com os números de ontem (onze de janeiro), ela pegaria mais
da metade da Europa na mesma ascenção diária. Aqui no Brasil até
em São Paulo (oitenta porcento da população vacinada)
cancelaram eventos com público tais quais carnaval e torcida em
esportes. O povo volta a trancar as portas das suas residências, na
rua o movimento caiu, é perigoso não se atentar, o filho de um
colega nosso teve a família inteira contaminada (sem grandes
revezes graças ao Criador), ainda chove e muito consonante a tudo
isso. O rochedo que despencou e matou todos os tripulantes de
uma lancha em Capitólio é retrato dessa má gestão da própria
natureza pelas prefeituras se bem que essa mesma pedra estaria
antes dez metros submersa. Entre esses pânicos de todos os
verões que precisamos principiar a dar foco e tomar guarda real
estão os pânicos do homem ignóbil: Estuprador que mergulha no
telhado e estraçalha as telhas de casa ao ser pego pela polícia,
desmaiando no andar de baixo com a queda. Ando pelas ruas e
ninguém mais conversa entre si. No meu barracão de serviço cedo
dois cigarros para o capinador novato, na loja de utensílios para
artesanato ganho duas tintas vencidas que ainda estão bem legais.
Nem tudo está perdido afinal. No xadrez com mais dois minutinhos
eu teria vencido de vez ou sido derrotado, contudo perdi por tempo.
Creio que perderia de qualquer forma pois dava para meu rival
cobrir o peão decisivo ainda mesmo ameaçado por bispo. Pus
minha boina e fui jantar com os noivos (meu pai e minha mãe
competindo para ver quem demorava mais a se arrumar). Porção
de filé mignon com torradas e pastéis. Chego e vejo um gato no
telhado. Pego a lanterna e ele já está no vizinho. Nenhum latido.
Meu pai pensa que a cerveja sem álcool é alcoólica e me bota em
dúvida. Mais tarde os cães latem e ele volta para o lado do outro
vizinho, mas só eu vejo de novo pois minha mãe corre tarde da sala
de estar. Gastei tanta tinta numa tela que fiquei enervado. Tirei o
excesso e pintei com pincéis e depois o dedo. Rosa e azul claro,
laranja e preto, verde e marrom cáqui, vermelho e azul real,
amarelo e verde água... Formas bem vaporosas e líquidas.
Chamarei de “Um dedo descobrindo a cor do céu”. Bem formidável
posto que estava cor de gosma (ou pior) nos exageros da sua
origem. Dormirei ouvindo Kraftwerk, “Minimum Maximum”.

*
O diabo da Ômicron está pegando todo mundo: O tiozão que com
duas doses estava melhor que passando longe das livrarias, o
bobão de trinta anos que era jovem demais para vacinar, a
bolsominion cuja geração de proteína antiviral iria matar. E, claro,
os cinco porcento que tomaram todas as doses e queriam respirar
melhor nunca usando máscara e os outros cinco porcento que
fizeram tudo direito.
Um sol de lascar. As pessoas nas ruas se derretiam ou supriam
com cerveja de botecos, caldos de canas, quem tinha piscina com
certeza nem quis saber de rua. Cheguei e quis ficar uma hora no
banho mas poupei água. Dor de cabeça dos infernos depois...
tomara sol e não era marca de cerveja. Um refrigerante de cola com
limão serviu para refrescar graças à Deus.
Um estrepe e um exame para “diabretes” depois (só que com
agulha de costura ao invés de equipamento médico) e a farpa sai
após gotinhas de sangue. E hoje nem trabalhei com marcenaria.
Minha gatinha Keith gosta tanto de pentear que sugeri à mesma
uma pintura de cabelos que ela respondeu “cai fora! ” miado.
Muitas trovoadas, quando penso que vão cessar emendando com
telepatia que ainda sou muito amigo das minhas ex-mulheres mais
trovões...
Quando meu pai aposentar ele disse que terei que trabalhar mais
ao invés de menos. Eu quero trabalhar igual sempre trabalhei,
todavia creio que trabalharei menos no domingo e mais durante a
semana para que isso se concretize. Poderia até me aposentar com
quarenta anos e fazer bicos de escritor, artesão, pedreiro ou
vendedor de cartões postais nos sinais só que eu dispenso (acho).
Uma coisa é certa: Sem labuta é igual a sem chances em qualquer
idade pois o corpo precisa de atividade mínima.

Com essa pandemia toda em que a cada hora é uma variante para
torrar a paciência o jeito é comer para aquecer a economia, não
correr atrás de fotografias e filmagens que vão contra a gente ou
mesmo sem as mesmas provas, não praticarmos qualquer tipo de
ostracismo pela tevê à cabo estar em dia (até porque ela transmite
nossos dias atuais), perder as calorias caminhando ou correndo por
vias vazias, confiarmos ou não em quem tem ou não tem o dedo do
meio da mão, esperar chegar o descanso já que férias mesmo só
no funcionalismo público e privado, saber que os pinguins batem as
asas devagar mas estamos apressando os mesmos, saber que toda
história mal contada acaba com o suspeito morto (quando não
suspeito e vítimas) mas com os principais culpados gargalhando e à
solta, fazer as barras nós mesmos ou costureiros que não querem
nos tirar “duas calças”.

Alguém na sala da casa da vó comendo salada temperada merece


uma cervejinha sem álcool ou suco de uva a menos que o dinheiro
não dê tendo ido embora em bolsas aladas.

Há muitos modos de jogar tênis. Vendo esse Aberto da Austrália


reparei nas táticas dos tenistas no programa “pelas quadras”. No
começo (etapa que peguei) o torneio se passa em quadras rápidas.
As azuis de borracha para ser mais específico. Ainda temos
jogadores que erram saques, que perdem de dois setes a zero e
etecetera. As partidas bonitas são a do cara que manda a bolinha
sempre no mesmo cruzado e depois muda, do que avança para
poder cortar com mais voracidade e perde tendo a bolinha
devolvida bem atrás, do que vai avançando aos pouquinhos e
conquista o que pretende, saques que dão pontos “de graça” de tão
bem realizados, raquetadas de efeito ou enganadoras, as que
batem exatamente na linha sendo impossíveis de devolver.

Consegui fazer uma bolha na mão tentando abrir um pote de brilho


para artesanato, ontem me peguei irritado por trabalhar demais, nas
minhas folgas o tempo para mim ser mais ou menos para mim, e
assim dá vontade de descontar em Deus e o mundo não ser mais
vagabundo, poder aprontar, sair a trezentos por hora do porto
seguro, entregar-se às paixões mais calientes, virar uma dose de
tequila flamejante às nove da manhã numa bodega de terceira.
Sujar camas de motéis fuleiros, jantar espetinhos, dirigir nas
paralelas do Belchior, chutar o balde. Na minha idade, na minha
maturidade, no meu contexto de agora, no entanto, esses
showzinhos perderam o sentido e são bem mais esmaecidos e
ridículos quando me veem. A alegria barulhenta, os amigos de
sensações e cadeiras camaleônicas, a luz dourada, as febres por
surpresas velhas, as luzes de latão, querer ser protagonista de um
surfe juvenil e malemolente indo-se por enxames de cigarras, a
tábula doce dão mesmo é arrepio e enxaquecas e é inútil pôr
colares de flores ou crédito num mamute. Só posso ter evoluído, a
medicação deve estar funcionando, a cruz fez efeito. Para que pisar
o pé na jaca quando podemos chupá-la gominho por gominho?
Para que fugir quando teremos que voltar e pagar em breve? Para
que raspar a cabeça quando o que queremos são tranças? Para
que, enfim, dar talheres, guardanapo e vez para encrenca? Para
quê? Não há razão, as chances são próximas dos centésimos.
*
Meu gato simplesmente parou de comer, não sei o que ele comeu
anteriormente que o fez passar tão mal ou se as causas são mais
graves. Estou arrasado, apesar de ser um gato meio brigão e
territorialista ele jamais me deu trabalho; nem para mim nem para
ninguém. Está tomando soro com as substâncias do fígado
alteradas. Possível doença da Lagartixa, mas quem é que garante
que ele não tenha caçado algo pior? Amanhã veremos se seu
fígado tem algum problema pior, ou se voltando para casa o
bichinho retoma suas refeições. Espero que não dê nada grave no
seu prontuário após o raio-xis e os remédios surtam logo efeito ou
iremos na opinião de outro doutor. Não é cabível um gato que há
três dias estava saudável hoje só querer dormir, e estar tão triste e
doente sem sabermos devido a que fato.

Comi um boi (quase literalmente) na churrascaria Chimarrão. Havia


ido na privada cedo e fui após o almoço novamente. Foi a
confraternização da minha mãe do sindicato no qual presta
serviços. Os trabalhos na quitanda estão bem regulares e até está
faltando hortaliças... Minha mãe não se lembrava disso já ter
ocorrido e eu vagamente de uma vez por causa de chuvas. Dessa
vez foi algo geral, na região toda da Baixa Mogiana. Não fosse meu
gato estar fraco eu estaria bem mais contente. Este pandemônio de
pandemia tem que passar. Eu me pergunto se os políticos da
terceira via terão chances na hora dos debates daqui pouco menos
de um ano. Passou no Datena também uma cozinha com pisos
claros e escuros cheia de alçapões para maconha e cocaína. Não
eram nem mesmo baldes cheios de ilícitos e sim verdadeiros túneis
azuis. Eu tento ser otimista, juro, mas hoje um professor ainda me
disse que reprovaria setenta e quatro alunos que nunca fizeram
nada e os superiores dele falaram que ele ia perder as férias caso
fizesse isto e não permitiram. O metaverso facilita muito a busca
dos buscadores da verdade, da luz, consciência que dá razão ao
corpo que se habitua e melhora suas experiências. A única coisa
que discordo nisso tudo são aulas sem professor presente,
cadernos e exercícios regulares. O aluno precisa ser ninja para
realizar exercícios de física e matemática, química assim num mero
documento de Word sem contar nas casas em que mal tem energia
elétrica ou muitos para pouquíssimos aparelhos digitais e com
internet ruim. Além disso o incentivo ao sedentarismo é maior. Não
me recordava como o cantor Keane cantava, me empreitei em
mídias do You Tube mais ou menos raramente acessadas e gostei.
As muitas chuvas e o friozinho no Natal enganaram-nos se formos
matutar que no Rio de Janeiro a sensação térmica passou dos
cinquenta graus dia desses e no Rio Grade do Sul dos quarenta.
Agora que não sinto mais falta de bebidas alcoólicas nem
fermentadas nem destiladas e muitíssimo menos de mal destiladas
vou dar um jeito de botar freios no tabagismo. Esse mal, o do
cigarro, é um desejo meu fumar bem menos. Não recorrerei aos
eletrônicos pois essa história de não sujar os pulmões de fuligem é
história para boi dormir.

Sono picado, alguma leitura sobre os conhecimentos em nós e a


diferença de níveis desses conhecimentos em cada um, varri o
quintal, pessoas usando o fato de crianças novas, tipo um menino
de um ano, morrerem de Covid agora para depois dizer que antes
não morriam (ou seja, só estão morrendo disso supostamente por
terem que vacinar logo), uma piscina na vaga de estacionamento de
uma conveniência, encontro molduras bem chamativas num armário
com itens antigos, meu gatinho pode ter que tratar diabetes e se se
confirmar a doença da lagartixa ele irá para uma especialista em
gatos na cidade vizinha (não sabem ainda o que ele tem), ponho a
psicóloga para semana que vem e creio que levarei a proposta de ir
a sessões mais prolongadas em distância umas das outras,
descobri apenas essa semana que temos outro cemitério em Mogi-
Mirim e que ele fica no Morro Vermelho dois.

Meu sono de ontem para hoje foi com uns sonhos estranhos além
de pegar-me ouvindo um pano cair sem motivo aparente na pia da
cozinha e levando um copo junto, pressões e golfadas nas portas-
janelas fazendo bastante burburinho, achar que tinha mais alguém
acordado e não haver. Os sonhos seguiram essa lógica de meu
cunhado e irmã trazerem gente para casa de madrugada. O
segundo foi bem nada a ver comigo montando um laboratório e
centro de pesquisa de algumas pedrinhas vindas do espaço e
voando para estações espaciais... As pedrinhas tinham algum
atributo especial que se relacionava à vida em outros planetas. Eu
dirigia essas imagens até o mais inteligente passar a dirigir comigo
dentro. O geólogo-mor.
Os conhecimentos que temos são os motores (de saber utilizar
nosso veículo biológico), utilitário (que se refere às habilidades e
talentos que uns têm para isso e outros para aquilo: Saber pescar,
trabalhar com madeira ou lenha, se guiar numa floresta, arcabouço
em procedimentos e técnicas médicas ou jurídicas, a costura, a
cozinha, a limpeza de ambientes, a arquitetura de prédios e por aí
vai) e o transcendente ou metafísico (espírito, alma, aspiração,
centros energéticos, telepatia, doutrinas, sexto-sentido, misticismo,
outros planos, simbologia, etecetera).
Com as molduras antigas vou criar peças de artesanato ou
realizarei colagens em quadros, vasos. Não sei ainda mas vou
reaproveitá-las.
Não vejo a hora de ver meu gatinho conosco novamente.
Decidirei sobre meu tratamento mental com diálogo e exercícios e
relaxamento na próxima consulta ou até lá.
Nunca passei pelo outro cemitério da minha cidade nem o vi de
frente (também não tenho a abelhudice necessária).
E sigamos no clima “fervoroso” que faz.

Teoria da conspiração de que neto de Sílvio Santos entrou no Big


Brother para detonar o programa, uma artista rasgando um desenho
relativamente bom no Tik Tok, poder centrar-se e subir aos céus
para relaxar com o poder da visualização, mais e mais casos de
Ômicron, reclamação pertinente de que insistência testa nosso saco
(no caso de vendedores, telefonistas de empresas e por aí vai),
comer croquetes de sabores variados e experimentar pimenta que
leva cachaça ao invés de vinagre, finalmente eu poder visitar meu
gato internado... A plantinha que rompe a terra e demonstra que a
mãe natureza é eterna e o homem pode ser um abismo centrífugo
de boçalidade, saber que uma veste talar dá poder e vai até os
calcanhares e no caso de um reitor ou reitora são chamados
chimarra (também usam colar reitoral e bastão além de serem os
únicos a poderem pôr o capelo branco). Só informações, risadinhas,
músculos esticados, burocracias pesadas, alpiste para o século do
“convencimento”, fome matutina, e, claro, alguma uniformidade dos
dedos com a minha personalidade...

Fim de semana com chuva que não para. Não é boa ideia sair para
rua nem se molhar à toa. Começou hoje de manhã novamente, mas
os três dias em que nos poupou deram para meu tio o direito (e
dever) de trazer umas boas caixas grandonas de verduras da feira
do Guaçu. A perua estava mesmo abarrotada, dos vidros não se via
espaço sem nada e até o fundo tinha quatro caixotes de plástico
empilhados lado a lado num total de doze. O movimento não nos
deixou chorar também. Nessa manhã enquanto no resto do mundo
se jogava a final da copa da África, comemorava a final das quadras
rápidas de tênis da Austrália, nevascas, black-flags, suavização das
medidas sanitárias ou não aqui o pessoal iria preparar queijinho
com manjericão e tomatinhos, recompor a geladeira e afins. Até o
cãozinho Raul foi lá e ficou bravo com minha tia que pegou ele que
nem “nenê” e ainda chamou de nenê. Meu avô como sempre bem
arrumado e em sua poltrona ouvindo seus filhos, a televisão, quem
ia papear com ele e protegido das gotículas d’água. Na Record
News de ontem à noite passou o drama da fronteira amazônica com
o Paraguai: O EPP (Exército do Povo Paraguaio) cometia
sequestros de brasileiros ricos, reivindicava a reforma agrária,
socialismo, colaborava com tráfico de armas e drogas e formava um
governo paralelo na mata. Os entrevistados relataram que o
movimento deles diminuiu pois em suas fileiras marchavam famílias
pequenas, algumas crianças viviam na Argentina e os menos
jovens com eles. Pais e mães (o pai e comandante com camisa do
Che) gravando fitas e trocando mensagens nos seus vídeos.
Famílias divididas entre Argentina (para onde fugiram os mais
velhos e crianças) e a selva (onde ostentavam fuzis e armas,
bandeiras do movimento, uniformes camuflados, frases tiradas de
sua filosofia). O caso mais divulgado de crime cometido por eles foi
de quando conseguiram quinhentos mil dólares num sequestro de
filho de empresário brasileiro. Um fazendeiro morador de
cidadezinha à beira da Amazônia contou que já teve que se fingir de
morto no rio para que eles o deixassem em paz em confronto com
ele e colegas (ele até hoje recebe escolta do exército do Paraguai
quando faz suas atividades afastadas da fazenda). Eu noto que na
América do Sul as realidades são extremamente díspares, apesar
de abusos do governo, empresas estrangeiras explorarem nossos
recursos há quem se salve nisso tudo e gere emprego, renda,
ocupação, portas, serviços e exportações para nosso povo. Há
também quem só queira acumular e dar alicerce para a indignação
verdadeira. América do Sul: Boa mesmo para quem é sacudido e
faz sua vez ao invés de reclamar ou faltar com a própria palavra.
Aliás, assim é no mundo inteiro.

Eu guardo gravuras meio equidistantes umas das outras: Caso


algumas queimem outras não viram cinzas. A minha solução para
vida é bolar planos de carnaval, saber a hora de me aproximar,
trazer numa mão uma luva e na outra uma balança, transformar o
milho em sopa, as batidas da bateria em cicatriz, o beco do
desânimo no horizonte verde. Eu tenho meu macete. Devolvo o
olho torto e tonto que espocou sem porquê de um graveto
comprido. Subo, se a desventura pedir, entre duas paredes. Quanto
apito, quanto rumor de desaprovação, quantas bagagens abertas
no meio do passeio público, a pomba voa atrás do poste pichado, o
órfão de todo esse sistema de fazer abobrinha e da pura baboseira
babona, de joelhos, chora nos seus braços, oh Deus! Já que o
choro é livre, já que o cidadão pode ir e vir, já que é domingo e
chove, chove, chove, já que o sol nascerá ardendo nas veias do céu
sua valentia acinzelada, salubre. Quero que os amigos não se
desentendam, dos pães nem as migalhas apodreçam, quero abrir a
cortina do teatro como quem não quer nada e assistir à peça,
contido qual quem chegou ao ápice e vê a adrenalina cansar.
Puxando a meada rubra damos no mapa, pelo mapa nos damos
conta que aqui não é aqui e direita é também esquerda. No quarto
dos sofridos estão também as assombrações doidas, relógio de
calar ponto-fraco, medicina beijo na bunda, pela mesa do bistrô as
formigas não sobem, a gravata do apresentador não é a mesma do
padrinho evangélico brincalhão, quantos nomes começam com a
letra ene? Ou pê? Ali a explosão é controlada, os átomos combinam
quem já era e quem permanece, não rola um tijolo sem ser
mandado... as redondezas não têm com que se abalar. Em nós a
destruição de algo empresta um pouco do todo atemporal talvez.

Meu gatinho regressou ao lar. Não come ainda, mas belisca. Pesei-
me com ele, a diferença: Cinco quilos e meio. Farejou os sofás,
mais ciumento com a outra gata, minha mãe disse que está ainda
com o cheiro da clínica. Passeia, bisbilhota, está esperto. Quem
está mais carente com o outro, ele ou minha mãe não se sabe.
Miando um cadinho menos ...Deve ter gastado muitos miados na
jaula de espera das nossas visitas...

Temos que ter para dar. Com a meteorologia, quando trabalhamos


com agricultura, saímos na frente. Agora, com mais alfaces, é mais
cômodo, temos para vender. Ontem vi na tevê que são dezenove o
número de mortos em desbarrancamentos só em São Paulo. No
nosso país, um país com recursos bem escassos, quando cai “um
toró” é ruim para muita gente. Hoje de manhãzinha lembrei de uma
vez que pousamos eu e uns colegas na casa de uma amiga e eu fui
o primeiro a acordar, fui até a janela e fumei o cigarro que tinha
sobrado ali. Resultado: Todos passamos a manhã sem cigarros por
minha causa, e de ressaca e bebendo Velho Barreiro. Hoje minha
disposição para desagradar meus pais não é tanta assim mais.
Deus ajuda quem cedo madruga, certo? Quem trabalha de
madrugada nesse caso já estaria mais que feito e ajudado se isso
fosse preferencial. Deus ajuda mesmo quem se ajuda. Quem faz
fortes ou estende o banco de areia quando a maré é para cheia. Ele
deve querer que acordemos para cuspir, não em horário xis ou
ípsilon.

Fiquei uma cara sem escrever esses dias e lembrei ontem, mas
estava sem vontade. Assunto ralo, hibernação, apontar os grafites
de desenho manual (fiz o Sherlock Holmes e um peixe Marlin),
perder no xadrez por não deslocar o cavalo na última casa contra
dois peões de casas de cantinho avançando (dei bobeira pois tinha
um peão para ser promovido no meio não encurralassem meu
cavalo antes de eu ter essa ideia). Aguei as plantas, desenvolvi um
Saci Pererê, um mágico e um submarino tipo aplique de biscuit...
Sobrou massa e usei todo esse resto numa estátua de Buda. Hoje
não ajudei a descarregar o caminhão na horta, buscaram os
produtos o motorista e um funcionário então deixei quieto. A chuva
está dando enguiçadas mais longas e pude fugir um pouco das
teias de aranha indo no supermercado e andando em círculos. Não
quero saber muito quem manda no mundo (um centésimo dos
ricaços segundo uma you-tuber), nas férias do Habbo Hotel com
emblemas novos nem de parar de construir minhas tranqueiras.
Mas terei que erguer menos tranqueiras e aí verei os tais emblemas
talvez. O carro da minha mãe teve um rombo na parte da gasolina e
ficou mil e quinhentos o conserto e demos sorte dela não ter botado
fogo no carro com as faíscas que saem ao dirigir. Meu gato anda só
na dele e magro, um ambulante conhecido me cumprimentou e
fazia aniversário hoje... Mentira ou não dois cigarros ele merecia.
Nesta quarta quase todos da chácara foram ao dentista, meu tio,
minha tia e meu pai... Minha mãe gastou pepitas de ouro na boca
há alguns meses e olhou o caixa na ausência deles. Uma semana
de filme de terror? Na Dinamarca está como se a pandemia nem
tivesse existido. Na China duas bolhonas para os jogos olímpicos...
Donos do mundo, carro velho só que não em chamas, mandíbulas
em salas de espera (e em cadeiras compridas), gato mais ou
menos, magrelo comemorando com dois cigarros e Cinquenta e
Um, economizar nas esculturas para ainda ter casa para morar,
estratégia boba melhor que perder, “ô-micão”.

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