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CLASSICISMO E QUINHETISMO

17/02/22

HISTÓRIA DA LITERATURA DE LÍNGUA PORTUGUESA

(https://www.ricardocosta.com/cronologia-da-peninsula-iberica-379-1500)
GRANDES CONCEITOS DA LITERATURA PORTUGUESA

RELAÇÃO DA ARTE PORTUGUESA COM A ARTE DA PENÍNSULA ITÁLICA


HUMANISMO (1434-1527)

FIDALGO Esta barca onde vai ora, DIABO Vejo-vos eu em feição


que assi está apercebida? para ir ao nosso cais...
DIABO Vai para a ilha perdida,
e há-de partir logo ess'ora. FIDALGO Parece-te a ti assi!...
FIDALGO Pera lá vai a senhora? DIABO Em que esperas ter guarida?
DIABO Senhor, a vosso serviço. FIDALGO Que deixo na outra vida
FIDALGO Parece-me isso cortiço... quem reze sempre por mi.
DIABO Porque a vedes lá de fora. DIABO Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
FIDALGO Porém, a que terra passais? E tu viveste a teu prazer,
DIABO Pera o inferno, senhor. cuidando cá guarecer
FIDALGO Terra é bem sem-sabor. por que rezam lá por ti?!...
DIABO Quê?... E também cá zombais? (...)
FIDALGO E passageiros achais
para tal habitação?
FIDALGO A estoutra barca me vou. Venha a prancha e atavio!
Hou da barca! Para onde is? Levai-me desta ribeira!
Ah, barqueiros! Não me ouvis? ANJO Não vindes vós de maneira
Respondei-me! Houlá! Hou!... para entrar neste navio.
(Pardeus, aviado estou! Essoutro vai mais vazio:
Cant'a isto é já pior...) a cadeira entrará
Oue jericocins, salvanor! e o rabo caberá
Cuidam cá que são eu grou? e todo vosso senhorio.

ANJO Que quereis? Ireis lá mais espaçoso,


FIDALGO Que me digais, vós e vossa senhoria,
pois parti tão sem aviso, cuidando na tirania
se a barca do Paraíso do pobre povo queixoso.
é esta em que navegais. E porque, de generoso,
ANJO Esta é; que demandais? desprezastes os pequenos,
FIDALGO Que me leixeis embarcar. achar-vos-eis tanto menos
Sou fidalgo de solar, quanto mais fostes fumoso.
é bom que me recolhais. (...)
FIDALGO Ao Inferno, todavia!
ANJO Não se embarca tirania Inferno há i para mi?
neste batel divinal. Oh triste! Enquanto vivi
FIDALGO Não sei porque haveis por mal não cuidei que o i havia:
que entre a minha senhoria... Tive que era fantasia!
ANJO Pera vossa fantasia Folgava ser adorado,
mui estreita é esta barca. confiei em meu estado
FIDALGO Pera senhor de tal marca e não vi que me perdia.
nom há aqui mais cortesia?
CLASSICISMO (1527-1580)

Transforma-se o amador na cousa amada,


por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minh’alma transformada,


que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,


que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia:


e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
OS LUSÍADAS

As armas e os barões assinalados,


Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valorosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

PRINCIPAIS EPISÓDIOS
QUINHENTISMO (1500-1601)

A CARTA DE CAMINHA

A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de
mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. (...)

O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar
de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. (...) Entraram. Mas não
fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs
olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o
colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e
assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também
houvesse prata. (...) Viu um deles umas contas do rosário, brancas; acenou que lhes
dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no
braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como
dizendo que dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as
contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar.
E depois tornou as contas a quem lhas dera. (...)

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito
pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão
limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.
(...)

Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem
galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem
comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as
árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós
tanto, com quanto trigo e legumes comemos. (...)

E, segundo que a mim, e a todos pareceu, esta gente não lhes falece outra coisa para ser
toda cristã, senão entender-nos (...)

Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o Sul vimos até outra ponta que
contra o Norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela
bem vinte ou vinte cinco léguas por conta. (...)

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal
ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é muito bons ares, assim frios e temperados,
como os de Entre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de
lá. (...)

Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.

Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta
deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (...)

E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer cousa
que de vosso serviço for, Vossa Alteza há-de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que,
por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -
o que d'Ela receberei em muita mercê.
Como o ENEM cobra isso?

QUESTÃO 1 - ENEM 2012


LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

(CAMÕES, L. Obra completa.)


A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes,
participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos

A) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e


pelos adjetivos usados no poema.
B) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes
da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema.
C) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio,
evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no
poema.
D) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção
artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
E) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior,
evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
QUESTÃO 2 - ENEM 2013

TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e
daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que
viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e
cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que
todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que
lhes davam. [...] Andavam todos tão bem-dispostos, tão
bem feitos e galantes com suas tinturas que muito
agradavam. (CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de
Caminha)

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de


Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se
que

A) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações


artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética
literária.
B) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação
é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
C) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a
gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
D) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —,
cumprem a mesma função social e artística.
E) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes,
produzidas em um mesmo momento histórico, retratando a colonização.
QUESTÃO 3 - ENEM 2013

De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro,
nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de
muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar
esta gente. (Carta de Pero Vaz de Caminha)

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra.
Nesse trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo:

A) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.


B) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa.
C) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente.
D) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superioridade europeia.
E) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.

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