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ROTEIRO – AUTO DA BACA DO INFERNO

PERSONAGENS
ANJO - LÍVIA CORRÊA
DIABO – SOFIA BACAN
Companheiro do DIABO - IASMIN D. S. SILVA
MULHER RICA - NATHÁLIA G. TEBALDI
AGIOTA - LUCAS SERRA DOS SANTOS
PARVO – BEATRIZ BOITTO
SAPATEIRA - LAVÍNIA SERRA DOS SANTOS
PADRE – PEDRO B. RODRIGUES
ADVOGADA - LETÍCIA RODRIGUES
BRÍGIDA VAZ – ISABELLE M. VIEIRA
POLÍTICO - GIOVANNA MACIEL
Quatro CAVALEIROS - LETÍCIA SATELIS, FELIPE PRIMO, NICOLAS GIULICE.
THAYANE MACHADO.

No presente auto, se imagina que, no momento em que acabamos de expirar, chegamos


subitamente a um rio que, por força, devemos cruzar em uma das duas barcas que naquele
porto estão. Uma delas leva ao Paraíso; a outra, ao Inferno. Cada barca tem um barqueiro na
proa: a do Paraíso, um anjo; a do Inferno, um diabo e seu companheiro.
O primeiro que surge é um Fidalgo, que chega com um pajem que lhe segura a longa cauda do
manto e carrega uma cadeira.
E começa o barqueiro do Inferno, antes que o Fidalgo chegue.     

DIABO – (ao companheiro)         


Venham, venham todos para a barca!
Já é hora de partir!
VAMOS AO INFERNOOOOOO!
Mas que beleza de barca, hein!!
Coloque balões, bandeiras
Pois hoje é festa, e essa barca vai encher!
Quem quiser vir que venham logo1
COMPANHEIRO DO DIABO – Vamos, vamos!
Louvores a Belzebu!
(vendo uma mulher rica que se aproxima)
Oh! Poderosa Enriqueta!
Você por aqui? Que coisa é esta?

Entra a MULHER RICA.


                            
MULHER RICA – Para onde vai essa barca que está partindo?

DIABO - Vai para a ilha, danada!


E há de partir sem demora.

MULHER RICA- Você também vai para essa ilha?

DIABO - (corrigindo irritado)


“VOCÊ”, não!... SENHOR...

MULHER RICA - Isso parece um cortiço. Uma bagunça (com deboche).

COMPANHEIRO DO DIABO - Não, não. É só porque você a viu de fora.

MULHER RICA - E qual o destino desta barca?

DIABO - Para o inferno, oras.

MULHER RICA - (irônica)


Hum! Lugarzinho ruim, não?!

DIABO - Você veio aqui zombar, foi?


MULHER RICA - E você? Por um acaso tem passageiros?

DIABO - HAHAHA! Eu posso encontrá-los aqui neste cais!

MULHER RICA - Mas esse lugar não é para mim, não mesmo.

DIABO - E PORQUE SERIA A OUTRA??

MULHER RICA - Eu deixo na outra vida


Quem reze sempre por mim.

DIABO- Quem reze sempre por ti?


hahahahaha
Tu viveste tão segura de si
Pensando aqui ter perdão porque lá rezam por ti?
Embarque já! Aqui é seu lugar!

MULHER RICA – (apavorada) – E aquela outra barca ali? Para onde vai?

DIABO – Vá até lá perguntar!

MULHER RICA – (dirigindo-se à barca do Paraíso)


(gritando para o Anjo que está na barca)
Olá! Algum barqueiro por aí?

 ANJO – (aproximando-se)
Sim...
MULHER RICA– essa barca vai ao céu?

ANJO – Sim, é esta. O que você quer?

MULHER RICA – Que me deixe embarcar.


EU SOU MILIONÁRIA (grita)
E é bom que me deixe entrar, pois tenho muitas posses, muitos empregados...

ANJO – Desculpe, mas aqui não embarca tirania e nem ganância.

MULHER RICA – Tem certeza que não tem nenhum lugarzinho para mim?

ANJO – Uma personalidade como a sua?


Que valoriza tanto os bens materiais?
Encheria toda a minha barca! Você não cabe aqui.

(a mulher rica retorna para a barca do inferno triste)

MULHER RICA – Eu não acredito que termina assim! Passei a minha vida inteira explorando
os mais pobres para me dar bem. Não é assim que termina.

COMPANHEIRA DO DIABO – Mas, então, entre logo! Vamos aproveitar a maré calma.
Essa brisa tão gostosa...

MULHER RICA – NÃO! espere... Ainda há pessoas que me amam e morreriam por mim.

DIABO – Morrer por te amar???


MULHER RICA – Disso eu tenho certeza!

COMPANHEIRA DO DIABO – Tolinha... Tão fanática! Passou a vida inteira olhando para o
próprio umbigo. É a pessoa mais burra que eu já vi HAHAHAHAHA

MULHER RICA – O AMOR DELES É VERDADEIRO

COMPANHEIRA DO DIABO – Eles não amam a você, e sim o seu dinheiro!

DIABO – CHEGA! Entre logo, está me fazendo perder tempo! Vamos, vamos.

DIABO – À barca, à barca, senhores! (Arrastando a mulher rica)


VENHAM TODOS PARA A BARCA!

MULHER RICA – (tristemente conformada)


Ao inferno!
Ó triste!
Enquanto vivi não pensei que ele existia, pensei que era fantasia.
Gostava de ser adorada, e não vi que me perdia.

DIABO – CALADO! Vem chegando novos passageiros.

Carregando uma bolsa, vem um agiota, alguém que explora com juros abusivos aqueles que
precisam de dinheiro emprestado. Aproxima-se da barca do Inferno e diz:

AGIOTA – Para onde essa barca está indo?

DIABO – Oh!
Meu querido parente!
Por que demoraste tanto?

AGIOTA – Eu nem queria ter vindo...


Mas morri cobrando “impostos”
E na hora dos lucros, morri. E acredita que não consegui trazer NADA?

DIABO – Ora, que pena...


Mas não há tempo mesmo.
Entre logo! Estamos de partida.

AGIOTA – Mas afinal, para onde vão?

COMPANHEIRA DO DIABO – Para o inferno. Onde você deve ir!

AGIOTA– Hummmm.... Eu acho que alguém me chamou ali do lado, calma aí

(dirige-se à barca do Anjo)


Ó da barca! OUUUUUU!
Está na hora de partir? (tenta entrar...)

ANJO – E quer ir para onde?

AGIOTA – Eu vou pro paraíso, oras pois.

ANJO – Você não pode entrar.

AGIOTA – E por que não??


ANJO – Sua ganância iria encher o barco!

AGIOTA – Mas eu não trouxe dinheiro!

ANJO – Já não falo de dinheiro, mas, de seu coração! Passou a vida inteira emprestando e
cobrando dinheiro com juros altíssimos! Fazendo agiotagem barata! Aqui não é o seu lugar.
Aquela é a sua barca!

Agiota – olá...

DIABO – olha quem voltou...

AGIOTA – Mas eu trago uma proposta! Me deixe voltar para trazer todo dinheiro que eu
conseguir, não posso entrar assim de mãos vazias...

COMPANHEIRO DO DIABO – Cale a boca! Pare com essa algazarra, entre logo nessa barca!

ONZENEIRO – (entrando, vê a mulher rica, tira o gorro em sinal de reverência e diz:)


Dona Carmen Almeida Campos!
A senhora por aqui?

MULHER RICA – Seja gentil comigo!


Com quem pensas que estás falando?

DIABO – (interferindo abruptamente na conversa e dirigindo-se a mulher rica)


O quê? Ser mais gentil contigo?
Quem pensa que é?
Fiquem quietos ou logo darei uma porrada em vocês.

Vem Joana, uma mulher fazendeira, isto é, simples, sem malícia. Aproxima-se da barca do
Inferno e diz ao DIABO:

JOANA – Ô da barca!

DIABO – Quem é?

JOANA – Irineu. Esta barca é nossa?

DIABO – De quem?

JOANA– Dos burros.

DIABO – SIM, é sua. Entre

JOANA – Ah, fiquei doente do nada e de repente morri.

COMPANHEIRA DO DIABO – Morreu de que?

JOANA – De quê?
Acho que de caganeira.

DIABO – De quê?

PARVO – De caga-merdeira!
COMPANHEIRA DO DIABO – Ah, meu Deus! Que tonta.
JOANA– Mas, para onde essa barca vai?
DIABO – PARA O INFERNO, ÓBVIO!
JOANA – PARA ONDE?
DIABO – PARA O INFERNOOOOOOOO, A TERRA DE LÚCIFER
JOANA – AH, a terra dos cornos, dos chifrudos, dos fracassados e dos cornos?
DIABO – EU NUNCA TINHA PENSADO NISSO!
JOANA– Será que esse é o meu lugar?

(dirige-se à barca do Anjo e diz:)


Ó moçá, posso entrar?

ANJO – você quer?

JOANAA– Ah, passei a vida inteira trabalhando, ajudando meu pai, cuidando das minhas
vaquinhas, e ainda sou pobre. Ajudei todos e respeitei, mas todo mundo me chama de burra!

ANJO – Se quiser você pode entrar, pois você falou verdades. Sua simplicidade é o bastante
para entrar.

JOANAA – Ah, que bom

Entra a sapateira, carregando o avental, as forminhas e os instrumentos de trabalho,


aproximando-se da barca do Inferno.

SAPATEIRA – Olá?! Ó da barca!

DIABO – Olá sapateira... Quanta coisa está trazendo!

SAPATEIRA – Me mandaram vir assim...


Mas para onde é a viagem?
DIABO – Para a terra dos danados, é claro!

SAPATEIRA – E quem é confessado, onde entra?

DIABO – Vamos parar de enrolar, porque este é o seu lugar!

SAPATEIRA – Está doida? Não quero nem da barca nem do embarque!


Como pode isso ser?
Morri como se deve morrer,
Confessado e comungado! Eu sou evangélica! Ia à igreja todo domingo

DIABO – Vamos parando... Você pode até ter se confessado,


Mas e todos os roubos que não contou?
Você roubou o povo! Sendo desonesta durante 30 anos!

SAPATEIRA – E as missas que assisti não valem nada??

DIABO – De nada valiam! Pois depois das missas você roubava muito mais.

SAPATEIRA – E as ofertas que fiz?

COMPANHEIRO DO DIABO – E o dinheiro desonesto?


Seu caminho é por aqui, ande logo!

SAPATEIRA – eu não vou entrar ai de jeito nenhum!

 (vai à barca do Anjo e diz:)


 Oh, da santa caravela,
Deixe-me entrar

ANJO – (apontando para as coisas que ele carrega)


Carregando tudo isso? Não! Aquela ali é sua barca.

SAPATEIRA – Mas são só umas forminhas, eu deixo ali no cantinho mesmo.

ANJO – (apontando a barca do Inferno)


Não basta só dizer amém, você tem que ter coração puro e boa alma.

SAPATEIRO – (irritado)
VOCÊ QUER QUE EU VÁ PARA O INFERNO?

ANJO – O que posso fazer? Teu nome está nos registros infernais!

SAPATEIRO – (angustiado) volta para a barca do inferno


O que posso fazer? Se esse é o meu destino...

Vem um FRADE trazendo pela mão uma Moça chamada Florença. Na outra mão,
carrega um pequeno escudo e uma espada. Por baixo do capuz, tem um capacete de combate.
Vem todo alegre, fazendo passos de dança e cantarolando.

PADRE– A paz do senhor, irmãos! Eu quero ouvir um aleluia. ALELUIA?

DIABO – (aproximando-se)
O que faz por aqui padre?
Entre nessa barca! Vamos fazer uma visitinha ao inferno.
FRADE – Eu? Eu vou para o céu! Tenho minha entrada garantida.

DIABO – Seu lugar é o inferno! E aquela mulher que deixas em sua casa sabes bem disso, não
é, danado?

FRADE – Que mulher? Ela apenas limpa a minha casa.

DIABO –E aqueles favores que você pede a ela?

FRADE – São pelo aluguel.... Ela tem que pagar de alguma forma!

COMPANHEIRO DO DIABO – Aaaah, padre safado! Fez tudo isso no Santo Convento??

FRADE – Santo Convento?? Século 21, não existe Santo Convento!

COMPANHEIRO DO DIABO – Pare de nos enrolar padre, entre logo nessa barca!

FRADE – Não, não... Tenho vaga garantida na outra barca

DIABO – Aaah, essa eu quero ver!

O padre se ajeita e se aproxima da barca do paraíso cantando a música “Ave Maria”

Padre – Aveeee Mariaaaa, aveeeee maaaarrriiaaaaa

Deo gratias! Há lugar


Para minha reverência?
E a senhora Florença,
por ser minha, pode entrar?

PARVO - (aproximando-se)
Opaaaa, não tem espaço para você aqui não!

FRADE – (desesperançado, pois o Anjo nem responde)


Como não??

PARVO – Padre que é pecador vai para o inferno!

FRADE – Opaaaaaaa, não não, eu nem sou pecador!

PARVO – O senhor mesmo dizia nas missas que se um padre tivesse relações com uma mulher
não iria para o céu.

PADRE – Mas eu sou uma exceção!! Tenham misericórdia de mim, eu imploro!

COMPANHEIRO DO DIABO – Deixa de conversinha padre safado! Venha para o inferno (e


então o companheiro do diabo começa a puxar o padre para a barca do inferno)

Vem chegando um político bobo e sem noção, entra pulando e cantando

POLÍTICO – UUUUUUUU MARIA DO BAR 2022


VOTE MARIA DO BAR 2022

DIABO – Olá irmão! Quanta coisa está trazendo!


POLÍTICO – Pois é... Isso é o que eu mais gosto! Dinheiro. Porque eu sou uma política, a
representante do povo.
Então o dinheiro do povo deve ficar comigo, é claro.
COMPANHEIRO DO DIABO - Mas que preciosa essa política...

POLÍTICO – Para onde vai essa barca?

COMPANHEIRO DO DIABO – Ao inferno, não há problemas, certo?

POLÍTICO – É o que? Não quero coisa com o diabo!


Só de ser política mereço o paraíso!

DIABO – Você merece as trevas!

POLÍTICO – Cruzes! Não serei condenada!


Eu tenho direito a imunidade parlamentar!

DIABO – Ai como me cansam! Você está no inferno, criatura burra!


Você quer saber se seria condenada? Você seria condenada sim!
Acha que não sabemos da corrupção?
Das milícias? Do nepotismo?
De todo o dinheiro que roubou?
ENTRE LOGO NESSA BARCA!

POLÍTICO – Não zombem de mim! Fiquem sabendo que eu fui chefe do exército, uma grande
militar, venci muitas guerras, lutei contra os militantes da ditadura.
EU MEREÇO O CÉU!

DIABO – Ora, grandiosa política, nos mostre todo esse talento!

A política joga para o alto muitas notas de dinheiro


POLÍTICO – O que você acha disso agora?

COMPANHEIRO DO DIABO – Ah, que belos feitos! Alguém volte com isso aqui e compre
para mim uma camiseta do Corinthians!

POLÍTICO – Eu vou a Santa Caravela, aquele sim é o meu lugar.

POLÍTICO – Olá?Oi?..O da barca?!

PARVO – Aaar, veio numa hora ruim, né moça?


De onde saiu todo esse dinheiro?

POLÍTICO – Ora, foram tantas propinas, dinheiros desviados que nem sei de onde saíram.

ANJO – Ah, então pelo que vejo não há o que fazer.


Aquela é a sua barca.

Político – eu não posso te oferecer outras coisas?

ANJO – Honestidade não se compra. Dê meia volta.

DIABO – Finalmente! É sempre a mesma coisa, nem sei por que ainda tentam. Entre logo!

Depois que a política embarca, vem BRÍSIDA VAZ, uma prostituta. Chegando à barca do
Inferno, diz:

BRÍSIDA – Oie, tem alguém aí?

DIABO – Quem é?
BRÍSIDA – Brísida Vaz.

DIABO – (dirigindo-se a Brísida)


Pode entrar, pegue o remo e...

BRÍSIDA – Não quero entrar nessa aí!

DIABO – (irônico)
Por quê? Você vai entrar na outra?

BRÍSIDA – Essa barca não é para mim.

DIABO – E o que você traz consigo?

BRÍSIDA – O que me convém levar.

DIABO – O que é que haveis de embarcar?

BRÍSIDA – Muitas falsas virgindades


Muitas mentiras, traições
Várias joias e todas as coisas que eu quiser.

DIABO – (mostrando a barca)


Então já pode entrar.

BRÍSIDA – Sai fora, eu vou para o paraíso!

DIABO – E quem te disse isso?

BRÍSIDA – Eu tive uma vida sofrida!


Quantas bofetadas eu levei, quantos insultos!
E mesmo assim ajudei muitas garotas.
SE EU FOR PARA O INFERNO TODO MUNDO VAI!

DIABO – Então pode vir todo mundo hahahaha!

BRÍSIDA – Aquela barca é o meu transporte!

Chegando à barca da Glória, diz ao ANJO:

BRÍSIDA – Olá, eu sou a Brísida Vaz. Com licença, deixe-me entrar

ANJO – Não sei quem te trouxe aqui, mas dê meia volta!

BRÍSIDA – Eu te peço de joelhos! (ajoelhando-se)


Procure bem nessa lista, sou eu, Brísida Vaz.
Aquela que dá o pão de cada dia as menininhas
Quantas obras divinas eu fiz!
Converti diversas garotinhas e todas encontraram dono.

ANJO – (apontando a outra barca)


Pare de nos importunar!
Mulher não é mercadoria
Eu sei que você sofreu, mas não houve arrependimentos
Pelo contrário, quantas outras garotinhas você arrastou para o seu nível.
Aquela é a sua barca e ponto.

BRÍSIDA – você tem que me levar (de joelhos)

ANJO – (com firmeza)


Xo, xo, pare de nos importunar!

Volta BRÍSIDA VAZ à barca do Inferno, dizendo:

BRÍSIDA -  Estou aqui, pode me levar!

DIABO – Ora,  entrai, minha senhora,


Se tivestes uma vida santa, logo terá recompensas!

Assim que BRÍSIDA VAZ embarcou, vem uma ADVOGADA. Chegando ao batel dos danados,
diz ao DIABO:

ADVOGADA– Olá?

COMPANHEIRO DO DIABO – O que quer?

ADVOGADA – Eu sou uma advogada! Mulher da lei.

COMPANHEIRO DO DIABO – Quantas coisas você traz consigo!

ADVOGADA – Ah, são os processos de direito penal.

COMPANHEIRO DO DIABO – Pois entre, darei uma olhada nestes casos!

ADVOGADA – E para onde me levaria?

DIABO – (com ironia)


PARA O INFERNO ORAS
Advogada (indignação) – Ao inferno? Há de ir uma advogada?

COMPANHEIRO DO DIABO– Não todos, mas você sim!

ADVOGADA– Isso não é nada justo! PROTESTO!

COMPANHEIRO DO DIABO – Justiça??Pare logo com essa conversinha e entre logo na


barca, pois a sentença já foi dada

ADVOGADA– (olhando para dentro da barca)


Não, muito obrigada! Renego a viagem e renego o marinheiro
E EU EXIJO QUE VENHAM ME TIRAR DAQUI

DIABO (gritando)
VOCÊ NÃO PODE EXIGIR NADA NESTE LUGAR

ADVOGADA – eu não entrarei nesta caravela

DIABO – E por que não?

ADVOGADA – Eu sou uma advogada

DIABO – Vamos logo sua falsa militante, nos poupe das palavras difíceis e entre logo nessa
barca.

ADVOGADA – Eu sempre agi com justiça! O senhor me conhece? Lembra de mim?

DIABO – você agiu com malícia advogada


JÁ CHEGA, POIS JÁ ESTOU PERDENDO A MINHA PACIENCIA

ADVOGADA – eu não irei entrar aqui

DIABO – JÁ CHEGA!
VOCÊ ENRIQUECEU ÀS CUSTA DOS POBRES
COM TIRANIA
RETIROU DOS PEQUENOS
VOCÊ NÃO OS ATENDEU!
SE NÃO TEMEU Á DEUS EM VIDA
AQUI É OSEULUGAR

ADVOGADA – eu vou tentar ali na outra barca

DIABO – CHEGA DE CONVERSA


VOCÊ AO MENOS SE CONFESSOU?

ADVOGADA – EU BEM QUE ME CONFESSEI, MAS NÃO TIVE CORAGEM DE FALAR


DOS MEUS ROUBOS

DIABO – roubos? Vocês estão vendo? Ela não teve coragem de falar de seus “roubos”
ESTÁ CONDENADA
POR QUE AINDA EXITA EM ENTRAR?

ADVOGADA – por favor anjo angelical deixe-me embarcar

ANJO – Eu não! Você foi corrupta com todos!

ADVOGADA – tenha piedade deixe-me passar


ANJO – teu nome está na lista do diabo

ADVOGADA – ah, vou ter que entrar nessa barca, não há o que fazer!

Música para a entrada dos cavaleiros


Vêm Quatro CAVALEIROS cantando e cada um traz a Cruz de Cristo. Por Ele e pela expansão
da santa fé católica morreram os cavaleiros em poder dos mouros. Vêm absolvidos de culpa
por privilégio que têm os que assim morrem, outorgado por todos os Sumos Pontífices da Santa
Madre Igreja. E a cantiga que cantavam é a seguinte:

CAVALEIROS – À barca, à barca segura,


barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Senhores que trabalhais
pela vida transitória,
memória, por Deus, memória
deste temeroso cais!
À barca, à barca, mortais!
barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Vigiai-vos, pecadores,
que, depois da sepultura,
neste rio está a ventura
de prazeres ou de dores!
À barca, á barca, senhores,
barca muito enobrecida,
à barca, à barca da vida!
E passando diante da barca dos danados assim cantando, com suas espadas e escudos, dirige-
se a eles o barqueiro da perdição, dizendo:

DIABO – Cavaleiros, vós passais


para onde? Não dizeis?

CAVALEIRO 1 – E vós, Satã, que quereis?


Olhai bem com quem falais!

CAVALEIRO 2 – E vós que nos perguntais


sequer conheceis quem vem.

CAVALEIRO 3 _ Morremos lutando nas Cruzadas.

CAVALEIRO 4 _ E não queirais saber mais.

DIABO – Entrai cá? Que coisa é essa?!


Eu não posso entender isto!

CAVALEIRO 1 – Quem morre por Jesus Cristo


não vai em barca como essa!

Prosseguem os CAVALEIROS cantando, em direção à barca da Glória. Quando chegam, diz o


ANJO:

ANJO – Ó cavaleiros de Deus,


a vós estou esperando,
que morrestes pelejando
por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo o mal,
mártires da Madre Igreja,
que quem morre em tal combate
merece paz eternal!

E assim embarcam os CAVALEIROS.

FIM.

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