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BARROCO

Débora Finamore
CARACTERÍSTICAS
• Culto do contraste
• Conflito entre o mundo material e espiritual
• Fusionismo
 tentativa de conciliar polos opostos (razão e fé)
 Ser e não ser
• Consciência da efemeridade do tempo
 carpe diem / vita brevis / tempus fugit
• Intensidade e exagero
• Cultismo
• Conceptismo
linguagem
• vocabulário rebuscado
• gosto pelas inversões sintáticas
 hipérbato
• emprego excessivo de figuras de linguagem
 metáfora
 antíteses
 paradoxos
 sinestesias
 hipérboles
Cultismo Conceptismo
– jogo de palavras – jogo de ideias
– uso abundante de – sutilezas de raciocínio
figuras de linguagem  analogias
 silogismos (raciocínio dedutivo:
geral => particular)
 sofismas (raciocínio falacioso)
AUTORES DO BARROCO

Gregório de Matos Pe. Antônio Vieira


(1636-1696) (1608-1697)

• poesia sacra • sermões


• poesia lírica
• poesia satírica
Gregório de Matos
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
O
Se basta a vos irar tanto pecado,
CR

A abrandar-vos sobeja um só gemido:


Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
SA

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, já cobrada,


Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História.

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;


Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
A Maria de Povos, sua futura esposa

Discreta e formosíssima Maria,


Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca, o Sol e o dia:

Enquanto, com gentil descortesia,


LÍ R
O ar, que fresco Adônis te enamora,
Te espalha a rica trança voadora
Da madeixa que mais primor te envia:
ICO
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo troca, e a toda a ligeireza
E imprime a cada flor uma pisada.

Oh, não aguardes que a madura idade


Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
SATÍRICO
A cada canto um grande conselheiro, Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Que nos quer governar a cabana, e vinha, Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Não sabem governar sua cozinha, Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
E podem governar o mundo inteiro. O velhaco maior sempre tem capa.

Em cada porta um frequentado olheiro, Mostra o patife da nobreza o mapa:


Que a vida do vizinho, e da vizinha Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa:
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Quem menos falar pode, mais increpa:
Para a levar à Praça, e ao Terreiro. Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

Muitos Mulatos desavergonhados, A flor baixa se inculca por tulipa:


Trazidos pelos pés os homens nobres, Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Posta nas palmas toda a picardia. Mais isento se mostra o que mais chupa.

Estupendas usuras nos mercados, Para a tropa do trapo vazo a tripa,


Todos, os que não furtam, muito pobres, E mais não digo, porque a Musa topa
E eis aqui a cidade da Bahia. Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Pe. Antônio Vieira
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar
a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava
roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão
mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim.
— Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós,
porque roubais em uma armada, sois imperador?
Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com
pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca,
que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e
outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco pone latronem et piratam,
quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o Rei de Macedônia, ou
qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei,
todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
(Fragmento do Sermão do bom ladrão)
Ora suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o
disse: perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos
logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó;
em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos
dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó
levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda, os
mortos são pó que jaz: Hic jacet. Estão essas praças no verão cobertas
de pó: dá um pé de vento, levanta-se o pó no ar e que faz? O que
fazem os vivos, e muitos vivos. (...) Não é assim? Assim é. E que pó, e
que vento é este? O pó somos nós: Quia pulvis est: o vento é a nossa
vida. Quia ventus est vita mea. Deu o vento, levantou-se o pó; parou o
vento, caiu. Deu o vento, eis o pó levantado; estes são os vivos. Parou
o vento, eis o pó caído; estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos
pó; os vivos pó levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com vento,
e por isso vãos; os mortos pó sem vento; os mortos pó sem vento, e
por isso sem vaidade. Esta é a distinção, e não há outra.
(Fragmento do Sermão da Quarta-feira de Cinzas)
GREG PROIBIDÃO
A UMA FREIRA QUE, SATIRIZANDO A
DELGADA FISIONOMIA DO POETA,
LHE CHAMOU "PICA-FLOR"

Se Pica-Flor me chamais,
AO GOVERNADOR Pica-Flor aceito ser,
ANTÔNIO LUÍS Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Sal, cal, e alho Metei a flor que guardais
caiam no teu maldito caralho. No passarinho melhor!
Amém. Se me dais este favor,
O fogo de Sodoma e de Gomorra Sendo só de mim o Pica,
em cinza te reduzam essa porra. E o mais vosso, claro fica,
Amém. Que fico então Pica-Flor.
Tudo em fogo arda,
Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda.
A SEGUIR...
ARCADISMO

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