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PARA MULHERES
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SHAKESPEARE – CONTO DO INVERNO (Ato III, Cena II)
HERMÍONE— Já que quanto eu pudesse ora dizer-vosconsistiria apenas no
protesto contra essa acusação, não me amparando E nenhuma testemunha, afora
eu própria, quase não me aproveita declarar-me “Não culpada”. Uma vez que está
estimada minha virtude como hipocrisia, quanto eu viesse a dizer, do mesmo modo
será interpretado. Apenas isto: se os poderes divinos se interessam pelos atos
humanos, como o fazem, não duvido de que minha inocência fará corar a acusação
indébita e tremer, ante a calma, a tirania. Vós, meu senhor, sabeis perfeitamente —
conquanto simuleis ora o contrário — que toda minha vida foi tão pura, tão leal e
casta, quanto desgraçada presentemente sou, mais do que todos os exemplos da
história, sem excluirmos os casos de invenção postos em cena, para abalar o
público. Ora vede-me: companheira de leito de um monarca, tendo direito a parte
igual no trono, filha de um grande rei e mãe de um príncipe esperançoso,
compareço à barra de um tribunal, para falar acerca da honra e da vida, ante
qualquer pessoa que me deseje ouvir. A vida, estimo-a como dor, que de grado
evitaria; quanto à honra, é herança que transmito aos meus. Por isso, defendê-la me
proponho. Senhor, apelo para vossa própria consciência. Antes de haver a vossa
corte Políxenes chegado, não me achava na vossa graça, e digna não me tinha dela
sempre mostrado? E, após sua vinda, por que conduta extraordinária, acaso, me
mostrei censurável, para, agora, ser citada a esta côrte? Se os limites da honra
ultrapassei de um fio, apenas; se por ações ou pensamentos a isso me sentisse
inclinada, endurecido torne-se o coração dos que me escutam, e que as pessoas
que me são mais próximas a pelo sangue me insultem sobre o túmulo.
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SHAKESPEARE – MACHBETH (Cena I, ATO VII)
LADY MACBETH– Encontra-se embriagada a esperançaque até há pouco vos
revestia? Adormeceu, decerto, desde então e acordou agora, pálida e verde a
contemplar o que ela própria começara tão bem?
Desde este instante para mim teu amor vale isso mesmo; tens medo de nos atos e
coragem mostrar-te igual ao que és em teus anelos? Queres vir a possuir o que
avalias como ornamento máximo da vida, mas qual poltrão viver em tua estima,
deixando que um “Não ouso” vá no rasto de um “Desejara”, como o pobre gato de
que fala o provérbio?
Que animal foi, então, que teve a idéia de me participar esse projeto? Quando
ousastes fazê-lo éreis um homem, e querendo ser mais do que então éreis tanto
mais homem a ficar
viríeis; Lugar e tempo então não concordavam; no entanto desejáveis ajeitá-los; e
ora que se acomodam por si mesmos, essa boa vontade vos abate! Já amamentei e
sei como é inefável amar a criança que meu leite mama; mas no momento em que
me olhasse, rindo, o seio lhe tirara da boquinha desdentada e a cabeça lhe partira,
se tivesse jurado, como o havíeis em relação a isso.
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SHAKESPEARE – SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO (Ato I, Cena I)
HELENA— Como é possível que a felicidade possa reinarem tal desigualdade! Em
toda Atenas sou considerada tão formosa quanto Hérmia; mas a nada quer
Demétrio atender. Ele, somente, ver não pode o que enxerga toda a gente. Erra ele
ao se deixar pender do lindo semblante de Hérmia, tal como eu, caindo em igual
erro, prendo o coração na sua compostura sem senão. As coisas baixas, sem valia
alguma, de crassas deixa o Amor leves qual pluma. O Amor não vê com os olhos,
mas com a mente; por isso é alado, e cego, e tão potente. Nunca deu provas de
apurado gosto; cego e de asas: emblema de desgosto. Eterna criança: eis como é
apelidado, por ser sempre na escolha malogrado. Como os meninos quebram
juramentos, perjura o Amor a todos os momentos. Assim Demétrio, quando Hérmia
não via, me granizava juras noite e dia; mas ao calor do seu formoso riso
dissolveu-se de súbito o granizo. Da formosa Hérmia vou contar-lhe a fuga. É
certeza: no bosque ele madruga, para segui-la. A mim essa notícia vai ensejar de
vê-lo a hora propícia. Se o vir na ida e na volta, de corrida, feliz me considero e
enriquecida.
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SHAKESPEARE – ROMEU E JULIETA (Ato III, Cena II)
JULIETA– Correi, correi, corcéis de pés de fogo,para a casa de Febo. Um
condutor como Faetonte vos teria há muito tocado para o poente e, na mesma hora,
trazido a noite escura. Espalha tua cortina, ó noite, guarda dos amores, porque os
olhos curiosos nada vejam e a estes braços Romeu se precipite, de manso e sem
ser visto. Os namorados enxergam no ato do amoroso rito, pela própria beleza; ou
então, se é cego, de fato, o amor, diz bem com a negra noite. Vem, noite
circunspecta, com teu manto de matrona severa, todo preto, e me ensina a perder
uma partida que já está ganha e em que se jogam duas virgindades sem mancha.
Ao rosto sobe-me o sangue tímido; em teu manto envolve-o, até que o amor
esquivo, já se tendo tornado corajoso, só inocência veja no ato do amor sincero e
puro. Vem, noite! Vem, Romeu! tu, noite e
dia, pois vais ficar nas asas desta noite mais branco do que neve sobre um corvo.
Vem, gentil noite! vem, noite amorosa de escuras sobrancelhas! Restitui-me o meu
Romeu, e quando, mais adiante, ele vier a morrer, em pedacinhos o corta, como
estrelas bem pequenas, e ele a face do céu fará tão bela que apaixonado o mundo
vai mostrar-se da morte, sem que o sol esplendoroso continue a cultuar. Comprei a
casa de um amor, sem estar na posse dela; vendida embora me ache, possuída não
fui ainda. Tão tedioso e lento é este dia, tal como a noite em véspera de alguma
grande festa para criança impaciente que tenha roupa nova, mas não possa vesti-la.
Oh! aí vem a ama. (Entra a ama, com cordas.) Traz novidades, sim. Todas as
línguas que só sabem dizer Romeu, Romeu, falam com eloquência celestial.
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SHAKESPEARE – RICARDO III (Ato I, Cena II)
ANA –O quê? Tremeis? Haveis medo? Pobre de mim, nãovos posso censurar, que
sois mortais, e os olhos dos mortais não podem sofrer o maligno. Vai-te de ante
mim, temeroso ministro dos infernos! Tão só sobre seu corpo mortal tinhas poder; a
alma, essa, não a podes ter; por isso, vai-te. Demônio imundo, vai-te por amor de
Deus, e não nos atormentes; que da terra feliz fizeste o teu inferno, encheste-a com
gritos de maldição e com profundos clamores. Se te deleitas em contemplar teus
feitos odiosos, põe os olhos neste exemplo de tua carnificina. Oh, senhores! Olhai,
olhai as feridas do Rei Henrique sem vida abrindo bocas congeladas e de novo
sangrando. Vergonha para ti, vergonha, ó tu, massa informe de sórdida
disformidade, pois que é tua presença que aqui faz verter o sangue das veias
geladas e vazias onde o sangue já não tem morada! O teu feito inumano e contrário
à natureza provoca este dilúvio contrário a toda a natureza. Oh, Deus! Tu que
criaste este sangue, vinga a sua morte. Oh, terra! Tu que bebes este sangue, vinga
a sua morte. Ou que os relâmpagos dos céus se abatam sobre o assassino, ou que
a terra se abra e de súbito o devore, tal como tu, ó terra, sorves todo o sangue deste
bondoso Rei que seu braço comandado pelo inferno tão cruelmente matou.