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COMPONENTE CURRI CULAR:

FILOSOFIA

APOSTILA DE FILOSOFIA 1ºsemestre

Organização:
Prof. José Claudemir Borges
O que é Filosofia?
Capítulo 1

Pense um pouco e responda: indagações e


TRABALHO DE PESQUISA – reflexões e
10,0
1. Você saberia dizer o que é
Filosofia?
2. O que seria ter uma
Atitude Filosófica?

Muitos filósofos dedicaram


boa parte da vida tentando
responder o seria a filosofia? No
entanto, uma definição fechada,
específica e precisa do termo
Filosofia é im- praticável, pois
qualquer formula- ção poderia
Equivoco: Inter- induzir a erros ou a equívocos.
pretação incorre- A palavra Filosofia é a junção
ta; engano por de dois termos gregos: filos ou
má interpretação
philia
- que significa
amor fraterno,
amizade - e
Indagação: Ato sofia ou sophia,
ou efeito de per- que significa
guntar, investi-
gar, pesquisar.
sabedo- ria.
Assim, o senti- do
etimológico da
palavra Filosofia
seria amor à sa-
bedoria ou amor
pelo saber.
Desse modo,
filósofo não é aquele que detém
o saber, e sim aquele que ama e
busca a sabedoria, que tem
amiza- de e desejo pelo saber.
No entan- to, a Filosofia não é
apenas a pura razão, ela é a
procura da verdade.
A filosofia não é um conjunto
de conhecimentos, mas para
além disso. Ela nos leva a uma
inquieta- ção, uma atitude ou um
posiciona- mento diante da vida
e do mundo. Essa inquietude
conduz a uma sé- rie de
filoso- fia, o
também à não aceitação do ób- vio. A tudo Indagador que
isso, chamamos de atitude filosófica. agora passa a
Engana-se aquele que pensa não haver ser chamado de Filósofo, deve
espaço para a filoso- fia no cotidiano. Nosso manter uma postura crítica.
dia a dia é permeado de questões filosó- ficas, O indagar, a atitude crítica,
desde a mais simples até as mais complexas. a reflexão crítica, levam o ser
Um exem- plo disso, são os debates sobre a que os pratica a uma outra
pena de morte, o levantamen- to de questões condi- ção. As redescobertas
sobre o desma- tamento e questões feitas po- dem gerar o
relaciona- das com os direitos humanos, tudo agradável espanto do novo,
isso passa pelo espaço como também deses- tabilizar
filosófico. o individuo em todas as suas
A indagação filosó- fica certezas.
geralmente parte de bases
simples, funda- mentos básicos
que, por vezes, são intocados por ¹in CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 1995
parecerem óbvios demais. Na
É por isso que a filosofia nem curiosidade é elemento funda-
sempre teve boa aceitação em mental para a filosofia.
alguns países ou entre algumas Na introdução da obra Mundo
pessoas mais conservadoras. de Sophia, o escritor Jostein
Seu compromisso em estimular o Gaar- der, disse: " A capacidade
pen- samento crítico e dar a de nos surpreendermos é a
oportuni- dade de que cada um única coisa de que precisamos
tire suas próprias conclusões para
sobre as situ- nos tornarmos bons

O Pensador - Rodin/ 1902 - Bronze e Mármore


ações de sua filó- sofos (...). E agora
vida, da políti- tens que te decidir,
ca, da Sofia: és uma criança
socieda- de, que ainda não se
sobre as habituou ao mun- do?
outras Ou és uma filósofa que
pessoas, pode pode jurar que isso
incomo- dar nunca lhe acontecerá?
àqueles que ...Não quero que tu
não têm per- tenças à categoria
interesse em dos apáticos e dos
deixar o pensamento livre e indiferen-
crítico ganhar espaços em nossa tes. Quero que vivas a tua vida
socie- dade. de forma consciente."
Alguns importantes pensadores Assim podemos afirmar que a
e escritores, dentre eles Rubem atitude filosófica seria a “decisão
Alves, afirma que devemos ter es- de não aceitar como naturais,
pírito de criança para que ób- vias e evidentes as coisas,
possa- mos exercer nossa plena as ide- ais, os fatos, as
capaci- dade filosófica, isso situações, os va- lores, os
porque a cri- ança busca saber comportamentos de nos- sa
coisas novas e se espanta diante existências cotidiana; jamais
do novo. O ado- lescente, aceita-los sem antes havê-los
público alvo do ensino médio in- vestigados e compreendido”.²
também é curioso e essa
A historia em quadrinhos com a personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino. Ao
questionar o mundo, Mafalda se aproxima da atitude filosófica.

As inquietações de Mafalda põem os adultos para pensar.

PERGUNTAS DO HOMEM COMUM PERGUNTAS DE UM FILÓSOFO


Que horas são? O que é o tempo?
Ele está sonhando? O que é o sonho?
As flores são bonitas O que é o belo?
Você está mentindo? O que é a verdade? O que é o erro?
O que é a mentira?

Fazer perguntas como as citadas acima diz respeito à atitude da


filo- sofia. Com estas perguntas o filosofo busca investigar conceitos,
abor- dando-os de forma crítica e reflexiva.

²in CHAUÍ, Marilena. Iniciação a Filosofia. 2010. p17.


LEITURA COMPLEMENTAR
“Nós, [homem comum] que vivemos aqui, somos os bichi-
nhos microscópicos que
vivem na base dos pêlos do coelho. Mas os filósofos
ten- tam subir da base para a ponta dos finos pêlos, a fim
de po- der olhar bem dentro dos olhos do grande
mágico.³”
No livro O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder expõe uma
si- tuação figurativa para explicar o que é ser filósofo e o
que o
diferencia do “homem comum”. Para tanto, ele nos trás o
exemplo de um mágico que retira de sua cartola um
coelho que simboliza o mundo. Nos pelos desse coelho
existem “bichinhos microscópicos”, alguns residem na
base dos pe- los, são os homens comuns, ou seja, pessoas
que estão cos- tumadas com o mundo em que vivem,
estão na escuridão da base dos pelos, não se perguntam
sobre o mundo e estão acomodadas no conforto da
pelagem do coelho, aceitando, assim, as coisas como são.
Elas não se questionam, portan- to, por que as coisas não
são diferentes do que se apresen- tam a elas, tendo como
verdades, principalmente, o que ve- em e o que ouvem.
O filósofo, por sua vez, sobe da base para as pontas
dos pelos do coelho em busca da iluminação do
conhecimento que lhe permite questionar o mundo em que
vive, ou seja, a filosofia existe para fazer questionamento
que os “homens comuns” não fazem.

Exercitando o que deu


aprend
1. Afinal o que é filosofia?

2.Você acredita que a Filosofia pode mudar a vida das pessoas?

3.Qual o significado da palavra filosofia?

4.O que é a atitude filosófica?

5.Quais as características da atitude filosófica?

6.Porque nem sempre a filosofia é aceita entre as pessoas?

7.Dê exemplos de perguntas filosóficas

TESTE DE FILOSOFIA -10,0


4in GAARDER, Jositein. O Mundo de Sofia. Adaptado
O Nascimento da Filosofia

Capítulo 2
A filosofia, como a entendemos Tales, Pitágoras, Heráclito e
hoje, tem seu início no século VI Xe- nófanes que, na época,
a.C., na Grécia Antiga. O concen- travam seus esforços
nascimen- to da filosofia pode ser em tentar responder
entendido como o surgimento de racionalmente às
uma nova ordem do pensamento, questões da realidade
comple- mentar ao mito, que era humana. Numa época em que
a forma de pensar dos gregos. pratica- mente tudo era
Uma visão de mundo que se explicado atra- vés da
formou de um con- junto de mitologia e da ação dos
narrativas contadas de ge- deuses, esses pensadores
ração a ge- bus- cavam, em pensamentos
ração por lógi- cos e racionais, explicar
séculos e qual a fundamentação e a
que trans- utilidade dos valores morais na
mitiam aos socieda- de da época.
jovens a Também queriam identificar as
experiência características do
dos an- conhecimento puro, as origens
ciãos. Essa das coisas e dos fatos e
passagem outras indagações que surgiam
no entanto, confor- me o caminhar
ocorreu durante um longo intelectual da época.
processo histórico. Poderia ter Numa época em
surgido em qualquer lugar, mas que praticamen-
naquele mo- mento da história te.
diversas coisas ocorriam para que Hi s t o r i c a
ali fosse seu co- meço. - mente, a
A Grécia Antiga vivia um Filoso- fia como
momen- to de auge de sua cultura. conhe- cimento
O comér- cio com outros povos se inici- ou com
trouxe conhe- cimento. A Tales de Mileto,
produção artística era muito ativa. o primei- ro
Havia os jogos olímpi- cos. A filosofo oci-
linguagem, moeda e tecnolo- gia dental que bus-
(de arquitetura e militar) tam- bém cou explicar a (624 a 546 a.C)
marcaram esse período. existência por
Os primeiros pensadores a se- meio de um
principio único.
Tales de Mileto
rem chamados de filósofos foram Considerado o primeiro Filosofo
Grego, afirmava que a origem de
todas as coisas era a água.
2.1. Condições históricas para o aos gregos uma situação
surgimento da Filosofia financei- ra mais igualitária, o
A filosofia não surgiu de uma prestígio soci- al que antes era
benefício de ape-
dia para o outro, o pensamento nas algumas famílias diminuiu,
filosófico é resultado de um pro- assim como o prestígio que deti-
cesso gestado ao longo dos nham. As artes ganharam
tem- pos. patroci- nadores, estimulando
Vejamos agora alguns dos assim o sur- gimento de novos
fato- res que contribuíram para o artistas.
surgi- mento da filosofia. Invenção da escrita alfabética
Invenção do calendário - - O uso do alfabeto fez com que
Os gregos aprende- os gregos se expressassem de
ram que era forma mais clara, colaborando
para
que suas ideias fossem me-
possível contar lhor compreendidas e difundi-
o tempo das das pelo mundo afora, levan-
es-
tações do ano, do a sabedoria as pessoas.
definindo quan- Invenção da política - Com
do e de que a invenção da politica
for- ma surgiram novas fontes de
aconteciam informação, a
as mudanças lei passou a abranger muitas
do
clima e do dia, outras coisas e chegou até as
notando que o pessoas, criou-se uma área
tempo passava por transforma- pública vol-
ções espontaneamente e não tada para
por intervenções divinas. discursos e
Invenção da moeda - Os debates, lo-
gre- gos aprenderam a arte cal no qual
de negociar, não mais se os gregos
efe- tuava a venda de uma debatiam e
mer- cadoria propagavam
aceitando como suas ideias
pagamento a troca por mer- a respeito
cadoria semelhante, o paga- da política. A política estimula um discurso que
mento tornou-se monetário, ou procura ser público, ensinado,
transmitido, comunicado e
seja, a moeda substituiu o poder discutido.
de troca.
Surgimento da vida urbana -
O desenvolvimento da cidade
trouxe
LEITURA COMPLEMENTAR
A filosofia nasceu do espanto
Certo dia um menino chamado Saber abriu os olhos e viu que
a Terra era um pequeno planeta, perdido na imensidão do caos.
O pequeno filósofo passou, então, a contemplar os pequenos
seres que Deus havia criado com tanta paixão. E admirando-se,
então, das coisas estranhas à sua volta, começou a formular as
mais variadas perguntas:
OBSERVATÓRIO
-Por que os astros se movimentam?
-O que é o ser?
-Quem é o homem?
-Qual o sentido da vida?
Ao nos concentrarmos nas perguntas formuladas pelo
pequeno sábio, vemos que não podem ser respondidas
cientificamente, o que as tornam perguntas irrespondíveis.
Portanto, o estado de admiração diante das novas e que o
pe- queno sábio não consegue compreender, chamamos aquilo
de es- panto.
O espanto, pois, é o inicio do filosofar. E o filósofo, por sua vez,
é um perito na arte de espantar-se.
A filosofia nasceu da admiração dos gregos diante daquilo
que não compreendiam.
E porquê o espanto? Porque é este sentimento de
admiração, que o Homem experimenta ao confrontar-se com as
coisas e os acontecimentos, que determina o aparecimento de
interrogações. Do espanto nasce a interrogação, característica
essencial da atitu- de filosófica. Possuidor de espírito critico, o
filosofo é assaltado pela dúvida, pois sabe que o habitual e o
que pensa conhecer, po- de não ser mais do que uma ilusão. É
por isso que o que a muitos de nós parece óbvio continua a ser
problemático para o filósofo, continua a espantá-lo e a dar
origem a questões que se renovam constantemente.

Exercitando o que aprendeu TESTE

1.Onde e quando surgiu a Filosofia?

2. O que tentavam responder os primeiros filósofos?

3. Quais fatores contribuíram para o surgimento da filosofia?

4. Quais perguntas fizeram os primeiros filósofos?

5. Quem foi o primeiro filósofo a ver a filosofia como uma forma de conhecimen-
to?

6.Qual o principio de todas as coisas segundo Tales de Mileto?

7. Como a invenção da politica influenciou o surgimento da Filosofia?


Mito e Filosofia
Capítulo 3

Cena do filme Como Treinar o seu Dragão

Antes da Filosofia, todas as origem e a forma das coisas,


coisas eram explicadas por suas funções e finalidade, os
meio da crença em seres e poderes do divino sobre a
forças so- natureza e os
brenaturais que agiam sobre o homens. vem em forma de
Ele
mundo, governando os narrativa, cria-
aconteci- mentos e o destino da por um nar-
dos homens. Os povos rador que pos-
primitivos acreditavam sua credibilida-
que as doen- de diante da
ças, a morte, sociedade, po-
os fenômenos der de lideran-
naturais depen- ça e domínio
diam da vonta- da linguagem
de dos deuses. con- vincente,
Pr o c u r av am e que, acima
por isso agir de de tudo, “jogue
modo a não para a boca do
lhes provocar a mito” o que
ira para não gostaria de
serem por eles impor, mas
castigados. adequando a estrutura do mito
Um mito é uma narrativa sobre de uma forma que tranquilize os
a origem de alguma coisa âni- mos e responda às
(origem dos astros, dos necessidades do coletivo.
homens, das plantas, dos Assim, Homero e Hesíodo são
animais, do bem e
do mal, da morte, etc). O mito considerados os educadores da
narra as origens das coisas por Grécia por excelência, pois por
meio de forças sobrenaturais. se- rem tidos como portadores
Ele narra como seres de uma verdade fundamental
sobrenaturais fizeram a sobre a origem do universo, das
realidade começar a leis etc.
existir. Como já foi visto no capitulo
A palavra mito é grega e O mito surge a
signifi- ca contar, narrar algo partir da ne-
para al- guém que reconhece o cessidade de
proferidor do discurso como explicação sobre a
autoridade so- bre aquilo que foi
dito.
anterior somente a partir de deter- minadas
condições que o modelo mítico foi sendo
questionado e substituído por uma forma de
pen- sar que exigia outros critérios para a
confecção de argumentos.
3.1. Diferença entre mito e Filosofia nitiva, já que a discussão é
O mito é um relato que oferece própria da filosofia. Existem
uma explicação definitiva; o mito sistemas filo- sóficos que
não precisa de justificativa. pretendiam oferecer uma
Ao explicação definitiva da reali-
contrário, é o dade.
mito que justifica Outro aspecto é que a filosofia
uma sociedade, sempre precisa se justificar. O
uma cultura, um pró- prio ato de filo-
costu- me, como sofar já implica
vimos acima. a apresentação
Da maneira de uma
como é justifica- tiva
elaborado, o mito daquilo que vai
não é para ser ser dito. Por ser
criticado ou um processo
discutido. Da baseado na ex-
mesma forma, periência e/ou
ele não precisa no raciocínio
Mito da caixa de pandora ser apresentado lógico, a
atra- vés de filosofia sempre
argumen- está su- jeita a
tações - ele simplesmente é co- criticas.
municado à comunidade por Assim Mito e Filosofia, se com-
aqueles que se consideram os plementam entre si, haja vista
arautos das Musas ou dos Deu- que um sempre sucede o outro
ses. de for- ma cíclica no decorrer do
A filosofia é uma narrativa que tempo.
não oferece uma explicação defi-

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE MITO E FILOSOFIA

MITO FILOSOFIA

- Fixa a narrativa no passado - Se preocupa em explicar como e porque,


no passado, no presente e no futuro

- Narra a origem através de genea- logias - Explica a produção natural das coi- sas
e rivalidades ou alianças entre forças por elementos e causas naturais e
divinas sobrenaturais e personalizadas impessoais (céu, mar e terra).
(Urano, Ponto e Gaia);

- Não se importa com contradi- ções, - Não admite contradições, fabula- ção e
com o fabuloso e o incom- preensível; a coisas incompreensíveis; exige explicação
autoridade é posta na confiança coerente, lógica e racio- nal; autoridade:
religiosa no narra- vem da razão
A visão mitológica dos Gregos

Capítulo 4

Os gregos como já se foi


menciona- do nos capítulos na forma física como no comporta-
anteriores buscavam explicar a mento e nos sentimentos, tinham
origem das coisas, através de qua- lidades humanas, mas
historias fantasiosas e que geral- também ti-
mente trazia nessas explicações nham defeitos, sentiam ciúmes,
seres inve- ja, raiva e as mais diversas
emoções.
divinos e com poderes sobrenaturais. Embora dotado de sentimentos, pai-
Para os gregos a xões humanas, ao
ideia de algum contrario dos ho-
ser, dono de uma mens, porem tinham
inteli- gência poderes sobrenatu-
superior cri- ar o rais, eram imortais e
mundo parece permaneciam
natural porque se eterna- mente
nós, com a nossa jovens.
inteligência, pode- De acordo com os
mos criar coisas e historiadores, para
se não fomos nós os gregos os deuses
que criamos o vi- viam na
mun- do ele deve montanha
ter sido mais alta da Grécia, o
criado por um ser dotado de uma humanas,
inte- ligência superior à nossa. Foi tanto
dessas indagações que apareceram
os mitos da criação.
Os gregos tinham uma visão
mito- lógica para explicar a origem
do mun- do e do homem. Para eles,
todas as coisas aparentemente
inexplicáveis eram sobrenaturais e
decorrentes da ação dos DEUSES.
Isso mesmo deuses, pois o povo
grego assim como a maioria dos povos
antigos eram politeístas, mas diferen-
te dos outros povos os deuses
gregos tinham características
Monte Olimpo, lá era a morada dos deuses, acreditava-se
que no alto do monte eles se reuniam, comiam, bebi- am,
cantavam, dançavam e se diverti- am.
4.1. Mitologia Grega ma- ravilhosos e de lendas que inspira- ram e ainda
A mitologia grega é uma das inspiram diversas
mais geniais e belas concepções
huma- na. Os gregos, com sua
fantasia, povoaram o céu, a terra
e os mares com suas divindades e
com seres e ac o n tec im e n to
s
mágicos. Ela se
apresenta como
uma possibilidade,
riquíssima, de
expli- car e
experimentar o
mundo. Superan-
do o tempo e
resis- tindo a
racionalida- de ela
é muito pre- sente
na vida do homem
contempo- râneo:
alimentou a
literatura, o teatro,
as artes visuais através dos sécu-
los.
Os gregos cultuavam uma série
de deuses, além de heróis ou se-
mideus. Relatando a vida desses
deuses e heróis e se u
envolvimen-
to com os ho-
mens, os
gregos criaram
uma rica
mitologia, isto
é um con- junto
de lendas e
crenças que,
de modo
simbó- lico
fornecem
explicações pa-
ra a realidade
universal. Inte-
gra a mitologia
grega grade numero de relatos
obras artísticas ocidentais. tora do
Assi casamento;
m os Demeter, a
grego deusa da
s agricultura;
cultua Poseidon, o
vam senhor dos
os mares; Afrodi-
deuse te, Deusa
s, do amor
onde sensu-
cada al; Atena, deusa da
um sa- bedoria; Ares,
tinha deus da guerra; Apolo,
um deus da adivinhação,
atribut da verda-
o de e da música e da medicina;
especi Ar- têmis, Deusa da caça e
fico. protetora da vida selvagem.
Os Hefáistos, deus do fogo e dos
mais metais; Dionísio, deus do vinho e
famo- da embriaguez.
sos Fora os deuses, os gregos
deuse acredi- tavam que nas origens de
s suas historia viveram pessoas
grego nascida da união de um deus
s com um mortal, os semideus,
eram: que foram responsáveis por
Zeus, feitos e ações extraordinárias.
o mais Dentre os mais famosos estão:
podero Teseu, Hercules, Prometeu e
so, o Perseu.
deus
dos
deuse
s, era
o
senho
r os
céus;
He-
ra, esposa de Zeus, con-
s
i
d
e
r
a
d
a

p
r
o
t
e
Capítulo 5
O mito no mundo atual

Não podemos negar que o e em seus diálogos os he- róis mitológicos ou


mito ainda está presente em folclóricos.
nossa sociedade basta
prestarmos atenção nos contos
populares, no
folclo- re, e na vida
diária do ser
humano, a partir
dessa reflexão
percebemos que
ao proferir certas
pala- vras míticas:
casa, lar, amor,
pai, mãe, paz,
liberdade, mor- te,
o homem as com
valores que são
mo-
delos universais, existentes na
natureza inconsciente e primitiva
de todos nós.
Em nossa sociedade, as
estru- turas míticas estão
fortemente
presentes
nas ima-
gens e
nos
comporta-
m e n t o
s que são
impostos
às pesso-
as através
da mídia.
Um exemplo são os
personagens das histórias em
quadrinhos que trazem
presentes em seus dese- nhos
Nos stem no nosso
desenh inconsciente.
os Mas não só os super-
animad heróis dos filmes e
os e qua- drinhos que
nos podem ser
quadrin considerados mitos. Al-
hos, gumas pes-
alguma soas de car-
s ne e osso
figuras to r n a m -
cha- se
mam a ídolos de uma gera-
atenção ção e são também
das tratadas como verda-
criança deiros mitos. Em
s. São nos- sa sociedade
os como em qualquer
super- outra, existem
heróis, valores que que se
que es- deseja que
t todos possuam. Esses valores
i podem ser a bondade, a
m honesti- dade, a coragem a
u inteligência. E algumas pessoas
l encarnam tão bem esse
a valores
m que se tornam
modelos de com-
o portamento para
todos, é como se
d fossem verdadei-
e ros heróis.
s
e
j
o

o
s

a
n
s
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o
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e
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5.1. A permanência do mito reflexivos, pois assim não há ne-
Se a pergunta inicial era se cessidade de criticar ou
ain- da existe mito no mundo de questioná- los. Analisando as
hoje, podemos afirmar com toda manifestações coletivas do
a cer- teza que sim, ele existe, cotidiano do brasilei- ro, percebe-
por meio das crenças, temores se componentes míti- cos no
e desejos, mas o mito não tem carnaval e no futebol, am- bos
tanto poder quanto tinha manifestações do imaginário
antigamente, pois com o nacional e da expansão de
pensamento crítico racional o forças inconscientes.
indivíduo é capaz de encontrar Portanto podemos afirmar que o
explicações mais lógicas para mito não reduz a simples len-
os se
acontecimentos. das, mas faz parte da vida huma-
Os mitos de na desde seus primórdios e
hoje podem ser ainda persiste no nosso cotidiano
divi- didos em como uma das experiências
mitos possíveis do existir humano,
autênticos e em expressas por meio das
mitos fabricados cr e n ça s
pelos meios de , dos temo-
comunicação res e dos
de massa e desejos.
pela mídia. No en-
Atualmente per- tanto o mi-
sistem os mitos autênticos que to não apa-
são derivados das mesmas rece com
neces- sidades de propiciar o mesma for-
bem e afas- tar o mal e são ça que
exemplares, fazem parte da vida anti- ga m e
e podem ser vividos por todos n t e,
os indivíduos de uma porque o
comunidade. Os exemplos mais
comuns em nossa sociedade exercício da critica racional nos
são:
Ano-novo, Baile de 15 anos, permite validá-los ou negá-los
Casa- mento, entre outros. Hoje quando nos desumanizam.
na soci- edade são criados
mitos de ma- neira que possam
ser entendidos por todos sem
maiores esforços
Imaginação, Fantasia e Filosofia

Capítulo 6
De origem no latim imagina-
tem como função produzir a
tióne, que significa imagem,
apa- rência e produz erros no
a imaginação é a representação espírito. Segundo Descartes, é
da realidade ou dos objetos e
necessário romper com a
não a coisa em si.
aparência ilusória das coisas
que nos surgem pelas imagens.
Por outro lado, Kant fez da
ima- ginação transcendental a
condi- ção primeira de todos os
pensa- mentos, isto porque
considerou que a imaginação é
a faculdade das imagens e,
como tal, pode intervir na
sensação onde a ima- gem se
produz e na memória on- de se
repro-
A imaginação enquanto duz. Por últi-
produ- ção de representações mo, segundo
pressupõe uma atividade do Bachelard, a
espírito. É a ca- pacidade de imaginação
criar imagens men- tais e poder é a faculda-
pensar além da pró- pria de de inven-
realidade, inovando-a ção e de re-
A imaginação permite ao ser
novação.
humano conceber um mundo O homem
imaginário. É assim uma é um ser
imagina- ção produtora e que imaginário,
pode enri- quecer o nosso pois ele é capaz de inventar o
espírito, já que é a no- vo a partir de sua
representação de uma realida- imaginação cri- adora.
de ausente, mas que permite a
existência da liberdade do
espíri- to.
Na corrente inspirada por
Des- cartes e Espinosa, a
imaginação
6.1. A Imaginação criadora e ra.
re- A imaginação criadora, é a que
produtora
A tradição filosófica sempre inventa ou cria algo novo nas
deu prioridade à imaginação artes, nas ciências, nas técnicas e
reproduto- ra, considerada como na Filo- sofia. Aqui, combinam-se
um resíduo elementos afetivos, intelectuais e
do objeto percebido culturais que preparam as con-
que permanece retido dições para que
em nossa consciência. algo novo seja
A imagem seria um criado e que só
ras- tro ou um vestígio existia, primeiro,
dei- xado pela como imagem
percepção. A futura ou como
imaginação po s si b i l i d a d
reprodutora é aquela e aberta. A
que reproduz imagens imagi- nação
anteriormente criadora pede
percebidas. Apesar de auxílio à
utilizar nossas percepção, à
experiên- cias me-
adquiridas a imagi- mória, às ideias existentes, à
nação reprodutora não imagi- nação reprodutora e
se situa no tempo, evocadora pa-
pois
é capaz de reproduzir imagens
rela-
tiva ao passado, a o presente ao ra cumprir-se como criação ou in-
futuro. venção.
Por exemplo, se neste capacidade de
momento você fechar os olhos, reassentar objetos
poderá imagi- nar a sala de aula, pelo pensamento,
as carteiras os colegas que estão por isso só ele é
com você ou se- ja imagem seria capaz de usar a
a coisa atual per- cebida quando imaginação criado-
ausente. Seria uma percepção
enfraquecida, que, asso- ciada a
outras, formaria as ideias no
pensa-
mento.
Quando a
ima gin ação
reprodutora
chega a fazer
parte de nos-
sas relações
cotidianas,
nos faz acre-
ditar na pre-
sença do ob-
jeto represen-
tado, como
acontece nas
alucinações e nos sonhos.
Mas o que seria a imaginação
criadora?
O homem é o único que tem a
Ela é pois uma maneira complexa
de se apresentar a atividade consci- ente,
combinando assim, certos ele- mentos que são
armazenados pela imaginação reprodutora, com
os quais realiza sínteses imaginativas
inteiramente nova.
Quando a criança representa ob-
jetos pelo p e n s a - m e
n t o , ela cria um mun-
do de fan- tasia. O
homem é um ser eu
vive sem- pre imagi- n a
n d o , por isso, vive
sem- pre crian-
do fantasias.
O homem é a medida de todas as coisas

Capítulo 7
Mas o que é o homem? O que cultura fazendo com que a lingua-
o diferencia dos outros seres? gem se torne o seu único meio de
Esta problemática surgechegar a qualquer objetivo por ele
basicamente a partir de três desejado, aliás, é até justo afirmar
fatores: o homem é capaz de que o homem é a própria
observar os fenômenos que o linguagem. Pois, uma vez
envolvem; sente-se ameaça- do que ele planeja
de extinção por alguns destes qualquer objetivo a
fenômenos; questiona-se sobre o alcançar ele usa da
aparente absurdo do própria exis-própria linguagem para
tência. desenvolver esse plano,
Então, o que é o homem? O que passa pela
ho- mem é o único ser capaz de inteligência, a atividade
fazer perguntas. Todos os demais de desenvolver esse
seres não se colocam este pla- no, e que vai dar
problema. Es- tão submetidos às razão ao
leis e fenôme- nos e não tem a desenvolvimento de seu
capacidade de se perguntar por próprio plano.
sua essência ou pe- las razões Por meio do pensa-
de sua existência. mento o homem é
O homem pergunta pelo seu capaz de voar para
pró- prio ser. Quer compreender lugares dis-
e ter consciência de si. Mas tantes ou planejar um futuro me-
identifica também sualhor, a partir dos erros e acertos
incapacidade de se compreender do presente.
de modo total. Seu conhecimento Assim, diferentemente dos ou-
sobre si é limitado e parcial. Notros animais os homens não são
entanto está inquieto, deve exporapenas seres biológicos
para si mesmo as ra- zões de seu produzidos pela natureza. Os
existir. homens são tam- bém seres
culturais que modificam o estado
7.1 O homem é um ser que
de natureza, isto é, o mo- do de
pen- sa!
ser, a condição natural das
O homem é o único ser que
coisas, definida pela natureza.
pen- sa, deseja e se comunica.
Sendo pois um ser racional ele é
capaz de construir o mundo e
fazer história uma vez que o é
dono da razão e da inteligência,
ele se apossa da
Linguagem e comunicação

Alguns estudiosos entendem permitido a sua entrada no universo da cultura seria o


que o fator determinante da desen-
tran- sição natureza-cultura é a
lingua- gem. Trata-se de uma
corrente que entende o ser
humano funda-
mentalmente
como um ser
linguístico.
Para entender-
mos melhor
observemos o
exemplo do
an t r o p ó l o g
o Claude
Lévi
Strauss:
Suponhamos que num
planeta desconhecido
encontremos seres vivos que
fabricam utensílios. Is- so não
nos dará a certeza de que eles
se incluem na ordem huma- na.
Imaginemos, agora, esbarrar-
mos com seres vivos que possu-
am uma linguagem que, por
mais diferente que seja da
nossa, pos- sa ser traduzida
para nossa lin- guagem - seres,
portanto, com os quais
poderíamos nos comunicar.
Estaríamos, então, na ordem
da cultura e não mais da
natureza1.
Assim, segundo esse antropó-
logo, o que teria distanciado
defi- nitivamente o homem da
ordem comum dos animais -
lo

animal que ele também é e


nunca deixará de ser - e
Capít
volvime não ape- nas suas experiências
nto da pessoais, mas algo mais amplo:
linguag as experi- ências acumula-
em e das e comparti-
da lhadas pela
comuni socie- dade.De
cação. modo
De inverso, é tam-
fato, a bém por meio da
linguag linguagem que o
em co n h e ci m e n
constitu t o individual de
i uma ca- da pessoa
das pode incorporar-
dimens se ao
ões patrimônio social.
mais A linguagem
impor- animal em comparação com a
tantes linguagem humana é bastante
da limitada, porque está associada
cultura. unicamente aos instintos de so-
É pela brevivência. Se fossemos tradu-
lingua- zir o significado dessas expres-
gem, sões linguísticas provavelmente
por elas equivaleriam apenas a ex-
exempl pressões do tipo: “vamos”,
o, que “foge”, “cuidado!” ou algo seme-
os pais lhante. A linguagem humana é
comuni muito mais complexa porque há
cam algo de especifico nela, que é a
aos utilização de elementos abstra-
filhos tos.
1LÉVI-STRAUSS, Claude. Culture et langage. Apud CUVILLIER, Arnoud.
Sociologia da cultura, p. 2.)
Observe atentamente a tirinha abaixo:

Em sua opinião houve uma comunicação?


Homem, natureza e cultura

Capítulo 9

Quando falamos em “natureza”,


atualmente, pensamos logo na reali- para serem alteradas exigem muita
dade exterior, no meio ambiente em inventividade ou técnica.
que nascemos e vivemos, e que O homem é um ser que se distin-
mar- camos tão fortemente com gue dos demais por transformar a
nossa pre- sença, nossas técnicas, na- tureza, criando para si uma
esse mundo natural no qual "segunda natureza", a cultura.
construímos nossas cidades, que No passado remoto da
cortamos com nossas estradas, e humanida- de, a natureza era
cuja sentida como uma
existência acredi- potência superior
tamos estar à qual os homens
amea- çada, por estavam submeti-
causa de nossa dos. Os
atitude predatória fenômenos
com relação a naturais eram
ele. com- preendidos
No entanto, a como "fenômenos
natureza pode ser sagra- dos", que
compreendida de revela- vam uma
maneira mais am- intenção, uma
pla, ou seja, abar- razão. Ora eram
cando mais do vistos como
que esse “lugar” recompensa ou
o u e s s a pu- nição divina
“exterioridade” pelos atos
que recebemos humanos, ora
de presente eram percebidos
quando como a própria
nascemos. É muito importante ma- nifestação
perce- bermos que, na verdade, os dos deuses, que
termos natureza e natural referem- con-
se àquilo que nos é dado (ou versavam diretamente com os ho-
imposto), não só externa, mas mens. Era uma natureza encantada.
também internamente, como 8.1 A Cultura
determinações que nos definem e Os homens não são apenas
que não podemos alterar ou que, seres biológicos produzidos pela
natureza. Os homens são também
seres cultu-
rais que modificam o estado de O mundo que resulta do pensar e do
natu- reza, isto é, o modo de ser, a agir humano não pode ser chamado de
condição natural das coisas, definida natural, pois se encontra modificado por
pela natu- reza. nós. Portanto as diferenças entre ser
hu- mano e animal não são apenas
de grau, porque, enquanto o animal
per- manece mergulhado na
natureza,
nós somos capazes de transformá-
las em cultura.
Podemos definir cultura como um
amplo conjunto de conceitos,
símbo- los, valores e atitudes que
modelam uma sociedade. Nesse
sentido, todas as sociedades
humanas, da pré- história aos dias
atuais, possuem cultura. E cada
cultura tem seus pró- prios valores
e sua própria identida- de. De uma
Na Grécia antiga o termo cultura maneira mais filosófica podemos
adquiriu um significado todas especial afirmar que a cultura é a
ligada à formação individual do cida- reposta oferecida pelos grupos
dão. Correspondia a chamada humanos ao desafio da existência.
Paideia, processo pelo qual o homem Portanto, dada a infinita
realizava o que os gregos possibilidade humana de simbolizar, as
consideravam a sua verdadeira culturas são múltiplas. Variam as
natureza, isto é desenvol- ver a o formas de pensar, de agir, de valorar;
conhecimento de si e do mun- do e são diferentes as ex- pressões
a consciência da vida em socie- artísticas e os modos de inte- pretação
dade. do mundo, tais como com o mi- to, o
senso comum, a filosofia ou a ciên- cia.
Vale lembrar que a ação cultural é
coletiva, por ser exercida
como tarefa social.
A cultura é portanto uma
processo que caracteriza
o ser humano como ser
de mutação, de projeto
que se faz à medida que
trans- cende, que
ultrapassa a própria
experiência.
Cultura e cotidiano1

Capítulo 9

Pensemos agora sobre a vida cotidi-


ana de cada pessoa e sua relação que uma pessoa participa influi de
com o universo cultural de que ela for- ma específica em sua maneira de
participa. pen- sar, sentir e agir, ou seja, em
Sabemos que a cultura abrange sua for- ma de ser no dia-a-dia.
um conjunto de conceitos, valores e Então, se por um lado a cultura é
atitu- des que modelam uma uma criação coletiva dos grupos hu-
comunidade. Assim, podemos dizer manos através do tempo, por outro
que toda pes- soa vive sob a lado cada pessoa também é, em
influencia de diversas culturas, e gran- de medida, uma criação diária
não e cons-
só de uma, pois tante da cultura em
participa de dis- que vivemos, desde
tintos grupos o instante do nosso
so- ciais, e cada nascimento. No en-
um deles lhe tanto, quase não
impri- me a sua percebemos isso,
marca cultural. pois a cultura à qual
Vejamos um pertencemos é
exemplo: um prati- camente
bra- sileiro que invisível para nós
tem uma família em nosso cotidiano.
fre-
quenta uma igreja e trabalha numa 9.1 Cultura em nossa vida diária
empresa, recebe influência de pelo Em geral, vivemos dentro de
menos quatro fontes culturais - a cul- nossa cultura num fluir contínuo,
tura popular brasileira; a como se o nosso modo de ser fosse
cultura familiar, basica- igual para todas as pessoas e as
mente transmitida por diversas coisas do mundo fossem
seus pais e avós; a sempre assim como as
cultura de seu grupo experimentamos. Ilustremos me-
religioso; e a cultura lhor essa ideia: Somos como um
organizacional de- peixe que nasceu dentro de um
senvolvida em seu local aquário e toma esse ambiente como
de trabalho. sendo o mundo. Esse estado
Cada universo cultural de habitual de nos-
1 Adaptado de: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 16ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2006.
sas vidas se vê confrontado, por ça, na escola em que estuda, na
exemplo, quando viajamos para fora igreja que frequenta, na empresa em
do nosso país. que trabalha.
Nesse instante, ocorre um estra- Essa assimilação cultural ocorre
nhamento em relação a esses de forma tão "transparente" que
elemen- tos culturais que estão fora quem assimila ou aprende não
de nós, quebrando a invisibilidade percebe que está aprendendo algo
da nossa própria cultura. Mas depois com alguém ou uma situação. E
que volta- mos ao nosso cotidia- aqueles que lhe transmitem esses
no, nossa cultura se ensina-
toma "invisível' de mentos nem sempre se
novo para nós. Por- dão conta de que lhe
tanto, de modo estão transmitindo a sua
geral, só temos maneira de ser e viver, o
consciência da seu modelo de mundo, o
nossa própria cul- seu "filtro" da realidade.
tura quando somos Assim, de modo geral,
confrontados com vive- mos nossa própria
outra. cultura sem vê-la e,
Na cultura em ge- muitas vezes, sem
ral ocorre algo questioná-la.
seme- lhante: a O problema dessa
pessoa per- cebe e invisibili- dade cultural é
aprende do que muitas pessoas não
grupo cultural do qual participa, por compartilham
imitação e de forma quase a mesma maneira de ver e viver as
inconscien- te, boa parte de como coisas e por conta disso podem
deve pensar e agir nas mínimas acre- ditar em uma verdade absoluta,
coisas - o que é boni- to ou feio, o fazen- do com que desprezem e
que é adequado ou inade- quado, o menospre- zem outros grupos
que é possível ou impossível, como é culturais.
a vida, como são as pessoas, que Acreditamos que a filosofia pode
coisas são importantes, etc. Isso ser um bom apoio nesse processo
ocorre primeiro dentro de sua família de transformação cultural, pois
e, depois, no contato com a vizinhan- filosofar é promover uma reflexão
profunda so- bre a natureza e o ser
humano, anali- sando o que
fazemos, senti-
mos, pensamos e manifes-
tamos.
Aprender a filosofar contri-
bui para a compreensão
do mundo e nos
impulsiona a desempenhar
um papel mais consciente
e ativo den- tro dele.
Cultura e valores sociais

Capítulo 10

Toda sociedade humana é ser humano pode viver numa socieda-


determi- nada por certos valores de de forma plena sem que se siga as
culturais. Por isso em normas e as regras criadas
to- das as sociedades pela sociedade.
exis- tem regras. Essas 10.2 Somos todos diferen-
regras expressam certos tes?
valores que são de Apesar das diferenças,
fundamental importância étni- cas, religiosas e de
para o nosso convívio riqueza, podemos afirmar
em sociedade. que somos todos iguais,
Por exemplo, a pois pertence- mos à raça
regra não humana. Porem ao andar
roubar expressa pelas ruas da nos- sa
o valor que cidade percebemos que as
devemos dar pessoas não são tão
ao objeto do
outro: a regra
não matar expressa o valor iguais as-
que devemos dar a vida hu- sim, e que
mana. .Percebemos então essa dife-
que as regras sociais estão rença que é
ligadas diretamente a notada são
valores culturais. basicamen-
10.1 Onde aprendemos os te as dife-
valores? renças físi-
Não podemos nos esquecer que cas. Claro que na sociedade existem
as regras e valores são transmitidos outras diferenças, mas a que a
aos adolescentes pelas instituições marca profundamente é a diferença
soci- ais. E que eles não só de po- der.
aprendem es- ses valores como
também, podem cri- ticá-los, rejeitá-
los ou substituí-los por outros.
Em casa, nas escola, na igreja e
em todos os grupos que podemos
partici- par é consenso a ideia de
que não de- vemos matar ou roubar.
Os valores estão presentes na
nos- sa vida diária. Na verdade,
nenhum
Observe atentamente o cartum criado pelo cartunista argentino Quino, autor
da Mafalda, que desiludido com o rumo deste século no que diz respeito a
valores e educação, deixou impresso o seu sentimento.

Contato Humano
Pernas

Deus
O próximo a quem amar

Cérebro Ideais, Moral e Honestidade

É importante que desde pequeno


aprenda como é tudo.
Filosofia e pensamento

Capítulo 11

Na Antiguidade, dizia-se que “0 Podemos


pen- samento é o passeio da alma”, inclusive supor
pois este era considerado uma que há
atividade na qual saímos de nós
mesmos sem sairmos de nosso
interior. Em nosso cotidiano, usamos
as palavras pensar e pensamento
em sentidos variados, podendo se
constituir em uma ativida-
de solitária, invisí-
vel para nós e
que precisa ser
proferi- da para
ser com-
partilhada, ou
tam- bém se
traduzir em sinais
corpo- rais e
visíveis.
Há várias
manei- ras de se
interpre- tar o
pensar, que pode
ser visto co- mo
preocupação,
cisma ou dúvida;
pode ser
sinônimo de
deliberação e de
decisão, como
algo que resulta
numa ação; pode se referir a algo que
se pode ou não querer, uma forma de
atenção e concentração; pode repre-
sentar uma determinada ideia que,
definindo algum assunto, foi publica-
mente anunciada; ou pode ainda, con-
forme mencionado por Descartes na
frase “Penso, logo existo”, indicar a
própria essência da natureza humana.
bons e maus pensamentos.
Pensar é, portanto, suspender o jul- gamento até se
formar uma ideia ou opinião, comparar os pontos de vista,
avaliar, julgando seu valor e se essa ideia é verdadeira ou
falsa, justa ou injusta, examiná-las, ponderando os pontos
de vista para escolher um de- les e equilibrar, encontrando
um meio- termo entre extremos ou opiniões opostas.
Podemos chegar à conclusão de que o pensamento é
uma atividade pela qual a consciência ou a inteligên- cia
coloca algo diante de si para aten- tamente considerar,
avaliar, pesar, equilibrar, reunir, compreender, esco- lher,
entender e ler por dentro.
O pensamento, portanto, exprime nossa existência como
seres racionais e capazes de conhecimento abstrato e
intelectual, e manifesta sua própria capacidade para dar a
si mesmo leis, normas, regras e princípios para al-
cançar a verdade de alguma coisa. descobrisse” como ser racional.
Quando pensamos, pomos em 11.2 Pensamento e Filosofia
movi- mento o que nos vem da O homem filosofa isto é, pensa so-
percepção, da imaginação, da bre o pensar. Ele tem consciência
memória, compre- endemos o do caráter, do valor, das
sentido das palavras, en- possibilidades e dos limites de seus
conhecimentos. A filosofia consiste
num pensar que se volta sobre si
mesmo, sendo, portan- to, por meio
dela que o homem se re- conhece
como homem.
Quando dizemos que a filosofia é
um pensar sobre o pensar, que ela é
conhecimento do conhecimento,
esta- mos falando de uma qualidade
especi- fica da filosofia. A filosofia é
cadeamos e articulamos significações, uma for- ma de conhecimento que
sendo algumas vin- tem um con-
das de nossa teúdo, um método e
expe- riência objetivos distintos das
sensível, outras ciências.
de nosso Nesse sentido afirma-
raciocínio e outras mos que a filosofia é
formadas pelas um conhecimento do
relações entre conhecimento, um
idei- as anteriores. pen- sar sobre o
11.1 Pensamen- pensar.
to e Linguagem1
Sem as palavras não teríamos
como expressar nossos
pensamentos, sem a linguagem não
seriamos racionais.
O filosofo grego Platão dizia que o
pensamento é um diálogo silencioso
da alma consigo mesma. De acordo
com o entendimento de Platão as
pa- lavras seria apenas
instrumentos do pensar. Elas seriam
uteis apenas para comunicação. Só
no momento de di- zer oque se
pensa é que utilizaríamos a
linguagem.
Os filósofos argumentam que a
lin- guagem é parte essencial do
pensa- mento, ou seja, o
pensamento é, des- de o seu
nascimento, um ato linguísti- co oque
quer dizer que é com a lingua- gem
que pensamos sem a linguagem
não haveria pensamento.
Por meio da linguagem podemos
entender melhor o que somos
capazes e porque somos tão
diferentes dos animais. A invenção
da linguagem foi determinante para
que o homem “se
1adaptado do livro Nonato Nogueira
O conhecimento de si mesmo

Capítulo 12

Por meio de perguntas Sócrates Mas viver bem para Sócrates não
questionava as pessoas em praça era viver dos prazeres e da
pú- blica e ali discutia os mais ociosidade, mas viver da
diversos assuntos: O que é o bem? contemplação
O que é a justiça? O que é a do conhecimen-
virtude? Toda sua filosofia estava a to e do cuidado
serviço do conheci- mento do de si. Por toda
homem e de sua vida moral. parte Sócrates
Seu espiritualismo afirmava-se no ia persuadindo
“conheça-te a ti mesmo”. Essa a todos, jovens
mensa- gem estava escrita no tem- e velhos, a não
plo de Apolo. O conheci- se pr e o c u pa r
mento de si mesmo impli- e m
cava o conhecimento de exclusivamente,
nossas ações, de nossos e nem tão ar-
desejos e de nossa vida de n t e m e n t e
moral. Para ele, a , com o corpo, a
sabedo- ria consistia em beleza e a
vencer a si mesmo e a rique- za.
ignorância em ser Dizia que devemos nos preocupar
vencido por si mesmo. mais com a alma para que ela seja
Sua indagação principal quanto possível melhor. Ele
era sobre “a justa vida” e identifica- va a virtude com o
o “viver bem”. Uma vez conhecimento. Afir- ma que ninguém
lhe perguntaram qual lhe faz o mal porque quer, mas por
pare- ignorância. Ninguém erra
cia a melhor tarefa para o homem. voluntariamente. Somente o igno-
Ele sem rodeios respondeu: viver
bem.
rante não é virtuoso. Todo homem determi- nadas
que conhece o bem é virtuoso. Ser renúncias e
virtuoso para Sócrates é conhecer purificações, das
as causas e o fim das ações quais Sócrates é
permitindo uma vida moral e um exemplo.
virtuosa em dire-
ção a ideia de
bem. Por isso,
ele defendia a
ideia de que a
melhor forma de
se viver era
cultivando o
próprio
desenvol-
vimento ao invés
de buscar os
pra- zeres e os
bens materiais.
É necessário se
conhecer melhor para ser feliz.
“Conheça-te a ti mesmo”, essa
frase emblemática é o fundamento
de toda felicidade aqui na terra.
Sócrates aconselhava seus
discípulos a se au- toconhecerem,
pois somente assim as pessoas
sairiam da caverna, das trevas de
seus espíritos para alcan- çarem a
luz, a verdade e a felicidade.
Quando nos conhecemos
dificilmente agimos por impulso,
dificilmente so- mos domina-
dos por nos-
sas paixões,
mais resolvi-
dos e deter-
minados so-
mos em
nos- sos
objeti- vos.
Conhe- cer
a si mes-
mo significa-
va que
deve- mos
nos ocu-
par menos com as coisas desse mun-
do, como riquezas, fama e poder, e
nos preocuparmos mais com o
culti- vo de si, cultivando o
conhecimento para contemplar o
bem, o belo e a verdade.
12.1 Como ter acesso a verdade
Para se ter acesso à verdade,
con- tudo, não é um ato puramente
inte- lectual. Ela exige, por vezes,
Sócrates dizia ter recebido a missão de exortar os
atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem
de cui- dar das coisas, passando a cuidar de si
mesmos. Tal atitude o fez dedicar- se inteiramente à
filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de
diá- logo, denominada maiêutica) por meio da qual ele
fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsis-
tências de seu discurso e se autocorri- gisse.
A atitude de Sócrates questionava os valores da
sociedade ateniense, razão pela qual seus inimigos o
leva- ram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à
morte. Sua morte, po- rém, não impediu que a questão
do cuidado de si se tornasse um tema central na
filosofia durante mais de mil anos - e chegasse a
influenciar alguns filósofos modernos e contem-
porâneos.
A questão central do cuidado de si é que jamais se
tem acesso à verdade sem uma experiência de
purificação, de meditação, de exame de consciên- cia -
enfim, através de determinados
exercícios espiritu- ais capazes de
transfigurar nosso próprio ser.

Dito de outro mo- do, o estado de


iluminação, de descoberta da ver-
dade, não é pro- duto do estudo,
mas de uma práti- ca
acompanhada
de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e
de como posso mo- dificá-las para me tornar uma
pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de
arte em que nós vamos nos moldando, nos
aperfeiçoando no de- correr da existência.
Percepção e Realidade

Capítulo 13

Em Filosofia, Realidade é o nada na natureza que não tivesse


estado das coisas como elas existido antes no mundo das ideias”¹.
realmente exis- tem, ao invés de Estes dois grandes filósofos gre-
como eles podem aparecer ou pode gos, e também amigos, travaram
ser pensado para ser. Em uma uma batalha de pensamentos para
definição mais ampla, a realidade desven- dar justamente a origem dos
inclui tudo o que é e tem sido, ou mesmos. Enquanto um propunha a
não é observável ou compre- razão como artefato para se
ensível. alcançar a realidade, o outro
A percepção é o processo de acu- denominava os sentidos como meios
mulação de informações sensoriais para se experimentá-la.
do ambiente. Platão (427-347 a.C), discípulo de
Nossa percepção não identifica o Sócrates, elegeu a “ideia” como a
mundo exterior como ele é na ori- gem de todos os conceitos que
realida- temos em mente. Essa “ideia”,
de, e sim como as entretanto, não vem com um sentido
tra n s fo r maç õe s de “eureka, tive uma ideia”, e sim
, efetuadas pelos como a respon- sável por inserir em
nossos órgãos dos nós, enquanto nossa mente ainda
sentidos nos habita um outro mundo, o
permi- tem reconhecimento das formas
reconhecê-lo.
Assim é que trans- que vemos aqui onde vivemos atual-
formamos fótons mente, chamado por Platão de
em imagens, vibra- “mundo sensível”.
ções em sons e Por outro lado, Aristóteles (384-
ruí- 322 a.C.), discípulo do próprio
dos e reações químicas em cheiros Platão, dis- cordou do “inatismo” das
e gostos específicos. Na verdade, o ideias pro- postas por seu mestre.
uni- verso é incolor, inodoro, insípido Para ele, tudo que existe é o que
e si- lencioso, excluindo-se a conseguimos cap- tar por nossos
possibilidade que temos de percebê- sentidos, e através da
lo de outra for-
ma. apropriação das imagens captadas
13.1 Platão e Aristóteles: O dilema sentidos.
da Razão vs. os Sentidos Platão poderia
“Aristóteles nos chama a atenção ter dito que
para o fato de que não existe nada não existe
na consciência que já não tenha
sido ex- perimentado antes pelos
podemos denominar e formar ideias do que vemos. Assim, propôs Pla- tão ao defender o
para Aristóteles, a formação de nossos pensamentos se dá Inatismo.
através do Empirismo, e não de uma Reminiscência, como

¹Jostein Gaarder, em O mundo de Sofia.

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