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DESCRIÇÃO

Hipernarrativas e a estética da informação no jornalista de dados, com apresentação de tabelas, mapas, gráficos,
infográficos e diagramas, contemplando a relação entre estética e funcionalidade, design e eficácia das narrativas,
forma e função, engajamento e inteligibilidade.

PROPÓSITO
Refletir sobre a nova estética e as novas narrativas trazidas pelo jornalismo de dados permite ao profissional elaborar
produtos comunicacionais que aliem boas práticas de design (por meio de hipernarrativas, gráficos, tabelas,
infográficos, diagramas etc.) a um conteúdo de qualidade informacional relevante.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Relacionar as hipernarrativas e a estética da base de dados

MÓDULO 2

Descrever formatos possíveis para os conteúdos do jornalismo de dados

MÓDULO 3

Reconhecer regras do design eficazes para narrativas baseadas em dados

INTRODUÇÃO
Mais ainda do que no planejamento gráfico do jornalismo impresso, o design é um campo fundamental no jornalismo
de dados. Você encontrará neste conteúdo uma oportunidade única de aprender sobre como os dados podem ser mais
do que meros “pedaços” de informação a ilustrar um texto jornalístico ou embasar suas palavras.

Entender o jornalismo de dados como forma narrativa é aventurar-se pela descoberta do que são as hipernarrativas
feitas por uma estética da base de dados e entender como a apresentação da informação jornalística é permeada pela
visualização adequada de dados. Também será possível pensar sobre os formatos para conteúdos informacionais
(tabelas, mapas, gráficos, infográficos e diagramas) e suas conexões com o campo da visualidade.

Tudo isso sempre tendo em vista a relação entre estética e funcionalidade, forma e função, e engajamento e
inteligibilidade como características principais do design no jornalismo de dados.

Como portais de jornalismo de dados brasileiros como Nexo, Gênero e Número, e The Intercept Brasil organizam
visualmente suas informações. Tente perceber de que modo as matérias utilizam gráficos, infográficos, diagramas,
mapas e fluxogramas informacionais apenas como uma ilustração do conteúdo ou, na outra ponta, como a peça-chave
que guia todo o relato jornalístico. Pergunte-se sobre como a visualização dos dados está apresentada ao leitor, como
ficam as questões do campo de design frente à forma e ao conteúdo e, acima de tudo, como os dados acabam por dar
corpo à narrativa jornalística em sua totalidade, observe.

MÓDULO 1

 Relacionar as hipernarrativas e a estética da base de dados

HIPERNARRATIVA
A base de dados não é apenas espaço de “busca” ou “coleta” na construção do relato jornalístico. Ela pode ser também
referência estética para a criação de hipernarrativas que compõe uma boa apresentação da informação jornalística e
seus modos de visualização.

Um dado por si só é uma narrativa pura, completa e acabada?

 RESPOSTA

Se olharmos para o campo do jornalismo, até mesmo pelo sentido do senso comum, já iremos perceber que não: um
dado precisa de contexto, de relevância informacional, de processualidade jornalística para que saia da condição de
um dado qualquer (quantitativo, qualitativo, quanti-qualitativo) e, só a partir de então, vire parte da narrativa que se
procura tecer.

No caso do jornalismo de dados (ou jornalismo guiado por dados ou jornalismo de base de dados, todos sinônimos),
muito mais do que compor uma fração do relato, os dados, quando bem trabalhados em suas características
informacionais visuais, acabam por virar o norte da produção jornalística.
Dessa forma, com base nas reflexões pioneiras estabelecidas pelo pesquisador russo-americano Lev Manovich,
grande estudioso da cultura midiática digital, o termo hipernarrativa ganha força e se mostra como um elemento que
não somente pode ser discutido teoricamente, como, de maneira prática, pode ser visto no campo do jornalismo de
dados. Assim, segundo Manovich (2001), é preciso que nossos olhos se voltem para as bases de dados de maneira
muito mais ampla.

Em outros termos, as bases de dados nos possibilitam a redefinição da concepção de narrativa, ou seja, elas podem
ser o foco de geração da hipernarrativa (numa analogia ao hipertexto), como um resultado da soma de múltiplas
trajetórias de construção do texto jornalístico por meio da base de dados:

DIFERENTE, MAS REAL, VIRTUAL E SIMULTANEAMENTE ACTUAL,


NINGUÉM PRECISA DE CRIAR UM MUNDO NOVO, NINGUÉM
PRECISA DE DESTRUIR NADA PARA CRIAR O OUTRO, ESSE OUTRO
JÁ EXISTE E OS DOIS COEXISTEM PACIFICAMENTE. AS GRANDES
NARRATIVAS DE ONTEM SÃO AS HIPERNARRATIVAS DE HOJE. SÃO
OS RELATOS DO DIA A DIA, DOS NOSSOS BLOGS NA INTERNET,
DOS NOSSOS CHATS, IRCS E SKYPES, SÃO TODOS ESSES TEXTOS
QUE SE CONSTROEM NUMA AMÁLGAMA DE LETRAS, IMAGENS E
SONS PARA NOS PERGUNTAR: COMO FOI? COM QUEM FALASTE?
QUEM ENCONTRASTE? QUEM MANDOU ESSE TEXTO? QUEM
TELEFONOU? QUEM MANDOU ESSA FOTOGRAFIA? QUEM DISSE
ISSO? QUEM ESCREVEU ISTO OU AQUILO?

(CAIRES, 2011, p. 7-8).

IRCS

Internet Relay Chat, criado na década de 1980 por Jarkko Oikarinen, da Universidade de Oulu, na Finlândia, é um
sistema de bate-papo síncrono utilizado na internet. Dentro de cada servidor (rede), apresenta canais de conversação
e ao acessar um canal o usuário pode conversar com diversos usuários ao mesmo tempo, ou com cada um em
particular, e foi o predecessor dos programas de mensagens instantâneas.

Logo, mais do que apenas uma base de dados que é erroneamente entendida como “muleta” do jornalismo, entende-
se a hipernarrativa desde um nível material e, justamente por isso, ela ganha a condição de não apenas ser uma tabela
solta ou um gráfico vazio de sentido: a hipernarrativa representa um conjunto de conexões informacionais que pode
criar uma rede de sentidos muito maior (MANOVICH, 2001). “Assim, a base de dados, que até então cumpria um papel
implícito, adquire existência material”, relembram Barbosa e Torres (2013, p. 156).

Ou seja, as hipernarrativas compostas pela base de dados não são meras experimentações que ficam presas à
redação dos portais ou à investigação acadêmica de dados inacessíveis ao público, ao contrário: o papel dos usuários
é fundamental porque, sem eles, a hipernarrativa não se movimenta. E sem esse movimento (clicks, opções de
caminhos a seguir etc.) essa narrativa acaba por não mais produzir sentido.

 UMA DICA

Para conhecer um hipernarrativa bem construída no campo do jornalismo, sugerimos navegar, avaliando o papel do
usuário, pelo Especial do New York Times sobre os Jogos de Inverno de Sochi (Rússia), em 2014. Você pode buscar
em nyt+sochi+winter+ olympics.

APRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES JORNALÍSTICAS


Pensar em jornalismo de dados como uma forma inovadora do relato jornalístico atual é entender que a narrativa, em
vez de uma sucessão de ações, configura-se cada vez mais como uma viagem através do espaço-tempo (visual,
textual, sonoro, multimidiático) constituído pelos conjuntos estruturados e estruturantes de itens informativos
organizados pela base de dados.

É pela forma como a apresentação das informações jornalísticas são dispostas que uma hipernarrativa torna-se um
conjunto contínuo de ações narrativas e de explorações em meio ao oceano de dados.

Machado (2004) argumenta que, ao contrário das tradicionais narrativas que porventura tenham a figura do ouvinte, o
leitor ou o telespectador como um simples “acompanhante” da narração, no jornalismo de dados é preciso saber que o
usuário precisa ter condições práticas para “performar” de modo ativo.
Assim, no jornalismo de dados não se pensa no receptor como um sujeito que apenas orbita ao redor do texto, por
exemplo, sem interferir na lógica interna das ações, no fluxo dos novos modelos de narrativa: é pela observação do
feedback e da presença interativa do usuário de um portal de jornalismo de dados que o jornalista incorpora
diretamente a intervenção do receptor no seu processo criativo, por exemplo, ao pensar em um infográfico que precisa
ser informacional, mas também esteticamente agradável.

PNAD CONTÍNUA

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Para discutirmos a importância das informações jornalísticas dentro do jornalismo de dados, começaremos por um
gráfico produzido pelo IBGE, com dados da PNAD Contínua 2019.
Infográfico: Domicílios por região
Adaptado de: Diretoria de Pesquisas / Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) ©

Nessas três figuras, é possível perceber que a infografia não funcionaria sem a informação visual (gráfica), ou sem a
informação quantitativa, essencial para o relato jornalístico que se constitui parte da discussão sobre o tema.

Assim, como destaca Giannella (2014, p. 3), a visualização da informação necessariamente precisa ser entendida
como “um processo cujo objetivo é facilitar a compreensão de uma grande quantidade de dados”.

E, de modo indubitável, a visualização de dados é o que mais precisamos nos ater se quisermos que uma boa prática
profissional de jornalismo de dados seja coerente, relevante e inteligível por parte do público com o qual entramos em
contato.

VISUALIZAÇÃO DOS DADOS


Para refletir sobre a importância da visualização de dados no contexto do jornalismo de dados, recorreremos aos
resultados do projeto de pesquisa desenvolvido por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, reunindo docentes e discentes das faculdades de Comunicação e Informática (SANTOS et al., 2015).

Nessa pesquisa, é possível ver como o tema da visualização de dados é bastante mencionado na bibliografia a
respeito do jornalismo de dados, como um todo, embora seja pouco discutido em seus elementos conceituais próprios.
Conforme explicam Santos et al. (2015, p. 8-9), "a bibliografia a respeito da visualização de dados usada nos estudos
de jornalismo costuma ser oriunda principalmente dos campos do design e da informática".

Dessa forma, o que se mostra aqui é que a visualização de dados, no campo estritamente comunicacional, ainda é
algo visto de forma “paratextual” ou “ilustrativa” ao texto central de um relato jornalístico. Algo que, como já discutimos,
não faz sentido, afinal:

Pensar o jornalismo de dados como nova forma narrativa passa, sem sombra de dúvida, por entender como os regimes
de visualidade perpassam inteiramente a visualização dos dados aludidos ou mobilizados.

Igualmente em um cenário cada vez mais “contaminado” pelas formas produtivas que passam das áreas
informacionais ao entretenimento, é válido sinalizar como as redes sociais acabam por misturar-se nesse universo
jornalístico e, por isso, tornam-se espaços valiosos para também pensarmos a visualização dos dados:

SUA ADOÇÃO CADA VEZ MAIS AMPLA PELA PARCELA DA


HUMANIDADE QUE GOZA DE ACESSO À INTERNET TORNA
SERVIÇOS COMO TWITTER, FACEBOOK, PINTEREST, YOUTUBE,
ENTRE OUTROS, AMBIENTES ACESSÍVEIS E CONVENIENTES PARA
ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA. ESTE CENÁRIO
CRIA OPORTUNIDADES PARA COMBINAR OS SUBPRODUTOS DA
SOCIABILIDADE NO CIBERESPAÇO COM TÉCNICAS
COMPUTACIONAIS DE COLETA, ANÁLISE E VISUALIZAÇÃO DE
DADOS, DE FORMA A APOIAR PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS
NA EXTRAÇÃO DE INFORMAÇÃO.

(Santos et al., 2015, p. 2)

Assim, tal qual em todas as esferas do jornalismo que se cria, circula e é consumido por meio do digital, o jornalismo
de dados contemporâneo também dá espaço para que a figura do “espectador”, “leitor” ou “usuário” saia de uma
pretensa passividade e aja de maneira fluida e vívida dentro das hipernarrativas. O “receptor” é figura essencial no
consumo e na produção do jornalismo de dados, com lugar especial para a visualização, mas não apenas.
 IMPORTANTE

Não se pode perder de vista que a hipernarrativa está presente em objetos e produtos que fazem parte da
materialidade do jornalismo de dados, sem esquecer também como a multimidialidade de sons, imagens e textos é
presente nesse espaço.

Por isso, Barbosa e Torres (2013, p. 156) destacam que, na leitura, na interação ou na exploração desses produtos
localizados em cibermeios (computadores, celulares, tablets etc.), o usuário atua como um "performador" de ações
para levar a narrativa adiante. E, indiscutivelmente, a questão da visualização de dados é essencial para que essa
“performance” se mantenha prazerosa, ativa e eivada de sentidos.

HIPERNARRATIVAS NO JORNALISMO
O que o jornalismo de dados traz de novidade às narrativas jornalísticas?

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2
 Descrever formatos possíveis para os conteúdos do jornalismo de dados

Ao tratar das formas de representação visual dos dados no jornalismo, antes de tudo, é necessário se atentar para as
diferenças entre cada formato e o porquê desta ou daquela demanda específica na maneira de visibilizar a informação.
Você terá contato agora com uma discussão que aborda os formatos para conteúdo de jornalismo de dados (tabelas,
mapas, gráficos, infográficos, diagramas) e suas correlações entre a estética e a funcionalidade, a forma e a função, e
o engajamento e a inteligibilidade das informações contidas na narrativa jornalística.

TABELAS, MAPAS, GRÁFICOS, INFOGRÁFICOS E


DIAGRAMAS
A presença de tabelas no relato jornalístico é algo que acompanha a história do jornalismo há séculos. Como ressalta
Sterling (2009), representação gráfica de uma tabela é algo que já era apreensível mesmo nos séculos II e III por meio
do tipao, isto é, um tipo protótipo de jornal chinês. Já em tempos mais modernos, como ressalta Rogers (2013), a
experiência do jornal inglês The Guardian, em 1821, mostrou em sua capa uma tabela com uma lista de escolas de
Manchester e de Salford (destacando o número de crianças matriculadas e quantas delas recebiam educação gratuita
ou não). Mais do que ser uma mera peça ilustrativa, a tabela foi motivo de polêmica e debate público já que os dados
demonstraram o alto número de crianças pobres que havia nas duas cidades.

Mas não necessariamente tabelas são narrativas complexas. Pelo contrário, o exemplo a seguir, de uma tabela
hipotética, demonstra que a função da tabela, entre tantas outras narrativas visuais, é transformar a complexidade de
uma base de dados em visualização didática e simples, ou seja, acessível.

Carga
Empresa Funções Pré-requisitos Salário Contato (enviar CV para)
horária

R$ 1.200 +
Assistente de
Disposição VT +
TV Bla blá blá produção 6h Joyce@blablabla.com
para aprender ticket-
audiovisual
refeição

Sport10 Assessoria R$ 1.000 +


Word Inglês 6h ascom@sport10.com.br
Futebol Clube de imprensa VT

R$ 900 +
Baratão Assessoria Passe-livre
- 6h ascom@baratao.transp.br
Transportes de imprensa transportes
públicos
Conhecimento
Redator de sólido da R$ 900 +
Subway News 4h selecao@subwaynews.com.br
tijolinho Língua VT
Portuguesa

Estágio setor Noções de R$ 900 +


FatoNews 4h arte@fatonews.br
arte web design VT

Cursado 5ª
Estágio
Período de R$ 900 +
Fato News Editoria de 4h arte@fatonews.br
Comunicação VT
Geral
Social

Cursando 3º
Estágio em
ou 4º
ABC Assessoria R$ 900 +
períodos de 4h estagio@abc.com  
Comunicação de VT
Comunicação
Comunicação
Social

Revisão de
roteiros,
secretariado
Cursando ou
em geral,
Rádio cursado 5º R$ 800 +
possibilidade 4h geral@corredor.edu
Corredor Período de VT
de redação
Comunicação
de
reportagens
e roteiros

Clippings,
redação de
press
XYZ Noções do R$ 850 +
releases, 4h selecao@xyz.com.br
Comunicações pacote Office VT
contatos
iniciais com a
imprensa

Comitê de Assessoria Bom 3h R$ 800 + helen.souza@comite.org  


Saúde de imprensa português, VT
noções de
office

Quadro: Vagas de Estágio – Empresas Fictícias.


Elaborado por: Catharina Epprecht.

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Sobre a questão dos mapas no jornalismo, metaforicamente, é possível ver que ao longo dos anos as relações entre o
discurso jornalístico e a cartografia sempre se fizeram notar.

Pierre George (1969, p. 23) explicita que o “real” jornalístico pode ser lido como “um mapa onde todo espaço envolvido
é qualificado, ou seja, em que estejam definidas as continuidades e as descontinuidades em plano horizontal”.


Angela Zamin (2013, p. 97) afirma que “abrir o jornal do dia significa deparar-se com um mapa do mundo conformado
por tantos lugares, acontecimentos e temáticas quanto o interesse e as possibilidades permitem acessar”.

Dessa forma, se localizarmos a discussão de maneira prática no jornalismo de dados, veremos que os mapas se
constituem como elementos primordiais que guiam o entendimento do leitor/usuário sobre determinado assunto a partir
da tônica do espaço, da localização da notícia em um plano territorial e imageticamente apreensível. Algo muito
utilizado, por exemplo, nos períodos de eleição, como ilustra a imagem a seguir.

Na contemporaneidade, Santos et al. (2015) chamam a atenção para os gráficos no jornalismo de dados como parte da
conexão entre o desenvolvimento tecnológico e a necessidade do público em compreender o contexto e “algo a mais”
das notícias por vias visuais. Pensando na demanda do público ávido por informações, os gráficos representam
sempre uma valoração muito nítida do discurso jornalístico.

O gráfico é o “algo a mais” do contexto da matéria, ele é lido como uma peça de igual importância informacional (não
só uma imagem ilustrativa). Assim, é necessário entender que a variedade de formas visuais a serem representadas
em gráficos também conta muito e determinadas perguntas precisam ser feitas:
Que tipo de gráfico melhor exemplifica a comparação informacional que quero destacar?

Este gráfico é legível ao público?

O gráfico ganha amparo e profundidade de diálogo com o texto que o acompanha?

Qual o melhor formato?

Todas essas perguntas já deixam claro que nem todo gráfico pode ser usado para representar informações, por
exemplo, comparativas.

 EXEMPLO

É o caso dos gráficos de pizza, que não devem ser usados para tal atividade porque dificultam, de imediato, a leitura
comparativa entre os dados dispostos (por isso, o recomendado são os de barra para essa situação).
Logo, para pensarmos sobre o poder dos gráficos, faz-se mister observar que:

A PRODUÇÃO DESTES GRÁFICOS FREQUENTEMENTE EXIGE O


USO DE TÉCNICAS COMPUTACIONAIS, COMO PROCESSAMENTO
DE LINGUAGEM NATURAL, MINERAÇÃO DE DADOS E DE TEXTOS,
ENTRE OUTRAS, BEM COMO PROCESSOS ANALÍTICOS
COMPLEXOS PARA A COMBINAÇÃO DE FONTES VARIADAS DE
DADOS. ALÉM DISSO, É PRECISO ATINGIR UM EQUILÍBRIO ENTRE
OS ASPECTOS COMPUTACIONAIS E OS ASPECTOS ESTÉTICOS DA
VISUALIZAÇÃO DE DADOS AO SE PRODUZIR TABELAS, GRÁFICOS
E OUTROS TIPOS DE IMAGENS, DE MODO QUE ELAS FAVOREÇAM
UMA COMPREENSÃO RÁPIDA E CORRETA DA INFORMAÇÃO.

(SANTOS et al., 2015, p. 3- 4).

Na esteira do pensamento de que “consideramos os gráficos e tabelas que carregam os dados como parte
fundamental da narrativa” (GÜLLICH; SIQUEIRA, 2018, p. 3), também é importante olhar para os infográficos com
atenção. Nesse sentido, de acordo com Abreu Sojo (2000) e Valero Sancho (2018), uma possível categorização é a
seguinte: Infográficos estatísticos; Infográficos informativos; Infográficos de cronograma; Infográficos de processo;
Infográficos geográficos; Infográficos de comparação; Infográficos hierárquicos; e Infográficos de lista.

 ATENÇÃO

Como é de se imaginar, por se tratar de um campo de atuação contínua e atravessamentos tecnológicos-temáticos


recorrentes, é bem provável que surjam novos tipos de infográficos ainda não citados pelos autores.

Já os diagramas, como formas bem mais simplificadas (na estrutura e construção informacional), servem para
esquematizar conceitos ou fluxos de dados, processos e etapas de maneira rápida e prática na leitura. Logicamente, o
peso da visualidade é também importante nesse formato, contudo, mais do que o aparato estético, é a ordem de
disposição das informações (de modo claro, objetivo e preciso) que interessa sobremaneira.

O exemplo a seguir explicita, de forma metalinguística, como a questão da processualidade e disposição informacional
são importantes no processo de preparação de uma notícia a ser publicada no jornalismo on-line.
RELAÇÃO ENTRE ESTÉTICA E FUNCIONALIDADE,
FORMA E FUNÇÃO, ENGAJAMENTO E
INTELIGIBILIDADE
Não basta que a forma seja perfeita, agradável e bela, mas a função se mostre deficitária. Como, igualmente, não
adianta que a funcionalidade seja adequada, perfeita e útil, mas que os aspectos estéticos sejam ignorados ou mesmo
pouco atraentes. Dessa forma, encontrar a virtude é perseguir o equilíbrio.

É pela equidade de valores entre estética e funcionalidade, forma e função, e engajamento e inteligibilidade que o
jornalismo de dados encontra o seu caminho como nova forma narrativa.

A funcionalidade deve garantir que o que é projetado atenda a seus requisitos comunicacionais. Assim, fica claro que a
reflexão estética abrange profundidades que ultrapassam a distinção entre o belo e o feio. Nesse sentido, a estética é
indissociável do aspecto funcional de um produto de design (e, por extensão, a relação entre estética e funcionalidade
também se aplica ao campo do jornalismo de dados como nova forma narrativa).

A Escola Bauhaus já havia anunciado a máxima:

ESCOLA BAUHAUS
 Escola de Arte Bauhaus em Dessau, Alemanha.]

Instituição vanguardista alemã nas áreas de Arte, Design e Arquitetura.

A forma segue a função.

Esse princípio dispõe que a forma assumida por algo deve ser escolhida com base em seu propósito e função
pretendidos. Esse conceito se aplica à Arquitetura, Engenharia, ao Design Industrial, Design Gráfico e, no nosso caso,
às hipernarrativas do jornalismo de dados. Equilibrar função e forma costuma ser uma área de dificuldade já que,
frequentemente, somos atraídos por produtos que foram projetados tendo a forma como a principal consideração. A
psique humana aprecia a beleza (SOURIAU, 1998; CALVERA, 2007).

Outro ponto a se pensar, a forma é considerada como o espaço tridimensional que um produto ocupa e, no contexto do
design clássico, ela está relacionada com o formato de um produto e as qualidades estéticas que essa forma lhe
confere. Assim, a função é a finalidade do objeto que pode ser prática ou psicológica. Vale, contudo, lembrar que esses
são critérios subjetivos mensuráveis com dados qualitativos. Forma e função trabalhando juntas.

A maneira como os humanos precisam interagir com os objetos geralmente dita sua forma e, por extensão, não
podemos esquecer de como as formas gráficas também se apropriam das formas tangíveis, físicas e que coabitam o
mundo digital e não digital (CARO, 2013).

Por fim, em relação ao engajamento e à inteligibilidade, como de modo recorrente, as questões de atração e uso
acabam por se misturar na forma como o design é apropriado nas práticas do jornalismo de dados. O design que é
mobilizado na construção da visualização dos dados (por meio de infográficos, hipernarrativas, compartilhamento da
base de dados etc.) é um tema que necessariamente envolve o engajamento e a inteligibilidade de uso. Não se trata de
um produto ou serviço específico, aplicativo ou site. É sobre o que acontece antes, durante e depois das interações
com os elementos que constituem o jornalismo de dados e suas variáveis narrativas multimidiáticas.
Em última análise, trata-se de encontrar o equilíbrio entre o engajamento humano e a compreensão (inteligibilidade)
daquilo que é oferecido no jornalismo de dados.

O que acontece depois que os usuários experienciaram ou consumiram uma hipernarrativa? O que os usuários fazem
com o que consomem? O que eles sentem? O que eles dizem aos outros? Como avalia Royal (2012), o jornalismo de
dados pode ser visto como um processo pelo qual análises e apresentações de dados são empregadas para melhor
informar e, igualmente, engajar o público.

INFOGRÁFICOS
Acompanhe alguns exemplos dessas novas narrativas em análise do professor Anderson Lopes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Reconhecer regras do design eficazes para narrativas baseadas em dados

Neste módulo, você encontrará, em termos de sumarização de ideias, algumas reflexões que continuam o diálogo
estabelecido no módulo anterior e, agora, avançam para compreender princípios básicos do design que são aplicados
ao campo do jornalismo de dados como um novo tipo de narrativa midiática.

CARACTERÍSTICAS DA BOA VISUALIZAÇÃO


É preciso entender que a consonância entre características que compõem uma boa visualização (características estas
que não devem ser vistas como dicotomias opostas, mas, sim, complementos em busca de diálogo) também acaba por
tangenciar como o jornalismo de dados posiciona-se na inter-relação entre design e comunicação. Da mesma maneira,
buscar o equilíbrio entre esses pontos como a funcionalidade, a multidimensionalidade e a beleza faz com que a noção
de hipernarrativas (ou mesmo narrativas interativas dinâmicas), produzidas a partir de conteúdos jornalísticos
provenientes de base de dados, materializem, segundo Barbosa e Torres (2013, p. 158), “modos novos de narrar,
novos formatos para os conteúdos, assim como as distintas possibilidades para a visualização das informações, as
quais estão afinadas também com uma estética de base de dados”.

Além disso, mais do que ter um bom design, é preciso se atentar para como o planejamento de uma peça gráfica deve
ser um dos fundamentos-chave no processo de planejar a construção noticiosa. Não deve ser algo que fique apenas
na responsabilidade do designer gráfico, mas, ao contrário, deve ser uma atividade em diálogo com o jornalista de
dados, com o programador, com o editor, com todos. Logo, um infográfico, tomado aqui como um exemplo de produção
que deve prezar pelas boas práticas de visualização, precisa ser bem planejado e estruturado desde o processo inicial
de sua feitura.
A ETAPA DE BUSCA E COLETA DE DADOS ESTÁ PRESENTE NA
DIMENSÃO INVESTIGATIVA, ENQUANTO A DISCUSSÃO DA
RELEVÂNCIA DOS DADOS RECOLHIDOS E DA RELAÇÃO
ESTABELECIDA ENTRE ELES CABE À DIMENSÃO INTERPRETATIVA.

(GÜLLICH; SIQUEIRA, 2018, p. 4)

Ainda é preciso levar em conta que esse é apenas um caminho entre muitos, e ainda há muito a se dizer sobre a
estética e sua relação com campos como design e jornalismo de dados. Logo, falar de um conceito de utilidade que
pode ser pensado a partir da estética – e vice-versa – apresenta muitos aspectos a explorar, como discute Caro (2013).
Em outras palavras, recursos devem ser explorados para pensar e refletir esteticamente sobre as mensagens
comunicacionais com as quais se vive o dia a dia, os objetos do cotidiano do design, que compõem a cultura visual do
mundo prosaico de cada dia e que acabam por também entrar nas práticas de produção do jornalismo (CALVERA,
2007).

Como lembram Valentini e van der Linden (2019, p. 11), o design é um termo profundamente difuso, plural e
polissêmico. “O seu significado muda dependendo de onde, por quem e em que contexto é utilizado. Por meio da
comunicação, além das diferenças nas perspectivas práticas e intelectuais de cada indivíduo, foram desenvolvidos
diversos significados com diferentes implicações”. Por isso, a multidimensionalidade é algo que não podemos ignorar,
com um mirada metalinguística, ao observar as múltiplas facetas que compõe a compreensão do que se entende por
design. O modelo das quatro dimensões do conhecimento ligadas ao design, proposto por Doblin (1987), pensa o
design como uma estrutura que é multidimensional, isto é, composta pelas dimensões:
Sendo assim, é nessa multidimensionalidade (na qual a comunicação poderia ser entendida como um elemento
condensador) que o jornalista vai trabalhar os dados em variadas formas (pensando, inclusive, nas formas de
visualização que serão empregadas). Isto é, o jornalista de dados e o designer terão que pensar “na apresentação das
informações, ou seja, é quando vai colocar em prática na etapa de escolha dos gráficos, cores, seleção de ícones,
montagem de infográficos e elaboração de demais elementos presentes na parte de visualização da reportagem”
(GÜLLICH; SIQUEIRA, 2018, p. 4).

O designer, o comunicador visual e o jornalista de dados, para além de tantos outros profissionais envolvidos nos seus
mais diferentes campos de ação, são os responsáveis pela gestão da relação entre:

FUNCIONALIDADE

MULTIDIMENSIONALIDADE
BELEZA

VERDADE

Eles devem, então, sempre se perguntar como podem melhorar as características de uma hipernarrativa
implementando apenas um tratamento visual superficial ou, ao contrário, se devem dar ao seu trabalho um valor
estético mediante a compreensão da profundidade das dimensões que intervêm no processo de design. São múltiplos
os caminhos.

CAMPO DE PERCEPÇÃO E PRINCÍPIOS DO DESIGN


Ao discutir o design a partir do campo de percepção, Colin Ware (2013) destaca que entende a percepção como a
capacidade de ver, ouvir ou tomar consciência de algo por meio dos sentidos. Uma maneira de considerar,
compreender ou interpretar algo; uma impressão mental (mas que, no caso do design, ganha materialidade).

Designers em geral são vistos como mestres desenvolvedores de percepções já que eles criam percepções usando
formas, cores, tipografia, organizações visuais, imagens e luz.

Ware (2013) lembra que o estudo básico da percepção em design gráfico foi desenvolvido na década de 1920 por meio
da Teoria da Gestalt, isto é, um ramo da Psicologia também conhecida como gestaltismo, teoria da forma, psicologia da
Gestalt, psicologia da boa forma e leis da Gestalt, que é uma doutrina que defende que, para se compreender as
partes, é preciso, antes, compreender o todo. Logo, você pode criar percepções gráficas de ideias e símbolos por
meio de princípios de semelhança em objetos, continuação do olho, fechamento de espaços e proximidade ou
agrupamento de formas e figuras.


Portanto, o design é realmente mais um estudo da percepção humana e como ela pode impactar os sentidos que
sentimos ou queremos sentir. Os designers podem moldar e formar nossas experiências visuais da melhor maneira
possível, mas nem sempre podem prever o resultado (especialmente, como relembram Machado (2004) e Giannella
(2014), quando lidamos com dados provenientes da realidade e reconstruídos no campo do jornalismo).

O campo de percepção para o design, segundo Ware (2013), também olha para os estudos de cognição humana para
tentar encontrar e entender padrões de informação.


Nossa compreensão dos dados visuais e das informações visuais é bastante aprimorada ou dificultada pela maneira
como as informações são apresentadas. É essencial que os dados visuais sejam projetados de forma que as
informações-chave e os padrões importantes se destaquem, lembra o autor.

Os princípios do design podem ser descritos a partir da composição, unidade, harmonia, equilíbrio, hierarquia e
contraste.

Guerra e Terce (2019) falam que o processo de composição é o passo mais relevante quando se busca por uma
solução dos problemas visuais (seja pelo excesso seja pela ausência).

 Exemplo de um dos princípios do design: contraste

É na composição que o comunicador visual exerce o mais forte controle sobre seu trabalho e, de forma direta, é
quando temos a maior oportunidade de expressar o estado de espírito que a obra se destina a transmitir. Ou seja, em
comum acordo com a informação que o jornalismo de dados quer enquadrar, é por meio da composição (que pode ser
formal ou simétrica, informal ou assimétrica) que o “conceito” da peça gráfica toma corpo.

Já a unidade, partindo novamente pelos aspectos da Gestalt, explicita que o todo é maior que a soma de suas partes.
Em uma composição, é possível usar cada elemento – linha, letras, forma e textura – de modo independente, mas
existe uma “força maior” quando se coordena de maneira inteligente esses elementos, como lembra Guerra e Terce
(2019).
Com igual importância, a harmonia diz respeito à disposição formal organizada no todo ou entre as partes de um todo.
Em conexão à unidade, na harmonia, predominam os fatores de equilíbrio, de ordem e de regularidade visual inscritos
no objeto ou na composição possibilitando, geralmente, uma leitura simples e clara (GUERRA; TERCE, 2019). Isto é, a
harmonia é o resultado de uma tentativa de busca pela “perfeita” (ou “ideal”) articulação visual na integração e
coerência formal das unidades ou partes daquilo que é apresentado, daquilo que é visto, daquilo que é enquadrado no
jornalismo de dados por meio de um infográfico e um texto, por exemplo.

O contraste, por sua vez, mostra-se como um instrumento decisivo no design já que ele opera desde o momento de
criação até às fases finais, dos últimos apontamentos, dos aparos que formatam a produção final. Por outra via, Guerra
e Terce (2019) ainda afirmam que o contraste pode ser entendido, ao mesmo tempo, como um instrumento, uma
técnica e um conceito. Em termos básicos e práticos, como exemplo, nossa compreensão do liso é mais profunda
quando o contrapomos ao áspero. É uma maneira eficaz para acrescentar algum atrativo visual a um gráfico, uma
tabela ou mesmo um simples diagrama.
Esses estímulos visuais e mesmo táteis são, na verdade, forças psicofísicas que modificam o espaço e ordenam ou
perturbam o equilíbrio, criando a percepção de um design, de um ambiente ou de um objeto. No entanto, por mais
abstratos que possam ser os elementos psicofisiológicos dos cinco sentidos, é possível perceber que o design e o
campo da percepção estão em contínuo diálogo no jornalismo de dados.

Por fim, o equilíbrio é um dos princípios do design que opera psicológica e fisicamente sobre a percepção humana.
Guerra e Terce (2019) explicam ainda que equilíbrio visual trabalha pelo sentido da visão, ou seja, experimentamos
equilíbrio quando as forças fisiológicas correspondentes no sistema nervoso se distribuem de tal modo que se
compensam mutuamente. No caso do design, equilíbrio também está conectado à harmonia (e, como tal, abunda a
subjetividade na definição ou padrão de referência para determinar a idealização).

Para além da unidade já citada, seguindo os princípios da Gestalt, o Design tem se apropriado ainda de conceitos
como segregação, continuidade, simetria, proximidade, semelhança, fechamento, como sintetiza a imagem a seguir.

Já a simplicidade, ainda que não seja considerada oficialmente um princípio formal do design, é muito falada como
um dos elementos mais importantes na criação de boas práticas de design ao estilo “menos é mais”.

John Maeda, Doutor em Design pela Universidade de Tsukuba, vai além e estabelece subdivisões para pensar a
simplicidade em termos tecnológicos (mas que neste espaço também são compreendidos potencialmente como
aplicáveis ao design), a partir da redução, organização, tempo, aprendizagem, diferença, contexto, emoção, confiança
e fracasso. Segundo Maeda (2006), é preciso eliminar tudo o que não contribui e, para isso, você precisa se fazer duas
perguntas a fim de encontrar o equilíbrio:

Até que ponto posso simplificar o que estou fazendo?

Que nível de complexidade preciso para alcançar o que desejo?

Sem necessariamente explicar uma a uma das oito leis de Maeda (2006), vale chamar a atenção para a questão da
redução como uma maneira mais simples de alcançar a simplicidade, ou seja, a redução fundamentada. Logo, ele
explica que essa simplificação é muito difícil porque essa é ainda uma decisão sobre quais elementos merecem “viver”
e quais elementos devem ser “sacrificados” por meio de três atividades práticas: estilizar, ocultar e integrar.

Pois bem, tendo o infográfico como exemplo, podemos dizer que precisamos discriminar o que é importante do que
não é e descartar os dados que não temos interesse em representar. Feito isso, tudo o que decidimos apresentar em
nossas páginas terá que ser estilizado e integrado ao todo. Os dados residuais, como as fontes das quais extraímos as
informações, devem ser "ocultos" (devem ser creditados, mas em fontes pequenas e como localização específica) para
que não roubem os holofotes do resto do design.

VARIÁVEIS RELEVANTES DA VISUALIZAÇÃO


Ao pensarmos nas variantes relevantes das formas de visualização dos dados, não podemos nos esquecer das
hipernarrativas. É pela correlação de boas práticas de design, checagem de informação e processos criativos plurais
que as hipernarrativas no jornalismo de dados podem ser entendidas para além de uma forma de representação ou
meio de ilustração secundário ou terciário de uma notícia. Barbosa e Torres (2013, p. 156) sinalizam que, “ao
compreender o Jornalismo Guiado por Dados como um dos aspectos do Paradigma JDBD [Jornalismo Digital em Base
de Dados], consideramos os produtos e os formatos dele derivados como configuradores de modos novos de narrar,
assegurados pela hipernarrativa em base de dados”. Assim, junto aos novos modos de narrar, acabam por surgir
também novos modos de dar corpo às imagens e aos dados, isto é, novas formas de encarar o jornalismo de dados
como uma narrativa complexa e cheia de sentidos.

Logo, ao discutirmos as variáveis (e mesmo potencialidades) de novas formas de visualização entre design e
jornalismo de dados, estamos a problematizar a relação dicotômica entre estética e funcionalidade, algo que, na
reflexão de Caro (2013), abre o debate para novas maneiras de pensarmos as práticas do design envolvidas nas
rotinas de produção jornalística.

Nessa linha de raciocínio, pensar a funcionalidade como categoria estética remete diretamente à concepção de
funcionalismo estético, ou seja, estamos no terreno em que o design é visto como a “teoria que vê uma fonte de beleza
na adaptação da forma à função” (SOURIAU, 1998, p. 606).

Como explica Costa (2013), trabalhar com a questão da classificação no campo das variáveis diz respeito não apenas
a entender a hierarquização das informações como ponto de relevância na construção de elementos gráficos, como
também observar as categorias de informação dispostas na imagem, tabela, mapa etc. que coconstroem as narrativas
do jornalismo de dados. Classificação deve produzir, junto à combinação, informações inteligíveis já que:

OS DESIGNERS TRABALHAM COM A DIMENSÃO INTANGÍVEL, OU


SEJA, COM IDEIAS QUE UMA VEZ TRANSFORMADAS EM
“IMAGENS” OU FORMAS, SE TORNAM INTELIGÍVEIS E ACESSÍVEIS
AOS CIDADÃOS. A VISUALIDADE É DETERMINANTE NA
INTELIGIBILIDADE.

(COSTA, 2013, p. 134)

Por fim, na questão da comparação como um dos focos de variáveis na produção de dados visíveis, é necessário
observar como as redes sociais e a internet (com fontes fidedignas e legítimas) podem ser aliadas nesse processo.
Mesmo o uso tecnológico de softwares é algo relevante para pensarmos no desenvolvimento de novas maneiras de
visualização gráfica no jornalismo de dados. Ou seja:

A COMPUTAÇÃO, NESSE CASO, É VISTA COMO UM FATOR DE


EVOLUÇÃO DO JORNALISMO, PERMITINDO INOVAÇÕES COMO
DETECÇÃO AUTOMÁTICA DE TÓPICOS NA REDE MUNDIAL DE
COMPUTADORES, ANÁLISE DE VÍDEOS, PERSONALIZAÇÃO,
AGREGAÇÃO, VISUALIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDO.

(SANTOS et al., 2015, p. 7)


PRINCÍPIOS
O professor Anderson Lopes explica alguns princípios do design a nortearem as novas narrativas do JD.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nossa discussão para entender o jornalismo de dados como nova forma narrativa teve a companhia de elementos
como as hipernarrativas e a estética da base de dados. Assim, foi possível entender que o conceito de hipernarrativa
(especialmente por meio de narrativas interativas como mostrou o exemplo do jornal The New York Times) traz consigo
excelentes reflexões para entendermos nosso tempo fragmentado, não linear e com fluxos informacionais cada vez
maiores.
Além disso, no que diz respeito à representação da informação jornalística, pudemos ver também que a visualização
de dados e os formatos para conteúdos podem ser discutidos através de tabelas, mapas, gráficos, infográficos e
diagramas que fazem parte das rotinas jornalísticas. Na relação entre estética e funcionalidade, forma e função,
engajamento e inteligibilidade, vimos que o jornalismo de dados e os princípios do design se encontram em diálogo
justamente porque as características de uma boa visualização estão relacionadas a entender as demandas específicas
do campo jornalístico.

PODCAST
Agora, o professor Anderson Lopes encerra o conteúdo com uma entrevista sobre os principais pontos abordados.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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Midiáticos, v. 15, n. 2, 2013.

EXPLORE+
Caso queira se aventurar pelo mundo dos gráficos dentro do jornalismo de dados, a sugestão que damos é tirar
um tempo, pegar uma pipoca e começar a navegar por uma editoria específica do portal noticioso NEXO. Na
editoria “Gráficos”, você encontrará uma multiplicidade de dados que criam perfeitas hipernarrativas localizadas
em base de dados que tratam do cenário nacional e internacional.

Ficou interessado em conhecer mais sobre como os infográficos são produzidos e como eles podem ser lidos em
profundidade? Recomendamos uma visita ao portal digital Como Ler Infográficos. Ele faz parte de um Projeto
de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolvido por pesquisadores do Departamento de
Comunicação Social (DCS). O Projeto visa a compartilhar e aproximar os estudos do ambiente universitário com
outros setores da sociedade, apresentando as estratégias de informação e desinformação que são realizadas por
meio de infográficos.

A dica para quem quer entender mais sobre a importância da visualização de dados (especialmente nos vínculos
entre o jornalismo de dados e o campo do design) é a palestra proferida pelo Prof. Dr. Ricardo Cunha Lima
(UFPE), no ciclo de web seminários CVDvive. O evento digital foi organizado pelo Laboratório de Visualidade e
Visualização – Labvis, e é parte do projeto de extensão Design: Desafios e Inquietações Contemporâneas
(Programa de Pós-Graduação em Design – PPGD, UFPE).

CONTEUDISTA
Anderson Lopes

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