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Introdução à Filosofia

Para falarmos em Filosofia precisamos primeiramente falar em Introdução à


Filosofia, que se pode definir como sendo a ciência que ensina a filosofar. A introdução é um treino
e fornece noções para que se possa, com mais facilidade, aprender a filosofar. Ao tomar contato
com essa ciência, o leitor não deverá considerar-se um aluno, e sim, um discípulo. Por que? Muito
simples: Segundo Aristóteles o aluno estuda para aprender alguma coisa, aprender Filosofia, por
exemplo: o discípulo é aquele que sabe o que quer aprender a filosofar. O primeiro leva em conta e
aprende, ou melhor, memoriza o que os outros dizem: o segundo pensa por si mesmo e adquire
conhecimentos imediatos e pessoais. Questiona outros e questiona-se, descobre e busca soluções.
Espanta-se, admira-se, tem dúvidas e busca soluções. O discípulo é um homem interessado,
desenvolve suas capacidades naturais e inatas como é o caso do espanto, da admiração e um
exemplo bem concreto é alguém conhecer belezas naturais de uma cidade ou país, através de
postais, revistas ou cinema e depois conhecer esses mesmos lugares pessoalmente. Pensemos nesses
dois modos de conhecer. Ver com os próprios olhos, “in loco” e maravilhar-se com as belezas e
viver o momento de admiração. È completamente diverso do que ver as mesmas coisas por meio de
postais. Este maravilhar-se diante de um espetáculo, diante de uma beleza natural, frente a alguma
coisa fantástica, ou mesmo a admiração diante do horrível, do suspense, frente a um problema ou a
uma dúvida, esta admiração é o chamado “espanto místico”, que segundo Platão é o
“Thumatzomai” o “admiro-me” diante do mistério do ser. Este admirável é possível porque o
homem possui o espírito filosófico que é inato ao ser humano. Na criança a curiosidade é natural,
ela tudo quer saber. É chamada fase dos porquês, no adulto já é uma curiosidade infantil reflexiva,
porque ele sabe que está inquirido e porque assim o faz. O adulto pergunta e busca encontrar a
resposta. É uma descoberta pessoal, vivida com o próprio esforço. Isto, é desenvolver o espírito
filosófico, é filosofar, é Filosofia.
Ao iniciarmos qualquer atividade, somos sempre movidos por uma razão qualquer. Esta
razão de ser das nossas ações é o objetivo, a motivação que nos impulsiona a pensar e agir. Quanto
mais vivificada, quanto mais próxima, tanto mais se transformará em justificativa e critério de
validade. Não só as nossas atividades mas a nossa própria vida é motivada por objetivos. A partir do
momento que alguém descobre que tudo não tem sentido, que não vale a pena lutar, isto é uma
frustração que surge de certos fatores considerados inúteis; seja no trabalho, seja no cotidiano da
vida. Enfim o que faz mesmo o homem se entusiasmar na vida é quando ele descobre as finalidades
importantes, os objetivos pelos quais deve lutar. E, esta descoberta é possível se tivermos o hábito
de pensar, de refletir.
O objetivo forte da Introdução à Filosofia é levar alguém a criar o hábito da reflexão.
O centro de toda a reflexão é o homem. Só ele pode e deve refletir, repensar seus pensamentos. Só o
homem tem condições para esse ato.Porque refletir é vital; filosofar é gesto concreto de um sujeito
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em uma determinada situação. Filosofar é uma atitude humana, é uma das inúmeras determinações
e experiências da Práxis humana, onde o homem coloca sua liberdade em face de uma situação que
desafia sua coragem, sua argúcia, sua vontade, na sociedade onde está inserido. Quem de nós já não
passou por várias experiências dessas? Quem enfrentou uma situação difícil e não pensou e
repensou antes de agir? Se assim não o fez, agiu sem justificativas.
Quando falamos em Práxis humana pensamos numa atividade humana que se insere no
mundo cultural-histórico-social. A prática filosófica é uma inserção do homem na história e na vida
de uma comunidade. Filosofar é buscar o fundamento, o sentido, o valor da realidade. Partindo da
nossa própria realidade , quem somos nós? Qual é realmente nossa origem? Por que estamos no
mundo? Eu faço minha vida ou ela já está traçada para mim? Se está traçada eu contribuo ou
simplesmente me acomodo? Que é a vida? Que é a morte? Enfim estas e muitíssimas outras
questões devem ser levantadas, pensadas, refletidas. Este é o ato de filosofar se assim agindo o
homem está filosofando, esta fazendo filosofia, está construindo sua vida, sua filosofia de vida. Ato
este muito diferente do ato de sofismar, que significa realmente discutir, argumentar, raciocinar,
mas de forma diversa do ato de filosofar. O ato de sofismar se apresenta com uma aparência de
verdade, afim de levar o outro a enganos. O sofismar é próprio do sofista e diria até de cético. Foi
em meados do século V a . C que apareceram os primeiros sofistas, sendo local próprio, a Grécia
onde Atenas será o centro da cultura grega. Tendo sido então os sofistas os que primeiro
valorizaram e reconheceram o saber, elaborando assim o conceito de cultura que foi denominado
por eles de “Paidéia”.
Os sofistas eram pessoas sem grande cultura mas discutiam problemáticas que giravam em
torno de grandes questionamentos: por que existem opiniões diferentes? Qual o valor dado a elas?
Seu valor tem base na realidade? E ainda: qual a utilidade dessas opiniões nas relações entre os
homens? Estas e outras tantas questões eram levantadas e ou discutidas pelos sofistas com seu
ouvinte e interlocutores. Assim com os sofistas a filosofia grega passou da fase cosmológica para a
antropológica, isto é, os gregos se desligaram um pouco da astrologia, do cosmos preocupando-se
mais com o homem, consigo mesmo. Esta filosofia assim caracterizada pelos sofistas apresentou
uma nova determinação especulativa, mostra o homem como protagonista e centro de toda a
situação.
Com a sofistica surge o filósofo, homem da sociedade, que não mais medita na ociosidade
de seus dias, ou dialoga simplesmente, mas um homem ativo, que pergunta e discute até encontrar a
resposta que o satisfaça.
As colocações problemáticas e exigências apresentadas não em essência, pelos sofistas,
atinge sua plenitude com Sócrates definida e expressa pela sua afirmação até hoje válida: “Conhece-
te a ti mesmo”, sendo possível daí estabelecer uma diferença fundamental entre o pensamento
sofístico e o subjetivismo socrático. De acordo com os sofistas o homem é o que é a realidade, de
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acordo com Sócrates o homem é o principal personagem de todo o questionamento, de toda a
problemática, reduzindo-se a uma só a importante questão:-“conhecer o bem”, sendo assim o
homem tem uma única realidade e passa a filosofar e não sofismar, embora existam ainda em
nossos dias, sofistas, socráticos e céticos.

Importância e necessidade da Filosofia

A Filosofia tem sido sempre uma tentativa de indicar qual é o sentido do ser do homem no
mundo.
Segundo a concepção Aristotélica, no seu livro I de Metafísica, nos mostra que o homem ao
levantar os primeiros questionamentos, não os fez por certo inquirindo por verdades e explicações
profundas, mas sim assumindo uma situação filosófica diante do mundo, como um ser estético,
lógico, como ser mortal e ativo que anda em busca de soluções para suas dúvidas, um homem que
anda neste mundo conturbado em busca constante de alguma coisa que o aquiete da angústia em
que vive, explicações essas que venham atender às exigências de sobrevivência e aprimoramento do
seu próprio ser.
Desta forma podemos afirmar mais uma vez que o filosofar é realmente um gesto concreto
de um sujeito concreto numa determinada situação, frente aos desafios que a sociedade onde está
inserida, lhe apresenta.
Filosofar é ato que o homem pratica, é uma prática humana, não é próprio somente do
filosófico, é uma das inúmeras determinações da práxis humana, onde o homem empenha sua
liberdade em face de uma problemática que desafia sua capacidade e coragem.
Vivemos numa sociedade caracterizada pelo século das mudanças e surpresas, rápidas e
constantes, vivemos recebendo e dando inúmeras influências, é o tempo da troca de influências,
troca de mensagens, pela comunicação escrita, falada e visual; influências que auxiliam
grandemente na modificação do nosso comportamento. Influências que nem sempre são as que
deveríamos receber, geralmente são perniciosas, prejudiciais que vêm deformar a educação e a
formação da personalidade do homem.
Que fazer então frente a esta realidade? Que atitude tomar? Qual é a causa disso tudo? Devo
aceitar? – Quando interrogamos e buscamos respostas estamos filosofando. Por que perguntamos?
Primeiro porque possuímos naturalmente o espírito filosófico; segundo porque os fatores que levam
o homem a filosofar são a dúvida, a admiração e o sentimento de debilidade.
Frente a um questionamento, a uma dúvida, qual nossa atitude? Adaptação? Acomodação?
Ou questionar, analizar, criticar? O mais importante é realmente analizar a situação, criticar, refletir
antes de aceitar e agir.
Qual é realmente a utilidade da Filosofia? Para que ela serve?
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A falta de utilidade da Filosofia já foi discutida e debatida há muito tempo, existe uma
anedota bem antiga sobre a famosa queda de Tales de Mileto, primeiro filósofo grego, que,
preocupado com os astros com a astronomia, ao contemplar extasiado o brilho das estrelas, caiu
num poço, queria saber o que se passava no céu, esquecendo-se que tinha diante de si e abaixo de
seus pés. Este fato acontecido a tanto tempo atrás deve nos servir para que nos preocupemos mais
com aquilo que está bem mais próximo de nós, com aquilo que é bem nosso, do nosso dia a dia e do
nosso íntimo. Deixar de nos preocupar e envolver com coisas fúteis e desnecessárias. Colocar os
pés nos chão e resolver os nossos problemas através da reflexão, do diálogo da busca consciente da
verdade e do bem. Não permanecer com as nossas verdades buscar através da filosofia encontrar a
verdade e evidência da realidade que nos cerca.
As ciências de nossos dias afirmam mais convictas de que “com a Filosofia não se pode
fazer nada”. Certo, de fato com a Filosofia nada se pode fazer, e está exatamente nesse nada toda a
resposta ou toda a verdade. Pois a própria ciência sem esse nada poderia existir.
Mesmo com este aspecto negativo a Filosofia continua e só nos resta perguntar se também a
Filosofia não poderá fazer nada conosco caso nos comprometemos a entende-la e praticá-la?
A maioria dos estudantes vão para as Universidades apenas visando atingir espectativas
materiais e formais. Não tem noção nem do que é uma Universidade e mais tarde quando inicia o
cstudo da Filosofia, quando felizmente esta disciplina existe nos currículos dos cursos, o estudante,
então vai descobrindo quais as formas e meios para se encontrar a verdade das coisas, a verdade
em sua essência e qual é a verdade real do homem e do mundo em que vive.
É através da Filosofia que nos tornamos conscientes de que somos gente, pessoas, e não
objeto nem máquina. É na e com a Filosofia que o homem se humaniza e humaniza os osutros.
“As ciências a tecnologia, podem dizer ao homem como se fazem objetos, a Filosofia dirá
como se constrói o homem e o seu mundo”.
Sem a Filosofia a Ciência corre o grande risco de construir estruturas desligadas do homem,
construirá sim, máquinas, robôs, mas não homens. A Ciência da Filosofia está sujeita a produzir a
criar monstrengos que poderão originar tragédias sociais como muitas de nosso século. Por exemplo
a Educação sem bases filosóficas não será educação é apenas instrução, transmissão de
conhecimentos, de culturas e histórias ultrapassadas que não tem interesse nem utilidade às vezes ao
aluno.
A Filosofia é realmente uma ciência que busca e pretende dar as explicações essenciais a
todos as dúvidas e preocupações que afetam o pensamento do homem. A Filosofia vai até o âmago
das coisas, até as razões mais profundas de todos os seres sendo considerada como a ciência mais
vital e essencial de todas.
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Muito se poderia ainda dizer sobre a importância e utilidade da Filosofia no entanto para que
o próprio leitor descobri-las a medida que for se aprofundando na leitura e refletindo sobre o
assunto.
Conceito de Filosofia
Gênese da Filosofia – Objeto da Filosofia

Vários são os conceitos dados à Filosofia, pode-se até afirmar que são contraditórios, às
vezes, pois eles surgem conforme a corrente filosófica da época embora sejam reelaborados de
tempos em tempos pelas contribuições que recebem. Citaremos alguns conceitos:
“Filosofia é um conjunto de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos que tendem
a fornecer a explicação fundamental de todas as coisas”.
“É a ciência que dá explicação aos porquês de todas as coisas”.
“Filosofia é uma reflexão crítica sobre os problemas e, sobre as soluções que foram dadas”.
“Filosofia é a ciência do saber”.
“Filosofia é a ciência das primeiras causas e dos primeiros princípios”.
“A Filosofia é o conhecimento pelas causas primeiras e universais, obtido sob a luz da razão
natural”. (SANTO TOMÁ, Comentário à Metafísica de Aristóteles, I,1 e I,3)
“A Filosofia é a ciência do Absoluto”. (HEGEL, Enzyklopadie,p.47)
“A Filosofia é a tentativa para pensar do modo mais genérico e sistemático em tudo o que
existe no universo, no todo da realidade”. (George F.Keller – Introdução à Filosofia da Educação
p.11)
“A Filosofia é a fonte comum onde encontram suas justificativas os princípios fundamentais
de todas as outras ciências, que nestas condições dependem dela. Ou mais precisamente ainda: a
filosofia é o conhecimento universal”.(Farias Brito, Finalidade do mundo, Inst. Nacional do
Livro,Rio,1957 v.1º p.56)
Como podemos verificar as definições divergem mas as divergências não chegam a ser
profundas pois as definições sempre apresentam alguns pontos comuns, ou seja, nenhum deles
pretende exaurir o conteúdo principal da Filosofia. As definições mais se completam do que se
diferenciam ou contradizem. Um ponto que se pode afirmar comum nos diversos conceitos dados à
Filosofia é pois difícil desligar filosofia do aspecto cognitivo do homem, outro ponto considerado
também comum nas definições é a própria Filosofia, admitindo-se que nos vários sistemas
filosóficos ela é o primeiro e o maior dos problemas. Ela própria é o grande problema para o
homem.
O que fica claro é que, as definições dadas pelos estudiosos, sobre a filosofia, deve ser
levado em consideração,como sendo um conjunto de questões e respostas arbitrárias sobre a
problemática filosófica de cada época.
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Diversificadas ou não as definições, análogas ou antagônicas o certo é que o vocábulo
“filosofia” tem sua gênese, sua origem da mescla de “mitologia” com a “cosmogonia, havendo
neste sentido uma relação entre as cosmogonias da época e as especulações pré-socráticas, havendo
entretanto uma diferença metodológica: método descritivo dos teólogos e racional dos filósofos.
Á divergências também quanto a localização, onde surgiu a filosofia, se na Grécia ou no
Oriente.Certos autores dizem que as condições históricas comprovam o surgimento da Filosofia
tendo como berço a Gécia. Outros caracterizam que há influências orientais no pensamento grego,
não se podendo afirmar categoricamente que a filosofia seja originária da Grécia. Alguns autores
por sua vez afirmam que houveram especulações filosóficas na China e na Índia, que são
merecedoras de crédito.
O certo é que tenha ou não influências de outros, o pensamento do hemem heleno, tenha ou
não havido especulações filosóficas no Oriente antes da Grécia,os significados que teve o termo
filosofia,só sobressaíram e atingiram suas reais acepções,a partir dos gregos; cabe a eles portanto o
mérito de terem sido os primeiros a levantarem questionamentos reflexivos sobre o ser. Foi a
Grécia,portanto, o berço da filosofia,os gregos foram os primeiros que pensaram o termo filosofia
de onde etimologicamente se originou.: philosophia, de philos que significa amigo e Sophia que
quer dizer sabedoria, cuja significação é: amor à sabedoria, amigo do saber.
Em síntese sobre o que trata a Filosofia afinal? Qual seu âmbito? Qual seu campo de ação?
Seu objeto e objetivo?
Se a Filosofia se preocupa em dar resposta à todas as perguntas feitas pelo homem. Se ela se
concentra primordialmente nas especulações sobre o conhecimento, os atos humanos e o conjunto
da realidade que nos cerca tem uma atenção toda especial pelo homem é evidente que seu objeto,
seu campo de ação são todos os seres que existem, tudo o que existe e que suscita dúvidas,
curiosidade, perplexidade ao homem. A Filosofia trata, especula sobre os mais variados temas tendo
por objetivo tentar dar uma explicação, procura mostrar as veredas até encontrar a verdade.
A Filosofia sendo ciência no verdadeiro sentido da palavra é um conhecimento certo,
evidente, metódico, crítico, sistemático sobre as verdades universais e necessárias, que fazem parte
da vida do homem, e sendo este a âmbito atual da Filosofia, sabendo-se entretanto que ela na
antiguidade ou seja, mesmo antes de ser considerada como tal, ela se apresentou como ciência
única que abarcava as demais existentes na época, quem estudasse por exemplo, Filosofia, estaria
estudando todas as outras ciências. A partir da Idade Média houve a independência e cada ciência
tornou-se livre com seu campo de ação e objetivos específicos: Astronomia, Biologia,
Psicologia,Matemática, etc. cada uma formaram ciências à parte, separando-se da Filosofia, que por
sua vez, tornou-se a Ciência mais vital e necessária que passou a afirmar-se na cultura constitindo a
base e justificativa para todas as outras.
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Métodos

Para que a Filosofia consiga atingir seu objetivo, definido seu objeto, ela precisa de
métodos. Cada corrente filosófica com seus criadores e precursores, usara, determinados métodos,
desde Sócrates com a famosa maiêutica,até nossos dias, o método fundamental da filosofia foi e
será sempre o da reflexão. Mas, para que se tenha uma ordem lógica na busca e solução da
problemática que se apresenta, é necessário que o pensador siga um determinado método, assim, a
Filosofia possui três métodos:
1- Intuição – consiste na apreensão de uma determinada realidade, através de um único ato
de espírito,é por meio deste método que se adquire conhecimentos imediatos. Existem
três formas de Intuição:
a) Intuição sensível ou intuição visual – é a primeira que se adquire.
b) Intuição espiritual - é aquela que estabelece uma relação mental entre um
conhecimento e outro, exemplo: a diferença entre filosofar e sofismar – a
diferença entre uma bola e uma caixa.
c) Intuição real – é a intuição que penetra no fundo das coisas, é a que procura
captar a essência do ser.

2- Método da Dedução
Este é o método que parte de verdades gerais para verdades particulares. Ex:
Um homem é um animal racional
Paulo é homem
Logo: Paulo é racional
É o método da lógica, do raciocínio que estabelece uma relação lógica entre as coisas,
entre as verdades permitindo ao homem julga-las com mais coerência, para aceita-las e admiti-las
em sua vida.

3- Método da Indução

É o método que tem por base enumerar verdades particulares e estabelecer uma verdade
geral, decorrente das anteriores. Ex:
Os animais são mortais
Os homens sãomortais
Os seres vivos são mortais
Identificando o âmbito, o objeto, o objetivo e os métodos da Filosofia vamos caracterizar
os fatores que impulsionam e levam o homem a filosofar, ou seja, o homem passa a
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filosofar a partir da admiração, da dúvida e da descoberta do sentimento de debilidade
que é portador.
1- Admiração – A admiração é o primeiro degrau para o exercício do filosofar. Por
que? Porque como já vimos, o homem possui naturalmente o espírito filosoófico que
é inquisitorial, curioso e reflexivo, sendo assim a admiração surge frente ao
desconhecido, ao deparar-se com aquilo que desconhece, que lhe é estranho, o
homem admira-se,espanta-se,despertando daí o desejo de conhecer, tomando
consciência de que deve saber, deve conhecer o objeto de sua admiração,passa a
questionar-se: Que é isto? Qual é sua origem? Sua essência? De onde veio? Para que
serve?
2- Dúvida – Após ser adquirido pelo homem o conhecimento inicial, conseguido pela
admiração, surge a dúvida sobre o mesmo. Será que o objeto ou o assunto tratado,
são assim mesmo como o velo ou admito ser? Tenho certeza absoluta disso?
Com estas interrogações estamos diante de uma dúvida em nosso pensamento, que só
através de uma reflexão, de uma análise de prós e contras é que chegaremos à
verdade absoluta.
3- Sentimento de debilidade – Enquanto estamos somando conhecimento sobre a
realidade que nos cerca, ao mesmo tempo estamos vivendo nesta realidade, assim
não nos damos conta de nós mesmos. Não pensamos muito na nossa situação,
principalmente no que se refere à nossa origem, na causa do nosso ser, em nosso fim.
Haverá um momento no entanto em que nos encontraremos frente a uma dificuldade,
frente a um obstáculo qualquer, aí então vamos tomar consciência de nós mesmos,de
nossa realidade, de nossa existência, de nossas fraquezas, de nossos erros, de nossa
dimensão existencial. Tomamos conhecimento de nosso sentimento de fraqueza, de
debilidade.
Quando nos sentimos fracos é que nos pergunatmos: afinal quem sou eu? Onde está a
força para enfrentar a situação? Qual é o meu objetivo? Qual será o meu fim?
Como vimos a Filosofia surge quando o homem se admira, tem dúvidas, se
interroga e toma consciência de sua própria debilidade e fragilidade existencial.

O Conhecimento Humano
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1 – A ciência do conhecimento, conceito, denominações, objeto e objetivo

Vulgarmente usamos com muita facilidade, o termo conhecer ou conhecimento, sem


nos determos sobre a complexidade que eles abrangem.
Para iniciarmos um estudo sobre a conhecimento humano, que é um assunto muito
complexo e amplo, devemos em primeiro lugar procurar entender qual é a parte da
filosofia que trata esse tema e qual a ciência específica do conhecimento. Vários são
os autores que já se pronunciaram sobre esse assunto, havendo até sido levantadas as
questões fundamentais sobre a existência real do conhecimento, sua gênese, sua
estrutura,desenvolvimento, etc.
As dúvidas e indagações sobre essa problemática são inúmeras.
Partindo da questão, que é o conhecimento? As precedentes surgem logo: somos ou
não capaz de conhecer? Qual é a origem afinal do conhecimento? Porque
conhecemos? O que realmente devemos e queremos conhecer? Qual é a ciência que
trata sobre o conhecimento?
Tendo por base questões nesse sentido,vários estudos já foram feitos sobre o
assunto. Neste trabalho despretencioso tivemos oportunidade para pesquisar e
analisar obras de alguns autores, para podermos aqui, nossas conclusões e afirmações
dos mesmos.
Sendo assim comecemos dizendo que a ciência que trata sobre o conhecimento
humano, está na parte da filosofia, designada como Metafísica, que é a ciência do
“ente” enquanto “ente”, é a doutrina da essência das coisas, da essência dos seres,
partindo das causas primeiras e dos primeiros princópios.
Toda a ciência como tal possui seu objeto ou seja aquilo que ela estuda, a coisa
com a qual ela se preocupa; a Metafísica possui dois objetos:
a) objeto material – estuda o ser, o ente, é o objeto comum a todas as ciências.
b) Objeto formal – estuda o ente enquanto ente, abrange absolutamente tudo de
todos os seres, desde o ser superior Deus, até o mais simples dos seres
existentes. Através do seu objeto formal a Metafísica trata do estudo dos
animais, dos vegetais, do homem, da alma, dos seres de razão; procurando
estudar cada ser na sua essência absoluta.

A Metafísica defende a base e os princípios das demais ciências, e só ela pode fazer isso por
ser ciência livre por excelência.
Além da Metafísica esta ciência recebe denominações conforme o assunto a ser tratado:
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a) Filosofia – por ser a primeira a oferecer os primeiros princípios e os
fundamentos para as outras ciências;
b) Ontologia – por tratar dos seres em geral
c) Teodicéia – por ser a ciência de Deus, seu objeto é o assunto do Ser Superior
Deus e seus atributos essenciais.
São denominações dos temas fundamentais a serem tratados,porque tanto Metafísica como
Ontologia ou Teodicéia, são a mesma ciência Filosofia, diferenciadas apenas pelo seu objeto
formal a que se propõe estudar.
Também para um estudo mais fácil e de melhor compreensão, divide-se a Metafísica
em:
a) Geral – ou Ontológica, do grego “Ontos”, que significa ente e “logos”
designando estudo, é portanto a ciência que estuda o ente o ser sem a matéria, por
abstração, o ser como tal. Estuda o ser, na sua essência, o ente enquanto ente em
si mesmo.
b) Especial – trata dos seres imateriais e subdivide-se em:
1) Teodicèia – que estuda o ser universal, Deus, causa, essência e atributos.
2) Crítica – estuda o ser universal enquanto cognoscível, trata sobre o
conhecimento humano e sua valoração; é uma parte da Metafísica que
procura ver se o conhecimento é verdadeiro e objetivo.
A crítica como ciência e conforme o tema que tratar, por sua vez, também recebe
determinadas denominações, tais como: Gnoseologia, Criteriologia, Epistemologia, Teoria
do conhecimento e Fenomenologia do pensar.
Conforme nos propomos em deixar registrado neste trabalho, não um estudo
profundo, mas noções de iniciação sobre cada tema, para uma orientação ao estudante de
Filosofia, vamos apresentar aqui algumas noções sobre a Crítica,parte da Metafísica que
trata da valorização do conhecimento humano.
Partindo dos problemas centrais que desde os primeiros tempos filosóficos foram
abordados pela Crítica.

Problemas Centrais da Crítica

Surgiram grandes questionamentos que foram e ainda são o centro da atenção,


daqueles que se aprofundam no estudo filosófico. Platão afirmava ser ilusório todo conhecimento
humano, do ponto de vista material “ o conhecimento que temos de nossa mãe, nossos filhos é
verdade ou ilusório?” questionava este filósofo grego e afirmava:”se é verdadeira a mãe,os filhos,
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tudo existe realmente ou é uma simples idéia? Ou então é dúvida?” Destes e de outros
questionamentos profundos e reais é que surgiram os problemas centrais para a Crítica:
1º - existe a verdade?
2º - admitida a verdade no conhecimento humano, a coisa conhecida é só idéia? É só
matéria? Ou então uma e outra coisa?
No primeiro problema, conclui-se que, se há conhecimento humano, existe verdade.
A verdade como adequação da inteligência com a coisa conhecida, daí a existência da
verdade, da certeza, como o agarrar-se da inteligência à verdade conhecida. Esta primeira
tomada de posição frente ao problema central da Crítica chamado Dogmatismo, ou seja uma
tendência do pensamento para afirmar ou crer como verdadeira uma crença, um sistema, um
dogma, é a certeza absoluta, o Dogmatismo ou melhor o dogmático afirma ou crê como
verdadeiro o conhecimento apreendido e aceito como tal.
Caso contrário, não sendo admitido como certo o conhecimento,não havendo
nenhuma verdade,nenhuma certeza, tendo o conhecimento permanecido na duvida e sendo
esta dúvida universal e permanente, temos aqui um problema bem diverso do dogmatismo, é
o chamado Ceticismo. Enquanto o Dogmático afirma o Cético nega e duvida. Para o
dogmatismo conhecer as coisas implica no conhecimento direto do objeto, crêem os
dogmáticos que basta apreender o objeto em sua corporeidade para que tenha um
conhecimento percebido pela razão. O Dogmatismo enfatiza por demais o valor da razão
humana sem preocupações quanto seus limites,sistemas ou determinações para a aquisição
dos conhecimentos, nem a preocupam também quanto a verdades ou evidências universais
com relação aos seres e existência dos mesmos ou até mesmo sobre sua própria vida e seu
modo de agir. Não se detém muito sobre normas éticas religiosas ou políticas, para o
eilegmo verdadeiro é o que sua consciência lhe dita que assim o seja. Este é o chamad
dogmatismo total, pois admite todo o conhecimento a capacidade da razão humana. O
dogmatismo parcial se apresenta conforme o aspecto do conhecimento, há um campo
determinado para o conhecer com relação ao objeto, aparar se conhecer ou melhor se o
assunto a ser tratado é sobre conduta,por exemplo.
O ceticismo também como o dogmatismo pode se apresentar de duas formas: geral e
parcial conforme seja o conteúdo do conhecimento a ser apreendido pela razão humana, se
um determinado tema é apreendido em sua totalidade ou apenas um aspecto da coisa a ser
conhecida. Tanto o ceticismo geral como o parcial apresentam um aspecto contraditório,
para defender suas idéias. Pois ao afirmar que é impossível conhecer, estão aí admitindo a
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existência do ato de conhecer. Duvidar de tudo e mostrar indiferença a tudo o que existe é a
base e a essência do ceticismo universal nascido com Pirrón (360-270 a . C.),onde começa a
história do ceticismo no início da Filosofia grega.
Ao lado destes problemas antigos, outros surgem para a Crítica investigar,discutir e
tentar encontrar uma resposta até encontrar a verdade, a certeza. – Se existem as coisas, se
existe uma verdade, uma certeza só das coisas, onde estão essas coisas? Onde elas residem?
Na inteligência somente? Como quer Platão? Kant? E Hegel? – Na matéria somente? Como
afirmam Karl Marx e seus precurssores? Ou então na inteligência e na matéria como
defendem Aristóteles e Tomás de Aquino?
Destes grandes questionamentos surgiram grandes filosofias:
- o idealismo de Platão
- o materialismo de Marx
- o realismo crítico de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino
Assuntos estes que não serão abordados aqui,por serem temas próprios da história da
Filosofia e não deste que nos propusemos a abordar neste trabalho.
Cabe à Crítica,sendo parte da Metafísica, que investiga, portanto, sendo uma parte da
Metafísica que investiga ser ou não o conhecimento humano verdadeiro e objetivo,
cabe a ela apresentar as respostas a esses problemas que até aqui tem surgido.
Todo o estudioso de uma determinada Ciência, o faz por meio de um método. A
Crítica como as demais ciências possui também seu método que naturalmente são os
mesmos da Filosofia sendo fundamentada na reflexão, tendo por ponto de partida a
dúvida metódica e universal e por objetivo ou seja o ponto de chegada, a verdade, a
certeza.
Se temos dúvidas diante de alguma coisa, de um objeto, de um ser; se chegamos até
encontra uma verdade sobre esses mesmos elementos, é por que conhecemos esses
seres, temos idéias sobre eles. Assim sendo, perguntamos: afinal o que é o
conhecimento? De onde provém? Quem tem condições de conhecer? É possível ou
não conhecer? Como se apresenta o conhecimento? Com que formas? Estas e muitas
outras questões são levantadas com relação ao aspecto cognitivo do homem.
O que é conhecimento?
Várias definições existem para explicar o que é conhecimento, o que é ser
conhecimento. Citaremos algumas:
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a) “Conhecimento é o processo dinâmico de conhecer e o resultado desse
ato.”
b) É o ato pelo qual algo está conscientemente presente em alguém”.
c) “Ato pelo qual alguém tem conscientemente algo.”
d) “ É o ato vital pelo qual os objetos são representados e manifestados”.
O ponto de partida para iniciarmos um estudo sobre o complexo tema
“conhecimento”, e entendermos as definições citadas, é preciso que se tenha
em mente que o sujeito do conhecimento é o homem todo, como um ser que
pensa, sente e age. Se pensa é porque possui determinado fator na sua
constituição, na sua estrutura que é o fator cognitivo,é o aspecto que permite
ao homem o conhecer ato este comprovado pelos grandes questionamentos
levantados no início dos tempos filosóficos, pelos primeiros pensadores gregos
Ao indagarem: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Ao buscar as
respostas para estas questões eis a prova do ato de conhecer através do
conhecimento. Do mesmo modo que descobre a capacidade que tem de pensar
e repensar até encontrar as verdades, o homem descobre que não está só e que
deve conviver com as suas experiências e com as dos outros e que deve agir e
tomar decisões. Para acontecer tudo isso o homem põe em prática, põe em
funcionamento o processo de conhecimento.
O conhecimento é portanto um ato vital , por meio do qual as realidades são
apreendidas, representadas e manifestadas pelo homem através de seus atos e
sua comunicação com os outros, com seus semelhantes.
O ato de conhecer se fundamenta numa correlação profunda e íntima entre o
sujeito que conhece e a coisa a ser conhecida, o objeto, a tarefa do sujeito
precisamente é a de conhecer o objeto e a do objeto é de estar para ser
apreendido, ser conhecido pelo sujeito.
A medida que o homem se desenvolve e evolui, vive e convive com os outros,
numa determinada sociedade, ele tem condições de adquirir certas formas de
conhecimento.
Pode-se dizer que o homem pratica três gêneros fundamentais de
conhecimento,tais como: o conhecimento científico e o conhecimento
filosófico, sendo que além desses ele também tem condições de adquirir outros
graus de conhecimento, os quais apresentaremos através deste gráfico:
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GRAFICO ORGANOGRAMA

O ponto de partida obrigatório para os demais conhecimentos é o


conhecimento empírico que é comum a todos e é a base dos demais
conhecimentos adquiridos e praticados pelo homem. Do conhecimento
empírico o homem passa para o conhecimento científico e através de ambos,
ao conhecimento filosófico e deste para o teológico e místico, caso se dedique
no desenvolvimento de seu aspecto cognitivo.

Conhecimento Empírico
Diz-se que o homem difere dos animais pela razão e que os animais por não
possuirem inteligência, praticam um só gênero de conhecimento, ou seja o conhecimento
sensível que é baseado unicamente em percepções e em associações de idéias. Isto difere
essencialmente o homem dos animais que por sua vez em qualquer dos conhecimentos que
pratique utiliza a inteligência. Não existe conhecimento humano sem a intervenção do
intelecto. Caracterizando neste aspecto a união perfeita existe entre a alma, ou seja, o
espírito e o corpo na constituição do ser humano.
O conhecimento empírico é um conhecimento pré-científico e pré-filosófico que o
homem adquire, é uma forma espontânea de conhecer. É o chamado de conhecimento
“empírico” por ter origem das experiências que o homem consegue para si na trajetória de
sua vida, com influências externas ou internas, através do convívio, na comunidade onde
está inserido. Esta forma de conhecimento chama-se também “empirismo” ou conhecimento
vulgar, por ser um conhecimento que surge espontaneamente, como vimos, de uma
experiência individual ou grupal, ele está intimamente ligado com a vida do homem, daí o
provérbio popular: “vivendo e aprendendo”.
Nas estórias ou contos, talvez gaúchos, está um caso que nos mostra a veracidade
dessas afirmações-conta-nos o caso, que um determinado senhor estava à beira da morte,
chamado o sacerdote para a extremunção, eis que chegando pede uma vela para iniciar suas
orações, não tendo na casa o que pedira, o padre, estando o doente muito mal, alguém ou p
próprio padre, fala que um tição de lenha aceso serviria para substituir a vela,
providenciando logo o que fora sugerido, colocam a lenha acesa nas mãos do enfermo, este
ainda vagarosamente abre os olhos antes de expirar e diz: “morrendo e aprendendo”. Prova
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de que até antes de morrer estamos adquirindo experiências válidas e que são
conhecimentos chamados de empíricos.
São empíricos todos os conhecimentos das crianças, não só aqueles que ela recebe
por si mesma, mas também os que adquire pela comunicação. Leitur. Educação, exemplos
do meio onde vive.
São empíricos os conhecimentos do homem comum, cuja única escola-mestra é a
vida.
Podemos dizer, enfim, que os filósofos e cientistas possuem também conhecimento
empírico, quando estes não são oriundos da filosofia nem da ciência e si, de suas próprias
experiências.

Características do Conhecimento Empírico

1- Conhecimento interessado
É através do conhecimento empírico que o homem vai adquirir seus conhecimentos,
conforme o interesse que sente por meio das experiências do dia a dia. “Saber
compreender para viver” é o lema desta forma de conhecer, visando quase a sempre
finalidades subjetivas e práticas.
2- Conhecimento individual
O homem é mais rico em idéias individuais do que em concepções universais, pouco
se importa em adquirir conhecimentos universais que os considera abstratos. Por
exemplo, a observação da natureza fornece ao camponês “receitas
meteorológicas”para explicar e para prever as mudanças de tempo, orienta-se pelo
sol, sabendo a hora do almoço ou de voltar para casa após seu trabalho diário; sabe
quando chover, pelo vento ou mudanças de temperatura. Assim também adquire
conhecimentos gerais sobre a terra e seu cultivo, sem muitas teorias, sem estudos
amplos e abstratos, gerais, tudo através da experiência e observação. Por isso é
caracterizado de conhecimento individual.
3- Falta de Método e de Sistematização
É uma forma de conhecimento que o homem adquire, sem ordem, ao
acaso,pela observação e conclusões que a experiência provoca e oportuniza.
Basta para a vida mas não para aprofundamentos nos mistérios e verdades da
natureza. Eis um burro achando que todos são burros.
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4- Falta de certeza objetiva
O homem de conhecimento empírico confia demasiado em si mesmo e por
isso, está sujeito a falta de certeza objetiva, controlada pela razão e
fundamentadas em provas. Um exemplo típico:num determinado grupo onde
se encontram pessoas de conhecimento empírico e outras com um nível de
conhecimento mais elevado, o assunto tratado ali, é atual, o homem de
conhecimento empírico fica alheio, não fala, não participa. O homem de
conhecimento empírico deixa-se levar, se contagia pelo dizem e por crenças e
crendices da multidão, estas que são as mais difíceis de comprovar e no
entanto o homem de conhecimento empírico se agarra a elas com unhas e
dentes, mesmo sem a certeza objetiva, é a sua verdade, e ainda sai espalhando,
difundindo-as como dogmas ou crenças.
Embora apresentando características, algumas negativas, também erros e
falhas, não podemos negar o valor que o empirismo apresenta até para a
própria ciência, como afirmou Augusto Conte: “Ciência e Filosofia não
passam de empirismos aperfeiçoados e plenamente racionalizados.
Mesmo os filósofos e sábios, tem necessidades empíricas, tem necessidade de
voltar os olhos para muitas de suas experiências anteriormente vividas, para
poder organizar e utilizar da melhor forma possível os seus conhecimentos,
levando em consideração o bom senso empírico. Determinados valores
positivos como esses, dão ao empirismo um caráter muito significativo para
qualquer atividade do homem. Concluindo-se daí que o “homo cientificus” e o
“homophilosophicus”, devem baixar a cabeça e reverenciar mérito ao “homo
sapiens”, ou seja, este homem que traz na sua vida uma bagagem
essencialmente empírica.
5 – Conhecimento Científico
Tanto o conhecimento científico como o conhecimento empírico, são
adquiridos pelas mesmas faculdades e tem um objetivo: a verdade, apenas o
empírico tem em vista interesses secundários ao passo que o conhecimento
científico, visa a verdade objetiva, a certeza.
Nesse sentido o conhecimento científico é eminentemente intelectivo,
racional, mas não essencialmente diferente do conhecimento empírico. O
conhecimento empírico quase sempre aparece ora aqui ora acolá, sem muita
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ordem, como já vimos, acomoda-se na mente do homem sem método e não
leva em conta a união natural que deve existir nas idèias, o conhecimento
científico, adquire-se por meio de ordem, método e sistemas conforme as
exigências de estruturação e subordinação das idéias, princípios e conclusões
universais.

Características do Conhecimento Científico

1- Desinteresse e objetividade
Este é o conhecimento que possui uma só e única finalidade: a descoberta da
verdade. O cientista tem que praticar uma espécie de ascese, de contemplação
que absorve toda a realidade, cujo único interesse do cientista é a descoberta
da verdade, sobre o objeto de sua pesquisa. Se um de nós for examinar um
objeto qualquer, vamos logo nos preocupar em saber sua utilidade, a satisfação
vai nos proporcionar, ao passo que o sábio, o cientista, ao examinar as coisas,
ele não se detém nesses detalhes e sim procuram ver qual é sua natureza, o que
é que elas são em si;- não há interesse pessoal, individual, existe apenas
objetividade na descoberta da certeza e da evidência.
2- Universalidade e Necessidade
“Não há ciência do indivíduo”, diziam os escolásticos. “Podemos conhecer o
indivíduo, mas não ter ciência deles. O indivíduo é real, concreto e
contingente, a ciência é universal e necessária”.
De fato, tudo o que existe é único e contingente, mas sob esta individualidade
e contingência, esta essência e a natureza do ser, que são universais,
necessárias e reais, sendo delas que a ciência se ocupa, é desta universalidade
que é real e necessária que a ciência trata em busca da verdade sobre os seres ,
através do conhecimento científico.
3- Ordem e Método
Descarte foi quem deu maior realce à necessidade de ordem e método nas
ciências. Ele afirmou que todos os homens tem capacidade igual mas não exercem
igualmente. Daí a diferença entre o conhecimento empírico e o científico. O
primeiro ignora o verdadeiro método, o segundo, o segundo o conhece e o pratica,
eis porquê do seu êxito.
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O sábio deve ter por lei absoluta: “proceder com ordem”. O
conhecimento científico deve portanto obedecer métodos e ordem na pesquisa,
sistemas e técnicas adequados a cada caso.
4- Certeza e evidência científica
Todo o conhecimento científico deve estar impregnados de evidência
objetiva que é o critério último e universal da certeza. Só assim poderá
ser considerado conhecimento científico. Hipóteses e teorias não são
ciência, são meios para conseguir a ciência e só passarão ao campo
estritamente científico quando forem comprovadas como certeza e
evidentes. “Onde não há evidência, não há certeza, onde não há certeza,
não há evidência”.

5- Conhecimento Filosófico
Os homens que se dedicarem ao estudo da ciência, na antiguidade, eram
chamados de sábios. Pitágoras quis ser chamado desta forma, e ele
preferiu ser chamado de filósofo, baseado no significado do termo, que
quer dizer “amigo do saber”.
Por muito tempo os sábio passaram a chamar-se filósofos e a sabedoria
humana, tomou o nome de : Filosofia. Primeiramente todas as ciências
faziam parte da Filosofia, quem estudasse esta Ciência estaria
estudando as demais, era a única ciência da época, conforme
consideravam os gregos. Quanto ao conhecimento filosófico,
propriamente dito, sua origem apresenta várias teorias: 1º, o homem se
põe a filosofar sem nenhum outro objetivo senão o de conhecer e saber,
conforme Aristóteles;
2º: o homem se põe a filosofar unicamente por curiosidade, pó uma
curiosidade de exigência racional e de compreensão simples, de uma
necessidade puramente mental em busca da verdade. Apesar disso a
verdade foi encontrada? Existiu verdade absoluta nessa época? Existe
hoje?
Uma e outra teoria tem sua parcela de verdade. O homem muito
sobrecarregado de trabalho e preocupação se entrega a especulações
filosóficas. O ócio é que favorece à reflexão, afirmavam e afirmam
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alguns ainda hoje. No entanto, nenhuma das teorias explica a origem do
conhecimento filosófico.
Segundo o que afirmam vários autores, o conhecimento filosófico se
originou da inquietação do homem a respeito de sua origem e seu
destino. Necessidade essa que surge a partir do momento que o homem
sente que deve buscar soluções para os problemas que o afligem e
exigências de conhecer a essência das coisas que o admiram e o deixam
impressionado e curioso.

Características do Conhecimento Filosófico

Há quem afirme que o conhecimento filosófico se diferencia dos demais


conhecimentos, por ser resultado de uma faculdade cognitiva, própria do filosófico, não
concordamos, pois todos nós estamos predispostos a adquiri-los, pois temos a capaciae
cognoscitiva inata e condições para esse conhecimento, basta desenvolve-lo e praticá-lo,
portanto o conhecimento filosófico não é privilégio de poucos.
Para Platão o conhecimento filosófico seria uma intuição especial. Para
Bérgson, uma intuição supra-intelectiva, direta do próprio “eu”. Daí afirmamos que essa
intuição não é uma faculdade especial, própria só do filósofo, todos temos capacidade para
esse conhecimento, cujas características são:
1- Objetividade
A curiosidade científica, como vimos, é desinteressada; a curiosidade
empírica, serve à vida e a filosofia é a síntese dessas duas, quer dizer, a
filosofia está ao mesmo tempo à serviço dos ideais do conhecimento e do
viver. Portanto, a objetividade do conhecimento filosófico, consiste, quando o
homem se depara com um problema, um obstáculo, uma dúvida, quanto à
veracidade ou não do que está enfrentando e ele tenta, através de sua reflexão,
da busca reflexiva, encontrar a verdade para a solução do seu questionamento
problemático.
2- Universalidade e Necessidade
O conhecimento filosófico é o mais universal e necessário de todos os
conhecimentos,porque ele deve estar atento à todas as coisas, deve dirigir-se a
todos os seres dependendo do questionamento do homem frente à necessidade
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que sentir de encontrar a verdade absoluta. Para esses seus questionamentos. É
universal porque abrange todos os seres e é necessário para satisfazer a
curiosidade e a necessidade natural que o homem sente de saber e questionar.
3- Método e Sistemas
Método é o caminho para se alcançar um fim numa determinada meta. A
necessidade da utilização é muito importante na Filosofia do que em outra
ciência. É esta ciência que valoriza os métodos científicos, para as outras
ciências, dando-lhes os princípios orientadores para atingir seus fins.
Sistema é a disposição de partes da unidade de um todo. A Filosofia
abrangendo toda a realidade do universo, necessita por sua vez e exige uma
sistematização, para conseguir atingir seus objetivos. Sendo assim o
conhecimento filosófico se caracteriza por exigir no seu bojo, métodos e
sistema, para assim conseguir com mais segurança e metodicamente,
conseguir a evidência dos fatos.

4- Evidência e Certeza Crítica


Toda ciência, para chegar à verdade sobre as coisas, deve passar antes por um
crivo rigoroso, até transformar-se em evidência e certeza.
A Filosofia, ciência que quer justificar tudo de tudo, até seu próprio conteúdo
e métodos, ela procura ir mais além ainda, ela quer ir ao âmago, ao máximo,
criticando o próprio conhecimento e as faculdades cognoscitivas do homem.
O conhecimento filosófico é pois uma tentativa para explicar criticamente a
essência dos seres, leis, fenômenos, conhecimento, verdade, etc.; exigindo um
esforço reflexivo profundo, quase que contemplativo do filósofo ou do
estudioso, pelas verdades absolutas, pela evidência e certeza crítica sobre os
seres.
Com estas características, podemos dizer que o conhecimento filosófico se
diferencia do conhecimento vulgar, que é um conhecimento espontâneo, por
que é uma explicação máxima das coisas; distingue-se das ciências
experimentais, pois estas se permitem exclusivamente a explicar os fenômenos
por suas causas mais próximas. Também se distingue da Matemática, por ser
esta a ciência que estuda o ser quantitativo no seu aspecto calculável e
mensurável e o conhecimento filosófico por sua vez se preocupe
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exclusivamente no que se refere à essência profunda da quantidade no caso da
diferenciação com a matemática, e na essência dos seres enquanto eles são. Na
essência do ente enquanto ente em si mesmo.

A Verdade e sua Problemática

Sabe-se que verdadeiro conhecimento adquirido pelo homem deve ser o


objetivo e que todo e qualquer esforço do pensamento deve ser direcionado na busca da
verdade.
Cumpre-nos questionar,: afinal o que é verdade?
Entre os conceitos que existem sobre a verdade, aquele considerado o mais
simples é o que se refere à verdade como sendo a adequação do aspecto do homem, com o
objeto a ser conhecido por ele. Assim:
Se eu disser “naquele jardim existem muitas rosas”, naturalmente estou me
referindo a um determinado local, onde realmente existem as rosas. Então, quando aquilo do
qual me refiro, existe mesmo quando há relação entre o que se diz e a realidade, pode-se
afirmar que o conhecimento é verdadeiro.
Estamos diante de um fato consumado: uma pessoa morta, cortada a veia
artéria, logo se atribui a um crime, investigações, dados, algumas testemunhas, enfim, tudo
pressupõe a um homicídio. Mesmo sob todos os dados aparentes que poderiam detectar o
caso como verdadeiro, ele é falso, pois a conclusão final nos mostra que houve um suicídio.
Temos aqui dois exemplos que se apresentam para que se faça uma reflexão
quanto à realidade sobre os conceitos de verdade.Nem sempre a verdade verdadeira.
Existem vários conceitos de verdade:
a) “adequação do intelecto e da coisa”.
b) “conformidade da inteligência com a realidade”.
c) Verdade é o que ela é em si mesmo, é a essência das coisas confusas entre
si.
d) Verdade é uma contínua descoberta e descoberta progressiva da realidade,
como ela é.
A palavra Verdade vem do Latim, Veritas, os gregos usavam a termo alethéia,
para designar as coisas verdadeiras, e que tinha o significado de dês-
velamento, dês-coberta, que quer dizer tirar do escodimento, fazer aparecer.
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Cabe a nós no entanto, hoje, refletir sobre esses significados e imprimir em
nosso conhecimento, essas reais características da :Verdade.
A ciência que valoriza o conhecimento humano é a Crítca, que é uma
parte da Metafísica que procura ver se o conhecimento é verdadeiro e objetivo,
o método desta ciência é o da reflexão o ponto de partida é a dúvida e o de
chegada é a verdade, a certeza.
O critério da verdade é o maior dos problemas da Epistemologia, não é
suficiente demonstrar a relação entre um sujeito e um objeto para realizar o
conhecimento verdadeiro. Vejamos: A relação Homem-Estudo, Maria estuda,
para comprovar esta afirmação é necessário demonstrar que esta relação é
verdadeira, dizer que estuda não basta, tem que haver a prova, a demonstração,
através de atos, conhecimentos adquiridos pelo estudo de uma determinada
disciplina e mostrada no convívio com os outros. Só podemos chamar
propriamente de conhecimento verdadeiro aquele que realmente for verdade.
Várias são as formas como a verdade pode se apresentar, entre elas,
temos:
1- Verdade Ontológica
2- Verdade Lógica
3- Verdade Moral
1- Verdade Ontológica – também chamada Verdade Metafísica ou Real
verdade das coisas, é a conformidade do objeto consigo mesmo ou com sua
própria essência; exemplo: é verdadeiro o ouro que tiver a essência do
ouro, ser realmente ouro.
2- Verdade Lógica – É a formal verdade do conhecimento, é quando existir
conformidade do intelecto com a coisa, nosso conhecimento será
verdadeiro se corresponder ao objeto representado, a palavra mesa, será
verdadeira se representar o objeto.
3- Verdade Moral – É a verdade da palavra, é quando acontecer a
conformidade das palavras com o conhecimento subjetivo daquele que fala
– se opõe à mentira. Exemplo: alguém dizer falsidade julgando que são
verdadeiras, expressar a idéia que tenho de alcançar notas com o estudo e
usar a cola, para conseguir os conceitos de aprovação; isso seria uma
verdade moral e não lógica.
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A Verdade Ontológica encontra suas bases na Ontologia, a Verdade Moral
está fundamentada na Ética e a Verdade Lógica se afirma na Filosofia, na
Crítica.
Então, Verdade como adequação do intelecto com a coisa, se apresenta
numa conexão “muito íntima entre a verdade e a certeza, pois não é
suficiente ter um conhecimento verdadeiro é preciso se estar certo de
possuir a Verdade.
O conhecimento propriamente dito é o conhecimento verdadeiro, que
inclui:
a) firme adesão
b) exclusão do temor contraditório
c) conexão da certeza com a verdade
Assim, a Verdade no sentido exato do termo significa uma absoluta
concordância do pensamento consigo mesmo sendo que a ausência da
contradição entre o conhecimento, a firme adesão à verdade que se firma
pode-se dizer que é o critério da Verdade.
A Verdade assim conceituada, definida, tão falada apresenta ainda como
critério último para sua veracidade, a Certeza, a Evidência, sendo esta o
critério último e universal da certeza.
O que é Certeza?
É o estado em que o homem afirma com convicção, um pensamento sem medo
de errar. Fácil não? É só tentar.

A certeza ainda se apresenta em várias formas:


1 – Certeza Objetiva
2 – Certeza Subjetiva
3 – Certeza Metafísica
4 - Certeza Física
5 - Certeza Moral
A Certeza Objetiva é a verdade da coisa que se apresenta de tal modo e que
exige firme comprometimento do homem ao afirmar um determinado
conhecimento. Não poderá haver dúvidas. É a certeza que temos, quando
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acontecer a conformidade do juízo emitido com a situação vivenciada na sua
totalidade, na sua realidade e não aparentemente.
A Certeza Subjetiva é aquela que advém do íntimo de cada criatura, é
aquela que brota muitas vezes dos sentimentos, das emoções sentidas e vividas
por cada um de nós. São os estados de consciência de cada pessoa, a tristeza, a
saudade, a alegria, a felicidade, são situações que experimentamos nas quais
nós mesmos somos às vezes os responsáveis, como agentes, sujeitos e
participantes ao mesmo tempo.
A Certeza Metafísica fundamenta-se na essência mesma das coisas
consideradas em si mesmas, não há meio termo, o objeto conhecido, a coisa
conhecida, o assunto tratado, tem que ser o que ele é na sua essência, na sua
realidade metafísica. Não se pode levar adiante conhecimentos que não
estejam fundamentados na realidade e essência transcendental. Esta é certeza
da Filosofia, é a evidência, a certeza absoluta. O homem é um animal racional,
certeza metafísica e não subjetiva.
A Certeza Física é a que nos leva a crer num determinado
conhecimento anteriormente analizado, experimentado e constatado sua
veracidade. Este fogo queima. Certeza física. É a certeza que se fundamenta na
constância e uniformidade existente entre as leis físicas e suas aplicações nos
casos particulares.
Certeza Moral surge da relação existente entre as leis morais e as suas
aplicações em casos particulares ou na maneira de agir de cada criatura
humana. É a certeza que diz respeito diretamente à conduta, ao
comportamento de cada um de nós.

A Realidade e seus problemas

A ontologia como uma das denominações da Filosofia ou Metafísica


Geral, trata especificamente do ser como tal, da sua essência, sendo este seu objeto, isto é, o
ser considerado em si mesmo, isolado de seus aspectos materiais e formais.
Esta ciência estuda o ser em sua matéria essencial, com suas
manifestações e propriedades mais gerais, suas causas, princípios e suas relações com os
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valores. E a ciência Universal porque trata de todos os seres que existem, desde o mais
simples até o ser superior Deus. Tudo o que existe faz parte do estudo da Ontologia.
Noção do ser – Basta ocupar um lugar no espaço ou na nossa inteligência como o
caso dos seres imateriais, para fazer parte do estudo desta ciência. O conceito de ser pela
extensão que abrange, referindo-se a tudo o quanto existe, torna-se, às vezes, muito difícil
de ser compreendida.
A extensão abrange tudo que existe e o que pode existir; sendo assim este conceito
aparece em nosso conhecimento com algo em comum, ou seja, se existe o ser, contrapõe-se
ao nada, determinando que a noção de ser é UMA.
Mas ao mesmo tempo é TRANSCENDENTAL, porque ultrapassa, transcendente,
por sua extensão máxima, pois os seres existentes animal, vegetal, mineral, Deus, etc.,
fazem parte do conceito de ser, tudo que existe ou está para existir consta da extensão do
conceito de ser, sendo esta a noção de ser, transcendental.
Além de uma e transcendental a noção de ser é também e necessariamente
ANÁLOGA. Isto porque é sempre análogo o conceito que se aplica a coisas que não são
totalmente idênticas. Tudo que existe é conceituado de ser, ms cada um o é de forma própria
e individual, particular.
Sendo assim, a noção de ser é UMA, TRANSCEDENTAL e ANÁLOGA.
Vimos então que o conceito de ser embora complexo é o mais simples em sua
compreensão e o mais vasto em sua extensão.
Cada ser que existe material ou imaterialmente, possui a sua constituição
determinados elementos que são comuns a todos:
1 – Essência – é aquilo que determina que o ser é o que é numa certa espécie; eu sou
homem e não àrvore; é o constituído fundamental do ser.
Homem é homem por ser animal racional.
2 – Existência – é o que concretiza, atualiza a essência, tornando-a existente.
3 - Ato – é a qualidade ou complemento, a perfeição adquirida pelo ser, para o qual
estava em potência.
4 – Potência – é a capacidade que possuem os seres de poder mudar, transformar-se;
é a aptidão do ser para tornar-se alguma coisa para qual tinha potência. Toda a mudança
consiste na passagem da potência ao ato.
Ex.: a àrvore transformar-se em mesa, estátua, para as várias utilidades de nossa vida,
a árvore é portanto, mesa, estátua em potência.
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O homem adquirir novos conhecimentos ele está em potência para o ato de aquisição
de novos conhecimentos, os conhecimentos adquiridos serão o ato.
Além desses elementos que envolvem o ser apresenta-se dois predicados categoriais
ou modos do ser, conforme alguns autores, que são:
a) a substância
b) o acidente
A Primeira categoria apresentada é considerada como aquilo que permanece no ser
embora todas as transformações sofridas pelo ser (em potência). Ex.: a árvore,
transformar-se em mesa, estátua, móveis, etc., mas continua a substância de árvore,
no ser; o ferro pode aquecer-se, esfriar, dilatar, mas será sempre ferro; os seres não
mudaram sua substância.
A segunda categoria, o acidente, é o que não existe, mas poderá existir num sujeito.
Num ser já existente. São as alterações que afetam superficialmente o ser.
Conclui-se daí que a realidade permanente no ser é a substância e a realidade mutável
é o acidente. Segundo Aristóteles as categorias no ser se classificam em dez, da
seguinte maneira:

Substância ( o que fica no ser )


Qualidade ( hábil, feliz, triste...)
Quantidade ( grande, pequeno, médio..)
Relação ( pai, mãe, filho, distante...)
Ação (fala, castiga, orienta...)
Hábito (está calçado, vestido, armado...)
Paixão ( castigado, orientado, falado...)
Localização ( está em Roma, Porto Alegre, Paraguai...)
Posição ( está sentado, deitado, em pé...)
Situação no tempo ( em 1929, hoje, ontem, agora...)

Ontologicamente tudo que existe ou pode existir, é denominado de ser ou ente.


Então temos a palavra ser, para designar o ser conceitual, o existente, algo de comum
a todos os seres; a palavra Ser designando o ente supremo, criador, Deus.
Conforme vimos, então, todos os seres existem; há os que possuem existência
concreta, são reais e há os que não são seres reais, daí as formas de seres existentes:
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a) reais – que existem concretamente, nós podemos ver, sentir,
tocar,...são visíveis:
b) possíveis – que de fato não existem mas podem existir, são os seres
abstratos, imateriais, que só admitimos a sua existência, ao sentí-los,
ex.: felicidade, saúde, tristeza, saudade,....
c) de razão – são seres de razão aqueles que não existem
concretamente, nem podem existir na ordem real, são concebidos
apenas pela mente humana, como vemos é uma existência mental,
ex.: Os seres de razão se apresentam em três espécies:
1 – a negação – é a falta do ser, é a não existência do ente: ex.: a não
existência da inteligência na pedra, - de razão na árvore...
2 – a privação – é a falta de um ser que deveria existir e nem sempre
existe, ex.: a cegueira no homem, o erros nos atos humanos,....
3 - nada relativo ou relação – é a relação que existe somente dentro
da lógica, na razão do homem, é a existência mental reflexiva: ex.: o
nada, o tempo, a ignorância,...
Na casa não existe nada, mas afinal o que é o nada? Somente uma
reflexão profunda e consciente nos fará chegar a uma conclusão e
uma aceitação evidente para essa interrogação.
Causa – Princípio de Causalidade

Todo o ser que existe por si mesmo, com suas características próprias e
possuidor dos elementos essência, existência, ato e potência, na sua constituição, agindo ele
irá produzir um outro ser, que sem este princípio de produção não teria condições de existir.
Princípio é pois aquilo de que uma coisa procede, tem origem: ex.: o ponto, origem da linha.
Para que a linha exista é necessário uma causa. “Toda causa é princípio mas todo princípio
não é causa”. Causa é aquilo de que uma coisa, um ser, depende para existir e efeito é o
produto, o resultado da causa e o influxo da causa no efeito, chama-se causalidade.
Causalidade é um princípio que, pela sua ação determina algo que por si
mesmo não poderia existir.
De acordo com o que nos deixou Aristóteles, sobre este assunto, temos quatro
espécies de causas, sendo duas chamadas de externas e duas internas:
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1.1 – Causas internas – São a matéria que entram na constituição dos seres, estas dependem
das causas externas, ou seja, das causas eficiente e final. Ex.: uma casa de material estilo
moderno

causa material causa formal


estas causas ainda dependem das causas externas: eficiente e
final finalidade, residência
arquiteto
engenheiro
Daí entendermos que a causa material, a matéria, produto da ação da causa eficiente,
sujeito onde a causa eficiente exerce a ação e causa formal é a estrutura, a forma, segundo a
qual o material é trabalhado.
1.2 – Causas externas
Ainda levando em consideração a classificação e o estudo das causas segundo
Aristóteles, entendemos que a causa eficiente é a principal, ela age por sua própria
vontade, é quem produz, por sua ação, um novo ser, no caso do nosso exemplo, é o
arquiteto ou o engenheiro e a causa final é a finalidade para a qual é feito algo, é
criado novo ser, é aquilo para que foi criado o ser, no caso, a casa, o novo ser, ter a
finalidade para a residência.
Verificamos que a causa eficiente por sua vez apresenta outras designações
conforme for a ação e o novo ser que foi produzido, o que veremos a seguir:
- causa eficiente principal é quem age, quem produz, quem faz: arquiteto,
engenheiro;
- causa eficiente instrumental – é o ser que age a serviço da causa eficiente
principal: instrumentos utilizados, planos, projetos...
- causa eficiente essencial – produz um efeito ordenado, seguiu o planejamento, o
projeto, : a casa foi construída conforme o projeto e deu tudo certo;
- causa eficiente acidental – produz um efeito sem ordem, não saiu conforme o
planejado ou o efeito surgiu sem planejamento, ex: uma casa construída sem
projeto, sem planejamento
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Vimos também, que as causas podem ser ainda:
- física ou mental – que são as influências que a causa eficiente principal pode
receber, ex.: o arquiteto, causa física recebe ou oferece conselhos, orientação para
um seu colega.
- Causa unívoca – produz um efeito da mesma espécie, ex.: pai causa filhos, o
conceito de homem que se aplica a todos os seres humanos;
- Causa equívoca – produz um efeito de natureza diferente, ex.: a semente, mais o
sol, a água, a terra, produzem plantas;
- Causa análogo – produto com semelhança distante, aparente, ex.:Deus, causa
criaturas a sua imagem e semelhança.
Estudando-se ainda, mais a fundo com uma análise sobre as causas,
vamos encontrar três elementos ou condições, que surgem na noção de
causa, ou sejam:
1 – causa – é aquilo de que um ser depende para existir;
2 - condição – permite à causa produzir, dá condições para a criação do novo ser;
2 – Ocasião – circunstância acidental que permite a ação;

A problemática da conduta do homem

O que é ética?
Ética ou Moral é a parte da Filosofia prática, que trata da ação do homem,
estuda os atos humanos; o campo de ação da Ética, é o agir humano, tendo como objetivo,
verificar até que ponto os atos humanos são corretos, são reais, procurando orienta-los
através de suas normas de bem agir. Mostrando ao homem o valor consciência moral, pela
qual deve conhecer e distinguir o Bem e o Mal.
A Ética serve de base para os homens bem intencionados viverem em paz
consigo mesmo e com os outros, através de atos humanos, conscientes e certos.
Se a Ética ou Moral estuda e orienta os atos do homem, se determina o valor
do fato moral, tentaremos então verificar alguma coisa a respeito dos conceitos atribuídos ao
homem, ao indivíduo e pessoa, suas diferenças e relações, também várias teorias que
surgiram sobre o questionamento sobre o homem. O que é Homem, afinal? O que é
indivíduo? O que é pessoa, são ou não a mesma coisa?
30
Indivíduo é tudo o que existe e é individido, por exemplo, uma estrutura física
qualquer, como uma cadeira, 1 cão, uma flor, etc. até o homem enquanto um ser físico,
enquanto animal biológico, apenas, são considerados indivíduos.
Esta noção de indivíduo opõe-se de pessoa e a de homem, que é uma
existência ontológica, com essência, dotado de razão, de raciocínio, ser consciente de seus
direitos, deveres, liberdade, ser psicológico com tendências “nosísticas”, que busca o tu,
para realizar o nós, ser consciente dos seus defeitos e também de suas capacidades, possui
personalidade.
Homem ontológico é um ser complexo e sua existência como pessoa humana,
está sujeita à vários aspectos tornando mais difícil a apreensão da sua própria realidade.

Teorias sobre o Ser, Homem

Existe uma ciência específica que trata sobre o homem. É a ciência chamada
Antropologia, do grego “antrophos”, que significa homem e “logo”, mais o sufixo ia,
significando, estudo. E é pois, Antropologia, “a ciência que se ocupa do homem e tem por
objeto o estudo e a classificação dos caracteres físicos dos grupos humanos”.
Mas, a preocupação com querer saber o que é o homem e tentar um estudo
profundo, buscando a resposta para esse questionamento, não é recente, essa preocupação
vem de milênio, já na Idade Média, na época da Escolástica, surgiu um Tratado Latino
chamado “De natura hominus”, traduzindo, Da natureza do homem, de autoria do Bispo
Nemésio de Emesa, mais ou menos no ano 400.
Segundo o Bispo Nemésio, o estudo do homem é o mais importante de todos
os temas de ciência e esta ciência deve ser nutrida pela Filosofia, que é o tronco das demais
ciências, pois no estudo sobre o homem compreende o estudo do universo inteiro.
O Bispo Nemésio, no início de sua obra fala: “O homem se compõe de uma
alma racional e de um corpo tão perfeita e tão bela é esta composição, que seria impossível
fazê-lo ou compô-lo de outra maneira”.
O que este Bispo fala em sua obra não é uma definição de homem, nem
platônica e nem Aristotélica, e sim uma definição eminentemente cristã. Como se vê
estamos em terreno cristão desde muitos séculos atrás como falamos de início, há milênios
atrás a preocupação em explicar o que é o homem, já era estudada e tentada a busca da
verdade sobre o tema.
31
Podemos também falar em especial sobre as concepções existentes a respeito
do homem, segundo alguns pensadores antigos, ei-las:
1 – A concepção tricotomista de Plotino
3 – A concepção de Aristóteles
4 - A concepção de Platão

Segundo as idéias e a teoria de Plotino, o homem resulta de três princípios,


que são:o corpo, a alma e o nous ou espírito.
Segundo Aristóteles, na sua concepção de homem, admite na existência deste,
um espírito duplo, sendo que um deles é criado juntamente com o homem, é o
chamado nous espiritual em potência, ao passo que o outro, o que não faz
parte da essência do homem, este recebe de fora e encontra-se exclusivamente
nos filósofos, dados às especulações mais altas.
Platão diz ser o homem possuidor de uma alma que se serve do corpo, esta
teoria é totalmente regeitada por muitos estudiosos. “Como pode a alma ser
constituída de uma unidade que recebe uma vestimenta?” pergunta o Bispo
Nemésio.
O objetivo de Nemésio em sua obra, “De natura hominus”, há séculos
atrás e que nos serve ainda hoje, é mostrar a discordância existente entre os
filósofos quanto à natureza do homem, sua essência e formação. Saliente o
autor “ que todos estão convencidos de que a alma é o que há de mais
excelente no ser humano”.
Ainda para explicar a natureza do homem, surgiram e surgem várias
teorias e pontos de vista diferentes, em todas as ciências. Na Filosofia temos:
1º - o ponto de vista empiriológico
2º - o ponto de vista ontológico
O ponto de vista empiriológico trata de afirmar o conhecimento sobre a
natureza do homem pela experiência, pela prática, pelo que aprende no dia a
dia, através do conhecimento vulgar que tem sobre as coisas, é o
conhecimento que se tem sobre o assunto através do conhecimento empírico.
Do ponto de vista ontológico, onde o homem é considerado em sua
profundidade, na sua raiz, na sua composição íntima, na sua essência; é
conhecer o homem como ente, como ele é em si mesmo. Este é o chamado
32
ponto de vista filosófico, onde se considera o corpo matéria enformada pelo
espírito.
Desta maneira de se conhecer o homem, também surgiram várias
teorias a respeito do assunto, entre elas temos:
a) Dualiamo
b) Monismo
c) Hileformismo
Dualismo – é uma teoria filosófica, da antiguidade, sobre a existência do Bem e do
Mal, do corpo e da alma. Existem várias formas de Dualismo, entre elas está o
Maniqueísmo que é a mais extrema heresia antiga, segundo a qual o mundo fora
criado por dois princípios opostos: o Bem e o Mal. Com relação ao homem, o
Maniqueísmo despreza o corpo, sacrifica-o, dizem que a principal finalidade do
corpo é exclusivamente puxar para baixo e para o Mal, o lado bom, que é alma,
segundo os adeptos desta teoria.
Monismo – esta teoria não foi atraente no passado como Dualismo foi mais uma pura
expeculação filosófica a respeito da natureza do homem. O Monismo é a doutrina
que identifica do si princípios, para explicar a natureza do homem: o corpo e a alma,
estes seriam duas faces de uma só realidade: o homem, sendo o corpo a face externa
da alma e esta a face interna do corpo.

Hileformismo – doutrina da matéria e da forma, considerando estes dois princípios


como incompletos, o da matéria e da forma, ou sejam o corpo e a alma, resultam uma
natureza substancialmente uma e uma
Em linguagem mais simples: a matéria é o princípio potencial e individualizante e a
forma o princípio atualizante e especificador, isto quer dizer que pela forma um ser
pertence a uma certa espécie e pela matéria se individualiza dentro dessa espécie. No
caso da natureza humana, pela matéria corporal o homem se individualiza dentro da
espécie humana e pela alma espiritual o homem pertence à espécie humana, por sua
essência e razão.
Tentamos aqui suscintamente, dar uma idéia sobre algumas teorias antigas
sobre a realidade do homem, assunto muito profundo, difícil, complexo e não
esgotado, porque foi motivo de especulações e ainda o é até nossos dias. Se os
primeiros pensadores já se perguntavam, quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?
33
– Nós que aqui estamos nesta época, continuamos com os mesmos questionamentos,
as mesmas dúvidas, e nos perguntamos: aceitamos as respostas deles? Nos
acomodamos ou continuamos a nos questionar: afinal, o que é o homem? Qual é a
sua natureza? A interrogação continua ou cada um de nós já tem sua resposta?...

Concepção pagã e cristã sobre o homem

Num âmbito geral as escolas filosóficas e pensadores pagãos, que se


dedicaram com empenho no estudo sobre o homem, não foram obstáculo para o
cristianismo no sentido do reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Muito
pelo contrário, os pensadores gregos pagãos e as escolas da época, prepararam o
terreno para o estudo, como os estóicos e epícuros, somente eles não tiveram
condições de formularem uma metafísica da pessoa humana como podemos ver em
Platão e Aristóteles, que foram os mais famosos da época e os mais discutidos, com
relação ao assunto.
Platão cuja Filosofia era centrada na idéia, com seu fantástico mundo das
idéias, que o fascinava plenamente, para ele o que importa com relação ao homem é o
HOMEM, os indivíduos concretos não passam de acidentes temporais do homem. A
idéia humana que é a única realidade verdadeira. A idéia humana é acidente de uma
idéia. “Assim a idéia de homem é o homem abstrato, perfeito e universal de que os
indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.”
Segundo Platão o homem é o ser composto de duas partes distintas: o corpo e
a alma, sendo que este é o princípio de vida e possui por sua vez três partes: a
racional, localizada no cérebro, a irrascível que fica no peito e a apetitiva, nas
entranhas.
O aspecto racional do homem, também chamado superior, é livre, espiritual e
Imoral e que existe entes do corpo” tumulo que arrastamos conosco como o caracol
Arrasta a concha que o envolve” – e que a este corpo se une em punição por algo de
mal cometido. Assim é a concepção platônica com relação ao homem.
O mundo de Aristóteles é outro diferente do de Platão, Aristóteles é um
realista a não um idealista . Para ele a realidade verdadeira é o individual, somente os
seres individuais, particulares, singulares, existem realmente. Cada um de nós, vive
um tempo breve e desaparece para sempre, sem deixar traço – “mas que importa se
34
novos homens nascerão, viverão, morrerão e serão por sua vez substituídos pos
novos?...”
O homem conforme a Filosofia aristotélica, é considerado como um indivíduo
que apresenta na sua constituição algo permanente e estável que Aristóteles chamou
de substância e possui também nove classes de acidentes que, junto com a substância
formam as dez categorias, já citadas por nós na problemática do ser.
Para Aristóteles, o homem é apenas um membro da espécie humana que
possui corpo e alma, que ele chamou de matéria e forma. A alma do homem é o
princípio radical de todos os fenômenos da vida. Ainda acrescentando ao homem
alguns instrumentos responsáveis por sua atividade, que chamou de faculdade,
relacionando-as em cinco:
1 – faculdade nutritiva
2 - faculdade sensitiva
3 - faculdade apetitiva
5 - faculdade locomotiva
Como vimos, para Platão o homem é um acidente de uma idéia é uma
participação acidental imperfeita do homem.
Para Aristóteles o homem é apenas membro da espécie humana tanto
num como noutro caso a pessoa humana não passa de um “futuro morto”, caracterizando
então a concepção pagã sobre a natureza do homem.
Na concepção cristã de homem vamos ver que o Cristianismo surgiu
subitamente, para se tornar um proclamador de uma noção decisiva de Pessoa.
O Cristianismo não é uma Filosofia, no sentido técnico do termo, mas
uma religião revelada. Cristo nos deu um Evangelho que não é um tratado filosófico, nem
mesmo um código de moral, mas sim fonte de uma nova forma de vida. A palavra
Evangelho vem do grego e significa Boa Nova, Boa Novidade. A novidade que o
Cristianismo apresenta é que ele não se impôs, as idéias amadureceram livremente dando ao
homem liberdade para escolher sua Filosofia de vida.
Em que consiste a novidade do Cristianismo?
1º - uma relação nova do homem com Deus
2º - uma concepção nova da situação do homem no cosmos
3º - uma relação nova do homem com o homem
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Foi a promoção do indivíduo para a pessoa humana, com o
Cristianismo surgiu um homem novo, uma nova criatura, um outro homem que não o do
pensamento grego, longe do homem acidente de uma idéia, segundo Platão, bem como
membro da espécie humana, de acordo com Aristóteles.
Chega-se a conclusão, no que diz respeito a concepção sobre o homem,
que uma profunda e radical diferença separa o mundo cristão do mundo pagão ou grego.
A mensagem Evangélica promoveu o “homem indivíduo” à “pessoa
humana”, isto é, o conceito de pessoa humana é tipicamente cristão, com o Cristianismo
tudo muda, sendo ele responsável pela irrupção da pessoa humana na cultura e civilização
ocidental. Se o sentido de homem como pessoa, é hoje familiar no pensamento do homem
do século XX, isso se deve à mensagem evangélica. Nos mostrando também a importância
do relacionamento existente entre o homem, o mundo onde ele está inserido e a cultura
deste mesmo mundo.
A relação homem, mundo e cultura, sempre existiu, desde os momentos
mais primários da cultura: as organizações mais simples, as estruturações básicas, foram
elas que deram origem às modificações de hoje, provando, assim, a efetivação desse
relacionamento entre o homem, o mundo e a cultura de um povo.
Vários fatos contribuem para esse relacionamento, entre eles está o
Processo de Educação, que é cultura, é movimento contínuo de reformulações, é uma eterna
origem de novas organizações e reorganizações de elementos primitivos e contínuos.
Para o homem encontrar o equilíbrio na sua relação com o mundo – e
com a cultura , ele tem que aceitar-se como ele é, com suas limitações e problemas, ser um
homem de personalidade, que se aceita e aceita os outros como eles são. Só assim
acontecerá e se efetivará a relação propalada. Esta relação terá como ponte a Educação, a
Cultura e ainda mais os valores e preconceitos internalizados em cada homem e em todos
eles.
Chegaremos realmente a nos relacionar efetivamente nessas
condições??...
Fica a interrogação para cada um procurar em si mesmo a resposta.

Valores humanos

Toda necessidade suprida, torna-se um valor para o homem.


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A ciência que trata e estuda os valores humanos, chama-se Axiologia,
podendo chamar-se também de Filosofia dos Valores ou Teoria dos Valores.
Antigamente esta ciência estava diluída entre a Ética e a Estética,
condensando-se depois numa única ciência, com seu objeto definido ou seja o estudo geral
dos valores humanos.
Surgiram vários conceitos para explicar o estudo dos valores. O
primeiro representante e defensor da Axiologia, foi Sócrates, quando afirmou: “as ações
humanas deveriam ser orientadas pelo esforço e compreensão dos valores éticos”.
Platão por sua vez também refere-se ao Bem : “o Bem era o princípio
organizador das formas e das Leis do mundo”.
Outro filósofo que se manifestou a respeito do assunto foi Aristóteles
dizendo: “Todos os seres vivos se comportam em termos de valores”.
Fica claro que o assunto sobre os valores humanos como tantos temas
sobre o homem, não é nada novo, tem suas raízes já com os primeiros pensadores. Surgindo
daí várias e distintas teorias e tipos de valores, fazendo parte de Escolas e correntes
filosóficas.
Considerando o homem como sendo um ser social que vive entre dois
meios, o físico e o social, aquilo, que o satisfaz, o deixa feliz, pode ser considerado e
apresentar-se como valores:dependendo da extensão e qualidade do que o satisfaz. Daí
também dizer-se que por serem as estruturas sociais por demais complicadas e complexas e
o homem estar inserido nessa sociedade, cada uma dessa estruturas origina determinadas
necessidades e seus respectivos valores: justiça, bondade, direitos e deveres, caridade, que
são os chamados valores éticos que sem eles seria difícil a vida em comunidade. Também
entram nesta relação os valores considerados negativos: orgulho, vaidade, desprezo,
inveja,...pressupondo tudo isso como parte da vida social, são os chamados valores sociais e
éticos.
A busca da verdade sempre fez parte da vida do homem em qualquer
época e meio, onde quer que ele estivesse porque o homem sempre sentiu e sente a
necessidade de explorar o meio onde vive, hoje mais do que nunca com o avanço da técnica
e da ciência, torna-se imperioso que o homem questione, são assim chamadas as
necessidades lógicas ou conhecimentos lógicos ou científicos ou filosóficos, advindo então,
valores lógicos. A verdade absoluta, a evidência, a certeza sobre as coisas.
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O homem este ser complexo e misterioso possui na sua bagagem
psíquica, uma riqueza insondável, só ele o sabe, esta lhe proporciona condições de
percepção emocional e criativa que está ligada à Estética, ao belo, a arte. O homem por
natureza possui necessidade de criar; é uma criatividade inata, que traz uma satisfação
íntima, surgindo então os valores estéticos.
Faz também, parte da bagagem do ser humano uma grande e imperiosa
necessidade de apoio, de um refúgio, em que se apegar em todos os momentos da vida, são
os valores religiosos, os que devem estar mais alto na escala de valores humanos, pois estes
vem preencher as necessidades transcendentais de cada um de nós, quando leveda em
consideração no seu sentido real e verdadeiro.
Há quem classifique os valores humanos, outros estudiosos da
Axiologia se preocupam em procurar saber se os valores humanos podem ou não ser
pessoais ou impessoais ou sejam objetivo ou subjetivos; se serão permanentes ou instáveis e
ainda se existe ou não escala de valores considerada específica da criatura humana.
São considerados valores objetivos : a verdade,a bondade, a beleza, etc.
quando encarados no seu valor intrínseco, por serem realidades ontológicas. Os valores
objetivos estão aí para todos os homens, eles existe, fora dos sentimentos e desejos pessoais.
A bondade é um valor quando praticada sem interesses pessoais. Se eu faço o bem, o faço
sem pensar que eu preciso ou desejo fazer o bem. Pratico o Bem, pelo que ele é em si
mesmo, pelo seu valor ontológico.
Se existem valores chamados subjetivos, estes são criados pelo homem,
variam de acordo com seu desejo, as situações e necessidades do mesmo, estão diretamente
relacionados com a vontade de cada um. O homem vai conferir valor àquilo que examina
conforme a circunstância, a ocasião que se apresenta. São também chamados de ocasionais
ou instrumentais, porque servem de meios para se conseguir concretizar determinadas
satisfações almejadas; como por exemplo: ajudar alguém apenas com o desejo de ser
notado, aparecer.
O que se diz ser errado hoje, para nós que vivemos nesta era super
tecnológica, com mudanças rápidas, foi errado para os nossos antepassados, há muitos e
muitos anos atrás. São os chamados valores absolutos, que são constantes, permanentes e
eternos. Estes valores são o que é a realidade, eles são um espelho da realidade onde se vive.
Em essência serão permanentes e constantes, mas até quando? Não o sabemos...
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A medida que o homem reage às necessidades imediatas que lhe
aparecem, ele adquire os valores transitórios ou variáveis, que aparecem de acordo com as
experiências do cotidiano, portanto são relativos e muito pessoais e estão sempre
necessitando de uma revisão, por serem mais sociais do que individuais.
Existe uma escala de valores para orientar a vida de cada pessoa? É
necessário guiarmos nossa vida através de uma hierarquia de valores? Como saber se os
valores que acato são corretos?
Estes e outros questionamentos deverão fazer parte do pensamento do
homem bem intencionado, no mundo de hoje.
Se existe ou não uma hierarquia de valores, em cada homem, vai
depender muito da Filosofia de vida que cada um colocar na sua bagagem existencial. O
importante é que não se pode afirmar que existe um homem de valores determinados,
absolutos. Vários autores já se pronunciaram sobre o assunto, pairando sempre duvidas
quanto à verdade absoluta sobre o tema. Das classificações existentes sobre uma história de
valores humanos, o certo seria que os valores religiosos estivessem num plano mais alto e
na base os valores materiais.
Mesmo assim, apresentamos aqui duas classificações com relação a
escala de valores humanos ou hierárquicos de valores, uma de Max Scheler e a outra de
Amaral Fontoura:
Hierarquia de valores segundo Max Scheler:
Valores religiosos
Valores éticos
Valores estéticos
Valores lógicos
Valores vitais
Valores úteis
Segundo Amaral Fontoura todo homem já é um valor em si ou melhor,
um conjunto de valores, que a cada movimento de sua vida, vivencia um determinado
aspecto, quer seja social, econômico, artístico, político, religioso, etc.
Cada homem considera mais importante o valor que é predominante na
sua personalidade. Daí o autor considerar o homem como sendo:
Ser religioso
Ser moral
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Ser artístico
Ser intelectual
Ser político
Ser social
Ser econômico
Ser físico
O assunto sobre os valores não se esgota aqui, é vastíssimo e
apaixonante, é tema para uma obra específica sobre o mesmo. É complexo mas real, pois faz
parte do estudo do místico humano.
É necessário e imperioso até, que cada um de nós procure reconhecer
sua escala de valores, tentando assim orientar sua vida sob esses mesmos valores, para não
ser um número a mais nesse mundo conturbado e materialista onde vivemos.
Só podemos saber se os valores que acatamos são corretos, se tivermos
implantados na nossa vida, uma base familiar orientada numa Filosofia de vida humanística,
cristã e seguida de uma educação escolar que tenha levado em consideração o
desenvolvimento consciente dos valores fundamentais existentes no ser humano.
O homem é um ser complexo, sua existência como pessoa humana está
sujeita a Vários aspectos tornando assim mais difícil a apreensão da realidade.
Parafraseando Pascal: “o homem é o mistério, entre o infinito do
consciente e do inconsciente, que vive em anseios de liberdade e onipotência, é, em verdade
um ser limitado, carente e frágil...”

Filosofia e Educação

Não podemos falar em natureza humana, valores humanos, Bem e Mal


sem deixar de falar em Educação, o homem é o que for a Educação que ele recebeu;
Também não se pode falar em Educação se relaciona-la com Filosofia. Não se admite
Educação sem uma Filosofia Educacional, sendo que Educação é um fenômeno puramente
humano, abrange o homem em sua totalidade, corpo e alma. Assim sendo a Educação
necessita de conhecimentos específicos sobre o homem, o objeto de sua ação, a Educação
deve ser embasada numa Filosofia.
Vamos partir de conceitos, definições dados à Educação e Filosofia
bem como a relação existente entre elas embora o que já afirmado.
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Com relação à Educação, são vastíssimos os conceitos que se tem
conhecimento, uns válidos, outros não, dependendo naturalmente da corrente filosófica a
que pertence o autor dos mesmos:
“A Educação é um processo intencional e sistemático de formação
integral do homem”.
“A Educação consiste, essencialmente, em preparar o homem para o
que deve ser e para o que deve fazer aqui na Terra, a fim de atingir o fim sublime para o
qual foi criado...” Papa Pio XI
“A Educação pode ser definida como um processo de contínua
reconstrução da experiência com o propósito de ampliar e aprofundar o seu conteúdo social
enquanto, ao mesmo tempo, o indivíduo ganha o controle dos métodos envolvidos”. Jonhn
Dewey

O importante é que saiba que o objeto da Educação é o homem em sua


totalidade, corpo e alma.
A Educação se identifica e se distingue por meio dos dois aspectos que
ela apresenta sendo produto e processo ao mesmo tempo e que são evidentes em muitos dos
conceitos que tomamos conhecimento. Ela é processo por se caracterizar como um ato de
desenvolver alguém, um ato de educar alguém ou de nos educarmos e é produto porque este
é o resultado, é o que recebemos através da aprendizagem, são os conhecimentos, as idéias e
técnicas que nos são ensinados, as novas normas de vida.
A Educação também se apresenta com dois significados distintos: o lato
e o restrito, o primeiro é o significado amplo, abrangente, extenso, é qualquer ato ou
experiência que tenha um efeito formativo; é extenso porque a educação é permanente,
nunca termina, estamos nos educando desde antes do nascimento, ainda no ventre materno,
até a morte. Por outro lado o significado restrito, técnico ou específico é o processo em
andamento, pelo qual a sociedade através de instituições específicas transmite sua cultura e
a dos outros, de uma geração para outra.
No entanto, se educação assim caracterizada não possuir um
conhecimento profundo, do homem e da própria educação, embasada ainda numa sã
Filosofia cristã, esta educação será falha e negativa, pois não atingirá o homem na sua
essência e constituição.
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Daí a necessidade premente de um relacionamento íntimo entre
Filosofia e Educação. Porque através da Filosofia o educador procura descobrir as verdades
sobre o objeto de sua ação, o aluno, o e próprio processo onde atua, na tentativa de conhecer
a natureza do homem, conhecer a sociedade e o mundo, para poder ordenar seus
conhecimentos interpretando-os conforme a realidade onde está inserido.
Toda Educação apresenta determinados problemas que só a Filosofia
pode auxiliar, visto que a educação sozinha como ciência não tem condições de
resolver.Então surge a Filosofia da Educação para dar auxílio ao processo educacional com
seu aspecto especulativo, prescritivo, analítico e crítico.
A Filosofia e a Educação se entrelaçam compreensivamente num ponto
comum a ação humana, apráxis humana.
Que é Filosofia da Educação?
Se a Filosofia como ciência estuda a realidade total, procurando
explicar o ser na sua essência, a Filosofia da Educação vai nos mostrar a Educação na sua
totalidade, vai nos fazer entender o que é realmente a Educação, vai nos mostrar a correta
interpretação na seleção de objetivos e diretrizes a ser seguida na ação educacional bem
como os métodos e técnicas a ser utilizados.Sendo o objeto da educação um ser dotado de
muitas capacidades e valores e não um objeto qualquer, uma máquina,. Estamos educando
um homem e não um robô.
O objeto, então, da Filosofia da Educação é a própria Educação e seu
objetivo é mostrar ao educador o valor máximo da Educação, sua essência e fundamentos.
O ato de filosofar para buscar o fundamento, o sentido em si e o valor
da realidade educacional, está intimamente ligado ao ato de educar, porque se aproximam
por um empenho comum: o desenvolvimento do homem. Ao se projetarem no universo
cultural, ambas as práticas, revelam elementos típicos do singular modo-de-ser do homem.
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