Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para realmente adentrar no que se constitui a escola de hoje e sempre, devemos retomar
todos os valores que há um longo tempo vêm sendo encarados como positivos e altruístas, e que na
verdade constituem o cerne de toda devassidão epilética em que agoniza o ocidente.
Em primeira instância, nasce a escola e toda a sua estrutura das entranhas do cristianismo,
mantendo muito de suas permanências feudais até hoje. No presente, contemplamos a criança como
ser ignorante e imperfeito, que urge ser “catequizada” com os valores sociais dominantes logo que
nascem ou antes se possível for, com aparelhagens ultra-sonoras de lavagem cerebral via útero.
Elas, as crianças, são os pobres índios e camponeses de hoje.
Nasce o termo “aluno”, que por nossa própria ignorância escolarizada, desconhecemos que
vem do latim e significa “sem luz”. O professor professa a verdade e o certo aos “sem luz”, que por
sua vez acatam essa posição sem indagações, posto que a desconhecem. Nasce assim a hierarquia
intelectual, a valorização do saber e o repúdio ao analfabeto, e como reflexo a legitimação de toda
exploração social dos “sem luz” mais burros durante a História, invariavelmente chamados de
servos, escravos ou operários.
Hoje, o ser realmente “aluno” acredita piamente que as coisas mudaram, principalmente os
ditos professores esclarecidos, que nada mais são do que peças cegas dum imenso e enfeitado jogo
de xadrez. O professor, na sua santa ignorância estimulada, crê estar cumprindo um belo papel
social e humanitário, evangelizando seus semelhantes com todo conhecimento imprescindivelmente
inútil que ele próprio absorveu quando na posição de “sem luz”, na posição de aluno. Dessa forma,
o honrado professor continua reproduzindo as ideologias dos que pagam seu biscoito de
adestramento: as altas instituições que ocupam o poder e que buscam por novas tecnologias, bem
como incurtir a mentalidade iluminista de “cada um por si e a seu mérito”, fomentando assim a
valorização do egoísmo e da competição por um lugar ao Sol, que na verdade nasceu pra todos.
No âmago da sala de aula, a criança busca, com todo apoio e afeto paternal, ser o primeiro
da classe, o mais inteligente, a peça que melhor absorve e que melhor responde. De um ser simples
e cheio de graça, aos poucos vai surgindo um verme competitivo e cheio de ego, dentro do casulo
que transforma borboletas em larvas chamado escola.
Destarte, o indivíduo já muito longe do “deixai vir a mim as criancinhas” de Jesus,
transforma-se num ser totalmente impregnado com todo maniqueísmo social, saturadamente cego
de escalas ilusórias sobre si e sobre seus semelhantes, cheio de bom e mau, certo e errado e de
outras respostas provisoriamente programadas. A escola cumpriu seu papel inicial: deu-se a corda
no bonequinho adolescente, que agora passa reto pelos mendigos, pisando em cima de tudo e de
todos em busca dos seus sonhos de vitrine. Arma-se com canetas e livros, na busca frenética de
enquadrar-se às exigências dos donos dos meios de produção, “cada um por si e a seu mérito”. Lá
vai o jovem para o cursinho, passos decididos, altivo pela cidade atroz, nariz erguido em busca do
sonho da vitória, na guerra fria contra seus amigos e colegas.
Uma vez na nova fase evolutiva, o verme agora se arrasta no âmbito dos concursos e
certificados, procurando comprovar sua superioridade. Inscreve-se no luxuoso cursinho da sua
cidade, pago pelos pais, esperançosos de lucrarem com o investimento mais tarde, felizes por agora
o filho estar num quadro social mais proveitoso, onde os burros e pobres são excluídos por
incompetência nata, por serem de “má” índole, de “má” educação.
Nesse ínterim, enquanto o pilão esmagador do professor do cursinho soca goela abaixo o
lixo na memória, observa-se futuros poetas, artistas e filósofos agonizando num silêncio mórbido,
morrendo e debatendo-se contra o ego do verme, tentando acordá-los para o presente – sem sucesso.
Na sala de tortura do cursinho, morrem os dias, o canto dos pássaros e vários poemas e obras de
arte, a priori de sequer existirem.
Sai o verme do cursinho, agora mais fortalecido, espada amolada para esmagar o desgraçado
ao seu lado na prova. Fecha a cara, agarra os livros fortemente contra o peito, como se fossem seu
escudo para andar pelas calçadas sem ser atingido por ombros duros e retos em sua meta, como os
dele próprio. Do alto dos prédios, pode-se observar melhor as mulas com suas mochilas às costas,
documentos e dinheiro nos bolsos, todas armadas para competir no formoso mundo de papel onde
se encontram, todas com suas algemas nos pulsos chamadas relógio.
Se a bondade do cosmos acaso permita restar algum resquício de boa vontade ou de
condições para tal, busca o verme ser professor, no sonho de fazer o “bem” instruindo esses pobres
diabos ignorantes, que não nasceram com a graça divina de serem alguém esclarecido e cheio de
bondade como ele. Reflete agora o professor, já formado e assado na fôrma, sobre os excluídos
desse sistema tão proveitoso e lindo, e busca com que esses excluídos partilhem também do prazer
de ser uma engrenagem.
Pensando nisso, alguns criam sistemas de cotas para os servos, negros e operários, e uma
educação especial para os retardados genéticos, “alunos” por natureza, limitados a não absorverem
tão bem os preciosos e utilíssimos valores sociais. As grandes instituições estimulam tudo isso,
graças à possibilidade de um novo equilíbrio social mais humanitário, onde os deficientes deixem
de representar prejuízos e tempo perdido; onde eles possam, mais do que nunca, serem bons
funcionários ou darem menos trabalho, já que tempo é dinheiro e a algema no pulso não pára, a não
ser quando falta o níquel necessário para novas pilhas.
Com a caridosa educação especial, o sistema e as altas instituições sugam agora ao máximo
o que um deficiente tem a oferecer. Devemos admitir que ao menos é algo mais amoroso (e
inteligente) do que o velho costume grego de arremessar os monstrinhos no precipício...
A educação especial, porém, não existe com a meta de educar a conviver e ajudar os
deficientes, mas culmina em fazer do deficiente uma máquina operacional, ainda que limitada a
tarefas mais simples, em comparação com a nossa hospitaleira sociedade voltada para a maioria. Os
deficientes substituem os artistas que morrem nos cursinhos, aprendendo peripécias urbanas dignas
de aplausos: sobem e descem rampas de degraus, penduram-se em telefones públicos e atravessam
vendados, e sem nenhuma ajuda, as avenidas tumultuadas das grandes metrópoles, apinhadas de
carros ávidos e de motoristas sedentos de garantirem o seu lugar ao Sol.
Algo que realmente corta o coração é perceber que entre os seres mais bondosos e ingênuos
é que se encontram os professores dessa educação especial, que crêem estar ajudando de alguma
forma os deficientes. É algo amável, como ver alguém tentando salvar outrem dum afogamento no
meio dum oceano infinito. Mas o homem é incapaz de conceber que as coisas são como são, e que
nada precisa ser feito. Para ele, tudo no seu estado natural está ruim, e é aí que reside o problema.
Somos incapazes de ACEITAR. Graças à grande capacidade humana de rejeitar, temos hoje as mais
tolas invenções e soluções em lata.
Os assim ditos deficientes, todos eles e de qualquer tipo, necessitam apenas de solidariedade
e ajuda para sobreviverem. E isso se estende a todo ser vivo (mas aos humanos também). Porém,
ajudar de forma vitalícia um deficiente, gera prejuízos e impaciência para a família infeliz que tem
que sustentar o retardado. Não há como investir nele nos cursinhos. Ele é apenas um artista que
sobrevive em meio a acrobacias junto aos vermes.
Felipe Miranda
Bati a cabeça
No teclado do PC:
Hyuj76.
E a rebeldia
Vira sabedoria
Nas mãos do mestre
Quando tu fores
Visitar qualquer pessoa
Deixe um sorriso
Sorriso amarelo
Nada melhor pra saúde
Ficar cinza
Gatinho novo
No quintal da varanda:
Míu!
Vícios ou virtudes
Depende somente
De quem observa