1) O texto discute como as escolas ainda tentam conciliar-se com os múltiplos sentidos do ato de educar, apesar das críticas de que perderam seu propósito.
2) Educar não é apenas transmitir conteúdo, mas sim proporcionar a presença de quem ensina e abrir espaço para a existência do outro.
3) A defesa das escolas não deve ter um tom altivo, mas sim reconhecer que a educação gera medo da igualdade e do comum.
1) O texto discute como as escolas ainda tentam conciliar-se com os múltiplos sentidos do ato de educar, apesar das críticas de que perderam seu propósito.
2) Educar não é apenas transmitir conteúdo, mas sim proporcionar a presença de quem ensina e abrir espaço para a existência do outro.
3) A defesa das escolas não deve ter um tom altivo, mas sim reconhecer que a educação gera medo da igualdade e do comum.
1) O texto discute como as escolas ainda tentam conciliar-se com os múltiplos sentidos do ato de educar, apesar das críticas de que perderam seu propósito.
2) Educar não é apenas transmitir conteúdo, mas sim proporcionar a presença de quem ensina e abrir espaço para a existência do outro.
3) A defesa das escolas não deve ter um tom altivo, mas sim reconhecer que a educação gera medo da igualdade e do comum.
É curiosa, para não dizer trágica, a frequente opinião que
sugere que, nestes tempos, as escolas perderam seu sentido mais fundador, secular e decisório: o de educar a todos, a cada um, de acordo com o comum,para o bem comum. Essa opinião conserva uma tonalidade sombria, tosca, um encolhimento de ombros, certo olhar perdido que abandona a si mesmo. E, o curioso dessa expressão, o trágico dessa afirmação, é que em boa medida nasce e se reproduz entre aquelas e aqueles que sempre foram considerados por seu caráter imprescindível, sua inestimável possibilidade de criar vidas distintas, sua aplausível- batalha por um mundodiferente, talvez uma das últimas fron- teiras por meio da qual poderíamos pensar em ir mais além do que está dado, contra o que está dado. Também é curioso que a suspeita sobre a não educação provenha sistematicamente de certo espírito midiático que: o tempo todo acredita que não tem responsabilidade alguma ha educação, que não ensina, que não instrui, nem constrói, e que se omite diariamente de sua própria prática des-educadora. A pergunta aqui bem poderia ser: qual é a defesa das escolas? Qual a solução? Embora as escolas tenham perdido certo rumo — não apenas devido às transformações vertiginosas e caóticas desses tncessEiaose 0 ça
tempos, mas também pela crescente precariedade dos objetos
e do hábitat educativo e pelos constantes ataques daqueles que prefeririam deixar tudo nas mãos da natureza — não é me- nos certo que tentam fazer de tudo para reconciliar-se com Educares Coção “EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA E SENTIDO”
com a insistência por conteúdos, mas sim com a presença de
os múltiplos sentidos do ato de educar. À crise educativa é, so- quem inaugura o ato de ensinar; não setrata tanto de elaborar bretudo, um padecimento que concerne a uma imagem sobre um discurso sobre os alunos presentes ou ausentes, mas de uma o mundo e não só a uma imagem do mundo escolar: padece ética a propósito de suas existências; não tem a ver tanto com da falta de conversa entre gerações, sofre de iniquidade, sofre de promessas politicamente insossas feitas a la carte, padece da uma pretendida e esquiva homogeneidade ou com a diversi- ausência de experiências sentidas e pensadas. dade, mas com “abrir um espaço dentro da norma para que A acusação de que a educação perdeu sua fisionomia é surja o outro” (BÁRCENA, 2009,p. 8). falsa e injusta. Tudo remete a um paradoxo de difícil solução: Educar é comover. Educar é doar. Educaré sentir e pensar, o mundo — certa porção do mundo — pede às escolas que não apenas a própria identidade, mas também outras formas cumpram com sua estirpe civilizadora, que cidadanizem, que possíveis de viver e conviver. Se isso não acontecesse nas esco- abram é garantam o horizonte do trabalho, que sejam inclusi- las, provavelmente o deserto, o ermo, a seca ocupariam toda vas, que gerem valores de aceitação e pacificação, que criem a paisagem dos tempos porvir. uma atmosfera de harmonia e convivência. A questão é que o Por isso a defesa das escolas não deveria assumir um tom mesmo mundo, que exige tudo isso da educação, é um mun- altissonante, semelhante ao do charlatão que esgrime razões e do incapaz de realizá-lo. Enquanto as escolas tentam. afirmar argumentos hipermorais ou hiperjurídicos. Não se trata do di- a vitalidade da diferença e o estar-juntos como um modo de reito à educação ou da razão jurídica que somente expressa, com convivência álgido e complexo, o mundo — grosseiramente certa indolência, o inexorável da educação. Existe algo a mais: O representado por seus mecanismos de midiatização informativa temor ao comum, o ódio a igualdade em primeiro lugar, o medo — só contribui com uma estética da violência, da estranheza de que o mundoseja algo mais que um dispositivo de mercado- infausta do humano, do folclore do bizarro e da espetaculari- rias e consumidores, o não rebelar-se contra o que se considera zação de corpos desenhados porbisturis cegos. a natureza imutável da infância e da juventude, a insuportável Ainda assim, em meio à batalha pela sobrevivência, em sensação de um tempode alteridade. Como dizem Masschelein e “meioaos perversos números de mortes, sequestros e indolências, Simon (2013, p. 23): “Muitas das alegações contraa escola estão “em meio aos apelativos — falsos ou fictícios — sobre à necessida- motivadas por um antiquíssimo temor (ou,inclusive, pelo ódio) de de diálogo e consenso, emmeio à desolação planejada em a uma de suas características mais radicais, mas que a definem sequências de imagens hiperatuadas, aindaé possível pensar na essencialmente: a escola oferece tempo livre”, que transforma Os transparência do gesto educativo. Umgesto que não é heroico, conhecimentos e destrezas em “bens comunse, portanto, tem que não deve ser demasiado enfático, que não pode ser apenas o potencial para proporcionar a cada qual, independentemente um modo indireto para definir nossas virtudes, mas um gesto de seus antecedentes, de sua aptidão ou de seu talento natural, o diário, mínimo,relacionado com uma responsabilidade única: tempo e o espaço para abandonarseu entorno conhecido, para a responsabilidade pela vida de qualquer outro e a doação do alçar-se sobre si mesmoe para renovar o mundo”. mundo. Hoje a educação poderia reivindicar uma necessária inauguração de outro tempo e deoutro espaço, à respeito do mundo midiático e hipertecnologizado que a rodeia. INão se Políticas fraternas. trata tanto de um ensino a propósito de como se deveria viver, Apesar das agendas e das aparências — e das aparências das mas de como colocar em jogo a transmissão da experiência é agendas — na educação atual, o dilema não se reduz apenas à do mundo de um tempo a outro tempo; não tem a ver tanto