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Filosofias para pensar

sonhos coletivos

Luísa Guimarães - PAMix Online


Macunaíma 2021
Ubuntu: uma forma ética de conhecer e ser em
comunidade
Significados:

- “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”, “eu sou porque nós somos”
- A dimensão relacional da pessoa é a chave de seu desenvolvimento e de sua personalidade
- Só posso ser feliz se as pessoas ao meu redor também estão felizes.

É entender que ajudar o outro é ajudar a humanidade; não é ajudar alguém para se sentir bem
consigo mesmo. No fim das contas, é como ajudar a nós mesmos.

- Em um sentido secular, ubuntu significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão,


respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor
Ubuntu
Dalene Swanson:
Mogobe Ramosa:
- “a comunidade é lógica e historicamente anterior ao
indivíduo. Com base nisso, a primazia é atribuída à “Diferentemente da filosofia ocidental derivada do
comunidade, e não ao indivíduo”. Essa comunidade racionalismo iluminista, o ubuntu não coloca o
é definida como uma “entidade dinâmica” entre três indivíduo no centro de uma concepção do ser
esferas: a dos vivos, a dos mortos-vivos
(“ancestrais”) e a dos ainda não nascidos. humano. Este é todo o sentido do ubuntu e do
humanismo africano. (…) o valor de sua
- A filosofia do “Nós”: princípios da partilha, da humanidade está diretamente relacionado à forma
preocupação e do cuidado mútuos e solidariedade
como ela apoia ativamente a humanidade e a
- Provérbio “feta kgomo o tshware motho” – se a dignidade dos outros; a humanidade de uma
pessoa está em uma situação em que precisa optar pessoa é definida por seu compromisso ético com
entre proteger e salvaguardar a riqueza ou
preservar a vida humana, ela deve então optar pela sua irmã e seu irmão.”
preservação da vida humana.
- Para a filosofia ubuntu, o tempo não muda a
verdade, nem tem o poder de transformar uma
injustiça em justiça.
O que o ethos do ubuntu tem a “ensinar” à nós?
Ética afroperspectivista através do ubuntu como modo de existir tem o intuito de produzir um
futuro dentro do presente

- Polidiálogo: no lugar de ouvir e falar em busca de “vencer” um debate, podemos ouvir-falar sempre
de uma maneira múltipla, sem necessidade de estabelecer consenso, ou vencer disputas;
procurando atravessar os caminhos e encruzilhadas que a existência reserva com o entendimento
que atravessar em companhia pode servir como uma maneira de tornar a vida mais bela, solidária (e
porque não dizer, sem querer incorrer em clichês), feliz.
- Na prática: ‘polílogo’ [ou polidiálogo] de culturas e tradições que promova a filosofia intercultural para
a melhoria da compreensão mútua e a defesa da vida humana.
- Incentivo para reavaliar o “ser por meio de outros” em tradições, culturas e religiões não africanas,
para reenfatizar os imperativos do cuidado e da partilha com os outros.
Teko Porã - filosofia guarani
“Bem viver” ou “Belo caminho”
Conceito filosófico, político, social e espiritual que expressa a grande Teia, onde vivemos em equilíbrio,
respeito e harmonia; é a representação da boa maneira de Ser e de Viver.

Neste sentido, teko porã rivaliza com a noção ocidental de que a espécie humana é a mais preparada para
conhecer e dominar a "natureza". A natureza não é um "outro" à disposição do ser humano para ter seus
recursos naturais explorados em função de seres "naturalmente superiores". Em outros termos, universo,
sistema ecológico não são coisas; mas, seres vivos.

Teko porã é um sistema filosófico que ensina: nunca trate seres vivos como se fossem coisas.

Vivenciar o sentido pleno do Bem Viver nos dias de hoje: não são os bens materiais, o conforto, o luxo irão
trazer a delicada e profunda satisfação da experiência que penetra no próprio ser e no estar quando se
alcança o Bem Viver nas ações diárias da Vida.
Equador Bolívia

Sumak Kawsay
ou Buen Vivir
“Estado de plenitud de toda la comunidad vital”, “plenitud de la vida” ou “vida plena”

“Uma vida digna, ainda que austera, que concebe o


bem-estar de forma holística, identificando-o com a “(...) uma nova visão da natureza, sem ignorar
harmonia com o entorno social (a comunidade), os avanços tecnológicos nem os avanços em
com o entorno ecológico (a natureza) e com o produtividade, mas sim projetando-os no
entorno sobrenatural (os Apus ou Achachilas e
interior de um novo contrato com a natureza
demais espíritos de um mundo encantado)”
como parte de sua própria dinâmica, como
“a individualidade egoísta deve se fundamento e condição de possibilidade de sua
submeter a um princípio de existência no futuro”.
responsabilidade social e compromisso
ético” Citações de Páblo Dávalos
Ailton Krenak e sua filosofia indígena
Trechos de “Sonhos para adiar o fim do mundo”
Filosofia indígena desde a
perspectiva dos povos Jê, da qual “O tipo de sonho a que me refiro é uma instituição. Uma instituição que admite
os Krenak fazem parte sonhadores. Onde as pessoas aprendem diferentes linguagens, se apropriam de
recursos para dar conta de si e do seu entorno. (...) sonho como instituição que
prepara as pessoas para se relacionarem com o cotidiano.”

“Sonhar é uma prática que pode ser entendida como regime cultural em que, de
manhã cedo, as pessoas contam o sonho que tiveram. (...) o sonho é um lugar
de veiculação de afetos. Afetos no vasto sentido da palavra: não falo apenas de
sua mãe e seus irmãos, mas também de como o sonho afeta o mundo sensível;
de como o ato de contá-los é trazer conexões do mundo dos sonhos para o
amanhecer, apresentá-los aos seus convias e transformar isso, na hora, em
matéria intangível. Quando o sonho termina de ser contado, quem o escuta já
pode pegar suas ferramentas e sair para as atividades do dia (...) Não há
nenhum véu que o separa do cotidiano e o sonho emerge com maravilhosa
clareza.”
Sonhos para adiar o fim do mundo
“Perspectiva indígena de coletividade: ‘Não conheço nenhum sujeito de
nenhum povo nosso que saiu sozinho no mundo. Andamos em
constelação’”

“Suspender o céu é ampliar os horizontes de todos, não só humanos.


Trata-se de uma memória, uma herança cultural do tempo em que nossos
ancestrais estavam tão harmonizados com o ritmo da natureza que só
precisavam trabalhar algumas horas do dia para proverem tudo que era
preciso pra viver. Em todo o resto do tempo você podia cantar, dançar,
sonhar: o cotidiano era uma extensão do sonho.
Ailton Krenak, líder indígena,
E as relações, os contratos tecidos no mundo dos sonhos, ambientalista, filósofo, poeta
e escritor brasileiro
continuavam tendo sentido depois de acordar.”
E os sonhos do futuro?
- “(...) se enxergarmos que estamos passando por uma transformação, precisaremos
admitir que nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera
terão que se dar de outra maneira. Nós podemos habitar esse planeta, mas deverá ser
de outro jeito”.
- Quando pensamos na possibilidade de um tempo além deste, estamos sonhando com
um mundo onde nós, humanos, teremos que estar reconfigurados para podermos
circular. Vamos ter que produzir outros corpos, outros afetos, sonhar outros
sonhos para sermos acolhidos por esse mundo e nele podermos habitar.
- Se encararmos as coisas dessa forma, isso que estamos vivendo hoje não será
apenas uma crise mas uma esperança fantástica, promissora.

A vida não é útil - Ailton Krenak


Referências
● Ubuntu: o que significa essa filosofia africana e como pode nos ajudar nos desafios do hoje - BBC News
● Ubuntu: a filosofia africana que nutre o conceito de humanidade em sua essência - Por dentro da África (2014)
● A ÉTICA DO UBUNTU - Mogobe B. Ramose (2002)
● UBUNTU COMO MODO DE EXISTIR: Elementos gerais para uma ética afroperspectivista - Renato Noguera -
Revista da ABNP (2012)
● Disponíveis em: Revista do Instituto Humanitas Unisinos IHU On-line Ed. 353 (2010)
○ Ser por meio dos outros: o ubuntu como cuidado e partilha - Dirk Louw
○ Ubuntu, uma “alternativa ecopolítica” à globalização econômica neoliberal. Dalene Swanson.
○ Mogobe Ramose A importância vital do “Nós”
● Infancialização, ubuntu e teko porã: elementos gerais para educação e ética afroperspectivistas - Renato
Noguera e Marcos Barreto (2018)
● Teko Porã, o sistema milenar educativo de equilíbrio - Cristine Takuá - UNESP (2018)
● Sumak Kawsay: uma forma alternativa de resistência e mobilização. Pablo Dávalos. Revista do Instituto
Humanitas Unisinos IHU On-line Ed. 340 (2010)
● Sumak Kawsay ou Buen Vivir? Os novos fundamentos constitucionais nativos e a reforma das políticas sociais
no Equador da “Revolução Cidadã” - Pimenta de Faria. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares
UERJ (2016)
● A Vida não é útil - Ailton Krenak - Cia das Letras (2020)
● Ideias para adiar o fim do mundo - Ailton Krenak - Cia das Letras (2019)

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