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de atribuição de sentido e de orientação das condutas interativas entre categorias de pessoas, como o
momento fundados da própria cultura.
A Vida e a consciência da vida são o que ela própria ou um deus nos ofertaram. A cultura e
o que fazemos dela, nela e, em e entre nós, através dela. Vida. A cultura é o que devolvemos a Deus
ou à vida como a nossa parte do mistério de uma criação de quem somos bem mais os persistentes
inventores do que aqueles que vieram assistir ao que fizeram antes de havermos chegado. Os outros
seres vivos do mundo são que são. Nós somos aquilo que nos fizemos e fazemos ser. Somos o que
criamos para efemeramente nos perpetuarmos e transformarmos a cada instante. Tudo aquilo que
criamos q partir do que nos é dado, quando tomamos as coisas da natureza e as recriamos como os
objetos e os utensílios da vida social representa uma das múltiplas dimensões daquilo que, em uma
outra, chamamos de: cultura. O que fazemos quando inventamos os mundos em que vivemos: a
família, o parentesco, poder de estado, a religião, a arte, a educação e a ciência, pode ser pensando e
vivido com uma outra dimensão.
Ao emergimos com a nossa consciência reflexiva – e nossas inteligências múltiplas – do
signo e do ato ao símbolo e ao significado, logo, ao gesto, descobrimos que o importante não é tanto
o que transformamos materialmente da natureza. O que importa é a nossa capacidade e também a
nossa fatalidade de atribuirmos significados múltiplos e transformáveis ao que fazemos, ao que
criamos, aos modos sociais pelos quais fazemos e criamos e, finalmente, a nós mesmos significado.
Pois para a ave que pousa num galho da árvore, a árvore é o galho do pouso, é a sombra, o abrigo, a
referência no espaço e o fruto. Para nós ela é tudo isto e é bem mais. É um nome, uma lembrança,
uma tecnologia de cultivo e de aproveitamento. É uma imagem carregada de afetos, o objeto da tela
de um pintor, um poema, uma possível morada de um deus ou, quem sabe? Uma divindade que por
um instante divide com um povo indígena uma fração de seu mundo.
Eis porque em termos bastante atuais, falamos que a cultura está mais no quê no como nós
nos trocamos mensagens e nos dizemos palavras e ideias entre nós, para nós e a nosso respeito, do
que no que fazemos em e sobre o nosso mundo, ao nos organizarmos socialmente para viver nele e
transformá-lo. Eis um belo sentido da ideia da nossa própria liberdade. Ao levarmos a vida do
reflexo à reflexão e do conhecimento à consciência, nós acrescentamos ao mundo o dom gratuito do
espírito. Com ele, nós nos tornamos senhores do sentido e criadores de uma vida regida não pela
fatalidade biológica da espécie, como entre nossos irmãos animais, mas pelo poder de escolha
crescentemente livre de nossos próprios símbolos, de nossos tantos modos de vida, de nossas
múltiplas identidades e das buscas de aprendizado de sentimentos e de significados a serem dados à
teia de “tudo isto”.
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REFERÊNCIA
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. São Paulo: Mercado das Letras, 2002.