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secretas,
notas de refúgio.
Trabalho de conclusão
da disciplina: Modos
de Produção do Espaço
na Arte Contemporânea.
Professor: Agnaldo Farias
Aluna: Lia Damasceno
Doutorado, USP 2018.
!
A partir do momento que o indivíduo deseja pertencer a uma comunidade ele
precisa fazer uso da sua linguagem, precisa se adaptar às regras, tradições, costumes, e
de alguma forma atuar como membro dentro deste sistema, desta organização entrópica.
Geralmente a situação de refúgio vai provar que o individuo não está capaz de
pertencer a uma organização que foi pré-estabelecida a sua revelia, isto de algum modo
implica em uma desterritorialização, não só do corpo, mas também da mente. Essa
confusão traz à tona uma série de questões entre o amor e morte - medo de morrer,
medo de enlouquecer, medo de fracassar, medo de ficar só... - sensações que se
assemelham ao vazio, que trazem um sentimento de falta e incompletude em sua
estrutura. O primeiro momento do refúgio é avassalador. É a cidade após o furacão.
Trazendo este pensamento para o espaço, nos é dado uma maior afeição e
aceitação a essa condição devastada e as inscrições espaciais que espelhem essa
experiencia de desordem nos organiza: acontece uma revolução entrópica. O sistema
abalado procura retomar certa organização, nesse momento se abrem outras
possibilidades de arranjos entrópicos, dessa forma o sistema pode fazer-se novo.
Para o artista Yves Klein o vazio era potência, ponto de partida da criação. De
algum modo para ele se impor ao vazio era um exercício de deixar o para trás e
1 DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. 1995-1997. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de
Janeiro: Editora 34.
construir um novo futuro: o vazio sempre foi minha preocupação constante, e eu
considero que, no coração do vazio, assim como no coração do homem, as chamas
ardem”2
2KLEIN, Yves. Manifesto do Hotel Chelsea. In: FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecilia (orgs)
Escritos de artistas anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
Fazer-se novo
3KLEIN, Yves. Manifesto do Hotel Chelsea. In: FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecilia (orgs)
Escritos de artistas anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012. (p.64)
4 Idem. (p.65)
Arte, vida
O individuo diante do nada, refugiado, precisa entender que sua existência, ainda
que devastada, tem importância na construção dos espaços e da linguagem. O recursar-
se a ordem, acaba por colaborar e por fortalecer o sistema mais amplo da linguagem.
Francis Alys em sua obra/livro Numa dada situação investiga algumas ocasiões
onde sistemas entrópicos se desorganizam. Na verdade, o que ele nos faz por em
questão são os parâmetros que regem os estatutos da ordem e da desordem, por
exemplo: ironicamente um sistema “desornado” se mostra mais estável às intempéries
da natureza, já os sistemas mais “ordenados” se mostram mais vulneráveis a se
desequilibrarem.
6 ALÿS, Francis. Entropia (www.holexandria.org). In: Numa dada situação. São Paulo:
Cosac&Naify, 2010.
7 In: FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecilia (orgs) Escritos de artistas anos 60/70. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
convida o indivíduo a se lançar nesse espaço desordenado, a arrancar as máscaras, a
rever seus parâmetros de representação do que faz e do que não faz sentido, e até a
entender que às vezes precisamos aceitar o mistério e o vazio e se emocionar com eles.
Acordo de assalto
buraco
apneia horror
Envio p a d r e n o s s o
can
Anjos
ção
Adormece
Vulcão
sono leve
(...)
vá
referências
ALYS, Francis. Entropia (www.holexandria.org) In: Numa dada situação. São Paulo:
Cosac&Naify, 2010.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix.. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Rio
de Janeiro: Editora 34.
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