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Disciplina: Filosofia Contemporânea V

Professora: Dr. Antonio Edmilson Paschoal


Aluno: Vinicius de Moura Turno: Noite

Atividade Avaliativa: analise contextual sobre o aforismo 354 – Gaia Ciência.


Livro V - Gaia Ciência, Friedrich Nietzsche, pág. 247-250, Companhia das Letras, ano
2001, tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.

Do "gênio da espécie". - O problema da consciência (ou, mais precisamente,


do tornar-se consciente) só nos aparece quando começamos a entender em
que medida poderíamos passar sem ela: e agora a fisiologia e o estudo dos
animais nos colocam neste começo de entendimento (necessitaram de dois
séculos, portanto, para alcançar a premonitória suspeita de Leibniz). Pois nós
poderíamos pensar, sentir, querer, recordar; poderíamos igualmente "agir" em
todo sentido da palavra; e, não obstante, nada disso precisaria nos "entrar na
consciência" (como se diz figuradamente). O sentir, querer, recordar; "agir"
A vida inteira seria possível sem que, por assim dizer, ela se olhasse no
espelho: tal como, de fato, ainda hoje a parte preponderante da vida nos
ocorre sem esse espelhamento - também da nossa vida pensante, sensível e
querente, por mais ofensivo que isto soe para um filósofo mais velho.

Nietzsche é enfático ao falar o caráter ínfimo da consciência. Para ele, a


consciência, ou então, a reflexão sobre aquilo que se passou trasposto em imagem e som
no presente por meio da memória, não é necessária para o viver. Boa parte do que se
realiza em ato, para o vivente, passa despercebido para ela. Pode-se perceber isso no
que se refere ao tipo de pisada de uma pessoa. Quase nunca, ainda bem, os motivos
pelos quais a pisada do pé de uma pessoa que variam entre pronada, neutra ou supinada
são refletidos pelo espelho que é a consciência. A pisada supinada de uma pessoa,
mostra a sua confiança na força do menor dedo do pé, mas os motivos dessa confiança,
que foram construídos desde os seus primeiros passos, não vêm ao espelho a todo
momento, não se necessita dele para pisar de forma supinada.
Com efeito, ainda sobre o caráter ínfimo da consciência, uma pessoa que trabalha
a maior parte do dia numa posição sentada, com a coluna inclinada para frente, não se
demorará a ficar corcunda; neste caso, o espelho seria importante para a pessoa, para
corrigir a postura, mas mesmo assim, não se faz necessário o auxílio da consciência, isto
é, não se faz necessário a tarefa (aufgabe) para consigo de se corrigir, pode-se viver a
todo momento sem a muleta que é a consciência. É comum uma pessoa que foi traída
sentir raiva da que a traiu, mas geralmente ela não está consciente do motivo de ser esse
o sentimento diante uma traição. O sentimento diante de uma traição poderia muito
bem ser outro, uma profunda alegria, uma sensação de êxtase pela revelação do caráter
do traidor(a) (ou qualquer outro sentimento), mas de algum modo, há uma necessidade
intrínseca de se sentir raiva (ou sentimentos correlatos) após ser traído. Assim como não
se tem noção do vínculo e do motivo da raiva e da traição estarem vinculadas, da
mesma maneira o “querer” se comporta. O/a vivente quer muitas coisas, pelos menos é
o que transparece o querer dos/as viventes das grandes cidades. De repente, a pessoa
que almejava entrar na faculdade sem saber o que experienciaria nela, apenas fazia
menção por meio de ficções lógicas, passa a querer uma pós, mestrado, doutorado, etc;
faz isso, como se houvesse uma promessa (versprechen) para si mesmo a todo
momento. Nesse sentido, a consciência do querer se manifesta do mesmo modo que a
consciência do comportamento no andar, geralmente, não há a reflexão no espelho sobre
todas as minúcias que levaram a pessoa a querer uma progressão na carreira acadêmica,
assim como no andar. Assim se revela o caráter passageiro diante de todas as vivências
de uma pessoa. Quando algo chega a ser refletido, outras mil facetas se encontram
ocultadas por trás do algo que apareceu no espelho. Isto, apesar de que se tenha a
impressão, com o passar dos anos, de se estar consciente da maior parte dos momentos
da vida. Por isso que Nietzsche faz a correlação entre a consciência e falta de
necessidade dela mesma, pois ela não se faz presente na maior parte do que é vivido
pelas pessoas, não se demonstra necessária para, como diz Nietzsche, pensar, sentir,
querer, recordar, etc.

Bem, se querem dar ouvidos à minha resposta a essa pergunta e à sua


conjectura talvez extravagante, parece-me que a sutileza e a força da
consciência estão sempre relacionadas à capacidade de comunicação de uma
pessoa (ou animal), e a capacidade de comunicação, por sua vez, à
necessidade de comunicação: mas não, entenda-se, que precisamente o
indivíduo mesmo, que é mestre justamente em comunicar e tornar
compreensíveis sus necessidades, também seja aquele que em suas
necessidades mais tivesse recorrer aos outros. O fato de nossas ações,
pensamentos, sentimentos, mesmo movimentos nos chegaram à consciência -
ao menos parte deles -, é consequência de uma terrível obrigação que por
longuíssimo tempo governou o ser humano: ele precisava, sendo o animal
mais ameaçado, de ajuda, proteção, precisava de seus iguais, tinha de saber
exprimir seu apuro e fazer-se compreensível - e para isto tudo ele necessitava
antes de "consciência", isto é, "saber" o que lhe faltava, "saber" como se
sentia, "saber" o que pensava.

Em resposta à pergunta: “Para que então consciência, quando no essencial é


supérflua?”, Nietzsche desenvolve uma hipótese naturalista acerca do surgimento da
consciência. Sua hipótese está no fato de que os indivíduos, imersos em suas
fragilidades, sem garras para se defender de predadores ferozes, teve a necessidade de
recorrer aos seus iguais. Deste modo, tiveram de “saber” o que estava “acontecendo” no
seu interior, sua necessidade, de uma forma a expressar aos outros indivíduos para que
houvesse o socorro mútuo. Assim surgiu a consciência, estando interligada a
comunicação, a primeira se desenvolveu a partir da segunda, e esta, por sua vez, possui
mais “força” e “grau” de acuidade quanto maior a necessidade. Desse modo, a
necessidade determinaria o quanto o sujeito precisaria de uma reflexão sobre o que
ocorreria no interior dele ao necessitar de ajuda. Neste ínterim, os indivíduos
necessitam, de modo velado, da presença do outro, ou seja, o que possibilitou a
comunicação foi a fraqueza dos indivíduos em suas adversidades, tornando-os
gregários.

Parece-me que é assim no tocante a raças e correntes de gerações: onde a


necessidade, a indigência, por muito tempo obrigou os homens a se
comunicarem, a compreenderem uns aos outros de forma rápida e sutil, há
enfim um excesso dessa virtude e arte da comunicação, como uma fortuna
que gradualmente foi juntada e espera um herdeiro que prodigamente a
esbanje (- os chamados artistas são esses herdeiros, assim como os oradores,
pregadores, escritores, todos eles pessoas que sempre vêm no final de uma
longa cadeia, "frutos tardios", na melhor acepção do termo, e, como foi dito,
por natureza esbanjadores).

Mais adiante, Nietzsche da ênfase ao contexto no qual a comunicação emerge, isto


é, ela emerge enquanto algo inerente as raças e gerações. E ainda mais, ele dá um salto
de sua hipótese naturalista e se situa respectivamente num período após a pré-história,
propõe que nesse movimento de compreensão de uns para com os outros, que ele chama
de “arte da comunicação” e “virtude”, gerou excedentes. Estes excedentes, não se
referem a hipótese naturalista de como linguagem surgiu para a sobrevivência dos
indivíduos, surgimento que os tornam comuns, generalizados, na relação
comunicacional de uns para com os outros, para transmitir as necessidades inerentes aos
indivíduos, mas sim, a um excedente cujos artistas são seus herdeiros. Este excedente se
refere a linguagem que não era usada simplesmente para transmitir a necessidade, mas a
linguagem como algo a ser esbanjado, no qual certas pessoas têm esse usufruto, como
por exemplo: “artistas, pregadores, oradores e escritores”. Considerando estes aspectos,
a linguagem estaria delimitada ao âmbito em que as raças e gerações se desenvolveram,
cujo ápice está no dispêndio dos “esbanjadores”, o uso da linguagem além do necessário
para a sobrevivência.

Supondo que esta observação seja correta, posso apresentar a conjectura de


que a consciência desenvolveu-se apenas sob a pressão da necessidade de
comunicação - de que desde o início foi necessária e útil apenas entre uma
pessoa e outra (entre a que comanda e a que obedece, em especial), e também
se desenvolveu apenas em proporção ao grau dessa utilidade. Consciência é,
na realidade, apenas uma rede de ligação entre as pessoas, - apenas como tal
ela teve que se desenvolver: um ser solitário e predatório não necessitaria
dela.
Nietzsche afirma aqui que, se ele estivesse certo de sua hipótese sobre o contexto
em que a comunicação emerge (pela necessidade), poderia apresentar uma conjectura de
que a consciência está intimamente ligada a comunicação pelo grau de utilidade que
esta última possuía entre os indivíduos. Esta utilidade é caracterizada pela relação de um
indivíduo ao outro pela obediência e comando. No momento em que essa relação se
desenvolveu, desenvolvimento que ocorreu através da linguagem, a consciência também
se desenvolveu. Disto pode-se derivar que as pessoas possuindo um certo querer a cerca
de algo, possuem na sua querência a relação de comando e obediência, isto é, o
“senhor” que existe em uma pessoa manda a ela que realize um ato para satisfazer a sua
querência, o “escravo” que também existe em uma pessoa, obedece ao seu “senhor”.

Pois, dizendo-o mais uma vez: o ser humano, como toda criatura viva, pensa
continuamente, mas não o sabe; o pensar que se torna consciente é apenas a
parte menor; a mais superficial, a pior, digamos: - pois apenas esse pensar
consciente ocorre em palavras, ou seja, em signos de comunicação, com o
que se revela a origem da própria consciência.

Disto segue novamente a caracterização da consciência como parte ínfima das


vivências. A maior parte do “agir” do homem está alheio à consciência. O sentir, pensar,
querer e até as recordações veem sobre o vivente de forma passiva, sem que ele
necessite recorrer antes a consciência para que elas se tornem explicitas para outra
pessoa. Assim, pode-se comparar o andar de uma pessoa, dando um passo de cada vez,
com uma pessoa que sente um sentimento ruim ao ser traída, no primeiro caso a pessoa
não fala que precisa de 120 passos largos para chegar até o ponto de ônibus e no
segundo caso a pessoa não lembra (e transfere a fala, lágrimas ou violência) de todos os
motivos que a faz se sentir desgastada pela traição, tudo isto (os passos largos ou curtos
e os motivos do se sentir desgastada), ocorre sem a necessidade de se ter consciência
disso. Do mesmo modo, no momento em que a pessoa se torna consciente de sua ação,
pensamento ou sentimento, se torna consciente da parte mais ínfima, pois o tonar-se
consciente ocorre “em signos de comunicação”, ou seja, por meio de palavras, gestos,
lágrimas, etc. A parte mais ínfima que comunica, não comunica todas as “vivências
primitivas” ou “forças” que irrompem na pessoa e a faz demonstrar em “signos de
comunicação”, apenas o que está na superfície é explicito em imagem e som.

Em suma o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento da


consciência (não da razão, as apenas do tomar-consciência-de-si da razão)
andam lado a lado. Acrescente-se que não só a linguagem serve de ponte
entre um ser humano e outro, mas também o olhar, o toque, o gesto; o tomar-
consciência das impressões de nossos sentidos em nós, a capacidade de fixá-
las e como que situá-las fora de nós, cresceu na medida em que aumentou a
necessidade de transmiti-las a outros por meio de signos.

Com efeito, Nietzsche vincula a origem e o desenvolvimento da consciência aos


signos de comunicação (que podem ser desde a fala até o olhar, o toque, o sorriso de
canto da boca). A consciência possui sua origem nos signos de comunicação, pois a
consciência de si sobre uma ação, ocorre por meio de signos que são comuns a outras
pessoas, ou seja, para ter consciência de si a pessoa recorre a signos que são usualmente
usados num determinado meio. Neste ínterim, o desenvolvimento tanto da consciência
quanto da linguagem, andariam juntas devido ao caráter de retroalimentação que a
consciência tem em relação aos signos, cada signo aprendido pode-se dito como um
ponto de referência, até agora não sabido, acrescido a consciência, isto em
conformidade com os seus contemporâneos -espécie.
Os signos que advêm à consciência surgiram, conforme já dito na hipótese
naturalista, da necessidade de transmitir o que se passava no interior para os seus
contemporâneos quando era ameaçado por um animal. Neste sentido, fez-se necessário
fixar o que se sentia no interior do indivíduo fora dele, de forma constante -no que se
refere aos indivíduos do mesmo grupo. Quando as designações fixas deixam de
permanecer fixas surgem outras designações para a mesma coisa, por isso, há vários
idiomas. Neste ínterim, ao inventar um signo, um gesto ou até mesmo um sentimento, o
indivíduo torna-se mais consciente de si mesmo, pois a criação dessas formas de
comunicação está em função do indivíduo dentro de seu âmbito social. Em outras
palavras, a progressão da linguagem por meio da criação de formas de comunicação
ocorre enquanto o indivíduo é um "animal social".

Meu pensamento, como se vê, é que a consciência não faz parte realmente da
existência individual do ser humano, mas antes daquilo que nele é a natureza
comunitária e gregária;9393 que, em consequência, apenas em ligação com a
utilidade comunitária e gregária ela se desenvolveu sutilmente, e que,
portanto, cada um de nós, com toda a vontade que tenha de entender a si
próprio de maneira mais individual possível, de "conhecer a si mesmo",
sempre traz à consciência justamente o que não possui de individual, o que
nele é "médio" - que nosso pensamento mesmo é continuamente suplantado,
digamos, pelo caráter da consciência - pelo "gênio da espécie" que nela
domina - e traduzido de volta para a perspectiva gregária.

A consciência tem o seu vínculo no indivíduo através do vértice da natureza


comunitária (Gemeinschafts natur). Essa premissa mostra uma interdependência entre a
natureza comunitária e gregária com a consciência, no qual pode ser evidenciado por

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meio do estranhamento que há num choque de grupos que representam valores distintos:
uma pessoa que pertence ao grupo dos que leem poemas, ao se referir sobre as
semelhanças que um casal de pessoas passa a possuir com o tempo, pode lembrar das
palavras de Vinicius de Moraes: “E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em
minha voz a tua voz”; enquanto que uma pessoa pertencente ao grupo dos que gostam
de se atualizar sobre pesquisas atuais pode dizer: “eu vi uma pesquisa que falava sobre
as pessoas que convivem por muito tempo juntas terem expressões faciais parecidas”. A
consciência de cada um dos grupos, faz referência ao caráter daquilo que é comum ao
seu grupo, apesar de falarem sobre a mesma coisa. Isto se perpetua também em grupos
partidários da política: uma pessoa que compõe um partido, tem como subterfúgio para
fundamentação da sua posição aquilo que pertence ao partido, ou seja, a pessoa pode
acreditar que age conforme a sua consciência -como se fosse individual, mas a
consciência não é individual, sempre faz referência aquilo que é comum.

Meu pensamento, como se vê, é que a consciência não faz parte realmente da
existência individual do ser humano, mas antes daquilo que nele é a natureza
comunitária e gregária;9393 que, em consequência, apenas em ligação com a
utilidade comunitária e gregária ela se desenvolveu sutilmente, e que,
portanto, cada um de nós, com toda a vontade que tenha de entender a si
próprio de maneira mais individual possível, de "conhecer a si mesmo",
sempre traz à consciência justamente o que não possui de individual, o que
nele é "médio" - que nosso pensamento mesmo é continuamente suplantado,
digamos, pelo caráter da consciência - pelo "gênio da espécie" que nela
domina - e traduzido de volta para a perspectiva gregária. Todas as nossas
ações, no fundo, são pessoais de maneira incomparável, únicas,
ilimitadamente individuais, não há dúvida; mas, tão logo as traduzimos para a
consciência, não aparecem mais sê-lo... Este é o verdadeiro fenomenalismo e
perspectivismo, como eu o entendo: a natureza da consciência animal
ocasiona que o mundo de que podemos nos tornar conscientes seja só um
mundo generalizado, vulgarizado9494 - que tudo o que se torna consciente por
isso mesmo torna-se raso, ralo, relativamente tolo, geral, signo, marca de
rebanho, que a todo tornar-se consciente está relacionada uma grande, radical
corrupção, falsificação, superficialização e generalização. Afinal, a
consciência crescente é um perigo; e quem vive entre os mais conscientes
europeus sabe até que é uma doença.

Neste trecho Nietzsche reforça parte daquilo que ele já havia afirmado
anteriormente. Uma afirmação nova neste trecho está no fato de que para o filosofo não
é possível “conhecer a si mesmo”. Isto, pois, se a consciência não faz parte do caráter
individual das pessoas, mas sim, de um caráter gregário, tudo que é traduzido do interior
e transmitido por meio de palavras, generaliza, uniformiza, o que seria tido como
singular, próprio ao indivíduo. Numa comunidade, as pessoas vivenciando e nomeando
experiências parecidas (além de designa uma experiência de outrem como a mesma de
si), pois geralmente possuem a mesma rotina, idioma, clima, etc, acabam por seguir os
mesmos usos do comportamento. Um exemplo disso está no uso da etiqueta do século
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XVIII, no qual, a aristocracia procurando se distanciar de outras classes produzindo
novos modos de comportamento para se diferenciar de outras classes, se constrageram
uns aos outros pelo signo da polidez (designação de comportamento polido) e da
elegância (designação a um vestuário refinado), tornando os indivíduos da aristocracia
uniformizados, generalizados, em relação a eles mesmo. Logo, na tentativa de se
conhecer (ou traduzir a sua singular vivência interior) se utilizando do que é comum a
comunidade, ele acaba por se desconhecer, e que para Nietzsche, é um perigo.

Não é, como se nota, a oposição entre sujeito e objeto que aqui me interessa:
essa distinção deixo para os teóricos do conhecimento que se enredaram nas
malhas da gramática (a metafísica do povo). E menos ainda é a oposição
entre fenômeno e "coisa em si": pois estamos longe de "conhecer" o
suficiente para poder assim separar. Não temos nenhum órgão para o
conhecer; para a "verdade": nós "sabemos" (ou cremos, ou imaginamos)
exatamente tanto quanto pode ser útil ao interesse da grege humana, da
espécie: e mesmo o que aqui se chama "utilidade' é, afinal, apenas uma
crença, uma imaginação e, talvez, precisamente a fatídica estupidez da qual
um dia pereceremos.

Na última parte do aforismo Nietzsche revela a sua posição em relação a temas


caros tratados pela epistemologia na modernidade, isto é, ele não estava interessado
nestes temas. Afirma ainda que os indivíduos não possuem órgãos para atingir a
verdade, os seus meios de “atingir” a verdade são a crença ou imaginação. Neste
ínterim, Nietzsche explicita que sua posição está em não procurar essências nas
palavras, tornando as verdades absolutas ou então designando por meio delas verdades
concretas. Para ele, essa tudo que se teria como “saber” estaria em relação com a
utilidade, sendo esta última, também uma ficção lógica que em algum momento os
indivíduos se enredaram.

REFERÊNCIA:

A Gaia Ciência. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.

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