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Indica o domínio da evolução propriamente humana, contraposto ao domínio biológico, biosfera.
(ABBAGNANO, N, 2007, p.837)
vamos chamar de “seres do espírito (Morin, 2005,
p.139)
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[Verstand]. Willian James se utiliza da analítica transcendental de kant: “como definição mais geral do
entendimento, Kant sugere que é a faculdade de cognição, isto é, o poder de determinação conceitual
de material em julgamentos, que por sua vez se resume à capacidade de julgar. O entendimento é a
fonte de conceitos puros (categorias) e princípios puros do entendimento. Kant oferece um número de
diferentes caracterizações do entendimento: espontaneidade da cognição em contraste com a
receptividade da sensibilidade; faculdade de pensar; faculdade de conceitos e também de julgamentos;
faculdade de regras. Diferentemente da sensibilidade, que é a faculdade das intuições, o entendimento
(humano) é discursivo, ou seja, proporciona a cognição por meio de conceitos. Pensa o objeto da
intuição e não intui nada”. (HELMUT HOLZHEY, 205, p.288)
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[Kategorie]. São os modelos pelos quais se manifesta a atividade do intelecto, que consiste,
essencialmente, “em ordenar diversas representações sob uma representação comum, isto é, em julgar.
(GOBRY, IVAN. 2007 p.139).
representação da realidade, uma margem subjetiva, mas não significativa, que
representa o nosso “mundo real”, e a partir disso tomamos essa nova
informação como uma verdade, como um mecanismo de direção para nossa
vontade na natureza, e o conjunto dessas informações damos o nome de
crença.
James nos sugeri que subjaz a toda crença uma lógica interna, que
ele descreve como: (1) antecedência de que a realidade do nosso mundo
interior correspondem ao mundo objetivo de forma imutável e continua, e.g.,
“eu sei que o sol nascerá amanhã”, ou seja, a crença se fixa na aceitação
prévia que os fenômenos naturais são repetitivos, que nunca mudam
baseadas apenas na nossa disposição psicológica de aceitar isso como
circunstância fechada e imutável. (2) Que não haja contradições inerente às
preposições durante o ato de crer, o que significa que durante o ato de
aceitação de uma crença eu não sinta desconforto por deter duas
possibilidades auto excludentes sobre a mesma crença, e.g., “não tenho
certeza se o sol nascerá amanhã”, ou seja, a crença precisa ter um conteúdo
que nos força a não ter dúvidas sobre o que ela aponta, é impossível
conscientemente deter uma crença cuja a ordem eu ponho sobre dúvida
constante, e (3) que esteja estritamente relacionada a participação ativa no
meu anseio por crer que seja verdadeiro, isso significa que haja correlação
entre os campos das crenças anteriores e que por ação emocional me force
crer ser verdadeira esta crença em relação àquelas, por tanto, que me
estimule a acreditar.
Willian James (1989, p. 805) constata que a crença por seguir uma
ordem própria, podemos projetar diversos universos de realidades coexistindo
em nossa mente em forma de crenças sobre o mundo, e que não dependem
de uma relação homomórfica de primeira ordem com o universo. James
defende que a relação de crença e realidade “do mundo externo” (1989 p.811)
não é mediada tão somente nos sentidos pela matéria das aparências [in
sensu] ou das formas puras da intuição que estão no sujeito cognoscente [in
concreto], que são reajustados na sensibilidade e conferidos conteúdo
representacional pelas categorias do entendimento [in intellectu]. Porém a
crença não é uma simples aparência das coisas, uma pessoa pode estar
sobre efeito de uma ilusão de óptica, está ciente disso e não ter nenhuma
inclinação de crença sobre a aparência. Nem tão pouco um desejar que algo
seja verdadeiro, eu posso imaginar que irei para o “céu” quando morrer,
mesmo não tendo nenhum grau de compromisso em demonstrar essa certeza,
isso é uma crença de nível mais baixo, tal que as contradições são postas de
fora. Mas a crença que falamos é algo que se apresenta a mim de maneira tal
que sou levado a acreditar no conteúdo exato daquele fenômeno e sua
explicação diante de mim me parece imediatamente clara.
Citando um exemplo, com o fim de especificar o que seja uma
crença. Tomemos os conceitos da relação de trabalho cotidiano como “mais
reais” em contraste com ida a um evento esportivo, durante o evento
esportivo, vencer e perder são instância redutíveis à crença que: P crer que se
Q ganhar a partida, P ganha algo por Q, e se colocarmos o que significa
vencer e ganhar em contraposição ao mundo do trabalho, perceberíamos que
esse ganhar ou perder pelo resultado da partida, não passa de uma
disposição a crer que existe algo que realmente participamos, que recebemos
que acreditamos ganhar ou perder, mas que não são conteúdos reais tais
quais o do exemplo primeiro, não são concretos, não participam de uma
realidade física, são emocionais, dispostas na relação consensual de crenças
mútuas que regem as regras da partida, fica mais óbvio isso se de repente, um
não fã de esporte presente na mesma partida não sentir nada em relação ao
fim do evento, ele não crer que ganha algo ele não participa da mesma crença
que os outros participam.
Há assim, segundo James, um subgrupo de universos
(subniversos) para cada crença advinda das nossas experiências, sem
relações com o mundo, que, por não serem contraditórias em si mesmas,
permanecem como motivos para conservar a crença [phenomenal
conservatism10].
James nos mostra que toda crença, ainda que não possua uma
concretude ontológica, ou seja, que não participe objetivamente no mundo,
senão em nossas mentes, ainda assim, nos provoca sensações e sentimentos
em relação a ela, sobretudo se compartilhada por mais pessoas do mesmo
grupo. Rudolf Otto (2007, p.47), filósofo que mais analisou as experiências
religiosas no século XX, descreve que um dos motores para a crença no
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sobrenatural está na experiência religiosa, i.e., a sensação [gefühl] do
numinoso [des numinosen], que provoca, segundo ele, “o sentimento de
criatura”. Não se trata de uma performance [performance], porque não está
inerente a minha autonomia racional. Dessa experiência, Otto escreve que:
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Pelo sagrado, como que um elemento fora do mundo cotidiano, nos
estimulasse a veneração e temor de forças imprevisíveis subjacentes à
natureza, porque fogem da ordem interna dos nossos pensamentos, é
sobretudo incompatível com nosso cotidiano, que comporta um certo grau de
reconhecimento, o numinoso é suprarracional, o que significa que não pode ser
entendido pela simples exame da experiência, em outro Livro, James nos logra
uma pequena lista dos elementos mais comuns de uma experiência religiosa 15,
esse conjunto de sensações insólitas não podem ser conceituadas e que, no
entanto, interagem em nossa mente, formando crenças fortes, e isso levaria o
homem primitivo ao "medo do mundo 16"[weltangst]. “Medo” aqui possui um
sentido próprio, nas palavras de Otto, uma sensação de terror acompanhada
de uma experiência de diminuição perante ao inominável. Essa prostração
diante do que não pode ser examinado pela razão nos forma um traço
característico da experiência religiosa17, a sensação de dependência com ao
Sagrado. Isso levaria ao homem a compor formas de relação com essa
suposta super-realidade, e, posteriormente, o homem criará nomes
aproximados para permitir imprimir um contexto compartilhado entre os
membros da sua tribo, reconhecer essas grandezas por conceitos não tão
claros com a experiência com numinoso: nomes, símbolos, rituais são
maneiras de ter determinado poder sobre o suprarracional, o conjunto
ordenado dessa configuração torna-se a religião.
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Essa lista será vista no capítulo 2 na página
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