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Belém – PA
2020
ADRIELE DE FÁTIMA DE LIMA BARBOSA
Belém – PA
2020
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Biblioteca do CCSE/UEPA, Belém – PA
CDD. 23 ed.
Elaboração da Ficha Catalográfica: Regina Ribeiro CRB-2/739
e
ADRIELE DE FÁTIMA DE LIMA BARBOSA
Banca Examinadora
_______________________________________ - Orientador
Prof. Dr. Sérgio Roberto Moraes Corrêa
Dr. em Ciências Sociais
Universidade do Estado do Pará
Belém – PA
2020
À minha amada mãe Maria de Fátima e
minha família.
(Dona Onete)
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
1.1 Origem da pesquisa
À vista disso, entrei em contato com Graça Santana para saber mais a
respeito do Grupo Ambiental de Fortalezinha e da comunidade da APA. Foi
agendada uma visita em sua residência, onde Graça Santana contou um pouco da
sua história, de como chegou à comunidade, das pesquisas realizadas com os
pescadores da ilha, do cotidiano em Fortalezinha e sua atuação no Grupo
Ambiental. A cada relato e apresentação de algumas de suas produções científicas,
identifiquei a riqueza de elementos sociais, culturais, turísticos e ambientais,
diferente das demais vilas da APA que já havia conhecido.
A partir desse encontro, percebi algumas confluências entre a realidade da
vila de Fortalezinha e a educação compreendida também, como fenômeno que se
realiza na produção de conhecimentos que emergem de experiências cotidianas;
questão esta que Brandão (2007) enfatiza, ao situar a educação em todos os
espaços, em redes e estruturas de relações sociais, existentes em distintas formas e
praticadas em inúmeras sociedades e culturas.
Assim, atentei para a importância de um estudo voltado para as comunidades
tradicionais que residiam na Área de Proteção Ambiental, ponderando, sobre o fato
de que, o espaço amazônico demanda de pesquisas educacionais que cheguem a
espaços singulares, que em sua maioria são geradores de conhecimentos
específicos, invisibilizados pela concepção da ciência hegemônica eurocentrada e
por instituições religiosas coloniais.
Tendo como referência o posicionamento do Santos (2010), a ciência
moderna não considera o conhecimento que parte do senso comum, ou seja, o
conhecimento que parte das experiências, que não podem ser universalizados em
leis, considerando que a dinâmica e interação do senso comum, não podem ser
analisados pelo pressuposto de ordem e estabilidade da lógica da ciência
dominante.
Partindo desse encaminhamento epistemológico, averiguar a realidade
amazônica apresenta-se como um caminho contra hegemônico, possibilitando o
reconhecimento de uma dada experiência, de uma ação coletiva de uma
determinada área, classificada como periférica ou subalternizada pela concepção da
ciência moderna.
Dessa forma, para o desenvolvimento de uma proposta que encaminha-se no
interior da linha de pesquisa “Saberes Culturais e Educação na Amazônia”, é
necessário definir como área de interesse estudar: a experiência de educação
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REGIÃO NORTE
ribeirinha do assentamento
agroextrativista do
Anauerapucu, Santana-AP
Pensando com a educação Eliel do Dissertação UFPA 2017 Educação
crítica para crítica da educação Carmo
ambiental na reserva extrativista Pompeu
Ipaú-Anilzinho
As possibilidades da inserção Roble Dissertação UFPA 2016 Educação
da educação ambiental em Carlos
unidades de conservação: o Tenorio
caso da reserva extrativista Moraes
“Ipaú-Anilzinho” na Amazônia
Tocantina
REGIÃO NORDESTE
A política de educação Magnus Tese UFRN 2014 Educação
ambiental da Universidade José
Federal do Rio Grande do Barros
Norte: limites e desafios para Gonzaga
sua efetivação
Avaliação de um programa de Potyra Dissertação UFRN 2014 Educação
educação ambiental não formal: Borges
a caravana ecológica na visão Pinheiro
dos participantes
REGIÃO CENTRO-OESTE
Da região norte, foram analisados sete trabalhos realizados nos últimos cinco
anos com a temática sobre educação ambiental, que possuem aproximações com o
objeto desta pesquisa. O estudo de Mafra (2014) intitulado “Educação ambiental no
licenciamento: um estudo do programa de educação ambiental na transamazônica -
município de Brasil Novo/Pará”, fez uma análise dos resultados das ações
promovidas pelo Programa de Educação Ambiental da BR-230 no município de
Brasil Novo, nos anos de 2009 a 2011. Com esta pesquisa foi possível identificar a
relevância da reflexão acerca dos processos pedagógicos sobre a educação
ambiental realizada pelo Programa na Transamazônica e sua influência nas ações,
conhecimentos e vivência dos sujeitos daquela localidade.
Ferreira (2015) em sua dissertação intitulada “Práticas pedagógicas de
educação ambiental em escolas municipais de Manaus”, estudou práticas
pedagógicas de Educação Ambiental na execução da agenda ambiental escolar em
duas escolas municipais de Manaus; a qual foi avaliada como “insuficiente” em
relação à complexidade ambiental e suas inferências na sociedade, assim como no
cotidiano escolar na reprodução de uma prática conservadora da educação
ambiental. No entanto, a pesquisa possibilitou identificar que a cultura e a
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REGIÃO NORDESTE
Não foi encontrado nenhum trabalho
REGIÃO CENTRO-OESTE
Não foi encontrado nenhum trabalho
REGIÃO SUDESTE
Apanhando desperdícios ou Caio Dissertação UFSCar 2016 Educação
contra o desperdício da
Renno
experiência: cartografia de
coletivos em busca de uma Jose
educação emancipatória no
município de Sorocaba
REGIÃO SUL
Diálogo entre a escola e o saber- Jaquelin Dissertação UNIVALI 2015 Educação
fazer de uma comunidade e Maria
tradicional: possibilidade de Alexand
transição para um espaço re
educador sustentável Weiler
Fonte: Banco de Dados de Teses e Dissertações (CAPES), 2020.
A educação existe onde não há a escola e por toda parte, podem haver
redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a
outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de
ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o homem a
continuar o trabalho da vida (BRANDÃO, 2007, p. 13).
Seus movimentos e ações coletivas podem ser vistos como uma reação na
medida em que em suas ações se mostram presentes, existentes,
incômodos. Mostram-se presentes na arena política, econômica, cultural,
pedagógica, nas marchas, ocupações, nas cidades e nos campos. Uma
presença coletiva afirmativa em que não se reconhecem, mas contestam as
formas negativas, inferiorizantes em que foram pensados. Nessa afirmação
como sujeitos existentes, contestam de maneira radical, na raiz, o
pensamento que os pensou e classificou como inexistentes, como meros
objetos e produzem outras formas de pensá-los (ARROYO, 2009, p. 4).
Gohn (1997) tem como premissa a origem dos movimentos socais como o
aspecto de sociedades em processo de mudança, subsidiando assim, em pré-
condições de estrutura para o aparecimento de uma ação coletiva que fundamenta
um movimento social, são elas:
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1
Instrumento da pesquisa de campo, roteiro da entrevista (Apêndice B) Tópico sobre os aspectos da
trajetória de vida dos sujeitos do GAF.
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Amazônia, Foi
Museóloga e
Pesquisadora do
Museu Emílio Goeldi.
Manuel de Oliveira 47 Fortalezinha 47 anos Coordenador de um
Teixeira espaço educativo
“Tio Milico”.
Lúcia das Graças 49 Belém Não reside na ilha Pesquisadora do
Santana da Silva Museu Paraense
Emílio Goeldi e
Membro do Fórum
de Museus
Amazônicos.
Fonte: Elaboração própria da pesquisadora/pesquisa de campo – 2020.
São João da Ponta, São João de Pirabas, Terra Alta e Vigia. Já para a Coordenação
Estadual do Programa de Gerenciamento Costeiro (GERCO/PA) há a inserção de
mais sete municípios que são: Santarém Novo, Bragança, Viseu, Tracuateua,
Primavera, Quatipuru e Augusto Corrêa, totalizando em 18 municípios.
O nordeste paraense encontra-se entre norte e nordeste do oceano Atlântico,
a leste e sul da região Bragantina, a baía de Marajó e a oeste na região Guajarina
(FURTADO, 1987). A região do Salgado tem essa denominação por receber as
águas do oceano atlântico, a qual sofre influência diretamente da salinidade dos rios
e igarapés, essa salinidade é dividida em três áreas: Baixo Salgado, a parte que
água doce é predominante; Médio Salgado, onde há ocorrência de misturas entre
águas dos rios com água do oceano e o Alto Salgado, é a parte em que há maior
concentração de água oceânica, maior salinidade (QUARESMA, 2003).
Em decorrência desse processo, a atividade pesqueira tem características
particulares, quando relacionadas com outras atividades em sistemas aquáticos das
demais microrregiões do Estado. Quaresma (2003, p.119) cita que os pescadores
fazem referência às áreas próximas ao continente, Baixo Salgado, como área de
beira, pesca denominada de pesca de dentro ou da beira. Na área do Médio
Salgado, é usada a expressão lá fora e quando estão na área do Alto Salgado da
parte oceânica, estão na pesca do mar.
O Clima quente e úmido é predominante nessa região, tendo uma
temperatura média em torno de 25ºC e máxima de 34ºC. O período de chuvas
ocorre com mais frequência nos meses de janeiro a março, já o verão há a estiagem
que vai de setembro a dezembro (QUARESMA, 2003). A faixa litorânea é
contornada pela vegetação de mangal, a mata geral recobre toda a parte Salgada.
Furtado (1987) acrescenta que a vegetação tropical é, também, formada por
capoeiras.2
Para Silva (2011), a particularidade da microrregião do Salgado está na parte
costeira, pelos elementos naturais descritos abaixo:
2
Após a derrubada e queimada contínua da cobertura da vegetação primária, surge a vegetação
denominada capoeira (FURTADO, 1987).
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3
De acordo com o significado no dicionário Online de Português rabeta é um pequeno motor de
propulsão que, colocado na traseira de pequenas embarcações (canoas) ou barcos, sua condução é
realizada manualmente, com o auxílio de um bastão que determina as direções, sendo utilizado como
transporte de pessoas e materiais, o tamanho da embarcação influencia na capacidade de lotação,
assim como a influência do fluxo das marés.
Já pô-pô-pô é um barco maior que a rabeta, geralmente com motor situado no meio da embarcação e
protegido por uma caixa, alguns apresentam cabine, mastro, com o tamanho maior da proa, popa e
roda de leme, seu nome faz uma analogia ao barulho característico do motor da embarcação.
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A presença dos Lusitanos foi o eixo principal para ação política de controle
europeu no Brasil e consequentemente da invasão e a dominação do território,
sendo o cenário para a constituição dos diversos povoados no litoral do norte e
nordeste brasileiro. Quaresma (2003) comenta como se deu esse processo inicial
de ocupação do Império Português em Maracanã4:
4
“Os espanhóis chegaram ao município em 1622, estiveram na Ilha do Marco, deixaram um
monumento demarcatório, sinalizando 50 léguas da Costa Ocidental do rio Turiaçu em Maranhão,
limite de uma pretensa capitania Hereditária. Daí surgiu o nome da ilha em decorrência do "marco" ou
monumento de pedra” (SETUR,2017, p. 11).
“Em outra versão relata que o topônimo indígena, Maracanã é uma ave, espécie de arara comum na
Amazônia e em todo o Brasil, também conhecida por Araguaiaí, Araguari e Aruaí. A ave ganhou esse
nome devido fazer o ruído de chocalho, daí o nome maracá (chocalho) e nã (falso)” (SETUR, 2017,
p.11).
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5
Lei nº 8974, de 5.1995, que regulamenta os incisos II e V do § 1º do art. 225 da Constituição
Federal, estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio
ambiente de organismos geneticamente modificados, autoriza o Poder Executivo a criar, no âmbito da
Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e dá outras providências
(BRASIL, 1995).
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Lei nº 8974, de 5.1995, que regulamenta os incisos II e V do § 1º do art. 225 da Constituição
Federal, estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio
ambiente de organismos geneticamente modificados, autoriza o Poder Executivo a criar, no âmbito da
Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e dá outras providências
(BRASIL, 1995).
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Lei nº 4771, de 15.9.965, que institui Código Florestal. Lei nº 5197, de 3.1.1967, que dispõe sobre a
proteção a fauna (Código de Caça). Decreto-Lei nº 221, de 28.2.1967, que dispõe sobre a proteção e
estímulos a pesca (BRASIL, 1988).
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vidas selvagens. O modelo desse tipo de parque passou a ser estabelecido também
em outros países, como um sistema de fronteira definida.
Todavia, não foi apropriado para países com especificidades diferentes dos
países centrais de economia industrial. No Brasil esse modelo também foi
reproduzido, a proposta de criação de UCs seguindo os padrões americanos foram
inviáveis para os territórios habitados por comunidades locais. Quaresma (2003)
referência a primeira proposta de criação de UC no Brasil ocorreu no ano de 1876,
por André Rebouças, com o Parque Nacional (PARNA) na ilha do Bananal e de Sete
Quedas. Mas, foi apenas no ano 1937, tendo respaldo do artigo 9 do Código
Florestal de 1934, que houve a criação do PARNA de Itatiaia, no Rio de Janeiro.
O Parque Nacional tinha a função de realizar pesquisas científicas e
proporcionar lazer às populações da cidade, no mesmo padrão dos Estados Unidos.
As informações expostas acima, compõem uma síntese breve sobre as UCs e suas
perspectivas históricas, o tópico não se aprofundará para tal análise, pois busca-se
situar a partir do século XXI com a criação da lei.
O Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) surgiu a partir do
pedido do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal à Fundação Pró-
Natureza (Funatura), uma organização não governamental, no ano de 1988, para a
construção de um anteprojeto de lei, que viabilizasse um sistema de unidade de
conservação. Uma problemática encontrada na época, foi a definição das categorias
de manejo, elaborando novas tipologias de unidade que tinham lacunas em sua
estruturação. Esse projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente
(CONAMA) em 1992, já no formato de Projeto de Lei enviado ao Congresso
Nacional, após um longo processo de espera, o projeto foi aprovado no ano de
2000.
Regulamentado pelo Art. 225 da Constituição Federal de 1988, instaura por
via da LEI Nº 9.985, DE 18 de julho de 2000, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC) organizado em três esferas de governo
(municipal, estadual e federal) com princípios e diretrizes normativas de
planejamento e gestão.
SNUC é constituído por unidades selecionadas que contemplem os
parâmetros nacionais de conservação da natureza. De acordo com o Capítulo I da
Lei Nº 9.985 no Art. 2º do SNUC (2000) entende-se por Unidade de Conservação
como um espaço territorial e de seus recursos naturais que estão inclusas: as águas
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§ 4º Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que
trata o § 2º deste artigo. § 5º As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser
transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento
normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os
procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º deste artigo. § 6º A ampliação dos limites de uma
unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto,
pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde
que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º deste artigo. § 7º A desafetação
ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica
(BRASIL, 2000).
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Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com
um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e
o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos
proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000).
Fonte: https://uc.socioambiental.org.2019.
A APA é formada por duas Ilhas separadas por um furo, chamado de Furo
Velho/Igarapé das Lanchas, com uma extensão de aproximadamente 2.378ha. A
Ilha de Algodoal tem uma área de 358ha e Maiandeua mede 1.993ha, constituídas
por quatro Vilas (Algodoal, Camboinha, Mocooca e Fortalezinha).
O acesso pode ser realizado através do Município de Marapanim ou
Maracanã. O Trajeto por Marapanim é feito pela rodovia Br-316, PA- 136, até o porto
de Marudá e atravessar pelo rio Marapanim. Já o acesso feito por Maracanã se dá
pela rodovia BR-316, PA-395 e a Estrada do Quarenta até o Porto do Quarenta,
atravessar o Furo do Mocooca, acessa a APA da Vila de Mocooca, ao sudoeste da
APA.
A Gestão da APA é realizada pela Gerência da APA de Algodoal/Maiandeua
da SEMA-PA, criando em 2007 e pelo Conselho Gestor, criado no ano de 2006. É
proibido a circulação de veículos na Área, apenas o uso de carroças.
O nome Algodoal está relacionado a existência de uma planta denominada de
algodão-de-seda e o nome Maiandeua, tem origem tupi, que significa Mãe da Terra.
A APA de Algodoal/Maiandeua agrega uma diversidade de ecossistemas, como
igarapés, praias, dunas, restingas litorâneas, campos naturais salinos (Apicuns),
manguezais, bosque de mata primitiva, lagos e furos. Com vegetação do bioma
costeiro, segundo os dados da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) (2007) a APA
apresenta 54 espécies, que são utilizadas com fins alimentícios, terapêuticos, na
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9
Nome em tupi, refere-se ao tambor com o qual se marca o ritmo, chamado CURIMBÓ (tambor
grande feito de tronco de árvores). O Carimbó surgiu na zona do salgado paraense, onde tem sua
expressão mais forte nos Municípios de Marapanim, Curuçá e Maracanã, onde está a APA de
Algodoal-Maiandeua. Dois mestres carimbozeiros de Algodoal tornaram-se bastante conhecidos:
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ritmo predominante na Vila, organizado pelos nativos da ilha, com Mestres Praianos,
tendo sua origem no carimbó do festejo de São Benedito no barracão de Dona
Margarida Menezes (Magá) de acordo com o Documentário Mestres Praianos do
Carimbó de Maiandeua (2015).
A maior parte da população da APA encontra-se na Vila de Algodoal, a
principal atividade econômica na vila é a pesca artesanal, realizada por pescadores
com dedicação totalmente exclusiva à atividade, que em suas canoas saem até os
locais de pesca, onde há uma embarcação mãe, regionalmente conhecida como
“geleira”, com gelos mantidos em caixa para conservar o peixe e assim é levado
para comercialização.
Além da pesca, o turismo local também é uma atividade econômica,
intensificado em alta temporada que ocorre no período de feriado da semana santa,
férias escolares e festas de final de ano. A seguir, algumas imagens da Vila de
Algodoal:
Figura 08 – Ponta da Mamede Algodoal
Francisco Paulo Monteiro Braga (Chico Braga) e José Miguel Costa Teixeira (Zé Mingau), com
diversas poesias e músicas que relatam o cotidiano da população local (SEMA, 2012, p. 33).
81
Foi quando a gente nos reunimos, né. Já preocupado nisso, a gente reuniu
numa tarde, ali, na casa da Tia Hilda, reunião mais ou menos, eram doze a
treze jovens, né, todos aqui, mas eles eram adolescentes. Não tinham ainda
assim muita responsabilidade, mas nós nesse dia a gente, nós discutimos e
eu toquei no assunto com relação a questão de Algodoal. A questão do lixo,
né, e foi aí que o pessoal aceitaram, né (MANOEL TEIXEIRA).
Se a gente não tem um, não tem um apoio do município, da prefeitura, não
tem gari, não tem nada, aí, nós mesmo vamo fazer, nós fomo, coletava
todos finais de semana, a gente saia coletando, coletava, colocava num,
num ponto estratégico. Aí e agora como é que a gente vai fazer pra
transportar? vamo transportar? vamo queimar? o que que é pra fazer? Aí,
surgiu essa preocupação, né! Porque lixo a gente não pode tá jogando
também em qualquer canto, nem queimando também, de qualquer forma
vai poluir, né? Aí, então surgiu essa preocupação (IVAN SOUSA
TEIXEIRA).
Pode-se inferir que é nesse momento que os jovens, tendo Manoel Teixeira à
frente do movimento, começam o processo de envolvimento e articulação do grupo
em relação a princípios relacionados a temática ambiental e possíveis implicações
na Vila de Fortalezinha, assim como a inserção de agentes externos que
auxiliassem, também, no processo de criação do GAF.
pessoas. Aí, foi quando surgiu de nós chamarmos a Graça. Ela, né? E ela
fazia parte de toda essa discussão, desse todo esse processo, né? O GAF
surge basicamente nosso daqui (MANOEL TEIXEIRA).
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Instituição de pesquisa fundada em 1866 na cidade de Belém (PA), local onde foi o primeiro parque
zoobotânico do país, o Museu Goeldi que é responsável pela estação científica localizada na Floresta
Nacional de Caxiuanã, no Marajó (PA), onde funciona um laboratório avançado sobre as florestas
tropicais. Suas pesquisas estão situadas no campo dos sistemas naturais e socioculturais da
Amazônia, atuando na divulgação de conhecimento, organização e manutenção de acervos de
referência mundial relacionados à região. Investiga a Floresta Amazônica agrupando dados das
Ciências Humanas, Biológicas, Sociais e da Terra. É umas das instituições de pesquisa mais antiga
do Brasil, sendo um dos maiores e populares museus brasileiros, stimulando a apreciação,
apropriação e uso do conhecimento científico.
101
Graça relata que a aproximação com a comunidade se deu com sua chegada
à localidade no ano de 1996, em uma viagem a passeio, por intermédio da
Secretária da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio
Goeldi, etapa inicial em que a pesquisadora relembra o momento em que se
aproxima da Vila e os enredos de suas conversas com os moradores, citando alguns
elementos temporais das discussões em torno da área ambiental, das matérias
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Os primeiros estudos sobre populações pesqueiras amazônica realizados pela equipe de
antropólogos do Museu Paraense Emilio Goeldi datam dos anos 1967, através dos projetos
Marapanim, Quatipuru, Marajo e Antropologia da Pesca, com Lourdes Gonçalves Furtado, Isolda
Maciel da Silveira, Maria José Carvalho Brabo, Ruth Cortez, Ivete Nascimento e Arian Nery (in
memória). Os três primeiros financiados pela Fonte do Tesouro e pelo CNPq, e o último pela
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) através do PoloAmazônia. Os três
projetos inicias deram origem ao Projeto Recursos Naturais e Antropologia das Sociedades
Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia: Relações do Homem com o seu Meio Ambiente
(RENAS), concebido no início de 1990, pela antropóloga Lourdes Gonçalves Furtado, e nesse
mesmo ano foi iniciada a captação externa de recurso financeiros.
102
Eu fui colocando isso e a gente reunia na casa uma casa vizinha da dona, a
mãe da dona Ezidia. Eu reuni esses jovens e começava a falar sobre isso e
depois eu comecei a levar a pequenos textos que mostrava essa relação
homem - meio ambiente desde a pré-história e tudo comecei, a ler uma
série de coisas com eles, ouvir música e tal. Aí, um belo dia fui convidada
para criar o grupo. Aí eu disse: “olha o grupo ele tem que ter um nome”, aí
todo mundo, disse: “ah, tudo bem, a gente escolhe o nome”. Aí eu coloquei
uma panela no meio da casa e eles fizeram assim, num papel vários nomes
e colocaram dentro da panela e depois nós sacudimos e o nome que saiu
foi o nome Grupo Ambiental de Fortalezinha e todo mundo acatou (GRAÇA
SANTANA).
Com isso, a gente foi evidenciando todo o nosso potencial que a gente
tinha, por exemplo, pra discutir essas questões ambientais, discutir política,
né? E discutir outras coisas que isso nos questionava, por exemplo, a
questão dos talentos mesmo, né? Porque a gente tem um celeiro de
pessoas que, que trabalham com uma infinidade de coisas, né? Como
artesanato, a cultura mesmo e aí, a gente foi descobrindo isso, foi emergido
essas coisas a partir do GAF, né? Porque reunia, discutia coisas. E essa
interação com o pessoal, né? Que a Graça trazia, fez a gente despertar
muitas coisas, né? Essas coisas, a gente discutia essas questões, né? E a
gente também discutia esses nossos valores, né, esses nossos valores,
mas o GAF, a ideia do movimento, era a gente potencializar novas
lideranças pra que quando a gente Nós morremos mais fortificando, né?
Repassando de geração pra geração, né? Como os nossos antepassados,
né? que não tem diploma de academia, né? De universidade, Mas dentro do
saber deles, eles foram repassando (MANOEL TEIXEIRA).
Como te falei, quando eu participei já era fundado, não sei quando ele
surgiu, só quem pode te responder é o Preto que já participava. Eu acredito
que foi deles, da Dona Graça, do Preto. Eu não sei te responder assim qual
o motivo que eles criaram, mas eu acho que foi assim sobre o
desenvolvimento na comunidade, né? Porque na época que tinha o GAF,
não tinha outra atividade, só era o GAF mesmo, não tinha outro grupo, né?
Ambiental, só era ele mesmo. (CLEIDE MARTINS).
Aí, eu foi convidado na época pra trabalhar com, pra participar do grupo,
que era o Grupo Ambiental de Fortalezinha, o GAF. Aí, eu fui convidado, eu
não sou um dos fundadores, mas eu fui convidado assim, tava recente,
acho que tinha, tinha uns seis meses que tinha sido fundado. Aí, os
meninos tavam procurando membros, fazendo a inscrição, preencher ficha
pra participar, mas eu já conhecia um pouco do trabalho, porque eu convivia
aqui, via eles trabalhando tudo. Aí, que geralmente chamava atenção, né?
Ai foi, me lançaram o convite e eu aceitei e fui participar, já como, como
convidado, não foi como fundador, né? (IVAN SOUSA TEIXEIRA).
Cara, eu antes eu era como convidado depois, depois os meus colega viram
o meu desenvolvimento né, que eu desenvolvi, tipo assim dentro da
instituição, aí, no final eu já fui, me lancei a candidato a pré-coordenador,
né? Aí, acabou que ia ficando na minha mão a coordenação, nem lembro
mais o ano, mas acho que foi dois mil, dois mil e dois por ai assim (IVAN
SOUSA TEIXEIRA).
Jacinto Teixeira ao comentar sobre sua função no grupo destacou que foi vice
coordenador, mas não mencionou o ano. Já Graça Santana foi coordenadora do
grupo por quatro anos, relata também uma das etapas desse período:
Logo no início era uma participação não institucionalizada, né? Não havia
aquela coisa formal. A gente foi fazendo as coisas devagarzinho e eu além
de ser filha da Graça, né, eu gostava muito de tá trabalhando com ações
primeiro voltada para as crianças, né? Então fiz muitas brincadeiras com as
crianças, as atividades de teatro com as crianças eu me identificava muito
com essa parte de trabalho com as crianças. O grupo trabalhou
informalmente com pessoas da comunidade e com muita gente que também
gostou, né (LÚCIA SANTANA).
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Olha, eu sempre fui coordenador do GAF, né. Aqui na época que ele não
tinha registro, né, como uma empresa, de fato de direito, né, eu sempre fui o
coordenador porque nós trabalhamos assim, a Graça ficava em Belém, era
coordenadora e eu ficava aqui como coordenador também. Então, a gente
fazia essa ponte, às vezes eu ia pra lá. A gente discutia com os nativos que
moravam lá. A gente reuniu na casa Graça. A base era aqui, mas a gente
tinha um núcleo lá na casa dela, né. Depois que a gente formou a diretoria,
eu fui vice coordenador, já com a diretoria formada mesmo porque eu não
quis assumir porque não tinha muita capacidade de gerenciar uma
empresa, né. Eu precisava aprender aí, nós colocamos a Graça como um
Presidente do GAF e eu era o vice (MANOEL TEIXEIRA).
Ele me formou. Sabe aquele período que você tá entre dezessete e dezoito
anos e que esse é o seu grande ensaio de cidadania. Eu acho que o GAF
foi meu ensaio de cidadania. Uma menina que vinha da cidade de Belém, já
acompanhava a mamãe em alguns processos de pesquisa, mas quando eu
comecei a perceber que o mundo da pesca era o mundo aonde tinha muitas
vulnerabilidades, né? No sentido assim da desvalorização do pescador, da
desvalorização das mulheres, do trabalho das mulheres, né? Do
desperdício também porque as vezes eles tinham muita fartura de peixe,
mas não tinham como escoar, da dificuldade do acesso, de uma passagem
cara, né, distante mesmo de acesso, vinculado à questão da informação
sobre direitos humanos, sobre cidadania, então fui começando a perceber
todas essas vulnerabilidades e a partir disso eu quis me engajar (LÚCIA
SANTANA).
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Pra mim foi incrível, eu absorvi tudo assim. Eu me tornei tudo, tudo o que o
grupo tinha. Aquilo me identificou de uma maneira, que eu absorvi aquilo
pra mim. Tipo, eu vivo a ideia desse grupo até hoje, assim, tipo, hoje eu sou
o GAF, tipo, não é que eu queira não, é que a minha vida se tornou isso né?
Até de cuidar dos turistas, de cuidar das pessoas, eu tenho ainda isso,
sabe. Então isso é o GAF, menos capital, mais nativismo mesmo, né?
Valorizar mesmo o ser nativo. Ao ser nativo, a estar ali, nativar e ser
daquela região e sobreviver daquela região, né? Então é um estilo de vida.
Você vive um nativismo, né? (SAID SENADO).
Olha, foi uma experiência ótima, né. Foi uma experiência assim, que a
gente teve grandes conhecimentos, chegava as pessoa também de grandes
conhecimentos, né? Pra discutir com a gente, conversar, e mostrar a
realidade da importância do meio ambiente (JACINTO TEIXEIRA).
Pra mim foi uma experiência assim muito, muito marcante, muito boa, né,
que me proporcionaram conhecer, pessoas de vários nível, né? E
profissional. Também me levaram pra conhecer outros mundos, não só a
cidade de vocês, mas também outros estados, né, e também pessoal. Só foi
um impulso pra mim sair um pouco mais daqui, entendeu? E descobrir
outros horizonte, né? descobrir outras ilhas de conhecimento (MANOEL
TEIXEIRA).
Olha, o GAF tinha uma das ações, além da coleta seletiva do lixo, ele tinha
toda a dinâmica de criação artística, interação com a escola, com a escola
municipal, com as atividades ligado a educação, todas elas, fazer a ponte
da interação entre pesquisadores e pescadores e nativos, pescadores e
pescadoras, mas, a atividade principal dele era: criar um diálogo, um
comando, então o GAF ele criava um momento de conversação. Então, a
partir do GAF as pessoas se expressavam, colocavam suas vontades de
falar e juntos se criavam uma maneira de falar (SAID SENADO).
Nós fizemos muitas ações, o grupo ele tinha toda uma estruturação, tinha a
coordenação geral a vice coordenação, né, a parte de turismo, tinha a parte
de educação ambiental, tinha a parte de cultura. Então, as segmentações,
mas, por exemplo, as atividades que mais se saiam, né, era a atividade de
artesanato. Os meninos tinham uma grande capacidade de fazer cordões,
pássaros, utilizando fibras, coco folhagem, muito voltado pra questão da
natureza, também a valorização do que a água deixava a floresta deixava e
como que você poderia transformar aquele objeto que estava ali, o aliás
daquela matéria-prima num objeto estético, então havia uma filosofia de se
valorizar essa natureza, então a questão foi muito forte. A principalmente a
questão do carimbo também, que quando nós chegamos lá os mestres de
carimbó, eles estavam muito embaixo. Não havia essa visibilidade hoje que
a gente tem patrimônio cultural brasileiro, que é o carimbó, né? (LÚCIA
SANTANA).
Nesse aspecto, a cultura local foi um dos pilares para as ações desenvolvidas
pelo grupo, evidenciando a temática ambiental e sua relação com a questão cultural
e também para o trabalho, envolvendo também elementos do cotidiano e da
natureza, como base de matéria prima, a habilidade do artesanato de alguns
moradores exerciam além da pesca.
Assim como também o carimbó, que na década de noventa ainda não tinha
visibilidade, nem reconhecimento dos mestres que viviam na comunidade. Ações
envolvendo a confecção de instrumentos musicais, também havia ações de esporte
e lazer como o rally ecológico, a trilha que acontecia na vila, ações voltadas para
capacitação de turismo de base comunitária e ações voltadas para área da saúde.
Ao situar a localização de Fortalezinha como uma das Vilas mais visitadas de
Maiandeua e seu contexto inserido em uma Área de Proteção Ambiental, foi
verificado se o grupo tinha alguma relação com a APA/ Resex e com os Turistas.
Segundo os entrevistados, a criação do GAF foi anterior à formação da Área de
Proteção Ambiental.
116
Também fazia parte do conselho, né? Nós tínhamos, nós tínhamos cadeira
dentro do conselho e mas também, ele assim fora dessa dessas reuniões
do Conselho, mas eles conversavam com algumas outras pessoas, né? E
acho que foi importante a gente contribuir muito também pra esse momento
da APA, da criação, né (IVAN TEIXEIRA).
Teve uma relação de briga, né, porque logo quando nós criamos e a gente
começou realmente a incomodar o turista, com relação as lixeiras de
bambu, as nossas placas, né, por exemplo, eu presenciei ainda muita
discussão com relação a essa questão da moto. Eu mesmo parei umas
cinco a dez motos pessoal de Igarapé- Açu na época das férias, né, e a
119
gente impediu que eles circulassem outras coisas também, a gente brigou
com eles, porque eles pegavam as nossas lixeiras de bambu e queriam
fazer fogueira, teve essas briga. Eu digo que é turista, né, porque eles não
moram aqui, o pessoal de Igarapé-Açu. Aquilo nos incomodaram muito, foi
uma briga muito intensa, assim com eles, já ao ponto da gente querer brigar
com eles na casa deles, aonde eles ficavam, assim, sabe (MANOEL
TEIXEIRA).
Os pescadores davam a primeira oficina que era sobre peixe, porque eles
tratavam, o que eles traziam do curral, botava na parte daqueles gradeado e
eles tratavam e mostravam para o turista, o que que era peixe de água
salgada, de água doce, o que era peixe para pra fritar, pra cozinhar, como
abrir, como tratava. Depois, pedia pros turistas, cavarem no chão, formaram
em fogareiro e assaram, porque essa era a tradição deles. Depois botava
em cima duma mesa e todo mundo ia comer junto (GRAÇA SANTANA).
Graça Santana também fala sobre umas das lideranças do GAF e destaca
também outros moradores e agentes externos que foram de extrema relevância no
grupo:
Assim, eu considero, né? O Preto, foi a pessoa que mais se capacitou
dentro do GAF, né. A outra liderança que eu posso considerar muito
também foi o Ivan, Ivan é uma grande liderança, contribuiu principalmente
no campo da artesanato. Era aquele o conselheiro, né, aquela pessoa que
pega na tua mão e diz: “olhe para aí! Vamos conversar sobre isso”, aquela
pessoa que segura, né? Ele também foi uma liderança muito forte. Eu achei
isso bastante interessante, a Dona Luzia na parte que trabalhava bem na
cozinha, mesmo com dez filhos dela, uma situação difícil, mas ela deixava
tudo pra ir lá pro grupo ambiental. A Edina também, né? Que também foi
uma liderança a Samaria, a diretora da escola que frequentava e também o
considerar porque ela vinha todas as vezes que a gente chamava e ela
organizava junto com a gente. Posso dizer a Lúcia Santana, a Élida também
grande liderança, o Pina na Educação na parte da educação (GRAÇA
SANTANA).
Sim várias, o Luiz Pina, que era professor da parte de arte, Ivete que é
daqui do Museu Goeldi. Nós tivemos vários parceiros, muita gente
trabalhou, né, e que ajudava o grupo às vezes com as doações,
principalmente quando era época do aniversário do grupo. Lançava
campanha de doação e essas pessoas se prontificaram ajudar, por
exemplo, a própria Helena Doris, então o povo vinculado a pesquisa
educação, principalmente aqui do museu, também participava das ações do
Renas, mas a gente tinha vários parceiros (LÚCIA SANTANA).
atingia a maioria da população. Para Tristão e Jacobi (2010), o início dos anos 80 é
sinalizado pelo crescimento de iniciativas que buscavam aperfeiçoar os mecanismos
de gestão ambiental, na criação de Organizações Não Governamentais (ONGs) na
esfera ambientalista, que na maioria das vezes algumas dessas organizações não
deram continuidade em seus respectivos trabalhos.
Contudo, ressalta-se também que na década de 80 ocorreu um importante
momento para a política ambientalista com a criação da Constituição de 1988,
oportunizando que uma parte considerável da sociedade conhecesse a concepção
em uma diretriz legal ambientalista no país. Para Tristão e Jacobi (2010), ocorreu um
avanço no campo da educação ambiental, ainda que o foco estivesse direcionado
em um aspecto conservacionista e de preservação dos ecossistemas.
O enfoque cultural ambientalista no Brasil, em seu processo de
amadurecimento, vai mudando de forma gradativa, manifestando outras possíveis
formas para conservação, restauração e recuperação dos ambientes impactados
(TRISTÃO; JACOBI, 2010).
Vive-se, no início deste século XXI, uma emergência, que, mais que
ecológica, é uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais,
dos pressupostos epistemológicos e dos valores hegemônicos que
sustentaram a modernidade. O caminho para sociedades sustentáveis se
fortalece na medida em que se desenvolvam práticas sócio-educativas
inclusivas que considerem a unidade na sociobiodiversidade, pautadas pelo
paradigma da complexidade, aportem para a escola viva, dinâmica e aberta
para a criação de ambiente pedagógicos vivenciais numa atitude reflexiva-
ativa em torno da problemática ambiental (TRISTÃO; JACOBI, 2010, p.27).
Hoje em dia, nos Estado Unidos não só se preserva a vida silvestre, como
também ela é restaurada através da desativação de algumas represas, da
recuperação dos Everglades da Flórida ou pela reintrodução dos lobos no
Parque de Yellowntone. O silvestre restaurado realmente equivale a uma
natureza domesticada, talvez terminando por se converter em parques
temáticos silvestres virtuais (MARTÍNEZ ALIER, 2018, p. 24).
quase quatro vezes maior que a que exporta. Ao mesmo tempo, a América
Latina exporta uma quantidade seis vezes maior de materiais (inclusive
energéticos) do que aquela que é importada. O continente que constitui o
principal sócio comercial da Espanha, não em dinheiro, mas em quantidade
importada, é a África (MARTÍNEZ ALIER, 2018, p. 34).
Apesar disso, o eixo principal desta terceira corrente não é uma reverência
sagrada à natureza, mas antes, um interesse material pelo ambiente como
fonte de condição para a subsistência; não em razão de uma preocupação
relacionada com os direitos das demais espécies e das futuras gerações de
humanos, mas sim, pelos humanos pobres de hoje (MARTÍNEZ ALIER,
2018, p. 34).
O objetivo dessa corrente tem em sua diretriz ética a busca pela justiça social
atual entre os seres humanos, indicando a relação dos povos originários e
organizações situados em territórios ameaçados, sustentam uma relação com
natureza e possibilitam a conservação da biodiversidade. Com designações voltadas
para os movimentos do terceiro mundo, que reivindicam contra a degradação
ambiental e os riscos em que a maioria da população excluída socialmente enfrenta
diariamente em seu cotidiano.
Movimentos de camponeses, onde suas terras são destruídas pelas
organizações do agronegócio, de mineradora ou por pedreiras, os pescadores
artesanais no desafio contra as embarcações tecnológicas e pescas industriais,
movimentos de oposição às minas e fábricas, oriundos das comunidades
prejudicadas pela poluição do ar e do rio (MARTÍNEZ ALIER, 2018).
A corrente da justiça ambiental tem o apoio da agroecologia, da etnoecologia,
da ecologia política, sociólogos do campo ambiental, ecologia urbana, assim como
da economia ecológica. Devido ao crescimento dos conflitos ecológicos, a corrente
sobre o ecologismo dos pobres vem tomando uma proporção maior em uma escala
global, pois se ocorre o aumento da economia, há o crescimento da produção de
resíduos e cada vez mais sistemas naturais são prejudicados.
141
Martínez Alier (2018) chama atenção para a noção entre ecologismo dos
pobres e sua luta contra o racismo ambiental e justiça ambiental utilizada nos Estado
Unidos, voltada apenas para minorias, na qual a primeira identifica a noção de rural
terceiro-mundo e a segunda em uma concepção urbana, para o autor as duas
noções estão inscritas na mesma corrente e direcionadas para a maioria da
população mundial que se encontram em situações de vulnerabilidade ambiental e
social.
O movimento pela justiça ambiental é potencialmente importante, sempre e
quando se dispões a falar em nome não só das minorias localizadas nos
Estados Unidos, como também das maiorias de fora desse país (que nem
sempre estão definidas em termos raciais), envolvendo-se em assuntos
como biopirataria e biossegurança e as mudanças climáticas, para além dos
problemas locais de contaminação. O que o movimento pela justiça
ambiental herda do movimento pelos direitos civis dos Estados Unidos
também vale em escala mundial devido à sua contribuição para formas
gandhianas de luta não violenta (MARTÍNEZ ALIER, 2018, p. 38).
para a formação do sujeito consciente, buscando uma melhor relação com o mundo.
O enfoque experiencial, sensorial intuitivo, afetivo e simbólico criativo. Com a
intervenção pelo relato de vida, imersão, exploração, introspecção, escuta sensível,
alternância subjetiva e objetiva e também de forma lúdica.
A última corrente aborda a temática da sustentabilidade, onde o meio
ambiente é o recurso para o desenvolvimento econômico de recursos
compartilhados, promovendo um desenvolvimento na economia, respeitando os
aspectos sociais e do meio ambiente. Com enfoque pragmático e cognitivo, e assim
tendo a intervenção estratégica pautada no estudo de caso, experiência de
resolução de problemas e projetos de desenvolvimento de sustentação e
sustentável.
Em prosseguimento, após apresentação da variação das correntes de
projeção e práticas pedagógicas em educação ambiental, onde foi verificado que
uma mesma proposição pode ocorrer simultaneamente com duas ou três correntes
distintas, que podem ou não reproduzir ações viabilizando apenas a conscientização
hegemônica ou uma transformação crítica da relação entre ser humano e meio
ambiente. Assim sendo, aborda-se no tópico a seguir, as macro-tendências que
apontam a classificação do campo da Educação Ambiental no Brasil.
Dessa forma, essa vertente que responde à “pauta marrom” por ser
essencialmente urbano-industrial, acaba convergindo com a noção do
Consumo Sustentável, que também se relaciona com a economia de
energia ou de água, o mercado de carbono, as eco-tecnologias legitimadas
por algum rótulo verde, a diminuição da “pegada ecológica” e todas as
expressões do conservadorismo dinâmico que operam mudanças
superficiais, tecnológicas, demográficas, comportamentais (LAYRARGUES;
LIMA, 2011, p.9).
150
O meio ambiente em uma visão pragmática não tem relação com os aspectos
humanos apenas limita-se ao agrupamento dos recursos naturais, tendo uma
preocupação apenas com o desperdício e o lixo considerando como resíduo.
Situado em um contexto neoliberal, não pondera as desigualdades da distribuição
custos e benefícios da apropriação dos bens ambientais incorporadas na lógica
desenvolvimentista, ocasionando em ofertas de reformas setoriais na sociedade,
não questionando os subsídios de base, incluindo os órgãos responsáveis pela crise
ambiental.
Assim, no contexto neoliberal em que a economia de mercado impõe seus
valores e sua lógica, em que o padrão de consumo de bens eletrônicos
desponta como um símbolo de bem-estar e modernidade, em que a crise
ambiental parece mostrar seu desafio decisivo por meio da ameaça
planetária das mudanças climáticas; o cruzamento desses vetores parece
moldar uma conjuntura específica para a ascensão da vertente pragmática,
produzindo novos e polêmicos sentidos identitários para a Educação
Ambiental e despontando como a tendência hegemônica na atualidade
(LAYRARGUES; LIMA, 2011, p.10).
12
Instrumento da pesquisa de campo, roteiro da entrevista narrativa. O tópico 3 refere-se a proposta de
educação ambiental do GAF e o tópico 4 ao término do GAF e suas implicações.
154
A autora distingue a educação não formal por uma lógica estruturada, que
acontece por meio da subjetividade, tomada de consciência, discernimento e leitura
de mundo, em diálogo com a educação popular, e no entendimento da educação
como manifestação essencial da prática social, em consonância com Freire (2015).
De tal maneira, a educação como ato político deve ser pensada em favor das
classes e grupos sociais excluídos, tendo em vista que a sociedade capitalista é
marcada por contradições e conflitos, processos de dominação e opressão,
desigualdades e exclusão, mas, também, um caminho de lutas e resistências.
Os estudos de Paulo Freire (2015) são fundamentais para o entendimento de
uma educação popular em contextos de lutas sociais, que alicerçam em avanços de
marcadores sociais. Um desses avanços é a legitimação da educação como um
direito de todos, referendado na Constituição Federal de 1988, sobre o Art. 205 da
seção que descreve:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho (Art. 205, Constituição Federal, 1988).
Esses coletivos com suas presenças, seja nos movimentos sociais, seja nas
escolas, trazem histórias nos processos formadores em contextos
concretos, sociais, econômicos, políticos, culturais. Trazem uma lição a não
deixar no esquecimento: todo pensamento social, pedagógico traz esse
enraizamento nas relações políticas, nas experiências sociais em que é
produzido. As pedagogias ou processos em que formaram e formam como
sujeitos sociais, éticos, culturais, de pensamento e aprendizagem são
inseparáveis desses contextos e das relações sociais, relações de poder
dominação/subordinação em que foram segregados (ARROYO, 2012, p. 11)
157
Santos (2010) destaca que no outro lado da linha há uma vasta gama de
experiências desperdiçadas, tornadas invisíveis, assim como seus respectivos
autores, os quais não são localizados territorialmente. Foi por intermédio de uma
análise das narrativas dos entrevistados a partir das epistemologias do Sul, que se
pode comprovar um vasto repertório de vivências dos participantes do GAF,
destacando-se as práticas educativas.
Esses conhecimentos que emergem da experiência de educação ambiental
do GAF, nos ajudam a compreender contextos de educação não escolar na
Amazônia. Neste caso, enfatizando duas especificidades: o mesmo se dá em uma
comunidade tradicional pesqueira e pertencer à uma Área de Proteção Ambiental.
Nesta pesquisa foi essencial uma coerência epistemológica que promovesse
o diálogo e o reconhecimento com os diferentes tipos de experiências. Para a
tessitura da categoria analítica sobre educação ambiental, o pensamento pós-
abissal fundamentou o estudo, com objetivo de encontrar alternativa à lógica
162
Para Said, a cultura nativa está diretamente relacionada com a pesca, como
aponta para o papel do pescador, demonstrando também uma preocupação em
relação à chegada do turismo e a saída do morador da comunidade, como fatores
que ocasionavam o enfraquecimento da cultura local.
165
A proposta do grupo era ambiental. Era homem e meio ambiente que eles
entendem. “Queremos um trabalho que envolva o homem e o meio
ambiente”. Aí, foi quando eles falaram sobre a educação, primeiro foi a
questão da educação, né? Que eles estudavam longe, a escola só tinha a
primeira série do primeiro grau, né. Aí, eles iam me falando... Isso tudo aí
eles falaram, né, falaram da saúde das pessoas, que a malária nessa época
teve muito o índice muito grande de malária e morreu muita gente lá
naquela região. Aí, eles falaram da área que eles precisavam da parte de
dentista, então tudo isso eu fui decodificando essas mensagens. Então, a
proposta do grupo em si, né? Era trabalhar as questões do meio ambiente
com relação ao homem (GRAÇA SANTANA).
166
A narrativa acima, aponta que Lúcia Santana em seu lugar de fala, expressa
sua experiência no campo da educação, o que não pode ser desconsiderado, ao
mencionar a educação como ato político, sustenta a proposta da educação
ambiental como um processo em movimento e amplitude para além da educação
presente nas instituições formais.
Partindo desse esclarecimento, as ações realizadas pelo GAF na
comunidade, iam desde a campanha de limpeza seletiva da vila, até a ações de
prevenção de doenças:
Tinha uma que era muito legal, que era o avuado. Eles traziam os peixes,
né, os pescadores e aí, a gente chamava vários pescadores e eles davam
aula para os turistas, né, e depois eles davam aula no sentido assim, não
era aquela aula formal. Eles vem dizendo “ó por que que a gente tem que
abrir o peixe assim, a barriga do peixe, né?”. O tipo de peixe se era Gó, se
era Dourada, se era Pratiqueira. Então havia muitos turistas na hora. Ele
não sabiam do peixe, então, a questão de determinado peixe que vive em
determinado período, né? O caranguejo, né? Por que que o caranguejo tá
desse tamanho? Qual é a diferença do caranguejo que tá aqui e no
quarenta? Qual a diferença do caranguejo de Fortalezinha a diferença?
Tudo isso a gente levava, a gente preparava a chamada aula do avoado.
168
Então eu acho que essa atividade de educação ambiental era uma atividade
de vivência de coletividade e também de aspecto conceitual, porque o
avuado ele é um termo de companheirismo. (LÚCIA SANTANA).
Foi um avanço grande assim, nós avançamos muito nessa questão aí,
porque nosso conhecimento se expandiu, não só dentro da comunidade,
como nas comunidades vizinhas também, né. Aquilo que eu tô te falando, a
gente tivemos a oportunidade de dá palestra sobre meio ambiente, não só
aqui na escola, Maracanã, no Colégio Kennedy, tivemos a oportunidade de
dar palestra na colônia de pesca, tivemos a oportunidade de dá palestras
em Belém nas escolas, Algodoal na escola também (IVAN SOUSA
TEIXEIRA).
Eu achei assim que houve um avanço das pessoas, né? Que começaram a
se perceber que aquele ambiente como um território, uma consciência como
território deles, que eles tinham que cuidar, que eles tinham que zelar.
Algumas pessoas começaram a mudar seu pensamento, a mudar a sua
postura a chamar atenção do outro quando estava fazendo algo, é respeitar
170
os materiais dos pescadores, então eu acho que esse foi assim um dos
avanços principais, nesse sentido de educação, né? (GRAÇA SANTANA).
Para Manoel Teixeira, a ação coletiva contribui para que comunidade pudesse
construir o sentido de pertencimento, o que implica reconhecer-se enquanto
comunidade tradicional pesqueira, relembrando a importância da memória e herança
das gerações antecessoras.
Então essas nossas ações coletivamente, acho que despertou muito esses
interesses assim, tanto pelo mais jovens também de lutar pelo espaço dele,
pelo lugar dele, né? E agregar também por exemplo, hoje as pessoas
fazem, que é levar pro quintal dele, de apanhar um coco, né? Eu acho que
fez com que também a gente aumentasse mais né? Aquilo que a gente tem
dentro da gente, que é essa questão do humanismo, né? Da parceria, do
dividir entendeu? Que é isso que a gente traz muito dos nossos
antepassados, dos nossos avós, né? Eles gostam de tomar um café numa
roda, dialogando conversando, então essa ação do GAF fez com
potencializar isso, né? E hoje a gente tá batalhando pra não perder
(MANOEL TEIXEIRA).
Primeiro pela própria inserção do GAF, que trabalhou dez anos. A gente
tinha nossas lixeiras, tinha a própria coleta seletiva do lixo, havia muita
programação educativa de cinema, teatro. A gente trabalhava com surdos, a
gente também procurava fazer essa inclusão, né? E isso de uma certa
forma mudou essa consciência de cuidar do ambiente, né. Então, por
exemplo, em muitos momentos, eles faziam mutirão, “Ah, vamos limpar a
frente de Fortalezinha”, todo mundo ia limpar a frente de Fortalezinha. “Ah,
vamos limpar a praça”, todo mundo ia limpar a praça. Então havia já da
própria natureza deles essa emancipação ligada a esse cuidar (LÚCIA
SANTANA).
Então, o turista vem, ver aquela área. O nativo quer um celular, quer um
motor, quer um barco, e acaba que trocando. Aí troca seu próprio espaço,
seu vento, sua vista, sua vivência. Então, pro que vem de fora sempre vai
expulsar o nativo pro uma nova área e ele vai ser um outro nativo. Então,
aqui tá se criando os outros/novos nativos ou outros nativos também (SAID
SENADO).
O maior problema enfrentado, era que a gente não tinha muito apoio, né?
Não tinha apoio municipal, não tinha apoio estadual, não tinha apoio, a
gente fazia só a gente mesmo, sem recursos, né? Isso era um dos grandes
problemas. Pra você avançar hoje em dia em determinadas trabalhos você
tem que ter recurso, tem que ter apoio, né? Então isso a gente não tinha,
isso foi um dos grandes problemas que a gente enfrentou (JACINTO
TEIXEIRA).
Para Ivan e Jacinto a falta de apoio dos órgãos públicos e seus gestores tanto
a nível municipal, como estadual durante o período de dez anos de atuação do
Grupo, foi um dos fatores que inviabilizaram a continuação do trabalho. Porque de
acordo com Ivan, a ausência de incentivo resultou na desistência por parte dos
integrantes, que embora realizassem um trabalho voluntário, buscavam também a
oportunidade de trabalho de forma remunerada, como revela abaixo:
Cara, se ele estivesse dado esse apoio pra gente, eu acho que hoje tava
muito melhor, muito bem melhor, muito melhor mesmo do que, né, a gente
não tinha sido desestimulado, né, porque poxa, tu não vai ficar trabalhando
de graça o tempo todo, se tu tem uma família. Então, nós se disponibilizava
nas férias pra fazer a coleta seletiva na praia, aqui na vila, tá entendendo?
Sem troco de nada pô, não ganhava nada, quer dizer nas férias é um mês
que tu pode tá fazendo alguma coisa pra ganhar um troquinho, né (IVAN
SOUSA TEIXEIRA).
173
questões pessoais dos participantes. Ivan cita que as limitações se davam ainda
com questões referentes a disponibilidade dos participantes, pois além do GAF os
integrantes tinham outros afazeres:
Olha, as limitações todas foram investimento, que pra você fazer qualquer
tipo de trabalho você precisa de investimento e a outra é a perda de
território. Perdeu o território, perdeu voz, perdeu ação. Então, quando
começou a se privatizar a Ilha, o GAF começou a perder e a criar problemas
muito grande como: alguém queria construir na praia e o GAF ia lá
embargar (SAID NAZARÉ SENADO).
O limite? O único limite que a gente tinha era tentar limitar aquilo que não
tava dentro do contexto, né? Que vinha trazer problemas pra comunidade
em relação à educação ambiental, as vezes quando se fala em proteção, aí
tem outras pessoas que acha que é besteira, que é isso e aquilo, que isso
não funciona e a gente se limitava da maneira possível, assim pra não ter
grandes atritos, essas coisas (JACINTO TEIXEIRA).
Graça Santana ao falar das limitações vivenciadas pelo GAF em suas ações
de educação ambiental, situa desde questões territoriais, a entraves de ordem
financeira.
O GAF ele começou pequeno, né? Primeiro grupo de estudo, né? Aí depois
ele começou, o próprio nome do GAF já limitou a sua área de base, né, que
era Fortalezinha, então toda Fortalezinha e ali a gente trabalhava todo
aquele território. Depois houve pessoal de Mocooca, né que começaram a
questionar por que que o GAF não ia até Mocooca, né? Aí pessoas de
175
Olha, eu acho que a limitação foi quando a gente não teve assim, digamos,
aquele senso de compreender o nosso ego, né? Porque se a gente tivesse
deixasse o nosso ego de lado um pouco e realmente fosse mais humilde,
naquele ponto de discutir a valorização de um coletivo, né? De uma
problemática voltada pro próprio lugar, né? Acho que fez essa falta de
sensibilidade, aí da gente não compreender essas coisas dele. Porque
chegou no momento que cada um já tava querendo muito colocar o seu
ponto de vista, sabe? Aí chegou naquele momento que a gente não teve
mais como. Vamos separar essas coisas, desgastando, já tava no limite.
Acho que foi isso, né? (MANOEL OLIVEIRA TEIXEIRA).
176
Olha, o grupo ele acabou porque, primeiro, não tinha recursos; segundo, as
pessoas começaram a se dispersar pra outros lugares, né? Pessoa que
estudava, que trabalhavam, então precisavam sair, tinha uns que
precisavam estudar, tinha outros que tinha que trabalhar. Então, eles foram
se dispersando, né? Foram se dispersando aí, como a comunidade a
deixava só em prol do GAF a limpeza, essas coisas, e a gente não tinha
recurso pra comprar material, aí a gente foi também se debandando, né? E
hoje a gente não conseguiu mais reunir as pessoas. Então é por isso, uns
casaram, foram embora, outros foram estudar, outros cada um procurou a
sua direção (JACINTO TEIXEIRA).
Eu acho assim que tudo na vida é um ciclo, né? Adriele, tudo tem o início
meio e fim. Eu penso que nós ficamos durante dez anos, já era uma época
também como eu disse, até porque a gente também queria seguir outras
coisas e eu fui percebendo também que eu cresci, fui tendo filho e
casamento coisas. Eu Já não conseguia mais acompanhar o grupo como
deveria acompanhar. Então a gente acabou. Já deixando mais pra
amadurecer mais essa proposta do grupo e os próprios conflitos internos,
que também teve, né? Ponto de vista partidário de grupos políticos (LÚCIA
SANTANA).
Mas eu percebo que há uns três anos pra cá as pessoas estão pensando e
ativar o GAF, né. As pessoas falam demais, eu acho que a ideia é tá ai, né?
O grupo tá instituído, a gente não deixou de participar das causas. A gente
sempre tá envolvido nas causas do nordeste paraense (LÚCIA SANTANA).
Eu acredito que são ciclos. Naquele momento, houve o limite. Hoje a gente
tá avançando em outras frentes, né? Eu acho legal se reativarem, né? É tu
que vem estudar um grupo, que tá interessada nessa história do nordeste
paraense, que é uma história invisibilizada, inclusive é uma história
invisibilizada que precisa dessa voz que pode falar pelo nordeste paraense
senão os próprios pescadores, senão o próprio movimento, entendeu?
(LÚCIA SANTANA).
Lúcia considera que o grupo não parou, para ela o GAF está ativado em
outras distintas formas de movimento, de envolvimento às causas da realidade
ambiental e social da região do salgado, em que se encontra representado por
aqueles que participaram do GAF e desenvolveram uma relação de pertencimento,
em que o grupo foi a base para uma formação cidadã e profissional.
Então, eu acredito que ele não parou. Ele tá sendo ativado de diferentes
maneiras, né? Agora a relação de pertencimento eu acho que isso que
precisa ser referenciado, né? Se hoje eu sou uma Lúcia que trabalha com
comunidades pesqueiras, Por quê? Porque eu tive uma formação lá atrás
voltada para um grupo que era de uma comunidade pesqueira litorânea que
era o GAF (LÚCIA SANTANA).
178
Então, o GAF nunca deixou de existir, o GAF é uma filosofia de vida, eu vivo
ela, identifico outras pessoas que vivem ela e isso, eu acho, que isso é o
mais importante. Assim, acho que é todo o trabalho, é sem investimento, só
na ideia, o GAF foi um dos que mais teve êxito, assim, porque ele continua
vivo e muito vivo (SAID DE NAZARÉ SENADO).
Said Senado justifica que o grupo está ativo no campo das ideias,
esclarecendo que a institucionalização do grupo impossibilita a utilização do nome.
No entanto, para Said o GAF está diretamente ligado à sua história como sujeito de
uma comunidade local pesqueira e a seu modo de viver, intitulado como “nativismo”,
descrito da seguinte forma:
Porque como virou uma ONG, não pode ser usada sem que tenha o
consenso do coletivo, né? Mas ele tá dentro de cada um, é isso. O GAF é
essa ideia da manutenção do nativismo. Eu sinto que é uma resistência. O
GAF é a resistência atual do ser nativo e morar na vida off, quando se fala
na vida off na Amazônia atlântica se tá falando da ideia que o GAF trouxe.
O GAF trouxe a vida off, a gente só não sabia materializar, então agora a
gente consegue. Então, todo mundo que prática esporte, leu o seu
ambiente, que vive ele, as suas tradições, as culturas de seus pais, de seus
avós, e que vive, essa pessoa, o que ela é, ela é o GAF dentro dele, assim
(SAID DE NAZARÉ SENADO).
Então, eu acredito que quando essa ideia, quando o GAF voltar, ele vai
voltar com mais força ainda, sabe, ele parou como instituição, ele não parou
como filosofia. Ele parou como instituição, porque é preciso de eleição,
precisa de uma burocracia que não é fácil de coordenar e talvez ninguém
esteja disponível de largar a sua vivência pra instituição GAF, sabe, acho
que tá mais fácil hoje colocar em prática é, tipo aleatoriamente, do que
voltar de novo com aquela instituição (SAID DE NAZARÉ SENADO).
Já para Manoel Teixeira, expõe que o grupo não terminou, mas ocorreu uma
“desarticulação”, motivada por questões particulares em detrimento às ações
coletivas.
179
Então na verdade, o grupo eu acho que ele ainda não acabou, né? Mas, eu
te falo assim o que levou pra gente se desarticular foi a questão de algumas
pessoas deixaram que o ego e sobressaísse mais do que a própria vontade
de lutar de forma coletiva e de pensar na própria comunidade pensar como
um grupo, né? São coisas que acontecem infelizmente, tem muito essa
questão pessoal, né, e foi isso que aconteceu muito a questão pessoal”
(MANOEL TEIXEIRA).
Olha, eu percebi o que a gente plantou ainda existe, né? Tem muitas
pessoas que tem esse conhecimento, que lutam pra manter isso vivo e eu
acho que foi uma das sementes que a gente plantou que funcionou. Só que
ultimamente, como ela é uma área de preservação já, a gente deixa a
desejar, né? Tem muitas coisas que não tão sendo realizada como devia
ser. Como eu lhe falei agora, o desmatamento, a entrada das moto, as
destruições dos manguezais, mudou muitas coisa (JACINTO TEIXEIRA).
Depois que o grupo terminou muitas coisas voltou a acontecer, porque tipo
assim, com relação ao lixo nas ruas e nas praia, veio sendo acumulado,
porque não tinha mais aquele grupo que fazia aquela limpeza, né? Então
agora que tá voltando novamente, né? Mas depois que o grupo
enfraqueceu, ele o lixo veio, aí as pessoas também lamentavam, né? “Égua,
não existe mais o grupo GAF pra fazer esse serviço tudo, porque é o GAF
que fazia”, a gente todo tempo confeccionava as lixeiras colocava nos
pontos estratégicos pra que as pessoas chegassem colocassem seu lixo
(IVAN SOUSA TEIXEIRA).
180
Igualmente, Graça Santana acredita que a principal lição deixada pela ação
do grupo foi a constituição de um espaço formativo nas questões ambientais,
territoriais e no campo do trabalho, para os moradores participantes do Grupo
Ambiental de Fortalezinha. Para Graça, as discussões do grupo fomentavam uma
reflexão para a realidade da pesca, bem como a influência direta que o morador
exercia sobre a floresta que circunda a comunidade.
quartel, essa coisa toda e eles já levaram toda essa bagagem pra fora,
saíram de lá com toda essa bagagem. Então, essa sim foi a lições
aprendidas pra mim, né, ter contribuído com esse trabalho lá na
comunidade (GRAÇA SANTANA).
Por fim, Lúcia Santana em sua fala, informa que o GAF oportunizou uma
experiência pessoal e profissional, na qual percebeu a importância de uma ação
coletiva, como um trabalho intenso com suas demandas, atravessado por afetos e
emoções, que imprime um valor simbólico na vida do sujeito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Política e educação. 2.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o
associativismo do terceiro setor. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. São Paulo.
THOMPSON, Jonh B. Ideologia e Cultura Moderna. Teoria social crítica na era dos
meios de comunicação de massa. Petrópolis/ Rj: Vozes, 1995. Cap. III. O conceito
de cultura. (p.165-215).
APÊNDICE
193
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
________________________
Aluna/ Pesquisadora
Adriele de Fátima de Lima Barbosa
(91) 982966781
194
Eu,...........................................................................................................,
declaro que li as informações sobre a pesquisa e que me sinto perfeitamente
esclarecido (a) sobre o conteúdo da mesma. Declaro, ainda, por minha livre vontade,
que aceito participar, cooperando com a coleta de informações para a pesquisa.
Belém,_____/_____/_____ ____________________________
ASSINATURA DO SUJEITO DA PESQUISA
195
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA