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Guia para Compreender os Esquemas

Baseado em: Leahy, R. L. (2006). Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. Porto Alegre: Artmed

O que são esquemas?

Descobrimos que as pessoas diferem naquilo que as deixa deprimidas, ansiosas ou com raiva. Referimo-nos a
essas diferenças como esquemas.
Esquemas são as maneiras habituais como vemos as coisas.
Por exemplo, a depressão caracteriza-se por esquemas relacionados a perda, privação e fracasso; ansiedade é
caracterizada por esquemas relacionados
a ameaça ou medo de fracasso; e a raiva caracteriza-se por esquemas relacionados com o insulto, humilhação
ou violação de regras. Pesquisas sobre personalidade indicam que as pessoas diferem nos temas subjacentes à
depressão, ansiedade ou raiva. Cada um de nós vê as próprias experiências em termos de certos padrões
habituais de pensamento. Uma pessoa pode focar muito as questões envolvendo realização, outra as questões
em torno da rejeição e outra ainda as questões ligadas ao medo de ser abandonada.
Digamos que o seu esquema — a sua questão ou vulnerabilidade em particular — esteja relacionado com
realização. As coisas podem estar a correr bem na escola/trabalho, mas então, você tem um contratempo que
activa o seu esquema sobre realização — a necessidade de ser muito bem sucedido de modo que não se veja
como fracasso. O contratempo na escola pode levar ao esquema de fracasso (ou estar ”na média”, o que
equivale a fracasso), e então você fica ansioso ou deprimido.
Ou digamos que o seu esquema está relacionado a questões de abandono. Você pode estar muito vulnerável a
quaisquer sinais de rejeição ou abandono. Enquanto o relacionamento estiver a correr bem, você não fica
preocupado. Mas, devido a esse esquema, você pode preocupar-se com o abandono ou a rejeição. Se o
relacionamento acaba, isto o leva a sentir-se deprimido porque não suporta ficar sozinho.

Como Compensamos os Nossos Esquemas

Se você tem um esquema sobre uma questão específica, pode tentar compensar essa vulnerabilidade. Por
exemplo, se você tem um esquema de fracasso ou que indica que estar na média é mau, você vai
estudar/trabalhar excessivamente — neste caso, você está a tentar compensar a percepção de que pode ser
inferior ou não ter um desempenho à altura dos seus padrões de perfeição. Você pode compensar verificando o
seu trabalho várias vezes. Como consequência, as pessoas podem vê-lo como muito absorvido no
estudo/trabalho. Você pode ter dificuldades em relaxar, pois preocupa-se por não estar a estudar/trabalhar o
suficiente, ou que algo deixou de ser feito, ou que está a perder a sua motivação.
Se o seu esquema é de abandono, você pode compensá-lo dedicando todo o tempo ao seu parceiro ou parceira.
Você pode temer ser assertivo, pois teme ser abandonado. Ou você pode procurar constantemente segurança
junto do seu parceiro(a) de forma a sentir-se seguro(a), mas isto não dura muito tempo. Você continua a ver
sinais indicando que o seu parceiro(a) se irá embora.
Outra forma de compensar o esquema de abandono é constituir relações com pessoas que não satisfazem suas
necessidades, mas com quem você deseja estar ligado porque não quer ficar sozinho.
Ou permanece em relacionamentos muito além do ponto em que parece razoável, pois pensa que não vai
suportar ficar sozinho.
Como você pode ver, tentar compensar os esquemas subjacentes pode criar problemas adicionais. A
”compensação” pode levá-lo a sacrificar as suas necessidades, estudar/trabalhar compulsivamente, procurar
relacionamentos desvantajosos, preocupação, exigência de segurança e outros comportamentos problemáticos.
E o facto mais importante sobre essas compensações é que você nunca aborda realmente o seu esquema
subjacente. Por exemplo, você pode nem questionar a sua crença de que tem de ser especial, superior, evitar
ficar na média, evitar ficar sozinho, etc. Portanto, você nunca modifica realmente o esquema. Ele continua lá —
pronto para ser activado por certos acontecimentos. É a sua vulnerabilidade contínua.

Como Evitamos Enfrentar os Esquemas

Outro processo que cria problemas é o “evitar o esquema”. Isto significa que você tenta evitar enfrentar
quaisquer questões que toquem no seu esquema. Digamos que você tem um esquema de fracasso; a sua ideia é
de que, no fundo, você deve ser realmente incompetente. Uma maneira pela qual você pode evitar testar esse
esquema é nunca encarar tarefas desafiadoras ou abandonar as tarefas rapidamente.

Teresa Martins Matos


Guia para Compreender os Esquemas
Baseado em: Leahy, R. L. (2006). Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. Porto Alegre: Artmed

Ou, digamos que você tem um esquema que lhe indica que não é digno de amor ou não é atraente. Como é
você evita enfrentar o esquema? Você pode evitar contactos com as pessoas que pensa que não irão aceitá-lo.
Você pode evitar namorar, pode evitar telefonar aos amigos, pois assume de antemão que as pessoas acham
que você não tem nada a oferecer.
Ou, digamos que você tem medo de ser abandonado. Você poderia evitar esse esquema não permitindo
aproximar-se de ninguém, ou poderia romper com a outra pessoa precocemente para não ser rejeitado mais
tarde. Outra forma pela qual as pessoas evitam os esquemas — quaisquer que eles sejam — é por intermédio
de fuga emocional com uso de substâncias ou comportamentos extremos, como beber muito, usar drogas para
aliviar sentimentos, comer compulsivamente ou mesmo actuar sexualmente. Você pode sentir que lidar com os
sentimentos é tão doloroso que precisa evitá-los ou fugir deles com esses comportamentos que viciam. Tais
comportamentos “escondem” de si próprio os seus medos subjacentes, pelo menos enquanto se alimenta
compulsivamente, bebe muito ou usa drogas. É claro, os sentimentos maus voltam novamente, pois você não
está a examinar realmente e a contestar os esquemas subjacentes. E, ironicamente, esses comportamentos que
viciam se inserem nos esquemas negativos, fazendo-o sentir-se ainda pior em relação a si próprio.

De Onde vêm os Esquemas?

Aprendemos esses esquemas negativos com os nossos pais, irmãos, colegas e parceiros. Os pais podem
contribuir com os esquemas negativos ao fazê-lo sentir que não é bom o suficiente a menos que seja superior a
todos, dizendo que é muito gordo ou que não é atraente, comparando-o com outras crianças que estão “a sair-
se melhor”, dizendo que você é egoísta porque tem necessidades, ou se intrometendo na sua vida e dando
ordens, ou ameaçando matarem-se ou abandoná-lo. Existem muitas maneiras diferentes em que os pais
ensinam às crianças esses esquemas negativos sobre si próprias e sobre os outros.
Por exemplo, pense nas seguintes experiências reais que algumas pessoas recordaram sobre como os seus pais
lhes “ensinaram” os esquemas negativos:
1. “Tu podias ter-te saído melhor - porque tiraste aquele 2?”: esquema envolvendo a necessidade de ser perfeito
ou evitar inferioridade.
2. “As tuas coxas são muito gordas e o teu nariz é feio”.: esquema de obesidade e feiura.
3. “O teu primo foi para Harvard - porque é que tu não podes ser mais parecido com ele?”:esquema de
inferioridade e incompetência.
4. “Porque é que vocês estão sempre a reclamar? Vocês não percebem que tenho problemas ao cuidar de vocês,
crianças?”: esquema de exclusivismo das necessidades.
5. “Talvez eu devesse simplesmente ir-me embora e deixar-vos (crianças) a cuidarem de vocês próprios”.:
esquema de sobrecarga e abandono.
Conforme indicámos, outras pessoas que não os nossos pais podem ser fontes de esquemas.
Talvez o seu irmão ou irmã o tenham maltratado, levando-o a formar esquemas de abuso, não merecimento de
amor, rejeição ou controle. Ou talvez o seu parceiro ou parceira tenha lhe dito que você não é bom ou boa o
suficiente, levando a esquemas de não ser atraente, não ter valor e não ser digno de amor.
Nós até internalizamos esquemas a partir da cultura popular, como imagens de ser esbelta e bonita, ter corpo
perfeito, de “como os homens de verdade deveriam ser”, sexo perfeito, rios de dinheiro e enorme sucesso.
Essas imagens irreais reforçam esquemas de perfeição, superioridade, inadequação e imperfeição.

Como a Terapia Poderá Ajudar?


A Terapia Cognitiva pode ajudar de várias maneiras importantes:
• Aprendendo quais são os seus esquemas específicos.
• Aprendendo como você compensa e evita os esquemas.
• Aprendendo como os esquemas são mantidos ou reforçados pelas escolhas que você fez ou as experiências
que teve.
• Examinando como os seus esquemas foram aprendidos.
• Contestando e modificando os esquemas negativos.
• Desenvolvendo novos esquemas, mais adaptados e mais positivos.

Teresa Martins Matos

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