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•
Brasileira de
Psiquiatria
Nota: A medicina é uma ciência em constante evolução. A ' medida que novas pesquisas e a
CDU 616.89-008.454
Versão impressa
desta obra: 2013
2013
© Artmed Editora Ltda., 2013
Capa
Tatiana Sperhacke
Preparação do original
Rafael Padilha Ferreira
Leitura final
André Luis de Souza Lima
Coordenadora editorial
Cláudia Bittencourt
Gerente editorial
Letícia Bispo de Lima
Projeto e editoração
Armazém Digital®Editoração Eletrônica - Roberto Carlos Moreira Vieira
-
SAO PAULO
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5
Cond. Espace Center - Vila Anastácio
05095-035 - São Paulo, SP
Fone: (11) 3665-1100 - Fax: (11) 3667-1333
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
João Quevedo
Psiquiatra. Doutor em Ciências Biológicas - Bioquímica pela Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul (UFRGS). Professor Titular de Psiquiatria da Universidade do Extremo Sul Catarinense
(Unesc). Pesquisador lA do CNPq. Diretor Acadêmico do PROPSIQ.
Os organizadores
1. Depressão ao longo da história ........................................................................... 17
Thaís Rabanea de Souza, Acioly Luiz Tavares de Lacerda
2. Epidemiologia do transtorno depressivo maior ................................................... 29
Leonardo Gazzi Costa, Pedro Vieira da Silva Magalhães
3. Psicopatologia e diagnóstico da depressão .......................................................... 39
Elie Cheniaux
4. Neurobiologia do transtorno depressivo maior ................................................... 49
Márcio Gerhardt Soeiro-de-Souza, Rodrigo Machado Vieira
5. Modelos animais de depressão ............................................................................ 57
Gislaine Z. Réus, Helena Mendes Abelaira, João Quevedo
6. Tratamento far111acológico da depressão ............................................................. 67
Marco A. Romano-Silva, Debora Marques de Miranda,
Daniela Valadão Rosa, António Alvim-Soares
7. Psicoterapia
, cognitivo-comportamental na depressão ......................................... 83
Erica Panzani Duran, Fabiana Saffi, Francisco Lotufo Neto
8. Psicoterapia interpessoal no manejo da depressão .............................................. 97
Marcelo Pio de Almeida Fleck, Lívia Hartmann de Souza
9. Psicoeducação e tratamento da depressão ........................................................ 107
Antônio Geraldo da Silva, Fernando Portela Câmara
1IJ. Distimia............................................................................................................. l 15
Bruno Lima, Ricardo Alberto Moreno
11. Suicídio ............................................................................................................. 125
Humberto Correa, Maila de Castro L. Neves
12. Depressão e condições médicas gerais .............................................................. 133
Renato Daltro de Oliveira, Rafaela Araujo Lima,
Mychelle Morais-de-Jesus, Lucas C. Quarantini
Sumário
que revestia a doença mental até então, es- poentes Karl Jacobi (1775-1858); e, de
forçando-se para colocar as doenças men- outro, a ''escola psiquista'', que atribuía às
tais no mesmo paradigma das doenças de perturbações emocionais o embasamento
outras especialidades médicas, atribuindo das perturbações anímicas. Em 1845, pu-
ao cérebro o substrato biológico dos trans- blica o Tratado sobre patologia e terapêu-
tornos mentais. O trabalho de Rush em re- tica das doenças mentais, um verdadeiro
lação à melancolia influenciou estudiosos marco na história da psiquiatria. De mo-
além da fronteira de seu país, como Esqui- do geral, ele defendia que o cérebro era o
rol, por exemplo. Considerando as ideias órgão afetado na loucura e que as doen-
de Cullen e Kant, Rush descreve a melan- ças mentais seriam, pois, doenças do cé-
colia como uma insanidade parcial e, fun- rebro. A classificação proposta por Jaco-
damentado no princípio de que a razão é bi resultava em basicamente três estados
central em todo transtorno mental, acres- que, em geral, sucediam um ao outro con-
centa que, embora a concepção do qua- forme a progressão da doença: estado me-
dro seja de fato ampla, a melancolia está lancólico, que poderia ser seguido por es-
mais associada com a presença de falsas tados de exaltação ou mania e, finalmen-
crenças ou delírios do que com sentimen- te, pelo estado de demência crônica. Sua
tos ou emoções como medo ou tristeza. proposta de classificação ficou conhecida
Rush introduziu ainda o termo tristema- como a teoria da psicose única e, segun-
nia, que substitui o termo hipocondria, do essa concepção, a melancolia configu-
existente até então para designar formas rava-se como o estágio inicial da doença
de insanidade vinculadas a delírios sobre mental. 3 ,6
si mesmo, coisas ou condições; e substi- A evolução do pensamento de Emil
tuiu o termo melancolia por amenomania, Kraepelin e Sigmund Freud consolidou
referindo-se à presença de delírios acerca definitivamente a transição da psiquiatria
do resto do mundo que envolve o pacien- vitoriana do século XIX para a psiquiatria
te. A influência de Rush ultrapassou fron- moderna no início do século XX. A influên-
teiras e séculos, porém os termos usados cia marcante desses dois nomes também
por ele não sobreviveram. 3 ,7 inaugurou uma divisão nas práticas em
Os achados de um personagem cen- saúde mental: de um lado, a psicanálise,
tral no cenário da psiquiatria alemã, Wi- alicerçada em fundamentos psicológicos;
lhelm Griesinger (1817-1868), conside- e, de outro, a psiquiatria científica, funda-
rado por muitos como um dos pais da mentada em bases neurobiológicas. A se-
psiquiatria biológica, também merecem gunda teve um impacto muito mais sig-
destaque, especialmente por sua grande nificativo no desenvolvimento da prática
influência na obra de Kraepelin. A Grie- em psiquiatria e uma influência maior nas
singer é creditado o feito de colocar a psi- definições da síndrome depressiva, utili-
quiatria alemã em uma posição de proe- zadas tanto no Manual diagnóstico e esta-
minência na segunda metade do século tístico de transtornos mentais 8 quanto na
XIX, lugar anteriormente ocupado pela Classificação internacional das doenças. 9 O
França. Tal feito pode ser atribuído à su- conceito de depressão desenvolvido pela
peração das ideias conflitantes que divi- psicanálise, por sua vez, contribuiu para o
diam a psiquiatria alemã do início do sé- desenvolvimento das psicoterapias e para
culo XIX em duas vertentes: de um lado, as representações da depressão encontra-
a ''escola somática'', que relacionava os das na arte e na literatura. 4
• A •
transtornos mentais a processos organ1- Profundamente influenciado pelas
cos, tendo como um de seus maiores ex- ideias de Griesinger e pela psicologia ex-
Depressão
mir várias formas clínicas e que algumas Radó (1890-1972), psicanalista húnga-
dessas formas podem ter afecções somáti- ro, distinguiu a neurose depressiva - for-
. " .
cas e outras ps1cogen1cas, e que suas con- ma menos grave, na qual o paciente tem
siderações estão vinculadas à observação consciência de sua baixa autoestima - da
de casos de natureza psicogênica indiscu- melancolia - forma mais grave, com pre-
tível. Freud sugere a presença de uma dis- sença de delírios de autoacusação, que se
posição patológica e distingue os traços aproxima da depressão psicótica. Otto Fe-
mentais da melancolia, os quais incluíam nichel (1898-1946), psicanalista vienen-
desânimo profundo, perda da capacidade se, sob a tutela de Radó, defendeu que
de amar, inibição de toda e qualquer ativi- a depressão seria um aspecto comum à
dade, diminuição da autoestima, autorre- maioria das formas de neurose e que a
criminação e autoenvilecimento e expec- persistência de um grau leve de depressão
tativa delirante de punição. Ele postula seria um prenúncio de que uma depressão
que, na melancolia, acontece um empo- mais grave poderia se desenvolver, suge-
brecimento e esvaziamento do próprio rindo, portanto, um continuum dos esta-
ego, que resulta em um delírio de inferio- dos de depressão entre neurose e psicose.
ridade, principalmente moral, que é com- Outros nomes, como o de Karl Abraham,
pletado por insônia e pela recusa em se René Spitz e Melanie Klein, também me-
alimentar. Sugere que a tendência a adoe- recem destaque. 2,4
cer de melancolia está vinculada à predo- A partir da década de 1960, além
minância do tipo narcisista de escolha ob- das psicoterapias psicodinâmicas, as abor-
jetal. Ele também aponta para a tendên- dagens cognitivas e comportamentais des-
cia ao suicídio e, ainda, para a tendência pertaram o interesse e também passaram
da melancolia em se transformar em ma- a exercer influência sobre o entendimen-
nia. O ter1no depressão propriamente di- to e o tratamento do comportamento de-
to é utilizado de modo descritivo, e não pressivo. Dentre elas, destaca-se a terapia
como um quadro clínico ou uma catego- cognitivo-comportamental (TCC), desen-
ria nosológica. Freud inaugura a prática volvida pelo psicólogo norte-americano
primordialmente terapêutica baseada em Aaron Beck. A TCC sustenta que a origem
fundamentos psicodinâmicos que predo- e a manutenção dos sintomas depressivos
minou na psiquiatria moderna da primei- estão associadas à presença de pensamen-
ra metade do século XX. Se, por um lado, tos e crenças disfuncionais e não de for-
a orientação psicanalítica enfraqueceu os ças inconscientes, como defendia a tradi-
laços da psiquiatria com a medicina expe- ção freudiana. Inúmeros ensaios clínicos
rimental e com as demais ciências biológi- controlados comprovam a eficácia da TCC
cas, por outro, fez importantes contribui- no tratamento da depressão leve e mode-
ções, como o aumento do insight clínico, rada.17-19
o desenvolvimento sistemático de defini- A influência da primeira e, especial-
ções do comportamento e da doença e a mente, da segunda guerra mundial resul-
diminuição do estigma social associado tou na expansão da influência e na popu-
ao transtorno menta1.11,12,1s,16 larização da psiquiatria - e na posterior
A influência da orientação psica- expansão do diagnóstico de depressão. O
nalítica na psiquiatria ocidental atin- sucesso dos psiquiatras no tratamento de
giu seu ápice na década de 1960 e per- soldados que desenvolveram transtornos
durou até a década de 1970. Nesse perío- mentais em decorrência da guerra elevou
do, alguns nomes se destacaram: Sandor o status da psiquiatria a um patamar se-
Depressão
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Leonardo Gazzi Costa
Pedro Vieira da Silva Magalhães
25
20
-
~ 14,6o/o
-; 15 11, 1%
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u
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~ 10
....
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Figura 2.1
Prevalência da depressão maior em países de baixa e média renda .
Fonte: Adaptada de Bromet e colaboradores.7
0°/o 10°/o 20°/o 30°/o 40°/o 50°/o 60°/o 70°/o 80°/o 90°/o 100°/o
Qualquer transtorno
mental
Qualquer transtorno
de ansiedade
Outro transtorno
do humor
Qualquer transtorno
por uso de substância
Cardiovascular
M usculoesq uelético
Respiratório
Dor crônica
Câncer
Diabetes
,
Ulcera
Figura 2.2
Proporção do aparecimento de novos casos de depressão maior de acordo com a fa ixa etária.
Fonte: Adaptada de Eaton e colaboradores. 12
Ouevedo & Silva (orgs.)
100°/o
90°/o
80%
70%
60°/o
30%
20% llllliiiijj;
-
llllliiiijj;
1o -- 19 20 -- 29 30 -- 39 40 -- 49 50 -- 59 >59
Figura 2.3
Prevalência de comorbidades psiquiátricas e gerais com o transtorno depressivo maior.
Fonte : Adaptada de Kessler e colaboradores.18
Depressão
-30
-25--~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
o--~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
•
Angina Artrite Asma Diabetes Depressão Depressão Depressão Depressão Depressão
e angina e artrite e asma e diabetes
Figura 2.4
Estimativa do impacto negativo da depressão maior na percepção da saúde e quando na presen-
ça de comorbidades clínicas.
Fonte: Adaptada de Moussavi e colaboradores.9
QUADRO 2.1 As cinco maiores causas individuais de carga causada por doença em
países desenvolvidos e em desenvolvimento
-
CONCLUSAO EPERSPECTIVAS parar informações sobre o meio ambien-
PARA ODSM-5 te, assumindo que patógenos ambientais
podem causar transtornos, e que os genes
O desenvolvimento de entrevistas diag- influenciam a suscetibilidade aos patóge-
nósticas totalmente estruturadas, há mais nos. A abordagem de interação gene-am-
de três décadas, tornou possível a estima- biente cresceu a partir de duas observa-
tiva da prevalência de transtornos men- ções: primeiro, que transtornos mentais
tais específicos na população geral. 1 Des- têm causas ambientais; segundo, que as
de então, a epidemiologia psiquiátrica pessoas mostram heterogeneidade em sua
vem progressivamente avançando. Os de- resposta às causas. 30 Essas interações tor-
senhos de estudo vêm se tornando cada nam ainda mais difícil o uso de fenótipos
vez mais complexos, agregando maior tec- comportamentais confiáveis, e isso é mais
nologia, com amostras representativas da um problema dos sistemas diagnósticos
população da maior parte do mundo. Já atuais. Além disso, alguns autores têm
é possível falar em epidemiologia transla- apontado a possibilidade de um diagnós-
cional em psiquiatria. 6 Modelos mais inte- tico dimensional de depressão mais con-
ressantes e complexos, que adotam a inte- dizente com a realidade dos sintomas. 33,34
ração gene-ambiente em psiquiatria, vêm Essas são dificuldades para qualquer siste-
tomando lugar também pelo poder dos ma classificatório puramente baseado em
estudos populacionais, como nos já clás- sintomas.
sicos relatos de Caspi e Moffitt. 30 No momento em que este capítulo
,
E possível argumentar que o maior está sendo escrito, a quinta edição do Ma-
desenvolvimento da epidemiologia da de- nual diagnóstico e estatístico de transtor-
pressão na última década foram os diver- nos mentais, da American Psychiatric As-
sos relatos do WMHSI. Essa série de in- sociation, encontra-se em suas fases finais
quéritos populacionais teve o grande mé- de preparação. Um ponto com implica-
rito de alcançar, na medida do possível, ções para a epidemiologia da depressão é
uma uniformização do diagnóstico de a eliminação do critério de exclusão para
DM. A discrepância dos instrumentos e o luto. 35 A questão tem sido debatida nas
limiares em diferentes culturas era um melhores revistas médicas e na imprensa
grande impeditivo para a compreensão de leiga, e o maior temor parece ser ''o diag-
diferentes taxas de transtornos psiquiátri- nóstico automático de indivíduos enluta-
cos e mesmo para que se estimasse o im- dos com transtorno depressivo maior''. 36
pacto da depressão ao redor do mundo. 31 A motivação por trás de tal mudança é o
Tais avanços metodológicos, como fato de existirem muito poucas diferen-
o uso de entrevistas confiáveis em amos- ças entre indivíduos enlutados e aqueles
tras representativas em diversos países de que passaram por outros eventos estres-
todo o mundo, têm elucidado em parte a sares graves, 37 embora nem todos os au-
questão sobre o tamanho dos prejuízos ge- tores concordem com a consistência de
rados pela depressão. 9 Outra grande con- tal evidência. 38 A eliminação de um cri-
tribuição dos estudos populacionais tem tério de exclusão inevitavelmente aumen-
sido explorar relações causais e gene-am- tará a prevalência da depressão na popu-
biente em psiquiatria. 3 o,32 Interações ge- lação. O efeito dessa modificação sobre a
ne-ambiente ocorrem quando o efeito da prevalência, a carga de incapacidade e o
exposição a um ambiente patógeno sobre uso de serviços de saúde indubitavelmen-
a saúde de uma pessoa é condicionado te será investigado em uma próxima onda
por seu genótipo. Assim, busca-se incor- da epidemiologia psiquiátrica.
Depressão
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Elie Cheniaux
-
INTRODUÇAO sintomas são os mesmos, não importando
se ela é primária ou secundária.
O ter1no ''depressão'' está associado a três Por fim, o termo "depressão'' pode
diferentes significados. Em primeiro lugar, ser empregado ainda para designar um
ele pode referir-se a um sintoma ou queixa. transtorno mental: o transtorno depressi-
Nesse caso, "depressão'' equivale a "triste- vo maior (episódio único ou recorrente),
za'', ou "humor triste''. A tristeza pode es- no DSM-IV-TR; 2 ou o episódio depressivo
tar presente em situações patológicas, mas e o transtorno depressivo recorrente, na
é, antes de tudo, um sentimento humano CID-10. 3
nor1nal. Assim, em função de uma perda,
decepção ou qualquer evento desagradá-
vel, uma pessoa pode ficar triste, mas, na ASPECTOS PSICOPATOLÓGICOS DA
grande maioria das vezes, isso não está re- SÍNDROME DEPRESSIVA
lacionado a uma doença mental.
"Depressão'' pode representar tam- Funções afetivo-volitivas
bém uma síndrome psiquiátrica. Define-
-se síndrome como uma associação de si- A síndrome depressiva está relaciona-
nais e sintomas que evoluem em conjun- da a alterações em praticamente todas
to, provocada por mecanismos vários e as funções mentais, mas são mais afeta-
dependente de causas diversas. 1 Dessa das as funções afetivo-volitivas. Tradicio-
for1na, a síndrome depressiva pode ser nalmente, as alterações do humor ou do
classificada como primária ou secundária. afeto são consideradas as mais importan-
A depressão primária (genuína, idiopáti- tes na depressão (assim como na mania),
ca ou essencial) caracteriza-se pelo des- o que classifica o transtorno depressivo
conhecimento de sua causa. A depressão maior (TDM) como um transtorno do hu-
secundária, por sua vez, é associada a fa- mor. Todavia, mais recentemente isso tem
tores causais bem definidos, como subs- sido questionado, e as alterações relacio-
tâncias exógenas (p. ex., medicamentos nadas à energia vital e à atividade psico-
anti-hipertensivos) ou uma condição mé- motora têm sido apontadas por alguns au-
dica geral (p. ex., hipotireoidismo). Sen- tores4,5 como sendo, na verdade, as fun-
do a depressão uma síndrome, os sinais e damentais.
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 3.1
Alterações psicopatológicas mais típicas da síndrome depressiva
Funções psíquicas Alterações psicopatológicas
Funções afetivo-volitivas
Funções cognitivas
Outras funções
Atitude lamuriosa
indiferente
Orient ação alopsíquica passagem do tempo alentecida
desorientação apát ica
Consciência do eu diminuição da consciência de existência do eu
despersonalização
Pragmatismo diminuído/abolido
• •
Prospecção pess1m1smo
Consciência de morbidade parcial/ausente
Depressão
Na Tabela 3 .1, estão listadas as al- litativa: a rigidez afetiva. Esta se carac-
terações psicopatológicas mais comuns teriza pela perda da flexibilidade na ex-
na síndrome depressiva. Entre as fun- pressão afetiva. 13 O deprimido mantém-se
ções afetivo-volitivas, incluem-se a afeti- longamente triste, e seu estado de humor
vidade, a conação e a psicomotricidade. é pouco ou nada influenciado pelos even-
Na depressão, observa-se com frequência tos que o cercam, mesmo os positivos.
(mas nem sempre, como veremos adian- O termo ''depressão'' está relaciona-
te) um aumento da intensidade ou da du- do à ideia de que algo está alterado para
ração da tristeza, o que pode ser chamado menos, para baixo. Se não há uma redu-
de exaltação afetiva. 6 ção na intensidade da expressão afetiva, o
A psicopatologia descritiva caracte- que então está para baixo na depressão?
riza-se por uma significativa falta de uni- A resposta é a conação, que representa a
for1nidade quanto aos conceitos e termos atividade psíquica direcionada à ação e
utilizados. 7 Com relação à classificação compreende os impulsos e a vontade. 13
das alterações do afeto na depressão e na Há uma diminuição ou abolição global
mania, isso é particularmente verdadeiro. da conação: hipobulia ou abulia, respec-
Diversos autores8 -10 usam o termo ''hiper- tivamente. O paciente apresenta fraque-
timia'' para designar a alegria (ou irrita- za, desânimo ou falta de energia; perda
bilidade) patológica da síndrome manía- da iniciativa, da espontaneidade e do in-
ca e o termo "hipotimia'' com referência teresse pelo mundo externo; indecisão e
à tristeza da síndrome depressiva. Isso dificuldade de transfor111ar as decisões em
se apoia principalmente em Kurt Schnei- -
açoes.
der, 11 que criou o conceito de personali- A hipobulia e a abulia correspondem
dade hipertímica (incorporada ao chama- ao que classicamente se chamava de tris-
do espectro bipolar), cujas características teza vital. De acordo com a classificação
incluem uma leve e duradoura elevação de Max Scheler, os sentimentos psíquicos
do humor. Contudo, Nobre de Melo, 8 fiel distinguem-se dos sentimentos vitais. Os
à etimologia, assinala que "hipertimia e primeiros não são localizados no corpo e
hipotimia correspondem, respectivamen- são reativos. Por exemplo, ficar triste se
te, ao aumento e à diminuição da inten- algo de ruim acontece, ficar irritado quan-
sidade e duração dos afetos''. Assim, coe- do se é contrariado, etc. Já os segundos
rentemente com essas definições, Alvim12 são corporais, difusos e não reativos. São
defende que ''hipertimia'' é o termo mais exemplos de sentimentos vitais as sensa-
adequado para designar qualquer estado ções de bem-estar, mal-estar, vigor, desâ-
de exaltação afetiva, seja para o polo da nimo, fome, sede e fadiga, além do or-
alegria ou para o da tristeza. O problema gasmo.14 Na depressão, a tristeza psíqui-
de se designar a tristeza patológica da de- ca comumente está presente, todavia, a
pressão como hipotimia (e não como hi- tristeza vital parece ser mais característi-
pertimia ou exaltação afetiva) é a estar ca da síndrome. Alguns pacientes, inclusi-
aproximando do estado de embotamento ve, conseguem distinguir um tipo de tris-
afetivo, que ocorre, por exemplo, na es- teza do outro.
quizofrenia, e no qual, diferentemente da Outras alterações quantitativas da
depressão, há uma diminuição da expres- conação, relacionadas a impulsos especí-
são afetiva. 6 ficos, podem ser observadas em pacientes
Na síndrome depressiva, além da com depressão. Frequentemente há insô-
alteração quantitativa da afetividade, a nia, que pode ser inicial (dificuldade de
exaltação afetiva, há uma alteração qua- conciliar o sono) ou ter1ninal (o indivíduo
Ouevedo & Silva (orgs.)
acorda cedo demais e não consegue voltar ansiedade, 10 mas, algumas vezes, pode in-
a dor111ir). Contudo, também pode ocor- dicar a ocorrência de um estado misto, no
rer hipersonia, principalmente em crian- qual sintomas depressivos e maníacos são
ças e adolescentes, que representa um au- concomitantes.5
mento do tempo total de sono. A perda
da libido é bastante comum. Quanto ao
apetite, ele costuma estar diminuído, mas Funções cognitivas
também pode estar exacerbado, o que
acarreta uma redução ou um aumento do Os quadros de depressão ocorrem sob lu-
peso, respectivamente. cidez da consciência. Todavia, a atenção
Há ainda alterações qualitativas re- está frequentemente prejudicada. Pode
lacionadas à conação: o negativismo e os ocorrer hipoprosexia, que é a diminuição
comportamentos e pensamentos suicidas. global da atenção: 15 o indivíduo não con-
O negativismo representa uma resistência segue concentrar-se em nada (hipotenaci-
não deliberada, imotivada e incompreen- dade), mas também, por desinteresse, fica
sível às solicitações externas. 15 O depri- alheio ao ambiente e, consequentemente,
mido, por falta de interesse ou de ener- pouco desvia sua atenção diante do surgi-
gia, não coopera com o exame médico, mento de novos estímulos externos (hipo-
não responde às perguntas da entrevista mobilidade). Em alguns casos, diferente-
e, em casos mais graves, fica em mutis- mente, ocorre rigidez de atenção, e o in-
mo. O risco mais grave em um paciente divíduo fica tão intensamente aderido a
com depressão é o suicídio, que constitui determinadas lembranças dolorosas que
um desvio em relação aos impulsos de au- ignora tudo mais (hipertenacidade com
topreservação. 6 O indivíduo quer morrer hipomobilidade da atenção). 6,16
para obter alívio para o seu sofrimento ou Com relação à sensopercepção, ocor-
porque perdeu a esperança em um futu- re hipoestesia, ou seja, os estímulos são
ro melhor. Pode haver desde meramente percebidos com menor intensidade. 8 As-
pensamentos de que a vida não vale a pe- sim, a comida parece insossa; as cores,
na até tentativas concretas de tirar a pró- mais opacas; os sons, pouco vibrantes,
pria vida. etc. Eventualmente, encontram-se ilusões
Frequentemente se observa hipoci- catatímicas: o estado afetivo de tristeza
nesia (inibição, retardo ou alentecimento ou medo causa a defor1nação de uma per-
psicomotor): uma diminuição generaliza- cepção. Um exemplo disso seria o indiví-
da dos movimentos voluntários, que ficam duo erroneamente identificar um som de
mais lentos e menos frequentes. O extre- tiros a partir de ruídos corriqueiros. 17
mo da hipocinesia é a acinesia (ou estu- Alterações da memória comumen-
por), encontrada em casos mais graves de te estão presentes. Como consequência
depressão ou com características catatôni- da dificuldade de concentração e do de-
cas.10 A psicomotricidade fica abolida, ou sinteresse em relação ao ambiente, ocor-
seja, o indivíduo fica imóvel durante lon- re hipomnésia de fixação (ou anterógra-
gos períodos, algumas vezes dias segui- da), que é a diminuição da capacidade de
dos, e, em função disso, pode até morrer registrar novas informações, de formar
de inanição. Alternativamente, alguns pa- novas lembranças de longo prazo. Quan-
cientes com depressão apresentam hiper- do a inibição psíquica é muito intensa, há
cinesia eexaltação ou agitação psicomoto- também hipomnésia de evocação eou re-
ra). Nesses casos, o aumento da atividade trógrada), ou seja, diminuição da capaci-
psicomotora costuma estar relacionado a dade de recuperar lembranças que foram
Depressão
se deve a uma doença física, e não men- episódio depressivo maior. Como pode ser
tal, enquanto outros, apresentando ideias observado, o quadro clínico tem de durar
deliroides de culpa, julgam que não estão pelo menos duas semanas e devem estar
doentes, estão, na verdade, sendo castiga- presentes no mínimo cinco de uma lista
dos por Deus, em função de seus terríveis de nove sintomas. Além disso, um desses
pecados. 6 cinco sintomas tem de ser necessariamen-
te humor deprimido ou perda do interes-
se ou ,do prazer.
DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO E importante ressaltar que tanto o
DSM-IV-TR2 como a CID-10 3 permitem
DEPRESSIVO MAIOR
que um episódio depressivo seja diagnos-
ticado na ausência de humor deprimido
Características básicas do (que corresponde à tristeza psíquica na
transtorno depressivo maior classificação de Max Scheler). Isso pode
acontecer desde que haja perda do inte-
O TDM caracteriza-se pela ocorrência de resse ou do prazer, no DSM-IV-TR, 2 ou, no
uma síndrome depressiva, a qual se apre- caso da CID-10, 3 perda do interesse ou do
senta em episódio único ou de forma re- prazer e energia diminuída ou fadiga ex-
corrente. Essa síndrome depressiva é pri- cessiva (sintomas esses mais relacionados
mária, ou seja, embora se conheçam di- à tristeza vital).
versos fatores etiológicos relacionados a O DSM-IV-TR2 apresenta, ainda, cri-
ela (como os genéticos, os bioquímicos, térios diagnósticos relacionados à presen-
etc.), sua verdadeira causa é desconheci- ça de sofrimento subjetivo ou prejuízo só-
da. Em outras palavras, não se consegue cio-ocupacional significativo e à exclusão
identificar uma doença sistêmica ou cere- , .
de sintomas man1acos concomitantes e,
bral ou uma substância exógena que, por ainda, de uso de substâncias, presença de
si só, possa explicar o surgimento do qua- condições médicas gerais ou luto que pos-
dro depressivo. Assim, o diagnóstico do sam explicar melhor a ocorrência dos sin-
TDM é eminentemente clínico, não po- tomas depressivos.
dendo ser for1nulado ou confirmado por Para a for111ulação de um diagnós-
meio de exames laboratoriais. Estes só são tico do TDM, de acordo com o DSM-IV-
úteis para se descartar a possibilidade de -TR, 2 é necessária a ocorrência de um ou
uma depressão secundária (ou orgânica). mais episódios depressivos maiores, con-
Além disso, nunca houve um epi- figurando, respectivamente, o ''transtor-
sódio maníaco, hipomaníaco ou misto no depressivo maior, episódio único'' ou
na história clínica do paciente, pois, ca- o "transtorno depressivo maior, recorren-
so contrário, o diagnóstico adequado se- te''. O DSM-IV-TR2 estabelece também cri-
ria o de transtorno bipolar. Dessa forma, térios para diferenciar o TDM do transtor-
o TDM pode ser classificado como depres- . , .
no bipolar e dos transtornos ps1cotlcos,
são unipolar. , . , .
como sera VIsto na prox1ma seçao.
-
Tabela 3.2
Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para episódio depressivo maior
A) No mínimo cinco dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de
2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior; pelo menos um
dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações
ou delírios incongruentes com o humor.
1. humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo
(p. ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (p. ex., chora muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.
2. acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na
maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita
por terceiros)
3. perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (p. ex., mais de 5o/o do peso cor-
poral em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
Nota: Em crianças, considerar incapacidade de apresentar os ganhos de peso esperados.
4. insônia ou hipersonia quase todos os dias
5. agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não mera-
mente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
6. fadiga ou perda de energia quase todos os dias
7. sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), qua-
se todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente)
8. capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por
relato subjetivo ou observação feita por outros)
9. pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recor-
rente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer sui-
cídio
8) Os sintomas não satisfazem os critérios para um episódio misto.
C) Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento so-
cial ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D) Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga de
abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (p. ex., hipotireoidismo).
E) Os sintomas não são mais bem explicados por luto, ou seja, após a perda de um ente queri-
do, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo
funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo
psicomotor.
depressivo pode apresentar um nível leve teza normal não melhora com o uso de
de gravidade e uma tristeza normal po- antidepressivos e não cursa com os cha-
de ser extremamente intensa. Ter ou não mados sintomas somáticos ou vegetativos
uma relação temporal com um evento de (tais como alterações do apetite e dope-
estresse também não serve para essa dife- so, do sono, da libido, da energia vital e
renciação, pois, embora uma tristeza nor- da psicomotricidade, e, ainda, piora ma-
mal em geral ocorra como uma reação a tinal). Além disso, na depressão, em opo-
uma perda ou frustração, frequentemen- sição ao que acontece na tristeza normal,
te a depressão é desencadeada por algum há uma perda da reatividade do humor e,
acontecimento dessa natureza. Além dis- assim, mesmo que eventos positivos ocor-
so, em contraste com a depressão, a tris- ram, o indivíduo em nada melhora. 19,2º
Ouevedo & Silva (orgs.)
agitação psicomotora, anorexia ou perda 9. Paim 1. Curso de psicopatologia. 11. ed. São Pau-
lo: Pedagógica e Universitária; 1998.
de peso, culpa excessiva ou inadequada
e ''qualidade distinta de humor depressi- 10. Sá Jr LSM. Fundamentos de psicopatologia: ba-
ses do exame psíquico. Rio de Janeiro: Atheneu;
vo'' (esta última, uma alteração claramen- 1988.
te relacionada ao conceito de tristeza vi- 11. Schneider K. Psicopatologia clínica. 3. ed. São
tal, uma tristeza vivenciada no corpo, di- Paulo: Mestre Jou; 1978.
ferente da tristeza psíquica). 12. Alvim CE Vocabulário de termos psicológicos e
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to heterogêneas. Diante disso, alguns au- Atheneu; 1987.
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classificada como um transtorno do humor dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed;
independente, pois ela tem uma psicopa- 2000.
tologia distinta e, além disso, está relacio- 16. Cabaleiro-Goas M. Temas psiquiatricos: algunas
nada a anor1nalidades endócrinas (como o cuestiones psicopatologicas generales. Madrid:
Paz Montalvo; 1966.
aumento dos níveis plasmáticos do corti-
17. Alonso-Fernández E Fundamentos de la psiquia-
sol) e a uma resposta típica a terapêuticas tria actual. 3. ed. Madrid: Paz Montalvo; 1976.
biológicas (antidepressivos e eletroconvul-
18. Sims A. Sintomas da mente: introdução à psico-
soterapia). Assim, essa nova categoria no- patologia descritiva. 2. ed. Porto Alegre: Artmed;
sológica, a melancolia, nasceria com uma 2001.
validade maior do que o atual TOM. 19. Hales RE, Yudofsky SC, Gabbard GO. Tratado de
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Márcio Gerhardt Soeiro-de-Souza
Rodrigo Machado Vieira
Desregulação da
neurotransmissão cerebral
(p. ex., noradrenalina,
serotonina, dopamina)
Quadro clínico de TOM:
- alteração do humor
- sintomas cognitivos
Alterações - sintomas
Estresse
+
Vulnerabilidade
neuroendócrinas,
A '
neuroanatom1cas
- -
neurovegetativos
sintomas álgicos e
e autoimunes inflamatórios
genética
- disfunção
,.
da neuro-
genese e estresse
oxidativo
Alterações de cascatas
intracelulares, expressão
gênica e fatores neurotróficos
Figura 4.1
Modelo integrado da cadeia de processos biológicos implicados no quadro depressivo: implica-
ção interligada dos estresses biológicos e ambientais.
tese das citocinas recebe suporte pela al- cidada. Estudos futuros sobre essa asso-
ta comorbidade com doenças inflamató- ciação, bem como sobre os efeitos das di-
rias como esclerose múltipla, HIY, doença ferentes classes dos antidepressivos na
inflamatória intestinal e artrite reumatoi- função imune e na secreção das citocinas,
de, bem como pela alta prevalência de e ainda sobre os efeitos clínicos dos anta-
sintomas depressivos em indivíduos uti- gonistas das citocinas, podem trazer no-
lizando imunossupressores como o inter- vas respostas e perspectivas para o desen-
feron-alfa. I3,I4 Citocinas representam um volvimento de moduladores específicos e
grupo heterogêneo de moléculas mensa- para a utilização dos antidepressivos tra-
geiras que são produzidas por células do dicionais.
sistema imune, como linfócitos e macró-
fagos, sendo distinguidas entre anti-in-
flamatórias e pró-inflamatórias. A produ- NEUROOUÍMICA
ção de citocinas pode ocorrer em diversas
áreas cerebrais por células gliais, como as- Inúmeros estudos nas últimas décadas têm
trócitos e microglia em áreas como hipo- demonstrado um papel-chave das monoa-
campo e hipotálamo. Is Desde o primeiro minas, em especial serotonina (5-HT), do-
trabalho sobre esse assunto, descrevendo pamina (DA) e noradrenalina (NA), na fi-
uma associação entre depressão e ativa- siopatogenia e no tratamento do TDM.
ção das células T, foram observados inú- Junto com a acetilcolina (ACh), essas mo-
meros achados demonstrando o aumento noaminas exercem efeitos modulatórios
dos níveis de citocinas pró-inflamatórias em inúmeras atividades corticais e sub-
nos transtornos depressivos. Is Em espe- corticais e estão envolvidas na regula-
cial, inúmeros estudos têm reforçado um ção do humor, na atividade psicomoto-
papel-chave para as citocinas pró-inflama- ra, no apetite, no sono e na cognição. Ini-
tórias interleucinas 1 e 6 (IL-1, IL-6) e fa- cialmente, as monoaminas constituíram
tor de necrose tumoral alfa (TNF-a). Se- a principal hipótese envolvendo os neu-
guindo o mesmo raciocínio, sabe-se que rotransmissores cerebrais. Com relação
a inflamação é acompanhada de aumento ao sistema serotonérgico, diminuição da
na produção de radicais livres, e já foi re- 5-HT cerebral, down-regulation dos recep-
portado que, na depressão, existe aumen- tores 5-HTlA e up-regulation dos recepto-
to dos níveis de peroxidação lipídica, e res 5-HT2I3 são os achados mais replica-
oxidação de DNA (8-0HdG). I6,I 7 E impor- dos na literatura do TDM. Por décadas, a
tante observar que o tratamento com an- hipótese serotonérgica da depressão mo-
tidepressivos nem sempre é acompanha- tivou a pesquisa sobre a etiologia da de-
do por uma redução nas concentrações de pressão em estudos clínicos e modelos
citocinas pró-inflamatórias, ainda que se animais testando paradigmas. Da mesma
sugira a presença de efeitos imunomodu- forma, inúmeros antidepressivos tradicio-
latórios indiretos a partir de alterações no nais têm como alvo principal a inibição da
sistema serotonérgico, como modificações recaptação de serotonina. A visão atual é
na atividade do receptor serotonérgico de que as alterações no sistema serotonér-
pós-sináptico e no transportador de sero- gico seriam consequência de um processo
tonina. Is Sobretudo, apesar de inúmeras de estresse celular em vez de ser a princi-
evidências embasando o papel das citoci- pal etiologia. Ia Além disso, o dado de que
nas na neurobiologia do TDM, seu exato menos de 600/o dos pacientes alcançam re-
papel na fenomenologia dos quadros de- missão com o uso dos atuais antidepressi-
pressivos ainda precisa ser mais bem elu- vos fala a favor de que o entendimento da
Depressão
Noradrenalina Serotonina
Ansiedade
Irritabilidade
Energia Impulsividade
Interesse Humor,
Emoção,
Funções
Cognitivas
Sexo
Motivação Apetite
Agressão
Motivação
Volição
Dopamina
Figura 4.2
Modelo monoaminérgico da depressão.
Ouevedo & Silva (orgs.)
(tal como recentemente observado com Postula-se que tais mutações alteram a
moduladores glutamatérgicos avaliados excitabilidade celular ao permitirem um
pelo grupo do National Institute of Men- maior influxo celular de cálcio, entretan-
tal Health [NIMH]),19 assim podendo re- to ainda não está claro exatamente como
presentar um importante avanço em ter- difere em nível celular a funcionalidade
mos de saúde pública e benefício para os desses canais na depressão e no transtor-
que sofrem com essa doença devastadora no bipolar. Além disso, fatores ambientais
e incapacitante. modulam a atividade de genes (epigenéti-
ca) que conferem diferentes suscetibilida-
, des à depressão entre indivíduos, sendo
GENETICA esta uma área promissora em desenvol-
vimento para estudos genéticos no TDM.
A herdabilidade da depressão foi estima- Novas tecnologias no campo de genética
da em 40 a SOO/o, sobrando espaço para molecular e genômica também podem ge-
a interferência de fatores socioambien- rar novos conhecimentos na área.
tais. Angst, em 1966, na Suíça, e Perris,
no mesmo ano, na Suécia, apresentaram,
independentemente, os primeiros estu- -
CONCLUSAO
dos sistemáticos em famílias, demons-
trando agregação familiar das alterações Estudos neurobiológicos em modelos ani-
do humor, encontraram maior frequência mais e em humanos fornecem uma série
de pacientes do TDM entre os parentes de de evidências que, quando integradas,
depressivos unipolares. Inicialmente, os permitem uma visão das anormalidades
genes mais estudados pelos pesquisadores fisiopatológicas envolvidas na etiopatolo-
foram polimorfismos no gene transporta- gia do TDM. Os principais achados são:
dor de serotonina. 8 Ainda que os grandes diminuição da neurotransmissão mono-
estudos de associação (Genome-Wide As- aminérgica, baixos níveis de BDNF, au-
sociation Studies - GWAS) não tenham mento de citocinas inflamatórias, desre-
demonstrado a presença de genes candi- gulação do eixo HHA, alterações corticais
datos com alta significância no TDM, po- e subcorticas, alterações funcionais cere-
dem-se citar alguns genes com relativa re- brais e identificação de alguns genes para
presentatividade quando vistos de forma maior risco. A integração de todos esses
isolada. Atualmente, os genes que mais se dados permite concluir que o TDM é uma
destacam em estudos de associação são doença sistêmica fortemente associada a
adenil ciclase 3 (ADCY3), galanina (GAL) um estado pró-inflamatório deletério ao
e o gene que codifica um subtipo de canal equilíbrio fino da atividade neuronal nor-
de cálcio de baixa voltagem subtipo al- mal que, se não tratado adequadamente,
fa ( CACNAl C). 20,21 A associação do CAC- pode evoluir para neurodegeneração.
NAl C com diagnóstico de transtorno bi- Estudos examinando a combinação
polar é um dos achados mais consisten- de fatores genéticos, moleculares e de neu-
tes em estudos genéticos de associação de roimagem visando identificar associações
larga escala. 22 -24 Assim sendo, a tendên- entre esses sistemas poderiam aumentar o
cia atual é investigar o papel desses acha- entendimento dos mecanismos neurofisio-
dos em mutações dos canais de cálcio na lógicos e, como consequência, possibilitar
neurobiologia dos transtornos do humor. que se pense de maneira mais adequada
Depressão
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functional connectivity. Magn Reson Med. 2009;
chon S, Craddock N, et al. Large-scale genome- 62(6):1619-28.
-wide association analysis of bipolar disorder
identifies a new susceptibility locus near ODZ4.
Nat Genet. 2011;43(10) :977-83.
Gislaine Z. Réus
Helena Mendes Abelaira
João Ouevedo
Tabela 5.1
Critérios para a validade de um modelo animal de depressão
Critérios Manifestações
Com base nos critérios de validade, nas a três meses) a diferentes estressares
muitos modelos animais de depressão fo- (p. ex., privação de água e de comida, ex-
ram e ainda estão sendo desenvolvidos. posição a baixas temperaturas, isolamen-
Tais modelos incluem engenharia gené- to, entre outros) exibem déficits compor-
tica, lesões cerebrais e manipulações am- tamentais, como alterações no sono e com-
bientais. A Tabela 5.2 mostra alguns mo- portamento anedônico. Com relação a
delos de depressão e os critérios de vali- parâmetros moleculares, que estariam re-
dade de cada um. lacionados à validade de constructo nesse
modelo animal, já foram observadas alte-
-
MODELOS ANIMAIS DE DEPRESSAO -
rações no eixo hipotálamo-hipófise-adre-
nal (HHA). Geralmente, animais submeti-
-
MANIPULAÇOES AMBIENTAIS dos a um protocolo de estresse exibem au-
mento nos níveis de cortisol e no peso da
Estresse crônico moderado glândula adrenal; 4 alterações em lipídeos e
proteínas; diminuição na atividade de en-
Um dos principais sintomas da depressão zimas antioxidantes; e, também, aumento
em humanos é a anedonia, ou seja, a dimi- de citocinas pró-inflamatórias. 5 ,6
nuição no interesse ou prazer em ativida- Nos últimos anos, muitos pesqui-
des diárias. Além disso, sabe-se que even- sadores focam as neurotrofinas, as quais
tos estressares ao longo da vida são fato- estão envolvidas na plasticidade celular
res preditivos na etiologia da depressão. z,3 - a exemplo do fator neurotrófico-deri-
De acordo com essas características, mui- vado do cérebro (BDNF) -, como um al-
tos pesquisadores usam o modelo animal vo de suma importância na neurobiolo-
de estresse crônico moderado para o estu- gia e no tratamento da depressão. Em so-
do da neurobiologia da depressão, bem co- ro, assim como em cérebros post mortem
mo para elucidar novos alvos terapêuticos de pacientes com o transtorno, já foram
para o seu tratamento. De fato, ratos sub- relatados níveis diminuídos dessa neuro-
metidos por longos períodos (de três sema- trofina. Por sua vez, o tratamento com an-
Tabela 5.2
Modelos animais de depressão e seus critérios de validade
Critérios
Modelo
Face Constructo Preditiva
Privação materna + + +
Lesões (p. ex., bulbectomia olfatória) + + +
Estimulação do sistema imune (p. ex., + + +
endotoxinas e citocinas pró-inflamatórias)
Depressão
vida estão entre os fatores de risco mais comportamentais e/ou resposta a antide-
importantes para o desenvolvimento des- pressivos nesse modelo.
ta. Além disso, alguns fatores estressan-
tes, como separação e abuso sexual, au-
. . . . ,
mentam o risco para um pr1me1ro ep1so- Privação do sono
dio depressivo, o qual pode ocorrer anos
após o evento estressar. Alguns autores na Sabe-se que o sono é muito importante
década de 1950 demonstraram que crian- para manter as funções homeostáticas. A
ças que ficavam longos períodos longe privação de sono é um estressar que pode
dos pais, em hospitais ou orfanatos, aca- levar a alterações tanto no sistema nervo-
bavam desenvolvendo sintomas depressi- so central (SNC) quanto no periférico. 15
vos. Os mesmos efeitos foram observados Embora a privação do sono não seja ainda
em primatas; no entanto, a presença de um modelo de depressão bem estabeleci-
uma figura materna pode controlar tais do, muitos estudos mostram que ela alte-
comportamentos. Algumas pesquisas re- ra importantes vias relacionadas ao estres-
latam alterações no eixo HPA e no sistema se. Aumento nos níveis de RNA mensagei-
serotonérgico como cruciais na relação de ro para a interleucina-1~ - uma citocina
fatores estressantes que desencadeariam pró-inflamatória -, além de no cortisol,
transtornos psiquiátricos na vida adulta. foram constatados em roedores após es-
Nesse sentido, há também o modelo ani- tes terem sido manuseados delicadamen-
mal de privação materna, que é bastante te com as mãos, a fim de que não dormis-
útil para o estudo da depressão, bem co- sem. Além disso, a aplicação do método
mo para avaliar a eficácia de antidepres- da plataforma - que consiste em colocar
sivos. Esse modelo consiste em afastar a camundongos em plataformas submer-
mãe de perto dos filhotes por algumas ho- sas em água, de modo que, ao dormirem,
ras durante os primeiros dias de vida. Na caiam na água e então voltem a ficar acor-
vida adulta, esses animais privados dos dados - per1nitiu observar um aumento
cuidados maternos apresentam alterações de estresse oxidativo no hipocampo após
comportamentais e bioquímicas, as quais 72 horas de privação do sono. Após 96 ho-
são encontradas em pacientes com de- ras, foi constatada também diminuição na
pressão. Corroborando esses dados, ratos proliferação celular. Alguns testes clássi-
privados dos cuidados maternos mostra- cos - como o teste da esquiva inibitória e
ram comportamento do tipo depressivo o teste do labirinto aquático, usados pa-
no teste do nado forçado, tiveram aumen- ra avaliar parâmetros cognitivos em ani-
to dos níveis de glicocorticoides e dimi- mais - mostraram déficits na memória e
nuição em neurotrofinas (p. ex., BDNF e no aprendizado, comportamento agressi-
neurotrofina-3 [NT-3]). 13, 14 No entanto, o vo e hiperatividade em roedores subme-
tratamento com antidepressivos em ani- tidos a privação do sono. Alguns neuro-
mais privados dos cuidados maternos foi transmissores, como a dopamina e a se-
capaz de reverter comportamentos do ti- rotonina, encontram-se alterados após a
po depressivo, promovendo um aumento, privação do sono, tendo sido relaciona-
de neurotrofinas e neurogênese. E impor- dos a alterações comportamentais. Priva-
tante notar, entretanto, que há algumas li- ção do sono por curtos ou longos perío-
mitações no modelo animal de privação dos alterou a expressão gênica de vários
materna; alguns grupos de pesquisa, por fatores de transcrição e genes que codi-
exemplo, não têm encontrado alterações ficam neurotransmissores e proteínas en-
Depressão
BO, permitem que se conclua que esse po- pró-inflamatórios, tais como as interleuci-
de ser um bom modelo animal de depres- nas (IL-1, IL-2 e IL-6) e o fator de necrose
são, já que apresenta as validades de face tumoral (TNF). No entanto, o tratamento
e constructo. Quanto à validade preditiva, com antidepressivos diminuiu os níveis de
diferentes classes de antidepressivos tera- IL-4 nesses pacientes.
peuticamente efetivos revertem as altera- Há registros de críticas a modelos
ções comportamentais e moleculares cau- animais de depressão que envolvem o sis-
sadas pela BO, o que permite atribuí-la a tema imune, em virtude de ainda haver
esse modelo. dificuldades em entender a complexidade
das vias de comunicação entre o sistema
-
MODELOS ANIMAIS DE DEPRESSAO -
imune e o cérebro. Apesar disso, alguns es-
tudos vêm sendo desenvolvidos. 22 Em roe-
MANIPULAÇÕES QUÍMICAS dores, a administração de endotoxina, um
componente da parede celular de células
Estimulação do sistema imune gram-negativas, levou a alterações com-
portamentais similares às vistas em huma-
Recentemente, diversos estudos dedicam nos, como anedonia e distúrbios do sono -
especial atenção ao papel do sistema imu- que são relacionados à validade de face - e
ne na depressão. As citocinas, que são me- alterações neuroendócrinas - que compre-
diadores inflamatórios, interagem com endem a validade de constructo. Já o trata-
vias relacionadas a esse transtorno, in- mento com os antidepressivos desipramina
cluindo metabolismo de neurotransmisso- e fluoxetina reduziu a anedonia nesses ani-
res, funções neuroendócrinas e plasticida- mais. Na Tabela 5.3, são apresentados al-
de neural. Pacientes com depressão apre- guns modelos de depressão e seus efeitos
sentam níveis elevados de mediadores nas validades de face e de constructo.
Tabela 5.3
Diferentes tipos de modelos animais de depressão e seus
efeitos sobre parâmetros das validades de face e constructo
Validade de face Validade de constructo
Citocinas
Atividade Eixo pró-infla- Volume
Tratamento Anedonia motora Peso HHA Neurotrofinas matórias hipocampal
A B
Figura 5.1
Teste do nado forçado (A) e teste de suspensão da cauda (B).
Ouevedo & Silva (orgs.)
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Marco A. Romano-Silva
Debora Marques de Miranda
Daniela Valadão Rosa
António Alvim-Soares
Diversos trabalhos na literatura evi- -se aos dos ISRSs, somados ao potencial
denciam a superioridade dos ISRSs em aumento dos níveis pressóricos.
comparação ao placebo no tratamento
do TOM. Além disso, esses medicamentos
apresentam eficácia comparável à de ou-
tras classes de antidepressivos, especial-
Inibidores da monoaminoxidase
mente ADTs. ISRSs são geralmente mais
bem tolerados do que os ADTs, levando Os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs)
a menores índices de abandono do trata- foram os primeiros fár111acos para trata-
mento. Além disso, são mais seguros, cau- mento da depressão. Introduzidos na dé-
sando menos efeitos colaterais anticoli- cada de 1950, foram extensivamente usa-
nérgicos e menor toxicidade cardiovas- dos pelas duas décadas que se seguiram. O
cular. Os efeitos colaterais descritos são: uso desses medicamentos diminuiu subs-
disfunção sexual, alterações de peso e so- tancialmente devido aos efeitos adver-
no, agitação, fadiga, boca seca, distúrbios sos, à interação com alimentos e à intro-
gastrintestinais, osteopenia, risco aumen- dução de novas classes de antidepressivos.
tado de sangramentos e dores de cabeça. Esses fármacos são eficazes no tratamen-
Além disso, uma complicação comum é a to da depressão maior e, particularmente,
síndrome de retirada, que ocorre de 24 a no transtorno depressivo com característi-
72 horas após a interrupção do uso e pro- cas atípicas, bem como nos transtornos bi-
voca ansiedade, insônia, irritabilidade, polares e para tratamento dos casos de de-
entre outros sintomas. pressão fármaco-resistente.
A MAO é uma enzima crítica para are-
gulação dos níveis de neurotransmissor por
catabolizar monoaminas endógenas (p. ex.,
Inibidores da recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina) e
serotonina e noradrenalina aminas
, exógenas (p. ex., dieta de tiramina).
E encontrada por todo o corpo, mas é alta-
A eficácia de venlafaxina, desvenlafaxina e mente concentrada no fígado, nos rins, na
duloxetina, classificadas como IRSNs, tem parede intestinal e no cérebro. A MAO tem
sido demonstrada em diversos estudos dois subtipos: isoenzima A (MAO-A) e iso-
controlados com placebo em pacientes enzima B (MAO-B). A MAO-A é encontra-
com depressão. Em estudos individuais, da predominantemente no trato intestinal,
esses fármacos mostraram-se tão eficazes no fígado e em neurônios adrenérgicos pe-
quanto os ISRSs no tratamento do TOM. riféricos (glândula adrenal, vasos arteriais).
Para a venlafaxina e, talvez, a des- A MAO-B é encontrada principalmente no
venlafaxina (metabólito ativo primário cérebro e no fígado. Contudo, ambos os iso-
da venlafaxina), uma inibição da recapta- tipos são encontrados em todas as áreas
ção de noradrenalina clinicamente signi- mencionadas. Uma vez que 800/o da MAO
ficativa pode não ser alcançada com do- intestinal é MAO-A, esta isoenzima é res-
ses terapêuticas menores. A desvenlafaxi- ponsável primariamente pela degradação
na difere, primariamente, da venlafaxina da tiramina, assim, a inibição da MAO-A é
em dois aspectos: não é metabolizada por associada à reação ao queijo.
CYP2D6 e sua biodisponibilidade é cerca Inibidores MAO podem ser classifi-
de duas vezes a do fár1naco parente. Os cados quanto a reversibilidade e seletivi-
efeitos colaterais dos IRSNs assemelham- dade para MAO-A ou MAO-B:
Ouevedo & Silva (orgs.)
a) Inibidores não seletivos para MAO: fe- boxetina normalmente é bem tolerada ou
nelzina, isocarboxazida e tranilcipro- mais bem tolerada que IMAOs e ADTs, e
•
mina. apresenta menor taxa de interrupção .
b) Inibidores seletivos para MAO: selegili-
na é seletivo para MAO-B; clorgilina é
seletivo para MAO-A. Outras classes
e) Inibidor reversível de MAO: moclobe-
mida. Mirtazapina
,
Recentemente, o sistema transdér- E um antidepressivo de segunda gera-
mico selegilina, ainda não disponível no ção usado para tratamento da depressão
Brasil, tem renovado o interesse por es- maior. Seu efeito antidepressivo deve-se a
se grupo de fármacos, pois oferece a van- vários mecanismos, incluindo o bloqueio
tagem potencial de eliminar restrições de de a 2-adrenoceptores e o aumento na
dieta. transmissão serotonérgica. A mirtazapi-
na bloqueia seletivamente os autorrecep-
tores a2 pré-sinápticos centrais e heteror-
Inibidores da recaptação receptores. O bloqueio desses receptores
de noradrenalina aumenta a transmissão noradrenérgica
e serotonérgica. Além desses, têm-se ob-
Um exemplo clássico dessa classe de subs- servado bloqueio de alta afinidade de re-
tâncias é a reboxetina, que age ligando-se ceptores de serotonina do tipo 2 (5-HT2)
ao transportador de noradrenalina (NAT) e do tipo 3 (5-HT3 ), embora a ligação a
e bloqueando a recaptação de noradrena- 5-HT1A e 5-HT3 seja fraca. Também tem
lina extracelular para o terminal sinápti- ação como antagonista potente de recep-
co, com baixa afinidade para outros trans- tores de histamina, central e periferica-
portadores ou receptores. mente, o que pode explicar alguns efeitos
A dosagem recomendada pela Fede- sedativos. Age, ainda, como antagonista
ração Mundial das Sociedades de Psiquia- de a 1-adrenoceptores periféricos, o que
tria Biológica (WFSBP) 1 é a dose inicial pode resultar em hipotensão ortostática.
começando entre 4 e 8 mg/dia, em adul- Esse antidepressivo tem ainda proprieda-
tos, e entre 8 e 12 mg/dia como dose pa- des anticolinérgicas resultantes de efeito
. , .
drão. Em relação à ação antidepressiva na antagonista em receptores muscarinicos.
depressão unipolar, estudos mostraram O bloqueio de receptores 5-HT2 e 5-HT3
que a reboxetina foi menos eficaz que ou- contribui para as propriedades ansiolíti-
tros antidepressivos de geração mais no- cas e de melhora do sono. Foi observada
va. Não obstante, ela tem sido usada pa- redução da latência, aumento do tempo
ra tratamento de diversos transtornos psi- total e eficiência do sono em um período
quiátricos além da depressão maior, como de duas semanas em voluntários saudá-
depressão sazonal, transtorno de défi- veis e em indivíduos com depressão.
cit de atenção/hiperatividade (TDAH),
transtorno de ansiedade generalizada,
bulimia. Os efeitos colaterais incluem bo- Bupropiona
ca seca, constipação, dor de cabeça, ton- ,
tura, sonolência, sudorese excessiva e in- E um antidepressivo de segunda geração
sônia. Entretanto, como a maioria dos que age por meio da inibição da recapta-
antidepressivos de terceira geração, a re- ção de dopamina e noradrenalina e, di-
Depressão
ferentemente de outros antidepressivos, bora ainda não tenha passado da Fase III
não tem efeito direto na neurotransmis- nos Estados Unidos. De maneira geral, pa-
são serotonérgica. Tem um perfil de to- rece ser bem tolerada, sem diferença sig-
lerabilidade favorável, com efeitos míni- nificativa na taxa de descontinuação com-
mos na função sexual, incidência de so- parada com placebo. Um efeito adverso
nolência similar ou menor que placebo e preocupante é a elevação das transamina-
efeito favorável nos parâmetros de peso ses hepáticas. Outros estudos são necessá-
corporal, fatores que contribuem para a rios para avaliar se as elevações de transa-
adesão ao tratamento. Recentemente, foi minase observadas ou a eficácia aparente-
recomendada pela American Psychiatric mente modesta nesses testes pode limitar
Association2 como opção de tratamento a utilização desse agente.
farmacológico de primeira linha para de-
pressão na maioria dos pacientes.
Uma recente metanálise multitrata- Trazodona
mento de 12 antidepressivos de segunda
geração (citalopram, duloxetina, escitalo- Aprovada pela Food and Drug Adminitra-
pram, fluoxetina, fluvoxamina, milnaci- tion (FDA) 3 em 1981, é inibidor do trans-
pran, mirtazapina, paroxetina, reboxeti- portador de serotonina e antagonista dos
na, sertralina e venlafaxina) mostrou que receptores de serotonina do tipo 2A e 2C
a bupropiona tem efeito similar, em ter- (S-HT2A e 5-HT2c); é, também, antagonis-
mos de taxa de resposta edefinida como ta dos receptores de histamina Hl e a 1-
a proporção de pacientes que têm redu- -adrenérgico. Embora sintetizada na dé-
ção de SOO/o no escore basal das escalas cada de 1960, a trazodona não tem sido
de depressão de HAM-D ou Montgomery- largamente usada como antidepressivo,
-Asberg [MADRS], ou que tenham escore em parte porque doses diárias divididas
aumentado no Clinicai Global Impression em duas vezes têm sido recomendadas,
Improvement [CGI-I] em oito semanas), em parte porque altas doses têm um perfil
à maioria dos outros antidepressivos, sen- de tolerabilidade menos favorável. Ambos
do superior à reboxetina, e tendo perfil de os fatores foram significativamente resol-
aceitação favorável. vidos com a introdução da apresentação
de liberação controlada.
Em um dos estudos com a formu-
Agomelatina lação prolongada por seis semanas, 412
, indivíduos com depressão maior recebe-
E um agonista de receptores de melatoni- ram trazodona titulada para uma média
na MTl e MT2 e um antagonista de recep- de dose máxima de 310 mg ou placebo.
tores de serotonina do tipo 2C (S-HT2 c). Ao fim do estudo, a trazodona demons-
Sua ação resulta em aumento das concen- trou diminuição estatisticamente signifi-
trações de noradrenalina e de dopamina cativa na Escala de Hamilton para Depres-
no córtex pré-frontal, com efeitos míni- são (HDRS-17).
mos no peso corporal e na função sexual.
Por meio do agonismo de receptores MT,
promove o sono, de maneira similar ao Benzodiazepínicos
hipnótico ramelteon, tendo efeito correti-
vo sobre os distúrbios do sono observados Em virtude de seu rápido início de ação
na depressão maior. A agomelatina está e por reduzirem a ansiedade, a insônia e
disponível na Europa há vários anos, em- a agitação em alguns pacientes, os ben-
Ouevedo & Silva (orgs.)
zodiazepínicos têm sido largamente em- O papel dos ácidos graxos ômega-3
pregados em associação aos antidepressi- na depressão ainda requer maiores evi-
vos no tratamento da depressão. Em uma dências, já que, em boa parte dos traba-
metanálise, o uso combinado de antide- lhos, foram empregados como terapia ad-
pressivo e benzodiazepínico foi associado juvante no tratamento desse transtorno.
a taxas de resposta superiores ao uso iso-
lado de antidepressivos (63 versus 38%).
' exceção de alguns triazolo-benzodia-
A ESTRATÉGIAS DE POTENCIALIZAÇÃO
zepínicos, como o alprazolam, os ben-
zodiazepínicos não apresentam ação an- Psico estimulantes
tidepressiva, não sendo, dessa forma,
recomendados para o uso isolado na de- Em virtude de seu efeito sobre a transmis-
-
pressao. são dopaminérgica, os psicoestimulantes
metilfenidato e dextroanfetamina têm si-
do utilizados como estratégia de potencia-
Erva-de-são-joão lização ao tratamento com antidepressi-
vos, sobretudo em pacientes com quadro
O emprego da erva-de-são-joão (extrato de intensa fadiga e apatia. Com caracte-
de hypericum perforatum) no tratamento rísticas farmacológicas distintas dos tra-
da depressão ainda é tema de grande con- dicionais psicoestimulantes, o modafinil
trovérsia, sobretudo pela grande hetero- tem se mostrado promissor na melhora de
geneidade dos métodos empregados nos sintomas depressivos residuais, sobretu-
estudos, bem como pelos resultados con- do fadiga e sonolência diurna. Para tan-
flitantes. Dessa forma, seu uso não é re- to, doses que variam de 100 a 400 mg/dia
comendado para o tratamento da depres- podem ser empregadas.
são, sobretudo em casos graves. As doses
empregadas variam de 300 a 1.800 mg/
dia e especial atenção deve ser dada ao Tri-iodotironina
perfil desfavorável de interações medica-
mentosas, já que é um importante indutor Diversos trabalhos mostraram a eficácia
do metabolismo de fármacos via CYP 3A4. da tri-iodotironina (T3) em potenciali-
zar e acelerar a resposta em pacientes em
uso de ADTs e ISRSs. As doses emprega-
S-adenosil-metionina e das variam de 25 a 50 µ,g/ dia, com boa to-
ácidos graxos ômega-3 lerância. Ainda que os mecanismos subja-
centes aos efeitos terapêuticos sejam des-
Diversos estudos têm demonstrado a efi- conhecidos, acredita-se que a T3 atue na
cácia terapêutica da S-adenosil-metioni- - -
" . por açoes em receptores
expressao genica
na (SAM) no tratamento da depressão, em nucleares ou ligados à membrana celular.
doses que variam de 800 a 1.600 mg/dia.
De ocorrência natural, seus níveis encon-
tram-se diminuídos no líquido cerebros- Lítio
pinal de pacientes com depressão. A SAM
é doadora de metil na síntese de diversos O lítio é um dos agentes mais antigos e
componentes biologicamente ativos, como mais usados como estratégia de potencia-
fosfolipídeos, catecolaminas e serotonina. lização. Para resposta adequada, a litemia
Depressão
deve ser mantida entre 0,6 e 0,8 mmol/L. ponderam ao tratamento combinado, as-
As doses empregadas variam de 600 a sim como a eletroconvulsoterapia (ECT).
1.200 mg/dia de carbonato de lítio.
Depressão com
Antipsicóticos de segunda geração sintomas melancólicos e
depressão com sintomas atípicos
Dados atuais suportam o uso de antipsi-
cóticos de segunda geração (ASGs) co- Nos casos de depressão com sintomas me-
mo estratégia de potencialização do tra- lancólicos, parece haver certa vantagem
tamento, com maiores evidências para dos IRSNs e ADTs sobre os ISRSs. Especial
o aripiprazol, a quetiapina e a combina- atenção deve ser dada ao risco aumenta-
ção olanzapina-fluoxetina, aprovados pe- do de suicídio nessa população de pacien-
la FDA para tal finalidade. Especial aten- tes, casos em que a ECT também se mos-
ção deve ser dada ao perfil de efeitos cola- tra uma boa opção.
terais metabólicos desses fármacos. No tratamento do TOM com sinto-
mas atípicos, os IMAOs apresentam efi-
cácia superior aos ADTs. Alguns trabalhos
Pindolol envolvendo ISRSs e bupropiona também
mostraram resultados satisfatórios.
É um antagonista parcial dos autorrecep-
tores 5-HT1A somatodendríticos. Há evi-
dências de que, quando administrado em Depressão com ideação suicida
conjunto aos ISRSs, pode acelerar o iní-
cio de ação e levar ao aumento da eficá- O risco de suicídio deve ser avaliado no
cia terapêutica em doses de 2,5 mg três início e ao longo de todo o tratamento.
vezes ao dia. Caso o paciente apresente ideação suici-
da, uma observação próxima se faz ne-
cessária e, em certos casos, a internação
CASOS ESPECIAIS psiquiátrica pode ser imprescindível. O
tratamento farmacológico deve ser pron-
Depressão com sintomas psicóticos tamente instituído, evitando-se o uso de
antidepressivos que aumentem o grau de
A presença de sintomas psicóticos acom- ativação do paciente. Além disso, como
panhando o quadro depressivo é uma forma de reduzir o risco de autoextermí-
causa frequente de falha no tratamento. nio, fatores potencialmente modificáveis,
Nesses casos, a combinação de antide- como ansiedade, insônia, agitação, sinto-
pressivos e antipsicóticos tem se mostrado mas psicóticos e abuso de substâncias, de-
superior ao tratamento com qualquer um vem ser tratados.
dos dois de forma isolada. Até a presen- Alguns autores recomendam a asso-
te data, parece não haver superioridade ciação de antipsicótico ou benzodiazepí-
dos antipsicóticos de segunda geração em nico ao tratamento. Mais recentemente,
relação aos de primeira geração em ter- em uma análise retrospectiva de estudos
mos de eficácia no tratamento da depres- envolvendo pacientes com TOM, uma as-
são psicótica. A potencialização com lítio sociação entre o uso de lítio e menores ta-
pode ser útil em pacientes que não res- xas de suicídio foi identificada. Naqueles
Ouevedo & Silva (orgs.)
com risco elevado ou em que uma respos- ambas, medicação antidepressiva e cog-
ta rápida é almejada, o uso de ECT deve nitiva, pode complicar o manejo de efei-
ser ponderado. tos e eventos adversos, particularmente
complicações gastrintestinais. A exceção é
quando há suspeita de demência, embora
Pacientes idosos não confirmada, em paciente idoso depri-
mido, caso em que o tratamento com ini-
O envelhecimento é acompanhado de bidor da colinesterase (p. ex., donepezil,
inúmeras mudanças farmacocinéticas e galantamina, rivastigmina) ou com anta-
farmacodinâmicas que podem influenciar gonista de memantina (NMDA) pode ser
a ação dos antidepressivos. Além disso, a justificado, dependendo da gravidade da
polifarmácia, comum em idosos, aumenta doença.
o risco de vários efeitos adversos.
Os ISRSs são os antidepressivos de
escolha em idosos, em virtude de sua efi- Pacientes com comorbidades clínicas
cácia e melhor tolerabilidade. Todavia,
deve-se ter especial atenção ao risco au- Ao se tratar um paciente com sintomas
mentado de sangramento no trato gas- depressivos e comorbidades clínicas, es-
trintestinal, fraturas e hiponatremia que pecial atenção deve ser dada ao maior ris-
podem advir com o uso de tal classe de co de efeitos colaterais e às interações me-
medicamentos. dicamentosas. Na escolha do medicamen-
Os pacientes idosos são particular- to a ser empregado, é prudente evitar a
mente sensíveis à sedação, à hipotensão polifar1nácia, procurando beneficiar-se de
e aos efeitos anticolinérgicos dos ADTs, possíveis efeitos colaterais, como sonolên-
os quais podem incluir agitação, confu- cia e aumento do apetite. Dependendo do
são, alucinações e prejuízo da atenção e quadro clínico, a avaliação das funções
memória. Dessa forma, por apresentarem hepática, renal e cardíaca é mandatária.
perfil de efeitos colaterais menos inten- Quando os sintomas depressivos são
sos, as aminas secundárias nortriptilina e acompanhados de dor neuropática ou mi-
desipramina são os ADTs de escolha nes- grânea, a duloxetina e os ADTs são boas
sa população. opções. Em pacientes com quadros abdo-
Embora a depressão geralmente se- minais funcionais, ISRSs e ADTs têm sido
ja caracterizada como transtorno do hu- empregados com êxito. Naqueles com in-
mor, há aumento do reconhecimento de sônia, o clínico pode lançar mão da mir-
que é também um transtorno cognitivo tazapina, ao passo que, nos pacientes com
para muitos idosos. A comorbidade entre queixa de fadiga, a bupropiona pode ser
depressão e declínio cognitivo é uma pre- considerada.
ocupação clínica particular, estando asso-
ciada a maiores taxas de resultados adver-
sos para saúde física, estado funcional e Depressão perinatal
mortalidade. No geral, não se inicia um ,
tratamento farmacológico específico pa- E definida como a depressão que aconte-
ra sintomas cognitivos em pacientes de- ce com pelo menos um episódio depressi-
primidos agudos quando o dano cogniti- vo maior durante a gestação ou nos pri-
vo é consistente com o transtorno depres- meiros seis meses após o parto. Os riscos
sivo apresentado. Além disso, começar de uso de antidepressivos devem ser con-
Depressão
Gepirona ER Ketamina
Tendo sido estudada por seus efeitos na O sistema glutamatérgico e os mecanis-
ansiedade por mais de 20 anos e, recente- mos moleculares relacionados à plastici-
mente, em estudo para depressão maior, dade sináptica e neuronal surgiram como
a gepirona ER é uma azapirona relacio- componentes-chave de uma nova geração
nada à buspirona que age como agonis- de modelo da depressão e terapêutica an-
ta de receptores de serotonina do tipo IA tidepressiva. Em um novo conceito clíni-
(5-HT1A) e requer apenas uma dose diá- co, tendo como alvo o sistema glutama-
ria. Um ensaio clínico randomizado con- térgico, relatou-se o primeiro achado de
Ouevedo & Silva (orgs.)
resposta antidepressiva rápida usando ke- nidades distintas para diferentes trans-
tamina, antagonista do receptor NMDA. portadores. Os compostos mais estudados
Os efeitos antidepressivos observa- são brasofensine (NS-2214), dichloropa-
dos proveem uma razão para investigar ne (RTI-111, 0-401), diclofensine (Ro-8-
antagonistas NMDAR e outros modulado- 4650), indatraline (Lu-19-005) e tesofen-
res do sistema glutamatérgico como no- sine (NS-2330). Um início de ação mais
vos alvos para o desenvolvimento tera- rápido é a expectativa principal em rela-
pêutico na depressão. Além do antago- ção aos TRls. O principal objetivo desses
nismo NMDAR, a ketamina potencializa antidepressivos é estabelecer maior eficá-
a transmissão de glutamato nos recepto- cia em termos de resposta e taxa de re-
res AMPA (a-amino-3-hydroxy-5-methyl-4- missão, enquanto mantêm um perfil favo-
-isoxazolepropionic acid receptors) e tem rável de tolerabilidade devido à ação sele-
efeito inibitório adicional nos receptores tiva nos transportadores de monoaminas.
muscarínicos de acetilcolina. Receptores Até o momento não há TRI no mercado,
NMDAR, AMPAR e kainato são receptores sendo que a maioria deles está em proces-
ionotrópicos que se localizam ao longo do so de testes pré-clínicos.
sistema nervoso central e exercem papel
principal no processo de sinalização de si-
. , .
napses exc1tator1as.
-
CONCLUSOES
Vários estudos relatam que a ketami-
na e outros antagonistas NMDAR aumen- Novas vias vêm sendo investigadas, levan-
tam a sinalização glutamatérgica no cór- do ao desenvolvimento de novos medica-
tex de roedores, potencialmente por meio mentos que, no entanto, chegam à popu-
da inibição de interneurônios GABAérgi- lação ainda com lentidão, o que contribui
cos e subsequente desinibição de neurô- para a manutenção da alta prevalência da
nios piramidais corticais. O aumento da doença e seu impacto socioeconômico pa-
atividade em sinapses piramidais gluta- ra o indivíduo, a família e a sociedade.
matérgicas por ketamina pode ser consis- Entretanto, nos últimos 20 anos, a farma-
tente com a observação de aumento da cologia da depressão já apresentou saltos
plasticidade sináptica cortical. Estudos de importantes, com melhora da eficácia do
neuroimagem em humanos sugerem que tratamento e menos efeitos colaterais. A
doses subanestésicas de ketamina resul- necessidade do longo tempo de tratamen-
tam no aumento da atividade cortical, in- to ainda resulta em baixa adesão, urgin-
cluindo as regiões do córtex pré-frontal e do o desenvolvimento de fármacos com
o córtex cingulado anterior. propriedades que permitam menor núme-
ro de doses e redução do tempo de trata-
mento, o que ainda são perspectivas dis-
Inibidores da recaptação tripla tantes, que podem surgir de mecanismos
alternativos como, por exemplo, a via glu-
Inibidores da recaptação de serotonina, tamatérgica. Outro ponto importante no
noradrenalina e dopamina, mais conhe- tratamento da depressão é que tratamen-
cidos como TRls, são uma classe de an- tos não farmacológicos, como a ECT, apre-
tidepressivos em desenvolvimento com o sentam indicação bem estabelecida e im-
objetivo de inibir seletivamente os trans- prescindível em casos específicos. Ampla
portadores de serotonina, noradrenalina expansão do rol de fármacos ainda será
e dopamina. Durante os últimos anos, vá- necessária para o tratamento personaliza-
rios compostos foram estudados com afi- do dos pacientes com depressão.
Tabela 6.1
Resumo do perfil farmacológico dos principais agentes antidepressivos
Dose Náuseas/ Efeitos Inibição de
Mecanismo usual Anticoli- Insônia/ Hipotensão gastrin- Disfunção Ganho colaterais enzimas
, .
Fármaco de ação (mg/dia) nerg1co Sedação agitação postural testinais sexual de peso específicos hepáticasª
- = Inexistente ou pouco significativo, + = Leve, ++ = Moderado, ++ + = Significativo. HAS - hipertensão arterial; EEH - elevação de enzimas hepáticas; RLC - redução do
limiar convulsivo; SS - síndrome serotonérgica; ECG - alargamento OT; CHP - crise hipertensiva; IRS - inibição da recaptação de serotonina; IRN - Inibição da recaptação de
noradrenalina; IRO - inibição da recaptação de dopamina; RIMA - inibição reversível da MAO; a - Em negrito, os de maior intensidade.
Depressão
Experiências precoces
(p. ex., crítica e rejeição dos pais)
Incidentes críticos
(eventos e perdas)
Ativação de pressupostos
' r
Depressão
Figura 7.1
Modelo da terapia cognitiva na depressão.
a aceitar atitudes e crenças que posterior- rar suas dificuldades e resolver seus pro-
mente provarão ser mal-adaptadas. blemas.
Esses esquemas mal-adaptativos têm Para explicar esse funcionamento
. .,... . . psicológico na depressão, o modelo cogni-
origem em experiencias que as crianças
percebem como dolorosas e que podem tivo pressupõe, além dos esquemas e dis-
gerar dificuldades para enfrentar situações torções cognitivas, um terceiro elemento
e problemas na vida adulta, enquanto os básico: a tríade cognitiva. 1,2
esquemas adaptativos surgem a partir das O conceito de tríade cognitiva é a
vivências saudáveis e positivas da criança formulação de ideias e crenças sobre:
e contribuem para seu desenvolvimento
saudável. 7 Uma vez ativados, os esquemas 1. si mesmo, na qual a pessoa tende a
mal-adaptativos dão origem às distorções ver-se como inadequada ou inapta;
cognitivas, influenciando o conteúdo dos 2. suas experiências, visão negativa do
pensamentos, que se tornam pessimistas, mundo, incluindo relações interpes-
catastróficos, negativos e autorreferentes. soais, trabalho e atividades; e
Quanto mais ativos estão os esquemas, 3. visão negativa do futuro, o que pare-
mais surgem distorções cognitivas que ge- ce estar cognitivamente vinculado ao
neralizam para várias outras situações. grau de desesperança, favorecendo o
Assim, fica mais difícil o paciente supe- surgimento de sintomas depressivos.
Ouevedo & Silva (orgs.)
1 Realizar uma avaliação do caso para formular os problemas do paciente em termos cognitivos
e identificar qual tratamento/técnica é mais apropriado para estabelecer metas.
2 Identificar quais fato res da psicoterapia favorecem resu ltados positivos. A cada sessão, deve-
-se realizar uma avaliação do andamento da terapia.
3 Explicar ao paciente o modelo cogn it ivo, o que são pensamentos automáticos e como identi-
ficá-los. Quando o terapeuta identif ica, com o paciente, pensamentos disfuncionais, deve aju-
dá-lo a modificá-los, o que acarreta alívio dos sintomas.
4 Conceituar as dificuldades, em termos cognitivos, considerando: dados de infância, proble-
mas atuais, crenças centrais, crenças e regras condicionais, estratégias compensatórias, situ-
ações vulneráveis, pensamentos automáticos, emoções e comportamentos (compartilhando,
quando necessário, esses dados com o paciente).
5 Identificar com o paciente se os pensamentos automáticos são funcionais (condizentes com a
situação) ou disfuncionais (com conteúdo distorcido).
6 Ensinar um método de análise dos pensamentos disfuncionais para transformá-los em realis-
, .
tas e ute1s.
7 Após o alívio dos sintomas, o foco principal do tratamento passa , a ser as crenças (intermedi-
árias e centrais), principalmente aquelas que são disfuncionais. E importante ressaltar que a
modificação profunda de crenças mais fundamentais torna os pacientes menos propensos a
apresentar recaída no futuro. 1
Ouevedo & Silva (orgs.)
soa. O terapeuta deve ''montar uma histó- O atendimento em grupo não consis-
ria'' da vida do paciente, desde seu nasci- te apenas em juntar pessoas com caracte-
mento (ou mesmo até antes dele) até os rísticas semelhantes, mas em agrupar pes-
dias atuais. soas com objetivos comuns. O profissional
Quando o paciente se depara com que coordena o trabalho em grupo deve
um problema, é importante que ele per- ter base teórica e conhecimentos especí-
ceba que o obstáculo não é uma situação ficos sobre o processo grupal, bem como
impossível, mas sim uma solução inapro- um referencial teórico a seguir. As vanta-
priada para aquela determinada situação. gens em se trabalhar com grupo são: maior
Nessas ocasiões, é imprescindível que re- possibilidade de observação das interações
conheça quais são os sentimentos e os estabelecidas e dos comportamentos inter-
pensamentos relacionados à dificuldade, pessoais; o grupo pode ser um espaço ade-
ou seja, qual é a interpretação que o sujei- quado para aprender a se relacionar; pode
to atribui a ela. O fato não pode ser muda- oferecer uma melhor relação custo-eficá-
do, o que se pode mudar são os sentimen- cia; permite que os participantes identifi-
tos e comportamentos por meio da mu- quem problemas semelhantes em seus pa-
dança de crenças eou seja, o significado res; previne sobre situações ao ouvi-las de
dado aos fatos). outros; proporciona maior possibilidade
Durante o processo terapêutico, vá- de dar e receber feedback sobre a forma de
rias técnicas são utilizadas na sessão, com se relacionar; possibilita o surgimento, no
o intuito de levar o paciente a identificar cenário, de mais soluções para os proble-
, . ,.., .
pensamentos automat1cos, emoçoes, situ- mas apresentados. Outra vantagem é que
ações e a resolver problemas, entre ou- o trabalho em grupo proporciona aos seus
tros. A TCC tem uma forma didática, na membros fazer observações sobre outros
qual o paciente assume uma postura ativa membros, que são aceitas com mais facili-
no tratamento. dade do que se fossem feitas pelo coorde-
O objetivo dessa abordagem é que, nador do grupo. 12
com o tempo, o paciente não necessite No trabalho em grupo, deve-se, pri-
mais da ajuda do terapeuta e possa en- meiramente, definir o contrato de tra-
frentar suas dificuldades sozinho. O pa- balho daquele grupo particular eou seja,
ciente deve realizar as técnicas durante quais são as regras, o tempo de duração
as sessões com o terapeuta, e sozinho, em e os objetivos), e integrar os componen-
seu dia a dia. tes, por meio de técnicas específicas, para
a formação do grupo. Os passos seguintes
são os mesmos do modelo de atendimen-
Terapia cognitivo-comportamental to descrito anteriormente, adaptados, no
em grupo 11 entanto, para o trabalho em grupo. Várias
das técnicas apresentadas podem ser uti-
A terapia em grupo normalmente ocorre lizadas em grupo; algumas podem tornar-
em instituições em função da grande de- -se até mais eficazes, pois permitem o sur-
manda de atendimentos versus a escassez gimento de ideias que um determinado
de profissionais. Em outras ocasiões, ela é paciente não poderia vislumbrar sozinho.
uma opção para pacientes que têm dificul- Quando um participante levanta um
dades nos relacionamentos interpessoais, tema, essa discussão deve ser comparti-
pois, nesse tipo de abordagem, pode-se lhada pelo restante do grupo. Por exem-
trabalhar déficits gerados nesse contexto. plo, em um grupo for1nado por pacientes
Depressão
cognitivas que muitas vezes são incompa- borativa, na qual cliente e terapeuta são
tíveis com a emoção vivenciada em uma igualmente "especialistas'' em sua explo-
determinada situação. São os esquemas ração conjunta, sendo que o cliente pos-
emocionais, construídos desde a infân- sui maior conhecimento das disposições
cia, que levam a essas interpretações. A e limitações de seu sistema de significa-
concepção construtivista enfatiza a parti- dos e o terapeuta oferece habilidades es-
cipação dos esquemas emocionais no de- peciais na facilitação do processo de mu-
senvolvimento do indivíduo, sendo que dança humana. Como consequência, a te-
toda a forma de emoção é vista como ba- rapia torna-se uma busca colaborativa e
sicamente adaptativa. Assim, pouquíssi- respeitosa de um sistema de significados
mas vezes a emoção poderá apresentar- pessoais, revisado e ampliado. 20
-se de maneitra equivocada. Equivocados O terapeuta construtivista deve
estarão os pensamentos ou o entendi- construir uma ponte (emocional) den-
mento desenvolvido a respeito da vivên- tro da experiência subjetiva do cliente, na
cia emocional. As disfunções e os distúr- tentativa de procurar ''experimentar'' os
bios emocionais surgem quando a pes- frequentes e idiossincráticos significados
soa não se sente autorizada a reconhecer, que este atribuiu aos eventos que cons-
sentir ou até mesmo validar determina- tituem o seu mundo pessoal. 20 Para isso,
das emoções. 16 as técnicas focalizam as narrativas que o
Dessa forma, não serão as emoções cliente faz, permitindo, assim, que ele e o
em si a fonte do sofrimento, mas os pen- terapeuta construam juntos novos signifi-
samentos tidos a respeito dessas mes- cados, agora não tão limitados pelos sig-
mas emoções que se constituem na fonte nificados emocionais anteriores, mas fa-
de grande parte das disfunções psicológi- vorecidos por significados mais amplos e
cas.17 Portanto, o indivíduo torna-se de- atualizados. 18 Com esse papel, o terapeu-
sorientado quando a síntese dialética en- ta pode tornar-se uma figura de apego ou
tre essas duas fontes de informação ("co- de vinculação. Muitos clientes esperam,
ração'' + "cabeça'') apresenta-se de forma nessa nova interação, uma relação que re-
contraditória, incompatível ou inconsis- produza os aspectos similares das intera-
tente, já que as construções de significa- ções desenvolvidas anterior1nente, com as
do não levam em consideração a experi- tradicionais dificuldades e peculiaridades,
ência corporal-imediata que está sendo e, por isso, o vínculo desenvolvido na re-
vivida. 18 Nesse contexto, a crise psicológi- lação terapêutica torna-se um importante
ca é indicativa de um processo ainda ina- instrumento de trabalho.
cabado, sendo, portanto, entendida como Observar o tipo de vínculo que se es-
aspecto positivo. O objetivo, nessa psico- tabelece entre terapeuta e paciente per-
terapia, é a desorganização dos significa- mite o trabalho de ressignificação do mo-
dos limitantes que fazem com que o pro- do pelo qual esse paciente se relaciona e a
cesso de mudança fique estagnado. Surge interferência disso em seu quadro clínico.
daí um velho ditado que afirma serem os Torna-se óbvio, dessa forma, que o vín-
psicoterapeutas construtivistas desorgani- culo desenvolvido entre o profissional e
zadores previamente orientados. 19 o cliente é uma ferramenta extremamen-
Do mesmo modo que nos outros ti- .
te importante " .
para o processo terapeut1-
pos de terapia cognitiva, o terapeuta co. Por isso, quanto mais rápido esse vín-
construtivista também tem um papel ati- culo for construído, mais rápido os sinto-
vo. A diferença ocorre na postura cola- mas diminuirão. 20
Depressão
entre as sessões, bem como buscam solu- ajudar os clientes a atingirem seus valo-
cionar todos os entraves à ativação que res e metas.
•
possam surgir. A ACT é uma intervenção psicológica
com base empírica; usa a aceitação do so-
frimento e estratégias de meditação jun-
Terapia comportamental dialética tamente com compromisso e mudanças
comportamentais para desenvolver flexi-
A terapia comportamental dialética (TCD) bilidade psicológica. Essa modalidade de
foi desenvolvida para o tratamento de terapia é baseada em uma orientação fi-
clientes altamente suicidas com diagnósti- losófica, denominada contextualismo fun-
co de transtorno da personalidade border- cional, e na teoria de quadros relacionais
line. 39 A terapia consiste em uma série de (teoria sobre linguagem e cognições ba-
habilidades que são ensinadas aos clien- seada na análise do comportamento). Ela
tes para ajudá-los na regulação do humor. ensina a não tentar controlar pensamen-
Uma das habilidades fundamentais utili- tos e sentimentos, apenas observá-los e
zadas na TCD é referida como ''ação con- aceitá-los. Procura ajudar o indivíduo a
trária'', em que os clientes são ensinados ter seus valores claros e a agir para con-
a agir de maneiras que são opostas à ação seguir atingi-los, dando sentido e vitalida-
referente às emoções que eles querem de à sua vida. Encara os processos psico-
mudar. Por exemplo, uma pessoa que sen- lógicos da mente humana como prejudi-
te raiva de um atendente de uma loja po- ciais, levando à esquiva, à fusão cognitiva
de agir de forma oposta, sorrindo e dizen- e à rigidez psicológica, mantendo o sofri-
do em tom caloroso e amigável: "Obriga- mento e impedindo uma solução. A ACT
do, tenha um ótimo dia''. Dessa forma, a tem sido usada com sucesso no tratamen-
TCD é ''ação contrária'' para a depressão. to da depressão.
O impulso na depressão muitas vezes não
, . .
e para agir, mas para escapar ou evitar, a
ativação vai contra essa vontade. 37 Mindfulness baseada
Entretanto, entender o termo "dia- na terapia cognitiva
lética'' é importante, pois este possui di-
,
ferentes significados na filosofia, na his- E um programa baseado na integração da
tória, na política, na literatura e na psi- terapia cognitivo-comportamental com a
coterapia. Para os fins psicoterapêuticos, mindfulness, esta última sendo uma prática
baseia-se em uma visão de mundo dialéti- terapêutica de consciência no presente. Foi
ca que se refere principalmente a um con- desenvolvida com o objetivo de reduzir re-
junto de intervenções fundamentadas em caídas e recorrências para aqueles que são
aceitação e mudanças como importantes vulneráveis a episódios de depressão.
estratégias de tratamento. 40 A partir dessa perspectiva, a aceita-
ção é um pré-requisito para a atenção. Se-
ria difícil para um cliente, por exemplo,
Terapia aceitação e compromisso ser consciente de suas sensações de de-
pressão sem aceitar que elas estão presen-
Desenvolvida por Hayes e colaborado- tes. Para isso, é importante estarem cons-
res, 41 e Saban,42 a terapia de aceitação e cientes e despertos para a experiência do
compromisso (ACT) enfatiza a importân- momento presente. Quando vista a par-
cia de se quebrar padrões de esquiva e as- tir dessa perspectiva, a aceitação pode ser
sumir um compromisso de ação que irá considerada um subconjunto de interven-
Depressão
ções de atenção plena, em que um aspec- 4 . Beck AT, Wright FD, Newman CF, Liese BS. Cog-
nitive therapy of substance abuse. New York:
to da atenção estimula o cliente, sem jul-
Guilford; 1993.
gamento, a aceitar ou permitir que a ex-
5. Riso LP, Toit PL, Stein DJ, Young JE, editors. Cogni-
periência atual se desenvolva. 38 tive schemas and core beliefs in psychological pro-
Nessa abordagem, não são os pensa- blems: a scientist-practitioner guide. Washington:
mentos disfuncionais que causam a recaí- American Psychological Association; 2007.
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o cliente aprende a perceber os primeiros
7. Scribel MC, Sana MR, di Benedetto AM. Os es-
sinais de alteração emocional e, ao mes- quemas na estruturação do vínculo conjugal.
mo tempo, mantém uma perspectiva ade- Rev Bras Ter Cogn. 2007;3(2) .
quada sobre os pensamentos depressogê- 8 . Moore RG, Garland A. Cognitive theory for chro-
nicos que emergem.43 nic and persistent depression. Chichester: John
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9 . Knaap P, organizador. Psicoterapia cognitivo-
-
CONCLUSAO -comportamental na prática psiquiátrica. Porto
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A TCC é uma abordagem focal que tra- gens atuais. Porto Alegre: Artmed; 2007.
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vos bem delimitados e com procedimen- mental em grupo. Santo André: Esetec; 2008.
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Marcelo Pio de Almeida Fleck
Lívia Hartmann de Souza
menta, entre as quatro que seguem: luto, que é. A ênfase será na busca de um cami-
disputa interpessoal, mudança de papel e nho para sair dos problemas.
déficit interpessoal. A técnica aborda questões interpes-
O segundo conceito básico que nor- soais atuais e não passadas. 1,3 Explora
teia a TIP é o reconhecimento de três par- - . . - . , .
questoes 1nterpessoa1s e nao 1ntraps1qu1-
tes que constituem a depressão: os sin- cas. Reconhece as questões intrapsíquicas,
tomas, a vida social e interpessoal (inte- mas não as aborda diretamente. Da mes-
ração com outras pessoas, o papel social ma forma, reconhece os transtornos ou
assumido) e a personalidade do indiví- traços de personalidade do paciente, en-
duo (padrões duradouros por meio dos tende que eles podem influenciar a res-
quais as pessoas lidam com a vida, co- posta ao tratamento e a relação com o te-
mo se impõem, expressam sentimentos). rapeuta, mas não os aborda diretamente.
A TIP aborda os dois primeiros itens, não Na TIP, o terapeuta procura estabe-
se propondo a tratar a personalidade do lecer uma relação positiva com o pacien-
indivíduo. Mesmo assim, observa-se que te, podendo comunicar-se de forma calo-
o ganho de habilidades interpessoais por rosa, sendo otimista e suportivo. Procura
meio da TIP pode compensar dificuldades fomentar as expectativas positivas do pa-
ligadas à personalidade. Em outros casos, ciente em relação à terapia, acreditando
uma vez esbatidos os sintomas da depres- que os problemas dele são transitórios e
são, as dificuldades previamente atribuí- que serão resolvidos uma vez que a depres-
das à personalidade se dissipam. 1,3 Nesse são for tratada. Nesse sentido, diz-se que o
sentido, a TIP aborda a depressão como terapeuta é um aliado do paciente, não fa-
uma doença clínica que traz limitações ao zendo julgamentos. A confrontação, quan-
paciente e que tem um tratamento defini- do necessária, é gentil e no tempo adequa-
do, inserida, portanto, no modelo médico. do.1 Nessa técnica, o terapeuta tem papel
Os objetivos da TIP são reduzir os sinto- um pouco mais ativo do que o psicotera-
mas da depressão e ajudar o paciente a li- peuta de orientação analítica, inicialmen-
dar melhor com as pessoas e situações de te fazendo as perguntas necessárias para o
sua vida associadas ao início da doença. diagnóstico da depressão, para a elabora-
A TIP trabalha nos níveis consciente ção do inventário interpessoal e para a de-
e pré-consciente. O terapeuta de TIP re- finição da área-problema. Posteriormente,
conhece e identifica as manifestações dos ajudando o paciente a conectar sentimen-
conflitos inconscientes, entretanto, não tos com os comportamentos interpessoais,
aborda essas questões diretamente. 1 A ên- alertando-o para não sair do foco definido,
fase é dada sobre as disputas atuais, as evitando longos silêncios e associações li-
frustrações, as ansiedades e os desejos de- vres. Além disso, é papel do terapeuta aju-
finidos no contexto interpessoal atual. A dar o paciente a explorar opções para suas
TIP objetiva que o paciente mude, e não dificuldades interpessoais, algumas vezes
apenas que entenda sua situação de vida. podendo até aconselhar e sugerir saídas,
A influência das experiências infantis é muito embora se entenda que os resulta-
reconhecida, mas não diretamente abor- dos alcançados são melhores quando as
dada pela técnica. O terapeuta não irá perguntas possibilitam ao paciente descre-
centrar-se na infância, no caráter ou nas ver suas alternativas e fazer suas próprias
defesas psicodinâmicas e origens dos sen- escolhas. O terapeuta não prescreve tare-
timentos (que são entendidos como ma- fas para o paciente executar em casa. O
nifestações da depressão), 3 e menos ain- paciente modifica seu comportamento de
da na busca das razões de o paciente ser o acordo com seu ritmo.
Depressão
lar abertamente e explorar todos os senti- penosa. Mesmo mudanças positivas po-
mentos que o paciente tenha em relação dem ser dolorosas para algumas pessoas.
à pessoa falecida, o que é fundamental, Uma promoção no trabalho, por exemplo,
quando há sentimentos ambivalentes. , E pode carregar consigo a dificuldade em li-
muito importante per1nitir a catarse. E co- dar com o aumento da responsabilidade
mum que o paciente se sinta culpado caso e com a independência. O paciente é aju-
venha a melhorar, encarando a melhora dado a lidar com a mudança, identifican-
como uma traição. Gradualmente o tera- do seus aspectos positivos e encontrando
peuta ajuda o paciente a encontrar novas formas de lidar com os negativos. Deve-se
' trabalhar a dor pela perda do antigo pa-
atividades e novas relações. A medida que
a terapia progride, é comum que o tema pel, as expectativas do paciente em rela-
das sessões migre de discussões relativas ção a ele e o quanto se sente capaz de cor-
à pessoa perdida para os esforços para es- responder a essas expectativas.
tabelecer novos vínculos. Nas sessões pos- No caso do déficit interpessoal, o ob-
teriores, o paciente progressivamente pas- jetivo é reduzir o isolamento social e en-
sa a falar da pessoa perdida de maneira corajar a formação de novas relações. Pa-
menos carregada emocionalmente. ra tanto, é importante revisar as relações
No caso da disputa interpessoal, o prévias, explorar padrões de relaciona-
terapeuta ajuda o paciente a explorar a mento repetitivo, relacionar sintomas de-
relação, a natureza da disputa, identifi- pressivos ao isolamento social, investigar
, . . .
cando alternativas para resolvê-la. Nesses possiveis sentimentos negativos para com
casos, o paciente e a pessoa envolvida têm o terapeuta e procurar paralelos com ou-
expectativas diferentes acerca da relação tras relações. Os pacientes com déficit in-
e não existe comunicação clara a respei- terpessoal podem ter resultados mais po-
to dessas expectativas. As relações se en- bres do que aqueles identificados nas ou-
quadram em um dos seguintes estágios: 3 tras áreas-problema.
renegociação, quando ambas as partes es-
tão discutindo suas diferenças; impasse,
quando a discussão entre ambas as par- Sessões finais
tes cessou e existem emoções guardadas
e ressentimentos; dissolução, quando a Na fase final, o terapeuta ajuda o pacien-
relação se encaminha para o fim em ra- te a reconhecer seus progressos de mo-
zão da não solução dos conflitos. Na re- do a consolidá-los, fortalecendo seu sen-
negociação, o terapeuta ajuda o pacien- so de independência e de competência.
te a encontrar novas formas de comuni- Além disso, ajuda a desenvolver a capa-
cação, de modo a encontrar uma solução cidade de identificar e lidar com sintomas,
para o problema. No impasse, o terapeu- depressivos que por ventura surgirem. E
ta o ajuda a expor os conflitos para pos- importante conversar sobre os sentimen-
teriormente auxiliar em sua solução. Na tos em relação ao final da terapia. Avalia-
dissolução, o terapeuta ajuda o pacien- -se a necessidade de TIP de manutenção.
te a enfrentar o término da relação; nes- Caso o paciente não tenha respondido à
se caso, o foco da TIP pode mudar para terapia, discutem-se outras opções de tra-
transição de papéis. tamento, por exemplo, troca ou início de
No caso da mudança de papel, o ob- medicação, outra modalidade de terapia.
jetivo do tratamento é entender o que es- Nesse caso, é importante deixar claro que
sa mudança significa para o paciente, de o paciente não é responsável pela não me-
modo a compreender por que está sendo lhora, atribuindo-a a falha do método.
Depressão
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Humberto Correa
Maila de Castro L. Neves
risco de suicídio em homens. Nas mulhe- têm um risco duas vezes maior de suicí-
res, uma tentativa de suicídio anterior au- dio do que aqueles que não precisaram
menta em até seis vezes o risco de com- ser hospitalizados; e aqueles hospitaliza-
portamento suicida. Outros fatores impor- dos após apresentarem ideias ou tenta-
tantes nas mulheres são: ideação suicida, tiva de suicídio têm um risco três vezes
a letalidade das tentativas anteriores, hos- maior de morte por suicídio do que aque-
tilidade e poucas razões para viver. 14 les tratados ambulatorialmente. 18 Esses
Eventos estressares de vida têm sig- dados mostram de forma clara a necessi-
nificativa associação com suicídios com- dade de estratificação da população estu-
pletos. Eventos que conferem um estres- dada e permitem estabelecer taxas diferen-
se agudo ou experiências de desmora- tes de mortalidade, segundo a história de
lização, como humilhação pública ou tratamento (hospitalar ou não) do pacien-
rejeições sociais, frequentemente podem te. Assim, pacientes com história de hos-
desencadear atos suicidas. 1 Desemprego e pitalização em hospital psiquiátrico, parti-
dificuldades financeiras também são asso- cularmente quando esta inclui ideação ou
ciados com maior risco. Casamento é um tentativa de suicídio, têm um risco suicida
fator protetor para ambos os sexos, mas maior do que aqueles nunca hospitaliza-
divórcio é um fator de risco apenas para dos, e estes, por sua vez, um risco maior
os homens. 15 Ruengorn e colaboradores16 do que a população geral. Isso signifi-
avaliaram 1.100 indivíduos com depres- ca que uma hospitalização seria um fator
são e encontraram que eventos estressa- "suicidogênico''? Naturalmente que não.
res de vida, uso de álcool, má adesão ao Apenas indica que a hospitalização seria
tratamento, tentativas prévias de suicídio um marcador de risco. Seriam interna-
e uso de antipsicóticos estavam relaciona- dos, por exemplo, pacientes que, por suas
dos a aumento do risco de tentativas de características clínicas ou sociodemográ-
suicídio. 16 ficas (gravidade da depressão, ou pouco
Além do gênero, outros fatores so- suporte social, ou presença de comporta-
ciodemográficos são importantes. Apesar mento suicida recente), seriam de risco.
de taxas crescentes de suicídio entre jo- Em que momento após a saída do
vens, idade superior a 65 anos é um fa- hospital vai ocorrer o suicídio? Estudos
tor de risco. 17 mostram que o risco é maior logo após a
Fatores protetores são menos estu- saída e que a maior parte deles vai ocorrer
dados e incluem: autoestima elevada; la- nos primeiros 30 dias, sendo o risco pa-
ços sociais bem estabelecidos, com famí- ra aqueles que saíram do hospital sem al-
lia e amigos; crenças religiosas e razões ta médica até três vezes maior do que pa-
para viver. 4 ra aqueles que saíram após receber alta. 19
Além disso, diversos fatores sociode-
mográficos, como educação, emprego e
renda, podem modular o impacto da psi- Gravidade da depressão
copatologia no desenvolvimento de com-
portamento suicida. 1 A gravidade do quadro depressivo, ao me-
nos em pacientes hospitalizados, é um
fator de risco para o suicídio. Ou seja,
História de hospitalização psiquiátrica quanto mais grave o episódio depressivo,
maior o risco de suicídio. Um estudo dina-
Pacientes que precisaram ser hospitaliza- marquês, 20 por exemplo, avaliou todos os
dos para o tratamento de sua depressão pacientes que receberam alta hospitalar
Depressão
cuja internação havia sido motivada por 750/o deles) o fizeram no primeiro episó-
depressão, como diagnóstico único, divi- dio depressivo, e que quase 200/o o fize-
didos em depressão leve, moderada e gra- ram no segundo episódio. 22 Ou seja, qua-
ve, segundo a CID-10, entre 1994 e 1999. se 95% dos pacientes com depressão que
Esses indivíduos foram acompanhados se suicidam o fazem no início do transtor-
por seis anos. O risco de suicídio aumen- no, no primeiro (a maioria) ou no segun-
tou gradativamente, se o diagnóstico na do episódio depressivo.
alta havia sido de depressão leve, mode-
rada e grave. 20 Outras características da
depressão, como sintomas psicóticos ou História familiar
características melancólicas, parecem não
estar associadas a maior risco suicida em Hoje se sabe que o comportamento suici-
pacientes deprimidos. da é não somente herdável, mas também
geneticamente transmitido. Além disso,
sabe-se que a transmissão do comporta-
Comorbidades psiquiátricas mento suicida se faz de forma indepen-
dente da transmissão do transtorno psi-
Estudos mostram que, quanto mais diag- quiátrico. Pacientes deprimidos com his-
nósticos comórbidos presentes no pacien- tória familiar de comportamento suicida
te com depressão, maior o risco de suicí- têm, eles próprios, um risco aumentado
dio. Um estudo de autopsia psicológica rea- para suicídio. 2 Além disso, estudos de ge-
lizado em homens, por exemplo, mostra nética molecular mostram que alguns ge-
que abuso/dependência de substâncias e nes emergem como candidatos a estarem
transtornos da personalidade do grupo B associados ao suicídio, principalmente,
(histriônica, borderline e narcisista) au- mas não exclusivamente, alguns genes as-
mentam o risco de suicídio em pacientes sociados ao sistema serotonérgico, como
deprimidos. Além disso, maiores níveis de o transportador de serotonina. 23 De fato,
impulsividade e agressividade também te- as hipóteses neurobiológicas para o com-
riam o efeito de aumentar o risco de suicí- portamento suicida nas últimas décadas
dio nos pacientes com depressão. 21 baseiam-se na interação entre traços ou
estados de prejuízos na atenção, memória
e função executivas, relacionados a pre-
Em que fase da doença juízos no processamento frontotemporal,
depressiva ocorre o suicídio? associados à disfunção serotonérgica. 24
Primeiros
episódios?
Ideias de suicídio
Ideias de morte
Comorbidades
Gravidade da Planos de suicídio
depressão
Tentativa de
suicídio prévia
Hospitalização
, .
previa
Figura 11.1
Fatores de risco para suicídio.
Depressão
varem conta, sempre, na avaliação desse da. Alguns instrumentos podem auxiliar a
paciente, se ele apresenta ideação ou pla- decisão clínica, como a Escala de Ideação
nos suicidas, avaliar sua história pessoal e Suicida de Beck (BSI) e a Escala de Inten-
familiar de comportamento suicida, par- ção Suicída de Beck. 27
ticularmente se esse indivíduo já fez uma Dessa forma, as doenças psiquiátri-
tentativa prévia. Há que se avaliar ainda cas são um fator de risco conhecido, e seu
os fatores sociodemográficos, a gravida- tratamento adequado é um dos pilares da
de do quadro depressivo e, naturalmente, prevenção do suicídio. Deve-se conside-
o apoio social que esse indivíduo tem em rar que algumas drogas podem ter espe-
sua comunidade
, (família, amigos, etc.). cial efeito sobre o risco de suicídio. Tondo
E preciso ter sempre em mente que e Baldessarini28 publicaram os resultados
os fatores de risco podem atuar sinergi- de uma interessante metanálise avaliando
camente, aumentando o risco de suicídio. o efeito preventivo do lítio sobre o com-
Assim, um paciente deprimido sem co- portamento suicida em pacientes porta-
morbidade apresentará um risco menor dores de transtornos do humor. O risco de
de suicídio do que um paciente deprimido suicídio foi mais que cinco vezes inferior
com, por exemplo, um transtorno da per- no grupo que recebeu lítio, quando com-
sonalidade do Grupo B, ou que apresen- parado aos que não receberam. O risco de
te uma dependência ao álcool. Um estudo tentativas de suicídio foi 23 vezes menor
muito ilustrativo é apresentado por Brad- nos que usaram lítio. 28
vik e colaboradores. 26 Trata-se de uma co- O impacto psicológico e social do
orte acompanhada por 50 anos na cidade suicídio em uma família e na sociedade
de Lundby, Suécia. Cerca de 3.500 indi- é intangível, e suas consequências indire-
víduos foram acompanhados e, entre ou- tas podem atingir um grande número de
tros fatores, avaliou-se o diagnóstico de pessoas e por um longo período de tempo.
depressão, sua gravidade e a mortalidade Espera-se que este capítulo possa sensibi-
por suicídio. Os autores mostram que ho- lizar membros de equipes de saúde a pre-
mens com diagnóstico de depressão grave venir, identificar e tratar o comportamen-
podem ter taxas de mortalidade por suicí- to suicida.
dio de até 25% (portanto, muito maiores
até do que aquelas clássicas, relatadas em A
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Renato Daltro de Oliveira
Rafaela Araujo Lima
Mychelle Morais-de-Jesus
Lucas C. Ouarantini
de ácidos graxos ômega-3 está associado ISRSs, que causam inibição do sistema ci-
tanto a depressão quanto a doenças do tocromo P450. Recomenda-se iniciar os
coração. Aspectos psicossociais também antidepressivos em doses baixas, pois já
exercem um papel importante: pacientes é possível observar redução de sintomas
com depressão mais frequentemente são depressivos com doses menores do que o
portadores de comorbidades como hiper- preconizado para outros pacientes, talvez
tensão, dislipidemia, diabetes e obesida- pelo acúmulo de metabólitos ativos que
de, e são mais predispostos a maus hábi- seriam excretados pelos rins. 12
tos de saúde, como sedentarismo, dieta
não saudável, tabagismo e não adesão a
tratamentos. 11
-
DEPRESSAO EDOENÇAS INFECCIOSAS
Estudos mostraram que o tratamen-
to da depressão em pacientes cardiopa- Hepatite C
tas apresenta bons resultados sobre os
sintomas depressivos e sobre a qualida- Algumas doenças infecciosas apresentam
de de vida, contudo, não foi possível evi- relação importante com o transtorno de-
denciar melhora na taxa de mortalidade pressivo. Estudos indicam que há alta fre-
desses pacientes. Devido à disponibilida- quência de sintomas depressivos em por-
de de estudos na literatura, sertralina e ci- tadores crônicos de hepatite C. 1 Apesar de
talopram são indicados para o tratamento estudos já evidenciarem a presença do ví-
desses pacientes, porém, é preciso caute- rus e sinais de replicação viral no SNC,
la com o uso simultâneo de anticoagulan- não é possível afir1nar com precisão se es-
tes e ISRSs, uma vez que esse grupo de ses sintomas são decorrentes da ação viral
medicamentos é associado a diminuição ou se indivíduos com hepatite C têm uma
da agregação plaquetária e a aumento do incidência mais elevada de depressão de-
tempo de sangramento. Os ADTs, por sua vido ao impacto do diagnóstico, às preo-
vez, devem ser evitados, visto que apre- cupações com o estado de saúde em longo
sentam efeitos pró-arrítmicos. 11 prazo ou ao grande número de usuários
de drogas injetáveis nesse grupo. 13
O tratamento com interferon-a é,
-
DEPRESSAO EDOENÇA provavelmente, o período de maior risco
RENAL TERMINAL de desenvolvimento de sintomas depres-
sivos nos pacientes com hepatite C crôni-
A doença renal terminal é, dentre as ne- ca, ainda que a eliminação do vírus me-
fropatias, aquela cuja associação com de- lhore a qualidade de vida desses indiví-
pressão é mais estudada. Estima-se que duos.5 Não há evidências que apoiem o
de 20 a 30% dos indivíduos com diagnós- uso profilático de antidepressivos, mas
, . . .
tico de doença renal terminal apresen- e importante pesquisar nesses pacientes
tem transtorno depressivo concomitan- a presença de sintomas depressivos. Os
te. A presença de depressão foi evidencia- ISRSs, especialmente a paroxetina, apre-
da como fator de aumento da morbidade sentam bons resultados no tratamento da
e mortalidade entre indivíduos em trata- depressão secundária ao uso de interfe-
mento dialítico. 12 ron-a, mas, até o momento, são os medi-
Há poucos trabalhos avaliando a efi- camentos mais estudados e, por esse mo-
cácia dos
, antidepressivos nesses indiví- tivo, não devem ser encarados como supe-
duas. E preciso cuidado com interações riores aos demais antidepressivos. Assim,
medicamentosas, especialmente com os a depressão nesses casos pode ser tratada
Ouevedo & Silva (orgs.)
seguindo os mesmo princípios para trata- das mucosas, o que pode facilitar o desen-
mento do transtorno não relacionado ao volvimento de candidíase. 1,16
interferon-a, levando em consideração Entretanto, o tratamento da depres-
efeitos adversos, eficácia e possíveis inte- são nesses pacientes requer atenção es-
rações.14 pecial às interações medicamentosas,
uma vez que podem ocorrer alterações
na excreção ou na absorção de substân-
Aids cias, bem como na indução, na inibição
e na competição do metabolismo pelas
A aids ocupa um lugar de destaque entre enzimas do citocromo P450. A titulação
as doenças infecciosas que repercutem so- progressiva dos antidepressivos pode au-
bre a saúde mental devido ao impacto do mentar a adesão e reduzir a ocorrência
diagnóstico sobre os indivíduos e à ação do de efeitos adversos. Entretanto, a depres-
HIV sobre o SNC. Depois do abuso de subs- são não tratada pode ser tão prejudicial
tância, a depressão é a doença psiquiátrica quanto qualquer interação medicamento-
mais prevalente entre os portadores do ví- sa, uma vez que está associada à não ade-
rus Hiv, porém é difícil definir uma estima- são à terapia antiviral. 16
tiva única da prevalência diante da hetero-
geneidade dos métodos e das populações
estudadas. Sob outra perspectiva, popu-
-
DEPRESSAO EDOENÇAS
,
lações em maior risco para infecção pe- NEUROLOGICAS
lo HIV têm prevalência mais alta de trans-
tornos do humor, de modo que a depres- Traumatismo cranioencefálico
são nesses pacientes pode, muitas vezes,
representar um novo episódio de um A síndrome pós-concussional (SPC) é a
transtorno preexistente. Além disso, sin- sequela mais comum de traumatismo cra-
tomas depressivos também podem decor- nioencefálico (TCE), que caracteriza-se
rer de medicamentos utilizados durante o por uma grande variedade de sintomas,
tratamento da aids. 15 incluindo sintomas psiquiátricos. As rela-
Não há um grupo de antidepressivos ções entre TCE e depressão são comple-
superior aos outros nesses casos, e a esco- xas: ideação suicida, história de depres-
lha do medicamento ideal deve ser guia- são no passado e abuso de substância são
da pelo perfil de efeitos adversos de ca- mais frequentes em pacientes que sofre-
da grupo. Os ISRSs são os mais frequen- ram TCE; a depressão, por sua vez, po-
temente utilizados devido à boa eficácia, de associar-se ao dano neural ou trauma
à baixa prevalência de efeitos anticolinér- psíquico. Alguns autores descrevem sín-
gicos e à menor toxicidade em caso de su- dromes depressivas distintas de acordo
perdosagem. Pode-se recorrer ao metilfe- com o tempo de instalação do TCE: nos
nidato em pacientes refratários a outros
. . . , .
primeiros seis meses pos-trauma, seriam
tratamentos e naqueles em que fadiga e mais frequentes insônia inicial, sintomas
apatia são sintomas mais proeminentes. depressivos de maior intensidade pela
Os ADTs apresentam boa eficácia, mas é manhã e sintomas ansiosos; em períodos
preferível utilizar medicamentos que te- mais tardios, seriam mais frequentes insô-
nham menos efeitos anticolinérgicos, co- nia terminal, perda da libido e déficit de
mo a nortriptilina, já que outros ADTs po- concentração. 1
dem desencadear mais alterações cogniti- A escolha do antidepressivo deve ser
vas e até delirium, além de ressecamento feita levando-se em conta efeitos colate-
Depressão
rais, tais como tremores e maior risco de nesses pacientes é história de depressão
convulsões. Devido a seu perfil de efeitos no passado. 18
adversos, os ISRSs são habitualmente as
substâncias mais indicadas, especialmen-
te a sertralina, que apresenta o maior efei- Doença de Parkinson e
to dopaminérgico, repercutindo bem so- doença de Huntington
bre sintomas cognitivos. 17 Além disso, é
recomendado o estímulo à prática de ati- A doença de Parkinson (DP) apresenta
vidades, terapia ocupacional, psicoterapia uma relação importante com a depres-
e fisioterapia. 1 são e estima-se prevalência de 17% para
TDM e 35% para sintomas depressivos. 19
O transtorno depressivo pode surgir an-
Esclerose múltipla tes das manifestações motoras, e estão em
. . . . , .
maior risco pacientes com inicio precoce
A depressão é uma comorbidade comum da DP, predomínio de rigidez e/ou acine-
entre os pacientes portadores de esclero- sia, sintomas motores predominantes à
se múltipla (EM). Um estudo em amostra direita e disfunção cognitiva. O diagnós-
comunitária evidenciou que a depressão tico pode ser difícil pela grande quanti-
apresenta prevalência de 15, 70/o, em 12 dade de sintomas comuns entre as duas
meses, entre os pacientes portadores de doenças, como anergia, apatia e distúrbio
EM, mais de duas vezes a prevalência ob- do sono, mas instrumentos como o Inven-
servada na população em geral. Os sinto- tário de Depressão de Beck e a Escala de
mas depressivos estão associados, nesses Pontuação de Depressão de Hamilton po-
pacientes, a prejuízos na qualidade de vi- dem ser úteis na prática diária. 1
da e a um maior risco de suicídio, o que A base fisiopatológica dessa associa-
torna fundamental o tratamento desses ção envolve alterações neuroquímicas, co-
sintomas. 18 mo déficit dopaminérgico de vias meso-
O mecanismo fisiopatológico que re- corticolímbicas, hipoatividade noradre-
laciona a depressão e a EM ainda não é , . , .
nergica e serotonergica, e a repercussao
-
bem compreendido, mas alguns fatores psicossocial (perda de emprego, confli-
imunológicos, genéticos, psicossociais e to conjugal, consciência da natureza de-
biológicos desse mecanismo já foram evi- generativa da doença). A abordagem da
denciados. Estudos de neuroimagem, por depressão inclui antidepressivo adequa-
sua vez, mostraram que pacientes com do para cada caso, psicoterapia e eletro-
EM e depressão apresentam com mais convulsoterapia (ECT) .1 Apesar de am-
frequência lesões no córtex pré-frontal, plamente utilizados para tratamento da
no lobo temporal e no fascículo arquea- depressão, em uma metanálise foi de-
do do hemisfério dominante. 18 Atividade monstrado que os ISRSs não apresentam
elevada de citocinas e determinantes psi- maior eficácia quando comparados ao
cossociais, como estratégias de enfrenta- placebo, porém há poucos estudos sobre
mento inadequadas e altos níveis de es- o tema e a maioria deles avaliou amos-
tresse, também podem contribuir para o tras pequenas. 20 O uso de agonistas do-
desenvolvimento de depressão. 1,18 Nos in- paminérgicos no tratamento da depressão
divíduos em tratamento com interferon-~, parece promissor diante dos recentes es-
é importante avaliar a presença de sin- tudos, mas ainda não há evidência sufi-
tomas depressivos, e o preditor mais im- ciente para recomendar essa opção tera-
portante para o surgimento da depressão pêutica.21
Ouevedo & Silva (orgs.)
dos devido a seu perfil de efeitos colate- com LES, com frequências entre 10,8 e
rais, e foi demonstrado que a nortriptilina 39,60/o, taxas bem maiores que na popu-
está associada a aumento do nível glicê- lação geral. Vários fatores podem expli-
mico. Foi demonstrado que psicoterapias, car esses números elevados, como o es-
especialmente terapia cognitivo-compor- tresse causado por uma doença crônica e
tamental (TCC), estão associadas a me- altas doses de corticosteroides comumen-
lhora significativa dos sintomas. 24 te utilizados no tratamento. Na verdade,
pacientes com outras doenças crônicas,
incluindo artrite reumatoide e doença in-
-
DEPRESSAO EREUMATOLOGIA flamatória intestinal, que também são tra-
tadas com corticosteroides, mas não têm
Lúpus eritematoso sistêmico (LES) envolvimento do SNC, mostram taxas de
TOM comparáveis àquelas dos pacientes
Síndromes neuropsiquiátricas são comuns com LES. 27
em associação com o lúpus, ou mesmo O anticorpo anti-P ribossomal está
constituem critérios diagnósticos para a fortemente associado tanto com a psicose
doença, apresentando prevalência de 17 lúpica quanto com a depressão grave. Adi-
a 750/o. Em 1999, o Colégio Americano de cionalmente, transtornos neuropsiquiá-
Reumatologia observou 19 síndromes neu- tricos decorrentes da atividade do LES,
ropsiquiátricas distintas associadas ao lú- como convulsões, meningites assépticas,
pus, dentre elas transtorno de humor, esta- delirium e psicose podem também estar
do confusional agudo (delirium), ansieda- associados com sintomas depressivos con-
de, disfunção cognitiva e psicose. 25 comitantes. De fato, quando se avaliam
O LES neuropsiquiátrico per111anece pacientes hospitalizados com LES ativo, a
como uma manifestação ainda não eluci- frequência de TOM alcança 440/o e os sin-
dada e pode estar relacionado à produção tomas estão significativamente relaciona-
de determinados autoanticorpos. O traba- dos com o envolvimento do SNC, como
lho de Zandman-Goddard e colaborado- calcificações cerebrais observadas na to-
res26 identificou cinco autoanticorpos que mografia computadorizada. 27
parecem estar associados com a ocorrên- Assim, diante de um paciente porta-
cia de TOM no LES: anticorpos contra os dor de LES, é fundamental a atenção a si-
receptores de N-metil-D-aspartato (anti- nais de alterações nos padrões de compor-
-NMDA), antigangliosídio (AGA), antien- tamento e estado geral, visando o diag-
dotelial (AECA), anticardiolipina (ACL) e nóstico dos transtornos psiquiátricos. As
antirribossomo P (anti-P). estratégias atuais de tratamento, com ba-
Os fatores de risco para depressão se em pequenos ensaios, incluem predni-
no lúpus incluem envolvimento direto no sona, ciclofosfamida e substâncias psico-
SNC, como dano direto ao cérebro, trans- trópicas atípicas. Os ISRSs são a primeira
. ., . . linha de tratamento para a depressão em
tornos neurops1qu1atr1cos concomitantes,
administração de corticosteroides e a res- portadores de LES, graças à segurança de
posta do paciente à doença (impacto psico- tolerabilidade. 2s
lógico da doença crônica), mas não se sabe
ainda se esta é uma manifestação direta do
processo patológico ou uma consequência Artrite reumatoide
da disfunção física e psicossocial. 25
O TOM é um dos transtornos psi- O TOM é de duas a três vezes mais comum
quiátricos mais observados em pacientes em portadores de artrite reumatoide (AR)
Depressão
que na população em geral e parece ser sar de essa diferença ser discreta. Ansie-
consequência da experiência de dor crô- dade e redução da vitalidade foram en-
nica e ter relação com a deficiência físi- contradas em pacientes com doença infla-
ca, a duração e a atividade da doença. 28 matória intestinal, independentemente da
O TDM tem sido evidenciado como me- presença dos sintomas gastrintestinais. 1
lhor preditor de incapacidade em pacien-
tes com AR que a atividade da doença. 1 ,
Depressão e AR contribuem para a Ulcera duodenal
diminuição da qualidade de vida e pa-
ra a mortalidade. Vias inflamatórias po- A relação entre úlcera duodenal (UD) e
dem ser o ponto-chave para uma liga- aspectos psicológicos é estudada há dé-
ção entre ambas, e citocinas têm sido cadas. Um estudo envolvendo indivíduos
um dos principais focos da investigação que apresentavam UD identificou que,
nessa área. 29 após seis semanas de tratamento, os pa-
A AR parece estar diretamente as- cientes que apresentaram altos níveis de
sociada a síndromes psiquiátricas clinica- ansiedade não apresentaram cicatriza-
mente significativas apenas em pacientes ção da úlcera, o que não era encontra-
com AR mais grave e incapacitante. Ape- do entre aqueles que apresentaram pre-
sar de alguns autores estabelecerem uma dominância de sintomas depressivos. A
ligação entre o TDM e o quadro clínico, a depressão foi apontada como um dos fa-
maioria dos episódios não pode ser expli- tores de perpetuação dos sintomas dis-
cada por modelos clínicos, ou seja, rela- pépticos em pacientes com UD de início
cionados à doença. 1 recente no segmento de sete anos. Esses
sintomas permaneceram duas vezes maio-
res, em comparação com os pacientes sem
DOENÇAS GASTRINTESTINAIS sintomas depressivos. Uma avaliação por
12 anos demonstrou que as taxas de re-
Doença inflamatória intestinal cidivas de UD estavam mais relacionadas
à presença da bactéria Helicobacter pylori
Os sintomas ansiosos subsequentes aos que os níveis de ansiedade e depressão. O
diagnósticos de retocolite ulcerativa tratamento para H. pylori reduziu as reci-
(RCU) e doença de Crohn (DC) podem divas de 100 para 0,30/o ao ano. 1
ser justificados por um transtorno de ajus-
tamento relacionado à enfermidade gas-
trintestinal vivida pelo paciente. Também Síndrome do intestino irritável
é necessário considerar os sintomas psi-
quiátricos decorrentes dos efeitos adver- A literatura mostra que de 70 a 900/o dos
sos causados pelo corticosteroide, muito pacientes com síndrome do intestino irri-
utilizado no tratamento da DC. Os escores tável (SII) que procuram tratamento
de qualidade de vida desses pacientes es- apresentam alguma comorbidade psiquiá-
tão relacionados com a atividade da doen- trica. Transtornos psiquiátricos não espe-
ça e com a presença de sintomas psiquiá- cíficos têm sido associados à SII, sendo
tricos associados. 1 a depressão e os transtornos de ansieda-
Em geral, pacientes com RCU apre- de e somatoformes as condições mais fre-
sentaram melhor qualidade de vida e me- quentemente diagnosticadas. Relatos de
nos sintomas de ansiedade e depressão, se comorbidades apresentam taxas de 27 a
comparados com pacientes com DC, ape- 290/o de depressão maior, 60% de disti-
Ouevedo & Silva (orgs.)
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CONCLUSAO
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Kalil Dualibi
Luciana Reis Pereira
Ligia Mucci
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INTRODUÇAO DEPRESSÃO ETRANSTORNOS
-
DA ALIMENTAÇAO
Todas as patologias psiquiátricas podem
cursar com períodos depressivos, mas os A relação entre TAs e outras doenças men-
transtornos de ansiedade, os transtornos tais tem sido objeto frequente de estudos
da alimentação (TA) e a esquizofrenia são em psiquiatria, principalmente nos últi-
os transtornos que apresentam maior pre- mos anos, em função da maior prevalên-
valência de fases ou períodos depressivos, cia desses quadros, que vêm aumentando
seja durante o curso de algumas crises, se- de forma exponencial.
ja no acompanhamento longitudinal des- No sexo feminino, a prevalência de
sas pessoas. TAs, segundo o National Comorbidity Sur-
A descrição de sintomas depressivos vey Replication (NCS-R), é de 0,90/o para
acompanhando essas patologias foi rela- anorexia nervosa, 1,5% para bulimia ner-
tada já por Emil Kraepelin em relação à vosa e 3,50/o para transtorno de compul-
esquizofrenia, porém tais sintomas sem- são alimentar periódica; entre os homens,
pre foram relegados a um segundo plano, esses índices são menores, com 0,30/o pa-
sem uma atenção maior. Hoje se sabe, no ra anorexia, 0,5% para bulimia e 20/o para
entanto, que podem impactar na evolução compulsão periódica.
e no prognóstico desses quadros, além de Estudos atuais demonstram forte rela-
ser gatilhos de novos episódios. ção entre TAs e outros transtornos psiqui-
O fato de persistirem sintomas de- átricos, principalmente transtornos do hu-
pressivos residuais, ou até mesmo qua- mor, de ansiedade, do controle de impulsos,
dros depressivos completos, em comorbi- da personalidade e abuso de substâncias.
dade com os quadros de ansiedade e os O investimento em estudos sobre
de transtornos da alimentação poderia comorbidades dos TAs tem grande valor,
ser, para estes últimos, um indicador de pois outras doenças mentais podem in-
gravidade, recorrência e pior prognóstico. fluenciar o prognóstico desses transtor-
Ouevedo & Silva (orgs.)
-se ênfase apenas para o estudo dos sin- cótica, demonstrando que esses estão
tomas psicóticos. Em 1951, Eissler15 foi entre os sintomas prodrômicos mais co-
pioneiro ao descrever a síndrome depres- muns.
siva que seguia o episódio psicótico agu- Green e colaboradores18 confirmaram,
do, sendo essa a primeira vez em que se a partir de achados mais recentes da lite-
utilizou o termo ''depressão pós-psicóti- ratura, que sintomas depressivos podem
ca''. Na época, era considerada um qua- ocorrer em todas as fases da doença e de-
dro estável, com duração variando entre ram ênfase ao episódio psicótico agudo co-
semanas e mais de um ano, e seu prog- mo a fase em que tais sintomas são mais
nóstico era considerado favorável. frequentes.
O termo ''depressão pós-psicótica'' Quanto ao curso e prognóstico da
ganhou ainda mais notoriedade quando, depressão pós-esquizofrênica, atualmen-
em 1967, Bowers e Astrachan 16 reforça- te o mito de que a ocorrência de sintomas
ram os estudos clínicos com esquizofre- depressivos é um sinal de bom prognós-
nia nos quais foi apresentada importan- tico vem perdendo sustentação. Estudos
te depressão do humor. Contudo, tais es- longitudinais têm considerado a depres-
tudos tinham um desenho metodológico são como indicador desfavorável de evo-
que permitia grande variabilidade dentro lução da doença e a têm associado a vá-
dos grupos, sendo que a conclusão a que rios aspectos negativos do desfecho clíni-
se chegou foi de que a depressão decor- co, uma vez que vem sendo relacionada
rente de um episódio psicótico agudo ten- com: hospitalizações mais longas, pior
de a ser muito heterogênia. resposta à medicação, pior desempenho
A partir de 1970, os estudos passaram social, maiores taxas de recaída, cronici-
a questionar alguns dogmas introduzidos dade e suicídio.
pelo conceito de depressão pós-psicótica, O risco de suicídio é um fator impor-
até que McGlashan e Carpenter17 notaram tante que deve ser avaliado com caute-
que os sintomas depressivos não eram um la pelo psiquiatra, pois aproximadamen-
fenômeno restrito ao período pós-psicóti- te 1 Oo/o das pessoas com esquizofrenia se
co, já que, na maioria dos casos, haviam suicidam. 19 Isso representa por volta de
se iniciado na fase psicótica aguda, cha- 330/o do total de suicídios cometidos entre
mando atenção para uma maior probabi- doentes mentais. Segundo observação clí-
lidade de depressão após o uso de fenotia- nica, esses pacientes tendem a ser jovens,
zinas (depressão pós-psicótica secundária do sexo masculino e estão nas fases ini-
a neurolépticos). Desde então, diversos ciais da doença. Yarden20 chamou atenção
estudos investigaram a relação dos neu- para uma série de sintomas afetivos pre-
rolépticos na depressão em portadores de sentes no período que antecede o suicídio
esquizofrenia e, de maneira geral, obser- (Tabela 13.1).
vou-se que a maioria dos pacientes apre- Os sintomas depressivos podem ocor-
senta melhora da depressão à medida que rer tanto na vigência da fase psicótica
. . , . .
os sintomas ps1cot1cos rem1tem, mas uma aguda quanto na fase de remissão dos sin-
pequena proporção deles apresenta piora tomas psicóticos. Knights e Hirsch21 ob-
com a regressão do quadro psicótico. servaram que, em estado de surto agudo,
Mais recentemente, os estudos que SOO/o dos pacientes apresentavam sinto-
avaliam pacientes estáveis mostram uma mas depressivos importantes, sendo que
frequência bastante alta de sintomas de- metade deles melhorou em três semanas,
pressivos e estabelecem uma relação en- enquanto a outra metade per1naneceu de-
tre tais sintomas e a descompensação psi- primida. Em outro estudo, Leff e colabo-
Depressão
Tabela 13.1
Sintomas afetivos em suicidas portadores de esquizofrenia
Sintomas afetivos N o/o
Tabela 13.2
Sobreposição de sintomas de depressão e ansiedade
Depressão Sobreposição Ansiedade
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Fábio Gomes de Matos e Souza
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
Carlos Drummond de Andrade
-
INTRODUÇAO 3. mistas - como, por exemplo, neuro-
patia diabética, enxaqueca, dor pós-
A dor é um sinal de alerta que ajuda a -herpética e dor do trigêmeo
proteger o corpo de danos nos tecidos. A
International Association for the Study of A dor é responsável por cerca de
Pain (IASP) define dor como ''uma expe- 200/o de todas as consultas médicas, ca-
riência sensorial e emocional desagradá- so em que é o motivo mais frequente pa-
vel associada a dano tecidual real ou po- ra a procura de atendimento médico. A
tencial''. A IASP caracterizou os mecanis- prescrição de analgésicos para o alívio da
mos neurais da dor em cinco eixos: dor corresponde a cerca de 120/o de todas
as prescrições médicas. Nos Estados Uni-
1. local da dor dos, a dor crônica é um problema de saú-
2. sistema fisiológico envolvido de pública, pois atinge mais de 70 milhões
3. padrão temporal e recorrência de norte-americanos. São gastos cerca de
4. intensidade e duração 100 bilhões de dólares por ano devido aos
5. etiologia custos médicos e à perda de rendimentos
e de produtividade provocada pelas do-
Em relação ao local, as dores podem res. A dor é a principal causa de perda de
ser classificadas em: trabalho e é também a principal razão pa-
ra a busca da medicina alternativa.
1. periféricas - como, por exemplo, os- A dor aguda tem alívio esperado den-
teoartrite, artrite reumatoide, dor tro de dias ou semanas. Ela sinaliza um da-
pós-cirúrgica, dor causada por cânce- no real ao organismo ou que situações am-
res, e dores dentais bientais são percebidas como dolorosas.
2. centrais - como, por exemplo, fibro- A IASP define a dor crônica como a
mialgia, dor pós-AVC, esclerose múl- dor que persiste além do tempo nor1nal
tipla e dor provocada por danos na de cicatrização (geralmente com dura-
medula espinal ção superior a três meses). A dor crônica
Ouevedo & Silva (orgs.)
(não maligna) não é uma sensação unitá- COMO ADOR FOI DESCRITA
ria evocada por uma lesão local, por in- AO LONGO DOS TEMPOS
flamação ou por outra patologia tecidu-
al, mas é um estado complexo modulado A origem do termo pain (em inglês) vem
por fatores genéticos, ambientais, cogniti- do latim - poene - e do grego - poine -
• •
vos e emoc1ona1s. que significa penalidade ou punição. Aris-
A dor crônica é uma condição comum tóteles considerava a dor como um senti-
nos países ocidentais, constituindo um mento, não como uma sensação, e classi-
importante problema de saúde por cau- ficava a paixão da alma como originada
sa do número de pessoas afetadas e dos no coração. Hipócrates referia que ''divi-
crescentes custos econômicos. No entan- num est opus sedare dolorem'' (divino é o
to, pessoas com dor crônica constituem trabalho de aliviar a dor).
um grupo heterogêneo, e as causas de dor Harvey, que descobriu a circulação
têm origens diversas que podem influen- sanguínea, acreditava que o local de per-
ciar as características clínicas. A dor crô- cepção da dor era o coração. Descartes foi
nica é mais comum em mulheres do que o primeiro a divergir do conceito aristo-
em homens. télico e a afirmar que a dor era originada
A percepção da dor envolve aspectos de alterações na pele devido a um estímu-
emocionais, sendo influenciada por fato- lo nocivo, por exemplo, o fogo, indo até
res biológicos e culturais. A dor é conside- o cérebro, descrevendo o que poderia ser
rada uma experiência pessoal e subjetiva, chamado de caminho da dor.
e sua percepção é de caráter multidimen- Em 1840, Müller propôs que a quali-
sional; ela varia tanto na qualidade quan- dade de uma sensação dependia das pro-
to na intensidade sensorial, sendo, ainda, priedades de neurorreceptores cerebrais,
. . . , .
influenciada por variáveis afetivas e emo- e, portanto, tratos sensor1a1s seriam a un1-
• •
c1ona1s. ca maneira de o cérebro receber essas in-
Tabela 14.1
Terminologia da dor
Dor Uma experiência sensorial e emocional não prazerosa associada com dano real
ou potencial ou descrita em termos de tais danos
Alodinia Dor causada por estímulos não nocivos à pele e que normalmente não
causariam dor
Analgesia Ausência de dor com estimulação nociva
Anestesia Ausência de dor em área ou região que é anestesiada
for1nações. Em 1890, Von Frey postulou 2. dor visceral - provocada por disten-
que a percepção de dor devia-se a recepto- são de vísceras, associada a náusea e
,.. .
res localizados em ter111inações nervosas. vomitas.
Bonica introduziu o conceito da dor
como entidade patológica específica e não Dor não nociceptiva: a dor não no-
apenas um sintoma. ciceptiva subdivide-se em:
Atualmente, acredita-se que as sen-
sações dolorosas são transmitidas por 1. Dor neuropática - dor iniciada por
dois sistemas: nervos mielinizados (siste- uma disfunção primária no sistema
ma lento) e nervos não mielinizados (sis- nervoso, sendo causada por uma al-
tema rápido). teração em qualquer parte do SNC ou
do sistema nervoso periférico (SNP).
São exemplos de dores neuropáticas:
MECANISMOS DE PERCEPÇÃO DA DOR a neuropatia periférica, a neuropa-
tia diabética, a dor central pós-AVC,
A percepção de estímulos nocivos pelo or- a dor do trigêmeo e a dor pós-her-
ganismo se dá por meio de circuitos sen- pética. Essas dores podem ser de vá-
soriais que levam essa informação até o rios tipos: queimação, peso, agulha-
cérebro, onde a mesma é percebida como da, formigamento, adormecimento,
dor. Sem o envolvimento de centros ce- etc. A dor neuropática pode ser tem-
, • A • •
rebrais, tal estímulo não é percebido co- pararia, cronica ou persistente e po-
mo dor. Vale ressaltar, portanto, a diferen- de, ainda, não estar associada a qual-
ça entre o dado biológico eo estímulo do- quer lesão detectável.
loroso) e o dado psicológico (a percepção 2. Dor psicogênica - dor em que ne-
de dor). nhum mecanismo nociceptivo ou
As dores podem ser consideradas no- neuropático pode ser identificado.
ciceptivas e não nociceptivas, cujas carac- Na prática, a dor psicogênica é dor de
terísticas estão descritas a seguir. exclusão e pode ser considerada uma
Dor nociceptiva: considera-se dor dor virtual, já que, mesmo em trans-
nociceptiva aquela que resulta da ativa- tornos psiquiátricos como depressão,
ção de nociceptores. Os nociceptores po- existem claras manifestações de alte-
dem ser sensibilizados por estímulos quí-
- , .
raçoes quimicas.
micos endógenos como serotonina, subs-
tância P, bradicina, prostaglandinas e
histamina. Assim, dor nociceptiva é aque- Vias nervosas periféricas da dor
la causada pela atividade em trajetos neu-
rais em resposta a estímulos potencial- Os neurônios aferentes primários que le-
mente danosos - como, por exemplo, dor vam a informação da periferia até os gân-
pós-operatória, dores nas costas e artrite. glios dorsais da medula espinal são de
, ,.. .
E considerada a dor ''normal''. Divide-se tres tipos:
em dois tipos:
1. Fibras A beta, que levam estímulos
1. dor somática - relacionada ao movi- mecânicos não nocivos como vibra-
mento, aliviada pelo repouso, bem ções e pressão leve.
localizada e variável (p. ex., dores ar- 2. Fibras A delta (mielinizadas, que per-
tríticas e dores ósseas) e correm de 12 a 30 metros por segun-
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 14.2
Dor crônica, depressão e ansiedade
ças crônicas, sendo observado que os sin- mulas de dor ascendentes, explican-
tomas depressivos aumentam com o nú- do sucessos de antidepressivos tricí-
mero de doenças crônicas. clicos e duais (ação terapêutica nas
Existe uma relação recíproca entre vias da serotonina e noradrenalina)
depressão e dor. O que vem primeiro, a 2. outras modalidades comuns de trata-
dor ou a depressão? Existem várias alter- mento (p. ex., a estimulação do ner-
nativas para explicar essa relação: vo vago ou a estimulação magnética
transcraniana)
1. a dor pode predispor a depressão 3. alterações do sistema opioide em pa-
2. a depressão pode predispor a dor cientes com depressão
3. pode haver indivíduos que tenham
uma personalidade propensa à dor A desregulação de serotonina e de
noradrenalina no cérebro é associada à
Todavia, está bem estabelecido que a depressão, enquanto as mesmas desregu-
existência concomitante de dor e depres- lações na medula espinal podem explicar
são cria um círculo vicioso no qual uma um aumento na percepção de dor entre
piora a outra. pacientes deprimidos. Esses achados po-
A dor prejudica a resposta ao trata- dem explicar a presença de sintomas emo-
mento da depressão. Além da dor propria- cionais e físicos na depressão.
mente dita, pacientes psiquiátricos podem
. , .
ser 1ncompat1ve1s com seu tratamento e,
adicionalmente, desenvolver dependên- Diferenças entre dor e depressão
cia aos analgésicos e/ou opiáceos.
Existem várias diferenças entre dor e de-
pressão, como, por exemplo, a diferente
Similaridades entre dor e depressão prevalência dos dois fenômenos e os efei-
tos das medicações. Medicamentos opioi-
A relação entre dor e depressão pode ser des nunca funcionaram para o tratamen-
vista como uma relação circular, um cír- to da depressão, bem como a eletrocon-
culo vicioso em que a existência de uma vulsoterapia (ECT) - um método utilizado
pode agravar a outra e vice-versa. Existe em depressões graves com risco de suicí-
um substrato neurobiológico comum em dio - não é eficaz para a terapia da dor
"' .
muitas áreas do cérebro que são estimu- cronica.
ladas tanto pela dor física quanto pela de- O tempo da resposta aos antidepres-
-
pressao. sivos também é diferente. Enquanto no
Frequentemente, a dor é o equiva- quadro depressivo uma resposta é obtida
lente depressivo e, muitas vezes, a depres- geralmente em 4 a 8 semanas, na dor, a
são é externalizada pela dor. Algumas evi- resposta é mais rápida, normalmente en-
dências que revelam o compartilhamento tre 3 e 4 semanas.
dos sistemas neurais da dor e da depres-
são incluem:
Modelo integrado de dor e depressão
1. envolvimento das vias serotonérgi-
cas e noradrenérgicas na regulação A ligação complexa entre a dor e as emo-
do humor e no controle sobre os estí- ções e/ou motivações ressalta a importân-
Depressão
eia das interações dinâmicas entre esses e depressivos e, juntos, estes dois elemen-
outros fatores neuroquímicos e neuroana- tos podem resultar em menos atividade fí-
tômicos para a compreensão dessa rela- sica e ,menor satisfação com a vida.
ção. Considerando-se pacientes que che- E possível que, em vez de serem diag-
gam aos serviços de saúde com queixas de nósticos categoriais distintos, a depressão
sintomas físicos, a dor é o mais comum e a dor façam parte de um mesmo espec-
deles. Entretanto, se os sintomas psicoló- tro de transtornos afetivos e síndromes
gicos forem considerados nesses mesmos somáticas funcionais.
pacientes, a depressão é o sintoma psico-
lógico mais comum.
A interação entre um e outro é de-
-
FIBROMIALGIA EDEPRESSAO
monstrada pela ressonância magnéti-
ca funcional (RMF), evidenciando que Fibromialgia (FM) e depressão podem re-
a dor relacionada com a dor emocional presentar duas manifestações de trans-
ativa circuitos da dor física clássica (p. tornos do espectro afetivo. Elas compar-
ex., substância cinzenta periaquedutal, tilham fisiopatologias semelhantes e são,
ínsula e córtex cingulado anterior), en- em grande parte, orientadas pelas mes-
quanto a dor física em seres humanos mas substâncias com dupla ação sobre os
ativa circuitos de recompensa e motiva- sistemas serotonérgico e noradrenérgico.
cionais (p. ex., nucleus accumbens e área O principal sintoma da FM é a dor espon-
tegmental ventral). Quando estímulos tânea generalizada.
dolorosos de calor foram aplicados em Os critérios diagnósticos do Ameri-
pacientes deprimidos durante RMF, eles can College of Rheumatology9 incluem dor
tiveram, proporcionalmente à sintoma- generalizada e crônica, fadiga, dor inten-
tologia depressiva apresentada, um au- sa em resposta à pressão tátil (alodinia),
mento da atividade da amígdala direita falta de sono reparador, alterações cogni-
. . ,
ao antecipar ou experimentar os estimu- tivas, desconforto abdominal e dor de ca-
las dolorosos. beça. Essa lista também inclui depressão,
Provocação de estados afetivos (de- que é destaque na FM, com uma prevalên-
pressão versus felicidade) em ambientes cia de cerca de 90% para sintomas depres-
de laboratório pioram e melhoram, res- sivos. Tais semelhanças reforçam o concei-
pectivamente, a experiência de dor em in- to de que depressão e fibromialgia podem
divíduos saudáveis e em pacientes com ser apresentações distintas de sintomas de
dor crônica. Por conseguinte, uma pro- uma condição subjacente única.
porção substancial de pacientes com de- Evidências genéticas sugerem que
pressão sofre de dor crônica. A intensida- alguns genes podem resultar em um fe-
de da dor aumenta com a gravidade da nótipo intermediário que aumenta o risco
sintomatologia depressiva. geral de um transtorno psiquiátrico pre-
A dor, por sua vez, leva a uma piora cipitado por um estressar ambiental. As
nos estados afetivos e, eventualmente, à referidas evidências indicam que um po-
prevalência de depressão elevada em pa- limorfismo no gene transportador de se-
cientes com dor crônica. Essas duas con- rotonina (5-HTT), envolvido em depres-
dições trabalham de forma sinérgica ne- são, também pode estar implicado na FM.
gativamente: a depressão reforça a dor Vale ressaltar que a ligação observada en-
crônica e a dor crônica promove sintomas tre FM e depressão não foi encontrada pa-
Ouevedo & Silva (orgs.)
Avaliar riscos
Avaliar riscos ISAS
Trazodona IANS:
Anti-histamínicos Gabapentina
Tricíclicos em Venlafaxina
Zolpidem Topiramato
baixas doses Mirtazapina
Benzodiazepínicos Lamotrigina
Duloxetina
em baixas doses Pregabalina
Desvenlafaxina
ATCs
NSAID: drogas não esteroidais anti-inflamatórias Nortriptilina
COX li : Inibidores da ciclo-oxigenase 2
ISAS: inibidor seletivo da recaptação de serotonina
IANS: inibidor da recaptação de noradrenalina e
serotonina
Figura 14.1
Algoritmo para tratar a dor crônica
controlados com placebo demonstrou que ticas. Além de serem capazes de detectar
eles diminuíram a dor de forma significa- mecanismos de defesa, como a negação
tiva independentemente do efeito antide- -
e a repressao.
pressivo, mostrando um tamanho de efei-
to razoável (média de 0,48).
Em pacientes com sintomas não ex- Tratamento psicológico e social
plicados ecefaleia, fibromialgia, distúrbios
gastrintestinais), questiona-se se os antide- A máxima atenção deve ser dada às quei-
pressivos teriam um efeito antinoceptivo. xas do paciente para que estratégias de
A resposta é fornecida por uma metanáli- enfrentamento possam ser elaboradas por
se de 94 estudos referindo uma diferença ele. A mudança de foco deve ser incenti-
de 340/o entre a droga ativa e o placebo. 10 vada. E uma mudança de estilo de vida
Qual o papel da maconha no trata- faz parte do tratamento, visando reduzir
mento da dor? O sistema canabinoide po- os estresses ambientais mais associados
de bloquear mecanismos nociceptivos no ao desencadeamento do quadro clínico.
SNC para reduzir dor em FM, bem como Os pacientes devem ser educados na
outros tipos de dores. Entretanto, deve- relação entre dor crônica e depressão, fa-
-se considerar não só o risco de abuso/de- cilitando o manejo dessa comorbidade tão
pendência, mas também o risco de pro- frequente. Avaliar e facilitar o suporte so-
vocar um maior aumento de transtornos cial do paciente é essencial para um trata-
psiquiátricos em jovens (risco elevado de mento bem-sucedido.
surtos psicóticos em jovens com menos de
18 anos).
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lzabela G. Barbosa
Antonio Lucio Teixeira
-
INTRODUÇAO EPIDEMIOLOGIA
Os termos mania e melancolia já eram em- O transtorno bipolar do tipo I tem pre-
pregados, por Hipócrates, por volta de 400 valência de cerca de 1% na população
a.e., para designar alterações do humor mundial, não havendo diferença de dis-
acompanhadas por perturbações do pensa- tribuição do transtorno entre homens e
mento e da psicomotricidade, o que lem- mulheres. O transtorno bipolar do tipo II
bra as descrições atuais do transtorno bi- afeta entre 1,1 e So/o da população mun-
polar. Com efeito, as classificações atuais, dial, sendo mais prevalente no sexo fe-
a saber, o Manual diagnóstico e estatísti- minino. 4
co de transtornos mentais (DSM-IV-TR) 1 e A idade média de início dos sintomas
a Classificação internacional de doenças e situa-se entre 15 e 19 anos, e mais de me-
problemas relacionados à saúde (CID-10), 2 tade dos pacientes apresenta um episódio
baseiam-se, em parte, nesses termos clás- depressivo como quadro inicial. 5 Em um
sicos. 3 clássico estudo prospectivo com tempo mé-
O transtorno bipolar é definido pe- dio de acompanhamento de 12 anos, de-
la recorrência de episódios de mania monstrou-se que pacientes com o diagnós-
(transtorno bipolar do tipo I) ou hipoma- tico de transtorno bipolar do tipo I apre-
nia (transtorno bipolar do tipo II) alter- sentaram alterações do humor em 46,60/o
nados com episódios depressivos. Embo- do tempo, enquanto pacientes com trans-
ra a ocorrência de episódios de mania eou torno bipolar do tipo II exibiram alterações
de hipomania) seja a característica mais do humor em 65,Bo/o do tempo de duração
marcante do transtorno bipolar, os qua- do estudo. 6 Judd e colaboradores6 obser-
dros depressivos são, segundo alguns au- varam, ainda, que os pacientes bipolares I
tores, mais incapacitantes ao paciente. apresentaram, ao longo da vida, três vezes
O objetivo deste capítulo é discutir o mais sintomas depressivos quando compa-
transtorno bipolar, focando no diagnósti- rados a sintomas maníacos ou hipomanía-
co e no tratamento da depressão bipolar. cos, e os pacientes bipolares do tipo II, 3 7
Ouevedo & Silva (orgs.)
vezes mais sintomas depressivos que sinto- Esse fenômeno deve-se, em parte, ao con-
mas hipomaníacos. ceito de ''espectro bipolar'', difundido por
A duração média de um episódio de- Hagop Akiskal e outros autores, que con-
pressivo no transtorno bipolar do tipo 1 é templa transtornos depressivos com episó-
de 15 semanas, 7 sendo que o risco de no- dios breves (i.e., inferior a quatro dias de
vos episódios de humor permanece alto duração) de elevação do humor, episódios
mesmo após 40 anos de doença, com ris- recorrentes breves de curso cíclico, episó-
co de recrudescência dos sintomas até por dios depressivos disfóricos e estados mistos
volta dos 70 anos de idade. 8 como integrantes do transtorno bipolar.
O episódio depressivo no transtorno O conceito de espectro bipolar não
bipolar está associado com elevadas mor- é isento de controvérsias, sendo que uma
bidade e mortalidade. Kessler e colabora- das questões é a própria limitação dos sis-
dores9 mostraram que os dias de traba- temas classificatórios, como o DSM-IV-TR,
lho perdidos por pacientes com transtor- que definem critérios idênticos para a de-
no bipolar decorrem principalmente da pressão unipolar e para a depressão bipo-
gravidade e da persistência dos sintomas lar. O único critério diagnóstico para dife-
depressivos em comparação com os epi- renciar episódios depressivos bipolares de
sódios de mania. Cerca de 300/o dos pa- episódios depressivos unipolares é histó-
cientes apresentam tentativas de suicídio ria de episódio maníaco, hipomaníaco ou
ao longo da vida. 10 A presença de deses- misto.
perança e a gravidade dos sintomas de- Diversos estudos têm sugerido que o
pressivos estão entre os principais fatores transtorno bipolar é comumente diagnos-
preditores de tentativa de suicídio. 11 Des- ticado como transtorno depressivo uni-
taca-se que a mortalidade por suicídio no polar, o que contribui para uma aborda-
transtorno bipolar é nove vezes maior que gem terapêutica inadequada, incluindo a
na população geral. indicação isolada de antidepressivos sob
A expectativa de vida de pacientes bi- o risco de indução de viragens maníacas
polares é menor em comparação à da po- ou mistas. Já o diagnóstico equivocado
pulação geral, em parte, em decorrência de transtorno depressivo bipolar em pa-
dos elevados índices de suicídio e da ele- cientes com doença unipolar contribui pa-
vada frequência de comorbidades clínicas. ra maior prescrição de medicamentos, co-
Aparentemente, a comorbidade no trans-
. . , . .
mo os ant1ps1cot1cos, para o paciente, ex-
torno bipolar é mais regra que exceção. En- pondo-o desnecessariamente a potenciais
tre as comorbidades clínicas mais comuns, efeitos adversos.
destacam-se as doenças endócrino-meta- Possíveis indicadores de depressão
bólicas, como obesidade e diabetes melito, bipolar incluem: 12
e as doenças cardiovasculares. Entre 50 e
70% dos pacientes apresentam também al- a) história familiar de transtorno bipolar
gum tipo de comorbidade psiquiátrica, sa- b) transtorno depressivo iniciado antes
lientando-se os transtornos de ansiedade e dos 25 anos de idade
dependência e/ou abuso de substância. e) presença de episódios depressivos fre-
quentes de curta duração
, d) presença de episódios depressivos gra-
DIAGNOSTICO ves
e) presença de sintomas atípicos, como
O transtorno bipolar tem recebido crescen- hiperfagia, hipersonia e sensação de
te atenção e popularidade nos últimos anos. "corpo pesado'' (leaden paralysis)
Depressão
tividade do eixo HHA e do perfil pró-infla- Treatment (BAP) ;25 a primeira linha pela
matório sistêmico, a redução dos níveis de International Society of Bipolar Disorder
BDNF é também encontrada na depressão (CANMAT-ISBD) ; 26 a categoria 1 pelo In-
unipolar, 20 de modo que não é possível di- ternational Consensus Group on the Evi-
ferenciar a depressão bipolar desta a par- dence-Based Pharmacological Treatment
tir do estudo desses biomarcadores. of Bipolar I and II Depression (ICG). 27
Como tratamentos de segunda linha, 23
foram definidos aqueles cuja evidência dis-
TRATAMENTO ponível decorre de estudos pequenos, não
reproduzidos; estudos controlados ou aber-
A depressão bipolar é um quadro de difícil tos; estudos naturalísticos não controlados;
tratamento, envolvendo estratégias far- grandes estudos retrospectivos (caso-con-
macológicas (estabilizadores do humor, trole); relatos de caso e opiniões de especia-
antipsicóticos, antidepressivos), tratamen- listas. Também foram incluídos nesse tópico
tos biológicos não far111acológicos (eletro- as categorias C e D das diretrizes da WFS-
convulsoterapia, estimulação magnética BP;24 a segunda e a terceira linha das dire-
transcraniana) e psicoterapia. trizes do CANMAT-ISBD; 26 os níveis II a IV
As principais diretrizes internacio- das recomendações de BAP; 25 e as catego-
nais, publicadas nos últimos cinco anos, rias 2 e 3 do ICG. 27
para o tratamento de depressão em pa- Segundo a análise das diretrizes, po-
cientes com o diagnóstico de transtorno de-se concluir que o tratamento de episó-
bipolar do tipo I (Tabela 15.1) e do tipo dios depressivos em pacientes com trans-
II (Tabela 15.2) foram consideradas nes- torno bipolar tipo I apresenta como pri-
te capítulo. meira escolha as seguintes opções: lítio,
Segundo o modelo proposto por Ni- lamotrigina ou quetiapina em monotera-
voli e colaboradores23 as diretrizes de tra- pia. 24-27 Como farmacoterapia associada,
tamento foram classificadas nas seguintes pode ser considerado o uso de antidepres-
categorias: sivos, como os inibidores da recaptação
de serotonina (IRSs) ou a bupropiona,
a) primeira linha de tratamento sempre associados a um agente estabili-
b) segunda linha de tratamento zador do humor (p. ex., lítio, valproato
e) tratamentos não farmacológicos ou antipsicótico atípico). 24-27 O emprego
d) não recomendado de antidepressivos no tratamento da de-
pressão bipolar do tipo I deve ser avalia-
Assim, foram definidos como trata- do com cuidado, principalmente devido
mentos de primeira linha23 todas as subs- ao risco de viragem maníaca, de indução
tâncias ou intervenções com eficácia com- de episódios mistos e de ciclagem rápi-
provada a partir de metanálises ou de en- da.28,29 Deve ser considerado o uso de an-
saios clínicos randomizados que tenham tipsicóticos em caso de sintomas psicóti-
mostrado superioridade ao placebo ou su- cos associados, 25 assim como o emprego
perioridade ou equivalência ao tratamen- de eletroconvulsoterapia em casos de psi-
to estabelecido. Foram incluídos nesse tó- cose associada, depressão grave durante
pico as categorias A e B da World Federa- a gravidez ou elevado risco de suicídio. 25
tion of Societies of Biological Psychiatry Diversas substâncias vêm sendo propos-
(WFSBP) ; 24 o nível I da British Associa- tas como adjuvantes ao tratamento da de-
tion of Psychopharmacology and the Ca- pressão bipolar, como modafinila, 24,26,27
nadian Network for Mood and Anxiety pramipexol, 26 ácido ômega-3, 24 N-acetil-
Tabela 15.1
Diretrizes sobre tratamento agudo depressivo de pacientes com diagnóstico de transtorno bipolar do tipo 1
lnternational
British Association of Consensus Group on
Psychopharmacology and the Evidence-Based
World Federation of the Canadian Network lnternational Society Pharmacological
Societies of Biological for Mood and Anxiety of Bipolar Disorder Treatment of Bipolar 1 and
Psychiatry (WFSBP)24 Treatment (BAP)25 (CANMAT-ISBD)26 li Depression (ICG)27
Primeira linha Monoterapia OTP, FLU, OLZ LMT, VPA LMT, Li, VPT, ECr, OTP Li, LMT, OTP Li, LMT, OTP
Terapia OLZ + FLU, LMT + Li; ISRS + (Li ou VPA ou ISRS + (Li ou VPA); OLZ
combinada MDF + TTO atual; N-Acis APA) + ISRS; Li + VPT; Bup +
+ Li ou VPT (Li ou VPT)
Segunda linha Monoterapia CBZ; Li VPT; CBZ; OLZ VPT; CBZ; OLZ; FLX
Terapia Li ou VPT + (SER ou VEN ATC ou VEN + (Li ou VAP ISRS+OTP; LMT + (Li ou Li ou VPT + (SER ou VEN
combinada ou TOP ou INO ou Om- ou APA) VPn; MDF + TTO atual; ou BUP); LMT + TTO atu-
3 ou PAR ou BUP) OU Li + CBZ; Li + PRX; VEM al; QTP + TTO atual; MDF
TTO atual + (IMAO ou le- + (Li ou VPT); IMAO + Li; + TTO atual; AEC + TTO
votiroxina ou GBP) OU ECT; APA + (Li ou VPn; atual; AD + (Li ou VPT ou
IMP + Li ATC + APA; Li ou VPT + APA)
(CBZ + ISRS + LMn
Tabela 15.2
-
(/)
•
Diretrizes sobre tratamento agudo depressivo de pacientes com diagnóstico de transtorno bipolar do tipo li
lnternational
British Association of Consensus Group on
Psychopharmacology and the Evidence-Based
World Federation of the Canadian Network lnternational Society Pharmacological
Societies of Biological for Mood and Anxiety of Bipolar Disorder Treatment of Bipolar 1and
Psychiatry (WFSBP)24 Treatment (BAP) 25 (CANMAT-ISBD)26 li Depression (ICG) 27
Segunda linha Monoterapia VAP AD* Li, LMT, VPT, AD, ZPD OTP; ISRS; PRX
Abreviaturas: AD, antidepressivo; APA, antipsicótico atípico; ISRS, inibidor seletivo da recaptação de serotonina; Li, lítio; LMT, lamotrigina; PRX, pramipexol; OTP, quetiapina;
VPT, valproato.
* O uso de antidepressivos de forma isolada deve ser considerado com cuidado somente para pacientes sem história de episódios de mania.
Depressão
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Mireia Sulzbach
lves Cavalcante Passos
Elisa Brietzke
Mareia Kauer-Sant'Anna
pressão uni e bipolar no ciclo grávido- Nas Tabelas 16.2, 16.4, 16.6 e 16.8,
-puerperal. referentes ao período de amamentação,
são mostradas evidências para o uso , de
psicotrópicos durante esse período. E ob-
Orientações quanto à utilização das servado o nível de compatibilidade de ca-
tabelas apresentadas neste capítulo da fármaco com o aleitamento matemo
com base na avaliação dos seguintes cri-
Nas Tabelas 16.1, 16.3, 16.5 e 16.7, refe- térios:21
rentes ao período gestacional, é utilizada
a classificação da US Food and Drug Ad- • Características farmacocinéticas do fár-
ministration (FDA) para o risco de uso de maco
fármacos para o feto: • Dados sobre a excreção de fármacos no
leite matemo
• Categoria A: Estudos adequados e • Número de dias de tratamento em amos-
bem controlados não conseguiram de- tragem, de acordo com a administração
monstrar risco para o feto durante o aguda e crônica
primeiro trimestre da gravidez ee não • Incidência e tipo de efeitos adversos re-
há nenhuma evidência de risco em tri- latados nas crianças amamentadas
mestres posteriores).
• Categoria B: Estudos de reprodução Nesse sentido, cada substância foi
animal não demonstraram risco para o classificada como:
feto e não existem estudos adequados e
bem controlados em mulheres grávidas. • Compatível: quando seu uso durante o
• Categoria C: Estudos de reprodução aleitamento materno é considerado
animal têm demonstrado efeito adver- seguro porque a dosagem infantil re-
so sobre o feto e não existem estudos lativa é menor que 10°/o da dosagem
adequados e bem controlados em se- materna e não foram relatados efeitos
res humanos, mas os benefícios poten- adversos relevantes nas crianças ama-
ciais podem justificar o uso do fár1naco mentadas.
em mulheres grávidas, apesar dos ris- • Para ser usado com cautela: a dispo-
cos potenciais. nibilização dos dados não permite
• Categoria D: Há evidência positiva de uma avaliação do perfil de seguran-
risco fetal humano, com base em da- ça da utilização do fármaco durante
dos de reações adversas ou de estudos a amamentação (p. ex., pequeno nú-
em seres humanos, mas os benefícios mero de pares mãe-criança, impor-
potenciais podem justificar o uso do tância dos efeitos adversos relevan-
fá11naco em mulheres grávidas, apesar tes na criança) ou por causa de um
dos riscos potenciais. possível acúmulo da concentração do
• Categoria X: Estudos em animais ou em psicofármaco durante o uso prolon-
humanos demonstraram anormalidades gado.
fetais e/ ou há evidência positiva de ris- • Contraindicada: o uso durante a ama-
co fetal humano, com base em dados de mentação é contraindicado porque a
reações adversas, e os riscos envolvidos dosagem relativa no lactente é maior
no uso do fár1naco em mulheres grávi- que 100/o da materna, e efeitos ad-
das claramente superam os benefícios versos relevantes foram relatados nas
potenciais. crianças amamentadas.
Depressão
• Diretrizes sugerem que os ISRSs podem ser usados com cautela durante a gravidez. 22•23
• A fluoxetina, por haver mais estudos, é o ISAS de escolha na gestação. 22•23
• A paroxetina deve ser evitada. 19
• Os ISRSs, em especial a paroxetina, tomados após 20 semanas de gestação, podem estar as-
sociados a um risco aumentado de hipertensão pulmonar persistente no recém-nascido. 25
• Na amamentação, dar preferência à sertralina devido a seus níveis de concentração mais bai-
xos no leite materno. 21
• Citalopram e fluoxetina estão presentes no leite materno em níveis relativamente elevados.21
• Existem evidências consideráveis de que a decisão de não prescrever antidepressivos para
uma mulher que está deprimida, ou suscetível a ter uma recorrência durante a gravidez, pode
gerar riscos maiores para a mulher e seu feto do que os riscos de exposição à medicação. 26
Depressão
Tabela 16.1
Classificação da FDA do risco do uso de antidepressivos
para o feto durante o período gestacional
Antidepressivo Categorias FDA
ISRSsA B e D X
Fluoxetina
Paroxetina
Sertralina
Citalopram
Escitalopram
Fluvoxamina
IRSNs
Venlafaxina
Duloxetina
Outros
Bupropiona ?•
Mirtazapina
Tabela 16.2
Compatibilidade dos antidepressivos com a amamentação
Compatibilidade com
Antidepressivo a amamentação Efeitos adversos relatados
ISRSs
IRSNs
Venlafaxina Sim
Duloxetina Cautela
Outros
Tabela 16.4
Tabela 16.3 Compatibilidade dos ADTs
Classificação da FDA do risco do com a amamentação
uso de ADTs para o feto durante
Compatibilidade com
o período gestacional ADT a amamentação
ADT Categorias FDA Amitriptilina Sim
A B e D X Clomipramina Sim
Tabela 16.6
Compatibilidade dos antipsicóticos com a amamentação
Compatibilidade com
Anti psicótico a amamentação Efeitos adversos relatados
Haloperidol Sim Atraso no desenvolvimento psicomotor
Clorpromazina Sim Atraso do desenvolvimento psicomotor,
sonolência e letargia
Clozapina Não Sedação e agranulocitose
Olanzapina Sim
Quetiapina Cautela
Risperidona Cautela
Aripiprazol Cautela
Usando lítio
Planejando Gravidez no
engravidar 1° trimestre
1 1
Com ou sem 1 1
alto risco Não bem ou com Bem, sem alto risco
de recaída alto risco de recaída de recaída
1
1 1
Aconselhada 1 1 1 1
a descontinuar
Troca gradual Ou se o lítio Interrupção Se sintomas
o lítio por •
. .um, .
for a única gradual do ou risco
1 ant1ps1cot1co alternativa: lítio por de recaída,
1 1 monitoramento quatro continua
dos, níveis
. semanas com lítio no
Se risco Ou troca
ser1cos 2° trimestre
de recaída por
. .um, .
retorna ant1ps1cot1co
lítio no
2° trimestre
Figura 16.1
Fluxograma para auxílio na tomada de decisão quanto ao uso do lítio na gravidez.
Tabela 16.7
são ao pré-natal; nutrição inadequada;
exposição a outras medicações, que po-
Classificação da FDA do risco do uso dem causar danos, na tentativa de ame-
de anticonvulsivantes para o feto . . . ., .
n1zar os sintomas ps1qu1atr1cos; aumento
durante o período gestacional
no consumo de álcool e tabaco; perturba-
Anticonvulsiva nte Categorias FDA ção do ambiente familiar, com desajustes
A B C D X entre o casal; e, consequentemente, pre-
juízo da relação mãe-bebê. Assim, o scre-
Valproato
ening, a prevenção e o tratamento, quan-
Carbamazepina do indicado, para transtornos do humor
Lamotrigina são essenciais para a boa evolução da ges-
Fonte: Adaptada de Menon. 27 tação e do puerpério. O manejo, sempre
que possível, deve ser multiprofissional,
em centros de atenção terciária para aten-
dimento de gestação de alto risco quando
A ECT deve ser considerada para mu- houver suspeita ou confirmação do trans-
lheres grávidas com depressão grave, es- torno do humor.
tados afetivos graves mistos ou mania no Ainda que as evidências apresentadas
contexto do transtorno bipolar, ou, ainda, neste capítulo auxiliem a tomada de deci-
catatonia, caso a saúde física da mãe ou são clínica durante o ciclo grávido-puerpe-
do feto esteja em sério risco. 25 ral, certamente as dúvidas nesse período
são frequentes e variam muito caso a ca-
so, por envolverem um julgamento difícil
-
CONCLUSAO dos riscos e benefícios de um tratamento.
Nessa difícil tarefa, um excelente recur-
A doença psiquiátrica materna não trata- so na hora de prescrever uma medicação
da adequadamente resulta em pouca ade- durante a gestação e o periparto, seja pa-
Tabela 16.8
Compatibilidade dos anticonvulsivantes com a amamentação
Compatibilidade com
Anticonvulsiva nte a amamentação Efeitos adversos relatados
Valproato Sim, com cautela Púrpura trombocitopênica, anemia
(monitorar o nível e reticulocitose
sérico na criança)
Carbamazepina Sim Diminuição do ganho de peso, sedação,
espasmos após a interrupção do aleitamento
materno; disfunção hepática transitória,
sucção pobre; cianose periférica e ausência
de resposta a estímulos
Lamotrigina Não Hiperexcitabilidade do motoneurônio,
irritabilidade e dificuldade na alimentação
Oxcarbazepina Cautela
Topiramato Não
Se uma mulher grávida estava tomando medicamentos com risco de teratogenicidade conhecido
(lítio, valproato, lamotrigina, carbamazepina e paroxetina) no momento da concepção e/ou no pri-
meiro trimestre, os profissionais da saúde devem:
ra patologias psiquiátricas ou não, é fazer 6. O'Hara Mw, Schlechte JA, Lewis DA, Wright EJ.
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Christian Kieling
lação adulta, com 4 a 9% dos indivíduos sim como para a população adulta, acre-
apresentando um episódio depressivo em dita-se que a incidência e a recorrência
um período de 12 meses. 1,3 de episódios depressivos possam ser me-
Ao longo da adolescência, o ris- diadas ou moderadas por fatores estres-
co acumulado para a ocorrência de um sares como perdas, negligência ou abuso,
episódio depressivo aumenta de 5 para conflitos e frustrações; entretanto, os efei-
20%. 4,s Muitos fatores podem explicar o tos de tais estressares parecem estar con-
aumento na ocorrência de depressão após dicionados sobretudo pelo modo como a
a puberdade. A adolescência constitui um criança interpreta e lida com tais dificul-
período crucial no desenvolvimento, sen- dades.
do marcada pela confluência de mudan- A duração média de um episódio de-
ças biológicas, psicológicas e sociais que pressivo maior entre crianças e adolescen-
podem acarretar uma janela de incidên- tes referidos para tratamento é de aproxi-
cia para transtornos mentais. 6 Com o iní- madamente oito meses. Embora a maioria
cio da puberdade, ocorre um rápido pro- dos jovens se recupere do primeiro episó-
cesso de maturação física e de incremento dio, dados de estudos clínicos e comuni-
cognitivo (com o aumento da capacidade tários sugerem probabilidades de recor-
de pensamento abstrato e de generaliza- rência de 20 a 600/o entre 1 e 2 anos após
ções), bem como de transições sociais e a remissão, chegando a 70% após cinco
interpessoais, com mudanças nas relações anos. 10
escolares ou nos papéis sociais junto à fa-
mília e aos pares. 7 ,
Um dos achados mais consistentes DIAGNOSTICO
na literatura é o aumento na proporção
de mulheres apresentando quadros de de- Embora os sintomas depressivos possam
pressão após a puberdade. Essa discre- ser entendidos como um continuum, é
pância na razão feminino/masculino é ob- preciso uma decisão diagnóstica para de-
servada tanto em estudos clínicos quan- finir a necessidade de tratamento. A Asso-
to naqueles de base populacional, sendo, ciação Americana de Psiquiatria da Infân-
assim, pouco provável que reflita um viés cia e da Adolescência11 recomenda a reali-
de busca ou encaminhamento para trata- zação de perguntas-chave de triagem para
mento. Apesar de as razões para tal dife- depressão (humor triste ou irritável e ane-
rença não serem completamente compre- donia) em toda consulta psiquiátrica.
endidas, sugere-se que alterações hor1no- Assim como em qualquer avaliação
nais tenham um papel relevante nesse de crianças e adolescentes, o estabeleci-
fenômeno, atuando mais no sentido de mento do vínculo e de uma relação de
aumentar a sensibilidade a estressares confidencialidade com a criança ou o jo-
ambientais do que propriamente causan- vem é essencial, e a investigação junto ao
do a depressão per se. maior número de informantes possível
O principal fator de risco para o de- (criança/adolescente, pais, escola) cons-
senvolvimento de transtornos depressivos titui a melhor estratégia para capturar o
é uma alta carga familiar de depressão. 8 quadro psicopatológico subjacente. Ha-
Estudos de adoção, gêmeos e de alto ris- vendo necessidade de priorizar uma das
co corroboram o papel central do compo- fontes de informação, a literatura pare-
nente familiar na etiologia da depressão ce sugerir que sintomas internalizantes de
maior, provavelmente por meio da intera- modo geral - e sintomas depressivos de
ção de fatores genéticos e ambientais. 9 As- modo específico - tendem a ser mais rela-
Depressão
tados pelos pacientes na comparação com mais velhos, sintomas como culpa exces-
cuidadores ou professores. siva, dificuldade para tomar decisões ou
Diversas fontes de evidência apon- ideação suicida têm aplicabilidade redu-
tam para a relevância da inclusão da fa- zida entre crianças mais jovens. Além dis-
mília na compreensão, na prevenção e so, mesmo em adolescentes, a depressão
no tratamento de transtornos depressi- costuma ser menos reconhecida do que
vos. Infelizmente, os critérios diagnósti- em adultos, possivelmente devido a fato-
cos atualmente disponíveis negligenciam res como flutuação de sintomas, reativi-
a importância dessa questão. 1 Recomen- dade do humor e forte irritabilidade. 5 Na
da-se que a avaliação da família leve em Tabela 17.1, estão listados alguns sinto-
consideração diversos fatores sociocultu- mas relacionados aos critérios diagnós-
rais que possam influenciar a apresenta- ticos atuais para episódios depressivos e
ção, a descrição e a interpretação de sin- sua ocorrência relativa conforme as dife-
tomas, não enfocando apenas em pro- rentes faixas etárias. 1
blemas, mas também incluindo aspectos Crianças podem ter dificuldades em
positivos, que poderão ser essenciais no verbalizar seus sentimentos ou podem
planejamento de abordagens terapêuti- até negar que estão deprimidas. Assim,
cas.11 atenção especial deve ser dada a mani-
Apesar dos avanços obtidos com a festações observáveis, como alterações
adoção de sistemas classificatórios opera- no padrão de sono, irritabilidade, que-
cionais (DSM e CID), as dificuldades no da no desempenho escolar e retraimento
diagnóstico de quadros depressivos em social. 11 Para a avaliação longitudinal de
crianças e adolescentes são ainda maio- sintomas do humor, pode ser útil a ado-
res do que as encontradas em adultos. Is- ção de um diário do humor ou de linhas
so ocorre porque os critérios diagnósticos de tempo que lancem mão de aniversá-
atuais foram desenvolvidos para a popu- rios, férias escolares ou feriados como
lação adulta, negligenciando muitas das âncoras. O humor é pontuado de muito
diferenças desenvolvimentais existen- feliz a muito triste/irritado, sendo que
tes entre crianças, adolescentes e adultos situações estressantes e eventuais trata-
(ver Capítulo 3, Psicopatologia e diagnós- mentos também são assinalados. O em-
tico da depressão). prego de linhas de tempo pode ser ex-
No que diz respeito a diferenças etá- tremamente valioso na identificação de
rias, as únicas adaptações do DSM-IV- gatilhos, na avaliação da resposta a tra-
-TR12 para o diagnóstico de um episódio tamentos e na identificação de eventu-
depressivo maior em crianças são as in- ais episódios maníacos ou hipomaníacos
clusões de humor irritável como um dos (sobretudo na diferenciação destes em
possíveis sintomas cardinais e de ausên- relação ao retorno à eutimia). 11
cia de ganho de peso esperado para a ida- No diagnóstico de transtornos depres-
de como um dos marcadores de alteração sivos, pode-se lançar mão de procedimen-
de peso ou apetite. Além disso, o DSM- tos for1nais como entrevistas estruturadas/
-IV-TR12 também reduz de dois para um semiestruturadas ou escalas de avaliação.
ano a duração mínima de sintomas para a Além de entrevistas gerais para a avalia-
caracterização do transtorno distímico. A ção de transtornos mentais na infância e na
CID-1013 não apresenta adaptações relati- adolescência (p. ex., K-SADS e DAWBA),
vas a aspectos desenvolvimentais. instrumentos específicos foram desenvol-
Mesmo que os critérios atuais sejam vidos para a avaliação de sintomas de-
razoavelmente aplicáveis a adolescentes pressivos em crianças e adolescentes.
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 17.1
Apresentação de sintomas depressivos conforme grupos etários
Sintoma Pré-escolar Escolar Adolescente Adulto
,
Disforia +++,porem com +++,mais +++,podendo +++
mais variabilidade persistente do apresentar-se
•
temporal, sendo que em crianças como isolamento
de difícil menores, mas
caracterização ainda variável
, . ,
Anedonia +++,porem + + +, varia, porem +++,podendo +++
variando no tempo menos ao longo manifestar-se
- se
- parece nao do tempo - parece como tédio
divertir muito ou relata não
se divertir
Alterações
de conduta +++ +++ +++ +
Redução
de energia + ++ +++ +++
Perda de
peso/alteração
de apetite + + ++ +++
Outras queixas
somáticas +++ +++ ++ +
Delírios Muito raros Muito raros + ++,
aumentando
com a idade
Entre as escalas específicas mais uti- atividades escolares, capacidade para di-
lizadas internacionalmente e disponíveis versão, queixas físicas e irritabilidade. A
em versões brasileiras estão o Children's escala inclui 17 itens, toma em média 15
Depression Rating Scale (CDRS) e o a 20 minutos para aplicação, com versões
Children's Depression Inventory (COI). de autorrelato e relato dos pais. O COI,
O CDRS, ou Escala para Avaliação de De- ou Inventário de Depressão Infantil, é ou-
pressão em Crianças, é uma medida ba- tro instrumento frequentemente utiliza-
seada na escala Hamilton utilizada para do. Sua versão original continha 27 itens
adultos, englobando tópicos como humor baseados no Inventário de Depressão de
deprimido, autoestima, ideação suicida, Beck; no Brasil, os estudos de adaptação
Depressão
que avaliassem a TIP versus psicofánna- eficácia quanto em relação a efeitos ad-
cos ou placebo. 16 Há uma ideia geral de versos (ver Quadro 17.1). Exceto pelo
que a TIP seja especialmente benéfica pa- emprego de dosagens iniciais mais baixas
ra adolescentes com altos níveis de con- para evitar efeitos colaterais, o uso de an-
flitos interpessoais com os pais, altos ní- tidepressivos em crianças e adolescentes
veis de sintomatologia depressiva ou an- geralmente segue as mesmas doses utili-
siedade comórbida. 22 Intervenções com zadas em adultos.
foco na família também têm a vantagem Uma metanálise que avaliou o uso
de trabalhar questões críticas do contex- de diversos ISRSs, venlafaxina, mirtazapi-
to da criança, surgindo como uma estra- na e nefazodona em 13 ensaios clínicos
tégia promissora nos últimos anos, sobre- randomizados, totalizando 2.910 partici-
tudo em crianças mais jovens. 1 pantes, evidenciou que os antidepressi-
vos foram eficazes no tratamento da de-
pressão maior em crianças e adolescentes.
Psicofármacos Houve uma resposta significativa de 61 o/o
nos pacientes tratados com fármacos ati-
Crianças e adolescentes parecem apresen- vos em comparação com 50% entre aque-
tar um padrão de resposta diferente ao les que receberam placebo (NNT = 10).
observado em adultos no que diz respei- Dados específicos para a fluoxetina suge-
to a antidepressivos - tanto em termos de rem um NNT = 5, o que possivelmente es-
Em 2004, a Food and Drug Administration (FDA) tomou a decisão de incluir uma tarja preta aler-
tando acerca do risco de suicidalidade associado ao uso de antidepressivos entre indivíduos com
menos de 25 anos de idade. Tal iniciativa foi tomada após uma metanálise envolvendo mais de
4.400 crianças e adolescentes sugerir um risco maior de eventos adversos de ideação ou compor-
tamento suicida durante os primeiros meses de tratamento com antidepressivos. O risco desses
eventos foi de 4°/o com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) na comparação
com 2°/o no grupo-placebo. Mais recentemente, outra metanálise, incluindo mais sete ensaios não
avaliados na revisão inicial, verificou um aumento no risco de comportamento/pensamentos sui-
cidas de 2,5o/o com antidepressivos e de 1,7% com placebo. 23
Baseados no fato de que o número necessário para tratar (NNT) para o tratamento dos transtor-
nos depressivos nessa fa ixa etária é de pelo menos 1O e o número necessário para produzir um
dano (NNH) é de 112, concluiu-se que os benefícios associados ao uso dos antidepressivos supe-
rariam os seus potenciais riscos. Além disso, no ano seguinte à inclusão da advertência da FDA, o
número de prescrições de ISRSs nos Estados Unidos caiu e as taxas de suicídio aumentaram pe-
la primeira vez após 1O anos de queda ou estabilidade. 24
De todo modo, o uso de ISRSs em crianças e adolescentes deve ser cauteloso, atentando para o
surgimento de pensamentos ou comportamentos suicidas e de mudanças inesperadas de com-
portamento, como, por exemplo, insônia, agitação e retraimento social. O conhecimento acerca
das características de tais eventos e uma atitude ativa, buscando mitigar fatores predisponentes,
devem fazer parte de toda estratégia terapêutica. Eventos suicidas tendem a acontecer mais no
início do tratamento (3 a 5 semanas) e entre aqueles que não respondem aos fármacos, tendo co-
mo preditores alta ideação suicida no início do tratamento, maior gravidade do quadro, conflitos
familiares e uso de álcool e/ou drogas.
Quevedo & Silva (orgs.)
depressivos. Estudos sugerem que o trata- 6 . Paus T, Keshavan M, Giedd JN. Why do many
mento de mães com depressão está asso- psychiatric disorders emerge during adolescen-
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effectiveness trial of interpersonal psychothera-
Cassio M. C. Bottino
Ricardo Barcelos-Ferreira
Salma Rose lmanari Ribeiz
-
INTRODUÇAO O objetivo deste capítulo é fazer uma
revisão da literatura sobre intervenções
Entre os transtornos mentais que ocorrem farmacológicas e não farmacológicas no
em idosos, a depressão é a causa mais fre- tratamento da depressão tardia e sugerir
quente de sofrimento emocional e piora abordagens combinando dados com base
da qualidade de vida, devendo ser reco- em evidências científicas e na experiência
nhecida como um grave problema de saú- clínica, a fim de orientar os profissionais
de pública. 1 O diagnóstico de depressão da saúde que atendem idosos.
maior pode ser menos comum em pessoas
mais velhas, existindo estudos que mos-
tram prevalências consideravelmente me-
-
CONSIDERAÇOES
nores em comparação a populações mais FARMACOCINÉTICAS EM IDOSOS
jovens. 2,3 No entanto, quando instrumen-
tos diagnósticos mais abrangentes são uti- Devido às alterações na eficiência da fun-
lizados, e considerando as condições mais ção hepática, renal e gastrintestinal, os
comuns em idosos, como luto e demên- parâmetros farmacocinéticos dos medi-
cia, as taxas de prevalência atingem de 6 camentos são alterados nos idosos, o que
a 200/o em idosos residentes na comunida- pode afetar a for111a como são utilizados.
de, SOO/o naqueles que vivem em institui- Em particular, a eficiência do metabolismo
ções de longa permanência e 48% nos que de substâncias psicotrópicas diminui com
estão em hospitais. 4- 6 a idade, levando a aumento da meia-vida
Apesar de sua importância clínica, de eliminação, depuração reduzida e ní-
a depressão permanece subdiagnostica- veis plasmáticos elevados, além do aumen-
da e inadequadamente tratada em cerca to da sensibilidade dos receptores. Assim,
de 70% dos pacientes idosos. De acordo os idosos tomam-se mais suscetíveis a uma
com pesquisas de pacientes em unidades série de efeitos adversos, tais como seda-
básicas de saúde nos Estados Unidos, ape- ção, efeitos anticolinérgicos, efeitos extra-
nas 22, 70/o dos pacientes com depressão piramidais e hipotensão ortostática. 8 Esses
receberam prescrição de antidepressivos, efeitos podem ocorrer mesmo em níveis
e apenas 13,7% destes estavam receben- plasmáticos modestos dos medicamentos. 9
do a dose adequada. 7 A sedação é particularmente preocupan-
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 18.1
Principais antidepressivos e seus efeitos colaterais
Alteração de
Efeitos frequência e
Sedação Hipotensão anticolinérgicos ritmo cardíaco
seu efeito ótimo, sendo que a eficácia deve nos evidências em relação à sua utilização
ser questionada quando não houver respos- nessa população. 14
ta nas primeiras quatro semanas.12 As vantagens da bupropiona incluem
Com relação ao tratamento farmaco- a ativação - podendo ser indicada em pa-
lógico da depressão no idoso, uma revisão cientes idosos com depressão anérgica ou
de ensaios clínicos controlados mostrou com retardo psicomotor significativo - e fal-
que todas as três classes de antidepres- ta de efeitos adversos cardiovasculares, an-
sivos (ADT, ISRS e IMAO) são eficientes ticolinérgicos ou cognitivos. A bupropiona
para o tratamento de pacientes ambula- não causa sedação, mas pode interferir no
toriais, aqueles com doenças médicas co- sono. 14 Sua formulação de liberação prolon-
mórbidas e pacientes hospitalizados. 13 gada demonstrou eficácia semelhante à da
Os ISRSs são atualmente os antide- paroxetina e uma menor frequência de al-
pressivos de escolha para pacientes ido- guns efeitos adversos em idosos. 15
sos. Os efeitos adversos mais frequen- A duloxetina foi avaliada em dois
tes são diarreia, náuseas e perda de pe- estudos multicêntricos, controlados com
so, aumento do risco de fraturas ósseas placebo, que incluíram pacientes deprimi-
(quedas), disfunção sexual, hiponatremia dos que tinham pelo menos 55 anos de
(especialmente em mulheres com bai- idade. Esse medicamento foi significativa-
xo índice de massa corporal ou que usam mente melhor do que o placebo na escala
diuréticos) e aumento do risco de sangra- de depressão de Hamilton, e a probabili-
mento gastrintestinal eespecialmente em dade estimada de remissão para os doen-
pacientes em uso de anti-inflamatórios tes tratados com duloxetina e44, 1o/o) foi
não esteroides ou varfarina). 8 significativamente maior em comparação
Entre os ADTs, a nortriptilina é o com o grupo-placebo (16,1 %). Dor gene-
mais bem tolerado e recebeu considerável ralizada e lombar também melhoraram
atenção no tratamento de doentes idosos. no grupo tratado com duloxetina. 16
Os eventos adversos relatados com nor- A mirtazapina é um antidepressivo
triptilina incluem taquicardia, boca seca, eficaz e seguro em idosos, tem proprieda-
constipação e anor1nalidades do paladar. des ansiolíticas e sedativas que também a
A eficácia e a tolerabilidade dos tornam útil como agente hipnótico. A mir-
ADTs, ISRSs e IMAOs para o tratamento tazapina não está associada com intera-
de idosos com depressão estão relativa- ções medicamentosas ou inibição enzimá-
mente bem estudadas, embora os IMAOs tica e seu efeito adverso mais importante é
possam ser uma exceção. Em outra revi- o ganho de peso. 14 Em dois ensaios clínicos
são de literatura, Salzman e colaborado- randomizados realizados com pacientes
res 14 relataram que os IMAOs foram con- idosos, a mirtazapina foi comparada com
siderados seguros e eficazes para idosos a amitriptilina (n = 115) e com a paroxeti-
deprimidos em um pequeno número de na (n = 246) e apresentou eficácia similar
estudos. Esses autores concluíram que es- à amitriptilina14 e superior à paroxetina. 17
tudos adicionais com IMAOs são neces- O perfil far1nacológico da venlafa-
sários, especialmente em pacientes com xina a torna uma alternativa interessan-
doenças médicas graves e em idosos. te para doentes idosos, devido à peque-
Outros antidepressivos, tais como na possibilidade de interações com outras
bupropiona, duloxetina, mirtazapina e substâncias, à fraca inibição do citocromo
venlafaxina, são considerados eficazes e P450 e ao baixo nível de ligação a proteí-
seguros para o tratamento de pacientes nas do soro. Os resultados de três ensaios
idosos com depressão, mas existem me- duplos-cegos e de quatro abertos confir-
Ouevedo & Silva (orgs.)
a dose é adequada, toma-se aconselhável No entanto, deve ser salientado que uma
uma mudança de medicamento. Da mesma combinação de fár1nacos pode aumentar o
for1na, quando os pacientes são responde- risco de efeitos colaterais devido a intera-
dores parciais, os clínicos devem aumentar ções farinacodinâmicas. 25 Além disso, mu-
a dose e esperar de 3 a 5 semanas antes de danças de medicação podem ser tão efica-
mudar de medicação. Quando os pacientes zes quanto o aumento pela adição de uma
estão utilizando doses elevadas de medica- segunda substância, bem como diminuir o
mento, a duração mais prolongada do tra- risco de quedas e efeitos colaterais. 25
tamento é recomendada (de 3 a 6 semanas, Devido à possibilidade de interações
quando pouca ou nenhuma resposta é ob- medicamentosas e adicionais efeitos se-
servada, ou de 4 a 7 semanas, quando uma cundários indesejáveis, é importante ava-
resposta parcial é observada). Vários fato- liar a eficácia da combinação de psicote-
res clínicos podem influenciar a decisão de rapia e farmacoterapia para a depressão
aumentar ou alterar a medicação, mas não a fim de atingir respostas parciais ou to-
existe consenso para servir como um guia. 25 tais. 25 As combinações antidepressivas
A situação clínica mais comum quan- mais frequentemente utilizadas são des-
do um aumento ou uma combinação de critas na seção seguinte.
medicação é sugerida ocorre quando um
paciente exibe uma resposta parcial a um
antidepressivo e o clínico não quer arriscar INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO
a perda da resposta ao trocar de medica- DE SEROTONINA E AGENTES HETEROCÍCLICOS
mento. No entanto, não há nenhuma evi-
A maioria dos estudos sobre os efeitos da
dência para apoiar a preocupação de que
combinação de inibidores seletivos da re-
as mudanças de medicação conduzam a
uma perda da resposta clínica. Assim, uma captação de serotonina (ISRSs) com agen-
mudança de antidepressivo é recomenda- tes heterocíclicos na depressão refratária
são pequenos ensaios clínicos com adul-
da nesses casos, para atingir a remissão. 25
Em última instância, a utilização de tos jovens.
Os ISRSs interferem no metabolismo
3 ou 4 cursos de antidepressivos está as-
de ADTs, aumentando seus níveis séricos. 28
sociada com respostas positivas em 80 a
90% dos pacientes. 25 Em alguns casos, pa- Apesar de resultados promissores,
ra que a remissão seja atingida, pacientes dados adicionais são necessários para
apoiar uma terapia combinada com ISRSs
e médicos devem trabalhar juntos e man-
ter a perseverança ao longo de várias ten- e ADTs30 em adultos.
tativas e vários medicamentos. Essa abordagem terapêutica de com-
binação requer um cuidado especial pa-
ra os idosos por causa das características
Estratégias de combinação únicas do seu metabolismo e do uso fre-
quentemente simultâneo de muitos medi-
COMBINADO TERAPIA FARMACOLÓGICA camentos, o que aumenta o risco de efeitos
adversos e diminui os efeitos dos fármacos.
A terapia antidepressiva de combinação é
definida como a prescrição de duas subs-
tâncias que apresentam diferentes meca- INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO
nismos de ação. 25 Aproximadamente meta- DE SEROTONINA E BUPROPIONA
de dos pacientes com depressão maior que
são tratados com o aumento ou alteração Combinar os ISRSs com a bupropiona é
da medicação respondem ao tratamento. 28 uma estratégia comumente usada, embo-
Depressão
ra a maioria dos dados sejam obtidos a recidiva quando o tratamento com lítio é
partir de casos-relatos e pequenos ensaios interrompido em idosos.
clínicos abertos. 28 Há alguma evidência Hor1nônios da tireoide têm sido utili-
de redução de efeitos adversos quando a zados há mais de 20 anos como agentes de
bupropiona é adicionada ao tratamento aumento no tratamento da depressão uni-
com ISRS. 28 O ganho de peso foi observa- polar. 28 Embora as doenças da tireoide ocor-
do em tratamento a longo prazo com al- ram em uma pequena fração de pacientes
guns ISRSs, enquanto a perda de peso foi com depressão, o uso de hor111ônios da ti-
observada no tratamento com bupropiona reoide pode ser eficaz em pacientes com de-
em longo prazo. 28 pressão e função tireoidiana norinal.28 No
Estudos duplos-cegos e controlados, entanto, estudos controlados com pacientes
com a bupropiona como agente no trata- idosos não foram encontrados.
mento de depressão refratária em adultos Antipsicóticos atípicos foram avalia-
jovens e idosos são necessários para avaliar dos como agentes de aumento no trata-
os resultados positivos dos ensaios abertos. mento da depressão refratária. A terapia
adjuvante com antipsicóticos atípicos mos-
Estratégias de potencialização trou maiores taxas de resposta em compa-
ração com a monoterapia com antidepres-
Estratégias de potencialização são comu- sivo e placebos, mas também resultou em
mente definidas como a adição de um não maior abandono por causa de efeitos co-
antidepressivo a antidepressivos. 28 Em pa- laterais. 28 O uso crônico de antipsicóticos
cientes que não respondem à terapia far- como agentes de aumento na depressão
macológica de primeira linha, a utilização maior deve ser cuidadosamente avaliado,
de estratégias de potencialização mostrou uma vez que esses fár1nacos são frequente-
uma taxa de resposta de SOO/o. Nos idosos, mente associados a distúrbios metabólicos,
essa estratégia é reservada para casos de sedação, efeitos extrapiramidais e hiper-
depressão maior, que podem ser difíceis prolactinemia. 28 Esses efeitos secundários
de tratar. 28 podem ser particular1nente prejudiciais em
Alguns estudos sugerem possíveis pacientes mais velhos.
preditores da resposta à terapia de repo- Pouco se sabe sobre o efeito de es-
sição. 25 Ansiedade clinicamente significa- timulantes centrais do sistema nervoso
tiva e estresse médico elevado são predi- em pacientes com depressão refratária. 28
tores de maior tempo de recuperação du- Apesar de existir pouco suporte empírico
rante o tratamento. 25 Além disso, altos para isso, a utilização de uma combinação
níveis de ansiedade e maior tempo de re- de ISRS e metilfenidato ou dextroanfeta-
cuperação no tratamento inicial são pre- mina é comum na prática clínica. 28 Em
ditores de recorrência. 25 um pequeno estudo aberto realizado com
Em uma revisão da literatura, 31 os pacientes idosos com depressão, o metil-
autores avaliaram o risco de recaída quan- fenidato mostrou efeitos positivos em au-
do o lítio é interrompido como um agente mentar a ação do citalopram. 32
de aumento no tratamento da depressão
unipolar em pacientes idosos. A taxa glo-
bal de recaídas não pôde ser estabelecida ELETROCONVULSOTERAPIA
em três estudos, mas um aumento de SOO/o
na taxa de recaídas durante os primeiros A eletroconvulsoterapia (ECD no idoso
seis meses de seguimento pôde ser obser- com depressão pode ser uma alternativa
vado. Portanto, parece haver um risco de ao tratamento com antidepressivos. Uma
Ouevedo & Silva (orgs.)
ma, o efeito da TCC parece ser mantido opções de tratamento para pacientes ido-
ao longo do tempo, independentemente sos deprimidos.
se aplicada na fase inicial ou de manuten- Psicoterapia combinada com farma-
ção do, tratamento antidepressivo. coterapia pode ajudar a alcançar a remis-
E importante ressaltar que esse mo- são no tratamento da fase aguda e deve
delo sequencial introduz um novo con- ser considerada para a remissão da de-
ceito na prática terapêutica, podendo re- pressão a longo prazo, ajudando a preve-
presentar um método eficaz para a recu- nir a recaída e a recorrência em idosos.
peração da depressão em longo prazo. 28 O objetivo do tratamento da depressão
Sendo assim, esforços devem ser feitos no em idosos deve ser a remissão completa
desenvolvimento de abordagens mais ba- dos sintomas, com estratégias terapêuti-
lísticas e personalizadas, incluindo supor- cas insistentes e seguras, buscando sem-
te psicoterapêutico e psicossocial ao longo pre que necessário o uso de doses plenas
de todo o tratamento. 28 da medicação antidepressiva. No entanto,
estudos adicionais que utilizem indicado-
res de independência funcional e de auto-
-
CONCLUSAO -percepção do bem-estar são necessários
para ajudar o médico a escolher a melhor
Para a escolha do antidepressivo mais opção de tratamento para cada paciente.
adequado para o paciente idoso com de-
pressão, as comorbidades médicas e psi-
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Antônio Geraldo da Silva
Juliana Fernandes Tramontina
-
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resposta pobre aos fármacos, preferência
Estudos sobre a ECT, com grandes amos- do paciente, gravidez e lactação; e, como
tras, têm sido patrocinados pelo Consor- indicações de segunda escolha, a ausên-
tium for Research in ECT (CORE). Esses cia de resposta terapêutica, efeitos colate-
estudos norteiam as principais indicações. rais maiores que os da ECT e a deteriora-
A depressão é a melhor indicação, confor- ção do quadro mental.
me mostram as publicações, constituin- A Associação Mundial de Psiquia-
do-se em 80 a 90% dos casos de uso de tria alerta para situações de difícil mane-
ECT, seja por refratariedade ou intolerân- jo, como a catatonia, em que a ECT de-
cia aos medicamentos, seja pelo risco de ve ser considerada como principal opção
suicídio. Um dos estudos que comparou a terapêutica. Esse quadro clínico caracteri-
" . . . , .
za-se como emergenc1a ps1qu1atr1ca, apre-
eficácia da ECT com a amitriptilina mos-
tra vantagem de 870/o para a ECT sobre senta graves anormalidades da ativida-
67% do tricíclico. Um estudo comparativo de motora e pode decorrer de transtornos
entre a eficácia de 40 mg por dia de pa- do humor e esquizofrenia. A ECT também
roxetina (inibidor seletivo da recaptação deve ser considerada, mediante a adoção
de serotonina - ISRS) e a da ECT mostrou de cuidados próprios, nos casos de sín-
resultado também favorável à ECT, de 77 drome neuroléptica maligna que cursam
contra 280/o da paroxetina. 9 com sintomas catatônicos, em episódios
Pacientes idosos, acima de 65 anos, de doença mental grave durante a gravi-
respondem melhor à ECT do que pacien- dez, em idosos com saúde frágil e em qua-
tes jovens. Depressões com sintomas psi- dros resistentes ao tratamento em adultos
• •
cóticos também respondem melhor do Jovens ou crianças.
que aquelas sem sintomas psicóticos (95
versus 840/o).
Em uma revisão sistemática feita no CONTRAINDICAÇÕES
MedLine, buscando ECT, ECT sob narco-
se e eletroconvulsoterapia, foram encon- Não há contraindicações for1nais, mas
trados 255 estudos clínicos randomizados há risco aumentado para situações clíni-
(ECRs) e oito metanálises, 10 os quais mos- cas especiais, classificadas pela American
traram os seguintes resultados: 2 Society of Anesthesiologists (ASA) como
classes III e IV (hemorragia intracraniana,
• depressão maior10-13 outras condições que elevem a pressão in-
• transtorno bipolar12-14 tracraniana, hipertensão arterial sistêmi-
• esquizofrenia não crônica12,1s,16 ca decorrente de feocromocitoma, enfarto
• quadros esquizoafetivos12,1s,16 do miocárdio ou acidente vascular cere-
• quadros esquizofrenifor1nes 12,1s,16 bral [AVC] recentes, insuficiência respi-
• síndrome neuroléptica maligna17,l 8 ratória, glaucoma, descolamento de reti-
• doença de Parkinson19,20 na, tireotoxicose e insuficiência cardíaca).
• epilepsia21,22 As classes I e II da ASA não oferecem ris-
• discinesia tardia23,25 cos maiores porque representam pacien-
tes saudáveis e com doença sistêmica le-
A American Psychiatric Association12 ve, respectivamente. A classe V da ASA,
preconizou como indicações de primeira por representar moribundos, não tem in-
escolha a necessidade de melhora rápida, dicação para ECT. Ver Quadro 19 .1.
Ouevedo & Silva (orgs.)
Recentemente, foi descoberta uma tar vestido com roupas confortáveis, para
substância (sugadamex) que pode ser usa- propiciar um sono agradável após a ECT.
da para reversão breve do rocurônio edro- O monitoramento cardíaco e respira-
ga não despolarizante que necessita de re- tório é feito com oxímetro de pulso, ECG
versão tardia) a fim de substituir a succi- contínua, estetoscópio pré-cordial, pressão
nilcolina edespolarizante de metabolismo arterial indireta, posicionamento do pa-
plasmático que não exige reversão), quan- ciente e linha venosa pérvia. Cardioscópios
do de sua contraindicação absoluta ou re- modernos monitoram cinco funções vitais
lativa, como em glaucoma. A substância e oferecem maior segurança e controle do
pode mudar a classificação ASA para esses paciente durante o procedimento.
pacientes. 5 O monitoramento eletroencefalográ-
fico é feito com os eletrodos da máquina
de ECT na região escolhida para registro
TÉCNICA2 do EEG. Os cuidados anestésicos implicam
combater ocorrências indesejadas, como a
Antes de ser anestesiado, o paciente deve sialorreia e a secreção brônquica excessi-
ser examinado pelos médicos que farão o va, induzir a antiemese e diminuir a aci-
procedimento. A anamnese segue o mo- dez gástrica. Em situações em que haja di-
delo clássico semiológico e inclui a pes- minuição do esvaziamento gástrico, como
quisa de alergia a substâncias, experiência na gravidez, o jejum deve ser estendido a
prévia com anestésicos e a avaliação dos 12 horas para sólidos, e medicamentos que
exames anterior1nente solicitados. Cuida- acelerem o esvaziamento gástrico poderão
dos pré-anestésicos devem ser adotados, ser utilizados minutos antes da anestesia.
diminuindo a ansiedade do paciente, es- A pré-oxigenação busca uma satura-
clarecendo todas as dúvidas que surgirem ção de oxigênio de 100% ou próxima des-
e conferindo se o jejum orientado (8 ho- se valor, o que garantirá tanto o rebaixa-
ras para sólidos e 4 horas para líquidos mento do limiar convulsivo pela alcalose
sem resíduos) foi devidamente cumprido. gerada como a proteção neuronal.
O paciente deve esvaziar a bexiga A medicação anestésica pode ser
antes de ser anestesiado, evitando-se, as- composta de: etomidato - 0,3 mg/kg de
sim, que, durante a aplicação do estímu- peso; tiopental sódico - 3 a 5 mg/kg de
lo, ele apresente relaxamento de esfincter peso; succinilcolina - 0,5 a 1,5 mg/kg
uretral, ou complicação mais séria, como de peso; e, se necessário, atropina - 0,01
ruptura da bexiga. O paciente deve es- mg/kg de peso. Não há uma uniformiza-
ção de medicamentos e está a critério de Cargas muito altas são motivo de convul-
cada serviço a escolha desses fármacos. sões frustras, mostrando que nem sempre
Há aqueles que preferem o propofol, pe- uma carga alta significa melhor resultado.
la segurança cardíaca que oferece, ape- Há literatura que sugere regras de cálculo
sar de sua ação anticonvulsivante poten- de carga com base na idade do paciente.
te. Há serviços que usam a lidocaína ve- Atualmente, no entanto, essas regras são
nosa, em membro garroteado acima do mais questionadas do que adotadas.
acesso venoso, para propiciar anestesia Posicionados os eletrodos, com opa-
local da veia e evitar dor durante a infu- ciente anestesiado e relaxado, efetua-se
são do anestésico. Há especulações recen- o estímulo elétrico, com carga, tamanho
tes de que o propofol teria uma ação mnê- e frequência de pulso predeterminados.
mica protetora, mas necessita-se de maio- Embora ainda haja no Brasil o uso de má-
res evidências. quinas de ECT obsoletas, que proporcio-
A ventilação é feita sob máscara, nam ondas senoidais, o Conselho Federal
conjunto ventilatório, até o paciente as- de Medicina prevê a substituição desses
sumir a respiração espontânea, saturando equipamentos antigos por novos, norte-
•
em torno de 940/o de oxigênio. -americanos ou europeus, que apresen-
A região onde serão posicionados os tam corrente constante e flexibilidade na
eletrodos deverá ser bem lavada e até es- voltagem (Volt), na frequência (Hertz) e
coriada, evitando oleosidade que aumen- no tamanho do pulso, possibilitando es-
taria a resistência à passagem do estímu- tímulos breves (de 0,5 a 2,0 milissegun-
lo elétrico. A higiene mal feita, além de dos) ou ultrabreves (menores que 0,5 mi-
exigir uma carga mais alta para desenca- lissegundo).
dear convulsão, permite a queimadura Convulsões acima de 60 segundos
local, facilitada pela presença de óleo na deverão ser abortadas durante o proce-
pele. dimento, visando evitar riscos desneces-
Os eletrodos serão colocados bilate- sários de edema cerebral. Há fatores que
ralmente (regiões frontotemporal, bifron- contribuem para uma convulsão de quali-
tais ou bitemporais) ou unilateralmente dade. As Tabelas 19.1e19.27 listam os fa-
de acordo com o protocolo adotado. A im- tores que devem ser considerados antes e
pedância de preferência é baixa, variando durante o procedimento.
de 900 a 1.500 Ohms, embora alguns au-
tores proponham até 2.000 Ohms. Impe-
dâncias com valores abaixo de 500 Ohms PARÂMETROS DE DUALIDADE
indicam a possibilidade de problema elé-
trico. Os equipamentos modernos pos- Há sinais importantes que devem ser
suem um sistema de segurança que impe- acompanhados durante o procedimen-
de que, nessas circunstâncias, o estímulo to, pois provam a qualidade da convul-
seja efetivado, evitando um curto-circuito são provocada. Entre eles se destacam
no paciente. frequência cardíaca (FC) bastante eleva-
O limiar convulsivo do paciente deve da, piloereção, sudorese, rubor, secreção
ser encontrado partindo-se de uma carga respiratória alta, relaxamento de esfincte-
inicial mais baixa. Encontrado esse limiar, res e outros de menor relevância.
o estímulo deve ser elevado nas sessões A FC constitui-se em indicador clíni-
subsequentes, de duas vezes e meia este co bastante confiável, sendo utilizada pa-
valor para aplicações bilaterais, e de seis ra verificação da atividade convulsiva in-
vezes para aplicações unilaterais direitas. duzida pelo estímulo elétrico. De maneira
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 19.1
Principais fatores que diminuem o limiar convulsivo (LC)
e aumentam a duração da convulsão (DC)
• Sexo feminino - DC
• Adrenalina - DC
-
• Cafeína e teofilina - LC e DC
• Antagonista opioide - LC
-
• Baixo limiar no início do curso - DC
• ECT unilateral d'Elia - DC
~
• Estimulação sensorial - LC
• Psicoestimulantes - LC e DC
• Hiperoxigenação - DC
~
• Reserpina - DC
~
• Abstinência de benzodiazepínicos - LC e DC
• Idade jovem - LC e DC
• Estímulo logo acima do limiar - DC
Tabela 19.2
Principais fatores que aumentam o limiar convulsivo (LC)
e/ou diminuem a duração da convulsão (DC)
• Sexo masculino - LC e DC
• Triptofano - DC
~
• Lidocaína - DC e LC
• Opioides - DC
• Alto limiar convulsivo inicial - DC
• ECT não unilateral d'Elia - LC e DC
• Clonidina - DC
• Benzodiazepínico - DC e LC
• Hipo-oxigenação - DC
• Anestesia geral, propofol - LC e DC
• Anticonvulsivantes - DC e LC
• Idade avançada - LC e DC
• Estímulo muito acima do limiar - DC
geral, o pico da frequência cardíaca refle- Sabe-se que o efeito terapêutico da ECT
te mais fielmente a atividade convulsiva na melancolia, na catatonia e nas psicoses
em estrutura cerebral profunda (diencé- pode ser primariamente subcortical.
falo) do que o fazem o EEG e a atividade Como o pico da FC ocorre entre 1O
motora presente em membro garroteado. e 20 segundos após o estímulo, ele não
Depressão
Jejum
Medicamentos
Preparação
- Higiene to rácica e frontotemporal
- Colocação de eletrodos para ECG e EEG
- Oxímetro e ca rdioscópio
Anestesia
Passagem
do estímulo
Medicação
de rotina
Conduta devida
Sono pós-ictal
Alta
Figura 19.1
Fluxogram a da eletroconvulsoterapia.
Depressão
do paciente e uma cópia deve ser oferecida pertado o interesse da pesquisa. Na última
a este quando for do interesse das partes. década, houve um grande volume de publi-
cações favoráveis a ela, acompanhando os
avanços das neurociências. Também tem si-
ASPECTOS ÉTICO-LEGAIS do alvo do interesse científico em função da
limitação do alcance dos antidepressivos e
Como procedimento médico, a ECT está antipsicóticos de última geração.
respaldada por Resolução do Conselho Fe- Equipamentos de maior complexida-
deral de Medicina (CFM), que deve ser o de, que per111item a individualização do
norte para os serviços especializados. A se- procedimento e oferecem maior seguran-
guir, é apresentada, em sua íntegra, a Re- ça, eficácia e tolerabilidade, têm aberto
solução 1640 do CFM, de 1O de julho de grandes horizontes. Seus resultados são
2002, 4 publicada no Diário Oficial da União. inquestionáveis, sendo que ocupa posi-
ção de destaque na prática médica e nos
. . ., .
meios un1vers1tar1os.
-
CONCLUSAO Apesar da persistência de algumas
dúvidas a respeito do exato mecanismo
A ECT foi mal utilizada no passado, geran- de ação da ECT, sabe-se que há uma nova
do preconceito tanto no meio médico co- regulação da atividade cerebral em con-
mo no não médico, especialmente nos anos dições de maior normalidade fisiológica,
1970. Ainda é subutilizada, mas tem des- sem provocar dano neuronal.
CONSIDERANDO o que foi decidido pela Câmara Técnica de Psiquiatria e aprovado em Sessão
Plenária do Conselho Federal de Medicina, realizada em 10.7.02; resolve:
Art.1° - A eletroconvulsoterapia (ECT), como método terapêutico eficaz, seguro, internacional-
mente reconhecido e aceito, deve ser realizada em ambiente hospitalar.
Art. 2° - O emprego da eletroconvulsoterapia é um ato médico, o que faz com que sua indica-
ção, realização e acompanhamento sejam de responsabilidade dos profissionais médicos que de-
la participarem.
Art. 3° - O consentimento informado deverá ser obtido do paciente, por escrito, antes do início
do tratamento.
Parágrafo primeiro - Nas situações em que o paciente não apresentar condições mentais e/ou
etárias necessárias para fornecer o consentimento informado, este poderá ser obtido junto aos fa-
miliares ou responsáveis pelo mesmo.
Parágrafo segundo - Nas situações em que não houver possibilidade de se obter o consentimen-
to informado junto ao paciente, sua família ou responsável, o médico que indicar e/ou realizar o
procedimento tornar-se-á responsável pelo mesmo, devendo reportar-se ao diretor técnico da
instituição e registrar o procedimento no prontuário médico.
Art. 4° - O médico investido na função de direção deverá assegurar as condições necessárias e
suficientes para a realização do procedimento, tais como: instalações físicas, recursos humanos,
aparelhagem e equipamentos tecnicamente adequados.
Art. 5° - A avaliação do estado clínico do paciente antes da eletroconvulsoterapia é obrigatória,
em especial as condições cardiovasculares, respiratórias, neurológicas, osteoarticulares e odon-
tológicas.
Art 6° - A eletroconvulsoterapia só poderá ser realizada sob procedimento anestésico seguindo
as orientações constantes na Resolução CFM nº. 1.363/93.
Art. 7° - O tratamento só poderá ser realizado em local que assegure a privacidade.
Art. 8° - Os aparelhos de ECT a serem utilizados deverão ser, preferencialmente, máquinas de
corrente de pulsos breves e com dispositivo de ajuste da corrente.
Parágrafo único -As máquinas de corrente de ondas sinusoidais e com dispositivos de ajuste da
voltagem deverão ser progressivamente substituídas pelas supracitadas.
Art. 9° - A eletroconvulsoterapia tem indicações precisas e específicas, não se tratando, por con-
seguinte, de terapêutica de exceção.
Parágrafo primeiro - Suas principais indicações são: depressão maior unipolar e bipolar; mania
(em especial, episódios mistos e psicóticos); certas formas de esquizofrenia (em particular, a for-
ma catatônica), certas formas agudas e produtivas resistentes aos neurolépticos atuais; transtor-
no esquizoafetivo; certas condições mentais secundárias às condições clínicas (estados confusio-
nais e catatônicos secundários a doenças tóxicas e metabólicas); certas formas de doença de Pa-
rkinson; pacientes que apresentam impossibilidade do uso de terapêutica psicofarmacológica.
Parágrafo segundo - O uso da eletroconvulsoterapia em crianças e adolescentes até 16 anos de-
verá ser evitado, salvo em condições excepcionais.
Art. 70 - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
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Mercêdes J. O. Alves
Antônio Geraldo da Silva
, , .
• estresse pos-traumat1co de preenchimento rápido, montado com
• transtorno obsessivo-compulsivo perguntas simples como: ''Você tem dores
• alucinações auditivas de cabeça?'', 'já teve alguma convulsão?'',
• transtorno de pânico 'já se submeteu a cirurgia neurológica?'',
• síndrome de Tourette "Possui algum metal na cabeça?'', 1 "Usa
• quadros de ansiedade e clemenciais alguma medicação?'', "Possui neuroesti-
mulador implantado?'' e ''Tem implante
coclear?''.
Por restrições medicamentosas1•2
,
• gravidez e lactação EFICACIA
• insuficiências hepática, renal e cardíaca
• efeitos colaterais dos antidepressivos A eficácia antidepressiva da EMT vem
(ganho de peso, comprometimento da sendo demonstrada há anos. Há muitos
função cognitiva, diminuição da libido estudos relevantes para o tratamento da
e insônia) depressão em animais. Fleischmann eco-
• pacientes imunossuprimidos e oncoló- laboradores,23 em 1995, já comparavam
•
gicos os efeitos da EMT e da ECT em modelos
• idosos polimedicados animais de depressão, incluindo o teste
de natação de Porsolt. Esse teste mede a
flutuação e o comportamento ativo de ra-
Contraindicações tos colocados em uma piscina. A redução
da imobilidade sugere efeito desinibitório
As poucas contraindicações existentes es- e atividade antidepressiva. Esses autores
tão relacionadas à força magnética pro- constataram aumento da estereotipia pro-
duzida para o estímulo cerebral. Assim, a vocada pela apomorfina (p. ex., diminui-
presença de objeto metálico em qualquer ção do repouso, aumento da locomoção,
região cerebral (clipe cirúrgico, projétil, movimentos repetidos e postura de aler-
etc.) contraindica a EMT, porque esses ob- ta) e redução da imobilidade no teste de
jetos poderiam ser mobilizados de forma natação de Porsolt Encontraram, também,
perigosa e sem controle. que a EMT e a ECT tinham resultados se-
Pacientes portadores de marca-pas- melhantes. 24
sos cardíacos ou em tratamento com bom- Outros estudos em roedores pro-
bas de infusão medicamentosa estão im- duziram efeitos similares nas monoami-
pedidos de se submeterem à EMT. O im- nas cerebrais e em receptores ~-adrenér
plante coclear induz corrente mesmo gicos. A EMT mostrou-se capaz de in-
quando desligado, portanto, contraindi- fluenciar os receptores de serotonina e
ca a EMT. N-metil-D-aspartato (NMDA). 25 Autores
Diante do relato na literatura da alemães demonstraram que a EMT me-
ocorrência de convulsões durante apli- diava um efeito neuroprotetor contra a
cação dos estímulos magnéticos, 22 é pru- morte neuronal oxidativa em camun-
dente que o paciente informe sobre doen- dongos. Demonstraram também que a
ças e ocorrências sugestivas de afecções EMT aumentava o fator neurotrófico de-
neurológicas. Para tanto, o paciente po- rivado do cérebro (BNDF), assim como
de ser auxiliado por meio de formulário do RNAm de BNDF. 26
Ouevedo & Silva (orgs.)
Os estudos com animais indicam que humor e na depressão), além de ser área
a EMT tem a capacidade de influenciar o de fácil acesso para a bobina de aplicação
comportamento e a bioquímica, incluindo dos estímulos. 1
a regulação da expressão genética, de for- Estudos de imagem funcional de pa-
ma semelhante àquela da ECT e dos anti- cientes com depressão unipolar mostram
depressivos. 27 que a atividade da região pré-frontal, es-
A utilização terapêutica da EMT na pecialmente a esquerda, está diminuída e
psiquiatria baseia-se na hipótese de que tem uma relação linear com a gravidade
haja áreas corticais com atividade neuro- do quadro depressivo (quanto mais grave
nal reduzida ou aumentada em patologias a depressão, menor a atividade cerebral
mentais, confor111e estudos de neuroima- encontrada na região pré-frontal). Já os
gem têm mostrado, que, por sua vez, po- pacientes com depressão bipolar podem
deriam ser normalizadas pelos efeitos ex- apresentar aumento da atividade do lobo
citatórias ou inibitórios das diversas fre- temporal, não seguindo o padrão da de-
quências de estimulação. Há também a pressão unipolar.
hipótese da lateralidade, que postula di- Um estudo de Grunhaus e colabo-
minuição da atividade neuronal pré-fron- radores28 compara os resultados da EMT
tal esquerda na depressão e diminuição com os da ECT em pacientes com depres-
da atividade neuronal pré-frontal direita são sem sintomas psicóticos, mostrando
na mania. 9 eficácia semelhante entre os dois méto-
Os efeitos antidepressivos da EMTr dos. Foram incluídos 40 pacientes que ha-
seriam dependentes da região estimula- viam recebido indicação para ECT. A ECT
da e da frequência utilizada. As evidên- foi executada de acordo com protocolos
cias encontradas atualmente em estudos estabelecidos. A EMT repetitiva foi execu-
controlados indicam que a EMTr de alta tada sobre o CPFDLE. Os pacientes rece-
frequência no CPFDLE e a EMTr de baixa beram 20 sessões (cinco vezes por sema-
frequência no CPFDLD produzem resulta- na por quatro semanas) com 10 Hz (1.200
dos antidepressivos semelhantes. pulsos por tratamento-dia) a 900/o do LM.
O efeito do estímulo, embora apli- A resposta para tratamento estava definida
cado de maneira focal, altera a atividade como uma diminuição de pelo menos SOO/o
de outras estruturas cerebrais por meio de na Escala Hamilton (HRSD), e um escore
efeitos transinápticos. Para maior compre- HRSD final igual ou menor que 1O pontos.
ensão da abrangência da área estimulada, A taxa de resposta global foi de 580/o (23
é relevante notar que o córtex pré-frontal entre 40 pacientes responderam ao trata-
dorsolateral, está localizado no giro fron- mento). No grupo de ECT, 12 responde-
tal médio. E a última área do cérebro a ser ram e 8 não; no grupo de EMTr, 11 respon-
mielinizada e tem a dopamina como prin- deram e 9 não. Assim, pacientes responde-
cipal neurotransmissor. Está conectado ao ram tão bem à ECT como à EMTr.
córtex orbitofrontal, ao tálamo, ao núcleo Ji e colaboradores, 29 em 1998, com-
caudado (gânglios da base), ao hipocam- pararam EMTr a 25 Hz e ECT em ratos e
po
, e às áreas de associação do neocórtex. comprovaram que ambas produziram au-
E compreensível que a região pré-frontal mento da expressão genética precoce ime-
seja a mais estudada para o tratamento da diata em padrões diferentes. A EMTr au-
depressão, por estar conectada às estrutu- mentou a expressão do RNAm de c-fos no
ras límbicas (implicadas na modulação do núcleo paraventricular do tálamo e em re-
Depressão
giões relacionadas com a regularização tam para uma relação distinta entre o
do ciclo circadiano; e a ECT aumentou o BDNF e o sistema serotonérgico. 34
RNAm de s-fos no cérebro, especialmente Há aumento do tumover da dopami-
no hipocampo e no neocórtex. Ambos os na no córtex pré-frontal apenas 1O segun-
procedimentos (EMTr e ECT) aumentam dos após EMT única. A serotonina e o ácido
o limiar convulsivo. 1 hidroxi-indolacético (5-HIM) apresentam-
A EMT atrasa o início do sono REM -se aumentados apenas no hipocampo. 35
em pessoas normais e sabe-se que a re- A estimulação com 5 a 20 Hz da área
dução da latência do sono REM é um dos pré-frontal esquerda provoca aumento sig-
mais robustos marcadores da depressão. nificativo de TSH, enquanto o hor111ônio
A EMT aumenta significativamente o flu- luteinizante (LH), o folículo-estimulante
xo sanguíneo cerebral regional (regional (FSH), o adrenocorticotrófico (ACTH) e a
cerebral blood flow - rCBF) do giro cingu- prolactina per1nanecem inalterados. 9
lado anterior esquerdo em indivíduos de- A EMT crônica promove aumento
primidos quando a bobina é colocada so- significativo dos receptores ~-adrenérgicos
bre o córtex pré-frontal. 30 Sabe-se tam- corticais (up regulation), reduz os recepto-
bém que o rCBF reduzido no cingulado e res serotonérgicos 5HT2 do córtex frontal
nas estruturas límbicas associadas é uma (down regulation), aumenta os receptores
característica da depressão. 5-HT1A no córtex frontal e cingulado e au-
A evidência de ação antidepressiva menta os receptores N-metil-D-aspartato
da EMT de alta frequência vem de um nú- no hipotálamo ventromedial, na amígdala
mero considerável de estudos abertos31 e basolateral e no córtex parietal. 36
controlados. Após 10 dias, a EMT promove au-
Há evidências de que a EMT possa mento intenso do RNAm da proteína glial
provocar virada maníaca em pacientes de- fibrilar ácida (GFAP) no giro denteado hi-
primidos. Em 2001 foram reportados dois pocampal e aumento modesto no córtex. 36
casos por Dolberg e colaboradores. 32
Em 2006, Zanardini e colaborado-
res33 encontraram níveis de BNDF inal- SEGURANÇA EEFEITOS COLATERAIS
terados após EMTr em voluntários sa-
dios e um aumento significativo de sua Em 7 de março de 2008, em Certosa di Pon-
concentração plasmática , após EMTr em tignano, Siena, Itália, ocorreu uma confe-
pacientes deprimidos. E possível que a rência de consenso37 destinada a atualizar
EMT promova um efeito de longo prazo, as diretrizes de segurança para aplicação de
em vez de uma mudança aguda desta EMT com base em pesquisas clínicas.
neurotrofina. Outra explicação seria que Na última década, as comunidades
não ocorrem alterações das concentra- científica e médica tiveram a oportunida-
ções plasmáticas de BDNF em indivídu- de de avaliar o registro de segurança de
os saudáveis, mas apenas naqueles com pesquisas e aplicações clínicas de EMTr.
depressão. Nesses anos, a EMT cresceu de for111a im-
Um estudo recente demonstra que a pressionante e criaram-se novos para-
EMT aguda de áreas corticais pré-frontais digmas de padrões repetitivos. Os avan-
modula aspectos do metabolismo de trip- ços técnicos levaram a projetos de equi-
tofano 5-HT em áreas límbicas em indiví- pamentos e integração em tempo real de
duos saudáveis, e várias conclusões apon- EMT e eletroencefalografia (EEG), tomo-
Ouevedo & Silva (orgs.)
Tabela 20.1
EMTr - Durações máximas seguras expressas em segundos
Durações máximas em segundos
% limiar motor
Tabela 20.2
EMTr - Intervalos mínimos seguros expressos em segundos (s)
Intervalos mínimos
::: 110% LM > 110% LM
::: 20 Hz 5s 60 s
(Talvez menos: (Provavelmente menos)
definitivamente > 1 s)
> 20 Hz 60 s 60 s
(provavelmente menos) (provavelmente menos)
-
RESOLUÇAO CFM 1.986/2012
(Publicada no 0.0.U. de 02 de maio de 2012, Seção 1, p. 88)
Reconhecer a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) superficial como ato médico privativo
e cientificamente válido para utilização na prática médica nacional, com indicação para depres-
sões uni e bipolar, alucinações auditivas nas esquizofrenias e planejamento de neurocirurgia. A
EMT superficial para outras indicações, bem como a EMT profunda, continua sendo um procedi-
mento experimental.
O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições que lhe confere a Lei no 3.268, de
30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto no 44..045, de 19 de julho de 1958, altera-
da pela Lei no 11.000, de 15 de dezembro de 2004, e Decreto no 6.821, de 14 de abril de 2009, e
CONSIDERANDO a Lei no 10.216/01, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os di-
reitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental;
CONSIDERANDO a necessidade da existência de normas brasileiras para a assistência psiquiátri-
ca aos portadores de transtornos mentais, consoantes com os padrões internacionais e que con-
templem a realidade assistencial nacional;
CONSIDERANDO a Resolução CFM no 1.952/10, na qual o Conselho Federal de Medicina adota
as Diretrizes para um Modelo de Assistência em Saúde Mental no Brasil, da Associação Brasilei-
ra de Psiquiatria;
CONSIDERANDO a Resolução CFM no 1.609/00, que estabelece que para serem reconhecidos co-
mo válidos e utilizáveis na prática médica nacional os procedimentos diagnósticos ou terapêuti-
cos deverão ser submetidos à aprovação do Conselho Federal de Medicina, mediante avaliação
feita pelas câmaras técnicas e homologada pelo plenário do CFM;
CONSIDERANDO a aprovação do Parecer CFM no 37/11, em sessão plenária de 6 de outubro de
2011;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido em sessão plenária de 22 de março de 2012,
RESOLVE:
Art. 1a. Reconhecer a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) superficial como ato médico
válido para utilização na prática médica nacional, com indicação para depressões uni e bipolar,
alucinações auditivas nas esquizofrenias e planejamento de neurocirurgia.
Parágrafo único. Os parâmetros preconizados como seguros para as indicações acima discrimi-
nados são os seguintes:
a) Depressões
Frequência: 10 Hz;
Intensidade: 110% do limiar motor;
Tempo de duração das séries: 5 segundos;
Número de séries: 25;
Intervalo entre as séries: 25 segundos;
Número de dias de tratamento: 20 ou de acordo com avaliação;
Total de pulsos: 25.000;
Local de aplicação: córtex dorsolateral pré-frontal esquerdo
ou
Frequência: 5 Hz;
Intensidade: 120% do limiar motor;
Tempo de duração das séries: 10 segundos;
Número de séries: 25;
Intervalo entre as séries: 20 segundos;
Números de dias de tratamento: 20 ou de acordo com avaliação;
Total de pulsos: 25.000;
Depressão
Uso exclusivo em serviços de excelência, universitários ou não, com ampla experiência em EMT
acoplada a sistemas específicos de neuronavegação.
Art. 2° A operação de aparelhos de EMT será realizada exclusivamente por médico.
Art. 3fl. O ambiente onde se realiza a EMT deve ser específico e dispor de condições para oferecer
assistência às possíveis complicações, entre elas as convulsões.
§ 1° Para o atendimento de emergência às possíveis complicações são necessários:
§ia.Garantir os meios de transporte e hospitais que disponham de recursos para atender a inter-
corrências graves que porventura possam acontecer.
Art. 4a. Manter como experimentais:
I - Estimulação Magnética Transcraniana superficial para outras indicações;
li - Estimulação Magnética Transcraniana profunda.
Art. 5º Os assentamentos em prontuário devem contemplar a história da doença atual, curva de
vida com antecedentes familiares, sociais, ocupacionais e pessoais, exame físico, exame mental,
conclusões com o diagnóstico e os fundamentos para a prescrição do procedimento, bem como
exames complementares quando solicitados. O prontuário também deverá trazer, assentados,
acidentes, intercorrência e aspectos evolutivos da terapêutica.
Art. 6t1 Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
-
CONCLUSAO zador) e mantê-los para evitar recaída. Pa-
ra pacientes com depressões graves psicóti-
A EMTr é um procedimento desenvolvido cas, a ECT se mostra superior nos estudos.
e aprovado recentemente para várias pa-
tologias e situações clínicas. Seu uso é se-
guro, e a técnica vem sendo aperfeiçoa- REFERÊNCIAS
da. A eficácia é apoiada por revisões sis-
temáticas da literatura, embora ainda não 1. Alves MJO, Mol J, Daker, MY. Estimulação mag-
nética transcraniana. ln: Rocha FL, Hara C, Ra-
haja dados consistentes sobre a duração mos MG, editores. Refratariedade e situações
do efeito e sobre a necessidade de trata- clínicas de difícil abordagem em psiquiatria. Be-
mento de manutenção. Revela-se, assim, lo Horizonte: Folium; 2011 . p. 69-79.
um campo de investigação muito promis- 2. Rosa MA, Rosa MO. Estimulação magnética
sor, com benefícios clínicos em expansão. 1 transcraniana em psiquiatria: manual básico.
São Paulo: Daikoku; 2009.
Contudo, ainda é cedo para saber acu-
3. Brasil. Ministério da Saúde. ANVISA: Agência Na-
radamente todos os possíveis efeitos colate- cional de Vigilância Sanitária [Internet] . Brasília:
rais e os limites de uma exposição segura. MS; c2005-2009 [capturado em 12 ago 2012].
Efeitos cognitivos, por exemplo, foram ob- Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br.
servados, e alterações a longo prazo na fun- 4. U. S. Department of Health and Human Servi-
ção cerebral são teoricamente possíveis. ces. FDA: Food and Drug Administration [Inter-
net] . Silver Spring: FDA; c2012 [capturado em
A eficácia na depressão tem sido de- 12 ago 2012] . Disponível em: http://www.fda.
monstrada em revisões sistemáticas realiza- gov/ .
das nos últimos anos, 39 resultado de técni- 5 . Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM
cas mais adequadas utilizadas nos estudos
,
nº 1986, de 22 de março de 2012 [Internet].
controlados randomizados recentes. E usual Brasília: CFM; 2012 [capturado em 12 ago
2012]. Disponível em: http://www.portalmedi-
empregar a EMTr conjuntamente com psi- co.org.br/resolucoes/CFM/2012/1986_2012.
cofármacos (efeito adjuvante ou potenciali- pdf.
Depressão
6. Rosa MA, Marcolin MA, Pridmore S. Estimula- tor cortex excitability by low-frequency trans-
ção magnética transcraniana na depressão. Rev cranial magnetic stimulation. Neurology.
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LEGENDA
Inibidores da monoaminoxidase = IMAOs
Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina = IRSNs
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina = ISRSs
Terapia cognitivo-comportamental = TCC
Transtorno depressivo maior= TDM
. . , .
A ant1ps1cot1cos, 189-190
,
Acidos graxos ômega-3, 72 benzodiazepínicos, 187, 189
Adolescência, depressão na, 75, eficácia em idosos, 208-213
197-205 eficácia na fibromialgia, 166-167
diagnóstico, 198-202 eletroconvulsoterapia, 192-193
epidemiologia, 197-198, IMAOs, 69
prevenção,204-205 inibidores da receptação de noradrenalina,
tratamento, 202-204 70
estratégias combinadas, 204 IRSNs, 69, 186
psicofár1nacos, 203-204 ISRSs, 68, 185-186
psicoterapias, 202-203 lítio, 190-191
Agentes heterocíclicos, 212 outros, 70, 186-187
Agomelatina, 71 tricíclicos, 187
Aids, 136 Antipsicóticos, 73, 189-190
Ansiedade e depressão, 149-151 de depósito, 189-190
Anticonvulsivantes, 191-192 de segunda geração, 73
carbamazepina, 192 haloperidol, 189
lamotrigina, 192 olanzapina, 189
oxcarbazepina, 192 olanzapina, 190
valproato, 191 quetiapina, 189
Antidepressivos, 68-72, 166-167, 185-193, risperidona, 189
208-213 risperidona, 189
anticonvulsivantes, 191-192 Artrite reumatoide, 140-141
,
lndice