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CARLA MOREIRA GRAÇA MELLO

O ANJO PÓ-DE-ESTRELA - A ORIGEM

HISTÓRIAS TERAPÊUTICAS PARA CRIANÇAS

FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS – FCE

ASSOCIAÇÃO LUSO BRASILEIRA DE TRANSPESSOAL – ALUBRAT

SÃO PAULO- 2012


CARLA MOREIRA GRAÇA MELLO

O ANJO PÓ-DE-ESTRELA - A ORIGEM

HISTÓRIAS TERAPÊUTICAS PARA CRIANÇAS

Monografia apresentada como exigência


parcial para obtenção do título de
Especialista em Psicologia Transpessoal
da Faculdade Campos Elíseos e
Associação Luso Brasileira de
Transpessoal – São Paulo - sob
orientação da Profª. Myrian Romero.

FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS – FCE

ASSOCIAÇÃO LUSO BRASILEIRA DE TRANSPESSOAL – ALUBRAT

SÃO PAULO, 2012


Dedicatória

A todas as crianças, que são a esperança do futuro com um mundo mais humano e
gentil.
AGRADECIMENTOS

À Profª Myrian Romero por ter sido minha estrela guia na orientação desta
monografia e por todo aprendizado e acolhimento durante o curso de pós-graduação.

À Drª Vera Saldanha pela criação da Abordagem Integrativa Transpessoal, pela


dedicação e vibração pelo bem de todos os seres e de nosso planeta.

Ao Manoel José Pereira Simão e Adriana Fiuzza, por terem embalado meu
sonho com olhar amoroso, tornado possível meu ingresso na pós-graduação em
Psicologia Transpessoal .

Ao meu marido Ciro Medeiros Bruno pelo apoio, pela dedicação e cuidado
durante todo o curso. Pela Paz-Ciência e por tocar minha vida impulsionando meu
crescimento e a minha liberdade.

Aos colegas de turma da pós-graduação por compartilharem seus processos, por


contribuírem para um ambiente de paz que propiciou um clima de afeto e respeito,
gerando maior confiança e, consequentemente, maior aprendizado.

Aos meus pais pelo exemplo precioso e inspirador, pelo carinho e por sempre
estimularem muito a arte e a sensibilidade.

A todos os seres visíveis e invisíveis que tocaram meu ser nessa trajetória de
escuta do sopro divino, por suavemente me guiar e amparar no caminho essencial.
Nosso receio mais profundo não é de que sejamos
inadequados. Nosso receio mais profundo é de que o nosso
poder não tenha limites. É a nossa Luz, não a nossa sombra
que mais nos amedronta. Quem sou eu para ser genial,
grandioso, talentoso e admirável? Na verdade quem é você
para não o ser? Seu agir pequeno não serve ao mundo. Não
há nada de esclarecedor em se diminuir para que as outras
pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nós
nascemos para tornar manifesto o Brilho e ele está em cada
um de nós! E à medida em que deixamos nossa luz brilhar
inconscientemente, damos aos outros a permissão para fazer
o mesmo. À medida em que nos libertamos dos nossos
próprios medos e limites auto impostos, a nossa Presença,
automaticamente, liberta o outro.

Nelson Mandela, 1994


Resumo

Esta monografia tem como objetivo integrar conhecimentos da Abordagem Integrativa


Transpessoal ao projeto de histórias terapêuticas do personagem O Anjo Pó-de-Estrela.
O trabalho foi realizado através de revisão bibliográfica não sistemática, que usou
fontes de pesquisa de literatura nacional e internacional, desde a década de 60. A
integração dos conteúdos da Abordagem Integrativa Transpessoal proporcionou maior
profundidade e solidez ao projeto. Através dos conhecimentos adquiridos durante a pós-
graduação em Psicologia Transpessoal, foi possível lapidar e aprimorar os desenhos e o
texto da primeira história. Esta primeira história faz parte do primeiro livro, que foi
publicado recentemente e cujo título é "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem".

Palavras-chaves:

Psicologia Transpessoal; Histórias; Pó-de-Estrela


SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

AIT Abordagem Integrativa Transpessoal

ALUBRAT Associação Luso Brasileira de Transpessoal

REIS Razão, Emoção, Intuição, Sensação


Lista de figuras

Figura 1: Corpo técnico (fonte: Saldanha, 2006, p.107). .............................................. 17  

Figura 2: Cartografia da Consciência (fonte: Saldanha, 2008, p. 180 e 181). ............... 26  

Figura 3: Aspecto Dinâmico .......................................................................................... 27  

Figura 4: Capa do livro "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem". ...................................... 57  

Figura 5: Contra-capa do livro "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem". ........................... 57  


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11  
2 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ...........................................................................14  
2.1 – HISTÓRICO ..........................................................................................................14  
A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL .............................................................................15  
2.2 – ABORDAGEM INTEGRATIVA TRANSPESSOAL ...........................................16  
2.2.1 – SISTEMATIZAÇÃO DA AIT ...........................................................................16  
2.2.2 – ASPECTO ESTRUTURAL ..............................................................................17  
CONCEITO DE UNIDADE ................................................................................ 17  
CONCEITO DE VIDA......................................................................................... 18  
CONCEITO DE EGO .......................................................................................... 19  
ESTADOS DE CONSCIÊNCIA ......................................................................... 20  
CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA ............................................................... 23  
Consciência de vigília: ..................................................................................... 24  
Pré-consciente: ................................................................................................. 24  
Inconsciente psicodinâmico: ........................................................................... 24  
Inconsciente ontogenético: .............................................................................. 24  
Inconsciente transindividual: ......................................................................... 24  
2.3.2 – ASPECTO DINÂMICO..................................................................................26  
EIXO EXPERENCIAL ........................................................................................ 26  
REIS ..................................................................................................................... 27  
RAZÃO ................................................................................................................ 27  
EMOÇÃO ............................................................................................................. 28  
INTUIÇÃO ........................................................................................................... 28  
SENSAÇÃO ......................................................................................................... 30  
EIXO EVOLUTIVO (ORDEM MENTAL SUPERIOR) .................................... 30  
RECURSOS TÉCNICOS DE APLICAÇÃO ................................................... 31  
INTERVENÇÃO VERBAL ............................................................................. 31  
IMAGINAÇÃO ATIVA ................................................................................... 31  
REORGANIZAÇÃO SIMBÓLICA ................................................................. 31  
DINÂMICA INTEGRATIVA .......................................................................... 32  
AS SETE ETAPAS INTEGRATIVAS ............................................................. 32  
RECURSOS ADJUNTOS................................................................................. 33  
3 ABRAHAM MASLOW .............................................................................................35  
3.1 HISTÓRICO ..............................................................................................................35  
3.2 PROCESSO PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO ......................................36  
PROCESSO PRIMÁRIO ..............................................................................................36  
PROCESSO SECUNDÁRIO ........................................................................................37  
PROCESSO TERCIÁRIO ............................................................................................37  
EXPERIÊNCIAS CULMINANTES ..............................................................................38  
EXPERIÊNCIA DE PLATÔ.........................................................................................40  
MECANISMOS DE DEFESA ......................................................................................40  
COMPLEXO DE JONAS .............................................................................................41  
A RELAÇÃO DO PROJETO DAS HISTÓRIAS DO ANJO PÓ- DE- ESTRELA
COM O COMPLEXO DE JONAS ...................................................................... 44  
DESSACRALIZAÇÃO ..................................................................................................44  
HISTÓRIAS TERAPÊUTICAS ......................................................................................45  
HISTÓRIAS ..................................................................................................................46  
A PRÁTICA DE CONTAR HISTÓRIAS ........................................................... 46  
O PODER TERAPÊUTICO DAS HISTÓRIAS ............................................... 47  
DIVERSOS OLHARES SOBRE HISTÓRIAS COMO RECURSO
TERAPÊUTICO................................................................................................ 48  
O PROJETO DAS HISTÓRIAS .......................................................................... 50  
OS QUATRO PRINCÍPIOS NORTEADORES DAS HISTÓRIAS DO ANJO PÓ-DE-
ESTRELA .....................................................................................................................51  
TERAPÊUTICO ................................................................................................... 51  
PEDAGÓGICO .................................................................................................... 53  
CULTURAL ......................................................................................................... 54  
ALEGRIA E ENTRETENIMENTO SAUDÁVEL ............................................. 55  
A PRIMEIRA HISTÓRIA: O ANJO PÓ-DE-ESTRELA - A ORIGEM ......... 55  
4 CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS OU FINAIS .....................................................58  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA...........................................................................59  
 
11

1 INTRODUÇÃO

O caminho essencial...

Minha infância foi repleta de arte e natureza. Cresci numa chácara onde eu mesma
fabricava vários de meus brinquedos. Ao lado de minhas irmãs, vivia maravilhosas
aventuras e inventávamos brincadeiras especiais. Até hoje recordo-me do escorrega de
tabatinga que fazíamos. Era uma delícia, chegávamos em casa barro puro. Brincávamos
também de fazer piqueniques no morro, de tecer cordões das conta de lágrimas que
colhíamos do pé, de batizar os bichinhos da chácara e de montar peças de teatro que
apresentávamos para a família, nas quais fazíamos tudo, da roupa até o cenário.

Desde pequena, adorava cuidar das pessoas. Preparava chá com ervas do quintal
quando alguém adoecia em minha casa. Tinha um sonho muito pouco típico de criança:
queria visitar cada quarto do hospital e levar algo de bom que trouxesse aconchego para os
doentes. Parecia um sonho (im)possível. Quem deixaria uma criança...? Mas eu realizei!
Eu cantava num coral da escola e, no Natal, fomos cantar no hospital para os doentes.
Fiquei muito feliz!

Cresci dançando, escrevendo, desenhando, criando e cuidando do ser humano.


Durante muitos anos, trabalhei como professora de dança e de teatro, escrevendo e
dirigindo espetáculos, com o objetivo de estimular a arte e de cultivar a educação
extrínseca e intrínseca, ou seja, a educação integral para a condição humana.

Fiz formação em Naturologia e me tornei terapeuta oficialmente, ampliando muito


meu leque de possibilidades para cuidar do ser humano e para autoconhecer-me. Em
seguida, cursei graduação em Educação Física, onde encantei-me pela Fisioterapia. Foi o
que me levou a participar de um projeto interdisciplinar e a fazer todo o estágio da
faculdade na Clínica de Fisioterapia. Mais uma vez, eu buscava a prática do cuidado.

Profundas eram minhas inquietações e eu abraçava a arte através da dança, da pintura


e do teatro. A sensibilidade me conduzia mais além, muito além. Em 2003 conheci os
Jogos Cooperativos e iniciei um novo caminho na vida. Era preciso uma pedagogia e uma
filosofia que amparassem todo o trabalho para que a ação fosse coletiva e mais efetiva.
Pronto, Eureca: Jogos cooperativos.
12
Assim, quando o sonho vibra profundamente, reverbera num movimento de
conspiração. Nesta época, fui convidada para administrar uma casa de cultura, onde pude
unir as artes, as terapias e a educação, com toda base norteada pela cooperação.

E foi nesse lugar, onde os livros da natureza estavam muito presentes1, que uma
árvore de Natal ganhara um enfeite divino, cheio de luz, através da visita de um passarinho
que construíra seu ninho em um de seus galhos. Neste lugar, iniciei minha preciosa jornada
em busca de caminhos terapêuticos inovadores na arte de cuidar do Ser.

Lá “aconteSia” (no aconteSer que brota do Ser, que vem de Deus, da unicidade) um
projeto muito especial o Doutores da Alma, onde eu me reunía com os jovens para ações
sociais, práticas de reflexão, jogos cooperativos e contemplação... Fazíamos a leitura
silenciosa de nossos propósitos de vida. Era muita energia reunida por um mundo melhor,
por caminhar juntos, pela felicidade...

Os ventos sopraram para outros caminhos. Mudei-me para o Estado de São Paulo e
ingressei na Pós-graduação em Jogos Cooperativos, onde surgiu o personagem Anjo Pó-
de-Estrela e em seguida o projeto das histórias terapêuticas.

O Anjo Pó-de-Estrela surgiu pra fazer parte de um jogo cooperativo chamado “O


anjo da guarda”. Essa brincadeira é tal qual a conhecida dinâmica do amigo secreto.
Porém, ao invés de amigo secreto, cada um se torna anjo secreto do outro e a brincadeira
dura um tempo maior. No caso da nossa pós-graduação, durou quase um ano.

Numa ocasião, eu estava na beira da praia com um forte sentimento de amor e


gratidão e lembrei-me de uma fala de um professor sobre o fato de sermos compostos pela
poeira das estrelas. Naquele momento meus olhos se encheram de lágrimas, brotou um
sorriso em meu coração e uma linda inspiração emoldurada por aquele perfeito cenário do
mar visitou-me.

Nasceu naquele momento O Anjo Pó-de-Estrela! o Ele passou a fazer parte da

1
A maestria se encontra em escutar a sincronicidade, cochicho dos eventos entrelaçados numa unidade aberta
e indissociável, que desvela sentidos sutis. É fazer a ponte entre os reinos capaz de comungar com o todo.
Deus dorme nos minerais, sente nos vegetais, sonha nos animais, desperta no ser humano, canta na Aleluia
nos anjos e desfruta de si mesmo no sábio (CREMA 2009).
13
brincadeira do anjo da guarda através de mensagens e presentes para todos os alunos da
classe. Nosso personagem foi um cuidador secreto sem fronteiras, visitando almas e
aquecendo corações.

Depois disso uma série de sincronicidades2 aconteceram e, no dia 22/06 do ano


seguinte, na data de aniversário do Anjo pó-de-estrela, nasceu a idéia do projeto das
histórias. Escrevi uma primeira monografia sobre o tema na pós-graduação em Jogos
Cooperativos. Mais tarde, ingressei na pós-graduação em Psicologia Transpessoal, onde
pude lapidar e aprofundar o projeto das histórias e escrever a monografia presente nesse
trabalho.

Esta monografia é composta por três capítulos.

O primeiro capítulo aborda um breve histórico sobre a Psicologia Transpessoal, sua


definição e suas bases teóricas e também fala sobre a Abordagem Integrativa Transpessoal.

O segundo capítulo é sobre Abraham Maslow, os processos primário, secundário e


terciário, as experiências culminantes e as de platô. Trata também dos mecanismos de
defesa denominados Complexo de Jonas e Dessacralização, bem como a relação destes
com o projeto das histórias terapêuticas proposto nessa monografia.

O terceiro capítulo é sobre a prática de contar histórias, o seu efeito terapêutico e o


embasamento teórico do projeto das histórias terapêuticas.

Esta monografia é requisito para a obtenção do grau de pós-graduada em Psicologia


Transpessoal pela Alubrat - Associação Luso-Brasileira de Transpessoal.

2
Jung chamava sincronicidade de coincidência significativa, o tempo se apresenta como continuidade
concreta, contendo qualidades e condições básicas que podem se manifestar em locais diferentes com relativa
simultaneidade, num paralelismo que não se explica de forma casual.Jung apud (GUERREIRO, 2009).
14

2 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

2.1 – HISTÓRICO

A Psicologia Transpessoal foi oficializada em 1968 e foi anunciada por Antony


Sutich, em seu artigo Transpersonal Psychology. O Fundador da Psicologia Transpessoal
foi Abraham Maslow, junto com Victor Frankl, Stanislav Grof, Antony Sutich e James
Fadiman. Foi considerada por Abrahan Maslow como a quarta força, sendo a primeira
Behaviorismo, a segunda a Psicanálise clássica e a terceira a Psicologia Humanista.

A primeira força, o Behaviorismo, surgiu em 1913 e negava os aspectos


introspectivos do ser humano. As pesquisas eram isentas de qualquer subjetividade,
rejeitando, assim, “tudo o que não pudesse ser mensurável, replicável ou observável pelos
cinco sentidos” (SALDANHA, 2008, p. 58).

A segunda força foi a Psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud. O termo


Psicanálise foi utilizado pela primeira vez para descrever os métodos de Freud em 1896.
Freud acreditava que o comportamento humano era apenas um terço de sua parte visível,
sendo que os instintos e as pulsões compunham as partes do inconsciente, das quais
surgiam alguns aspectos de forma patológica no comportamento humano.

A terceira força a Psicologia Humanista tem como fundador Abraham Harold


Maslow, que ressaltava a necessidade de se considerar os aspectos saudáveis do ser
humano, como suas potencialidades e capacidade criativa, entre outros, e que a negação
desses aspectos pode causar patologias e neuroses.

Como essa natureza humana é boa ou neutra, e não má, é preferível expressá-la e
encorajá-la, em vez de a suprimir. Se lhe permitirmos que guie a nossa vida,
cresceremos sadios, fecundos e felizes. Se esse núcleo essencial da pessoa for
negado ou suprimido, ela adoece, por vezes de maneira óbvia, outras vezes de
uma forma sutil, às vezes imediatamente, algumas vezes mais tarde (MASLOW,
1968, p. 28).

Segundo Maslow a Psicologia humanista foi uma preparação para a Psicologia


Transpessoal, uma quarta Psicologia transcendental que estava sendo desenvolvida e que
incluiria aspectos das escolas anteriores.

Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força da


Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda
15
“mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas
necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da
individuação e quejandos (MASLOW, 1968, p. 12).

A proposta de Maslow com a nova psicologia foi de integrar a natureza dupla do


homem: a inferior e a superior, a sua condição de criatura e a sua essência divina. Maslow
ampliou a Psicologia humanista, considerando aspectos como transcendência, diferentes
estados de consciência e experiências culminantes e estabeleceu mais dois mecanismos de
defesa além dos da psicanálise: Complexo de Jonas e Dessacralização.

Em 1969, foi fundada a Associação de Psicologia Transpessoal, na Califórnia,


juntamente com James Fadiman, Antony Sutich, Victor Frankl, Carl Rogers, Charlote
Buhler e Stanislav Grof, os quais, em seus estudos e pesquisas, contribuíram para a
expansão dos campos da transpessoalidade e para sua prática no comportamento humano.

A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Vera Saldanha (2006), define a Psicologia Transpessoal como o estudo e a aplicação


dos diferentes níveis de consciência em direção à unidade fundamental do Ser. Essa prática
favorece ao indivíduo a vivência da plena Luz, de onde emerge o ser integral, vivenciando um
estado de mente mais lúcido e desperto.

A Psicologia Transpessoal implica em três aspectos básicos que são, em primeiro


lugar, a existência de uma dimensão superior de consciência, em segundo, o
trabalho vivencial através de diferentes estados de consciência com as
polaridades do inconsciente inferior e superior e, em terceiro, a síntese entre
níveis experenciais e evolutivos. Este enfoque possibilita a atuação desses três
níveis de forma harmoniosa para o indivíduo e para o ambiente, ensejando a
plena expressão do ser. (SALDANHA, 2006, p. 45)

Weil corrobora com a fala da autora ao afirmar que a Psicologia transpessoal é um


ramo da psicologia especializado no estudo que lida com a “experiência cósmica” ou os
estados ditos “superiores” ou “ampliados” de consciência enfocando o estudo da
consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique.

Estes estados de consciência consistem na entrada em uma dimensão fora do


espaço-tempo, tal como costuma ser percebida pelos nossos cinco sentidos. É
uma ampliação da consciência comum com visão direta de uma realidade que se
aproxima muito dos conceitos de física moderna. Weil, 1999 (apud Saldanha,
2008, p.42)

Segundo Walsh e Vaughan (1997) é através de práticas em estados de consciência


que transcendem o ego, que a Psicologia Transpessoal busca integrar o espiritual nas
16
dimensões pessoais e ampliar conceitos que envolvem aspectos da humanidade, da vida,
da psique e do cosmo, sem desconsiderar nem invalidar a importância dos aspectos da
identidade individual e pessoal.

A visão do homem na Psicologia Transpessoal é a do ser Bio-Psico-Social, Cósmico


e Espiritual, restabelecendo a possibilidade de se viver a unidade fundamental Homem-
Cosmos. Saldanha (1997) afirma que a visão de mundo na Transpessoal é a de um todo
integrado, em harmonia, formando uma rede de interrelações de todos os sistemas
existentes no Universo. O nível transpessoal está localizado na extremidade do espectro da
consciência, onde as faixas transpessoais fundem-se no nível do Espírito. É o nível da
consciência cósmica, em que a pessoa se identifica com o universo inteiro.

2.2 – ABORDAGEM INTEGRATIVA TRANSPESSOAL

2.2.1 – SISTEMATIZAÇÃO DA AIT

A Abordagem Integrativa Transpessoal foi criada pela doutora em psicologia Vera


Saldanha que sistematizou seus principais conceitos em sua tese de doutorado, após uma
caminhada de extensa e profunda aplicação dos postulados da Psicologia Transpessoal nas
áreas da saúde, da educação e da pesquisa.

A autora vem percorrendo o caminho da orientação transpessoal desde 1978, quando


participou do IV Congresso de Psicologia Transpessoal. Conheceu Pierre Weil e Stanislav
Grof (influentes pensadores, pesquisadores, educadores e terapeutas no campo da
psicologia humanista e transpessoal), tendo estabelecido, a partir de então, uma parceria
intellectual e amizade com Pierre Weil.

Foi construído um sistema com conceitos da Psicologia Transpessoal, ampliando-o


para que pudesse ser utilizado na saúde, nas instituições, na área clínica e na educacional e
que também permitisse clarear quais os conceitos que subsidiam a fala, a escuta e as
intervenções num processo terapêutico, educacional e de auto-conhecimento. A elaboração
deste conhecimento em psicologia passou a ser denominada Abordagem Integrativa
Transpessoal, e sua forma de ensiná-la Didática Transpessoal. A Abordagem Integrativa
Transpessoal é composta por dois aspectos básicos: o estrutural e o dinâmico.
17
2.2.2 – ASPECTO ESTRUTURAL

“O aspecto estrutural é uma sistematização do Corpo Teórico da Psicologia


Transpessoal”. Ele é constituído de cinco elementos: o conceito de unidade, o conceito de
vida, o conceito de ego, os estados de consciência e a cartografia da consciência”.
(SALDANHA, 2008, p. 158).

CONCEITO DE UNIDADE

Segundo Maslow, a base da Psicologia Transpessoal é a unidade fundamental ou a


não fragmentação do ser, de onde partem e para onde convergem todos os recursos desta
abordagem. Para melhor compreendermos esse conceito, podemos conceituar unidade
como a propriedade indivisível do ser. A vivência desse estado permite ao indivíduo
experimentar estados de paz, de confiança, de entrega, resultando em estados de desapego,
de serenidade e de harmonia.

Conceito de Unidade

Conceito de Vida Conceito de Ego

Cartografia da Consciência
Estados de Consciência

Figura 1: Corpo técnico (fonte: Saldanha, 2006, p.107).

Quando abordamos a unidade cósmica, referimo-nos ao fim da dualidade e das


polaridades. É o todo, é o absoluto, é a plena Luz. Nesse nível, inexiste tempo e
espaço. É um eterno agora, um eterno ser-único e indivisível. E, simbolicamente,
é a cabeça e a espinha dorsal desse corpo teórico (Saldanha, 1999, p. 42). Vivê-la
significa estar presente por inteiro em cada instante, no aqui e agora e "não se
identificar com sentimentos, situações ou atitudes circunstanciais possibilita uma
percepção mais ampla e adequada da realidade". "Todo o processo do trabalho
em Psicologia Transpessoal contribui para resgatar essa unidade fundamental”
(Saldanha, 2008, p. 162).

Segundo Saldanha (2006), quando o indivíduo ignora que ele faz parte da unidade,
ele se apega aos objetos de prazer e passa a ter medo de não tê-los, de perdê-los ou de não
reavê-los, manifesta estados desarmônicos e experimenta sentimentos de tensão e
18
ansiedade, o que pode provocar uma baixa resistência imunológica levando às doenças
auto-imunes, patologias cardíacas, síndromes mentais entre outras.

Maslow afirma que quando o homem reconhece essa dimensão transpessoal, resgata
a sua inteireza e vivencia o sentimento de unidade com o cosmo. Isto gera um estado mais
harmonioso e de paz, levando-o a novas reflexões sobre o conceito de vida.
Posteriormente, Maslow ampliou o conceito para “consciência de unidade” Nagelshmidt,
1996 (apud Saldanha, 2008, p.278):

CONCEITO DE VIDA

O conceito de vida, por sua vez, caracteriza a dimensão atemporal. “Tudo é vida,
energia, formas diversas de existência, algo que não é definido, nem se sabe, quando
começou ou quando terminará” (SALDANHA, 2008, p. 168).

Para Weil a vida é um pulsar contínuo no qual nascer, morrer e renascer fazem
parte de um processo. Possibilita mudar ou, ainda, rever valores e crenças do
indivíduo, o qual é um ser transformador de energia em um sistema evolutivo
com eterna continuidade. Weil, 1989 (apud Saldanha, 2008, p. 164)

Saldanha (2006) utilizou o referencial de Weil para conceituar vida num contexto
transpessoal.

Existem sistemas energéticos inacessíveis aos nossos cinco sentidos, mas


registráveis por outros níveis de percepção.
Tudo na natureza se transforma e a energia que a compõe é eterna.
A vida começa antes do nascimento e continua depois da morte física.
A vida mental e a vida espiritual formam um sistema suscetível de se desligar do
corpo físico.
A vida individual é inteiramente integrada e forma um todo com a vida cósmica.
A evolução obtida durante a existência individual continua depois da morte
física.
A consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a vida
biológica e física, mas também a da natureza, a do espírito, a vida- energia,
infinita nas suas mais diferentes expressões. A vida, que é eterna, ilimitada, que
sempre existiu. Desconhecemos sua origem e nem sequer podemos imaginar, de
forma concreta, o seu fim; é inesgotável, uma fonte que jorra incessantemente,
nas suas mais diferentes manifestações (Saldanha, 2006, p. 112).

Sob o aspecto biológico, a vida é pautada por duas etapas inerentes a todo ser vivo
em seu processo de evolução, que são a morte e o renascimento. Morrer e renascer, a vida
é pautada nesta verdade, morre a flor para nascer o fruto, morre a lagarta para nascer a
borboleta, morre o rio para renascer no mar.

“Em Transpessoal a morte é a transição, a passagem de uma forma para outra, acrescendo
19
elementos de maior alcance na escala universal e mantendo a essência indivisível do
elemento anterior que consiste na vida em si própria” (SALDANHA, 2006, p.112).

CONCEITO DE EGO

“O Ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor” Krishna

O conceito de Ego, na Psicologia Transpessoal, “se caracteriza como uma


construção mental, ilusória, que tem a tendência de solidificar a energia mental em uma
barreira, a qual separa o espaço em duas partes: eu e o outro” (SALDANHA, 2008, p.167).

Segundo Saldanha (2008), o ego é necessário para operacionalizar a vida cotidiana


porque instrumenta a realidade da psique. Sua percepção não representa a totalidade das
experiências humanas, uma vez que em algumas delas a instância psíquica precisa
dissolver-se circunstancialmente, a fim de que o indivíduo se torne uno com tudo o que
existe, sentindo seu ser essencial e sua natureza de sabedoria e luz.

Segundo Leloup (1997), o estado mental que antecede a criação do ego, é chamado
de "unidade indiferenciada", que é esse espaço amplo, livre, luminoso que está ligado a
uma inteligência primordial e é chamado de indiferenciado, justamente por não haver
consciência desse espaço. Quando os processos do ego adquirem supremacia e controlam
sua psique, há perda de si mesmo, de sua natureza essencial.

Vera Saldanha (2006) relata que o processo de construção do ego se dá em cinco


etapas:

1 Dualidade: quando é tomada consciência de um eu no espaço amplo, solidifica-


se esse eu e deixa-se de sentir um só com esse espaço mental, gerando o eu e o
outro separado. É a primeira etapa do desenvolvimento do ego.
2 Sensação: a dualidade cria a possibilidade de projetar no outro a sensação de
que ele é agradável ou desagradável, ou ainda de indiferença ao outro.
3 Reações impulsivas: a partir da constatação da sensação, segue-se a ela a
reação impulsiva correspondente: apego ao que é agradável, repulsa ao
desagradável e neutralidade ao indiferente. Até esse estágio, o processo é
instintivo. Quanto mais o indivíduo estiver identificado com suas sensações e
reações impulsivas, limitado aos cinco sentidos como canais sensoriais
perceptivos, mais sua reação será autômata.
4 Conceito intelecto: a quarta etapa do desenvolvimento psicológico do ego
envolve a ação do intelecto, que torna a estrutura do ego mais aperfeiçoada e
mais forte. Apenas o processo instintivo é insuficiente para a segurança do ego, o
qual necessita do intelecto para oficializar sua situação, julgando, classificando
como certo, errado, bom, mal e assim por diante. O intelecto oficializa a situação
do ego, pondo-lhe um nome de eu, o eu da personalidade, estabelece rótulos
como, por exemplo: eu não gosto, eu gosto, eu sei, etc. Ao estabelecer o
20
conceito, diminuem-se as chances de o indivíduo viver a experiência direta,
plena e verdadeira, visto que existe o pré-conceito, a pré- suposição.
5 Mente Consciente: para manter os processos instintivos e intelectuais, o ego
necessita de um mecanismo ativo e eficaz. São as emoções e os pensamentos
discursivos que, desordenados e em constante movimento, alimentam e
sustentam histórias e a novela do ego; justificam plenamente, as percepções
instintivas; geram reações egóicas, protegem; entretêm, alimentam e inflam,
através da identificação com os conceitos e emoções suscitados e, até mesmo
retardam ou obstruem a evolução do ser. Ele não consegue mais diferenciar o
que é realidade e o que é projeção Souza, 1982 (apud Saldanha, 2006, p. 115).

Segundo Saldanha (2006), além dessas etapas temos o subproduto do ego que é a
auto-imagem, que ocorre da identificação do ego com a emoção que se estrutura e se
solidifica e que passa a agir como uma identidade separada do ego. A auto-imagem se
alimenta da energia do ego e ele vai se impregnando da auto-imagem. Passa a agir como se
fosse outra pessoa e a sua capacidade de percepção e apreciação de si, do outro e do mundo
a sua volta fica limitada. Há uma fragmentação, o indivíduo não acessa o supraconsciente e
não vivencia a sua essência verdadeira.

Um ego rígido, que alimenta uma auto-imagem forte, por melhor que esta seja,
tornará o indivíduo robotizado, uma pessoa que se identifica com a idéia de si
mesmo e, não, com a realidade dos seus sentimentos, experiências e ações. A
vida fica dividida entre imagem e realidade, entre o que se pensa que é e o que se
é de fato (Saldanha, 2006, p. 117).

As técnicas transpessoais têm como função restaurar essa comunicação entre os


fragmentos do ser e trabalhar no desapego das imagens que ele criou. Isso possibilita o
resgate de suas potencialidades e da criatividade, favorecendo a aprendizagem e o
desenvolvimento humano.

Um indivíduo em contato com ele mesmo vive a vida de forma flexível como ela é,
não tem a necessidade da auto-imagem ou de um ego rígido que lhe diga o que fazer e o
que ele é. Se sua mente está sem idéias rígidas, preconceito ou ordens, ela está em contato
direto com a experiência real do mundo, vive o momento presente, sente, pensa, age e vive
uma vida saudável em diferentes níveis.

Considerando que o eu refere-se a uma consciência em evolução que se


manifesta além da personalidade caracterizada pelos aspectos sociais e
biopsíquicos e que integra níveis evolutivos superiores que constituem a
individualidade - ou ser essencial ou ainda ser integral -, a morte do ego
redimenciona o ser, fazendo com que mude seu estado de consciência Assagioli,
1993 (apud Saldanha, 2008).

ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

O quarto elemento do aspecto estrutural refere-se aos estados de consciência,


21
instrumentos utilizados com o objetivo de trabalhar a morte do ego no caminho para as
diferentes dimensões. Eles ampliam e favorecem a percepção de diferentes níveis de
realidade e são alguns dos elementos que fazem com que a abordagem transpessoal se
diferencie das demais:

Um estado de consciência é um padrão generalizado de funcionamento


psicológico, um sistema constituído por subsistemas e subestruturas, em que
certa quantidade de energia, sob a forma de atenção, mantém determinado estado
de consciência ou provoca ruptura desse sistema, passando, então, o
experienciador para o outro sistema ou estado de consciência Tart (apud
Saldanha, p. 172).

Segundo Saldanha, o fato da amplificação da mente poder levar o indivíduo à


percepção de que sua consciência está radicalmente diferente do funcionamento anterior é
chamado de estado de expansão de consciência.

Pierre Weil afirma que "a percepção da realidade é em função do estado de consciência
do indivíduo" (SALDANHA, 1999 p. 57).

De acordo com Weil (apud Saldanha, 2008), os estados de consciência são


demarcatórios: consciência de vigília, sono, sono profundo, devaneio, despertar e plena
consciência.

a) Estado de consciência de vigília: neste estado o EEG (eletroencefalógrafo),


registra ondas cerebrais beta, de 14 a 26 ciclos por segundo em média. Aqui as funções do
ego são predominantes. O indivíduo percebe o mundo tridimensional através de sua mente,
suas emoções, seus cinco sentidos. É aquele estado em que estamos despertos, trabalhando.

b) Estado de consciência de devaneio: neste estado o EEG registra ondas cerebrais


alfa, de 9 a 13 ciclos por segundo, é alcançado através do relaxamento. Neste estado as
imagens são desconexas, criativas, literárias, artísticas, científicas e administrativas.
Também, neste estado o indivíduo está totalmente aberto para perceber o agora, está
propício à livre associação, e suas idéias devem ser anotadas imediatamente, pois podem
desaparecer no estado de vigília.

c) Estado de consciência sonho: este é o estado REM (movimentos rápidos dos


olhos), momento em que o indivíduo está sonhando. Temos em media de quatro sonhos
por noite. Freud foi um dos primeiros a se dedicar a estudar os sonhos, tudo o que ele
pesquisou veio a ser confirmado por Kleitman e seu discípulo Aserinsky nas pesquisas em
22
neurologia. Para ele todo o conteúdo trazido ao consciente, são motivações e desejos do
inconsciente, e aquilo que for manifestado vem de seu inconsciente individual e, em alguns
casos até da própria filogênese. Weil (apud Saldanha, 2008)

Para a transpessoal o trabalho com sonhos é muito amplo, podendo esta linguagem
ser usada de muitas formas: técnicas de incubação de sonho, sonhos lúcidos e ainda a
ampliação dos mesmos.

d) Estado de consciência sono profundo: o cérebro emite neste estado ondas delta de
1 a 4 ciclos por segundo; aqui o indivíduo entra num estado de inconsciência total, ele
perde contato com o mundo externo.

Segundo pesquisas recentes ao entrarmos num nível de superconsciência, o ego


desaparece e a consciência retorna à própria fonte. Swami Rama, um iogue
hindu, submeteu-se a um processo de pesquisa pela Menninger Foundation,
apresentando registro de ondas delta em pleno estado de vigília, ele estava
desperto e consciente de tudo o que se passava ao seu redor. Ele afirmou que
existem outros estados de expansão de consciência mais sutis e que não são
detectáveis por aparelhos encelográficos até o momento presente, ano 1976
(SALDANHA, 2006).

e) Estado de consciência de despertar: é a saída do entorpecimento, o indivíduo


acorda para a vida, é o despertar do observador de si mesmo. Neste estado se desenvolve a
reflexão, a percepção da essência do ser, e ocorre também a desidentificação deste
indivíduo com aquilo que ele projeta; suas emoções, sua mente, seus papéis, e seu corpo. O
relaxamento, a meditação e os exercícios com orientação transpessoal são alguns dos
recursos utilizados para levar o ser a este estado de despertar.

f) Estado de consciência cósmica ou plena consciência:

As expressões utilizadas para denominar este estado de consciência são: samádhi,


satori, nirvana, sétimo céu, sétimo paládio (cabala sepher hazolar), sétima morada (Tereza
D'Avila), experiência culminante (Maslow), experiência transcendental, experiência de
êxtase e experiência transpessoal (Saldanha, 2006 p. 121).

Neste estado o indivíduo experimenta o despertar de sua verdadeira sabedoria, o


verdadeiro amor, sua disponibilidade de auxílio ao outro, um estado pleno de bem-
aventurança, é ser uno com a unidade. A pessoa que experimenta este estado de
consciência passa a ter uma significava mudança em seu sistema de valores, compreende
que tudo vem do criador, e não do ser criado. É experienciar ser todo absoluto.
23
Muitos fatores podem provocar a experiência do estado de expansão da
consciência. Em Saldanha (1999 p. 62) temos: 1) isolamento sensorial e
sobrecarga sensorial; 2) biofeedback; 3) treinamento autógeno; 4) música e
canto; 5) improvisação teatral, principalmente, o psicodrama que desencadeia
uma conscientização dos papéis e dos jogos, através de uma realidade
suplementar; 6) as estratégias de tomadas de consciência que convidam a voltar
sua atenção aos antigos modos de pensamento; 7) auto-assistência e assistência
mútua: incitam a voltar à atenção para os próprios processos de consciência -
eles desenvolvem a idéia de que a mudança depende de si e de que podemos
escolher o nosso comportamento pela introspecção colaborando com forças mais
elevadas; 8) hipnose e auto-hipnose; meditação: zen, budista, tibetana, ioga; 10)
koans, histórias sufis, danças, histórias dervixes; 11) seminários destinados a
romper o transe cultural e a abrir o indivíduo para novas escolas; 12) diário a
respeito dos sonhos: os sonhos são os melhores modos de se obter informações
provindas de uma região que ultrapassa o campo da consciência comum;13)
Teosofia, sistemas de pensamentos inspirados em Gurdjieff; 14) psicoterapias
contemporâneas, como a logoterapia de Victor Frankl, a terapia primal, o
processo de Fischer-hoffman, a terapia da Gestalt, psicoterapia transpessoal, as
quais permitem penetrar suavemente nas estruturas de reconhecimento ou nas
mudanças de paradigma; 15) a ciência do espírito: aborda a aproximação para a
cura e autocura; 16) inúmeras disciplinas e terapias corporais como: hatha Yoga,
Tai-Chi-Chuan, Ai- Kido, Karate, Jogging, dança, entre outras; 17) experiências
intensas de mudança pessoal e coletiva; 18) visualizações.

Essas práticas podem alterar o estado de consciência do indivíduo, e algumas formas


de identificar se há alterações, é observando: a respiração, o movimento dos olhos, a boca,
a postura, o tônus muscular, a pupila e a voz.

Para a Abordagem Transpessoal, é fundamental o trabalho com os diferentes níveis


de consciência, pois, quando o indivíduo expande sua consciência para além do estado de
vigília acessando o supraconsciente, ele consegue ir à origem de seus conflitos e à solução
dos mesmos, aprende a não excluir nem supervalorizar, mas sim integrá-los.

CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA

O quinto e último elemento do aspecto estrutural é a cartografia da consciência,


sobre a qual Saldanha explica que “indica e nomeia a experiência vivenciada
para um melhor entendimento do psicoterapeuta, do educador, do socioterapeuta
ou da própria pessoa em relação aos passos que estão sendo dados e revelados
pelo inconsciente”. (SALDANHA 2008, p. 179)

Alguns autores nomeiam três níveis ou dimensões da mente: o primeiro refere-se a


conteúdos autobiográficos, desde o nascimento até o momento atual da existência do
indivíduo; o segundo diz respeito aos conteúdos que abrangem as vivências intra-uterinas,
inclusive o nascimento; e o terceiro antecede o nível intra-uterino, indo além da existência
biológica.

Saldanha opta pela cartografia de Kenneth Ring (1978), por ser bem descritiva. Ela
dá as definições de cada dimensão:
24
Consciência de vigília:

É formada por conteúdos que usamos no cotidiano, presentes na consciência e geralmente


regidos pelo tempo linear passado, presente futuro lógico e pelo pensamento analítico e
causal. A maioria das pessoas se mantém no estado de vigília a maior parte do tempo;

Pré-consciente:

Constitui-se de conteúdos particularmente ligados a vigília que são facilmente acessados a


partir de uma simples evocação direta;

Inconsciente psicodinâmico:

Formado por conteúdos ligados a experiências, sentimentos e pulsões desde o nascimento


até o momento da vida atual e corresponde ao inconsciente freudiano. Difícil de ser
acessado, pode vir à tona sob a forma de sintomas;

Inconsciente ontogenético:

Constitui-se de vivências intra-uterinas e representa uma zona de transição do nível pessoal


para o transpessoal, incluindo as experiências de morte/nascimento.

Inconsciente transindividual:

Envolve experiências ancestrais, palingenéticas, coletivas, raciais e arquetípicas.

1. Ancestral: exploração de sua linhagem genética, reviver vida de seus ancestrais. As


experiências ancestrais são explorações da própria linhagem genética, já que ao reviver
episódios das vidas de seus ancestrais, o sujeito acredita estar explorando sua própria
história e seu código genético

2. Palingenéticas: encarnações passadas: experiências vivas, cenas ou fragmentos de cenas


num outro tempo e lugar da história, compreensão da lei do Karma.

3. Experiências Coletivas e Raciais: aqui o indivíduo traz a experiência de uma tradição


cultural e de educação que nada tem haver com a educação e cultura dele no presente
momento.

4. Experiências Arquetípicas: aqui surge a idéia do inconsciente coletivo. Constitui-se de


25
símbolos universais da experiência humana, arquétipos ou imagens primordiais.

- Inconsciente Filogenético: envolve experiências orgânicas e inorgânicas que estão além


das formas humanas e da seqüência evolutiva do planeta Terra. As categorias dessa
experiência são consciência de órgão, tecido, célula, consciência animal, vegetal,
consciência de matéria inorgânica, consciência planetária.

- Inconsciente extraterreno: refere-se ao domínio da consciência que se estende para


além do planeta e é evidenciado em experiências como “estar fora do corpo” e em relatos
de encontro com entidades espirituais - os chamados guias. Neste nível podem ocorrer
também relatos de fenômenos de percepção extra-sensorial PK (psicocinesia em objetos)
e PES (percepção extra-sensorial) como telepatia e clarividência e/ou fenômenos
mediúnicos como escrita automática e possessão por espíritos.

- Supraconciente ou superconsciente: é um nível diferenciado da consciência no qual


ocorre profundo êxtase existencial. Nele, o indivíduo tem uma apreensão intuitiva do
fenômeno da unidade e da relação homem-cosmo e, embora sempre disponível, é
acessado somente se o ser estiver receptivo. “O termo supraconsciente se reporta, de
forma mais clara, a um nível superior e mais amplo do que a consciência de vigília,
integrando-a” (p. 184).

- Vácuo: é o estado de o puro ser; não há palavras para definir esta vivencia; é a fusão da
pequena mente com a mente cósmica. Saldanha ao citar Grof nos diz: [...] “o vácuo é
vivenciado como subjacente a toda criação, além do tempo e do espaço, além do bem e
do mal” (Saldanha, 2007, p. 127).

A linha demarcatória de um nível consciencial para o outro é muito flexível,


permitindo que um interpenetre o outro e nos mostre que inconsciente e consciente são
dimensões de uma mesma realidade.
26

Figura 2: Cartografia da Consciência (fonte: Saldanha, 2008, p. 180 e 181).

2.3.2 – ASPECTO DINÂMICO

O aspecto dinâmico integra-se em dois eixos: o eixo experiencial e o eixo


evolutivo. O eixo experiencial é representado por uma linha horizontal e o eixo evolutivo
por uma linha vertical. Ambas se cruzam, formando uma cruz.

EIXO EXPERENCIAL

De acordo com o modelo de Vera Saldanha, o eixo experiencial simboliza a


integração da Razão, da Emoção, da Intuição e da Sensação (REIS), que leva à ampliação
da percepção da realidade e à manifestação natural do eixo evolutivo ou nível superior da
consciência, de onde emergem os valores positivos e a dimensão saudável, inerentes ao ser
humano.
27

Eixo Evolutivo

REIS: Eixo Experencial

Figura 3: Aspecto Dinâmico

REIS

Segundo Vera Saldanha (2006), o REIS (razão, emoção, intuição e sensação),


quando integrado, permite que o indivíduo entre em contato com seu Self, através do nível
superior de consciência presente no eixo evolutivo, o que possibilita a realização das suas
potencialidades inatas.

A autora relata que quanto mais o indivíduo integrar o REIS durante a jornada de
sua vida, menos ele será influenciado pelo inconsciente coletivo. No entanto, o primeiro
passo é vivenciar a integração e o eixo experiencial, o qual pode ser trabalhado não só na
clínica, mas também na educação, nas organizações e áreas da vida em geral, como bem
abordado por Saldanha (2008).

Quando é alcançado no eixo experiencial a congruência entre o R.E.I.S, o


homem experiencia a situação por completo e desfruta das possibilidades
oferecidas. “Ao se conhecer melhor, desenvolve o potencial que lhe é inerente e
dá sentido à existência pessoal e cósmica. Resgata sua unidade e integra-se na
totalidade, porque se sente em profunda comunhão com o Universo”
(SALDANHA, 2008, p. 201).

RAZÃO

A razão significa na cultura ocidental pensar e falar ordenadamente, com clareza


e de modo compreensivo para outros. Faz parte da razão: medir, juntar, separar, contar e
calcular. A razão é uma maneira de organizar a realidade.

Em nossa vida cotidiana, a palavra razão é utilizada em muitos sentidos. Diz-se,


por exemplo, "eu estou com a razão", ou "ele não tem razão", para significar quando se
está seguro de alguma coisa ou quando se sabe com certeza de alguma coisa.
28
Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e
intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade primordial das
próprias coisas, existindo na própria realidade.

Segundo Maturana (1998), o racional é como um sistema de coordenação. O ser


racional, que freqüentemente é referido para fazer distinção do ser humano dos outros
animais, é uma afirmação que restringe nossa visão sobre nós mesmos. Quando nos
declaramos racionais, estamos na verdade procurando desvalorizar as emoções, e não
vemos o entrelaçamento entre razão e emoção, que constitui nosso viver humano, e não
nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional.

Na abordagem Transpessoal a razão não possui uma superioridade em relação à


emoção, sensação e intuição e sim deve estar integrada a esses níveis de percepção da
realidade.

EMOÇÃO

De acordo com a Abordagem Integrativa Transpessoal Saldanha (2006) a emoção é


fundamental para permitir a energia necessária ao processo de desenvolvimento psíquico.
Ela também é indispensável, por conferir à situação o aspecto experiencial.

A emoção só se torna prejudicial, segundo a Abordagem Integrativa quando a pessoa


se mantiver identificada apenas com ela o que pode impedir a integração das funções
psíquicas.

Segundo Daniel Goleman (1996), em seu livro “Inteligência Emocional”, cada tipo
de emoção que vivenciamos nos predispõe para uma ação imediata, cada uma sinaliza para
uma direção que, nos recorrentes desafios enfrentados pelo ser humano ao longo da vida,
provou ser a mais acertada. O autor relata ainda que a emoção é o nosso radar para o
perigo. Se nós e nossos ancestrais esperássemos que a mente racional tomasse uma
decisão, é possível que tivéssemos desaparecido como espécie humana.

INTUIÇÃO

"No latim, “intueri” significa “ver dentro” e indica uma percepção imediata de
um objeto ou algo presente." (SALDANHA, 2008, p.189).
29
Assagioli afirma que a intuição capta a essência “do que é”, sem considerar
outros aspectos. Assim, acredita que tenha um caráter de autenticidade (SALDANHA,
2008).

Em seus estudos, verificou que a intuição apresenta-se na consciência de duas


formas, conforme segue:

A intuição apresenta-se na consciência de duas formas: a primeira mais


vinculada ao significado etimológico - “intueri” - como uma abertura de um
“olho” interno, o qual permite ver ou perceber o que a visão normal não
vislumbra; a segunda comparada a um resplendor, um relâmpago, um raio de luz
que incide no campo da consciência e que é percebido pelo eu (ASSAGIOLI,
1993, p.78).

Assigioli afirma ainda que existem muitos tipos de intuição: as sensoriais, que
estão mais relacionadas aos estímulos provenientes do ambiente e dos diferentes níveis de
personalidade; as de idéias, que vêem à mente como quando uma luz se acende; as
estéticas, em que o artista mescla cores, texturas, transpõe notas e formas; as religiosas,
místicas e as científicas, em que intuição e raciocínio se interpenetram. Estas últimas estão
mais relacionadas aos aspectos transpessoais.

Sob o ponto de vista transpessoal, Saldanha (2008), comenta que a intuição tem
sua origem no supraconsciente, ou seja, um espaço psíquico superior ligado às experiências
culminantes, intuições, conhecimentos e idéias transpessoais, que formam um conjunto de
conteúdos, os quais não se encontram disponíveis na consciência de vigília. Portanto,
vivenciar esses aspectos, permite que o ser possa experienciar outros níveis de consciência
e acessar uma sabedoria interior conectada com uma ordem mental superior, o que
favorece o processo evolutivo. Desta forma, caracterizam-se como um dos diferenciais
dessa abordagem quando aplicado à educação e à clínica.

Indo mais além, a intuição permite abstrair a concepção do ser, sem levar em
conta suas características individuais, como por exemplo: a cor sem forma, o particular do
universal, o temporal do atemporal. Isto significa que a inteligência é capaz de
compreender o ser em seu aspecto abstrato e universal, pela intuição. Possibilita, ainda,
descobertas e insights através das experiências subjetivas, consideradas introspectivas e
daquelas vivenciadas com o mundo externo, que são as extrospectivas; o que leva à
compreensão daquilo que não se conhece e passa-se a conhecer e daquilo que estuda e
vive, dos quais se faz a apreensão e o enriquecimento da consciência (SALDANHA,
30
2008).

SENSAÇÃO

A função psíquica da sensação é essencial na compreensão integral do ser, pois


permite que a experiência sentida indique a realidade do fato vivido.

Na abordagem transpessoal, a sensação é que coloca o corpo em ação. Essa


dimensão física, integrada à psicológica e à espiritual, possibilita ao indivíduo o resgate da
sua essência e da unicidade da vida.

Quando o indivíduo percebe que a função da sensação está “deficiente”, ou seja, a


razão, a emoção e a intuição estão mais evidentes, há que se atentar para o que pode ser
feito a fim de integrar a sensação e colocá-la em equilíbrio com as demais funções.

Para tanto, destacamos os exercícios físicos, atividades lúdicas, terapias corporais,


o próprio andar, para que a sensação seja integrada no ser. Atentamos apenas para que tais
atividades corporais sejam feitas associadas à observação do indivíduo, ou seja, ao fazer
tais atividades, o indivíduo deve estar conectado utilizando-se do seu olhar observador para
identificar as sensações que o corpo está trazendo. Assim, a sensação passa a ficar mais
consciente e integrada às demais funções. A sensação pode ser colocada em equilíbrio
também através da auto-observação e da identificação das sensações que o corpo traz nas
mais diversas situações, tal como no simples ato de comer, andar, trabalhar.

Compreendi, então, que o nosso corpo é como uma lâmpada: estruturado de


maneira perfeita e orgânica para receber a magnífica Energia Eletromagnética do
Espírito: nossa Realidade eterna e irradiante. Essa energia traz a sabedoria, a
alegria, a segurança interior, a felicidade e o calor de um amor que cura. Como
seres espirituais, a nossa Realidade é essa energia eletromagnética maravilhosa.
Estamos atuando e existindo, simultaneamente, em diferentes níveis de
consciência, eternamente conectados à Fonte de toda Criação sem jamais, em
tempo algum, nos separarmos dela Marriot (apud Devescovi considerações finais
monografia Meu oráculo, Meu Corpo).

EIXO EVOLUTIVO (ORDEM MENTAL SUPERIOR)

Como vimos, o eixo experiencial promove a integração entre as funções psíquicas


(REIS) e essa congruência estimula o eixo evolutivo que promove uma ampliação das
percepções de si mesmo, do outro e do ambiente. Surge o que o ser tem de mais positivo,
construtivo e saudável.
31
O eixo evolutivo favorece uma ordem superior de realidade: a esfera da
supraconsciência e a percepção de um nível mais sutil através e além do pessoal.
Surge uma percepção adequada à situação nova, inesperada, ou uma resposta
nova à situação antiga, que já havia se cristalizado: constitui o espontâneo e o
criativo. O eixo evolutivo traz consigo a apreensão do sentido da experiência.
(SALDANHA, 2008, p. 200)

RECURSOS TÉCNICOS DE APLICAÇÃO

Saldanha apresenta os recursos técnicos utilizados durante a Abordagem Integrativa


Transpessoal.

INTERVENÇÃO VERBAL

Segundo Saldanha (2006) a intervenção verbal facilita o estabelecimento do vínculo


necessário, no qual se propicia a presença do eixo experiencial, por meio da razão, da
emoção, da sensação e da intuição. Essa prática facilita a manifestação do eixo evolutivo
por intermédio da ordem mental superior que representa, simbolicamente, o seu núcleo
saudável e de equilíbrio. A evolução deste indivíduo é conhecida por ele próprio, em
algum nível de consciência e o terapeuta deve clarear e focar no assunto, especialmente
aquilo que está embaralhado, ampliando e facilitando o insight.

IMAGINAÇÃO ATIVA

Trata-se de dar uma possibilidade ao inconsciente para que ele desenvolva imagens
mentais, aparentemente aleatórias, que são criadas e contornadas pelas motivações mais
profundas dos diferentes níveis do próprio indivíduo. Potencializando aspectos da
consciência de vigília, atualiza-se uma separação mais ampla da realidade e estima-se a
presença da ordem mental superior. Todos os exercícios são precedidos e facilitados por
uma pequena sensibilização ou um relaxamento simples de contato com a respiração. Eles
removem obstáculos à criatividade e à intuição, facilitando sua canalização e expressão,
operacionalizando esses elementos na vida cotidiana do indivíduo.

REORGANIZAÇÃO SIMBÓLICA

Envolve a imaginação, clareia e executa metas e organiza aspectos de


direcionamento do psiquismo. O exercício favorece a execução de metas do indivíduo,
dando vida às imagens mentais e acionando a intuição e os processos psíquicos
inconscientes que transformam desejos em realidade através das atitudes cotidianas.
Estimula o indivíduo a desenvolver perspectivas positivas de futuro, despertando-o para o
32
significado da vida, ampliando a percepção do todo e ajudando-o a identificar núcleos de
apego que ainda impedem a aprendizagem como, por exemplo, crenças a respeito da
própria dificuldade de aprendizagem. A atividade facilita a organização de determinados
conteúdos em uma sequência lógica e adequada, seja em nível psíquico, temporal ou
espacial.

DINÂMICA INTEGRATIVA

Agrega exercícios que articulam diferentes conteúdos do inconsciente nos vários


estados de consciência, permite um aprofundamento e uma elaboração dos conteúdos
trazidos através de sete etapas específicas: reconhecimento, identificação, desidentificação,
transformação, transmutação, elaboração e integração.

Tais etapas são sensibilizadas através de um nível imaginário vivencial com base em
diálogos durante as jornadas míticas de fantasia, imaginação ativa, psicodrama interno,
trabalho corporal e sensorial, personificação de conteúdos apreendidos, grafismo,
representação simbólica, objetivação de conteúdos, psicodrama transpessoal e outros. Esse
processo ocorre através da mobilização de diferentes níveis do ser: do eixo experiencial,
bem como da abertura para o eixo evolutivo, ou da dimensão superior de consciência
humana.

AS SETE ETAPAS INTEGRATIVAS

1. Reconhecimento: é a primeira etapa, é um olhar ao redor; às vezes, emerge um


questionamento e o indivíduo mobiliza-se para acolher o novo. É o momento da
mobilização interna, uma motivação que pode ser desencadeada por estímulos
intrínsecos ou extrínsecos. Em relação à motivação, é o momento em que há uma
lacuna, um espaço de desconhecimento diante de algo novo, não aprendido, que
segundo Maslow, insere-se nas necessidades básicas.
2. Identificação: sensações físicas, sentimentos, pensamentos são vivenciados
pelo indivíduo na identificação que ocorre a partir da motivação. A identificação
só acontece se houver uma ressonância com a necessidade básica na qual o
indivíduo se encontra; então, ocorrerão a participação, interesse ou, caso
contrário, abandono. O conhecimento fica só como mera informação intelectual,
disfuncional, aquela informação decorada, superficial, que é pouco aproveitada
para a vida do indivíduo e, geralmente, é logo esquecida. Se há o envolvimento,
a participação do emocional aliada ao cognitivo, ao sensorial e ao intuitivo,
mobilizam-se as estruturas ligadas à aprendizagem e à sua aquisição.
Contextualiza-se, facilitando-se a identificação: quando, como, onde, com quem,
para que, o quê. Desdobra-se a emergência das dúvidas. Nessa etapa, ocorre um
contato mais direto com os obstáculos internos e externos para a nova aquisição,
e a explanação delas favorecerá a entrada na terceira etapa. Sob o ponto de vista
didático, diríamos que até aqui foi vivenciado o eixo experiencial.
3. Desidentificação: na terceira etapa, há a desidentificação, ou seja, o
discernimento crítico, a análise, reflexão articulada em diferentes aspectos em
relação à aplicabilidade. Nesse momento, pode-se cristalizar uma fase
33
extremamente “intelectual”, na qual o indivíduo pode chegar a ser brilhante
sob o prisma teórico e até profissional. Contudo, não há a mesma qualidade em
sua vida pessoal, o conhecimento ainda é algo fragmentado. Tal fato pode
ocorrer, principalmente, se o individuo não se envolveu com o conhecimento, se
ocorreu apenas uma racionalização, negando a realidade, saltando da primeira
etapa para a terceira. O primeiro passo para que a desidentificação possa ocorrer
é o fato de o indivíduo ter experienciado a identificação; não há como
desidentificar-se daquilo que ainda não reconheceu em si, seja idéia, emoção ou
conflito. É, portanto, a partir dessa fase, que o indivíduo pode tomar distância,
“ver de fora”, focar distintos elementos opostos e aperfeiçoar. Essa fase favorece
o desapego e cria um vácuo receptivo para a próxima etapa e para novas
interrelações. Se, nesse momento, é favorecida ao indivíduo a sua inteireza
pessoal e valorizados outros aspectos da vida humana, sobretudo, a intuição e
sensação, há uma abertura para níveis mais diferenciados de percepção,
emergindo, natural e até concomitantemente, a etapa seguinte. Em termos
didáticos podemos dizer que houve uma ampliação de percepção com abertura
para o eixo evolutivo e reflexões mais profundas acerca do conhecimento
adquirido.
4. Transmutação: na quarta etapa, há a transmutação. O conhecimento adquire
significados pessoais, aspectos positivos, negativos, fáceis, difíceis, desafios, a
luta entre querer ir mais fundo e o abandonar, desafios da nova aquisição e as
mudanças que se impõeme aspectos funcionais e disfuncionais de uma mesma
realidade. Há um contemplar não só intelectual, mas também humano e ético do
conhecimento, do conflito e da solução. Vai-se do limitado para o sem limite. O
nível superior da consciência emerge, vem à tona, manifesta-se, possibilitando a
etapa seguinte. Esta é uma fase onde o julgamento do certo e do errado ou do
bem e do mau são insuficientes. Concorre neste momento também as funções da
percepção. Nada é inteiramente certo, nada é inteiramente errado ou inteiramente
bom ou totalmente mau. Há uma emergência multiparadigmatica e uma visão
transcendente que permite a passagem para outra etapa.
5. Transformação: na quinta etapa, há a transformação. A experiência pessoal, a
que Leloup chama de individualidade criadora, somada às vivências das etapas
anteriores, transforma-se em um novo conhecimento estabelecido, introjetado. Já
há forma e contextualização diferenciada, não é mais fragmentado, cindido entre
o bem e o mal, nem distanciado do indivíduo, mas sim, é uma nova resultante da
síntese favorecida pela etapa anterior. Didaticamente podemos sugerir que houve
uma passagem, uma mudança de nível, de ordem estrutural da informação. Ela já
é uma aquisição diferenciada, traz um novo referencial interno e externo para o
indivíduo.
6. Elaboração: na sexta etapa, ocorre a elaboração advinda da própria
transformação com os insights da nova aquisição. Há apreensão global da
situação e das possibilidades de articulações, promovendo o novo, diferenciado.
O estado mental é outro, a situação já é outra. Revelam-se o sentido da aquisição
nova, a dimensão que possui no contexto pessoal, social, espiritual e o sentido da
experiência em seu eixo experiencial e evolutivo. Há, então, uma apreensão do
verdadeiro conhecimento e do sentido desse saber na vida do indivíduo.
7. Integração: nessa sétima etapa, há a integração do conhecimento na vida
pessoal, profissional e cotidiana, mas agora já inserido no todo do ser. O
indivíduo jamais será o mesmo; há um novo olhar e um novo fazer. Seu
horizonte e perspectivas se ampliaram com a aquisição desses novos
conhecimentos. Quanto maior a aprendizagem, maior essa consciência da
integração, mais plena, nas várias dimensões pessoal, coletiva e cósmica, assim
como nas distintas áreas da vivência do individuo.
(SALDANHA, 2006, p.177)

RECURSOS ADJUNTOS

Englobam recursos como meditação, contemplação e relaxamento, que favorecem


um estado mais sereno da mente. Atualizam os níveis de expansão da consciência,
34
especialmente do supraconsciente; rebaixam o nível de tensão e a ansiedade e
promovem maior clareza mental e receptividade ao novo.
35

3 ABRAHAM MASLOW

3.1 HISTÓRICO

Abraham Harold Maslow foi o mais velho de sete filhos de pais judeus. Nasceu em
1° de abril de 1908, em New York. Graduou-se na Universidade de Wisconsin e recebeu o
título de doutor (PhD) em 1934. Sua tese tratava do relacionamento entre a dominância e o
comportamento sexual entre os primatas. Posteriormente, realizou extensa pesquisa sobre o
comportamento sexual humano, inspirado na noção psicanalítica de que o sexo é de
importância central para o comportamento humano, acreditando que a compreensão do
funcionamento sexual iria melhorar o ajustamento humano.

Durante a Segunda Guerra Mundial, percebendo a reduzida contribuição que a


psicologia havia dado para a solução dos principais problemas mundiais, mudou seus
interesses da psicologia experimental para a psicologia social e da personalidade. Maslow
queria dedicar-se a “descobrir” uma psicologia para a conferência da Paz. Fadiman, 1986
(apud Saldanha 2006, p.47)

O objetivo dele era provar que os seres humanos são capazes de fazer algo maior
do que guerra, preconceitos e o ódio. A partir de 1943, orientou-se para os
estudos das motivações, tornando-se um dos mais considerados especialistas em
comportamento humano e motivação, pioneiro na sustentação da hierarquia das
necessidades e do conceito de auto-realização. (SALDANHA, 2006, p.47)

O grande diferencial de Abraham Maslow para uma Psicologia mais ampla é de


proporcionar elementos a uma psicoterapia e a uma educação capazes de resgatar os
aspectos saudáveis do ser, os quais dão significado, riqueza e valorização da vida.

Quanto mais aprendemos sobre as tendências naturais do homem, mais fácil será
dizer-lhe como ser bom, como ser feliz, como ser fecundo, como respeitar a si próprio,
como amar, como preencher as suas mais altas potencialidades (MASLOW, [s.d.], p. 29).

Maslow afirmava que grande parte das neuroses são causadas pela criatividade
reprimida, os potenciais subaproveitados bloqueando os elementos saudáveis do ser
humano. Além disso, acreditava na idéia de que indivíduos saudáveis e satisfeitos consigo
mesmos, são auto-realizados e que, portanto, essas pessoas aceitam a si mesmas e aos
outros pelo que são, criando um clima e situação de convivência saudável, se realizando
como ser humano, uma vez que suas necessidades possam ser atendidas.
36
Maslow definiu o crescimento como: “os vários processos que levam a pessoa
no sentido de sua individuação”. Envolvia não só a satisfação progressiva de
necessidades básicas até o ponto que desapareciam, mas também motivações
específicas de talentos, capacidades criadoras e potencialidades constitucionais
(FRICK, 1975, p. 169).

Afirmava que as escolas psicológicas, especialmente as freudianas, haviam


descoberto a metade enferma do ser humano, e que cabia a uma nova Psicologia evidenciar a
outra metade saudável. Maslow faleceu em 08/06/1970.

3.2 PROCESSO PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO

A Psicanálise (Saldanha 2006) sugere um modelo teórico do aparelho psíquico. Os


modos do funcionamento do aparelho psíquico foram denominados por Freud de processo
primário e processo secundário.

Saldanha (2006) a partir dos estudos de Freud afirma que o processo primário é
característico da infância, embora possa continuar de certa forma na fase adulta; é
representado por alusão, analogias, e não existe um sentido ou uma preocupação com o
tempo. Não há o conceito linear de tempo, não há moralidade e não há dúvidas. Fantasia e
realidade não se distinguem.

PROCESSO PRIMÁRIO

Segundo Maslow Freud acreditava que no processo primário só encontraríamos


aspectos patológicos e neuróticos e que o inconsciente é algo temido e repleto de perigos.
O autor alerta que, nesse mesmo inconsciente, há aspectos saudáveis, curativos e
desejáveis de beleza e êxtase (MASLOW, 1990, p. 95).

Vera Saldanha em consonância com Maslow ressalva a importância de


observamos que, além da dimensão inconsciente mais primitiva, arcaica e não elaborada,
existe uma dimensão superior e inconsciente que abrange uma cognição mais elaborada,
superior;,perceptiva, sábia, adequada e transpessoal, característica de um processo superior
diferenciado, o qual é passível de ser estimulado e acessado, sob certas circunstâncias, ou
manifestar-se espontaneamente.

O pensamento primário foi intensamente refletido e indicado por Maslow como


importante e necessário na educação e no desenvolvimento da cognição do Ser,
uma esfera do pensamento que pode trazer não só impulsos primitivos, mas ser
37
uma parte de acesso ao inconsciente superior, fonte de valores e de saber.
(SALDANHA, 2006, P.)

O bloqueio do processo primário pode gerar um controle rígido, que sufoca a


habilidade de brincar, de rir, de desfrutar, de descansar, de ser espontâneo e, até, de criar.
Contudo, a maioria das pessoas adultas, justamente porque tais processos foram
bloqueados ou excluídos, tendem a ser infantis, imaturos, perigosos, temíveis! Assim, a
pessoa que bloqueou os processos primários está enferma (MASLOW, 1994)

PROCESSO SECUNDÁRIO

O processo secundário, por sua vez, desenvolve-se gradativa e progressivamente


durante os primeiros anos de vida e é característico das atividades do ego relativamente
maduro. Segundo Maslow "Quando as pessoas não desenvolvem o processo secundário,
ou nas quais estes desmoronam, se tornam muito enfermas, esquizofrênicas".

O processo secundário pode referir-se ao pensamento do ego maduro, o pensamento


comum, consciente e lógico, ou pode expressar processos de associação ou mobilização de
energia psíquica que se acredita que ocorram no ego maduro. No pensamento secundário, a
expressão fundamental se dá por meio da linguagem. (BRENNER, 1975, p. 60).

A separação rígida entre processo primário e secundário causa danos a ambos, ao


desenvolver uma racionalidade enferma e processos primários patológicos. A
dicotomização do processo secundário ocorre, em grande parte, como uma
organização gerada pelo medo e pela frustração: um sistema de defesas,
repressões e controles, com engenhosas e invenções subreptícias, com um
mundo físico e social frustrante e perigoso, que constitui a fonte de satisfação
para as necessidades básicas, e que nos faz pagar muito caro por qualquer
satisfação que obtenhamos dele. O eu consciente, enfermo, se dá conta disto, e
então vive inconsciente de acordo com o que considera que são as leis da
natureza e da sociedade. Isto significa uma espécie de cegueira (MASLOW,
1990, p. 93).

PROCESSO TERCIÁRIO

Para a Transpessoal, no entanto, dentro de sua perspectiva de considerar todo o


manancial positivo que a alma humana traz e que incorpora em sua trajetória evolutiva,
existe algo além, algo que possibilita um reencantamento do mundo, a emergência de
valores benéficos, o redespertar da confiança e a ocorrência do desejo mais profundo, que é
o florescimento do Ser – algo que se realiza através do que é denominado por Vera
Saldanha de processo terciário e que se relaciona com o princípio da transcendência
38
segundo a mesma (SALDANHA, 2008).

O processo terciário é definido como um conjunto de referenciais inerentes ao


desenvolvimento do ser humano que favorece o despertar da dimensão espiritual,
propiciando a atualização experiencial de valores positivos, saudáveis, curativos,
tanto individual como coletivo, caracterizando um processo regido pelo princípio
da transcendência (SALDANHA, 2008, p. 144).

EXPERIÊNCIAS CULMINANTES

As experiências culminantes segundo Maslow são os melhores momentos do ser


humano, os mais felizes da vida. Geralmente, elas emergem de profundas experiências
estéticas, como êxtase criativo, momentos de amor maduro, experiências sexuais perfeitas,
amor paternal e maternal, experiências de parto natural e contato com a natureza, entre
outras.

Nas experiências culminantes, há sempre uma característica em comum que


possibilita construir um esquema ou modelo abstrato e generalizado, permitindo
falar, ao mesmo tempo, de todas elas. Coincide quase com o que se tem
denominado de valores eternos, verdades eternas: a verdade, a beleza e a
bondade, como a maioria de pensadores da humanidade consideram valores
fundamentais ou supremos da vida. (VERA SALDANHA, 2006, p.62)

Maslow realizou uma pesquisa para explorar os limites da potencialidade humana,


escolheu homens e mulheres melhores, ou seja, os mais saudáveis possíveis, na qual
relacionou, então, as seguintes características das pessoas auto-realizadas ou auto-
atualizadas:

1. Percepção mais eficiente da realidade e relações mais satisfatórias com ela


(orientação realista);
2. Aceitação (de si, dos outros, da natureza);
3. Espontaneidade, simplicidade e naturalidade;
4. Concentração no problema em oposição a estar centrado no ego (concentração
para tarefas);
5. A qualidade do desprendimento, a necessidade de privacidade (sentido de
intimidade);
6. Autonomia, independência em relação à cultura e ao meio ambiente;
7. pureza permanente de apreciação (capaz de apreciar);
8. Experiências místicas e culminantes (espiritualidade);
9. Sentimento de parentesco com os outros – identidade com a
humanidade;
10. Relações interpessoais mais profundas e intensas (intimidade com pessoas
amadas);
11. Estrutura de caráter democrático (valores democráticos);
12. Discriminação entre os meios e os fins, entre o bem e o mal;
39
13. Senso de humor filosófico e não hostil;
14. Criatividade auto-atualizadora (capacidade criadora);
15. Resistência à aculturação: a transcendência de qualquer cultura especifica
(incorformismo a aculturação).

Acrescenta-se que indivíduos auto-atualizadores não são perfeitos, sem defeitos, já que é ilusão
acreditar que existem seres perfeitos. Nem sábios ou santos podem ser perfeitos, posto que
compartilham dos problemas dos seres humanos comuns (MASLOW, 1970, p. 176).

Para Maslow (1994, p. 135), a síntese dos valores do ser (S) nas experiências culminantes
são:

1. verdade (honestidade, realidade, sinceridade, simplicidade, essencialidade,


dever ser, plenitude bela, pura, limpa, sem adulteração);
2. bondade (benevolência, justiça, retidão, amamo-la, sentimo-nos atraídos por
ela, aprovamo-la);
3. beleza (vitalidade, perfeição, forma, riqueza, culminação e honestidade);
4. plenitude (unidade, integração, tendência à união, interrelação, organização,
não dissociado, sinergia, estrutura, ordem, tendência homóloga e integrativa);
5. a transcendência da dicotomia (aceitação, sinergia, transformação das
oposições em unidade, dos antagonismos em colaboradores mutuamente
realizantes, integração ou transcendência das polaridades);
6. vitalidade (vivacidade, espontaneidade, auto-expressão, auto-regulação,
processo, funcionamento pleno, mudança e permanência simultâneas);
7. unicidade (idiosincrasia, individualidade, incomparabilidade, novidade,
particularidade, peculiaridade);
8. perfeição (nada falta, nada supérfluo, justiça, adequações, nada mais além,
tudo está no lugar adequado);
9. a necessidade (inevitabilidade, é bom que seja assim, deve ser desse modo,
sem nenhuma mudança);
10. culminância (finalidade, consumação, morte antes do renascimento, justiça,
está terminado, não fará nenhuma mudança na Gestalt, nada falta, clímax,
cumprimento do destino, culminação do crescimento e do desenvolvimento);
11. justiça (imparcialidade, adequação, inevitabilidade; necessidade,
desinteresse, qualidadearquitetônica);
ordem (legalidade, retidão, perfeito, organizado);
12. simplicidade (desnudez, ausência de adornos, do extra ou supérfluo,
essencialidade, certeza, abstrato, unicamente o que é necessário, estrutura
essencial e medular);
13. riqueza (diferenciação, complexidade, todo presente, tudo é igualmente
importante, totalidade, nada é pouco importante, simplificação, abstração);
14. facilidade (suavidade, graça, ausência de luta, de esforço, de dificuldade,
funcionamentoperfeito e belo);
15. diversão (alegria; recreação, jovialidade, humorismo, exuberância,
facilidade);
16. auto-suficiência (autonomia, independência, não necessitar nada que não seja
a si mesmopara ser, autodeterminação, transcendência do ambiente, viver de
acordo com as próprias normas, identidade).

Entre as características objetivamente mensuráveis do espécime humano sadio,


segundo Maslow, em síntese, podemos afirmar que são:
40
1. Uma percepção mais clara e mais eficiente da realidade;
2. mais abertura à experiência;
3. maior integração, totalidade e unidade da pessoa;
4. maior espontaneidade, expressividade, pleno funcionamento, vivacidade;
5. um eu real, uma firme identidade, autonomia, unicidade;
6. maior objetividade, desprendimento, transcendência do eu;
7. recuperação da criatividade;
8. capacidade para fundir o concreto com o abstrato;
9. estrutura democrática de caráter;
10. capacidade de amar.

EXPERIÊNCIA DE PLATÔ

Maslow descreveu ainda as experiências “platô”, que representam uma maneira nova
e mais profunda de encarar e vivenciar o mundo, envolvendo mudança de atitude
gradativa, diferente da experiência culminante, a qual pode durar poucos minutos, algumas
horas, raramente mais do que esse tempo, e é intensa.

Concluindo este tópico, destacaremos algumas dentre as características dos


indivíduos metamotivados, ou seja, aqueles que, além de auto-realizados, têm experiências
culminantes com maior freqüência.

Para esses indivíduos, as experiências culminantes e platô são os momentos mais


importantes e preciosos em suas vidas. Em geral, percebem a realidade de forma unitária,
isto é, o sagrado no profano. Podem ver o sagrado em todas as coisas, ao mesmo tempo em
que vêem o nível da deficiência no cotidiano.

Os indivíduos metamotivados são conscientes e transcendem mais as dicotomias


e o ego; são pessoas que, de certa maneira, parecem se reconhecer umas às
outras, chegando a uma intimidade quase instantânea e a uma mútua
compreensão desde o primeiro contato (Maslow, 1994, p. 272). Abarcam a
realidade de forma mais holística, e são mais inovadoras. No entanto, Maslow
tem a impressão de que essas pessoas transcendentes são menos felizes que as
demais, pois, ao mesmo tempo em que têm mais momentos de êxtase, têm mais
propensão a uma espécie de tristeza cósmica, ou tristeza S, talvez pela estupidez
das pessoas, por suas cegueiras, crueldade com os demais, ou “auto-anulação”
sugere Maslow, acrescentando: Talvez este seja o preço que têm que pagar por
sua visão direta da beleza do mundo, das possibilidades de santidade, que tem a
natureza humana, do desnecessário de tanta maldade humana, da necessidade
aparentemente óbvia de um mundo bom, de um governo universal, de
instituições sociais sinérgicas, de uma educação para bondade humana, em lugar
de uma educação para ganhar quocientes intelectuais mais elevados ou maior
trabalho atômico ... (Maslow, 1994, p.277).

MECANISMOS DE DEFESA

Maslow (1996) acrescenta aos mecanismos de defesa descritos pela psicanálise o


41
“Complexo de Jonas” e a Dessacralização. Ele percebe uma recusa do indivíduo em
realizar suas plenas capacidades ao evitar a responsabilidade que seria exigida por uma
maior conscientização e expressão do real.

Maslow afirmava que o homem seria um ser com habilidades, capacidades e poderes
adormecidos e que o adormecimento acontece não só por termos aspectos patológicos, mas
também por bloquearmos esses elementos saudáveis inerentes a todo e qualquer ser. A
impossibilidade, ou dificuldade, de expressarmos nossa criatividade e de atualizarmos
nossos potenciais como ser humano realizado, traz como conseqüência as neuroses.

Há dois conjuntos de forças puxando o indivíduo, não uma apenas. Além


das pressões no sentido do desenvolvimento e da saúde, existem também
pressões regressivas, geradas pelo medo e a ansiedade, que o empurram
para a doença e a fraqueza. (MASLOW, [ s.d.], p. 197)

COMPLEXO DE JONAS

Aos mecanismos de defesa Maslow acrescenta o complexo de Jonas,


denominação dada por ele, à evasão do próprio destino, à fuga de nossos
melhores talentos, ao medo da própria grandeza: “Todos nós temos
potencialidades sem usar, ou sem desenvolver plenamente; freqüentemente
fugimos da responsabilidade sugerida por nossa natureza, tal qual tentou fugir
Jonas em vão de seu destino” (SALDANHA, 2006, p. 60)

Jonas, segundo Maslow e a psicologia humanista, é o arquétipo do homem que tem


medo da realização. O homem que foge da sua vocação da escuta de seu mestre interior.
Jonas tem origem hebraica e quer dizer pomba. Uma pomba com asas aparadas por ter
renegado a dimensão espiritual representa o desejo de todo homem de voar com os pés
ancorados na terra.

Jonas pôde abrir-se à transcendência, mas se fechou e cortou as próprias asas. Mas,
algumas vezes, quem corta suas asas é a sociedade, ou seja, o meio que habita. Jonas tem
medo de ser diferente, de ser único e afasta-se de sua vocação profunda.

Ele recebe o convite para levantar e despertar quando ouve o chamado para ir a
Nínive, terra de seus inimigos, dizer ao povo para cessarem os conflitos, ou em breve não
existirá mais Nínive. Jonas é convidado à cooperação através do gesto misericordioso de
despertar e salvar o povo o qual intitulava de seus inimigos. Jonas não quer ouvir a voz
profunda e quer permanecer deitado. Ele foge de sua palavra interior e entra num barco que
42
está partindo para Társi e adormece no porão.

Muitos têm medo de mudanças, mesmo que esta mudança as abra a uma
existência melhor e mais feliz. O abandono dos antigos hábitos, a perda do
conhecido, cria em algumas pessoas um clima intolerável de insegurança. Não
há realmente segurança senão no previsível, mesmo que isto signifique
infelicidade e sofrimento. O desejo de segurança é muito pronunciado nos
psicóticos. Em sua infância lhes foi ensinado que toda mudança é uma
ameaça. A separação da mãe ou do ambiente familiar foi-lhes apresentado como
o equivalente da morte e do caos. Esta noção vai criar, nestas pessoas, um medo
de toda e qualquer mudança. Muita segurança impede a evolução da pessoa,
mas muita liberdade vai causar também muita angústia. A criança não sabe mais
quais são seus limites. Portanto, o medo de não ser como os outros vai gerar um
outro medo: o medo de conhecer-se a si mesmo. (Fonte: LELOUP, site oficial.)

A consequência é uma tempestade onde as ondas se levantam e os marinheiros, ao


consultarem as cartas, descobrem que o motivo da tempestade é Jonas. Ele reconhece ser a
causa e, diante da responsabilidade pelo infortúnio, mergulha no oceano e a tempestade
cessa. É o mergulho no inconsciente. Quem não escuta a voz interior pode causar
transtornos para os que estão ao redor.

O primeiro ensinamento de Jonas está no fato de nos tornarmos nós mesmos! Ao


contrário haverá tempestades e distúrbios à nossa volta. Ele tem medo de se conhecer.

Então o medo de conhecer, o medo de se conhecer, segundo Maslow, é o próprio


medo de fazer. Não se quer saber pra não ter que fazer. Assim nós entendemos
um pouco mais do Complexo de Jonas, diante desta experiência que lhe
acontece, desta voz que o convida a ir pra Nínive, ele sente todas as exigência a
ela relacionadas. (LELOUP, 2009, p. 53)

Jonas é engolido por uma baleia e passa três dias e três noites nas profundezas de si
mesmo. (LELOUP, 2003). “É no coração da profundidade que Jonas vai gritar e apelar
para Deus. Jonas tem medo de amar. Só quando vai além dos próprios limites é que ele
reencontra o Ser que o faz aceitar a sua missão”. (Weil, Leloup, Crema, 2003, p.70).

Jonas vai a Nínive e anuncia a lei do carma: “Todas as causas provocam efeitos. Se
continuarem com essa atitude de violência e de desprezo, isso acarretará na destruição da
grande cidade”. (WEIL, LELOUP, CREMA, 2003, p.70).

O povo de Nínive o escuta e a cidade não é destruída. Jonas, ao invés de ficar feliz, fica
triste e furioso com Deus. Jonas acredita que a justiça seria a cidade ser destruída como
consequência natural dos atos daquele povo. Não compreende a misericórdia de Deus.
Jonas tem medo do sucesso, de superar seus pais e de deixar de ser amado por eles.
43
Tememos o sucesso e suas repercussões, pelo medo de ultrapassarmos nossos
pais, seja em felicidade, em educação, em fortuna ou em status. Podemos, assim,
nos tornarmos uma ameaça para nossos pais e sermos rejeitados por eles. Vocês
percebem que é sempre a presença desta criança em nós que tem medo de não
ser amada, que tem medo de não ser reconhecida. Um psicólogo como Fenichel
verá, como uma causa profunda do medo de vencer, o sentimento de
indignidade. Temos, pois, de observar em nós a nossa relação com o
sucesso. Nosso desejo do sucesso e nosso medo do sucesso. E neste medo do
sucesso talvez esteja incluído um sentimento de indignidade – esta depreciação
de si mesmo que talvez seja a herança de um certo número de julgamentos que
nos foram dirigidos. Quando se repete a uma criança que ela nunca será nada,
que ela não é inteligente ou que não sabe cantar, ela integrará esta
programação. E se um dia ela chegar ao sucesso, inconscientemente, ela pensa
que este sucesso não é justo. Citando Finchel: “O sucesso pode significar a
realização de alguma coisa imerecida, que acentua a inferioridade e a culpa. Um
sucesso pode implicar não somente em castigo imediato, mas também em
aumento de ambição, levando ao medo de futuros fracassos e de sua
punição.” Para Karen Horner, o medo do sucesso resulta do medo de suscitar
inveja nos outros, com perda conseqüente do seu afeto. Alguns têm medo de
vencer porque não querem que os outros sintam ciúmes dele, o que é muito
arcaico. Os gregos expressavam isso da seguinte maneira: “Os deuses têm inveja
do sucesso dos homens.” Porque eles consideravam que o sucesso dos homens
retirava as suas prerrogativas. A maioria dos primitivos pensa que muito
sucesso atrai para o homem um perigo sobrenatural. Heródoto, em particular, vê
em todos os lugares da história a obra da inveja divina. Quando os homens e
mulheres são muito ambiciosos, atraem toda sorte de infelicidades. Só está
seguro o homem que é obscuro. “Para viver feliz, viva escondido”, para viver
feliz, viva deitado. (Fonte: LELOUP, Site oficial)

Nínive era a cidade inimiga de seu povo. Ir a Nínive representava trair seus irmãos.
”Jonas tem medo de ser diferente e essa diferença é o que ele realmente é, medo da
autenticidade”. Jonas foge do seu propósito de vida (WEIL, LELOUP, CREMA, 2003,
p.70).

Colérico, recusando a ternura e misericórdia de Deus, Jonas deseja morrer. Então


cresce uma árvore em cuja sombra ele repousa e entra num estado de felicidade. Mas à
noite a árvore é destruída expondo Jonas ao sol forte do dia.

Jonas indaga, por que foi retirada a árvore, sua sombra. Argumenta que prefere
morrer a viver sem ela. E Deus responde a Jonas.

“Você sofre pelo fim de uma árvore cuja duração foi de uma noite e um
dia que não lhe custou nenhum trabalho. E eu não terei pena de Nínive
onde vivem mais de 120 mil homens que não distinguem uma mão da
outra, como muitos animais?!” (WEIL, LELOUP, CREMA, 2003, p.70).

É pedida a Jonas a capacidade de perdoar, não de negar a justiça. Assim Jonas


recupera o sentimento de unidade, compreendendo a caminhada do desenvolvimento
44
humano e despertando para o sentimento de fraternidade e comum-Unidade para a
cooperação e para a interdependência.

Segundo Maslow, (1994) é fundamental que o indivíduo aprenda a ultrapassar suas


repressões, que conheça o próprio eu, que escute a voz interior e que descubra a energia
triunfante, alcançando o conhecimento, o discernimento e a verdade.

A RELAÇÃO DO PROJETO DAS HISTÓRIAS DO ANJO PÓ- DE- ESTRELA


COM O COMPLEXO DE JONAS

“Às vezes uma palavra, uma frase ou uma história soa tão bem, tão perfeita, que
faz com que nos lembremos, pelo menos por um instante, da substância da qual somos
feitos, e do lugar que é o nosso verdadeiro lar” . (ESTES,1997).

“Somos poeira que dança na Luz. É o Universo... uma multidão de poeiras, uma multidão
de átomos e de mundos que dançam na claridade da mais pura Luz.” (LELOUP)

Nosso personagem, O Anjo Pó- de- Estrela, tem sua origem no Big Bang e seu
maior desafio é acalmar as tempestades cósmicas, onde aspiradores e espanadores
cósmicos o separaram de sua família e amigos. Os pós-de-estrela pulam de estrela em
estrela, tentando se segurar e sobreviver ao desequilíbrio cósmico. O pó de estrela
representa todo o potencial, o tesouro vocacional e a centelha divina.

Assim, nosso personagem iniciará uma mágica aventura na Terra, que começa na
segunda história. Nesta descobrirá a origem do desequilíbrio que gera as tempestades
cósmicas. Encontrará as causas na raça humana, que vem deixando evaporar o pó-de-
estrela. O pó-de-estrela evapora em função da grande quantidade de humanos que estão
aprisionados pelo “Complexo de Jonas”, pelo esquecimento de si mesmo, transformando o
sonho de Deus em pesadelo afastando-se da bem-aventurança e deixando guiar-se pela
fragmentação interior. Nosso personagem, de maneira divertida, conduzirá seus leitores a
viagens profundas de contato com o pó-de-estrela, despertando os potenciais na tarefa de
relembrar a promessa individual a serviço do propósito maior da existência.

DESSACRALIZAÇÃO

Segundo Saldanha (2008) a dessacralização é a falta do sentido do sagrado na vida


45
diária, a recusa em tratar qualquer coisa com interesse profundo e com seriedade,
banalizando fatos importantes e singulares da vida, como, por exemplo, a sexualidade, as
experiências espirituais, a morte e etc.

Certos símbolos culturais ou aspectos da vida humana, como, por exemplo, a


sexualidade,não têm mais o cuidado e o respeito de antes. Embora a atitude
negligente em relação ao sexo possa levar à menor frustração e trauma, por
vezes, a experiência sexual perdeu o poder que tinha antes de inspirar artistas e
amantes .Nesse sentido, tecia críticas aos manuais ortodoxos de psicologia que se
posicionavam como se o amar fosse irreal, reduzindo-o aconceitos tais como
projeção ou reforço sexual. Para ele, o amor e a sexualidade fazem parte dos
valores do Ser.Muito da hipocrisia da sociedade, dos pais e educadores é,
segundo ele, responsável por esse mecanismo no indivíduo, sobretudo nos
jovens, de reduzir a pessoa a objeto concreto, negando-se a perceber seus valores
simbólicos, ou vê-la como eterna. (MASLOW, 1994, p. 76)

A plena realização consiste em Ressacralizar, o que significa ver o outro sob uma
espécie de eternidade, reconhecendo o sagrado, o eterno e o simbólico. Maslow traz-nos
alguns exemplos, como: olhar a mulher com M maiúsculo, com tudo o que isso implica;
dissecar um cérebro como um objeto, mas também com valor simbólico, como uma figura
de discurso vendo seus aspectos poéticos.

HISTÓRIAS TERAPÊUTICAS

Segundo Sunderland, as histórias quando bem utilizadas, através de seu universo


imaginário e de metáforas, podem auxiliar na libertação dos estados emocionais intensos,
exercendo função terapêutica e podem ser um rico instrumento para terapia em crianças.

Mellon corrobora com essa idéia ao relatar que de um simples conto pode brotar o
estímulo necessário para desencadear uma mudança, restaurando um tesouro de poderes
que está vivo dentro de cada um de nós.

“Criar e narrar histórias é, antes de tudo, ajudar a guiar e a transformar a vida das pessoas”.
(MELLON, 2006, orelha do livro)

Nancy Mellom relata que, em sua experiência com adultos e crianças, tem observado
que as imaginações desse início de milênio são normalmente permeadas pelo medo e por
obsessões, além de se apresentarem irregulares. A autora afirma que apesar disso podem se
tornar saudáveis e radiantes através de estímulos e inspiração abastecidos por elementos
sábios e antigos do mundo da imaginação.
46
A visão interior de imaginar, pensar por imagens, pode e deve constituir-se
em um recurso de aprendizagem em diversas áreas do conhecimento escolar.
Numa possível pedagogia da imaginação que nos habitue a controlar a própria
visão interior sem sufocá-la. Feldman 1998 (apud Saldanha; p.31).

HISTÓRIAS

As histórias são formas simples de se aproximar do universo infantil e de dizer


sutilmente à criança que está de mãos dadas com ela na aventura da vida, desbravando
novas terras, vencendo obstáculos e acolhendo seus medos.

As histórias são jardins secretos onde podemos brincar e sonhar transformando


estrelas em brilhantes, pedras em brinquedos, bruxas em fadas. Reúnem a razão e
a emoção, o lúdico e a fantasia, e nos fornecem pistas importantes para o
encontro com o SER ESSENCIAL, o nosso grande potencial criativo. Nye
Ribeiro

A PRÁTICA DE CONTAR HISTÓRIAS

A prática de contar histórias provavelmente teve início nas cavernas, com a família
reunida em volta do fogo e o homem contando suas bravatas. Com certeza existiam vários
tipos de contadores. Aqueles mais expressivos, detalhistas e cheios de emoção eram os que
ganhavam maior atenção na prática de proporcionar o saborear do conteúdo da história.

Se o relato já prendia tanto a atenção, o que seria se juntasse a imaginação? O


homem viajou para lugares fantásticos, visitou seres imortais com poderes mágicos, criou
animais que falam e se sentiu um pouquinho artista levando a platéia a viagens conduzidas
pela imaginação.

Mas as histórias podem ir além de todo esse encantamento e exercerem a função de


uma poderosa ferramenta terapêutica. Levam empatia às crianças e são excelentes na arte
de educar, pois elas as adoram. A variedade é praticamente inesgotável e possibilitam
abordar vários aspectos educacionais.

De acordo com, Dohme, 2010, alguns aspectos internos da criança podem ser trabalhados
através das histórias, tais como:

· Caráter: através de experiências fictícias que levam a criança a perceber várias


alternativas, podendo antever as conseqüências por cada decisão tomada. Com isso,
adquirem vivência e referência para montar seus próprios valores.
47
· Raciocínio: histórias elaboradas despertam nas crianças o raciocínio e instigam-nas a
buscarem soluções.

· Imaginação: atende a necessidade que as crianças têm de imaginar - as histórias ajudam


na formação da personalidade através da possibilidade de fazer conjecturas,
visualizações e combinações.

· Criatividade: aumenta o arquivo referencial da criança que está diretamente ligado à


criatividade.

· Senso crítico: por meio das histórias, as crianças conhecem diversas culturas, classes
sociais, raças e costumes - visão de outras realidades fará com que lancem um olhar mais
integral e, assim, possam ter uma atuação mais autônoma.

O PODER TERAPÊUTICO DAS HISTÓRIAS

Segundo Sunderland (2005), todo ser humano possui sentimentos dolorosos,


confusos e difíceis e tem dificuldade de entrar em contato e de lidar com esses processos
perturbadores da sombra3. Estes acabam interferindo na capacidade de trabalho e nos
relacionamentos e podem trazer muita infelicidade. Geram carga emocional represada, que
se manifesta através de sintomas neuróticos e físicos ou de comportamento destrutivo.

Uma das fases da vida em que são acumuladas essas tensões emocionais é na
infância. A criança não possui recursos internos para entendê-los plenamente e
regular seu nível de emoções, além de não possuírem vias cognitivas como os
adultos para externarem seus conflitos. Assim, pode manifestar comportamento
cruel, agressivo, dificuldade de aprendizado, enurese noturna, fobias, entre
outros fatores. (Sunderland, 2005)

Segundo Jung a psique inconsciente porta algumas características:

"é autônoma, ou relativamente autônoma, em relação ao ego; tem finalidade


(telos), como todo processo psíquico; é criativa e auto-reguladora; e se expressa
em uma linguagem simbólica própria. Jung, 1999 (apud site Scielo no artigo
Arendt, Jung e Humanismo: um olhar interdisciplinar sobre a violência)

Jung afirmou que o inconsciente tem dois lados: o pessoal e o coletivo.

3
A sombra é uma luz que não pode se doar. É um amor que não pode se comunicar. Quando a energia do
amor não pode se doar e se comunicar ela se volta contra nós. Ela nos rói, ela nos destrói interiormente.
(Leloup, 2009, p.180)
48
1- Inconsciente pessoal:

É formado pelos conteúdos que decorrem da históra e experiência pessoais do


sujeito, e, portanto, poderiam muito bem ser conscientes ou seja, fatores
individuais incompatíveis ou infantis que o ego reprime ou simplesmente nunca
conscientizou. Jung, 1999 (apud site Scielo no artigo Arendt, Jung e
Humanismo: um olhar interdisciplinar sobre a violência).

2- Inconsciente coletivo:

"O inconsciente coletivo é formado pelos instintos e arquétipos que são elementos
psíquicos coletivos ou transpessoais, comuns a todos os seres humanos".

Segundo Jung: os arquétipos são possibilidades de formação de imagens (e


posteriormente idéias) que ordenam as experiências mais universais (por
exemplo, a maternidade, ou ainda a relação do filho com a mãe) de uma forma
especificamente humana e histórica, por meio de um significado.

Expressando a ideia acima de outra forma, é como se cada ser humano nascesse com
a história das experiências humanas de milênios impressa na psique, mas não de forma
atualizada, mas sim como possibilidades.

Dessa maneira, o homem é humano não só por pertencer à espécie e viver na


comunidade humana, mas por portar a essência da história humana em si. O
arquétipo pode ser visto ainda como a forma psíquica (ou seja, a imagem) do
instinto, tendo a capacidade de transformar a energia portada por um instinto
para uma forma cultural, através de um símbolo e o sentido que este carrega.
Resumindo, os arquétipos são estruturas psíquicas apriorísticas e formais que
organizam a percepção da realidade, criando representações (que formarão os
conteúdos da psique); são formas típicas e especificamente humanas de
fantasiar. Jung, 1998 (apud site Scielo no artigo Arendt, Jung e Humanismo: um
olhar interdisciplinar sobre a violência).

DIVERSOS OLHARES SOBRE HISTÓRIAS COMO RECURSO


TERAPÊUTICO

Nos mitos e contos de fada, como no sonho, a alma fala de si mesma e os arquétipos
se revelam em sua combinação natural, como "formação, transformação, eterna recriação
do sentido eterno" (JUNG, 2000, p.214)

O mitos são sonhos arquetípicos, e lidam com os magnos problemas humanos.


Eu hoje sei quando chego a um desses limiares. O mito me fala a esse respeito,
como reagir diante de certas crises de decepção, maravilhamento, fracasso ou
sucesso. Os mitos me dizem onde estou. Joseph Campbell em entrevistas com
Bill Moyers

Mestres iluminados utilizavam-se de histórias para passar suas mensagens. Jesus, o


maior terapeuta que existiu, falava através de parábolas simbólicas, que mantiveram-se
49
através dos tempos como profundo recurso terapêutico.

“Os textos sagrados são textos do inconsciente, eles não falam somente ao mundo da
razão, ao mundo das explicações, mas falam ao mundo dos sentidos, através de imagens e
símbolos” (LELOUP, 2009.)

Uma história, por si só, abre a possibilidade de contato com o jardim secreto do
imaginário, onde não existem limites e nem tempo. Oferece também a oportunidade de
cada um reconhecer e viver a sua própria história, de forma pessoal e única. Pois, além de
povoar a imaginação, traz consigo: sonhos, vitórias, derrotas, ensinamentos, experiências,
percepções, sentimentos, esperanças e temores.

Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja
assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de
modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham
ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo
que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. Joseph Campbell em entrevistas
com Bill Moyer.

Pinkola (1994) relata que, através da poesia, cuja linguagem também trafega pelo
universo de metáforas, os poetas atuam como visionários e historiadores da vida psíquica.
Em muitos casos, suas observações e insights são tão penetrantes que suplantam as
hipóteses da psicologia acadêmica, tanto em precisão como em profundidade. ”As histórias
são como bálsamos medicinais”.

Histórias e parábolas por diversas vezes no dia-a-dia remetem o indivíduo à


identificação com as dores, questionamentos e alegrias dos personagens.
Portanto, ajudam a desvendar a visão de certo e errado até o momento presente
que governa a vida até agora. “E assim nos libertamos desse peso, descobrindo
um grande espaço aberto dentro de nós, o terreno fértil onde a verdadeira
transformação pode criar raízes e crescer” (Osho, 2003, P.9)

Rubem Alves, afirma que o objetivo da história é dar à criança símbolos através dos
quais ela possa falar de seus medos. Ele diz que é mais fácil falar de si mesmo fazendo de
conta que fala de bichos, plantas e flores. (Alves, 1999)

Nancy Mellon em seu livro "Corpo em Equilíbrio" discorre sobre o poder do mito e
das histórias para despertar e curar as energias adoecidas no físico e no espiritual. Segundo
essa autora, a contação de histórias é uma arte terapêutica que pode trazer à tona a
sabedoria inata que existe em cada ser humano. Através das histórias, amplia-se o
conhecimento interior tornando as pessoas mais conscientes de si mesmas.
50
“Aparentemente, há algo nessas imagens iniciatórias tão necessário à
psique que se elas não são supridas a partir de uma fonte exterior, pelo
mito e o ritual, serão anunciadas continuamente pelo interior”. (JOSEPH
CAMPBELL apud Mellon, p.103).

Assim, os autores citados acima, reafirmam a fala de Sunderland de que as histórias


quando bem utilizadas, são um valioso instrumento terapêutico para a saúde emocional,
principalmente para o universo infantil, cuja linguagem de mais fácil acesso é através de
mensagens simbólicas e do lúdico essencial.

O PROJETO DAS HISTÓRIAS

"Céu em cima

Céu em baixo

Estrelas em cima

Estrelas em baixo

Tudo que está encima

Também está em baixo

Percebe-o

E rejubila-se"

Texto Alquímico citado em, A Psicoterapia de Jung, 1988.

O Projeto das histórias do Anjo Pó-de-Estrela teve início em 2009, com objetivo de
ser uma referência amorosa para as crianças, que contribua para educar para a condição
humana. Desde então, diversas literaturas, cursos e experiências vem compondo esta
criação.
51
OS QUATRO PRINCÍPIOS NORTEADORES DAS HISTÓRIAS DO ANJO PÓ-
DE-ESTRELA

Os princípios norteadores da história que foi escrita, bem como das demais
subseqüentes, são o Terapêutico, o Pedagógico, o Cultural e o do Entretenimento, com o
objetivo de promover uma atuação no sentido da integração do Ser. Estes princípios
reúnem algumas teorias de autores como Abrahaw Maslow, Vera Saldanha, Nancy Melon,
Margô Sunderland, Terry Orlick, Carl Jung, Clarissa PinKola Estés, Humberto Maturana,
Roberto Crema, Laureano Guerreiro e Jean Leloup.

TERAPÊUTICO

Quanto mais mágicas, mais oníricas forem as histórias, melhor. Quanto mais
diferentes modos de pensar e ver a realidade, quanto mais variadas e
extraordinárias forem as situações que elas contam, mais se ampliará a gama de
abordagens simbólicas possíveis para todos os problemas que nos afligem
.Corso, Diana Lichtenstein – “Fadas no Divã” (Porto Alegre, 2006)

As histórias tem como objetivo funções terapêuticos baseadas na Abordagem


Integrativa Transpessoal. São elas:

1- Contribuir para integração dos "REIS" (razão, emoção, sensação e intuição),

O estímulo ao eixo experiencial significa integrar com congruência as funções


psíquicas, favorecer ao indivíduo a ter consciência do seu pensamento,
sentimento, emoção, intuição e sensação (REIS). De fato, essa integração
permitirá a ampliação da percepção da realidade.(SALDANHA, 2006, p.150)

Com a integração das funções Psíquicas, o eixo evolutivo é estimulado, o que


favorece uma outra ordem superior de realidade o Supraconciente.

A esfera da supraconsciência, a percepção de um nível mais sutil através e além


do pessoal. Surge uma percepção adequada à situação nova, inesperada, ou a
resposta nova à situação antiga, que já havia se cristalizado; é o espontâneo e
criativo na linguagem moreniana. O eixo evolutivo traz consigo a apreensão do
sentido da experiência, um nível pessoal e cósmico. É formada uma rede de
relações significativas e integradas, quando se ancora a experiência, e efetua-se a
real aprendizagem. Há, então, uma outra qualidade de energia psíquica,é o
conhecimento que agrega valores, ética na expressão do indivíduo. Ao percorrer
o eixo evolutivo, o indivíduo percebe a totalidade, desenvolve sua unicidade, sua
especificidade: algo que lhe compete e a ninguém mais. É a evolução de sua
própria consciência, por meio do saber, ao mesmo tempo, há um profundo
sentimento de comunhão com o todo, e com todos. A pessoa sente-se fazendo
parte de um Todo maior e contribuindo com ele de forma, mais ordenada, sábia,
em comunhão com todos os seres. É a plena interação no seu momento presente.
(SALDANHA, 2006, p.154 e 155)

2- Auxiliar no crescimento saudável, através do aprimoramento dos processos primário e


52
secundário e da síntese, o que chamamos de processo terciário.

O pensamento primário foi intensamente refletido e indicado por Maslow como


importante e necessário na educação e no desenvolvimento da cognição do Ser,
uma esfera do pensamento que pode trazer não só impulsos primitivos, mas ser
uma parte de acesso ao inconsciente superior, fonte de valores e de saber.
Contudo, se considerarmos o pensamento do processo primário, de forma mais
ampla e profunda, este poderá oportunizar a emergência de pérolas preciosas que
habitam nas profundezas da psique humana. (SALDANHA, 2006, p. 56)

“A poética, as metáforas e as artes favorecem o acesso não só ao inconsciente mais


instintivo e impulsivo, relacionado ao processo primário da concepção freudiana, mas
também aspectos diferenciados superiores relacionados ao processo terciário, regido pelo
princípio da transcendência, não presentes na consciência ordinária, mas identificados pelo
olhar da abordagem transpessoal na Psicologia, a qual insere os diferentes estados de
consciência e possibilita essa percepção mais ampla da realidade e da natureza humana,
bem como sua aplicação.”Vera Saldanha (2008, pág. 83)

Para Maslow, é necessário que se alcance uma fusão, uma síntese dos processos
primários e dos secundários, do consciente e do inconsciente, do eu profundo e
do eu consciente, e de uma maneira graciosa e frutífera que, embora não tão
comum, é factível. Essa fusão gerará indivíduos a quem o inconsciente deixa de
atemorizar, podendo viver suas fantasias; imaginação; desejo de realizar-se; seu
feminino; sua qualidade poética; sua extravagância; podem nela regredir a
serviço do ego. É uma regressão voluntária saudável na qual o indivíduo dispõe,
a qualquer momento, da criatividade. (SALDANHA, 2006, p. 59)

3- Enfatizar os Potenciais Humanos e o Sagrado, com intuito de contribuir para escuta


interna e para redução dos mecanismos de defesa abordados por Abraham Maslow que são,
Complexo de Jonas e Dessacralização conforme capítulo anterior.

Segundo Maslow, existem dois conjuntos de forças sobre o indivíduo: o de pressões


no sentido da saúde e o de forças regressivas, patológicas, geradas pelo medo e pela
ansiedade, que levam o indivíduo à doença e à fraqueza.

Embora os contravalores sejam mais fortes nos indivíduos neuróticos, todos nós
os temos e deveríamos fazer as pazes com tais impulsos interiores, para que
pudéssemos, então, transformá-los em outros sentimentos, como admiração,
gratidão, compreensão, adoração etc... por meio de uma análise e do trabalho
consciente o que nos ajudaria a aceitar os valores do Ser em nós mesmos e no
outro, trazendo soluções ao complexo de Jonas.(Maslow, s.d).

4- Estimular o Autoconhecimento.

Segundo Maslow, a criança que é ajudada a descobrir que tipo de pessoa é, qual é o
seu estilo, qual é a sua melhor aptidão e quais são os seus limites, tem seu potencial
53
favorecido. melhorando a aceitação de si e dos outros. Isso resulta em aceitar a
diversidade de forma natural e harmoniosa, favorecendo maior absorção, fascinação e
perseverança no que está fazendo ou aprendendo em todas as diferentes etapas, ao longo de
sua existência.

Assim, conduzir-se-a o educando, a um trabalho mais absorvente, frutífero e


educativo (Maslow, 1994). Com esse enfoque, nossas escolas e professores
colaborariam com o educando, ao despertar-lhe a vocação, a olhar dentro de si
mesmo, ouvir suas vozes internas, a encontrar a própria identidade, a descobrir o
que quer fazer de sua vida. É a partir do próprio educando que se inicia a
aprendizagem. (SALDANHA, 2006, p.87)

5- Auxiliar a criança, através de metáforas estruturadas com base no conteúdo teórico


da Abordagem Transpessoal (Roberto Assiogle), a se libertarem dos estados
emocionais intensos4, através do universo imaginário.

Segundo Silva (2005) na monografia Histórias Bálsamo pra alma, a linguagem


simbólica é fortemente emotiva e afetiva. Ela nos traz de volta ao momento presente,
como forma de nos instruir e de nos guiar diante dos conflitos e situações que se
apresentam. Oferece sínteses imediatas, por meio de ideias ou de imagens, ajudando-nos
a reconhecer nosso papel e nossa atitude diante de cada situação.

“A linguagem simbólica fascina e seduz. Leva-nos para dentro dela,


arrasta-nos para seu interior pela força de seu sentido, de suas evocações,
de sua beleza, de seu apelo emotivo e afetivo.”(Chauí,Uma Filosofia da
Liberdade – Moderna: São Paulo, 2005 apud Silva, Nye monografia,
Campinas, 2009)

PEDAGÓGICO

As histórias serão embasadas por uma filosofia de cooperação, onde a


interdependência será um dos traços presentes. São histórias educativas, cooperativas e
que despertem a importância do potencial humano para o bem comum.

Nosso principal desafio, me parece, é colaborar para construir pontes que


encurtem as distâncias, diminuam as fronteiras e aproximem as pessoas umas das

4
Na evolução de um ser humano, o medo não superado, o desejo bloqueado, vão gerar patologias. O medo
superado, o desejo não bloqueado, vão permitir a evolução. (LELOUP, 2009)
54
outras. A construção dessas pontes constitui um exercício permanente de
revisão filosófico-pedagógica de nossas atividades, programas e demais
intervenções, praticadas diariamente, na escola, na empresa, na comunidade, no
clube, na universidade, com a família, com os outros e... com a gente mesmo.(
Brotto, Fábio, 2001, p.3)

Segundo Terry Orlick, falta-nos o compromisso com um sistema de valores


humanistas. Ele nos alerta para a importância de que as crianças vejam modelos de
generosidade, focalizando coisas boas que contribuam para o desenvolvimento da
criança, potencializando um modo de vida mais saudável e cooperativo (ORLICK, 1978).

Na fala acima está impressa a urgência de criações, não só na área da educação


formal, mas também na educação informal, na forma de histórias em quadrinho, desenhos
animados, jogos, filmes e outros.

Em sua visão mais ampla da psicologia, sustentava que a meta da educação é


conduzir a pessoa à auto-realização, ou seja, a ser “plenamente humana”, a ser o
melhor de que se é capaz, implicando algumas mudanças no âmbito da
psicologia da aprendizagem, afirmando: “nossa educação convencional, me
parece gravemente enferma, se começarmos a pensar dentro deste marco de
referência, isto é, de converter-se em um bom ser humano” (Maslow, 1990, p.
168).

CULTURAL

Nestas histórias também vão acontecer passeios por lugares diferentes e por
culturas diferentes, de forma sutil, leve e imparcial, aproximando povos e culturas e
contribuindo para que as crianças desde cedo identifiquem uma visão comum para um
melhor futuro para o planeta.

Para Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, “não podemos mais invocar as barreiras
nacionais, raciais ou ideológicas que nos separam, sem repercussões destrutivas.
Dentro do contexto de nossa nova interdependência, considerar os interesses dos
outros é claramente a melhor forma de auto-interesse”. (Tenzi Gyatso apud
Brotto Fábio, 1997, p.27)

Essa viagem objetiva ampliar o universo da criança, sem ferir o referencial, e


proporcionar o olhar para a diversidade, auxiliando no conhecimento, estimulando a
criatividade e a criticidade e ampliando o leque de escolhas para aprimoramento da
autonomia. Além disso, algumas das histórias serão interativas, dando abertura para Co-
criação.

As crianças criativas, para Maslow, parecem ser as que têm vozes que lhes
dizem o que é correto e o que não é. Já as crianças que têm baixa criatividade,
mesmo com um coeficiente intelectual elevado, apresentam dificuldades de
55
expressão, de aprendizado e de entendimento do que está acontecendo no
momento presente e em seu universo interior.

ALEGRIA E ENTRETENIMENTO SAUDÁVEL

"O brincar é um modo de habitar o mundo". Luiz Carlos Garrocho

A rigor, somos filhos do amor, e a biologia de nossas corporeidades, assim como


a de nosso desenvolvimento infantil, pertence à biologia do amor. Além do mais,
tudo isso ocorre de modo tão fundamental que o crescimento normal de uma
criança humana requer a biologia da mútua aceitação em interações corporais
íntimas com a mãe. E a maioria de nossas doenças e sofrimentos surge de
alguma interferência em nosso operar na biologia do amor. (Maturana [s.d.],
p.128.

Segundo Maturana, é na brincadeira, no brincar espontâneo sem intenção e com total


presença no presente, que ocorre o encontro legítimo do adulto com a criança. Através
dessa preciosa experiência, a criança é validada, o que gerará um crescimento saudável e,
consequentemente, contribuirá para a sua realização e para sua futura plenitude.

Além do mais, tendo as mães reconhecido a importância


das brincadeiras espontâneas no contexto familiar para o
surgimento da consciência individual e social de seus filhos,
elas os estimulam a desenvolver suas habilidades básicas. E
assim, de uma forma amorosa, podem capacitá-los a sair da
simbiose materno-infantil, conservando a confiança e o res-
peito mútuo ao aceder à liberdade da auto-orientação, da
autonomia, da independência e da crescente responsabilida-
de pessoal e social como algo legítimo e natural. ( Maturana, [s.d.], p.128)

Proporcionar diversão, alegria, entretenimento saudável, estimulando a criança a ser


ela mesma e, acima de tudo, a "SER CRIANÇA”.

A Criança Eterna acompanha-me sempre. A direção do meu olhar é o seu dedo


apontando. O meu ouvido atento alegremente a todos os sons São as cócegas
que ele me faz, brincando, nas orelhas. Damo-nos tão bem um com o outro Na
companhia de tudo Que nunca pensamos um no outro, Mas vivemos juntos a
dois Com um acordo íntimo Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas. No degrau da porta de casa, Graves
como convém a um deus e a um poeta, E como se cada pedra Fosse todo o
universo E fosse por isso um grande perigo para ela Deixá-la cair no chão.
(Fernando Pessoa)

A PRIMEIRA HISTÓRIA: O ANJO PÓ-DE-ESTRELA - A ORIGEM

"O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem" é um livro composto de pistas para as


potencialidades espirituais da vida humana. Cada desenho e cada trecho da história foi
elaborado com muito cuidado, amor e dedicação e com a intenção de abranger um ou mais
56
dos quatro princípios apresentados anteriormente.

Esta é apenas a primeira história, que trata principalmente do surgimento do anjo.


Outros episódios virão e tratarão de bullying, de diferenças, de preconceitos, de família e
de escola, entre outros temas de interesse da formação de um ser humano melhor.

Neste primeiro livro será trabalhado o conceito de unidade, segundo a Abordagem


Integrativa Transpessoal. A história se inicia com o BIG BANG, numa grande explosão do
amor! Do amor surgem a natureza, os animais, as estrelas, os planetas e a vida humana.
Estamos todos interligados, somos todos poeira das estrelas, poeira que dança na luz!

Nascemos para contar uma estória e para cumprir uma promessa que fizemos
num belo e estrelado dia além do tempo e do espaço, diante de uma Testemunha
de Luz. A tarefa mais importante da existência é a de recordar a estória única,
que encarnamos para vivificar e que traz, no seu coração, o pote de ouro da
missão que viemos realizar e ofertar à própria Vida. (CREMA, 2012- O Anjo Pó-
de-estrela-A Origem)

Assim, começa a aventura do Anjo Pó-de-Estrela, a sementinha do amor que vai


fixar sua âncora no coração das crianças e ser seu amigo nas trilhas da Ecologia Integral do
Ser (ser humano, natureza e sociedade).

Além do livro, serão elaboradas oficinas que reunirão conteúdos da Abordagem


Integrativa Transpessoal, proporcionando momentos inesquecíveis de encontro da criança
com ela mesma, com o outro e com o universo.
57
O primeiro livro, "O Anjo Pó de Estrela - A Origem", foi publicado em julho de 2012.

Será lançado em setembro de 2012.

Figura 4: Capa do livro "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem".

Figura 5: Contra-capa do livro "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem".


58

4 CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS OU FINAIS

O Objetivo deste trabalho foi integrar os conhecimentos da Abordagem Integrativa


transpessoal ao Projeto de Histórias Terapêuticas do Personagem O Anjo Pó-de Estrela. Para
tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica, tendo como base autores como Abraham Harold
Maslow, Vera Saldanha, Jean Yve Leloup

Ao longo da produção desta monografia foi concluída a primeira obra deste projeto,
que recebeu o título de "O Anjo Pó-de-Estrela - A Origem" e que foi publicada
recentemente. Parte da teoria abordada nesta pesquisa foi aplicada ao livro e ao projeto de
oficinas para educadores e para crianças.

O estudo deverá ser ampliado, buscando comprovar os efeitos da aplicação das


histórias e oficinas. O objetivo é que a cada obra publicada impulsione ações educacionais
com temas específicos que compõe a Abordagem Integrativa Transpessoal relacionados com
assuntos emergentes na sociedade e educação.

Concluo este trabalho lembrando que nascemos para brilhar como as crianças e ser
humanos em nossa totalidade e com uma citação de Abraham Maslow:
“Se você se contentar com menos do que pode ser, será infeliz pelo resto da vida”
(Abraham Maslow)
59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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Ilustração de André Ianni.São Paulo: Paulus, 1933.

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Cultrix, 1982.

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9- CREMA, Roberto; LELOUP, Jean-Yves; WEIL, Pierre. Normose: a patologia da


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11- DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. 10 ed. São Paulo:
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12- Disponível em:


http://www.jeanyvesleloup.com
Acesso em: 15/06/2012
60
13- Disponível em:
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14- Disponível em:


http://www.comitepaz.org.br/Mariotti1_3.htm)
Acesso em: 10/06/2012

15- DOHME, Vânia. Técnicas de contar histórias: Um guia para desenvolver as suas
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16- ESTES, Clarissa. Mulhers que Correm Com os Lobos. Rio de janeiro: Rocco, 1994.

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Conclusão de Curso na pós-graduação em Psicologia Tranpessoal - Assoçiação Luso
Brasileira de Transpessoal, Alubrat.

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24-___________VERDEN-ZÖLLER, Gerda. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do


humano do patriarcado à democracia. São Paulo: Palas Athena, 2004.

25- JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 197

26- LELOUP, Jean. Caminhos da realização:dos medos do eu ao mergulho do ser.


Tradução de Célia Stuart Quintas et al e organização de Lise Mary Alves de
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Lima.Petrópolis: Vozes, 2009.

27-___________Cuidar do ser. Tradução de Regina Fitipaldi et a. Petrópolis: Vozes, 2009.

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30- MARIOTTI, Humberto. As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade.


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32- _____________________. La amplitud potencial de la naturaleza humana. 2. ed.


México: Trillas, 1994.

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Qualitymark, 2003.

34- MELLON, Nancy. A arte de Contar Histórias.Rio de janeiro: Rocco, 2006..

35- ___________ Corpo Em Equilíbrio. São Paulo, 2010. Cultrix.

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