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E
SOCIOLOGIA
1
ÍNDICE
I. A Sociologia e a Antropologia no conhecimento das realidades sociais
1.
1.1 A Formação disciplinar da sociologia/ antropologia: Objetos, métodos, conceitos e
autores ............................................................................................................................ 3
1.2 O social como objeto do conhecimento .........................................................................19
2. Problemas do conhecimento da realidade social. A rutura com o senso comum.................. 19
1.
1.1 A relação indivíduo e sociedade .................................................................................. 23
1.2 Ação Social e Práticas Sociais ..................................................................................... 27
1.3 Instituições, Estruturas e Processos Sociais ................................................................. 28
1.4 Normas, Valores e Papéis Sociais ................................................................................ 31
2. Cultura(s): Identidade e Diferenciações
2.1 A construção do conceito científico de cultura ............................................................ 36
2.2 Do Etnocentrismo ao Relativismo Cultural ................................................................ 44
2.3 Símbolos e Rituais: Significados Culturais .................................................................. 46
2.4 Identidades Culturais: Análise de conceitos. Comunidade, Multiculturalismo,
Interculturalidade, Cosmopolitismo e Transculturalidade ........................................... 49
3. A Saúde como um fenómeno socio-cultural....................................................................... 51
1.
1.1 Religião e Saúde .......................................................................................................... 58
1.2 Rituais terapêutico-religiosos ...................................................................................... 59
2. Migrações, Migrantes e Globalização ................................................................................ 60
3. Família(s), parentesco e género .......................................................................................... 62
4. Cidadania(s): Análise de processos de inclusão/ exclusão em saúde ................................. 66
2
A formação das ciências sociais deu-se devido à transformação social no séc. XIX –
revolução industrial. Deu-se uma grande acumulação das pessoas nas cidades e o social
começa a ser estudado como uma ciência.
ANTROPOLOGIA
• Antropologia social e cultural (ou etnologia), por vezes apenas designada como
antropologia, consiste no estudo de tudo que constitui uma sociedade: modos
de produção económica, suas técnicas, sua organização politica e jurídica, seus
sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas,
sua língua, sua psicologia, suas criações artísticas, etc. É este conceito de
totalidade que é necessário à antropologia. Como Lévi-Strauss afirma, o
importante é compreender aquilo que os homens “não pensam habitualmente
em fixar na pedra ou no papel” (nossos gestos, nossas trocas simbólicas, os
menores detalhes dos nossos comportamentos).
• A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade, mas
sim o estudo de todas as sociedades humanas, com o intuito (ou não) de poder
melhorá-las. Inicialmente, privilegiou o estudo das sociedades diferentes à
nossa (através da observação direta, por estudo de pequenos grupos humanos
com os quais estabelecíamos relações), mas atualmente estuda também a nossa
própria sociedade, através do “depaysement/estranhamento”.
“mais uma”, entre outras culturas), sendo esta uma das características
principais da prática dos antropólogos.
---» Compreensão dos aspectos específicos de uma sociedade, relacionados entre si,
procurando encontrar a especificidade dessa sociedade.
SOCIOLOGIA
Definição: (início séc. XIX): ciência reflexiva (pois questiona quotidiamente as bases
em que produz o seu conhecimento), que estuda as relações sociais. Ao analisar uma
questão, encara-a como um facto social, discernindo de que maneira um dado fenómeno
é um fenómeno social. Coloca os factos em estudo no seu contexto social e investiga as
causas sociais dos factos, tentando explica-los em termos de encadeamento de
ocorrências que conduzem ao fenómeno analisado, e dos feixes de condições sociais
que o envolvem/determinam. Procura compreender, interpretar e explicar o sentido da
acção social, selecionando ângulos de abordagem. Uma das suas principais matérias-
primas são as ideias e opiniões que as pessoas transportam na sua relação com os
outros, fazendo isto parte da realidade social.
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Porque são as nossas condições de vida tão diferentes das dos nossos pais e avós?
Que rumo tomarão, no futuro, os processos de mudança?
- Perspetivas das ações sociais: dão muito maior atenção ao papel desempenhado
pela ação e pela interação dos membros da sociedade na formação dessas estruturas.
Papel da Sociologia visto como a procura do significado da ação e da interação social.
Posição mais desenvolvida pelo interacionismo simbólico. Weber
• Conclusão:
- Sociologia engloba uma variedade de perspetivas teóricas e esta diversidade é um
sinal de força e vitalidade da disciplina.
- Sociologia é uma disciplina em que nós pomos de lado os nossos próprios modos
de ver o mundo. Para observarmos cuidadosamente as influências que dão forma
às nossas vidas e às dos outros. Sociologia pode ter, ainda, implicações práticas
nas nossas vidas.
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Estudo de todas as sociedades humanas e das relações que nestas são estabelecidas,
através da compreensão dos (novos) modos de vida das suas populações e da
interpretação das diferentes formas de organização. Faz-se uma comparação entre 2
perspetivas diferentes.
Problema social
Para que um fenómeno se constitua como um problema social, é necessário três
condições:
É necessário que tenham ocorrido determinadas transformações dentro da
sociedade que afetem a vida de indivíduos, embora com efeitos diferentes;
Que seja “visto/sentido” como “problema”, pelo menos por uma parte da
população, e que seja socialmente identificado com determinadas situações e/ou
categorias sociais, reconhecimento e legitimação. Tornar-se “digno” de atenção
pela sociedade;
Um trabalho de institucionalização, que acerca dele se produzam interpretações
oficiais, feitos por peritos com competências reconhecidas, que a consagrem
“oficialmente” como um problema.
Etnografia
Como processo de conhecimento de uma determinada realidade social;
Estudar a sociedade “simples”, “primitivas” mas considera-las detentoras de uma
complexidade própria, independente do número de habitantes que a compõem
Método etnográfico:
Malinowski (1914) – O fundador do método etnográfico
Kwper (1993)
Leach (1957)
Métodos e Técnicas
Quantitativas
Inquéritos;
Questionários;
Estatísticas
Qualitativas
Histórias de vida;
Histórias de família;
Trabalho-campo;
Observação-participante.
o Diário de campo;
o Inventário;
o Genealogias;
o Ficha descritiva;
o Fotografia.
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Conhecimento Comum
Conjunto dos saberes comuns e práticos construídos no decurso da vida de todos
os dias;
É composto por ideias, noções, crenças, ideologias, descrições e explicações da
realidade e dos fenómenos sociais e físicos difundidos na sociedade e que são
tomadas como “evidência” da realidade;
Serve para reconhecer, em termos práticos, o mundo a que se pertence e as
relações que com aquele os indivíduos e os grupos mantêm;
Configura patrimónios simbólicos, culturais e práticos partilhados pelos
indivíduos e pelos grupos sociais sem os quais a vida social não seria possível.
Conhecimento Científico
“A ciência é uma representação, intelectualmente construída, da realidade”.
Opõem-se às explicações baseadas no aparente.
É uma forma de conhecimento que procura interpretar racionalmente fatos,
fenómenos ou processos do real através da colocação de interrogações ou
problemas teóricos e de atividades de pesquisa:
o um processo que consiste em procurar respostas para os problemas
teóricos colocados através do relacionamento de teorias
(conceitos/termos) e a utilização de métodos e técnicas de
experimentação e validação.
Conhecimento Científico nas Ciências
As ciências sociais foram constituídas por um processo de afirmação do
princípio de que o social é uma realidade autónoma e específica que só
pode ser explicada pelo social.
Os fatos sociais só podem ser explicados:
o Pela aferição dos sistemas de relações entre eles;
o Por referência aos contextos histórico-sociais em que se inserem;
o São mais do que a soma das ações e formas de pensar individuais
(é necessário validação e refutação)
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Processo de investigação
Desenho do estudo
(conceitos, métodos e
técnicas)
Observação
(recolha de informação)
Interpretação
Resultados
(refuta/confirma/nova teoria)
Validação
(teoria/comunidade cientifica)
O que é o Social?
A sociedade consiste num complexo de fatos sociais interdependentes.
O fato social é exterior (não depende de mim) e anterior aos indivíduos (já
existia o social), bem como irredutível ao individual (reduz-se a um grupo).
O fato social é total pois inclui todos os fenómenos humanos produzidos pelos
membros da sociedade: económicos, culturais, morais, políticos, etc.
São constituídos pelos modos como as pessoas orientam as suas ações
(individuais e coletivos) umas para as outras (interações e relações sociais).
Desta orientação mútua da ação, resulta uma troca de significado, de expetativas
e de comportamentos que constitui o social.
E o olhar antropológico/sociológico?
Compreender como a sociedade se traduz na vida dos indivíduos, como a
sociedade se impõe na forma da constrangimentos e oportunidades;
Compreender a sociedade ao nível dos indivíduos, como os indivíduos se
produzem na sociedade.
Sociedade ≡ Indivíduos
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A realidade social é-nos familiar, tanto ao cientista social, como a qualquer outra
pessoa. Todos temos explicações prontas e para nós evidentes sobre o que nos
acontece e o que se passa à nossa volta.
A familiaridade com o social tem que ser alvo de distanciamento e crítica
reflexiva;
O senso comum tende a basear-se em interpretações naturalistas, individualista,
etnocêntrica e ideológicas dos fatos e dos fenómenos sociais, ou seja, interpreta-
as:
Por características de “natureza” da humanidade ou de certos grupos;
Por fatores individuais (disposições psíquicas e para determinados
comportamentos de cada um);
E em função dos valores dominantes na sociedade ou nos grupos e lugares
sociais a que pertence a quem interpreta.
Quem é que acha que deve faltar ao trabalho quando as crianças estão doentes?
Saber comum
Saber imediato e prático, confunde o real com o aparente;
Saber não crítico;
Saber subjetivo baseado nas experiencias quotidianas individuais;
Saber fragmentado e heterogéneo: resulta de acumulações de dados e ideias pré-
concebidas de proveniências diversas (processos de socialização, meios de
comunicação, culturas familiares, etc).
Saber científico
Saber abstrato baseado na interrogação e observação sistemática e reflexiva do
real;
Saber crítico;
Saber objetivo sobre os aspetos e as causas dos fenómenos que estão para além
das aparências;
Saber sistematizado resultante da acumulação teórica, da utilização de métodos e
técnicas precisas e da validação de resultados.
Indivíduo Sociedade
Subjetivo Objetivo
o “ A ideia de que cada pessoa tem um caráter único e potencialidade especiais que
podem ou não ser realizadas é alheia à cultura pré-moderna.” (Giddens, 1997)
o “ A imagem do individuo moderno baseia-se na emergência da problemática da
consciência de si e da subjetividade, como realidades opostas aos outros e à
exterioridade (máxima cartesiana), nas ciências sociais”.
o Progressiva importância do individuo nas relações sociais e no debate em torno das
novas formas de investigação social.
Indivíduo relacional
Como o indivíduo, por via da sua ação (consciente), constrói a sociedade;
Recusa da fórmula do ajustamento e de reduzir o ator ao programa da sua
socialização;
Realça-se a importância que a conetividade, ou seja, o espaço
intersubjetividade da relação com outros indivíduos, tem para a
constituição de um sujeito com competência para atribuir significado ao
seu desempenho
O sujeito tem para a capacidade cognitiva de dar início a uma ação e de
lhe atribuir um sentido
A ação do sujeito não pode, por isso, ser um mero resultado de estruturas
(internalizadas ou constrangedoras)
Não há indivíduos construídos mas, sim, indivíduos que constroem a
sociedade, através da sua ação e da reação do outro à sua ação.
A Socialização
Quais os mecanismos de fabricação de um indivíduo?
Uma visão do indivíduo como ser ajustado ou adaptado à sociedade e ao conjunto de
papéis que nela teria de desempenhar, por via de socialização. (Durkheim, Parsons)
Teorias de Socialização
O papel das competências inatas na constituição do sujeito (Psicologia).
As dimensões culturais da construção social do sujeito (Sociologia e
Antropologia).
Os indivíduos são socialmente constituídos em relação estreita com os valores
e normas de conduta de uma cultura.
Segundo Durkheim e Parsons, a socialização ajusta os indivíduos do seu lugar
na sociedade: articulação das estruturas de personalidades às estruturas
sociais.
1 Indivíduo = 1 Socialização
Síntese
Como se combinam indivíduo e sociedade na teoria social nas perspetivas
contemporâneas?
Individuo Sociedade
Sociedade Individuo
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Ação Social: é a ação em que o sentido que lhe é associado pelo sujeito/s se refere
ao comportamento de outras. Este conceito de Ação Social destaca a importância
do sentido que os indivíduos atribuem às ações e às dos outros para explicação do
social.
Agência
o O processo de agir em relação a um conjunto de significados/ razões/
intenções
o Refere-se aos modos como os indivíduos, ao atribuírem, negociarem e
contestarem significados na ação social, produzem e são produzidos
pela sociedade.
Max Weber distingue ação racional de outros tipos:
1. Ação Racional Instantânea: a ação em que os sujeitos procuram alcançar
determinados fins, selecionando os meios apropriados para tal, de acordo
com o contexto.
2. Ação Racional orientado por Valores: determinada por valores e normas
(justiça, verdade, etc)
3. Ação Racional Afetiva: determinada por sentimentos, paixões e
necessidades psicológicas.
4. Ação Tradicional: determinada por hábitos e tradições (uma cerimónia,
regras, etc)
Instituição Social
Conceito
Na linguagem corrente chamamos instituições a organização social/ as
empresas/ hospitais/ associações/ organizações administrativas;
Para a sociologia, estas organizações são atores coletivas;
As estruturas não têm necessariamente uma estrutura organizacional: são
formas culturais prescritivos que definem, guiam e regulam os
comportamentos e as relações sociais, indicando e limitando o que é
socialmente desejável e permitido.
Características
São um conjunto de normas/ regras/ valores/ princípios gerais para agir/
expetativas quanto aos comportamentos a ter em determinadas posições
sociais (os papéis sociais);
Resultam dos processos de fixação de sentidos que ocorre nas ações e nas
interações sociais;
Orientam a vida social em diferentes escalas e pela sua repetição no
tempo e no espaço;
Medeiam as relações sociais entre o nível de vida quotidiana dos
indicadores e o nível mais amplo das estruturas sociais pelo desempenho
de papéis sociais (expetativas)
As relações de interdependência padronizadas entre as diversas
instituições sociais formam as estruturas sociais.
Exemplos
Macro-social: capitalismo/ industrialismo
Meso-social: casamento/ religião
Micro-social: fila/ troca de presentes
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Estrutura Social
A sociedade não é uma simples soma do que os indivíduos fazem e pensam ou de
episódios sociais dispersos é estruturada
o Cada posição social define um papel na vida social. Cada individuo ocupa várias
posições e, por isso, desempenha vários papéis.
Síntese
As estruturas sociais podem ser concetualizadas como quadros de
constrangimentos/ condicionada da ação porque ordenam externamente os seus
ambientes: através dos posicionamentos desiguais dos indivíduos nas relações
sociais de interdependência que a constituem, limitam e potenciam as
possibilidades da ação (conceito de estrutura relacional externa).
São também um quadro de meios possibilitadoras da ação: porque ordenam
internamente a ação, como realidade subjetiva (hábitos, propensões para agir), ao
mesmo tempo que limitam as possibilidades de agir; também sustentam o
desenvolvimento de diversos cursos da ação a estrutura é um meio para
agir (conceito de estrutura normativa internalizada)
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Caraterísticas
Tipos:
Valores Societais – políticos e religiosos (ex: justiça, igualdade, respeito)
Valores do Quotidiano – convívio e intimidade (ex: amizade, lealdade)
NOTA: Em determinadas idades os valores são diferentes.
Questões essenciais:
“Importa perceber o que valem os valores e para quem?”
“Qual é a adesão a determinados valores pelos indivíduos ou grupos
sociais?”
“Em que medida os valores aparecem como produto de divisões sociais
objetivos, como a idade, género e classe?”
“Em que medida os valores sociais são, ou não, próprios de universos
culturais específicos?”
Papéis Sociais
Conceito: são os conjuntos de expetativas, socialmente partilhadas, quanto às
regras de comportamento no exercício de determinadas atividades sociais.
Definidos pela hierarquia que ocupa na sociedade.
Dependentes de
Valor – Referência
Papéis- Prática
A Ordem da Interação
Segundo Goffman, “ … considerarei o modo como o individuo em situações de
trabalho habituais se apresenta a si próprio e à sua atividade perante os outros, as
maneiras como orienta e controla a impressão que os outros formam dele, as diferentes
coisas que o poderá fazer ou não fazer, enquanto desempenha o seu papel perante os
outros.”
Procedimentos no desempenho
Realização dramática – procedimento tendente a transformar a
ação em espetáculo.
Idealização – procedimentos de seleção da imagem a apresentar
perante os outros, reproduzindo os estereótipos de atuação a
desenvolver.
Manutenção do controlo expressivo – eliminação de
características humanas contraditórias com o papel (ex: pessoa ≠
professora)
Elementos da fachada
Quadro em função do desempenho – aspeto cénico que
identifica o contexto da ação (“o mobiliário, a decoração, a sua
disposição e outros aspetos de pano de fundo que constituirão o
cenário e os alicerces do palco para o desenrolar a ação
humana.”)
Fachada pessoal – aspetos distintivos do ator que o identificam
o Aparência – “estímulos cuja função momentânea é
comunicar o estatuto social do ator consoante o tipo de
atividade (formal, recreativa).”
o Maneiras/modos – “estímulos cuja função momentânea
é informar sobre o papel que o ator conta desempenhar
na interação da situação que se avizinha.”
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Papéis:
Atores: Indivíduos que desempenham a ação na fachada e têm
permissão de acesso aos bastidores;
Espectadores/ Audiência: Para quem é representado o
desempenho; acesso à fachada;
Estranhos: Excluídos dos dois
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Papéis Discordantes:
Informador/Traidor/Espião;
Cúmplice
o Chamariz
o Falso espectador (ex:claque)
Impostor/ Bufo
Comprador Profissional/ Cliente (ex: olheiro)
Intermediário/ Mediador
Não-pessoa (existe, percebe, tem pensamentos e consciência,
sentimentos, mas, apesar de ser alguém, não é tratado como tal).
estes dois homens não há uma diferença de natureza, mas sim um grau de
avanço no caminho da cultura.
Combateu com ardor a teoria da degenerescência dos primitivos, que afirmava
que não imaginavam que Deus tivesse criado seres tão selvagens. Esta teoria não
permitia reconhecer os “selvagens” como seres humanos.
Para Tylor, os homens eram seres de cultura e a contribuição de cada povo para
o progresso era digna de estima.
Apesar de a sua teoria ser de conceção evolucionista, ele não estava persuadido
que houvesse um paralelismo absoluto na evolução cultural das diferentes
sociedades. Por isso, considerou também a hipótese de difusionista.
O facto de existir dois aspetos idênticos em culturas diferentes não provava que
elas estivessem com o mesmo desenvolvimento cultural, pois poderia ter havido
uma difusão de uma na outra.
Edward Tylor é considerado o fundador da antropologia britânica.
“Inventor” da Etnografia;
Fez um trabalho de campo juntos de algumas tribos de indios norte-americanos:
Kwakiutl, Chinook, Tsimshiun.
Toda a obra é uma tentativa visando pensar a diferença. Para ele, toda a
diferença fundamental entre os grupos humanos é de ordem cultural e não racial.
Interessado mais em estudar as culturas do que a Cultura.
Pensou no relativismo cultural, antes mesmo de o termo existir, como resposta
ao etnocentrismo.
Tylor foi o inventor do termo “cultura” e Boas é o primeiro antropólogo que faz
pesquisa in situ para observação direta e prolongada das culturas primitivas.
Neste sentido, ele é o inventor da entografia.
Boas provinha de uma família judia alemã, pelo que é sensível à questão do
racismo, pois ele mesmo foi vítima dele.
Focou-se principalmente no conceito de raça.
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Realizou um estudo nos EUA aos imigrantes que lá chegavam, tendo-se baseado
no método estatístico e teve como variável a variação dos traços morfológicos
(em particular a forma do crânio).
Raça humana – é um conceito pseudocientífico, que consistia num conjunto
permanente de traços físicos específicos de um grupo humano.
As “raças” não são estáveis e não há caracteres raciais imutáveis.
É bastante complicado definir o termo “raça” mesmo baseando-se no método
estatístico.
Para ele não há diferença de natureza (biológica) entre primitivos e civilizados,
somente diferenças de cultura, adquiridas e por consequência, não inatas.
Boas ao contrário de Tylor tem como objetivo de estudo “as culturas” e não “a
Cultura”.
Rejeita qualquer teoria que possa explicar tudo. Preocupa-se com o rigor
científico, pelo que recusa qualquer generalização que não possa ser
demonstrada empiricamente.
Fundador do método intuitivo e intensivo de campo. Boas concebe a etnologia
como a ciência de observação direta, segundo ele, no estudo particular de uma
cultura deve-se anotar tudo detalhadamente.
Método etnológico: aprender a língua do nativo; ouvir as conversas espontâneas,
escutar atrás das portas.
Método Monográfico: conhecimento exaustivo da cultura estudada antes de
qualquer conclusão geral.
Relativismo cultural – é antes de tudo um princípio metodológico. A fim de
escapar a qualquer forma de etnocentrismo no estudo de uma cultura particular,
recomendava abordá-la sem a priori, sem aplicar as suas próprias categorias
para interpretá-las, sem compará-las prematuramente a outras civilizações.
Ela acha que devemos ser pacientes, e que só através do exame metódico de um
sistema cultural em sim mesmo poderia chegar ao fundo da sua complexidade.
Cultura – específica e única, representa uma totalidade singular e todo o seu
esforço (o de Boas) consistia em pesquisar o que fazia a sua unidade. Exprime-
se através da língua, das crenças, dos costumes e da arte.
Os factos culturais não deviam ser só descritos, mas deviam também ser
compreendidos.
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Etnocentrismo
Tendência para considerar a cultura do seu próprio povo como a medida de
todas as culturas.
Preconceito que não respeita a diversidade cultural e a idade de cada cultura, nos
seus próprios termos, é tão válida como qualquer outro.
Não se pode considerar como inferior aquilo que é apenas diferentes.
Diversidade Cultural
A diversidade é valorizada em vários sentidos:
Em primeiro lugar, por ser nela que residem as possibilidades do progresso da
humanidade, uma vez que o progresso deriva da colaboração entre culturas
diferentes.
Em segundo lugar, e por implicação, por ser através de diversidade que se torna
possível a compreensão das culturas, na medida em que só a compreensão das
diferenças, enquanto sistema, permitirá atribuir a qualquer cultura individual o
seu sentido verdadeiro.
A avaliação e compreensão de cada cultura em si passa pelo relativismo
cultural, pois as culturas devem ser compreendidas em função das suas próprias
preocupações, e não através de critérios decorrentes das preocupações
específicas da civilização ocidental (Lévy-Strauss)
Relativismo Cultural
Se o relativismo cultural for definido como uma tentativa de avaliar cada cultura nos
seus próprios termos, evitando a imposição de critérios derivados de outras culturas, a
da nossa própria cultura, torna-se evidente que uma das suas pré-condições e a
possibilidade de ver e compreender a cultura em questão, por dentro, tal como os
membros daquela cultura a vêem e compreendem.
De acordo com Marisa Peirano (1985), o ritual faz parte do quotidiano em qualquer
sociedade e em qualquer “termo”.
O nosso ponto de partida será uma definição operativa de ritual, que se fundamenta
sobre as seguintes bases e com a seguinte orientação:
1) Evitamos uma definição rígida e absoluta. A compreensão do que é um ritual
não pode ser antecipada. Ela tem de ser etnográfica, isto é, aprendida pelo
investigador em campo junto ao grupo que ele observa. Esta postura deriva da
noção de que a antropologia sempre deu (ou teve como intenção dar) razão e voz
aos nativos, levando em consideração a perspetiva de um “outro” diferente, de
grupos que não pensam e agem como nós. Explica em relação aos rituais: em
todas as sociedades, existem eventos que são considerados especiais. Na nossa,
por exemplo, distinguimos uma formatura, um casamento, uma campanha
eleitoral, a posse de um presidente da república, e até mesmo, um jogo final da
Copa do Mundo como eventos especiais e não-quotidianos.
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2) Sugiro que a natureza dos eventos rituais não está em questão: eles podem ser
profanos, religiosos, festivos, formais, informais, simples ou elaborados. Se
aceitamos que todos os eventos mencionados no item anterior (formatura,
eleição, jogo de futebol), podem ser analisados como rituais, não nos interessa o
seu conteúdo explícito - interessa sim, que elas tenham uma forma específica
(um certo grau de convencionalidade, de redundância, que combinem palavras e
outras ações, etc).
Da mesma forma, falar também é uma forma de agir, como qualquer outro
tipo de fenómeno: falar e fazer têm, cada um, a sua própria eficácia e propósito,
mas ambos são ações sociais.
Caraterísticas
Nos rituais, os sistemas de crenças são preformados simbolicamente e operam
na construção de um sentido tanto para os indivíduos como para o coletivo;
Os rituais servem para resolver ou amenizar tensões e conflitos e promover a
coesão social ou solidariedade;
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Importa saber o conteúdo, mas principalmente a lógica. Para que se faz? Como
se faz?
Fenómeno especial da sociedade;
Transmite valores e conhecimentos.
Rituais de Passagem (3 estádios):
Separação;
Transição;
Incorporação ou Agregação
Classificação de Rituais (Arnold Van Genepp):
o Nomeação;
o Iniciação;
o Casamento;
o Funerários
Multiculturalidade
A cultura global difunde diversidade cultural e agrega-a;
A diversidade cultural é vista como uma coisa boa e desejável; uma sociedade
multicultural socializa os indivíduos não apenas na cultura dominante, mas numa
cultura com variações étnicas;
Numa sociedade multicultural coexistem diferentes comunidades que, em
conjunto, aumentam a produção e riqueza cultural;
Mas a evidência de diversidade cultural assenta também na construção das suas
diferenças.
Interculturalidade
A interculturalidade ocorre quando duas ou mais culturas entram em interação de
uma forma horizontal e sinérgica. Para tal, nenhum dos grupos se deve encontrar
acima de qualquer outro;
Este tipo de relações interculturais implica ter respeito pela diversidade;
A noção distingue-se de multiculturalismo e do pluralismo pela sua intenção
direta de fomentar o diálogo e a relação entre culturas;
A interculturalidade pressupõe três etapas:
A negociação (a simbiose produzida para alcançar a compreensão e evitar
o confronto);
A penetração (sair do próprio lugar para tomar o ponto de vista do outro);
A descentralização (uma perspetiva de reflexão).
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Cosmopolitismo
Richard Sennet (1474) faz o termo cosmopolita remontar à França de meados
do século XVIII, onde era usado para designar aquela pessoa que se
movimentava confortavelmente através da diversidade, aquele que se sentia
confortável em situações sem ligação ou paralelo ao que lhe era familiar.
Segundo Hannerz, “o genuíno cosmopolitismo é primeiro que tuno uma
orientação, uma vontade de relacionamento com o outro. Isso requer uma
abertura intelectual e estética para com as experiências culturais divergentes,
uma procura dos contrastes em vez da uniformidade (…) Existe o aspeto do
estado de prontidão, a capacidade pessoal de construir o próprio caminho em
direção às outras culturas, através da capacidade de ouvir, observar, intuir e
refletir.”
Transculturalismo
O que o transculturalismo oferece é uma quebra das barreiras culturais em vez
do seu reforço, como é o caso do multiculturalismo. Já não se fala de integração
de uma minoria na cultura mainstream, mas de um entrelaçar de todas as
identidades culturais presentes num estado-nação.
Ray L. Brooks também se refere ao transculturalismo como cosmopolitismo.
Segundo ele, “este conceito representa a “convergência” das culturas, em que
“cada grupo social” contribui com alguma coisa de valor para uma nova e
misturada cultura “mainstream” (dominante).”
Porquê?
A doença é uma construção sociocultural e tem história, é representada de formas
diferentes ao longo do tempo. Veja-se o exemplo da tuberculose.
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Virshow identificou ainda uma relação entre condições sociais e saúde: quando
mais doente mais pobre, quanto mais pobre mais doente. Isto significa que a
saúde a doença podem ser analisadas como fenómenos sociais e culturais. O
Estado tem vindo a ganhar uma responsabilidade cada vez maior sobre a saúde.
Bio-Poder (Foucault)
Conhecimento científico usado como controlo social
Utilizavam, no final do séc. XIX princípio do XX, a medicina para disciplinar as
populações, “ensinando-as” a ter comportamentos corretos de higiene
Feito pelas elites da população
Conceito de Panótico: forma como a distribuição do espaço nas instituições é
feita, de maneira a que haja controlo total sobre as pessoas que estão
institucionalizadas. Ex: prisões e enfermarias
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Medicalização (Zola)
Surge inicialmente com Michael Falcaut mas é Zola (1972) quem trabalha mais
o conceito
A medicina vem substituir a religião da salvação (séc. XIX), pelo que se torna
num código de vida.
Virar o olhar da medicina para a dimensão dos estilos de vida das pessoas,
procurando regulá-lo, evitando doenças que podem causar transtorno na
população
Sistemas Médicos
Foram identificados por Arthur Kleinman três sistemas médicos que se
sobrepõem. São os sistemas:
Informal
O Informal seria correspondente ao primeiro nível de recursos perante um
evento de doença ou ameaça de saúde – incluindo a família, amigos e vizinhos –
aquele onde se toma as primeiras decisões e se inicia o processo terapêutico
(Kleinman)
Exemplo: Internet, Família
Popular
O Sistema Popular, designado também nalguma literatura antropológica como
folk ou “tradicional”, “refere-se aos especialistas de saúde que não formam
grupos organizados e burocratizados, mas, ao mesmo tempo, são reconhecidos
pelo grupo como desempenhando papéis de cura e caraterizado por um
conhecimento especializado sobre algum aspeto de saúde.” (Langdon)
Exemplo: Endireitas, Curadeiras
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Profissional
A medicina cientifica ocidental – a biomedicina – está incluída na categoria do
saber Profissional (que abrange outros domínios). O Sistema Profissional refere-
se então às profissões de saúde organizadas e burocratizadas.
Exemplo: Medicina Chinesa, Associação do Reumático
I- Adoecer e Tratar;
II- Como de adoecesse;
III- Como se trata;
IV- Quem trata
Tratar
Sistemas Médicas
Sistemas Terapêuticas
Práticas Terapêuticas
Agentes Terapêuticas
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Doenças e Doentes
A doença pode constituir a experiência do confronto com o limite da finitude
humana, a qual implica sofrimento, dor – “estar doente” significa “sofrer” – que
constitui um dos aspetos da vida humana e que faz com que os indivíduos e os grupos
“tenham de suportar ou de passar por algumas provocações, problemas e graves
agressões ao espirito e ao corpo, que podem ser agrupadas em várias configurações.”
(Kleinman)
Sofrimento e Dor
O sofrimento e a dor são estudados pela antropologia médica.
Whitehouse estudou a associação do sofrimento com a religião. Mostrou que
o primeiro tem um papel muito importante nos “ritos de passagem” (e na formação da
comunidade). Este sofrimento é importante porque a dor ajuda a gravar na memória a
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religiosidade que é transmitida e porque a partilha de dor no campo iniciático cria uma
comunidade mais forte (fácil de ver na praxe).
A religião surge como um modelo para entender e aceitar o sofrimento.
Uma sociedade sem sofrimento não é impensável no então a comunidade
Europeia, por exemplo, teria dificuldade em aceitar como totalmente humanos os
membros de uma sociedade assim.
“Ver sofrer”, devido à nossa humanidade e à nossa conduta indefetível à
empatia, converte-se em “sofrer com”.
O sofrimento também pode ser uma forma de entender a memória
Existem povos mais familiarizados com o sofrimento que outros.
A dor cronica é um fenómeno que a biomedicina não consegue resolver. Este
pode ser muito influenciado pela experiencia social (depressão e ansiedade; tensões
familiares e conflitos relacionais no trabalho).
Religião
A religião é um dos campos de estudo antropológico (Antropologia da Religião),
pois é uma dimensão fundamental para compreender os fenómenos sociais (ex:
saúde e doença).
Tem constituído uma das áreas de interesse dos antropólogos, que têm
classificadas diferentes formas de organização e prática.
A religião é um sistema cultural (Geertz) tal como outras (ex: parentesco) de
classificar e organizar o mundo.
A religião consiste num conjunto de rituais (ex: rezas, oferendas, cânticos,
sacrifícios) como forma de mediação e “manipulação” com o mundo
sobrenatural (Deus, deuses) são realizadas por “especialistas” – especialistas
religiosos
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Especialistas Religiosos:
Profissionais;
Grau de especialização;
Contacto entre os dois mundos;
Atuar sobre os deuses ou sobre os homens;
Tipos de Migrações
Migração é o movimento de uma população, temporário ou definitivo, de uma
área para outra.
Existem Migrações Internas [êxodo rural (campo cidade) e êxodo urbano
(cidade campo)] e Externas (intracontinentais e intercontinentais).
Emigração (exterior, saem) e Imigração (interior, entram) – temporário ou
definitivo, voluntária ou forçada, legal ou clandestina – com diferente impacto e
consequências.
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Família e Género
À diferenciação de género no seio da família correspondem simbolicamente
algumas atribuições: os papéis de mãe/ mulher e de pai/ homem numa equação de
complementaridade ideal visando assegurar a sua continuidade – a descendência. Se é
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certo que, aparentemente, estas distinções tendem a estar cada vez mais esbatidas, e que
se espera que a responsabilidade na educação dos filhos seja dividida por igual entre os
pais, continua a dar-se uma enorme importância às distinções de género no seio da
família, consideradas como referências fundamentais.
As distinções de que falo pressupõem que a mulher é mãe e o homem pai, e que os
dois coexistem numa relação parental, que são só garante o bom desenvolvimento dos
filhos, mas enaltece as capacidades humanas dos pais.
Caso de Blankenhorn
Caso Polémico
Reflexão sobre os problemas da sociedade (violência, etc)
Para ele, a culpa destes problemas é do Pai.
Diz que “se houver a presença de um pai, a sociedade é civilizada (…) A
paternidade ajuda os homens a tornarem-se bons homens, mais propensos a
obedecer às leis, a ser bons cidadãos, a pensar nas necessidades dos outros.”
NOTA: Ele incluía no seu estudo apenas o pai biológico e o adotivo, excluía o padrasto.
Diferenças entre:
Sexo: Caraterísticas Físicas
Género: Caraterísticas Comportamentais
Sexualidade: Combinações Possíveis
o Heterossexualidade
o Bissexualidade
o Homossexuais
o Assexual
Transexualidade: Mudança de Sexo (Fisicamente e/ou Registo)
Diversidade Sexual
Homossexualidade e Homoerotismo
O Homoerotismo refere-se especificamente à atração erótica entre pessoas do
mesmo sexo e não determina necessariamente uma consumação física (homossexual)
desse desejo.
Percebe-se a homossexualidade e o homoerotismo são tantas vezes apresentados na
literatura e com uma naturalidade que parece contrariar a ideia que temos de uma
sociedade conservadora, sobretudo em Portugal.
Com exceção deste pequeno diálogo entre amigas, não há qualquer indicação de que
a Leopoldina pudesse ser lésbica e contudo, “nunca depois de mulher, ela sentiu por um
homem o que sentiu por Joaninha!”. Apesar da intensidade, não são postas em causa por
este passado homoerótico, o que sugere um clara separação entre homossexualidade,
homoerotismo e casamento/ família
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Homoparentalidade
A família sempre foi uma montagem. Tanto para famílias homossexuais quanto para
famílias heterossexuais trata-se de fazer a “bricolage” da família a partir de diversos
argumentos de parentesco: o biológico, o social, o afetivo, o jurídico, o cultural e o
histórico. Mas as famílias homossexuais fazem cair a nossa ilusão de um “parentesco
natural”, de uma adequação do parentesco biológico ao parentesco social. (Cadoret)
Parentesco
Afinidade (Pai) e Consanguinidade (Filho)
Amigos e Parentes
Relatedness = Estar relacionado com (Família de Relações)
Care (no sentido bidirecional de “to care and being cared for”/cuidar e ser
cuidado)
O estudo da cidadania está de facto ligada ao estudo das ciências sociais, ao mesmo
tempo é de extrema importância.
A Família é a base de socialização, seguida da escola e amigos.
A problemática da cidadania tem-se tornado uma matéria comum nos dias de hoje e
são várias as perspetivas utilizadas para definir o conceito.
A cidadania
Definição
É a responsabilidade perante nós e perante os outros;
É a consciência de deveres e direitos;
É o impulso para a solidariedade e para a participação;
É o sentido de comunidade e de partilha;
É a insatisfação perante o que é injusto ou o que está mal;
É a vontade de aperfeiçoar, de servir;
É o espírito de inovação, de audácia, de riscos;
É o pensamento que age e ação que se pensa;
É qualidade de membro de uma determinada comunidade;
É forma específica de relacionamento social dos indivíduos que compõem a
comunidade;
Ideia básica de interdependência;
Ideia de autonomia e construção de si mesmo;
Dimensão da justiça social
Tipos de cidadania
A cidadania pode ser considerada:
Singular: Se for pensamento pelo próprio e os nossos direitos e deveres
Plural: Se for pensada nas várias noções que cada pessoa tem de cidadania e
como as mesmas são influenciadas pela sociedade
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Ser cidadão
Ter uma nacionalidade (ou uma pertença);
Ter consciência dos seus direitos, mas também dos seus deveres;
Ter um grau de autonomia que permita exercer aqueles direitos e deveres
Defende-se que cada um, como cidadãos, têm uma autonomia que deve ser
reconhecida, cujos projetos individuais devem ser respeitados. Mas será que são? Nem
sempre!
Os direitos e os deveres para serem reconhecidos têm de ser socialmente
internalizados como viáveis na sua condição de possibilidade.
Somos cidadãos na medida em que somos capazes de levar em conta a
atitude do outro, num reconhecimento que pressupõe intersubjetividade,
trajetividade
Mas isso nem sempre acontece! Assentamos numa cidadania de “capa torta”
1. Civis
Liberdade de expressão e de pensamento, de liberdade de associação, de
direito de propriedade, mas será que podemos dizer que esta liberdade existe em
grupo vulneráveis (idosos, sem-abrigos, população imigrante, iletrados)?
2. Políticos
Quem é que é ouvido nas instâncias políticas, sociais, institucionais a que,
direta ou indiretamente, pertence?
Exemplo: Todos temos direito à saúde, de preferência gratuita.
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3. Sociais
A democratização dos sistemas de educação e dos sistemas de saúde trouxe
apoios promotores de bem-estar económico e social, no entanto, afastam-se do
sistema, por vezes, aqueles que têm mais dificuldades.
Síntese
O senso comum é resultado de um juízo de valor sobre uma realidade social que
é dado como certo, sem provas empíricas. Este conceito é resultado do facto de
que a vida social seria impossível se tivéssemos de pensar conscientemente sobre
todos os nossos atos.
Para conhecer a realidade social é necessário estudá-la e, portanto, romper com os
dados que são tidos como garantidos do senso comum.
Para conhecer a realidade do ponto de vista científico é necessário:
Rutura com o senso comum e, portanto, com o conhecimento do quotidiano
Tornar estranho o que é comum – atitude metodológica
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Tipos de segredos:
Inconfessáveis/ Invioláveis – referem-se a factos relativos à equipa, que ela
conhece e esconde, sendo incompatíveis com a imagem de si própria que a equipa
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para quem é representado o desempenho; e os dos estranhos que não desempenham nem
assistem ao desempenho.
Os atores têm consciência da impressão que visam suscitar e habitualmente
possuem também informações destrutivas acerca da exibição.
Papéis:
Atores – surgem nas regiões de fachada e de bastidores
Espectadores – surgem apenas na região de fachada
Estranhos – são excluídos de ambas as regiões.
Papéis Discordantes:
Informador – É um individuo que pretende, junto do atores, ser membro da
equipa, é autorizado a penetrar nos bastidores e ai adquire a informação destrutiva
que, depois, aberta ou secretamente, revela aos espectadores acerca da exibição
em causa. Encontra-se muitas das vezes numa posição excelente para fazer jogo
duplo. Exemplos deste papel são as pessoas de variantes políticas, militares,
industrias, e criminosos.
o Traidor, vira-casacas ou desertor – Quando se descobre que o indivíduo
em causa começou por se integrar na equipa com sinceridade.
o Espião - Quando sempre tencionou relevar os segredos.
espectador, ao mesmo tempo que não pretendem ser o que não são. Estão presentes
na região de fachada e têm livre acesso aos bastidores. O papel de “não-pessoas”
geralmente acarreta certa medida de subordinação e uma respeitabilidade reduzida,
mas não devemos subestimar o grau em que a pessoa que o recebe ou assume tem a
possibilidade de o utilizar como defesa.
Papéis Discordantes Suplementares (Pessoas que não se encontram presentes durante
um desempenho, mas que possuem informações imprevistas acerca deste ultimo):
Especialista de Serviço – É ocupado por indivíduos especializados na construção,
reparação e manutenção do espetáculo que os seus clientes representam perante outras
pessoas. Ocupam-se da fachada pessoal (dentistas, cabeleireiros) e formulam os
elementos factuais de desempenho verbal do cliente (advogados). Têm tantas ou mais
informações destrutivas do que o ator. O estatuto social do cliente é por vezes superior
ao dos especialistas. Os especialistas que detêm segredos confidenciais, encontram-
se numa posição que lhes permite explorar a informação de que dispõem de modo a
obterem concessões do ator cujos segredos conhecem.
o Especialista Supervisor - Ensinam o ator a construir a impressão desejável
Colegas – Podem ser definidos como pessoas que apresentam a mesma prática de
rotina ao mesmo tipo de audiência, mas que não participam conjuntamente, ao
contrário do que acontece com os companheiros de equipa, na ação de um mesmo
quadro de tempo e lugar perante os mesmos espectadores concretos. Os colegas
partilham uma comunidade de destino. Uma vez que tem de representar o mesmo tipo
de desemprenho, conhecem as dificuldades e pontos de vista uns dos outros. O papel
de colega confere aos que o desempenham certas informações relativas a um
desempenho a que não assistiram. Existe um factor de solidariedade entre colegas. A
silenciosa confiança mútua aqui pressuposta assenta em duas ideia que os colegas
formam uns dos outros. A primeira é a de que o colega não compreendera mal, a
segunda e a de que não repetira perante leigos as confidências ouvidas.
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As pessoas que se unem por laços de afinidade adquirem uma posição, que lhes
permite uma observação mútua para lá da fachada.
Num sentido muito limitado podemos dizer que, sempre que um não colega é
transformado em confidente, isso significa que alguém, ao mesmo tempo, está a
desempenhar o papel de renegado.
Renegados: Assumem com frequência uma atitude moral, declarando que a
lealdade aos ideais de um papel é preferível à concedida aos atores que falsamente a
desempenham. É uma espécie de traidor ou vira-casacas.
Federalismo Cultural - Permite a expressão pública das culturas particulares que não
são, no entanto, a pura e simples reprodução das culturas de origem dos imigrantes, mas
a sua adaptação e a sua reinterpretação em função do novo ambiente social e nacional.
A cultura não existe como uma realidade "em si", fora dos indivíduos, ainda que
toda a cultura goze de uma relativa independência em relação a eles. A questão está, em
esclarecer como está a cultura presente nos indivíduos, como os faz agir, que
comportamentos suscita, sendo a hipótese adiantada precisamente a de que cada cultura
determina um certo estilo de comportamento comum ao conjunto dos indivíduos
participantes numa cultura dada. Ai residiria o que faz a unidade de uma cultura e o que
a torna especifica relativamente às outras.
Edward Sapir - O que existe, não são os elementos culturais, que passariam
idênticos, de uma cultura para outra e independentemente dos indivíduos, mas
comportamentos individuais concretos, próprios de cada cultura e podendo
explicar este ou aquele empréstimo cultural particular.
Corrente Teórica Escola "Cultura e Personalidade"- Não é a libido que explica a
cultura, mas pelo contrário, são os complexos da libido que se explicam por meio da sua
origem cultural.
Questão: Personalidade
Hipótese: À pluralidade de culturas, deve corresponder uma pluralidade de tipos de
personalidade.
Definição dos tipos culturais - Caracterizam-se pelas suas orientações gerais e pelas
seleções significativas que fazem entre todas as escolhas possíveis a priori. Ruth admite
a hipótese da existência de um "arco cultural" que incluiria todas as possibilidades
culturais em todos os domínios, não podendo cada cultura atualizar mais que um
segmento particular desse arco cultural. As diferentes culturas revelam-se portanto,
definidas por um certo "tipo" ou estilo. Estes tipos de cultura possíveis não existem em
número ilimitado dados os limites do "arco cultural": é assim possível classifica-los
depois de identificados.
Segundo Ruth Benedict, cada cultura se caracteriza, portanto, pelo seu pattern, que dizer
por uma certa configuração, um certo estilo, um certo modelo. Implica a ideia de uma
totalidade homogénea e coerente.
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Toda a cultura é coerente porque concorda com os fins que visa, ligados às suas escolhas
a partir da gama das escolhas culturais possíveis. Os fins em causa são buscados sem que
os indivíduos o saibam, mas através deles, graças às instituições (nomeadamente
educativas) que vão moldar todos os seus comportamentos, em conformidade com os
valores dominantes que lhes são próprios.
Cultura - Orientação global dos traços culturais, o seu "pattern" mais ou menos coerente
de pensamento e de ação. É uma combinação coerente do todo. Cada cultura oferece, de
certo modo aos indivíduos um "esquema" inconsciente para todas as atividades da vida.
A personalidade individual não se explica por caracteres biológicos, mas pelo "modelo"
cultural particular de uma dada sociedade que determina a educação da criança. Desde os
primeiros instantes de vida, o modelo impregna o individuo, através de todo um sistema
de estímulos e de interditos, formulados ou não explicitamente, o que o leva, uma vez
adulto, a obedecer de modo inconsciente aos princípios fundamentais da cultura. Foi a
este processo que os antropólogos deram o nome de Inculturação - a estrutura da
personalidade adulta, resultante da transmissão da cultura através da educação, será em
princípio adaptada ao modelo da cultura em causa.
A anomalia psicológica, presente e estigmatizada em cada sociedade, explica-se como
sendo a consequência de uma inadaptação do individuo dito "anormal" à orientação
fundamental da sua cultura.
Tipo normal - Cada cultura privilegia entre todos os tipos possíveis um tipo de
personalidade, que se torna então o tipo "normal" (de acordo com a norma cultural). Este
tipo normal é a "personalidade de base". Cada individuo o adquire através do sistema de
educação próprio da sua sociedade.
o Linton: Podem existir simultaneamente vários tipos "normais" de
personalidade, porque em bom número de culturas coexistem vários sistemas
de valores. Devemos ter em conta a diversidade dos estatutos existentes no
interior de uma mesma sociedade. Nenhum individuo possui um
conhecimento completo da sua cultura. Cada individuo conhece da sua cultura
apenas aquilo que lhe é necessário para se adaptar aos diversos estatutos de
maneira a poder desempenhar os papéis sociais correspondentes. A existência
de diferentes estatutos conduz a essas modulações mais ou menos
significativas de uma mesma personalidade de base.
o Kardiner:
"Instituições Primárias" - família e sistema educativo - onde se
forma a personalidade de base
"Instituições Secundárias" - sistemas de valores e de crenças - a
personalidade de base reage sobre a cultura do grupo produzindo as
instituições, que compensam as frustrações suscitadas pelas
instituições primárias e que levam a que a cultura vá evoluindo.
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Socialização - Termo regularmente usado a partir dos anos 30. É entendido como sendo
o processo de integração de um individuo numa dada sociedade ou num grupo particular
através da interiorização dos modos de pensar, de sentir e de agir, ou, por outras palavras,
dos modelos culturais próprios da sociedade ou do grupo em causa.
Cultura – O conceito de cultura está entre as noções mais usadas em sociologia, refere-
se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos pertencentes a essa
sociedade; inclui o modo como se vestem, as suas formas de casamento e de família, os
seus padrões de trabalho, cerimónias religiosas e atividades de lazer.
A cultura pode ser conceitualmente diferenciada de “sociedade”, mas há conexões muito
próximas entre essas noções.
Conceito de cultura
Quando os sociólogos se referem à cultura, estão preocupados com aqueles aspetos da
sociedade humana que são antes aprendidos e não herdados. A cultura de uma sociedade
compreende tanto aspetos intangíveis - as crenças, as ideias e os valores que formam o
conteúdo da cultura - como também aspetos tangíveis - os objetos, os símbolos ou a
tecnologia que representam esse conteúdo.
Valores e Normas
As ideias que definem o que é importante, útil ou desejável são fundamentais em todas
as culturas. Essas ideias abstratas, ou valores, atribuem significado e orientam os seres
humanos na sua interação com o mundo social. A monogamia – a fidelidade a um único
parceiro sexual – é um exemplo. As normas são as regras de comportamento que refletem
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Diversidade Cultural
A diversidade do comportamento e práticas humanas é extraordinária. As sociedades de
pequena dimensão, como as sociedades de “caçadores-recolectores”, tendem a ser
culturalmente uniformes ou monoculturais. Algumas sociedades modernas, como o
Japão, permanecem relativamente monoculturais e caracterizam-se por elevados níveis
de homogeneidade cultural.
Quando falamos em subculturas não nos referimos apenas a grupos étnicos ou linguísticos
minoritários de uma sociedade, mas a qualquer segmento da população que se distinga
do resto da sociedade em virtude dos seus padrões culturais. As subculturas e as
contraculturas – grupos que rejeitam a maior parte das normas e dos valores vigentes
numa sociedade – podem promover pontos de vista alternativos à cultura dominante.
Etnocentrismo
Todas as culturas têm um padrão de comportamento próprio que parece estranho a
pessoas de outros contextos culturais. As culturas podem ser extremamente difíceis de
entender quando vistas de fora. Uma cultura tem de ser estudada segundo os seus próprios
significados e valores – um pressuposto essencial da Sociologia. Esta ideia é também
conhecida como relativismo cultural. Os sociólogos esforçam-se o mais possível para
evitar o etnocentrismo, que consiste em julgar as outras culturas tomando como medida
de comparação a nossa.
Aplicar o relativismo cultural – isto é, analisar uma situação segundo os padrões de outra
cultura, suspendendo os nossos valores culturais bem enraizados – pode ser algo repleto
de incerteza e desafios.
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Socialização
A cultura pertence a esses aspetos da sociedade que são aprendidos do que herdados. O
modo de vida de uma sociedade é chamado de socialização. Este processo constitui o
principal canal de transmissão da cultura através do tempo e das gerações.
Os sociólogos referem-se muitas vezes à socialização como algo que ocorre em duas fases
amplas, que envolvem um certo número de diferentes agências de socialização – grupos
ou contextos sociais onde ocorrem importantes processos de socialização.
A socialização primária decorre durante a infância e constitui o período mais intenso de
aprendizagem cultural. É a altura em que a criança aprende a falar e aprende os mais
básicos padrões comportamentais. A socialização secundária decorre desde um momento
mais tardio na infância até à idade adulta.
Papéis Sociais
Os indivíduos aprendem os seus papéis sociais – expectativas socialmente definidas
seguidas pelas pessoas de uma determinada posição social.
Alguns sociólogos, especialmente os associados à corrente funcionalista, veem os papéis
sociais como partes constantes e algo inalteráveis da cultura de uma sociedade, tornando-
os factos sociais. De acordo com esta perspetiva, os indivíduos aprendem as expectativas
ligadas às posições sociais na cultura em grande medida tal como foram definidos. Os
papéis sociais não implicam negociação ou criatividade – pelo contrário, condicionam e
orientam o comportamento dos indivíduos. É através da socialização que os indivíduos
interiorizam os papéis socias e aprendem a desempenhá-los.
No entanto, este ponto de vista é errado, uma vez que sugere que os indivíduos se limitam
a desempenhar papéis, sem intervirem na sua criação e negociação. Na verdade, a
socialização é um processo pelo qual os seres humanos se tornam agentes. Eles não são
simplesmente sujeitos passivos à espera de serem instruídos ou programados. Os
indivíduos concebem e assumem papéis socias no decurso de um processo de interação
social.
Identidade
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Tipos de Sociedade
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Mudança Social
Influências na mudança social
Podemos identificar três fatores principais que têm influenciado consistentemente a
mudança social: o meio ambiente, a organização política e os fatores culturais.
O meio ambiente
O ambiente físico exerce muitas vezes uma influência no desenvolvimento da
organização social humana. Tal pode constatar-se melhor nas condições ambientais mais
extremas, em que as pessoas têm de organizar o seu modo de vida de acordo com as
condições meteorológicas.
Fatores Culturais
Incluem-se os efeitos da religião, dos sistemas de comunicação e da liderança.
A mudança no período moderno
Influências Económicas
O impacto da ciência e da tecnologia no modo como vivemos pode, em grande medida,
ser determinado por fatores económicos, mas não se limita à esfera económica. A ciência
e a tecnologia tanto influenciam como são influenciadas por fatores políticos e culturais.
Influências Políticas
A evolução política dos últimos dois ou três séculos influenciou por certo tanto a mudança
económica tanto quanto esta foi influenciada pela política.
Influências Culturais
Entre os fatores culturais que afetam os processos de mudança social nos tempos
modernos, o desenvolvimento da ciência e a secularização do pensamento contribuíram
para o carácter crítico e inovador da perspetiva moderna. Para além do modo como
pensamos, também o conteúdo das ideias mudou. Ideais como superar-nos a nós próprios,
liberdade, igualdade ou participação democrática são, em grande parte, criações
produzidas nos últimos dois ou três séculos.
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Conclusão
As mudanças por que o mundo passa atualmente estão a tomar as diferentes culturas e
sociedades muito mais interdependentes do que se passava antigamente. À medida que o
ritmo da mudança acelera, o que acontece em determinado ponto do mundo pode afetar
diretamente outras regiões. Em relação às gerações anteriores, em parte graças às novas
formas de comunicação eletrónica, vivemos hoje todos muito mais interdependentes uns
dos outros. O sistema global não é apenas um contexto no qual determinadas sociedades
mudam e se desenvolvem. Os laços económicos, sociais e políticos que ligam entre si os
países condicionam decisivamente o destino dos cidadãos de qualquer um deles.
1º) por ser nela que residem as possibilidades de progresso da humanidade, uma
vez que o progresso deriva da colaboração entre culturas diferentes e “uma
humanidade confundida num único género de vida é inconcebível pois tratar-se-
ia de uma humanidade ossificada”.
102
2º) por implicação, por ser através da diversidade que se torna possível a
compreensão das culturas, na medida em que só a compreensão das diferenças
enquanto sistema permitirá atribuir a qualquer cultura individual o seu sentido
verdadeiro.
Para Lévi-Strauss
SE, o relativismo cultural for definido como uma tentativa de avaliar cada cultura nos
seus próprios termos, evitando a inposição de critérios derivados de outras culturas ou da
nossa própria cultura, torna-se evidente que uma das suas pré-condições é: a possibilidade
de ver e compreender a cultura em questão por dentro, tal como os membros daquela
cultura a vêm e compreendem.
No decurso do seu trabalho de campo, que poderá durar entre um e três anos, o que
aprende o antropólogo?
- Aprende por dentro uma outra cultura, familiarizando-se com a língua e a sua utilização
contextual, com as normas e os valores, as regras de comportamento apropriados a cada
uma de um conjunto de diversificado de situações, o leque de possibilidades aberto aos
individuos e grupos para a formulação e execução das suas estratégias de acção.
O antropólogo que conseguir ‘penetrar’ numa outra cultura conhce-a, em teoria, tão bem
como qualquer nativo pode chegar até a adiquirir um maior conhecimento que o
próprio nativo.
No entanto, parece evidente que não será na mera aprendizagem de uma outra maneira de
ver e ser, por mais diferenre que possa ser a cultura estudada, que se encontrará a chave
para a compreensão da diferença.
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O respeito pelo outro apenas se poderá fundamentar numa relação que se estabelece entre
o eu e esse outro e não na simples substituição do eu pelo outro.
Em rigor, o antropólogo não aprende a conhecer a realidade social e cultural que o rodeia
durante o seu trabalho de campo; aprende a reconhecê-la, estabelecendo relações de
equivalência e diferença entre o que vai observando e ouvindo e o que já conhecia.
O antropólogo que realmente conseguir compreender outra cultura não terá substituído a
sua cultura por outra, terá, antes, encontrado uma maneira de relacionar essa cultura com
a sua própria cultura de origem e com a sua “cultura” especificamente antropológica
Martin Hollis
-Chegou à conclusão que a antropologia, para ser possível, tem que se basear no postulado
de que todos os homens são racionais (a antropologia depende do postulado de que os
nativos partilhem a nossa racionalidade).
Mas, nem todos os que estudaram os povos ditos primitivos foram da mesma opinião pois
acharam que pelo menos alguns povos não partilham da nossa racionalidade.
Por exemplo, os Dinka do Sudão acreditam, por exemplo, que todos os feiticeiros
possuem uma cauda de animal, mas acusam de feitiçaria pessoas que não o têm.
Crenças
“Crenças rituais” – Dizem respeito a entidades ou forças sobrenaturais,
estariam então ao contrário das “crenças práticas”.
“Crenças práticas” – Sujeitas a um teste de racionalidade menos severo. Uma
vez que seria despropositado pretender que essas crenças fossem em si
racionais para o indivíduo que as possui.
Será assim o próprio antropólogo que irá estabelecer: aquelas que lhe parecem racionais
ou verdadeiras no seu conteúdo serão “práticas”, aquelas que o não parecem serão
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“rituais”. Das primeiras exige-se exatamente aquilo que as levou a que fossem
classificadas como práticas; as segundas perdoa-se quase tudo o que levou a que fossem
consideradas como rituais.
Afirma-se se preciso que o pesquisador veja com olhos imparciais a realidade, evitando
envolvimentos que possam obscurecer ou deformar os seus julgamentos e conclusões.
Uma das possíveis decorrências deste raciocínio seria a valorização de métodos
quantitativos que seriam "por natureza" mais neutros e científicos.
|
Porém
|
A unidade não seria dada pela linguagem, por tradições nacionais de carater mais geral,
mas por experiências e vivências de classe, definidos em termos sociológicos,
económicos e históricos, que originam inclusive a noção de cultura de classe.
O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar mas não é necessariamente
conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo ponto,
conhecido. No entanto, estamos sempre pressupondo familiaridades e exotismos como
fontes de conhecimento ou desconhecimento respetivamente.
105
Por exemplo, podemos estar acostumados a uma certa paisagem social onde a disposição
dos autores nos é familiar; a hierarquia e a distribuição de poder permite-nos fixar, de
grosso modo, os indivíduos em categorias mais amplas.
No entanto, isso não significa que eu compreenda a lógica das suas relações.
Enquanto movimento intelectual, surge o Romantismo, preocupado em pesquisar (ou até
criar) raízes, fundamentos, essenciais de um povo, nacionalidade. É conhecida a
manipulação de ideologias nacionalistas, de oposição simbólica e material ao que vem de
fora, como estranho, intruso, fora de contexto, alienado.
o Antropólogo a chamar à atenção para o "artificialismo".
A hierarquia organiza, mapeia e, portanto, cada categoria social tem o seu lugar através
de estereótipos. A dimensão do poder e da dominação é fundamental para a construção
dessa hierarquia e desse mapa. A etiqueta, a maneira de dirigir-se às pessoas, as
expetativas de respostas, a noção de adequação, etc. relacionam-se à distribuição social
de poder que é essencialmente desigual numa sociedade de classes. Assim, em princípio,
dispomos de um mapa que nos familiariza com os cenários e situações sociais do nosso
quotidiano. Mesmo nas sociedades mais hierarquizadas há momentos, situações ou papéis
sociais que permitem a crítica, a relativização ou até o rompimento com a hierarquia.
O estudo de conflitos, disputas, acusações, momentos de descontinuidade em geral, é
particularmente útil: ao se focalizarem situações de drama social, podem-se registar
contornos de diferentes grupos, ideologias, interesses, subculturas, permitindo
remapeamentos.
De qualquer forma o familiar, com todas essas necessárias relativizações é cada vez mais
objeto de investigação para uma antropologia preocupada em perceber a mudança social
não apenas ao nível das grandes transformações históricas mas como resultado
acumulado e progressivo de decisões e interações quotidianas.
Denys Cuche – A Noção de Cultura nas Ciências Sociais: Cultura e Identidade
(Cap.VI)
A cultura releva em grande parte de processos inconscientes. A identidade, pelo seu lado,
remete para uma norma de presença, necessariamente consciente.
Objetivismo:
Os que assimilam a cultura como uma herança, concebem a identidade como dado
definitivo. Assim concebida, a identidade surge como uma essência que não é
suscetível de evoluir e sobre o qual nem o individuo nem o grupo têm qualquer
preensão.
No limite, a problemática da identidade cultural pode desembocar numa
racialização dos indivíduos e grupos. O individuo, através da sua hereditariedade
biológica, nasce com os elementos constitutivos da identidade étnica e cultural.
Abordagem culturalista: Não é o legado biológico que é posto em evidência, mas
sim o legado cultural, pelo que o individuo é levado a interiorizar os modelos
culturais que lhe são impostos, pelo que a identidade preexiste mais uma vez ao
individuo.
Identidade etnocultural: A identidade cultural surge como uma propriedade
inerente ao grupo porque transmitida no e pelo grupo, sem referencia aos outros
grupos. A pertença no grupo étnico é a primeira e a mais fundamental das
pertenças sociais.
Estas teorias têm em comum a mesma conceção objetivista da identidade cultural.
Definem e descrevem a identidade a partir de um certo número de critérios
determinantes.
Subjetivismo:
A identidade cultural não pode ser reduzida à sua dimensão atributiva. A
identidade etnocultural não é mais do que um sentimento de pertença. O que conta
são as representações que os indivíduos formam na realidade social e as suas
divisões.
Caracter variável da identidade.
A identidade é uma construção que se elabora num modelo de relação que opõe
um grupo aos outros grupos com os quais está em contacto.
Fredrik Barth (1969): A identidade é um modo de categorização utilizado pelos
grupos para organizarem as suas trocas. Assim, para definirmos a identidade de
um grupo é necessário localizar os traços que os membros do grupo utilizam para
afirmarem e manterem a distinção cultural. A diferença identitária não é
consequência direta da diferença cultural. Uma cultura particular só pode resultar
108
No entanto a reacção do estado sobre as minorias provoca, por vezes, reacções negativas,
visto que os grupos minoritários visam a reapropriação de uma identidade. Transformar
uma hetero-identidade negativa em positiva. Com o tempo a revolta contra a
estigmatização resultará na inversão do estigma.
A identidade multidimensional
Na medida em que a identidade resulta de uma construção social, participa na
complexidade do social.
Carácter flutuante da identidade.
O indivíduo que participa em várias culturas fabrica, a partir dos diferentes
materiais correspondentes, a sua identidade pessoal única operando uma síntese
original. O resultado é, por conseguinte, uma identidade sincrética e não dupla.
Os encontros de povos, as migrações internacionais multiplicaram estes
fenómenos de identidade sincrética.
De facto, cada individuo integra, de modo sintético, a pluralidade das referências
identificatórias ligadas à sua história.
Cada individuo tem consciência de possuir uma identidade de geometria variável,
sendo as dimensões do grupo a que se refere nesta ou naquela situação relacional.
110
Estratégias identitárias
A identidade tem um caracter multidimensional e dinâmico, pelo que conhece
variações, reformulações e até manipulações.
Estratégia identitária: A identidade surge como um meio visando atingir um fim.
O conceito de estratégia indica também que o individuo, como ator social, não
está despromovido de uma certa margem de manobra. Em função da sua
apreciação da situação, utiliza de modo estratégico os seus recursos identitários.
Na medida em que é uma parada de tuas sociais de "classificação", que visam a
reprodução ou a transformação das relações de dominação, a identidade constrói-
se através das estratégias dos atores sociais.
A identidade é sempre a resultante da identificação que nos vemos ser imposta
pelos outros e a que nos próprios afirmamos.
Um tipo extremo de estratégia, consiste em ocultar a identidade para escapar à
discriminação.
A identidade pode ser instrumentalizada nas relações entre os grupos sociais.
A identidade não existe em si, independentemente das estratégias de afirmação
identitária dos atores sociais que são ao mesmo tempo o produto e o suporte das
lutas sociais e políticas.
As "fronteiras" da identidade
Barth: No processo de identificação o que é primeiro é precisamente essa vontade
de marcar o limite entre "eles" e "nós" e, portanto, de estabelecer e manter aquilo
a que se chama uma "fronteira". Uma fronteira social simbólica. A etnicidade, que
é o produto do processo de identificação, pode ser definida como a organização
social da diferença cultural. Para explicar a etnicidade é preciso estudar os
mecanismos de interação que mantêm ou repõem as fronteiras coletivas.
Uma coletividade pode perfeitamente funcionar admitindo no seu interior uma
certa pluralidade cultural. O que cria a separação, a "fronteira", é a vontade de
diferenciação e a utilização de certos traços culturais como marcadores da sua
identidade específica.
As fronteiras não são imutáveis, pelo que os deslocamentos da mesma explicam
as variações da identidade.
A ação ritual nos seus traços constitutivos pode ser vista como "performativa" em três
sentidos:
1. No sentido do qual dizer é também fazer alguma coisa como um ato convencional.
2. No sentido do qual os participantes experimentam intensamente uma performance
que utiliza vários meios de comunicação.
3. No sentido de valores sendo inferidos e criados pelos atores durante a
performance.
Modelo canónico
O pesquisador deveria passar pelo menos dois anos imerso no campo para depois:
enfrentar o desafio de combinar a diversidade das culturas; demonstrar a unidade psíquica
da humanidade.
Resultado: o relativismo começou a dominar a disciplina.
Durkheim e Mauss
A sociedade é um todo que nos antecede
Refutando a ideia de que a religião é apenas um sistema de ideias, os cultos são a prova
experimental das crenças, sustentando-as. Os cultos (ou rituais) são "actos da sociedade".
Através deles, a sociedade toma consciência de si, se recria e se afirma.
Os rituais criam um corpo de ideias e valores que, sendo socialmente partilhados,
assumem uma conotação religiosa. Religião, portanto, não é algo que diz necessariamente
respeito aos deuses e ao sobrenatural, mas à sociedade.
Tylor e Frazer
A definição de religião centrava-se na "crença em seres espirituais", que não advinha da
sociedade, mas era o produto de uma evolução natural, regular, continua e progressiva
das capacidades mentais do animal humano no estado social.
Tylor: A crença nos espíritos teria sido a primeira de uma série: o "animismo" seria
a forma mais primitiva de religião e teve início a partir de um esforço racional (embora
não critico) para explicar fenómenos empíricos misteriosos, tais como a morte, sonhos,
possessão. Do animismo, a espécie humana progrediu para o politeísmo e deste para o
monoteísmo.
apercebe que a magia não produz resultados e delega-se o poder aos seres sobrenaturais.
Finalmente, a ciência retoma a responsabilidade da relação entre causa e efeito, e aplica
as leis de forma correcta.
Rituais e Magia
o Arnold van Gennep
Propôs uma classificação dos rituais de acordo com o papel que desempenhavam na
sociedade. Ritos de passagem eram definidos como aqueles momentos relativos à
mudança e à transição (de pessoas e grupos sociais) para novas etapas de vida e de status
disputa recaia sobre as formas de distribuição de poder, mas não sobre a estrutura de
poder em si.
O ritual das relações sociais: Os ritos de passagem diz respeito à transição de posições,
status e papéis.
Cerimónia: Qualquer organização complexa da atividade humana que não seja
especificamente técnica e que envolva modos de comportamento expressivos das relações
sociais.
Mitos e Ritos
o Lévi-Strauss
Todos, tanto os "primitivos" como os "modernos", somos racionais em contexto. Todos
temos a nossa própria magia, religião e ciência.
Bricolagem: Termo utilizado por ele para indicar a construção de novos artefactos a partir
de unidades já classificadas em uma sociedade ou cultura.
Mitos: Fenómenos "bons para pensar". Meios adequados para se atingir as estruturas da
mente humana - afinidade com a estrutura da língua – pensamento pleno.
Ritos: Execução de gestos e a manipulação de objetos - relacionado à prática
o Edmund Leach
o Stanley Tambiah
Ação performativa: um atributo intrínseco tanto à ação quanto à fala, que permite
comunicar, fazer, modificar, transformar.
Se então, o ritual é:
Um sistema cultural de comunicação simbólica;
Constituído de sequências ordenadas e padronizadas de palavras e actos;
Frequentemente expresso por múltiplos meios;
Esta ação ritual é performativa.
116
Síntese
O universalismo de princípio do sistema de saúde pública nunca se libertou realmente
das múltiplas formas de resposta à doença, incluindo as menos reconhecidas, menos
formais e menos públicas. Nessas destacam-se as de grupos domésticos e de mulheres
enquanto “responsáveis da saúde” na família. Mais do que nunca, o vácuo deixado pelo
sistema de saúde pública mantém e até renova a legitimidade dessas formas locais de
existirem e de atuarem no espaço terapêutico.
Os tratamentos domésticos permanecem como um primeiro recurso, as mulheres
desempenhando o papel de dispensadoras de cuidados e de intermediárias num sistema
de revezamento entre o doméstico e os demais elementos do itinerário terapêutico. Os
cuidados domésticos são o primeiro momento do itinerário terapêutico, são o ponto de
partida do itinerário, seguido pelos recursos de tipo biomédico e, em casos extremos,
outros recursos locais intervêm. As mulheres, acompanhando os doentes, orientam o
itinerário e também levam os doentes de volta com elas para casa- o espaço doméstico é
o ponto de retorno do itinerário. O itinerário terapêutico parte do individuo e exprime
relações sociais, constructos culturais.
As mulheres caboclas são culturalmente responsáveis pela saúde dos membros da casa.
Um certo conhecimento é atribuído às mulheres, porque deve ser aprendido no contexto
de codificação cultural dos papéis de género nessa sociedade. Esse conhecimento é
naturalizado, ele faz parte do que é comum conhecer, como mulher, na vida quotidiana,
ele pertence à identidade de género e não tem outro estatuto além desse.
Roussel (1980 e 1991): propõe analisar a família segundo a dimensão simbólica dos
valores e das representações sociais.
“Famílias instituição”: baseiam-se em finalidades de sobrevivência e
subordinação total à instituição matrimonial.
“Famílias aliança”: são já caracterizadas pelo amor romântico como princípio de
união.
“Famílias fusão”: sobressai também o amor romântico, mas verifica-se já uma
igualdade entre conjugues.
“Famílias associação”: simbolizam o triunfo do individualismo sobre o nós
conjugal.
Interaccionismo
O Interaccionismo adota a família conjugal como tendo uma dinâmica interna com
propriedades específicas. As abordagens interaccionistas avaliam a relativa
independência da família face aos contextos sociais, sendo esta dotada de processos de
funcionamento transclassistas (que se situa além da representatividade da sua classe).
Fundam-se então os eixos essenciais na dinâmica de grupo: coesão interna, integração
no exterior, regulação de conflitos, etc…
Podemos assumir que esta abordagem contribuiu para o desenvolvimento de instrumentos
de análise da dinâmica interna da vida familiar, e para relativizar a ideia de uma privação
total dos comportamentos, visando que as famílias também são “classe”.
Outra forma importante de abordar o funcionamento familiar é fazendo a articulação entre
família e organização social ou organização económica.
A.M ichel (1977) propõe os seguintes conceitos:
Famílias tradicionais: papéis de género diferenciados.
Famílias modernas: igualitárias no que toca à divisão do trabalho.
Existem diversas teorias que possuem ângulos distintos ao abordar este assunto, por
atribuírem importância a diferentes fatores (ordem económica, social, cultural ou
interacional), porém todas possuem uma necessidade em comum: melhor compreender
uma realidade tão pluridimensional como a família. Contudo, devemos não só analisar as
representações mas também as práticas da vida familiar, o que nos irá permitir destrinçar
120
Coesão: laço social que une internamente os membros da família. Pode ser observada de
diferentes perspetivas
Numa outra análise da coesão, avaliamos se a família procura colocar sob o controlo do
nós-casal alguns recursos essenciais, o que nos irá permitir identificar a existência de um
direccionamento explícito (intenção) para a autonomia ou fusão. Assim, segundo a regra
da coesão conjugal, uma família pode adoptar práticas mais fusionais ou mais autónomas,
relacionadas com o tipo de coesão relativa ao dinheiro, amigos, gostos e tempos livres.
Práticas mais Fusionais: centradas no “nós-casal”, no “nós-família”.
Práticas mais Autónomas: centradas no individuo, subgrupos mãe/filhos e
pai/filhos.
Por fim temos o conceito de integração externa, que visa aferir se a família tem contactos
com o exterior, qual o tipo de actividades predominante e o convivío com outras pessoas.
Existem duas formas bastante diferentes de construir a autonomia: a uma podemos
chamar autonomia “tradicional”, enquanto que à outra chamamos autonomia
associativa.
Regra Fusional
Fusão Institucional: fortes diferenciações de género, assume valores
institucionais, é dos tipos bastião e paralelo familiar, utiliza práticas puramente
fusionais, afirmando o predomínio do “nós” (casal e sobretudo família), existe
fechamento ao exterior, pressupõe o modelo do ganha pão masculino , existe
dinâmica de separação conjugal ( atividades fusionais da família nuclear são algo
escassas) e pouca cumplicidade no domínio das práticas.
Fusão Companheirista: baseia-se na procura do “nós”, papeis de género pouco
diferenciados, orienta-se em valores modernistas, existe igualdade (em casa, no
trabalho), dá importância à comunicação a dois, existe fusão aberta e dinâmica
fundada em práticas fusionais, assume a partilha conjugal, abertura ao exterior e
assenta sobre a paridade. Baseia-se no modelo de dupla profissão e partilha
conjunta de lidas caseiras. É do tipo confluente, possui matriz companheirista e
atitude fusional que dá espaço á existência e vários subgrupos familiares.
As Interações
Existem seis tipos de interações familiares:
Paralelo: autonomia desejada e sexualmente diferenciada e fechamento ao
exterior.
Paralelo Familiar: alia predomínio de práticas separadas a uma ténue fusão
familiar, divisões de género assinaláveis, intenções fusionais e abertura média ao
exterior.
Bastião: de natureza fusional, fechado, marcado por papéis de género
diferenciados.
Fusão Aberta: fusão é forte, existe divisão de papéis igualitária, integração externa
permeável (diversas saídas e convívios).
Confluente: práticas polivalentes ligadas a uma regra fusional, papéis de género
pouco diferenciados, abertura forte.
Associativo: assume práticas polivalentes expressivas, intenções explícitas de
autonomia, papéis de género pouco diferenciados (sobretudo profissionalmente)
e abertura forte ao exterior.
123
Conclusão
É importante reter a diversidade dos tipos de interacção familiar, as determinações de
classe que actuam sobre as interacções e as tendências de mudança que ocorreram no
“lado de dentro” da vida conjugal e familiar. Esta abordagem permite-nos uma visão
global do que se passa dentro da família conjugal com filhos no Portugal Contemporâneo.
Conclui-se assim que não encontramos na sociedade portuguesa actual modelos
dominantes mas sim uma pluralidade considerável de formas de viver em casal e em
família. Porém, não podemos esquecer que esta diversidade de formas de interacção não
é alheia aos contextos socioeconómicos dos casais portugueses. Devemos ainda
considerar que o determinismo absoluto não existe (há excepções à regra).
Rituais:
126
Pode incluir rezas, oferendas, cânticos ou sacrifícios (pessoas usam os rituais para
tentar manipular ou influenciar “deuses” no plano sobrenatural);
Normalmente estão a cargo de “especialistas” (intermediários entre os deuses e os
mortais);
Ciência vs Religião
Pensou-se que com o desenvolvimento da ciência se verificaria o fim da necessidade da
religião, o que não aconteceu, muito pelo contrário:
A ciência não conseguiu demonstrar a irracionalidade da religião;
Interesse pela astrologia, ocultismo, bruxaria, etc. não pára de aumentar;
Novas igrejas multiplicam-se (demonstra a procura de serviços espirituais);
Pessoas querem mais religião e menos ciência;
A ciência destruiu alguns suportes psicológicos tradicionais e trouxe novas
ansiedades (poluição, transgénicos, clonagem);
A ciência não fornece os tranquilizantes necessários, mas a religião continua a
fazê-lo (de forma barata – psicanálise vs confessionário);
Antropologia da Religião
A religião é uma chave fundamental para compreender os fenómenos sociais, e é por isso
importante na investigação antropológica. Quando as pessoas não conseguem resolver os
problemas recorrendo a soluções objetivas, procuram uma solução no domínio
sobrenatural. Para isso, realizam elas mesmas rituais ou recorrem a especialistas nessa
127
atividade. A performance de rituais é aqui usada para apaziguar a ansiedade causada pela
incerteza característica dos acontecimentos da nossa vida.
O Sobrenatural
A ideia da existência de um mundo sobrenatural é a ideia mais importante de todos os
sistemas religiosos.
a) Deuses;
b) Espíritos de antepassados;
c) Espíritos que não têm relação com os humanos;
Animismo vs Animatismo
Animismo
Comportamento religioso mais comum nas sociedades “primitivas”
129
Crença de que a natureza é animada por espíritos de vários tipos (nas pessoas,
animais, plantas, etc)
Animatismo
Crença de que os espíritos não são entidades separadas dos objetos e das pessoas,
mas que podem antes existir dentro deles, conferindo-lhes poder.
São responsáveis pelo contacto entre o mundo dos vivos e o mundo sobrenatural;
Para ser especialista religioso é necessário passar por provações e testes
(demonstrar que se tem as aptidões necessárias);
À semelhança do interesse no sobrenatural, também o leque de actividades e
profissões ligadas à actividade religiosa tem aumentado;
Exemplos:
De especialistas a tempo inteiro: padres e pastores das igrejas.
De especialistas a tempo parcial: xamã.
“A diferença fundamental entre um padre e um xamã é que o primeiro procura
ganhar o favor de Deus, enquanto o segundo procura manipulá-lo de forma a
conseguir o resultado desejado.”
Desafiar as práticas locais serve para aumentar as tensões e o stress das pessoas (ficando
ressentidas relativamente às práticas médicas culturalmente estranhas).
Xamanismo:
Benefícios: Prestigio e riqueza, mas também o efeito terapêutico que advém
da sua própria personalidade (por vezes instável);
Provações: incluem muitas vezes mutilações corporais, tais como perfuração
e desmembramento;
Muitas vezes têm também de se isolar dos vivos, indo para um lugar recôndito
onde ficam em contacto com os espíritos;
Validação Social dos Xamãs: é dada pela sua capacidade de se convencerem
a si próprios e aos seus pacientes da sua capacidade de curar;
131
Curandeiros vs Médicos
Do ponto de vista da medicina convencional, deve ter-se em conta as práticas locais
(curandeiros) em vez de as considerar erradas à partida. Muitas vezes, desafiar as práticas
locais apenas serve para aumentar as tensões e o stress das pessoas, que depois ficam
ressentidas e hostis em relação a práticas médicas culturalmente estranhas.
Religião e Magia
É comum, nalgumas sociedades, as pessoas guardarem objetos que foram tocados por
pessoas especiais (ex: rosários vendidos em Fátima que foram benzidos pelo Papa) por
acreditarem que estes possuem propriedades protetoras ou milagrosas. Assim é fácil
concordar com Frazer quando este afirma que a fronteira entre magia e religião é muitas
vezes difícil de traçar. Para além disto, o comportamento nas sociedades urbanas pós-
modernas, apresenta por vezes traços característicos dos rituais mágicos.
134
Bruxas e Bruxaria
A atividade de bruxaria sempre foi motivo para perseguir e matar os seus
praticantes.
Exemplo: Em Salem foram executadas 1692 pessoas acusadas de prática de
bruxaria – “bruxas de Salem”.
Contrariamente ao que se possa pensar, as bruxas e a bruxaria não são
exclusivas do passado ou de sociedades “atrasadas” e “primitivas”,
continuando nos dias de hoje a ter um papel social de extrema importância.
Exemplo: Procura cada vez maior, nos EUA e na Europa, de serviços de
bruxaria.
A crescente dependência das pessoas em relação à bruxaria não é um
acontecimento meramente europeu e norte-americano.
Exemplo: Em África, pessoas com formação superior em bruxaria continuam
a ter um papel importante na explicação de doenças e respetiva cura.
Bruxaria ibibio
Praticada por homens e mulheres pelo povo ibibio, na Nigéria;
Para se tornar bruxo(a),o individuo precisa de ingerir uma poção, preparada por
outro bruxo(a);
A bruxaria confere a capacidade de fazer mal, mesmo que esta não seja a sua
vontade;
Bruxos podem transformar-se em animais, percorrer longas distâncias, torturar e
matar pessoas, que transformam em animais e comem;
“Bruxas Negras”: particularmente malévolas.
“Bruxas Brancas”: embora possam até ser mais poderosas, causam menos mal.
Acusações de Bruxaria
A bruxaria é vista como a causa de todas as coisas más, desde o azar ao jogo até aos
acidentes na estrada. Mesmo para aqueles que possuem conhecimento científico
(médicos, enfermeiros), a bruxaria é uma das principais causas de males e doenças. Uma
bruxa(o) possui um comportamento anómalo: não cumprimentar os outros, viver
sozinho(a), procurar o isolamento, vender a preços elevados, vaguear à noite, não
135
demonstrar pesar pela morte de familiares ou vizinhos, não cuidar bem dos familiares e
dos filhos, etc. Estes comportamentos são o que motiva uma acusação de bruxaria,
acusações estas que tendem a incidir sobre pessoas cujo comportamento desagrada aos
outros.
Envolvem uma grande parte da população, o que faz com que sejam um potente
motor de transformação social (quando as pessoas deixam de acreditar no
sistema, ficando recetivas a uma alternativa).
Porém, não aconteceram apenas nestas situações. Nos EUA, surgiram centenas de
movimentos de revitalização ao longo dos séculos XIX e XX de que são exemplo a
Igreja Mormon, a Igreja da Unificação e o movimento do Povo do Templo.
138
Processo
O Livro “Saberes e Poderes no Hospital” (que se insere nesta linha de abordagens) analisa
o processo de transformação dos saberes formais em poderes profissionais.
Indicadores do processo de construção dos poderes médicos:
As práticas;
A organização do trabalho;
As formas e modalidades de integração na organização;
A autora introduz-nos ao serviço hospitalar recriando o ambiente propício ao
entendimento dos sentidos de tudo o que ali se passa. Toma como conceitos
fundamentais: negociação, saber formal, saberes, poderes, autoridade, actor e instituição.
Pretende que olhemos para o serviço hospitalar nas suas dimensões de organização de
espaço e do trabalho, circulação de agentes, interacções e comportamentos, etc., com uma
nova visão:
“(…) As disposições espaciais dos lugares, para além de traduzirem a supremacia do
grupo social dominante, traduzem também a organização do controlo social, é o que se
pode concluir pela posição estratégica de certos lugares, autênticos postos de vigilância
dos comportamentos dos doentes.”
Conclusão
O livro “Saberes e Poderes no Hospital” contribui para a análise do processo de
profissionalização, situando-se a um nível de análise centrado nas práticas de
quotidiano do trabalho.
O cumprimento dos direitos sociais dos indivíduos é posto em risco com o aumento do
domínio da cultura hospitalocêntrica. Neste caso, trata-se de riscos epidemiológicos
(epidemias e contaminações) e de riscos sociais (não cumprimentos dos direitos sociais
à saúde). Os riscos sociais decorrem ao nível:
Das organizações (papéis dos profissionais);
Económico (despesas de saúde);
Moral (dessolidarização dos profissionais e dos doentes).
A sobreposição dos dois tipos de riscos específicos das condições de saúde põe em risco
o princípio da equidade em saúde. No que diz respeito à igualdade de situações, mantém-
se nas políticas de saúde contradições estruturais herdadas do passado, reactivadas no
presente e que aprofundam as desigualdades sociais face à resposta a diferentes situações
de saúde.
Kitsch (Vivasnathan, 2008) Ideia que serve para metaforizar a representação interna
que a ciência estabelecida faz sobre os seus produtos e artefactos e os consumos
ritualísticos que deles são feitos, em sociedades de produção e consumo de massas, numa
estratégia de conservação da sua legitimidade, que acaba por converter o vasto espectro
da compreensão e aceitação públicas da ciência.
Numa tentativa de transposição desta ideia para a relação que os indivíduos estabelecem
com a saúde e a ciência na sociedade portuguesa, pode observar-se a emergência de
lugares Kitsch nas estratégias de aproximação a vários tipos de risco. As estratégias de
aproximação a um tipo específico de risco (ex. cancro hereditário) correspondem a
modos diferenciados de gestão do tempo que foram identificados como:
144
O conhecimento do mundo faz-se de palavras. Estas acabam por nos dizer o que o mundo
é quando acreditamos que este é a realidade que as palavras nomeiam.
Ideias Pensamentos virados para o futuro.
Epigramas Encapsulam pensamentos passados.
O que se pretende é tomar o conceito de cidadania como uma ideia virada para o futuro,
tendo em conta a realidade do presente e associá-la à defesa dos direitos universais. Um
dos direitos que os jovens mais buscam é o direito à diferença, que interfere no bem-estar
individual.
Cara vs Coroa/Careta
Na linguagem corrente brasileira é costume os jovens tratarem-se por “cara”,
reconhecendo uma individualidade e uma subjectividade presente no carácter. Este
conceito designa uma pessoa com um estatuto de legitimidade. Do outro lado da moeda,
temos o “careta” que designa uma pessoa cheia de preconceitos e condicionamentos, com
uma idade avançada e ideias retrógradas. Também há os chamados “descarados” que
reivindicam novas experiências de vida, actuando com atrevimento e imprudência.
Esta nova juventude tem demonstrado um decréscimo na confiança nas instituições e
modos tradicionais de participação política. Esta desconfiança gera uma exclusão, que
para muitos jovens serve como oportunidade para reafirmarem as suas identidades.
Identidade individual De uma só voz, de uma posição, de uma subjectividade.
Identidade grupal “Nós” em relação aos “outros" que de nós se diferenciam.
Cidadania Participada
É dado como um jogo de computador que permite aos jovens deter o poder de participar
na criação da sua cidade. Os sistemas bottom up contrapõem-se aos modelos top down.
O mundo bottom up está presente pelas possibilidades de auto-organização de
comportamentos emergentes. No modo top down, a vitalidade das cidades vem dos que
informalmente circulam no espaço público da cidade: a rua. A rua é por jovens
reivindicada como um palco de cultura participativa.
Uma das características do Estado é a de usar espaços lisos como meio de comunicação
ao serviço do espaço estriado. O mesmo se passa quando as políticas de inclusão da
cidadania se alimentam da exclusão, controlando os fluxos de população, bens e serviços
para melhor os dirigir.
Alguns jovens fazem do urbano uma forma de vida, dominada por sociabilidades
minimalistas e expressivas. A expressão é uma forma de libertação, em que as
ritualidades juvenis celebram a diferença e a autonomia. As culturas juvenis são formas
de reivindicação de uma existência, nem sempre objecto de reconhecimento social. E daí,
poder surgir algumas condutas de risco – forma de os jovens exibirem atributos de
coragem e destemor.
Embora os jovens sejam considerados dependentes de socializações, eles reclamam
direitos de autonomia. Foi através da exposição aos media e às novas tecnologias que
os jovens ganharam esse poder.
Cidadania trajectiva O urbano é um tecido de trajectos. As redes sociais que ligam
os indivíduos são compostas por um trajecto, feito de contactos, aproximações e
deambulações.
ter sempre por referência o chão que elas pisam. As intervenções políticas mobilizam
instrumentos, medidas ou princípios orientadores de acção. Existe diferentes tipos de
contextos nessas orientações:
Acessível – Conhecermos o que está em jogo.
Determinístico – Algumas acções têm efeitos determinados.
Estático – O contexto é sempre o mesmo.
Discreto – Há um número fixo de acções possíveis.
Já os contextos da acção humana são tudo ao contrário: inacessíveis, não determinísticos,
dinâmicos e não discretos.
Razões Causas ou constrangimentos incontroláveis, cuja força faz com que os seus
efeitos sejam inevitáveis apesar da acção racional ou, pelo menos, autónoma de um
indivíduo.
A saúde é cada vez mais encarada não como um estado normal, “mudo”, mas como um
resultado trabalhado de um investimento activo do corpo, no self e na relação de ambos
com o meio. Dá-se então um enfoque na prevenção, melhoria e superação dos limites do
corpo para a doença.
150
É revelado muitas vezes uma vontade do sujeito agir sobre si e sobre as suas próprias
condições existenciais. Focando as drogas como lugar de cruzamento dos sistemas de
151
Questão do sono
O sono consiste numa condição que só é alcançada se deixarmos de nos concentrar no
desejo de a obter. Esta só pode ser conseguida quando abdicamos dele e não através do
seu autocontrolo. A tentativa de transformar o sono numa mercadoria que se pode adquirir
levou-o a um complexo projecto de gestão. Neste projecto mobilizam-se cientistas e
indústrias para controlar tanto o seu ambiente interno como externo. A responsabilidade
individual exige vigilância pessoal sobre alimentos, comportamentos e estados psíquicos,
como o stress. O paradoxo reside no facto de ser impossível de gerir. Se o poder é a
capacidade de produzir efeitos, então o sono é a mais indomável das condutas.
A vacinação foi alvo desta lógica enquanto técnica de segurança de eleição nas políticas
sanitárias dos Estados modernos para lidar com epidemias e doenças infecciosas. Foi
152
imposta e patrocinada pelo Estado como um dos meios privilegiados de gestão de saúde
pública através da implementação de planos nacionais de vacinação.
A questão das vacinas começa por complexificar-se quando o próprio perfil destas se
multiplicou numa série de alvos que redefinem o próprio sentido da vacinação e a
equiparam a outros tipos de intervenções de saúde. O modelo de vacinação universal é
posto em causa não só pela instabilidade das condições geopolíticas mas também pela
emergência de agentes patogénicos desconhecidos – pois também eles não são alvos
passivos da acção humana e evoluem. Daí que as vacinas não possam mais ir ao encontro
das expectativas desproporcionadas que viam nelas a solução para a prevenção das
doenças infecciosas.
A questão da vacinação aponta para uma nova e diferente escala, passando das sociedades
para os grupos e indivíduos. Tem havido uma diversificação das atitudes sociais face à
vacinação. Esta questão tem sido posta à prova por grupos com filosofias de vida
alternativistas ou perspectivas religiosas particulares, por transformações na relação
ciência-sociedade e na confiança nos sistemas.
Cada grupo social irá conter determinadas estratégias simbólicas ou sistemas de ideias,
relativamente coesos, acerca do corpo e da saúde. Vai existir uma examinação dos
sentidos e experiências na base da aceitabilidade social das vacinas. Irá ocorrer uma
aceitação ou uma não-aceitação vacinal, correspondendo a duas faces de um mesmo
fenómeno.
Estas mudanças no envolvimento com a vacinação levam a uma cidadania mais assertiva,
que desafia um poder regulador estatal sobre o corpo e a pessoa, vivido como demasiado
autoritário, distante e opaco. Ao observar o quadro desenhado pelas políticas de vacinação
e as suas contestações (certas vacinas e certas maneiras de as administrar) é possível
salientar a relevância da ideia de “aceitabilidade” em vez do pressuposto de oposição a
um poder, inerente a uma “resistência”.
A biomedicina distingue-se dos outros modelos médicos por ter o seu enfoque principal
na biologia humana como processo físico/mental e no dualismo entre o corpo e a mente,
além da sua perspetiva etiológica como um processo único entre causa, patologia e
tratamento (Kleinman).
O desenvolvimento do campo da antropologia da saúde como uma área com a sua
própria especificidade teórica e conceptual é recente, no entanto já Rivers e,
posteriormente, Ackerknecht haviam pesquisado sobre a medicina nas culturas não
europeias, chamadas primitivas. Estes apresentavam uma perspetiva holistica e
argumentavam que as ideias e práticas de saúde e doença são ligadas ao contexto cultural
no qual se encontram e não são fenómenos fragmentados.
Nesta nova visão o próprio significado das coisas não é dado, mas depende do contexto e
emerge da interação social, as pessoas criam e comunicam os significados das suas
experiências através da interação, a cultura não é uma coisa dada. A cultura é um sistema
de símbolos fluidos e abertos à reinterpretação, pelo que a noção de tradição passa a ser
diferente, a tradição vai continuamente sendo recriada e nesta recriação a ação humana
não é determinada. A cultura não é mais uma unidade estanque de valores, crenças,
normas, etc, mas uma expressão humana frente à realidade. É uma construção simbólica
do mundo sempre em transformação, é um sistema simbólico fluido e aberto. Também
central neste conceito de cultura é o enfoque no indivíduo como um ser consciente que
percebe e age. A doença é vista dentro desta perspetiva como uma construção
sociocultural e subjetiva. Esta visão de cultura, que ressalta a relação entre perceção/ação,
heterogeneidade e subjetividade, tem várias implicações na nova visão sobre saúde e
doença.
A tradição vai continuamente sendo recriada e, nesta recriação, a ação humana não é
determinada.
Análise com enfoque na praxis (a relação entre a procura do significado dos eventos e a
ação):
Esta abordagem enfatiza os aspetos dinâmicos e emergentes;
A cultura emerge da interação dos atores que estão a agir em conjunto para
encontrar soluções;
155
Considerações finais
A antropologia atualmente conceitua a saúde como resultado da articulação entre o
biológico, o cultural e a experiência subjetiva. A noção de doença como experiência tem
158
outra implicação na prática clinica. É necessário olhar os pacientes como seres humanos
que retêm informações importantes sobre as suas aflições. É necessário que os
profissionais de saúde desenvolvam uma competência cultural como parte da sua prática
clínica. O método antropológico no atendimento clínico implica uma postura de respeito
e reflexão, uma atitude de ouvir e aprender com as narrativas que os pacientes contam. É
necessário pôr fim às atitudes e práticas etnocêntricas que dominam o exercício da
biomedicina, num esforço de relativizar os nossos saberes sobre as doenças e os pacientes.
Quando num determinado momento histórico surge uma doença que se apresente
misteriosa, cuja origem seja obscura e para a qual ainda não estejam disponíveis
terapêuticas eficazes, as mitologias sociais desenvolvem um trabalho ideológico de
recuperação do fenómeno no quadro social da sua existência coletiva, atribuindo-lhes
significados que a individualizam e fornecem caracterização social.
o Talcott Parsons
A doença aparece conceptualizada como desvio social, os processos terapêuticos como
formas de controlo social e as relações sociais entre o médico e o doente organizam-se
segundo um modelo de interação social onde surgem bem definidos os respetivos papéis.
Ao papel social atribuído ao médico é conferida uma importância especial.
A situação de doença é uma situação de ameaça ao normal e efetivo desempenho dos
papéis e tarefas para os quais os indivíduos foram socializados. Esta situação torna-se
assim uma situação de dependência e é submetida a um controle rigoroso. Parsons
diferencia as doenças físicas e orgânicas.
confrontação das teorias e dos métodos da sociologia médica com o novo panorama dos
factos sociais e das novas realidades de saúde-doença.
Os três setores de assistência à saúde Kleinman sugeriu que, ao se olhar para uma
sociedade complexa, é possível identificar três setores sobrepostos e interligados de
assistência à saúde: o setor informal, o setor popular (folk) e o setor profissional. Cada
setor tem suas próprias formas de explicar e tratar a falta de saúde, definindo quem é
a pessoa que cura e quem é o paciente, especificando o modo como devem interagir
durante o encontro terapêutico.
Tcharte: afirmava que a saude das pessoas refletia por um lado a qualidade das suas
relaçoes com os outros, pelo outro era um espelho do proprio equilibro interior. As suas
interpretações não derivavam de uma concepção de doença como algo fechado, mas
levavam em conta ao mesmo tempo a situação biologica, psicologica e social do
paciente e do seu grupo, inserindo aquele episodio de sofrimento numa rede de
conexoes ampla que junta o passado com o presente, a memoria individual e colectiva e
os multiplos dominios da experiencia que o individuo pode atravessar.
O sistema médico
Conforme já foi observado anteriormente, o sistema dominante de atendimento em
saúde em qualquer sociedade não pode ser estudado isoladamente dos outros aspetos
daquela sociedade, pois o sistema médico (ou setor profissional de assistência em saúde)
não existe num vácuo cultural e social, ele é expressão dos valores e da estrutura social
da sociedade em que surgiu, sendo, em certa medida, um modelo em miniatura da mesma.
Seja qual for o tipo de sociedade, o sistema médico não apenas reflete esses valores e
ideologias básicos, como também contribui para a definição dos seus contornos e para a
sua manutenção.
O pessoal neste setor está organizado em hierarquias semelhantes à estratificação da
sociedade maior. Ao lidar com a população, o sistema de saúde reproduz muitos dos
preconceitos sociais subjacentes, assim como os conceitos sociais do que seja bom ou
mau em termos de comportamento. A medicina contemporânea, alem de controlar
microrganizações, também pretende controlar o comportamento da população,
especialmente pela medicalização do comportamento desviante e de muitos estágios
normais do ciclo vital (ex: gravidez).
A fim de se compreender qualquer sistema médico, deve-se sempre considera-lo no
contexto dos valores básicos, da ideologia, da organização politica e do sistema
165
A profissão médica
Dentro do sistema médico, aqueles que exercem a medicina formam um grupo à parte,
com seus próprios valores, conceitos, teorias sobre as doenças e regras de comportamento,
além de uma organização hierárquica dos papéis de cura. Pode então considerar-se que
formam um grupo profissional, definido por Foster e Anderson como um grupo baseado
ou organizado em torno de um corpo de conhecimentos especializados que não é
facilmente adquirido e que, uma vez nas mãos de praticantes qualificados, atende às
necessidades de clientes (ou presta serviços a clientes). Possui também uma organização
corporativa de pessoas conceitualmente iguais, que existe para manter o controlo sobre
os campos de especialidade, promover seus interesses comuns, manter o seu monopólio
de conhecimento, estabelecer as qualificações exigidas para a admissão (como no caso da
habilitação de novos médicos), proteger seus membros contra a incursão e a concorrência
de outros e monitorar a competência e a ética dos próprios membros. Cada grupo de
paramédicos (enfermeiros, parteiras, fisioterapeutas, assistentes sociais… ) tem o seu
próprio corpo de conhecimentos, clientela, organização de colegiado e controle sobre uma
área de competência, mas, em geral, menos autonomia e poder que os médicos.
O hospital
Na maior parte dos países, a principal estrutura institucional da medicina científica é o
hospital. Ao contrário do que acontece nos sectores informal e popular, a pessoa doente
é separada da família, dos amigos e da comunidade num momento de crise pessoal.
a sua própria linguagem. Há maneiras diferentes de ver o hospital e muitos papeis que ele
desempenha em diferentes países, culturas e comunidades. Assim como pode ser visto
como um local onde as doenças são curadas e o sofrimento é aliviado, o hospital também
pode ser visto como:
Um refúgio: oferecendo asilo aos incapazes de lidar com o mundo lá fora devido
à fraqueza de saúde física ou mental ou à idade avançada;
Uma fábrica: uma instituição industrial que produz pessoas curadas a partir de
matéria-prima – pessoas doentes;
Um negócio: orientado para o maior lucro possível a partir da prestação de
atendimento médico (especialmente no setor privado e industrial);
Um templo: dedicado a uma cosmologia religiosa específica (ex: ayurveda) ou
uma tradição de tratamento específica ou ao poder transcendente da ciência sobre
as forças da doença e da morte;
Uma universidade: dedicado não somente ao ensinamento de médicos e
enfermeiros, mas também à instrução moral dos pacientes;
Uma prisão: que protege a sociedade ao confinar aqueles considerados como
loucos, dissidentes ou muito pouco convencionais, contra a vontade desses;
Uma cidade: uma metrópole em miniatura, com várias alas, cada uma com a sua
própria administração, burocracia, trabalhadores, etc.
Quaisquer que sejam as suas variações locais, e a despeito de como é visto, o hospital
continua a ser a instituição da biomedicina por excelência.
Ainda que de grande benefício tanto para os pacientes como para os clínicos, esse
processo também contribuiu para um estreitamento da visão médica – para o
reducionismo, a dualidade entre o corpo e mente e a objetificação do corpo, que são tão
características hoje em dia da perspetiva que se tem sobre a doença. A tecnologia médica
moderna tem, portanto, custos sociais e económicos importantes para aqueles que a
utilizam. A tecnologia de diagnóstico também tem levado à criação de uma nova categoria
de pacientes. São os produtos da tecnologia como as tiras de papel dos
eletroencefalogramas e eletrocardiogramas, as chapas dos raios X e os relatórios dos
exames de sangue. Às vezes, esses materiais recebem mais atenção médica do que os
pacientes propriamente ditos.
Muitas das novas tecnologias da medicina têm resultado de impactos significativos, tanto
positivos como negativos, sobre a maneira como a própria medicina é exercida. Essas
tecnologias influenciam o modo como os médicos diagnosticam e tratam os problemas
de saúde e como se relacionam com os pacientes. Elas podem também ter contribuído, de
certa maneira, para o distanciamento entre paciente e profissional de saúde.
Redes terapêuticas
Em qualquer sociedade, quando as pessoas adoecem e não resolvem seus problemas de
saúde pelo autotratamento, fazem escolhas sobre quem consultar para obter ajuda nos
setores informal, popular e profissional. As pessoas enfermas frequentemente utilizam
tipos diferentes de curandeiros de uma só vez ou em sequência. O uso simultâneo de
múltiplas formas de terapia é muito comum na maior parte das sociedades complexas,
especialmente diante de enfermidades graves.
Os doentes estão no centro das redes de terapêuticas que estão conectadas aos três setores
do sistema de assistência á saúde. As pessoas doentes fazem escolhas, não apenas entre
tipos diferentes de curandeiros (informal, profissional ou popular), mas também entre os
diagnósticos e as recomendações que fazem sentido para elas e as que não fazem. O
resultado pode ser de não adesão ao tratamento ou de passagem a outro segmento da rede
terapêutica.
a analisar a saúde, doença e cuidados, como algo que tenha várias origens, formas
e resultados;
O monoteísmo e a ordem monotípica, adotam uma abordagem direta à doença e
ao cuidado. A biomedicina decidiu que as vantagens de incitar ideias médicas,
para uma conclusão lógica e para estabelecer com precisão o que é certo e
fundamental, podem ser certificadas;
A principal diferença entre e a biomedicina e medicinas orientais, é que a
biomedicina insiste no materialismo como, base do conhecimento. A biomedicina,
também é caracterizada pelo seu requerimento de que uma doença específica, só
pode ter na sua origem, uma determinada corrente causal. Por último, a sua
centralidade na ideia de Natureza;
Alguns aspectos importantes da biomedicina norte-americana são os fatores ‘soft’
e os ‘hard’. Por ‘soft’ entendem-se as conversas e as actividades cognitivas,
enquanto que por ‘hard’ deduz-se procedimentos que ‘entram’ no corpo, como as
cirurgias;
‘Soft’ ► áreas da psicologia e de cuidados primários (pediatria e medicina
familiar) ►são as que obtêm salários mais baixos, e as que atraem mais o sexo
feminino;
‘Hard’ ► especialidades relacionadas com cirurgia, e a patologia responsável, por
exemplo, por autópsias ► salários mais altos, onde é mais comum encontrar-se
homens;
Dualismos presentes nesta lógica: homem e mulher, mente e corpo, força e
fraqueza;
Natureza, segundo a biomedicina, é física. A biologia é visível, mesmo que seja
com a ajuda do microscópio, e é nesta que encontramos as respostas mais viáveis.
As outras realidades (psicológica, social e moral) são questionáveis;
O autor considera este ponto de vista, reducionista e desumano, já que não se
pode aplicar a, por exemplo, doentes crónicos;
Em muitas sociedades, estas doenças são desvalorizadas, e os doentes não
recebem o tratamento adequado;
Nos ‘curandeiros’, nos mais recentes trabalhos etnográficos, verifica-se este
problema numa menor dimensão. Nestes métodos mais tradicionais, nota-se uma
maior focalização na experiência humana e nas suas interacções. O autor conclui
171
que, as sociedades menos avançadas a nível tecnológico, são as que têm mais
humanidade.
No entanto, este modo de pensar, não têm em conta problemas socias e político-
económicos. Vai tentar encontrar causas intrínsecas ao doente, onde estas não
existem;
Os biomédicos aceitam, passivamente, o tipo de relações que desenvolvem com
os seus clientes, consentem que esta relação seja apenas uma relação de
consumismo, característica da economia.
Como resultado, a medicina foi alterada, deixo de dar ênfase ao ser humano em
si, à doença e ao cuidado para passar a centrar-se em prioridades políticas e
económicas.
Síntese
De uma forma geral a medicina pode ser definida como a organização de práticas e
decisões terapêuticas universais na humanidade. Foram identificadas uma serie de
características gerais que aparenta ser partilhadas pelas diferentes sistemas sociais de
cura:
Características através das quais a saúde é normalizada e a doença diagnosticada;
Uma narrativa que sintetiza as queixas, atribuindo-lhes significado cultural –
síndromes;
Teorias, idiomas e metáforas que validam as ações da prática terapêutica e através
das quais a sua eficácia é avaliada;
Regras do cuidar e cuidadores;
Compromissos interpessoais que constituem uma vasta variedade de relações
terapêuticas e formas de interação clinica;
Uma enorme panóplia de terapias que combinam perfeitamente os aspetos
simbólicos e práticos da ação, cuja intenção é controlar os sintomas ou a sua
origem.
175
São impressionantes as diferenças que existem entre as várias tradições de cura entre as
diferentes sociedades. Diferentes contextos sociopolíticos, culturais e morais contem
diferentes formas de medicina.
Cultura pode ser definida como um conjunto de elementos que mediam e qualificam
qualquer atividade, física ou mental, que não seja determinada pela biologia, e que seja
compartilhada por diferentes membros de um grupo social. Trata-se de elementos sobre
os quais os atores sociais constroem significados para as ações e interações sociais
concretas e temporais, assim como 7 sustentam as formas sociais vigentes, as instituições,
e seus modelos operativos. A cultura inclui valores, símbolos, normas e práticas.
É importante ter em consideração que:
A cultura é aprendida – não se pode explicar as diferenças do comportamento humano
através da biologia de forma isolada.
A cultura é compartilhada – pelos indivíduos formadores de uma sociedade que as
potencialidades em atividades específicas, diferenciadas e simbolicamente inteligíveis e
comunicáveis.
A cultura é padronizada – pois consiste numa criação humana, partilhada por grupos
sociais específicos. As formas materiais, os conteúdos e atribuições simbólicas a ela
atrelados são padronizados a partir de interações sociais concretas dos indivíduos, assim
como resultante da sua experiência em determinados contextos e espaços específicos.
A cultura organiza o mundo de cada grupo social, segundo a sua lógica própria. Trata-se
de uma experiência integradora, total e totalizante, formadora e mantedora de grupos
sociais que compartilham, comunicam e replicam suas formas, instituições e os seus
princípios e valores culturais. Dado o seu caracter dinâmico e as suas características
político-ideológicas intrínsecas, a cultura e os elementos que a caracterizam são fontes
mediadoras de transformações socias, altamente politizados, apropriados, alterados e
manipulados por grupos sociais ao longo da história da sociedade, segundo diretrizes
traçadas pelos atores sociais que fazem seu uso para estabelecer novos padrões
socioculturais e modelos societários.
cultura. É a cultura de um grupo que provê aos atores sociais estabelecer um sistema
classificatório e valorativo. A perspetiva antropológica requer que, quando se deparar
com culturas diferentes, não se faça julgamentos de valor tomados com base no próprio
sistema cultural, passando a olhar as outras culturas segundo os seus próprios valores e
conhecimentos – através dos quais expressam uma visão do mundo própria que orienta
as suas práticas, conhecimentos e atitudes. Este procedimento denomina-se relativismo
cultural.
com a saúde, a organização de papéis dos profissionais de saúde nele envolvidos, suas
regras de interação, assim como as relações de poder inerentes. Esta dimensão do sistema
de saúde pode também incluir especialistas não reconhecidos pela biomedicina
(curandeiros, benzedeiras, pais de santo, padres). No universo de cada grupo social os
especialistas têm determinados papéis e os pacientes tem determinadas expectativas
quanto ao especialista, e quanto aos métodos terapêuticos.
Conclusões:
Os valores, conhecimentos e comportamentos culturais atrelados à saúde formam um
sistema sociocultural integrado, total e lógico. Portanto, as questões relativas à saúde à
doença não podem ser analisadas de forma isolada das demais dimensões da vida social,
mediadas e permeadas pela cultura
Alterações
demográficas
Revolução Alterações
industrial familiares
Alterações de
1850-1914 saúde pública
(séc. XIX)
Ciências sociais
reconhecidas nas
Revolução universidades
conhecimento Formação da
antropologia e
sociologia
institucionalização (séc.
XIX): França, Grã-Bretanha,
Alemanha, Itália e EUA
Ciências sociais
Diversidade de disciplinas:
história, economia,
sociologia, ciência política
e antropologia
Síntese:
Século XVII e XVIII:- As ciências naturais e a filosofia encontravam-se unidade
para tentar encontrar as leis da natureza.
- A Revolução francesa levou à necessidade de uma
reorganização social, o que levou ao desenvolvimento das
ciências sociais.
Século XIX: Vou uma hierarquização entre as ciências (sendo que as ciências
naturis eram vistas como tendo o “conhecimento legitimo”).
A antropologia nasceu fora das universidades, com os viajantes. Mostrou ser uma
necessidade devido às conquistas europeias.
Cap. 1
1. Todas as ciências (sociais) têm como objetivo comum o conhecimento da realidade,
sendo de especial importância para as ciências sociais a irredutibilidade entre o saber
(conhecimento) e o ser (realidade).
O indivíduo e a sociedade
1. As resistências à explicação sociológica
a. Análise de comportamentos humanos em termos de pertença a grupos e de
organização de grupos é impossível porque cada indivíduo é diferente de
qualquer outro.
b. Pressões sociais, por predominância do individualismo, exercidas nos
indivíduos dificultam a aceitação de novas ideias.
c. Pensamento de que «todo o indivíduo é singular», logo, não pode ser
explicado sociologicamente.
d. Explicações sociológicas negam o livre-arbítrio.
2. A omnipresença do social
a. Reconhecer a omnipresença do social e a importância das explicações
sociológicas para a compreensão dos comportamentos humanos e dos
184
Cap. 3
185
1. Através de cada ciência social, a realidade social é conhecida de uma forma diferente.