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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
sociológico… ............................................................................................................. 22
EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 49
EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 56
9.4 Michael Apple e a nova sociologia da educação nos Estados Unidos ................ 59
FREIRE ..................................................................................................................... 77
13 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 89
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
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A constituição da Sociologia como ciência
Os precursores da Sociologia
6
A institucionalização da Sociologia
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estudo o homem e suas interações sociais. Seus precursores foram Augusto Comte
e Émile Durkheim.
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA
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sociais que surgiam, as caças, os perigos vividos, os espaços visitados, as viagens
empreendidas. As representações pictóricas podem datar do período Paleolítico, que
se estendeu da origem do homem até 10.000 a.C. Ou seja, o desejo de expressar,
gravar e compreender a história humana está presente entre indivíduos desde os
primórdios das organizações sociais mais elementares.
É possível que a identificação do indivíduo como parte de um grupo seja um
fator preponderante para a inclinação à reflexão a respeito dos contextos em que o
grupo se insere. A expressão livre dos laços entre humanos deu espaço à reflexão,
elaborada pelos filósofos da Antiguidade Clássica, sobre a pureza, a moral e a
função de cada comportamento. Esse tipo de pensamento norteou as leituras sobre
interações sociais até meados do século XVIII.
O Iluminismo, também chamado de Século das Luzes, trouxe novas
possibilidades de interpretação da natureza do comportamento humano. Nesse
período, passa-se a considerar a complexidade das relações humanas, normalmente
baseadas na estrutura de organização política do Estado. Mas são as rápidas
transformações decorrentes da Revolução Industrial as responsáveis pelo grande
interesse em medir, projetar e identificar formas de relações e comportamentos
sociais. Devido à Revolução, se altera o modo de produção, consumo e organização
social e política. E isso tem um motivo: o caos e os desequilíbrios sociais,
desencadeados por situações nunca antes conhecidas. Por isso, pensadores
passaram a observar os comportamentos sociais em busca de uma resposta para as
transformações que se sucediam. (MARTINS, J. S; ECKERT, C; NOVAES, S. C;
2005).
As dinâmicas sociais passaram a ser foco não apenas de observação, mas de
estudo. Por que essas dinâmicas acontecem da forma como acontecem? Quais são
os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos as
tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revoluções? E,
para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a questão
preponderante era: como reorganizar ou reestabelecer as sociedades após o caos?
Esses são alguns dos questionamentos que nortearam a definição de metodologias
para a observação e a análise de dinâmicas sociais e que culminaram na
delimitação de um campo científico específico, a sociologia. A ciência das relações
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sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto instável, abstrato,
difícil de ser controlado.
Por isso, alguns autores que analisaram brilhantemente seus contextos
sociais e históricos tiveram seus estudos utilizados como base para a construção da
sociologia como campo científico, e seus métodos foram considerados integrantes
do aporte que deu origem a essa área de estudo. Entre eles, destacam-se Auguste
Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx
não define claramente etapas ou métodos de análise e interpretação de interações
sociais com o objetivo de criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros
pesquisadores. Mas a forma de organização de sua leitura sobre as estruturas
sociais oferece tantos dados para o fortalecimento da sociologia como ciência que
sua obra se equipara, nesse sentido, às dos outros três estudiosos. (SILVA, 2005).
A seguir, você vai conhecer melhor a contribuição de cada um deles para o
estabelecimento e o fortalecimento da sociologia como campo científico. Tenha em
mente que, com exceção de Durkheim e Weber, os autores mais importantes para a
formação das teorias sociológicas clássicas não faziam parte da mesma geração e
analisavam contextos sociais, políticos e históricos distintos.
Fonte: www.tomlivre/auguste-comte.br
Fonte: www.jornal.usp.br
O francês Émile Durkheim também tinha origem judaica, mas declarava não
praticar nenhuma religião. Assim como Marx, estudou filosofia, porém seus trabalhos
se voltavam inteiramente à definição das metodologias de pesquisas e aportes
técnicos da sociologia. Sua carreira acadêmica se inicia com estudos voltados para
a ciência da educação. Criador da chamada “escola de sociologia francesa”,
Durkheim foi o primeiro acadêmico a ocupar a cátedra de ciências sociais na
Universidade de Sorbonne. Durkheim dialoga em seus trabalhos com Comte e Marx,
mas tem um alinhamento maior com as teorias positivistas. Ele compreende que a
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sociologia tem objetos próprios e diferentes daqueles do direito, da filosofia e da
economia. Mas, diferente de Comte, Durkheim não acreditava em leis sociais, e sim
na determinação de métodos e etapas para a observação, a classificação e a
comparação dos fenômenos sociais, o que constituiria a verdadeira ciência
sociológica. A tipificação de comportamentos é um dos elementos usados pelo
pensador para chegar à observação científica dos fenômenos sociais. (SILVA,
2005).
O alemão Max Weber estudou história, economia e direito. Sua origem foi
intelectualmente privilegiada, já que, como filho de um político do Partido Nacional
Democrata alemão, pôde ter contato com estudiosos e intelectuais de seu tempo.
Weber foi para os Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Lá, passou a
analisar aspectos de uma sociedade capitalista, comparando-os às estruturas
tradicionais morais e culturais da Alemanha, cuja corrupção ou enfraquecimento
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durante a República de Weimar o preocupava. Weber transcende o positivismo de
Comte, o materialismo de Marx e o funcionalismo de Durkheim, mas admite as
contribuições de cada um desses aportes, dialogando com seus teóricos em alguns
trabalhos. O pensador alemão criou a chamada sociologia compreensiva, um
método de análise que compreende as construções simbólicas de maneira subjetiva.
Ou seja, é um método que admite que o aparato sistêmico de significação de
fenômenos sociais é o que dá sentido à ação, e ele pode ser diferente em contextos
sociais, políticos e históricos distintos. Por isso, Weber contraria o determinismo do
materialismo histórico de Marx e a impossibilidade de transcendência das estruturas
sociais de Durkheim. Para ele, o espaço que Marx deu aos conflitos entre classes
como motor da história foi dado aos processos de racionalização dos fenômenos
sociais, em associação às dinâmicas de dominação social.
Comte viveu todo o processo de erosão do poder da nobreza e da monarquia
francesa, bem como os impactos resultantes dos movimentos que culminaram na
Revolução Francesa, na ruptura da monarquia e na constituição da república no
país. Revoluções não são transições, não são alterações que ocorrem aos poucos;
não há espaço ou tempo para acomodações de mudanças. Para que eclodam, é
preciso que haja um momento anterior de caos. E os momentos subsequentes à
ruptura e à instalação de um novo modelo de organização política e social costumam
também ser pautados por desorganização e incerteza. (SILVA, 2005).
Para Comte, porém, independentemente dos objetivos de um movimento
político e das alterações que ele poderia trazer às organizações sociais, deveria
haver espaço para se pensar em planejamento social e organização, pilares que
construiriam o bem-estar social. A racionalidade deveria nortear as ações e, assim,
estabeleceriam-se planos e etapas que ordenariam e manteriam seguras e
controladas quaisquer alterações na organização social.
Como você viu, Marx, Weber e Durkheim buscavam compreender as causas
e consequências das interações sociais. Eles verificavam o modo como tais
interações se conectavam com um contexto histórico comum e avassalador para as
estruturas tradicionais de organização social: a modernidade. Por isso, alguns
elementos estão presentes nas abordagens desses autores. Entre eles, você pode
considerar: as características estruturais e a expansão do capitalismo, o processo de
urbanização, a expansão da produção, a saturação do consumo doméstico e as
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expansões territoriais. Essas transformações deram novas formas e sentidos às
interações sociais. Os mesmos elementos também tiveram impacto na organização,
na estrutura e na função do Estado, de modo que a democracia e o liberalismo são
pautas para as análises sociológicas. (SILVA, 2005).
Fonte: www.todamateria.com.br
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3.2 A realidade e a perspectiva sociológica
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desafio girava em torno do caráter teórico-metodológico da pesquisa. Como
interpretar narrativas orais, interpretar silêncios, identificar esquecimentos ou
resistências? Como transformar falas em dados a serem analisados, constituintes de
uma trajetória?
Como afirma Benjamin (1994):
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É apenas nas estruturas de um campo que se define o sentido dessas
posições sucessivas: as atitudes, o trabalho e tudo aquilo que torna o campo
interessante o suficiente para ser objeto de uma pesquisa. A coerência teórica dessa
metodologia se dá pelo fato de que o tempo do devir social dos indivíduos e dos
grupos já está estruturado por normas, definições sociais, representações ou
oportunidades típicas socialmente condicionadas de desenvolvimento ou de
orientação biográfica. Apesar de muito elucidativas, é preciso estar atento ao fato de
que as biografias, autobiografias e histórias de vida não revelam toda a vida de um
indivíduo, mas apenas uma versão selecionada de como ele deseja se apresentar.
Naturalmente, esse não é um processo descartável, já que também é importante
conhecer e verificar as interpretações que as pessoas fazem de sua própria
experiência para explicar parte do comportamento social. (CANDIDO, 2006).
Uma das maiores dificuldades das ciências humanas ao se estabelecerem
como disciplinas foi a criação e a adequação de ferramentas metodológicas para
tratar de seus objetos de pesquisa. A ideia era que, ao mesmo tempo em que
normatizassem a produção científica e acadêmica, as ferramentas também
legitimassem tais disciplinas, mostrando normatização e controle da pesquisa. Havia
grande dificuldade em mostrar que, embora afastadas das ciências naturais,
necessitando de abordagens diferentes, as ciências cujos objetos eram os homens e
seus pensamentos, suas construções e interações sociais, podiam ser confiáveis; a
volatilidade do objeto consistia mais em uma oportunidade do que em um problema.
Foi preciso construir modelos de certa forma rígidos, que conferissem legitimidade
às pesquisas das novas disciplinas que se formavam — por muitas vezes, a quebra
desses modelos mostrava certos vieses nas pesquisas. Depois da criação da
sociologia como disciplina, ocorreu o processo de distinção entre ela e as demais
ciências, a partir da formulação de metodologias próprias ainda no século XIX. A
interdisciplinaridade é retomada a partir de fins do século XX, tornando as análises
mais ricas e aprofundadas.
Mas qual é a trajetória da sociologia como disciplina? De acordo com Candido
(2006), pode-se dividir o processo de constituição da sociologia brasileira como
ciência em dois períodos. No primeiro, entre 1880 e 1930, a sociologia seria “[...]
praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em
formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira”
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(CANDIDO, 2006, documento online). Nesse período, não haveria ensino nem
pesquisa empírica acerca de aspectos delimitados da realidade contemporânea. O
segundo período se construiria após a década de 1940, e nesses 10 anos entre uma
fase e outra é que a sociologia se incorpora ao ensino superior e passa a ser tratada
como instrumento de análise social.
Nessa fase, surgem os primeiros sociólogos de formação brasileira, que
fomentam o segundo período da sociologia no País. Ainda segundo Candido (2006),
a sociologia como campo científico sofre duas influências tão decisivas que a
marcam permanentemente: a do direito e a do evolucionismo. No século XIX, o
esforço de compreender o Estado, o universo econômico e as estruturas políticas do
País foi, essencialmente, do jurista, que o autor determina como “[...] o intérprete por
excelência da sociedade, que o requeria a cada passo e sobre a qual estendeu o
seu prestígio e maneira de ver as coisas” (CANDIDO, 2006, p. 273). Contudo,
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mesma variável geral: a sociologia. Mas a sociologia é uma ciência? Esse
questionamento sobre a legitimidade da sociologia como ciência é para onde o olhar
de Romero (2001) se direciona, criticando os opositores da “ciência da sociedade”.
O maior crítico da sociologia brasileira é o poeta e jurista Tobias Barreto. A crítica do
jurista sergipano estaria especialmente desenvolvida em “estudos alemães” e é
apresentada no ensaio Variações antissociológicas. Seus argumentos contrários à
“ciência da sociedade” eram os seguintes:
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“[...] não há dúvida de que o jurista de Estudos de Direito tem em grande
parte razão. Mas não se deve concluir do abuso para a condenação geral
da coisa. Porque alguns fantasistas andam por aí a inventar engraçadas e
insustentáveis leis sociológicas”.
1. Matemática
2. Astronomia
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3. Física
4. Biologia
5. Sociologia
1. ciências abstratas
2. ciências abstrato-concretas
3. ciências concretas
1. observação
2. observação artificial
3. experimentação
4. comparação
5. classificação
6. indução
7. dedução
Fonte: www.mundociencia.com.br
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4 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
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É óbvio que a reflexão sobre os fenômenos sociais não começou com a
sociologia, no século XIX. Antes que Auguste Comte inventasse, na primeira
metade daquele século, a palavra sociologia para denominar a nova ciência
e proclamasse a necessidade, a conveniência e a possibilidade de
aplicação dos princípios da ciência – até então aplicados apenas ao estudo
dos fenômenos da natureza – ao conhecimento da sociedade, os filósofos
se ocuparam da explicação dos fenômenos sociais. As reflexões de Platão,
de Aristóteles, por exemplo, na Antiguidade, ou mesmo de Maquiavel, já no
século XVI, apesar de toda a revisão, no Renascimento, das ideias
tradicionais até então predominantes, são muito diversas das teorias
sociológicas. A reflexão filosófica a respeito da sociedade difere da
sociologia tanto nos resultados quanto, principalmente, na maneira de
alcançá-los.
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Para que possamos entender de forma mais consistente o surgimento da
sociologia, precisamos pontuar alguns aspectos históricos que colaboram para que
isto ocorra. Para essa tarefa iremos nos remeter ao século XVIII e às transformações
que ocorrem na sociedade nos aspectos políticos e econômicos. Claro que, antes
disso, devemos apontar grandes acontecimentos históricos que antecedem o
surgimento da ciência como um todo e que modificam a forma como a sociedade irá
pensar e agir. Entre eles, temos, no século XV, os esforços em busca de expansão
territorial das nações europeias, conhecido como o período das Grandes
Navegações, e o estabelecimento de colônias nas Américas, na Ásia e na África, o
que acelera o desenvolvimento da economia monetária e fortalece a burguesia
destes países.
No século XVI, temos a Reforma Protestante, que marca um rompimento
entre o pensamento ou conhecimento teológico (explicações divinas) e o
conhecimento racional (explicações pela razão do homem). A Reforma Protestante
vai muito além da simples ruptura do modo de pensar da Igreja da época e da
contestação dos poderes papais, pois representa a busca do próprio homem para as
explicações dos fenômenos que ocorrem ao seu redor.
Segundo Tomazi (2000), essa nova forma de conhecimento da natureza e da
sociedade, na qual a experimentação e a observação são fundamentais, aparece
neste momento, representada pelas ideias e pelas obras de diversos pensadores,
entre os quais Nicolau Maquiavel (1469-1527), Galileu Galilei (1564-1642), Thomas
Hobbes (1588-1679), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650).
Junto com esses, há outros dois pensadores que farão a ponte entre esses novos
conhecimentos e os que se desenvolverão no século seguinte: John Locke (1632-
1704) e Isaac Newton (1642-1727). Já no século XVII, percebemos a ascensão da
burguesia comercial nos países europeus, que se estendia a todo o restante do
mundo. Nesta época, irão surgir novos formatos de organização da produção das
manufaturas, criando novos inventos que pudessem aprimorar os processos e
diminuíssem o número de pessoas envolvidas neles.
É quando surgem as primeiras máquinas de tecer, descascar algodão, as
máquinas a vapor, etc. O trabalho mecânico começa a ser utilizado paralelamente
ao trabalho artesanal. O século XVIII começa em meio a toda essa ebulição de
novas descobertas focadas na produção e numa sociedade em modificação,
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proposta pelos eventos anteriores. Da mesma forma, a Revolução Inglesa ocorrida
no século anterior irá inspirar as Revoluções Americanas e Francesas e irá trazer
novos formatos de organização política para as nações.
As transformações nas esferas da produção, a emergência de novas formas
de organização política e a exigência de representação popular dão características
muito específicas a esse século, em que pensadores como Montesquieu (1689-
1755), David Hume (1711-1776), Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), Adam Smith
(1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, procurarão, por caminhos
às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na tentativa de explicá-la (TOMAZI,
2000). Estas tentativas de busca por explicações das novas realidades no século
XVIII citadas pelo autor irão servir de base para o surgimento da sociologia como
uma ciência; ciência esta que nasce em meio à consolidação do sistema capitalista.
No início do século XIX, pensadores como Saint-Simon, Hegel e David Ricardo irão
fazer com que Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) venham a
refletir sobre a sociedade, porém de maneiras muito divergentes.
Comte irá focar seus pensamentos em busca de uma filosofia positiva, que
busca a explicação dos fenômenos e a modificação da maneira de pensar do
homem utilizando as ciências existentes na época e propondo uma reforma prática
das instituições. Outro expoente da sociologia que irá se inspirar nas ideias
propostas por Comte nesta época é Emile Durkheim.
Karl Marx e Friederich Engels, por sua vez, irão analisar os aspectos sociais,
econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, entre outros, sem a preocupação de
definição de uma ciência específica para tal, como a sociologia representava para
Auguste Comte. Suas análises procuraram focar as mudanças nos processos
produtivos, o surgimento da sociedade capitalista, visando fornecer aos
trabalhadores condições de melhor analisar o contexto em que se encontram
vivendo e as relações entre as classes trabalhadoras e capitalistas.
Podemos dizer que a sociologia como ciência, acadêmica, irá afirmar-se nas
obras de Émile Durkheim, na França, e de Max Weber, na Alemanha; ambos
preocupados em integrar a sociologia aos aspectos científicos necessários para
garantir os métodos e teorias necessárias para tal afirmação.
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4.3 Características da sociologia como ciência
30
Fonte: www. casaruibarbosa.gov.br
5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA
É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade
dada, apresentando uma existência própria, independente das
manifestações individuais que possa ter.
Partindo da conceituação dos fatos sociais feita pelo autor, percebemos que o
mesmo pensa a organização da sociedade realizada pelos efeitos de normalização e
padronização sociais estabelecidos nas regras de conduta, nas ideias e
pensamentos que compõem tais fatos. Estes fatos serão sempre exteriores ao
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indivíduo, ou seja, não dependem dos aspectos internos destes, e sim do esforço
coletivo e social no estabelecimento destas normas de convivência criadas e
impostas desde o nosso nascimento.
Os fatos sociais irão apresentar três características: exterioridade,
generalidade e coercitividade. A generalidade diz respeito ao que comentamos
anteriormente, o caráter coletivo que se faz presente e determina, para todos, como
agir neste grupo social. A exterioridade traduz a condição desse ser exercido sendo
o mesmo estabelecido fora da consciência individual, externo às questões pessoais
intrínsecas ao sujeito. A coercitividade, por fim, remete ao dever, à obrigação em
acatar e seguir as determinações que foram estabelecidas na sociedade em que
vivemos. Lakatos e Marconi (1990, p. 65) comentam que:
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indivíduos ou conjunto de indivíduos têm maior ou menor possibilidade de
impor a sua vontade a outros. (VILA NOVA, 2013, p. 86).
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio
condutor aos meus estudos pode ser formulado em poucas palavras: na
produção social da própria vida, os homens contraem relações
determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o
seu ser social que determina sua consciência.
35
Engels, no qual emerge o caráter revolucionário na figura do cientista social como
aquele que deveria propor mudanças radicais na organização social.
36
obtidos com a pesquisa. Acompanhe o esquema na Figura 1 com os passos mais
utilizados numa pesquisa sociológica:
37
Fonte: www.jornaldosudoeste.com.br
6 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Fonte: www.cinevest.com.br
Fonte: kdfrases.com
Fonte: pt.slideshare.net
40
Pode-se afirmar que o trabalho é o ato que o homem executa visando
transformar conscientemente a natureza, é uma ação em que o homem media,
regula e controla seu metabolismo com a natureza.
Fonte: kdfrases.com
41
7 A VISÃO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM
44
Ele buscava uma Sociologia com as mesmas características da física,
química, astronomia. Em As Regras do Método Sociológico estabeleceu as
condições de investigação científica e positiva. Partia do pressuposto de que a
realidade social é idêntica à realidade da natureza e, assim como as “coisas” da
natureza funcionam independentemente da ação da natureza, assim também as
“coisas” da sociedade independem da ação humana. Os fatos sociais devem ser
tratados como coisas, isto é, de maneira totalmente objetiva.
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
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8 O PENSAMENTO DE KARL MARX E SUA RELAÇÃO COM A SOCIOLOGIA
DA EDUCAÇÃO
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As grandes transformações pelas quais passou a história da humanidade
foram as transformações de um modo de produção a outro (...) existiram
três diferentes modos de produção ao longo da história: o modo de
produção escravista antigo (o trabalho era realizado por escravos), o modo
de produção feudal (servidão) e o modo de produção capitalista
(assalariamento) [...]. (RODRIGUES, 2004, p. 40).
O trabalho que sempre foi o meio pelo qual o homem relacionou-se com a
natureza e com os outros homens, é individualmente percebido como algo
sobre o qual o trabalhador não tem controle. O trabalhador foi separado,
pelo capitalismo, do controle autônomo que exercia sobre seu trabalho e
também do fruto deste trabalho. O trabalho é então percebido pelo
trabalhador como algo fora de si, que pertence a outros. A isso, Marx dá o
nome de alienação. Por causa do trabalho alienado a que estão submetidos,
os homens adquirem uma consciência falsa do mundo em que vivem, vêem
o trabalho alienado e a dominação de uma classe social sobre outra como
fatos naturais e passam, portanto, a compartilhar uma concepção de mundo
dentro da qual só têm acesso às aparências, sem ser capazes de
compreender o processo histórico real. A isso Marx dá o nome de ideologia
portanto, é aquele sistema ordenado de ideias, de concepções, de normas e
de regras que obriga os homens a comportarem-se segundo a vontade do
“sistema”, mas como se estivessem se comportando segundo sua própria
vontade. Esta coerção do “sistema” sobre os indivíduos, revela Marx, na
verdade é a coerção da classe dominante sobre as classes dominadas. Por
isso Marx afirma que a ideologia dominante numa dada época histórica é a
ideologia da classe dominante nessa época. (RODRIGUES, 2004, p. 46).
52
a base do processo de alienação do sujeito. Conforme afirma Costa, “[...] a indústria,
a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou separavam o operário dos
“meios de produção” e do fruto de seu trabalho, que se tornaram propriedade
privada do empresário capitalista”. Comparando esse processo com a educação,
apesar de Marx e Engels não terem deixado muitos escritos a respeito da educação,
em alguns textos é perceptível a compreensão de que a educação está vinculada
com as relações econômicas e sociais da época. Desse modo, é possível apontar
que eles compreendiam a educação da mesma forma que compreendiam a
sociedade. A educação era uma das mais importantes formas de perpetuação da
exploração de uma classe sobre a outra. Desde criança, os operários tomariam a
ideologia burguesa como sendo a sua, compreendendo que deveriam apenas servir
à classe dominante. No livro O Capital, Marx analisou as condições em que os
operários viviam e como era a educação dos filhos desses operários, segundo
interpretações de Rodrigues (2004):
Nesse caso, a educação que essas crianças operárias recebiam não passava
de uma perpetuação da ideologia de que existem apenas duas classes, a dos
dominantes e a dos dominados. Os últimos, com a crença que possuem o dever de
servir aos primeiros, deixam-se levar por essa falsa realidade. O proletariado,
vivendo nessa falsa ideologia, acabava por educar também seus filhos com tais
concepções.
As crianças também cresciam alienadas e sujeitas a trabalharem o resto de
suas vidas em uma fábrica, recebendo um salário mísero. Porém, Marx não via a
educação apenas como alienação do sujeito, mas acreditava numa educação
voltada para a libertação e emancipação do ser, o qual poderia se libertar das
explorações e da visão sistêmica capitalista.
Segundo Santos, a essência do homem é o conjunto das relações sociais que
ele estabelece, é um ser que não encontra-se acabado, que está em um processo
53
de construção de si mesmo, o homem é um ser em transformação (2005, p. 1).
Ainda segundo Santos, para compreender o processo educativo, deve-se
compreender o processo de produção da existência do homem, ou seja, o trabalho e
as relações que o homem mantém.
Assim, Marx acreditava que esse seria o ponto inicial para que o operário
aprendesse que não é uma mera vítima de exploração da burguesia, isto é um
processo educacional que o tornasse capaz de compreender todo o processo
produtivo das fábricas burguesas. Segundo Rodrigues, para Marx, esse novo saber
seria de fundamental importância para romper a alienação do trabalho, e iniciar o
processo emancipatório. Utilizamos aqui o exemplo dado por Rodrigues:
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Portanto, a educação que Marx desejava deveria contemplar três dimensões:
a mental, a física e uma educação tecnológica. A educação mental se voltaria para a
intelectualidade, a leitura, a reflexão. A educação física seria a prática de esportes, e
a tecnológica, seria o ensino do manejo das maquinarias utilizadas nas indústrias
para a produção. Com essa educação em três dimensões, acreditava-se que os
filhos dos operários estariam com um conhecimento acima dos filhos dos burgueses,
pois estes últimos não possuíam a educação tecnológica. Eles não possuiriam a
práxis da educação. Marx acreditava que, quando os operários tomassem o poder, o
ensino seria público e igualitário a todos. Na sociedade pensada por Marx, a
educação seria de caráter social, para que os educandos não recebessem nenhuma
influência a respeito de propriedades privadas. Além de, educar os trabalhadores a
viver em permanente coletividade. A respeito dessa nova educação, Engels, citado
por Rodrigues (2004), comenta:
55
Fonte: www.tribunadaimprensalivre.com.br
Na virada dos anos 1960 para os anos 1970, ocorre uma crise na educação
de países considerados “centrais”: Estados Unidos, França e Inglaterra – países
estes em que os governos seguiram bastante à risca as prescrições da Sociologia
56
da Educação então hegemônica. Na França, as revoltas de maio de 1968 são
relacionadas com a promessa não cumprida de suposta ascensão social
correspondente ao maior acesso à educação básica e superior. Nos EUA e no Reino
Unido, colapsa todo o sistema de Bem-Estar Social e, em particular, a escola
pública, que tampouco cumpriu sua promessa de equiparação de oportunidades
após ser, em ambas as noções, reformada de forma a garantir acesso praticamente
universal. (NOGUEIRA, 1990). Com efeito, o viés de Sociologia da Educação que
predominava nas universidades e nas políticas públicas sustentava boa parte das
reformas que, neste momento histórico, caíram por terra.
A Sociologia da Educação se preocupava centralmente, até o fim dos anos
1960, com o aspecto macrossocial da educação. Neste sentido, a hipótese do
acesso era imperativa: era preciso entender o que bloqueava o acesso dos grupos
mais populares e como interromper esses problemas. Apesar do sucesso desta
empreitada, no entanto, as desigualdades permaneceram. Desta forma, havia um
cruzamento de amplo alcance entre classe social e escolarização. As pesquisas
raramente se debruçavam especificamente na escola, sendo mais comum
investigações quantitativas que consideravam cada escola como mais um número
nas estatísticas.
Quanto ao conhecimento escolar, havia também pouco debate, comum
consenso de que deveria ser garantido a todos. Isto sustentou, talvez, o único
aspecto mais “cultural” do pensamento sociológico da educação então prevalecente:
a ideia de que as supostas “deficiências” culturais das camadas populares fossem
supridas com atividades “compensatórias” em contraturnos e escolas públicas
populares. (MITRULIS, 1983). O fracasso dessa prescrição sociológica baseada na
hipótese de que a igualdade de oportunidades seria alcançada com apenas essas
poucas medidas macrossociais gerou revolta e descrença popular, o que também se
verificou no campo da Sociologia da Educação, especialmente nos três países
citados. (SILVA, 1999). Quase que simultaneamente, com algumas diferenças
contextuais, surge na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França, na virada para os
anos 1970, um movimento não intencionalmente programado, que ficou conhecido
como a nova sociologia da educação. O que este movimento passou a analisar, com
um olhar mais apurado sobre o que ocorre dentro da escola, na política educacional
57
e com o currículo escolar, foi, afinal, o que diferenciava os alunos, apesar de a
escola ser pretensamente indiferenciada. (MITRULIS, 1983).
Michael Apple possivelmente seja o nome mais relevante nos Estados Unidos
vinculado à NSE. Seu trabalho inaugural, Ideologia e currículo (1979), representa o
seu diferenciado olhar sobre as desigualdades educacionais. Apple traz para a
discussão a economia e a cultura para pensar o currículo, a partir de uma
abordagem neomarxista (muito influenciado por pensadores como Raymond
Williams e Antonio Gramsci). Apple não vê uma correspondência direta entre a
economia e a educação, como se a escola refletisse automaticamente as relações
de produção (SILVA, 1999); vê uma relação complexa, em que o currículo escolar se
encontra envolvido. Para Apple, por mais que as relações de poder da economia
influenciem decisivamente a forma como os grupos sociais vivem a educação, elas
não garantem em última instância como a educação se estrutura ou como a
desigualdade se mantém. (WEIS; MCCARTHY; DIMITRIADIS, 2013). Para Apple
(2006), a educação e o currículo são lugares de disputa política, em que não há
garantia de que as consciências serão estabelecidas a priori. Há espaço, segundo
Apple (2006), para que se conteste, na escola, de quem são os conhecimentos
estudados, a quem eles beneficiam e quem eles silenciam, por exemplo. Apple
(2006) vê complexidade e movimento na escola e na disputa pelo que é entendido
como conhecimento escolar, sem ignorar as fortes influências que as relações
econômicas continuamente impõem sobre a forma como a escola é vivida.
Avanços percebidos
Fonte: www.pesquisaescolar.com.br
63
Uma das lições mais preciosas de Karl Marx (1818-1883) foi a de nos chamar
a atenção para a “omnilateralidade”, ou seja, para a categoria de totalidade na
análise de qualquer fenômeno.
Neste sentido, nosso grande desafio está em não nos deixar levar por
reducionismos na análise da prática educativa, limitando-nos a apenas um aspecto
(ou, mesmo considerando vários aspectos, deles tratar isoladamente), o que
caracterizaria uma unilateralidade.
Por exemplo, considerar como única função educativa, em um curso de
formação de técnicos, a socialização apenas dos saberes relacionados com a
prática profissional admitida para os profissionais da saúde deste nível é,
provavelmente, correr o risco de sonegar elementos fundamentais de compreensão
profunda daquelas práticas. Além disso, é um desprezar da totalidade e da
complexidade da educação e do próprio exercício profissional, que têm como
critério, menos hierarquização dentro de um campo profissional e mais entendimento
da realidade (princípios, processos e procedimentos) para o desenvolvimento de
competências humanas. Tal maneira de proceder estaria, possivelmente, ignorando
outras formas de saber, contribuições de diferentes culturas e de diversas
experiências que têm importante contribuição a dar na constituição do profissional
como sujeito, pessoa humana e cidadão. Seria, em última análise, não considerar
que a prática pedagógica é uma prática social.
Dentro desta visão omnilateral da ação pedagógica, certamente mais do que
o objeto, o conteúdo ou a forma, é importante o sujeito visto em sua totalidade e em
sua relação com o outro, formando coletivos, grupos sociais, que – por sua vez – se
relacionam na formação de uma sociedade. (PELLEGRINO, 1986).
Esse sujeito – em suas dimensões individual e coletiva – ocupa o lugar de
protagonista no cenário pedagógico, pois é nele, por ele e para ele que a ação
educativa acontece. A partir desse pressuposto, é primordial conhecer muito bem
esse sujeito. O que pretendemos agora, na afirmação desta totalidade, é ver, na
prática social educativa, esse processo de relação específica entre sujeitos humanos
que se apresentam e recebem denominações também específicas de educador-
educando e professor-aluno.
Mas, certamente, isso que dissemos nada tem de surpreendente para você.
Na sua experiência de todos os dias, sua prática de enfermagem é uma prática
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social que envolve uma relação entre sujeitos, seres humanos que se constituem
socialmente como pessoas. Nem se nega que um seja o profissional da enfermagem
numa relação com um outro que se está valendo de seus serviços como atendido ou
cuidado no campo da saúde. Entretanto, esta relação concreta, que faz com que se
denomine a um como enfermeiro e ao outro como paciente, continua a ser e em
nada pode obscurecer a relação interpessoal de sujeitos sociais.
Da mesma forma, para além da condição daquele que ensina e daquele que
aprende, é preciso compreender o professor e o aluno como sujeitos que se
constroem na história. A relação educativa, em que se envolvem como educador –
educando, só pode ter significado concreto quando é entendida como prática social,
sempre implicando uma visão de mundo. (PELLEGRINO, 1986).
A prática pedagógica precisa ser vista a partir de uma perspectiva que dê
conta de pensar o homem na sua totalidade e na sua singularidade. Isto significa
conceber o homem e suas práticas – dentre elas a educativa – sem dicotomizá-lo.
Implica, portanto, em entender que a subjetividade, para existir, supõe a coletividade
e o social; em buscar subsídios para ter uma visão histórica que, sem excluir o
particular e específico, seja entendida como a totalidade do momento; em construir
uma abordagem interdisciplinar que não seja apenas a justaposição de perspectivas
teóricas diversas, mas um compromisso com a já mencionada omnilateralidade
humana.
Os fatos concretos da educação de cada um e o conjunto do “fazer
pedagógico” é, portanto, prática coletiva. Nela, necessariamente, os aspectos
cognitivos, afetivos, sócio-econômicos, políticos e culturais interagem em função de
resultados também concretos. Assim, a prática social pedagógica, tal como acontece
em cada “aqui e agora”, se faz pela linguagem, fazendo (produzindo) linguagem. Por
isso mesmo a didática, que, sem dúvida alguma, é uma questão de meios, só pode
dar conta deles quando se assume, primordialmente, como uma questão
epistemológica e, mais ainda, uma questão cultural.
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Fonte: www.queconceito.com.br
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Fonte: www.visaooeste.com.br
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Democracia e Educação não são questões novas nem simples, pois desde a
antiguidade, são objetos de fortes e calorosos debates na cena política e social de
todos os tempos e sociedades. Ao longo dos milênios, em diferentes períodos
históricos, sociedades e atores/interpretes desenvolveram diferentes definições,
conceitos e aspectos sobre essas temáticas. Assim, para melhor compreendermos
as relações entre democracia e educação procuraremos abarcar no decorrer da
nossa trajetória breves resgates históricos acerca de um e de outro, distinguir
diferentes conceitos, abordagens e teorias. Para atender esses objetivos,
reportando-nos ao surgimento e trajetória da democracia, importa ressaltar que,
embora as primeiras reflexões dos filósofos gregos fossem distintas das práticas
modernas, estas ainda permeiam de forma imprescindível a vida política, assim
como a ética, que concentra parâmetros para a sua valoração, crítica e análise. A
democracia nasce na política ateniense, que concebia a polis como uma unidade
social e política organizada (território que abrangia áreas urbanas e rurais), em que a
população se dividia em três classes distintas: escravos (base da pirâmide
representativa das classes sociais e maior parcela populacional), os estrangeiros
residentes (metecos) e cidadãos.
A intensa vida cívica da Ágora ou do Campo de Marte, coração da cidade,
espaço da fala, da política e da liberdade da polis ateniense, adivinha das pessoas
livres de encargos, privilégio obtido pelo nascimento (LEISTER, 2006). Nos
primórdios da luta pela igualdade de status entre os homens (ser social), a
democracia frutifica da luta do proletariado urbano, liderado pela burguesia comercial
emergente, que visa à conquista do seu espaço político em Atenas, por meio da sua
efetiva participação nas guerras, movida por Atenas contra os seus adversários, que
fomentou o despertar de uma maior consciência política (SOUZA, 2002). Desde
então, a cidade se dividia claramente em duas. Os descontentes não mais se
limitavam ao sofrimento reprimido e ao apego místico. A submissão cedia lugar à
violência, nas lutas de classes. Uma luta horrenda e longa.
Desde o século VII até a conquista romana, muitas foram às revoluções e
contra-revoluções, morticínios, banimentos e confiscos. (GLOTZ, 1988). Ainda que
seus principais artífices fossem de origem aristocrática, a democracia emerge do
clamor e luta das classes inferiores, pautadas nos ideais de liberdade e de igualdade
de direitos. Princípios, os quais, mesmo que desvirtuadamente, ainda concentram o
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cerne da democracia atual, compreendida como aquela em que o poder não se
concentra nas mãos de um só indivíduo ou de poucos, mas é detido por todos ou
pela maioria. Nesse regime, a soberania supostamente pertence ao povo, e todo
cidadão é titular do poder político. No caso brasileiro, a democracia que se aplica é a
representativa, cuja vontade do povo é expressa por seus representantes escolhidos
através de eleições. (DARNTON; DUHAMEL, 2001). Vale registrar que no texto
constitucional brasileiro, os princípios de liberdade e igualdade são preservados
como parte do ideário democrático nacional:
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menos em tese, pelo sufrágio universal (única garantia de igualdade de oportunidade
e acesso aos mecanismos de controle sobre os líderes), através do voto, as pessoas
controlam os líderes e influenciam nas decisões destes (PATERMAN, 1992, p. 25).
No entanto, Schumpeter (apud PATERMAN, 1992) assevera que, na democracia
participativa, a participação do cidadão só ocorre para eleger o líder. O único
controle que o cidadão, geralmente, tem sobre os seus líderes é o de substituí-los
por líderes alternativos nas eleições. A participação não possui papel especial ou
central. Basta um número suficiente de cidadãos para manter a máquina eleitoral, os
arranjos institucionais funcionando satisfatoriamente, e um número reduzido de
líderes, ativos e decididos, para conter efetivas tentativas de controle do poder por
parte do povo.
A competição, de fato, é só entre os líderes pelos votos. Sendo assim, a
participação limitada e a apatia são positivas: amortecem o choque das
discordâncias, dos ajustes e das mudanças. A democracia para o povo se resume
ao direito de figurar como meros peões, manipuláveis e manipulados, no grande
tabuleiro da disputa do poder pelas classes dominantes. A garantia de igualdade e a
liberdade não passam de engodo. Quanto menos o povo se tornar crítico, mais fácil
é a aplicação de táticas e práticas alienantes. Nesses termos, é possível inferir que,
no caso brasileiro, a democracia participativa, na realidade fomenta o processo
ideológico alienante e intencional, arraigado desde os primórdios da nossa história.
Nesse contexto, a escola e a educação, sobretudo a pública, cada vez mais
universalizada, como se encontra formalmente estruturada, mantida e controlada
pela classe dominante, pelo e a serviço do capitalismo, atuam eficazmente na
manutenção e intensificação do status quo que divide a sociedade entre explorador-
explorado, opressor-oprimido. Daí podermos argumentar que a política e a educação
são esferas inextrincáveis, tanto que separá-las de forma ingênua astuta, não é
somente um ato irreal, mas perigoso (FREIRE, 2001a).
Isso se concretiza porque a classe dominante sabe que é na escola que mora
“[...] o segredo da força mantenedora dos preconceitos patrióticos, das convenções
sociais, das superstições e dos dogmas religiosos". Por isso, o Estado e a Igreja
disputaram ferrenhamente, e ainda disputam, o controle da instrução do povo, tendo
ambos por objetivo a formação de mentalidades adaptadas aos seus interesses de
classe, pois é nas escolas, sobretudo nas mantidas pelo Estado “[...] que se
amoldam e se mutilam as consciências das classes populares”. Nelas, cultiva-se e
cultua-se a atrofia da razão e são incutidas nas “[...] crianças das classes
subalternas às mentiras patrióticas e religiosas” (PENTEADO apud CARRÃO, 1997,
p. 2).
Assim se cria a subordinação intelectual, conceito utilizado por Antônio
Gramsci (1891-1937), para mostrar sua visão da dimensão ideológica da dominação
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de classe na sociedade capitalista, a dominação econômica, em que os Estados
usam seus aparelhos para manter as classes subalternas alienadas quanto aos
pensamentos ideológicos, crenças sedimentadas historicamente que compõem a
base de todos os atos, ações e condutas humanas, cuja ideia que se faz verdadeira
pelos eventos, mas que, não obstante, camufla e perpetua a ação autoritária,
desrespeitosa, injusta e solidifica, sobretudo, a desigualdade (CARRÃO, 1997).
Cabe registrar que o Estado brasileiro, pautado nos paradigmas da democracia e
tendo por base as teorias modernas da educação praticadas no exterior, divulgadas
a partir da década de 1980, reestruturou as suas políticas educacionais, implantando
o conceito de escola democrática, fundamentada no diálogo como reflexão para a
ação. A Lei n. 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases, traz em seu artigo 27, Inciso I, que
a educação básica se incumbirá da “[...] difusão de valores fundamentais ao
interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
ordem democrática”; e, no artigo 35, Inciso III, prevê que o ensino médio deve se
incumbir do “[...] aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico”. (BRASIL, 1996). Não se pode negar que legalmente a educação brasileira
verdadeiramente atingiu conotação democrática.
Entretanto, ingênuo seria imaginar que somente porque a lei preconiza,
determina e impõe as coisas se efetivam. Não é bem assim que, de fato, as coisas
ocorrem em qualquer área, muito menos na educação. Não se arranca de uma hora
para outra, como passe de mágica, o que se arraigou ao longo de séculos. Freire
(1989) explica com muita clareza os precedentes históricos, sociais e econômicos
que culminaram no que ele denominou de “inexperiência democrática” e caracterizou
como mutismo, submissão, intransitividade, alienação. O Brasil nasceu e cresceu
sob forças fortemente predatórias: exploração econômica do dominador, que não
somente era senhor das terras, mas também das gentes. Ao colonizador interessava
apenas a extração das riquezas da nova colônia e nenhuma forma de criação de
uma civilização. Os poucos colonos que aqui fixaram residência não se interessaram
em integração.
A constituição de grandes propriedades separadas por muitas léguas
favoreceu o fechamento das comunidades em si próprias, sob a proteção dos todo
poderosos senhores e o desenvolvimento da cultura do mandonismo-dependência,
82
das soluções paternalistas da dominação e do mutismo nacional. Nessas
circunstâncias, a autoridade externa e dominadora encontrou abrigo. Sem condições
favoráveis não surgiram centros urbanos com classe média, lastro econômico
razoável, criados pelo povo e por ele governados. Não floresceu em nossa cultura o
senso de participação nos problemas comuns, a consciência criadora e livre, o
autogoverno e as “[...] disposições mentais flexíveis capazes de levar o homem”
(FREIRE, 2003, p. 68), a sobrepor os interesses privados pelos públicos e
desenvolver o senso de solidariedade social e política. A sabedoria democrática que
se forma quando uma sociedade se faz com as próprias mãos não se formou. Ao
contrário, cristalizaram-se o poder exacerbado e a submissão, que negou ao povo
brasileiro o experimento da criticidade, a participação na vida econômica e política
da colônia, as trocas de experiências. O homem pobre brasileiro desenvolveu um
“quase gosto masoquista” de se permanecer ajustado, acomodado e não integrado
(FREIRE, 1989, p. 74).
Daí a nossa falta de aspirações democráticas. Cristalizamo-nos como uma
sociedade escravocrata, sem povo, antidemocrática, dividida social e
economicamente entre uma minoria escandalosamente rica, autoritária e
exploradora, e uma maioria esmagadoramente miserável, submissa, ajustada e
acomodada ao assistencialismo e ao paternalismo, imperando o “carneirismo”: os
lobos que se acostumaram aos privilégios e carneiros se ajustaram/acomodaram por
falta de opção ou por estratégia de sobrevivência.
No contexto educacional as condições foram mais que propícias para a
atuação da escola tradicional, que “[...] mata o poder criador não só dos educandos,
mas também do educador” (FREIRE, 1983, p. 69), e ao matá-los, destrói toda e
qualquer possibilidade de desenvolvimento de democracia humanizadora, porque
deixa resquícios em professores e alunos por ela formados, os quais podem transitar
em todos os contextos sociais. Sobretudo nos cursos de pedagogia e de
licenciaturas, a atuação tradicional influencia fortemente a formação voltada para o
autoritarismo, para a mera transmissão do conhecimento, para o antidiálogo, para a
garantia de resultados, dificultando a fomentação da criticidade democrática. Assim,
a educação tradicional frutificou entre nós, porque a nossa sociedade não conseguiu
fomentar a sua própria democracia, a democracia que:
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[...] é forma de vida, se caracteriza sobretudo por forte dose de
transitividade de consciência no comportamento do homem. Transitividade
que não nasce e nem se desenvolve a não ser de certas condições em que
o homem seja lançado ao debate, ao exame de seus problemas e dos
problemas comuns. Em que o homem participe (FREIRE, 1989, p. 80).
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[...] ideologias de acordo com a qual a responsabilidade dos fracassos e
insucessos que elas mesmas criam pertence aos fracassados enquanto
indivíduos e não às estruturas ou à maneira como funciona essas
sociedades. Se os garotos negros não aprendem bem o inglês a culpa é
deles, de sua incompetência ‘genética’ e não da discriminação a que são
submetidos, da raça e de classe, e não do elitismo autoritário com que se
pretende impor o ‘padrão culto’ [...] É o mesmo que acontece no Brasil, os
meninos e meninas dos morros e córregos não aprendem porque são, de
“nascença”, incompetentes (FREIRE, 1992, p. 80).
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E, que, no pensamento freiriano, democracia é aquela que propicia e gera
uma forma de vida e convivência interpessoal, em que se configuram relações
intersubjetivas que constituem as práticas políticas e pedagógicas (estruturas da
organização social e política), e recusa os atos de intolerância e de negação da
alteridade e da diversidade, de autoritarismo e totalitarismo que nega a liberdade.
Assim como, também recusa as “práticas paternalistas e assistencialistas que
impõem ao ser humano o mutismo, a domesticação e a passividade” (GARCIA,
2005, p. 85).
A construção da democracia necessita que homens e mulheres possuam:
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13 REFERÊNCIAS
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LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Sociologia geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
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