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Disciplina: Ciências Sociais - Sociologia


Professora: Alane Leal (alaneunieuro@gmail.com)

APOSTILA

A sociologia não é uma ação, e sim uma tentativa de


compreensão.(Peter Berger)
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SUMÁRIO

Aspectos Introdutórios ................................................................................................ 04


O que é Sociologia? O surgimento da Sociologia ....................................................... 10
Sociologia .................................................................................................................... 11
Principais conceitos sociológicos ................................................................................ 16
Anomia ....................................................................................... 16
Classe Social .............................................................................. 17
Coerção\Coesão .......................................................................... 18
Fato Social .................................................................................. 19
Grupos ........................................................................................ 21
Principais teóricos clássicos em sociologia ................................................................. 22
Marx .......................................................................................... 22
Texto Complementar - Ideologia (Chauí) ................................. 24
Ideologia (Silvio Gallo) ............................................................. 25
O conceito de Ideologia ............................................................. 26
Durkheim ................................................................................... 28
Weber ........................................................................................ 30
Exercícios Reflexivos - Leituras complementar ......................................................... 34
I. Entender o mundo no cheiro do pão ...................................... 34
II.Economia começa exibir seu lado pobre .............................. 36
III. Trabalhar para o outro: uma saída para a emancipação
humana ....................................................................................... 37
IV. Ideologia da globalização e (dês) caminhos da ciência social
..................................................................................................... 38
Estudo Dirigido .......................................................................................................... 40
Texto Adicional - Revisão: Resumo dos conceitos dos principais pensadores
...................................................................................................................................... 40
Textos complementares: A perspectiva sociológica: O Homem na Sociedade e A
perspectiva sociológica A Sociedade no Homem. In: BERGER, Peter. L. Perspectivas
Sociológicas - Uma Visão Humanística. Petrópolis: Vozes, 2002.
Questões sobre texto Berger: Perspectivas sociológicas capítulos IV e V ................. 42
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Aspectos Introdutórios da Disciplina Sociologia

A cultura ou civilização, entendida em seu amplo


sentido etnográfico, é aquele conjunto complexo
que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, o direito, os costumes e qualquer outra
capacidade e hábito adquirido pelo homem como
membro de uma sociedade.”(Tylor, E. B.
Primitive Culture)”.

Ciências afins: A Sociologia relaciona-se com outras ciências trocando


experiências e conhecimentos. Ela recebe dados teóricos de outras ciências como
antropologia, psicologia, economia, geografia, química, geologia, biologia, genética,
etc.
Conceitos: Sociologia: estudo objetivo das relações que se estabelecem,
consciente ou inconscientemente, entre pessoas que vivem numa comunidade ou
num grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que vivem no seio de uma
sociedade mais ampla. (Dic. Aurélio Buarque de Holanda).
Sociedade: 1) Conjunto de pessoas, seguindo normas comuns, e que são unidas
pelo sentimento de consciência do grupo; corpo social; 2) Grupo de indivíduos que
vivem por vontade própria sob normas comuns; comunidade; relação entre
pessoas, vida em grupo, participação, convivência, comunicação. 3) Reunião de
indivíduos que mantêm relações sociais e mundanas. 4) Grupo de pessoas que se
submetem a um regulamento a fim de exercer uma atividade comum ou defender
interesses comuns, agremiação, associação, etc. (Dic). (Aurélio Buarque de Holanda)
Cultura: São muitas as definições de cultura por enquanto assumiremos o conceito
segundo o qual a cultura “são frutos pelo homem mediante o exercício das suas
faculdades sejam espirituais ou orgânicas” (Mathieu: 1957, vol. 1). A cultura é tudo
aquilo que a pessoa adquire, ou mesmo produz com o uso de suas faculdades:
todo o conjunto do saber e do fazer, ou seja, da ciência e da técnica, e tudo aquilo
que com seu saber, e com seu fazer extrai da natureza.
Características da Cultura: A Cultura é um fenômeno complexo e por isso faz-se
necessário fixar algumas de suas características para uma compreensão mais
abrangente: A Cultura é humana, social e laboriosa. É humana porque é produto
da pessoa humana. É obra da mente e das mãos humanas mas não apenas de um
ser humano mas de todo um grupo (social). A cultura é uma hereditariedade social
que a pessoa recebe e transmite. Mas ela não surge e nem é transmitida. Ela não
é transmitida mecanicamente, automaticamente e instintivamente. Ela é adquirida e
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transmitida através de um certo esforço e laboriosidade. A linguagem é adquirida
com esforço, a técnica, a ciência, etc.
A Cultura é sensível, dinâmica, múltipla e criativa. É sensível quando
todos os seus aspectos e manifestações culturais são perceptíveis pelo sentido (as
expressões como a poesia, a filosofia, a religião, a arte deve encarnar-se em
qualquer meio sensível). É dinâmica porque está em contínua evolução ou
transformação ou numa situação de crescimento ou de declínio. Por ser dinâmica
ela é complexa e constituída por muitas instituições com muitas metas e
interesses. A multiformidade da cultura é conseqüência das múltiplas capacidades
da pessoa humana. A Cultura também é um produto genuíno da pessoa humana, é
uma criação do seu gênio.
Identidades Culturais: Identidade é utilizada por filósofos, psicólogos e por
cientistas sociais. Entre psicólogos e psicanalistas, identidade pode ser um
conceito que explica, por exemplo, o sentimento pessoal e a consciência da posse
de um eu, de uma realidade individual que a cada um de nós nos torna, diante de
outros “eus”, um sujeito único e exclusivo.
Psicólogos sociais e antropólogos: interessa não tanto a trajetória biopsicológica da
identidade dos indivíduos, mas os mapas sócio culturais que traçam para os
indivíduos os caminhos de sua trajetória: de que modo o encontro entre culturas
desiguais de sociedades diferentes altera identidade que as diversas categorias de
sujeitos de cada grupo social fazem de si e dos outros? Quando é que um Guarani
se descobre “um índio” e quando é que na consciência do mestiço do índio tukuna
com o branco cearense surge a idéia de ser uma caboclo?
A experiência de vida de cada pessoa confirma uma conclusão a que os
estúdios sobre o assunto acabam chegando: não é fácil separar a dimensão
individual da construção e do exercício cotidiano da identidade da sua dimensão
social.
As trocas afetivas desde o começo da vida da criança recém-nascida vão
edificando, tijolo a tijolo, a sua identidade, através de estruturas culturais e dos
mecanismos de que todo grupo lança mão para codificar e controlar o cotidiano da
vida dos seus membros. Projetos coletivos de vida e destino das pessoas e de um
povo, a simbologia dos inúmeros valores religiosos e profanos da cultura, os
mecanismo familiares e grupais de socialização da criança e do adolescente
transferem do todo para cada ser do grupo, desde o comecinho de sua vida no
grupo, uma identidade grupal. Uma identidade que é dele, como uma pessoa, mas
que é também, fatalmente, a do grupo através dele.
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O Outro: Cabe-nos observar, porém, que as identidades são representações
marcadas pelo confronto e encontro com o outro; por se ter de estar em contato,
por ser obrigado a se opor, a dominar ou a ser dominado, a tornar-se mais ou
menos livre, a poder ou não construir por sua conta própria o seu mundo de
símbolos e, no seu interior, aqueles que qualificam a pessoa, o grupo, a minoria, a
raça, o povo.
Identidades: são mais do que isto, não apenas o produto inevitável da oposição
por contraste, mas o próprio reconhecimento social da diferença. A construção das
imagens com que sujeitos e povos se percebem passa pelo emaranhado de suas
culturas, nos pontos de intersecção com as vidas individuais. Ela tem a ver, ali,
com processos ativos de conflito, luta e manipulação. Um povo ao mesmo tempo
se nega a si mesmo e se afirma como uma identidade de dominado ou perseguido,
integradora de valores negativos e positivos de diferenciação. Porque ele não pode
deixar de ver-se como dominado, tal como o negro acaba “se vendo” através dos
olhos do senhor branco. Mas porque também a sua própria condição engendra a
necessidade de lutar pela sua sobrevivência e nesta luta incluem-se os símbolos
que preservam uma identidade de minoria, de dominado, mas, de qualquer modo,
uma identidade própria e, construída não apenas por oposição à do outro – a
maioria dominante – mas justamente para opor-se a ela. Para estabelecer a
diferença.
Crise de Identidade: confusão de identidade, manipulação de identidade são os
descaminhos do processo de identificação que podem ocorrer de diversas
maneiras:
 Podem ocorrer com alguém em seu meio cotidiano, quando entre ela e as
pessoas que desde a infância lhe são afetivamente importante – porque
delas lhe vêm amor, segurança e inculcação da “habitus” - surgem
bloqueios, trocas de sentimentos e significados inadequados, conflitivas;
 Podem acontecer com uma categoria de sujeitos quando entre eles,
coletivamente, e outras categorias de pessoas e instituições de seu mundo
social há conflitos e inadequações, e suas conseqüências extrapolam as
dimensões da família nuclear e chegam às da classe social, do grupos
religiosos, da minoria nacional migrante, da tribo de índios no seu todo.
 Podem ocorrer, em escala mais ampla quando dois mundos sociais entram
em contato e as relações políticas, econômicas e culturais entre eles são
desiguais e tanto a vida quanto a identidade do grupo dominado ou
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colonizado precisam submeter-se ao controle dos símbolos impostos pela
vida e identidade do dominador e do colonizador.
Identidade Cultural: Erik Erikson (Juventude, Identidade e crise. Rio de Janeiro.
Zaha, 1972: 48-49) resume:
 Diferentes grupos sociais vivem formas desiguais de produção de sues bens
e de organização de seus mundos sociais (tribos, bandos, comunidades,
sociedades complexas).
 Do mesmo modo, possuem formas diferentes de conceber idéias
fundamentais para a orientação da conduta: visões de mundo, concepções
de sentido de vida, projetos de vida que são inculcados como saber, valor,
sentimento, emoção coletiva às suas crianças e adolescentes. São códigos
de regras de conduta que orientam o comportamento. A face mais ativa da
própria cultura;
 Inculcados como valores do grupo a partir de como ele se qualifica a si
próprio, de como ele constrói uma identidade grupal que sintetiza o modo
pessoal de ser significativamente uma pessoa do grupo capaz de pensar
segundo os seus valores e preceitos, de sentir de acordo com os seus
padrões de afetividade e de orientar a conduta e a vida em conformidade
com a imagem com que o grupo se reconhece como uma unidade social
diferenciada (uma tribo, uma nação, uma minoria, um povo, uma classe);
 A privação de valores da cultura próprios do grupo social colonizado paralisa
a produção de uma identidade específica se favorecer que ele adquira um a
outra identidade adequada. O efeito de uma tal “invasão” afeta
coletivamente uma geração, de índios, de uma tribo, de um grupo, por
exemplo, porque situações que comprometem a transferência de uma
identidade grupal de uma geração para outra criam crises na formação
pessoal de sentimentos e da consciência de si.

Em outras palavras entendemos por “identidade cultural” o processo de construção


de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos
culturais inter-relacionado, os quais prevalecem sobre outras fontes de significado.
Uma vez que a construção da identidade sempre ocorre em um contexto marcado
por relações de poder, distinguiremos três formas e origens de construção de
identidade:
1. Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da
sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação
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aos atores sociais, tema este que está no cerne da teoria de autoridade e
se aplica a diversas teorias do nacionalismo;
2. Identidade de resistência: criada por atores que se encontram em
posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica de
dominação, construindo, assim trincheiras de resistência e sobrevivência
com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da
sociedade, ou mesmo opostos a estes últimos;
3. Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizado-se de qualquer
tipo de material cultural a seu alcance, constroem uma nova identidade
capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao faze-lo, de buscar a
transformação d toda a estrutura social. Este é o caso, por exemplo, do
feminismo que abandona as trincheiras de resistência da identidade e dos
direitos da mulher para fazer frente ao patriarcalismo, à família patriarcal e
assim a toda a estrutura de produção, reprodução, sexualidade e
personalidade sobre a qual as sociedades historicamente se estabelecem.
Este texto foi compilado a partir das idéias da professora Dra. Irene Dias de Oliveira. (UCG)
GLOSSÁRIO
Capitalismo: é uma forma de organizar a sociedade para a exploração da
natureza que veio a predominar avassaladoramente no Ocidente no séc. XIX,
expandindo-se por todo o mundo, sobretudo no séc. XX. Marx foi o principal teórico
a estudá-lo, apontando para sua divisão crucial em duas classes – a burguesia e o
proletariado –, em constante luta entre si, em função de serem seus interesses
divergentes, uma vez que este seria explorado por aquela. Para Marx, o
capitalismo seria superado pelo socialismo e pelo comunismo. Já Weber
separava capitalismo tradicional – cujo objetivo seria meramente o lucro e haveria
existido em todas as épocas – do capitalismo – baseado na produção sistemática
cotidiana –, que seria exclusivo do Ocidente. Qualquer outra sociedade que viesse
em sua seqüência apenas agravaria os traços burocráticos que já reconhecia no
capitalismo.
Globalização: é um processo que, embora se acelere hoje, deve ser entendido de
uma forma ampla e multifacetada. Ela vem se desenvolvendo desde o início da
vida social da espécie humana, ainda que de forma parcial, por meio da articulação
de um número cada vez maior de formação social. A partir do século XVI, ela
adquiriu expressão efetivamente mundial. Esse foi um momento em que um
verdadeiro surto de globalização teve lugar, o que se repete hoje. Ela se realiza em
todas as dimensões da vida social (econômica, política, artística, religiosa,
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ideológica, etc). Além disso, a globalização leva a uma compressão do mundo, a
sua unificação, mas também a esforços em sentido contrário, com o objetivo de
descomprimi-lo. Não se trata, portanto, de um processo linear, ou muito menos
puramente econômico, nem panacéia universal como inevitabilidade ou motor do
crescimento econômico, não implicando também o desaparecimento dos estados
nacionais.
Liberalismo Econômico: As teses do liberalismo Econômico foram criadas no
século XVIII com clara intenção de combater o mercantilismo, cujas práticas já não
atendiam às novas necessidades do capitalismo. O pressuposto básico da teoria
liberal é a emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela mesma.
Os economistas do final do século XVIII, eram contrários a intervenção do Estado
na economia. Para eles o Estado deveria apenas dar condições para que o
mercado seguisse de forma natural seu curso. Outro ponto fundamental é o fato de
que todos os agentes econômicos são movidos por um impulso de crescimento e
desenvolvimento econômico, que poderia ser entendido como uma ambição ou
ganância individual, que no contexto macro traria benefícios para toda a sociedade,
uma vez que a soma desses interesses particulares promoveria a evolução
generalizada, um equilibrio perfeito. Para Adam Smith (filósofo econômico escocês)
o elemento de geração de riqueza está no potencial de trabalho, trabalho livre sem
ter, logicamente, o estado como regulador e interventor.
Identidade: é um conceito que permite entender como os indivíduos e as
coletividades se percebem e praticamente, e nas relações dos indivíduos e
coletividades com outros indivíduos e coletividades. Seus traços substantivos
podem ser traduzidos por uma atualização transformada das três perguntas
kantianas: “quem sou”, “que posso fazer”, “que posso esperar”? (enquanto “que
posso saber”? é indagação que, articulada e paralelamente, aponta para o aspecto
cognitivo das interpretações humana da realidade). Em termos de mecanismo para
sua formação, pode-se apontar uma seleção de elementos compartilhados por
aqueles que possuem de algum modo uma identidade coletiva, que assume o
caráter de uma “identificação”, nos termos de Freud, com a afirmação de um
modelo ideal que liga os indivíduos e coletividades, inclusive por meio de laços de
sentimentos comuns. Resta acrescentar que a identidade é ao mesmo tempo o
lugar em que nos reconhecemos e o instrumento de nosso autodesconhecimento,
pois mecanismos de bloqueio cognitivo e expressivo, configurando ideologias no
plano da coletividade, atuam sobre as concepções que fazemos de nós mesmos.
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Instituição: é um conceito com o qual se identificam as formas padronizadas de
comportamento e de relacionamento social, seguidas por um número expressivo
de atores, em geral e coordenadas espaço-temporais relativamente amplas. Ex.
Igrejas, família, etc.

O QUE É SOCIOLOGIA? O surgimento da Sociologia


http://www.culturabrasil.pro.br/oquee.htm, acesso em 14.04.2004.
Lázaro Curvêlo Chaves

Europa, final da Idade Média, crise do Modo de Produção Feudal.


Classicamente, se diz que o Modo de Produção entrou em contradição com os
interesses das Forças Produtivas. Naquele caso, embora a densidade demográfica
crescesse assustadoramente, de nada adiantava produzir mais porque o
excedente não iria para aqueles deles necessitados; iria engordar ainda mais os
cofres da Nobreza...
As pessoas começam a se rebelar, fogem dos feudos (a que eram “presas”
por laços de honra) e passam a roubar ou com parcos recursos comprar bens
baratos a grandes distâncias vendendo-os mais caro onde eram desejados –
ressaltem-se as famosas “especiarias” -, ou seja, na Europa. A prática do lucro era
condenada pela Igreja Católica, a maior potência do mundo à época. Mas para os
fugitivos dos feudos, fundadores de burgos, que serão mais tarde chamados de
“burgueses”, não restava outra alternativa exceto a atividade comercial voltada ao
lucro, tida como “desonesta” por praticamente todas as culturas e civilizações do
mundo a partir de todos os pontos de vista éticos.
O capitalismo era como um pequenino câncer que surgiu no final da
sociedade feudal. Foi crescendo, crescendo e hoje, a burguesia e seus interesses
comerciais se sobrepõem ao ser humano numa infecção que contamina todo o
planeta. Aquelas sociedades que buscam a cura para este mal são “reconvertidas”
ao satanismo pagão de holocaustos ao deus-mercado através de diversas formas
de pressão e, no limite, uso da força física, como ocorreu no Chile de Salvador
Allende e, mais recentemente, no Afeganistão – um com proposta socialista, outro
com proposta islâmica; ambos intoleráveis hereges dentro do fundamentalismo de
mercado.
Era fundamental reorganizar a sociedade de maneira a que os novos donos
da riqueza fossem também os donos do poder. Surge uma nova religião para
reforçar uma ética mais consentânea com os tempos cambiantes: surge o
protestantismo. Os padres diziam nas missas – embora sua prática fosse bem
outra... – ser “mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um
rico entrar no reino dos céus”, reiterando serem pecaminosos aqueles que
praticavam a cobrança de juros, lucros... “Usurários”, enfim, eram todos
enfileirados no caminho que conduz ao fogo do inferno. Por outro lado começam a
surgir ex-padres, agora pastores que passam a informar: “se a mão de Deus
estiver sobre a sua cabeça, você prosperará imensamente nesta terra; nisso você
verá um sinal de estar sendo por ele abençoado”... Se você tivesse enriquecido à
beça na base do comércio lucrativo, ou do empréstimo a juros, preferiria o discurso
do padre (vale repetir, em contradição com a sua prática) ou o do pastor? Assim
cresceram as seitas protestantes pelo mundo afora.
Politicamente a burguesia endinheirada sentia-se lesada tendo de pagar
tributos à antiga nobreza, agora praticamente falida. No início compravam títulos de
nobres aos de antiga linhagem – que os discriminavam! – a seguir passaram a
pensar em alternativas mais radicais (ser radical é ir à raiz e a burguesia foi radical
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no período de suas glórias revolucionárias!) como convocar os trabalhadores a
uma aliança contra a nobreza e implantar um novo tipo de regime político, muito
mais interessante e lucrativo para a burguesia, a “república”. Os burgueses
convocaram seus empregados, desempregados e desesperados, superiores em
número, para uma aliança contra a nobreza ou “antigo regime” e, após muitos
percalços, saem-se vitoriosos. Agora, “duque”, “king” e “marquesa” passam a ser
nomes de animais domésticos da burguesia! O passo seguinte foi agradecer e
condecorar trabalhadores, desempregados e desesperados e mandá-los de volta a
seus trabalhos, a seus desempregos e a seu desespero.

Sociologia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia, acesso em 24.02.2009.

Interações sociais e suas consequências são interesses comuns na sociologia.

A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, ou seja, estuda o comportamento


humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações,
grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia,
a Sociologia tem uma base teórico-metodológica, que serve para estudar os fenômenos
sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas relações de interdependência.
Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da
Sociologia.(Demeterco, Solange Menezes da Silva, Sociologia da Educação, Curitiba:
IESDE: Brasil S.A., 2ªed.,p. 6, 2006).

Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse apenas de sociólogos. Cobrindo


todas as áreas do convívio humano — desde as relações na família até a organização das
grandes empresas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso —, a
Sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras áreas
do saber. Entretanto, o maior interessado na produção e sistematização do conhecimento
sociológico atualmente é o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta
disciplina científica.

Assim como toda ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de
pesquisa. Ainda que esta tarefa não seja objetivamente alcançável, é tarefa da Sociologia
transformar as malhas da rede com a qual a ela capta a realidade social cada vez mais
estreitas. Por essa razão, o conhecimento sociológico, através dos seus conceitos, teorias e
métodos, pode constituir para as pessoas um excelente instrumento de compreensão das
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situações com que se defrontam na vida cotidiana, das suas múltiplas relações sociais e,
conseqüentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais.

 A Sociologia ocupa-se, ao mesmo tempo, das observações do que é repetitivo nas


relações sociais para daí formular generalizações teóricas; e também se interessa por
eventos únicos sujeitos à inferência sociológica (como, por exemplo, o surgimento
do capitalismo ou a gênese do Estado Moderno), procurando explicá-los no seu
significado e importância singulares.

Auguste Comte

A Sociologia surgiu como uma disciplina no século XVIII, na forma de resposta acadêmica
para um desafio de modernidade: se o mundo está ficando mais integrado, a experiência de
pessoas do mundo é crescentemente atomizada e dispersada. Sociólogos não só esperavam
entender o que unia os grupos sociais, mas também desenvolver um "antídoto" para a
desintegração social.

Hoje os sociólogos pesquisam macroestruturas inerentes à organização da sociedade, como


raça ou etnicidade, classe e gênero, além de instituições como a família; processos sociais
que representam divergência, ou desarranjos, nestas estruturas, inclusive crime e divórcio. E
pesquisam os microprocessos como relações interpessoais.

Sociólogos fazem uso freqüente de técnicas quantitativas de pesquisa social (como a


estatística) para descrever padrões generalizados nas relações sociais. Isto ajuda a
desenvolver modelos que possam entender mudanças sociais e como os indivíduos
responderão a essas mudanças. Em alguns campos de estudo da Sociologia, as técnicas
qualitativas — como entrevistas dirigidas, discussões em grupo e métodos etnográficos —
permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com o objetivo
explicativo.

Émile DurkheimVilfredo ParetoFerdinand TönniesGeorg Simmel Max Weber Gilberto Freyre

A Sociologia é uma área de interesse muito recente, mas foi a primeira ciência social a se
institucionalizar. Antes, portanto, da Ciência Política e da Antropologia.
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Em que pese o termo Sociologia tenha sido criado por Auguste Comte (em 1838), que
esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e
a Economia.

Em Comte, seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande
força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas
fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia
prescrever os "remédios" para os problemas de ordem social.

As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII, como as


Revoluções Industrial e Francesa, colocaram em destaque mudanças significativas da vida
em sociedade com relação a suas formas passadas, baseadas principalmente nas tradições.

A Sociologia surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las.
No entanto, é necessário frisar, de forma muito clara, que a Sociologia é datada
historicamente e que o seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo
moderno.

Esta disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social. A Sociologia
surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las. Desvinculando-
se das preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente
enquanto forma racional e sistemática de compreensão da mesma.

Assim é que a Revolução Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a
introdução da máquina a vapor. Ela representou a racionalização da produção da
materialidade da vida social.

O triunfo da indústria capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as


ferramentas sob o controle de um grupo social, convertendo grandes massas camponesas em
trabalhadores industriais. Neste momento, se consolida a sociedade capitalista, que divide de
modo central a sociedade entre burgueses (donos dos meios de produção) e proletários
(possuidores apenas de sua força de trabalho). Há paralelamente um aumento do
funcionalismo do Estado que representa um aumento da burocratização de suas funções e
que está ligado majoritariamente aos estratos médios da população.

O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a


imposição de prolongadas horas de trabalho, e etc., tiveram um efeito traumático sobre
milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida.

Não demorou para que as manifestações de revolta dos trabalhadores se iniciassem.


Máquinas foram destruídas, atos de sabotagem e exploração de algumas oficinas, roubos e
crimes, evoluindo para a criação de associações livres, formação de sindicatos e movimentos
revolucionários.

Este fato é importante para o surgimento da Sociologia, pois colocava a sociedade num
plano de análise relevante, como objeto que deveria ser investigado tanto por seus novos
problemas intrínsecos, como por seu novo protagonismo político já que junto a estas
transformações de ordem econômica pôde-se perceber o papel ativo da sociedade e seus
diversos componentes na produção e reprodução da vida social, o que se distingue da
percepção de que este papel seja privilégio de um Estado que se sobrepõe ao seu povo.

O surgimento da Sociologia prende-se em parte aos desenvolvimentos oriundos da


Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas uma outra
circunstância concorreria também para a sua formação. Trata-se das modificações que
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vinham ocorrendo nas formas de pensamento, originada pelo Iluminismo. As
transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o século
XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a natureza e a
cultura.

Porém, a Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-metodológica


dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade
social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas
mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar, não
necessariamente em ordem de importância: (1) a Positivista-Funcionalista, tendo como
fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de
fundamentação analítica; (2) a sociologia compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz
teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e (3) a linha de explicação sociológica
dialética, iniciada por Karl Marx, que mesmo não sendo um sociólogo e sequer se
pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica.

Estas três matrizes explicativas, originadas pelos seus três principais autores clássicos,
(Durkheim, Marx e Weber) originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos da
Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já no início do século
XX. É interessante notar que a Sociologia não se desenvolve apenas no contexto europeu.
Ainda que seja relativamente mais tardio seu aparecimento nos Estados Unidos, ele se dá,
em grande medida, por motivações diferentes que as da velha Europa (mas certamente
influenciada pelos europeus, especialmente pela sociologia britânica e positivista de Herbert
Spencer). Nos EUA a Sociologia esteve de certo modo "engajada" na resolução dos
"problemas sociais", algo bem diverso da perspectiva acadêmica européia.

A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o
funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, a classe social ou longos
processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduo num nível
micro-sociológico, sem jamais esquecer-se que o homem só pode existir na sociedade e que
esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a
identidade. Para compreender o surgimento da sociologia como ciência do século XIX, é
importante perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais
desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores a analisar as
questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico.

Ainda que a Sociologia tenha emergido em grande parte da convicção de Comte de que ela
eventualmente suprimiria todas as outras áreas do conhecimento científico, hoje ela é mais
uma entre as ciências.

Atualmente, ela estuda organizações humanas, instituições sociais e suas interações sociais,
aplicando mormente o método comparativo. Esta disciplina tem se concentrado
particularmente em organizações complexas de sociedades industriais.

Ao contrário das explicações filosóficas das relações sociais, as explicações da Sociologia


não partem simplesmente da especulação de gabinete, baseada, quando muito, na
observação casual de alguns fatos. Muitos dos teóricos que almejavam conferir à sociologia
o estatuto de ciência, buscaram nas ciências naturais as bases de sua metodologia já mais
avançada, e as discussões epistemológicas mais desenvolvidas. Uma das primeiras e grandes
preocupações para com a sociologia foi eliminar juízos de valor feitos em seu nome.
Diferentemente da ética, que visa discernir entre bem e mal, a ciência se presta à
explicação e à compreensão dos fenômenos, sejam estes naturais ou sociais.
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Como ciência, a Sociologia tem de obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para
todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades dos fenômenos sociais
quando comparados com os fenômenos de natureza e, conseqüentemente, da abordagem
científica da sociedade. Tais peculiaridades, no entanto, foram e continuam sendo o foco de
muitas discussões, ora tentando aproximar as ciências, ora afastando-as e, até mesmo,
negando às humanas tal estatuto com base na inviabilidade de qualquer controle dos dados
tipicamente humanos, considerados por muitos, imprevisíveis e impassíveis de uma análise
objetiva.

No começo do século XX, sociólogos e antropólogos que conduziam estudos sobre


sociedades não-industrializadas ofereceram contribuições à Antropologia. Deve ser notado,
entretanto, que mesmo a Antropologia faz pesquisa em sociedades industrializadas; a
diferença entre Sociologia e Antropologia tem mais a ver com os problemas teóricos
colocados e os métodos de pesquisa do que com os objetos de estudo.

Quanto a Psicologia social, além de se interessar mais pelos comportamentos do que pelas
estruturas sociais, ela se preocupa também com as motivações exteriores que levam o
indivíduo a agir de uma forma ou de outra. Já o enfoque da Sociologia é na ação dos grupos,
na ação geral.

Já a Economia diferencia-se da Sociologia por estudar apenas um aspecto das relações


sociais, aquele que se refere a produção e troca de mercadorias. Nesse aspecto, como
mostrado por Karl Marx e outros, a pesquisa em Economia é freqüentemente influenciada
por teorias sociológicas.

A Sociologia, em vista do tipo de conhecimento que produz, pode servir a diferentes tipos
de interesses.

A produção sociológica pode estar voltada para engendrar uma forma de conhecimento
comprometida com emancipação humana. Ela pode ser um tipo de conhecimento orientado
no sentido promoção do melhor entendimento dos homens acerca de si mesmos, para
alcançar maiores patamares de liberdades políticas e de bem-estar social.

Por outro lado, a Sociologia pode ser orientada como uma 'ciência da ordem', isto é, seus
resultados podem ser utilizados com vistas à melhoria dos mecanismos de dominação por
parte do Estado ou de grupos minoritários, sejam eles empresas privadas ou Centrais de
Inteligência, à revelia dos interesses e valores da comunidade democrática com vistas a
manter o status quo.

As formas como a Sociologia pode ser uma 'ciência da ordem' são diversas. Ela pode partir
desde a perspectiva do sociólogo individual, submetendo a produção do conhecimento não
ao progresso da ciência por si ou da sociedade, mas aos seus interesses materiais imediatos.
Há, porém, o meio indireto, no qual o Estado, como principal ente financiador de pesquisas
nas áreas da sociologia escolhe financiar aquelas pesquisas que lhe renderam algum tipo de
resultado ou orientação estratégicas claras: pode ser tanto como melhor controlar o fluxo de
pessoas dentro de um território, como na orientação de políticas públicas promovidas
nem sempre de acordo com o interesse das maiorias ou no respeito às minorias. Nesse
sentido, o uso do conhecimento sociológico é potencialmente perigoso, podendo mesmo
servir à finalidades antidemocráticas, autoritárias e arbitrárias.

A sociologia no mundo foi se mostrando presente em várias datas importantes desde as


grandes revoluções, desde lá cada vez mais foi de fundamental participação para a sociedade
mundial e também brasileira.
15
Desde o início a sociologia vem se preocupando com a sociedade no seu interior, isto diz
respeito, por exemplo, aos conflitos entre as classes sociais. Na América Latina, por
exemplo, a sociologia sofreu influencias americanas e européias, na medida em que as suas
preocupações passam a ser o subdesenvolvimento, ela vai sofrer influências das teorias
marxistas.

No Brasil nas décadas de 20 e 30 a sociologia estava num estudo sobre a formação da


sociedade brasileira, e analisando temas como abolição da escravatura, êxodos, e estudos
sobre índios e negros

Nas décadas seguintes de 40 e 50 a sociologia voltou para as classes trabalhistas tais como
salários e jornadas de trabalho, e também comunidades rurais. Na década de 60 a sociologia
se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma agrária e
movimentos sociais na cidade e no campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se
voltou para os problemas sócio políticos e econômicos originados pela tensão de se viver em
um país cuja forma de poder é o regime militar.

Na década de 80 a sociologia finalmente volta a ser disciplina no ensino médio, e também


ocorreu a profissionalização da sociologia. Além da preocupação com a economia política e
mudanças sociais apropriadas com a instalação da nova república, voltam também em
relação ao estudo da mulher, ao trabalhador rural, e outros assuntos culminantes.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Émile Durkheim

Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna.


Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que
combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como
um dos melhores teóricos do conceito da coesão social.

Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu
uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria
aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa
que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma
16
existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a
realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.

Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma
solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de
modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso
definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que
participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).

A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são:
Da divisão do trabalho social (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio
(1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année
Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.

Pensamento

Durkheim formou-se em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à Sociologia. Seu
principal trabalho é na reflexão e no reconhecimento da existência de uma "Consciência
Coletiva". Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se
tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes
característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.

A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de "Socialização", a consciência


coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo
que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos
comportar. E esse "tudo" ele chamou de "Fatos Sociais", e disse que esses eram os
verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.

Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três
características: generalidade, exterioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas
sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento
estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo
que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas.

O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro "As regras do método
sociológico", onde define uma metodologia de estudo, que embora sendo em boa parte
extraída das ciências naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que
regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais.

Em seus estudos, ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é
possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está
interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai
bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele
desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia.

A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e


procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela
sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as
necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto,
conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra,
elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.

Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são
valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador,
17
que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser
meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto
fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma
sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"),
sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero,
Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião.

Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as
instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis,
desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente não
podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as
conseqüências. Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e
chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia era a grande inimiga da
sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do
sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.

Na tentativa de "curar" a sociedade da anomia, Durkheim escreve "Da divisão do trabalho


social", onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre
os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo
biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada
membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através
de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e
solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um
todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente
mecânica.

PRINCIPAIS CONCEITOS SOCIOLÓGICOS

Anomia

A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas


transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do
Capitalismo, e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco
rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. A
Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornece novos valores que
preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no
cotidiano de muitos indivíduos. Há um sentimento de se "estar à deriva", participando
inconscientemente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e
da identidade.

Este termo foi cunhado por Durkheim em seu livro O Suicídio. Durkheim emprega este
termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse
corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente". Em seu famoso estudo
sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente da sociedade
moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento
suicida.

Segundo Robert King Merton, anomia significa uma incapacidade de atingir os fins
culturais. Para ele, ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à
insuficiência dos meios institucionalizados, gera conduta desviante. Seu pensamento
popularizou-se em 1949 com seu livro: Estrutura social e Anomia.
18
A teoria da anomia de Merton explica porque os membros das classes menos favorecidas
cometem a maioria das infrações penais, explica os crimes de motivação política
(terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta de rebeliões e explica
comportamentos como os do alcoolismo e tóxico-dependência (evasão). (Obtido em
"http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia")

CLASSE SOCIAL

Uma classe social é um grupo de pessoas que têm status social similar segundo critérios
diversos, especialmente o econômico. Diferencia-se da casta social na medida em que ao
membro de uma dada casta normalmente é impossível mudar de status.

Segundo a óptica marxista, em praticamente toda sociedade, seja ela pré-capitalista ou


caracterizada por um capitalismo desenvolvido, existe a classe dominante, que controla
direta ou indiretamente o Estado, e as classes dominadas por aquela, reproduzida
inexoravelmente por uma estrutura social implantada pela classe dominante. Segundo a
mesma visão de mundo, a história da humanidade é a sucessão das lutas de classes, de forma
que sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante, surge em
seu lugar uma nova classe dominada, e aquela impõe a sua estrutura social mais adequada
para a perpetuação da exploração.

Na Idade Média, a classe dominante era formada pelos senhores feudais, donos das terras
através da aplicação de compulsão e coerção, e a classe dominada era formada pelos
camponeses. Uma classe à parte era a classe dos guerreiros, que era composta pelos
camponeses (alguns eram senhores feudais) e podia passar para uma classe dominante caso
recebesse terras como prêmio de suas conquistas.

Segundo Karl Marx, as classes sociais estão associadas à divisão do trabalho. São grupos
coletivistas que desempenham o mesmo papel na divisão do trabalho num determinado
modo de produção (feudal, mercantil, industrial etc).

A partir da Idade Contemporânea, com o desenvolvimento do sistema capitalista industrial


(e mesmo do pós-industrial), normalmente existe a noção de que as classes sociais, em
diversos países, podem ser dividas em três níveis diferentes, dentro dos quais há subníveis.
Atualmente, a estratificação das classes sociais segue a convenção baixa, média e alta,
sendo que as duas primeiras designam o estrato da população com pouca capacidade
financeira, tipicamente com dificuldades econômicas, e a última possui grande margem
financeira.

A classe média é, portanto, o estrato considerado mais comum e mais numeroso, que,
embora não sofra de dificuldades, não vive propriamente com grande margem financeira.
Nota-se, porém, que, nos países de Terceiro Mundo, a classe média é uma minoria e a classe
baixa é a maioria da população. Desta interpretação, é possível encontrar outras classes:

1. classe alta-alta: indivíduos que se destacam sócio-economicamente, normalmente


donos de grandes empresas e oriundos de famílias tradicionalmente ricas;
2. classe alta: indivíduos altamente bem pagos;
3. classe média-alta: indivíduos com salários médio-altos;
4. classe média: Pessoas ganhando salários razoáveis ou medianos, porém inferiores
aos dos membros da subclasse anterior;
5. classe média-baixa: pessoas que recebem salários mais baixos, mas não são
trabalhadores braçais;
19
6. classe baixa: trabalhadores braçais, também conhecidos como a "classe
trabalhadora";
7. miseráveis: pessoas desempregadas ou não que vivem em um estado constante de
pobreza.

COERÇÃO

Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força,
intimidação ou ameaça.

A mais óbvia forma de motivação de pessoas ou equipes é a coerção, onde evitar a dor ou
outras conseqüências negativas tem um efeito imediato sob suas vítimas.

Quando tal coerção é permanente, é considerada escravidão. Embora a coerção seja


considerada moralmente repreensível em muitas filosofias, ela é largamente praticada em
prisioneiros ou na forma de convocação militar. Críticos do capitalismo moderno acusam
que sem redes de proteção social, a “escravidão salarial” é inevitável. Já os liberais vêem os
impostos como uma coerção estatal.

Em gerenciamento de equipes, a coerção é considerada o pior tipo de comportamento.


Envolve convencer outros participantes a agir usando ameaças ativas ou passivas.
"Lembrar" um subordinado que executar uma determinada tarefa de maneira específica vai
refletir na avaliação de performance é uma tática de coerção muito comum.

A pressão da coerção é acumulativa. Com o tempo, a coerção mina a autoridade da


liderança, estimula a rebeldia, a falta de lealdade e a fuga de talentos. Se usada
frequentemente, pode perder seu efeito intimidador, gerando comportamentos
profissionalmente "suicidas" por parte de suas vítimas: isso ocorre quando a própria coerção
passa a ser menos suportável do que as consequências da ameaça utilizada.

Assédio moral é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e


constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de
suas funções.

São mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam


condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes
dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente
de trabalho e a organização.

Por ser algo privado, a vítima precisa efetuar esforços dobrados para conseguir provar na
justiça o que sofreu, mas é possível conseguir provas técnicas obtidas de documentos (atas
de reunião, fichas de acompanhamento de desempenho, etc), além de testemunhas idôneas
para falar sobre o assédio moral cometido.

Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em
diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que
seguem um padrão determinado no espaço. Se refere a crenças, comportamentos, valores,
instituições, regras morais que permeiam e identifica uma sociedade. Explica e dá sentido a
cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano em um território e num
determinado período.
20
FATO SOCIAL

Objeto central da sociologia de Émile Durkheim, um fato social é qualquer forma de


coerção sobre os indivíduos que é tida como uma coisa exterior a eles, tendo uma existência
independente e estabelecida em toda a sociedade, que é considerada então como
caracterizada pelo conjunto de fatos sociais estabelecidos.

Também se define o fato social como uma norma coletiva com independência e poder de
coerção sobre o indivíduo.

Segundo Emile Durkheim, os Fatos Sociais constituem o objeto de estudo da Sociologia


pois decorrem da vida em sociedade.O sociólogo francês defende que estes têm três
características:

 Coercitividade - característica relacionada com a força dos padrões culturais do


grupo que os indivíduos integram. Estes padrões culturais são de tal maneira fortes
que obrigam os indivíduos a cumpri-los.

 Exterioridade - esta característica transmite o fato desses padrões de cultura serem


exteriores aos indivíduos, ou seja ao fato de virem do exterior e de serem
independentes das suas consciências.

 Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a
coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos
grupos pela sociedade, por exemplo.

Para Émile Durkheim, fatos sociais são "coisas". São maneiras de agir, pensar e sentir
exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com
os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São
fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de
agir, costumes, etc.

“É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre
o indivíduo uma coação exterior.”; ou ainda, “que é geral no conjunto de uma dada
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas
manifestações individuais.” Ou ainda:Todas as maneiras de ser, fazer, pensar, agir e
sentir desde que compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e
tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando
o que é certo ou errado, permitido ou proibido.

Existem também as correntes sociais, como as grandes manifestações de entusiasmos,


indignação, piedade, etc. Chegam a cada um de nós do exterior e não têm sua origem em
nenhuma consciência particular. Têm grande poder de coação e são suscetíveis de nos
arrastar, mesmo contra a vontade. Se um indivíduo experimentar opor-se a uma destas
manifestações coletivas, os sentimentos que nega voltar-se-ão contra ele. Estamos então a
ser vítimas de uma ilusão que nos faz acreditar termos sido nós quem elaborou aquilo que se
nos impôs do exterior. Percebemos então que fomos sua presa, mais do que seus criadores.

Analisando os fatos sociais chega-se à conclusão de que toda a educação dada às crianças
consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às
quais ela não teria chegado espontaneamente. Segundo Herbert Spencer, uma educação
racional deveria deixar a criança agir com toda a liberdade. Mas essa teoria pedagógica
nunca foi praticada por nenhum povo conhecido, não passa então de um desejo pessoal. A
educação tem justamente o objetivo de criar o ser social.
21
Não é a generalidade que serve para caracterizar os fenômenos sociológicos. Um
pensamento comum a todos ou um movimento por todos os indivíduos não são por isso
fatos sociais. Isso são só suas encarnações individuais.

Há certas correntes de opinião que nos levam ao casamento, ao suicídio ou a uma taxa de
natalidade mais ou menos forte; estes são, evidentemente, fatos sociais. Somente as
estatísticas podem nos fornecer meios de isolar os fatos sociais dos casos individuais. Por
exemplo, a alta taxa de suicídio no Japão; não são só fatos individuais e particulares que os
levam a suicidar. Toda cultura e a educação deste país exerce grande diferença no
pensamento do indivíduo na hora de se suicidar. O mesmo caso particular de frustração do
indivíduo, em outra sociedade, poderia não o levar ao suicídio. Esse é um fato social, além
de psicológico.

Não podemos escolher a forma das nossas casas tal como não podemos escolher a forma do
nosso vestuário sem sofrer algum tipo de coerção externa. Os nossos gostos são quase
obrigatórios visto que as vias de comunicação determinam de forma imperiosa os costumes,
trocas, etc. Isso portanto também é um fato social, visto que é geral.

Contrariando Auguste Comte, não há um progresso, uma evolução da humanidade, o que


existe são sociedades particulares que nascem, se desenvolvem e morrem,
independentemente umas das outras. Se, além disso, se considera que as sociedades mais
recentes continuam as que precederam, então cada tipo superior poderá ser considerado
como a simples repetição do tipo imediatamente inferior. Um povo que substitui um outro
não é apenas um prolongamento deste último com alguns caracteres novos; é diferente,
constitui uma individualidade nova.

Devemos considerar os fatos sociais como “coisas”.

Nota: Para Durkheim, "coisa" é algo Sui generes, ou seja, é dotado de uma lógica própria.

1. Precisamos limpar toda a mente de prenoções antes de analisarmos fatos sociais.


Essas “noções vulgares” desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que nós
confundimos com as verdadeiras coisas. As prenoções são capazes de dominar o
espírito e substituir a realidade. Esquecidas as prenoções devemos analisar os fatos
sociais cientificamente.
2. O sociólogo deve definir aquilo que irá tratar, para que todos saibam, incluindo ele
próprio, o que está em causa. É necessário que exprima os fenômenos não em função
de uma idéia concebida pelo espírito, mas sim das suas propriedades concretas. As
únicas características a que podemos recorrer são as imediatamente visíveis. Tomar
sempre para objeto de investigação um grupo de fenômenos previamente definidos
por certas características exteriores que lhes sejam comuns, e incluir na mesma
investigação todos os que correspondam a esta definição. Por isso todo fato social é
coercitivo, exterior e geral.

O casamento é um exemplo de fato social o qual nos deparamos a todo momento em nossa
sociedade. Todo o círculo de parentes e amigos que o cercam de forma direta ou indireta
impõe que o cidadão deve se casar e constituir uma família. Até quando a situação tem
como principal finalidade a descontração, gozação e coisas do gênero, o fato social mostra
suas características, no exemplo abaixo podemos ver nitidamente algumas delas. Ex: "e você
já se casou...", quem nunca se deparou com uma pergunta desta ao rever um grande amigo,
ou numa reunião com seus familiares que não os via há muito tempo? Apesar de ser dotado
de um poder coercitivo, aceitamos o mesmo de bom grado.
22
GRUPOS

Em Sociologia, um grupo é um sistema de relações sociais, de interações recorrentes entre


pessoas. Também pode ser definido como uma coleção de várias pessoas que compartilham
certas características, interajam uns com os outros, aceitem direitos e obrigações como
sócios do grupo e compartilhem uma identidade comum — para haver um grupo social, é
preciso que os indivíduos se percebam de alguma forma afiliados ao grupo.

Enquanto um agregado incluir várias pessoas somente, um grupo, em Sociologia, exibe


coerência em um grau maior. Aspectos que os sócios no grupo podem compartilhar incluem
interesses, valores, raízes étnicas ou linguísticas e parentesco. Já a diferença quanto a
sociedade não é apenas quantitativa, ou seja, um grande grupo não é necessariamente uma
sociedade; a sociedade deve ter aspectos não-essenciais ao grupo, como uma localização
espacial, uma cultura auto-suficiente e um mecanismo de reprodução e renovação dos
membros.

Grupos primários consistem em grupos pequenos com relações íntimas; famílias, por
exemplo. Podem ser caracterizados por contactos diretos ou indiretos, como corresponder-se
com um irmão noutro país via e-mail. Eles geralmente mantêm-se durante anos.

Já os grupos secundários, em contraste com grupos primários, são grupos grandes cujas
relações são apenas formais e institucionais. Alguns deles podem durar durante anos mas
alguns podem desaparecer depois de uma vida curta. Os termos "grupo primário" e "grupo
secundário" foram criados por Charles Horton Cooley.

Grupos intermediários são aqueles em que se alternam e se complementam as duas formas


de contatos sociais: primários e secundários; um exemplo desse tipo de grupo é a escola.

TEÓRICOS CLÁSSICOS EM SOCIOLOGIA

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Karl

Marx

Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da


doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico
político e jornalista.
23
O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, História, Sociologia,
Ciência Política, Antropologia, Psicologia, Economia, Comunicação, Arquitetura e outras.
Em uma pesquisa da rádio BBC de Londres, realizada em 2005, Karl Marx foi eleito o
maior filósofo de todos os tempos[1].

Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida


era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade
“ capitalista e das instituições estatais por estas suscitadas, contribuir para a
libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar
consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições
de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma
tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (...) Como
conseqüência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu
tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de
seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos,
porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de
lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só
respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu
amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores
revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes
da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora,
possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal. ”
Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente influência intelectual
e política sobre os movimentos operários (ao final do século XIX, o principal locus de
debate da teoria era o Partido Social-Democrata alemão) e, em menor proporção, sobre os
círculos acadêmicos ligados às ciências humanas – notadamente na Universidade de Viena e
na Universidade de Roma, primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados
para o estudo de Marx.

Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de Kant e Hegel um de seus
grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os
tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem
era um admirador. Como filósofo, se posiciona muito mais numa supra-filosofia, em que
"realizar" a filosofia é antes "abolí-la", ou ao realizá-la, ela e a realidade se transformam na
práxis, a união entre teoria e prática.

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é
uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer
separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas
dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real,
integram uma mesma totalidade complexa.

O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo


de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a idéia,
sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas
em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível
entender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em
conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real,
tendo como pressuposto que o real é movimento.

Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E o trabalho,


sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um
24
ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas
relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e
concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir
dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais.
E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua
compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.

Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que as questionou
e desenvolveu novas temas, de modo a produzir uma profunda reorientação no debate
intelectual europeu.

Seu pensamento político criticou todas as correntes socialistas por não ter um caráter
decididamente transformador, mas somente reformador. Ainda que para Marx, a evolução e
a revolução são dialéticas, e que cada partido operário ao realizar suas metas curtas, se
abole, pois se torna inútil. Enquanto, a posição que defende, o socialismo científico (para se
opor a um socialismo romantico) ou comunismo (revolucionário, para se opor ao mero
reformismo); defendia não uma melhoria das condições de vida do proletariado, mas a
própria emancipação do proletariado, o fim da condição proletária. Não se tratava de
amenizar a exploração, mas de abolí-la. Mas as condições dessa emancipação, que só a
prática poderia realizar, estava nas condições reais em que estava inserida. Por isso, em
Marx, é o desenvolvimento do capitalismo que cria a proletarização, que é o exército que irá
destronar a burguesia. E a própria hostilidade que o capitalismo produz sobre a condição
proletária é que cria as condições subjetivas para explodir uma revolução.

Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesmo, mas
comove os atores, se trata sempre de um "drama histórico" e não de um "determinismo
histórico" que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo
dialético de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia também ser definido como
uma "dialética realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as
idéias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois
sendo a história uma produção humana, e sendo as idéias produto das circunstâncias em que
tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da
história que criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade
histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E assim,
Marx finaliza as Teses sobre Feuerbach, não se trata de interpretar diferentemente o mundo,
mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo posto, só a
ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.

Karl Marx não teve uma preocupação central em fundar um método científico, apesar de tê-
lo fundado, toda sua atenção sempre consistiu em compreender o real através da filosofia e
ciência em uma prática orientada para a emancipação humana. Marx não possui um livro
em que sistematiza seus métodos, dado que esta nunca foi sua preocupação central. Seu
objetivo fundamental, ao contrário de muito que se afirmou na URSS, não era promover um
método científico superior aos demais, mas sim conhecer e transformar, estudar e lutar. Não
é atoa que em toda sua vida esteve ligado às lutas operárias direta ou indiretamente.

O conceito de Mais-valia foi empregado por Karl para explicar a obtenção de lucros
contínuos a partir da exploração da mão-de-obra. Os donos dos meios de produção obtêm
parte de seus lucros pela exploração do trabalhador.

TEXTO COMPLEMENTAR - IDEOLOGIA (Do livro: Marilena Chauí . Convite à


Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, ano 2000, pág. 216-219)
25
Ideologia é outro dos conceitos básicos de Sociologia que têm várias origens e
interpretações.

Marx afirma que a consciência humana é sempre social e histórica, isto é, determinada pelas
condições concretas de nossa existência.

Em Marx, ela assume um caráter essencialmente negativo: é a falsa consciência. Para ele,
ideologia é qualquer formulação teórica das relações sociais que não tenha por base a
produção material. Em outras palavras, a ideologia para Marx é resultado da percepção
incompleta do funcionamento da sociedade, o que faz com que tomemos como
imprescindível uma ordem de coisas que não o é, acreditando ser original uma situação que
é na verdade um efeito, uma conseqüência do estado de alienação em que se encontram os
indivíduos. Só a consciência é capaz de apreender o que realmente determina a organização
social e, a partir daí, de orientar a ação das pessoas.

A ideologia é um fenômeno histórico-social decorrente do modo de produção econômico.

Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas, e que
vivem na forma da luta de classes, uma imagem que permite a unificação e a identificação
social – uma língua, uma religião, uma raça, uma nação, uma pátria, um Estado, uma
humanidade, mesmos costumes.

Assim, a função primordial da ideologia é ocultar a origem da sociedade (relação de


produção como relações entre meios de produção e forças produtivas sob a divisão social do
trabalho), dissimular a presença da luta de classes (domínio e exploração dos não-
proprietários pelos proprietários privados dos meios de produção), negar as desigualdades
sociais (são imaginadas como se fossem conseqüência de talentos diferentes, da preguiça ou
da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem ilusória da comunidade (o Estado) originada do
contrato social entre homens livres e iguais. A ideologia é a lógica da dominação social e
política.

Porque nascemos e somos criados com essas idéias e nesse imaginário social, não
percebemos a verdadeira natureza de classe do Estado. A resposta á Segunda pergunta de
Marx, qual seja, por que a sociedade não percebe o vínculo interno entre poder econômico e
poder político, pode ser respondida agora: por causa da ideologia.

IDEOLOGIA (Prof.Dr.Silvio Gallo - Coordenador do Curso de Filosofia da Unimep e


do Gesef)

Juliana está indo de ônibus para o shopping. Como sempre, vai observando a
paisagem pela janela, perdida em seus pensamentos. De repente, algo chama sua atenção:
um outdoor novo e enorme, todo colorido... uma modelo alta, magra, loura, de olhos azuis
posa com uma nova calça da grife "X". Juliana é morena, baixa e até um pouco gordinha,
mas fica alucinada com a roupa mostrada no cartaz. Ela precisa comprar uma igual, nem que
para isso tenha de fazer um crediário e comprometer seu salário por alguns meses. Já pensou
o que suas amigas iriam pensar se a vissem dentro de uma calça como aquela, linda e
deslumbrante como a modelo do outdoor? E os garotos, então?

Você já parou para prestar um pouco de atenção nas propagandas que bombardeiam
nossos olhos e ouvidos a todo momento? Já pensou sobre as mensagens que nos são
transmitidas pelos meios de comunicação: TV, rádio, jornais e revistas, outdoors?
26
Vamos ficar com apenas um exemplo por enquanto: a propaganda dos cigarros Free.
O centro desses comerciais é a afirmação da individualidade e da liberdade: cada indivíduo é
livre e deve afirmar-se por meio de sua criatividade, no entanto, sempre há algo em comum,
que é preferência por aquela marca de cigarro. O mecanismo é o seguinte: se você fuma
Free, você é um sujeito livre, criativo, autônomo; um dos comerciais mostra uma garota que
se afirma livre e que não tentem tirar a liberdade dela, pois ela morde! "Cada um na sua,
mas com alguma coisa em comum", esse é o slogan. Consumir essa marca de cigarro é
afirmar sua independência e singularidade.

Continuemos com o exemplo das propagandas de cigarro. A marca Hollywood


investe na afirmação do sucesso: os comerciais mostram jovens bonitos e sempre bem -
sucedidos, induzindo-o a pensar que fumar aquele cigarro fará com que você seja também
alguém bonito e bem - sucedido. Já a marca Carlton investe no slogan "um raro prazer"; os
comerciais são sofisticados, mostram arte de vanguarda. Essa marca procura investir em
pessoas que querem ser refinadas, que ouve, jazz e música clássica, que apreciam balé e arte
contemporânea: se você se identifica com a imagem produzida, procurará consumir aquele
produto.

O que fica bem evidente nos comerciais de cigarro é o fundamento do mecanismo de


qualquer propaganda. Se sua função é vender um determinado produto, é necessário que
você se convença da necessidade de consumi-lo. O convencimento do consumidor é a tarefa
básica do marketing. Mas esse convencimento, na maioria das vezes, é feito com base em
mentiras (talvez fosse menos pesado falar em criação de ilusões): não é verdade que você
será mais livre fumando Free, ou terá mais sucesso fumando Hollywood, ou será mais
sofisticado se sua "escolha" for o Carlton. De fato, o que mais provavelmente acontecerá é
que você ganhará um belo câncer de pulmão com qualquer um deles! E as indústrias que os
fabricam ganharão muito dinheiro...

A essa tentativa de convencer as pessoas por meio de um falseamento da realidade nós


chamamos de ideologia.

O conceito de IDEOLOGIA

A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma "teoria geral
das ideias". Foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um
livro junto com Friedrich Engels intitulado A ideologia alemã. Nessa obra, eles mostram
como, em toda sociedade dividida em classes, aquela classe que domina as demais faz tudo
para não perder essa condição. Uma forma de manter-se no poder é usar a violência contra
todos aqueles que forem contrários a ela. Mas a violência pode voltar-se também contra ela:
a violência pode gerar a revolta do povo. É, então, muito mais fácil e mais eficiente dominar
as pessoas pelo convencimento.

É aí que entra a ideologia: ela constituirá um corpo de ideias produzidas pela classe
dominante que será disseminado por toda a população, de modo a convencer a todos de que
aquela estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. Com o tempo, essas idéias se
tornam as idéias de todos; em outras palavras, as idéias da classe dominante tornam-se as
idéias dominantes na sociedade.

Essa classe que se encontra no poder vai fazer uso de todos os mecanismos possíveis e
imagináveis para distribuir suas idéias para todas as pessoas, fazendo com que acreditem
27
apenas nelas. Numa sociedade de dominação, essa é a função dos meios de comunicação,
das escolas, das igrejas e das mais diversas instituições sociais. Onde houver pessoas
reunidas, ou mesmo sozinhas, haverá uma forma de ideologia em ação.

A ideologia passa a dominar todos os nossos atos. Quando nos convencemos da verdade
dessas idéias, passamos agir inconscientemente guiados por elas, ou seja, o corpo de idéias
constituído atravessa nosso pensamento sem nos darmos conta e passamos a desejar o que o
outro determina: quando compro um sabonete ou um creme dental, estou fazendo uma
"escolha" que me foi determinada pela propaganda. Quando voto num candidato a prefeito,
estou fazendo também uma "escolha" determinada pela propaganda pois, na democracia
representativa, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de
que aquele candidato é o melhor. Não foi por acaso que o filósofo Herbert Marcuse afirmou
que "na sociedade, os políticos também se vendem, como sabonetes".

Quando uma ideologia funciona de fato, ela se distribui por toda a sociedade, de forma a
fazer com que cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O triunfo de uma
ideologia acontece quando todo um grupo social está definitivamente convencido de sua
verdade. Se todos estão convencidos, ninguém questiona, e a sociedade pode manter-se
sempre da mesma maneira. De certo modo, o sucesso da ideologia está relacionado com o
processo da alienação, que analisaremos no capítulo seguinte.

IDEOLOGIA: Desejo, Vontade, Necessidade.

Mas o que faz com que o poder de convencimento da ideologia seja tão forte? Se ela é
constituída por ideias que falseiam a realidade para que na sociedade tudo continue como
está, por que as pessoas simplesmente não se revoltam contra ela?

É parece que a coisa não é assim tão simples. Se fosse, não estaríamos imersos em todo esse
processo de dominação e submissão das pessoas.

Para tentar entender o processo de "funcionamento" da ideologia, voltemos à questão da


propaganda. O que leva um sujeito a fumar Hollywood? Por que ele não se dá conta de que
seu sucesso não depende do cigarro que ele fuma ou deixa de fumar?

É claro que todo indivíduo deseja ter sucesso na vida. Mas também é evidente que, numa
sociedade de dominação e desigualdades, o sucesso não é possível para todos. Para que
alguns possam ser muito bem - sucedidos, é necessário que muitos outros permaneçam na
miséria. Se for alardeado pelos meios de comunicação que o sucesso não é possível para
todos, certamente teremos uma boa dose de inconformismo social que pode levar até mesmo
a violentas revoltas. A ideologia trata então de disseminar a idéia de que vivemos numa
sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo, cada
indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na
miséria...

Às vezes, alguém se esforça ao limite, mas nada de chegar ao sucesso . Ele permanece como
um ideal, um sonho quase inatingível, mas do qual não abrimos mão, do qual jamais
desistiremos. Quando esse indivíduo vê o belíssimo comercial do cigarro que estampa a
imagem do sucesso, algo desperta, bem lá no íntimo de seu ser. Inconscientemente, ele
associa a imagem do cigarro à imagem do sucesso, e renova suas forças na busca de obtê-lo.
Fumar Hollywood é ser bem - sucedido, embora, na verdade, ele continue insatisfeito com
seu trabalho, seu salário, com seu casamento...

Você já deve ter conseguido perceber o que estamos tentando explicar: a ideologia funciona
tão bem porque age atravessando e invadindo o íntimo das pessoas. E EMBORA SEJA UM
28
CORPO DE IDEIAS, NÃO DOMINA PELA IDEIA, MAS PELAS NECESSIDADES
CRIADAS POR ESSAS IDÉIAS, PELOS DESEJOS QUE ELAS DESPERTAM. O
discurso ideológico é aquele que consegue tocar nas vontades e ambições mais íntimas de
cada indivíduo, dando-lhe a ilusão de sua realização. Alguém fuma Marlboro e tem a ilusão
de sua realiza sua vontade de ter acesso a um outro mundo, a uma terra de liberdade, um
pasto para cavalos, lugar de homem corajoso e forte que, com bravura, realiza-se no que faz;
alguns passam a ver seu patrão como um ideal a ser alcançado, como alguém que gostaria de
ser, imaginando que ele alcançou o sucesso, tem tudo o que quer e é feliz; alguém tem a
vontade de tomar a vitamina Eletrizan para ter mais energia; alguém quase careca usa um
xampu que lhe promete uma abundante cabeleira, e assim por diante.

Para sermos mais enfáticos, além de lidar com as necessidades e as vontades e de influenciar
os desejos das pessoas, a propaganda produz outras necessidades e administra sua satisfação,
de modo que cada um tenha uma ilusão de felicidade, uma ilusão de prazer e se acomode à
situação vivida de sempre querer mais. O consumismo nada mais é do que a afirmação dessa
realidade de realizar os desejos dos outros como se fossem nossos. Por que você sempre
precisa usar uma roupa de grife? Ou cortar o cabelo de acordo com a moda? Enquanto você
consome, suas vontades vão sendo realizadas, mas, ao mesmo tempo, novas necessidades
vão sendo criadas, de forma que é praticamente impossível escapar dessa "roda viva".
Enquanto você consome, não questiona a sociedade na qual vive nem que o leva a consumir
tanto.

No âmbito da política, a ideologia aparece da mesma forma. Observe as propagandas em


época de eleições. Elas sempre tocam nas necessidades básicas das pessoas. Os candidatos
que saem vencedores nas eleições são sempre aqueles que melhor conseguirem tocar nos
desejos dos eleitores, que conseguiram produzir neles a ideia de uma satisfação futura.
Desse modo, nem sempre votamos nos candidatos que poderiam defender melhor nossos
interesses sociais; na maioria das vezes, ao contrário, votamos naqueles que, de algum
modo, prometem uma satisfação para nossos desejos.
29
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Max Weber

Maximillian Carl Emil Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e
considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e
economista Alfred Weber. A esposa de Max Weber, Marianne Schnitger, era a socióloga e
historiadora do Direito.

De importância extrema, Max Weber escreveu a Ética protestante e o espírito do


Capitalismo. Este é um ensaio fundamental sobre as religiões e a afluência dos seus
seguidores. Subjacente a Weber está a realidade econômica da Alemanha do princípio do
século XX.

Significante, também, é o ensaio de Weber sobre a política como vocação. Weber postula
ali a definição de estado que se tornou essencial no pensamento da sociedade ocidental: que
o Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva. A política
deverá ser entendida como qualquer actividade em que o estado tome parte, de que resulte
uma distribuição relativa da força.

A política obtém assim a sua base no conceito de poder e deverá ser entendida como a
produção do poder. Um político não deverá ser um homem da "verdadeira ética católica"
(entendida por Weber como a ética do Sermão da Montanha - ou seja: oferece a outra face).
Um defensor de tal ética deverá ser entendido como um santo (na opinião de Weber esta
visão só será recompensadora para o santo e para mais ninguém). A esfera da política não é
um mundo para santos. O político deverá esposar a ética dos fins últimos e a ética da
responsabilidade, e deverá possuir a paixão pela sua actividade como a capacidade de se
distanciar dos sujeitos da sua governação (os governados).

Quanto às relações entre a cultura protestante e o "espírito do capitalismo", pode-se dizer, de


maneira esquemática, que estão relacionadas principalmente com a doutrina da
predestinação e da comprovação — entendidas aqui, respectivamente, como a idéia de que
Deus decretou o destino dos homens desde a criação e a idéia de que certos sinais da vida
cotidiana podem indicar quais são os eleitos por Deus e quais os danados. Conquanto, para
os católicos, há certos elementos atenuantes que permitem ao crente cometer certos deslizes,
para os protestantes, sobretudo os calvinistas, a exigência de uma comprovação de que se é
eleito impõe vastas restrições à liberdade do fiel, de modo a levar a uma total racionalização
30
da vida. Essa racionalização, entendida como uma "ascese intramundana" — isto é, uma
visão de mundo que propõe a iluminação através da santificação de cada ato particular do
cotidiano —, abre um campo para o enaltecimento do trabalho, visto como a marca da
santificação. É essa característica que permite a articulação entre a ética protestante, por um
lado, e o espírito do capitalismo, por outro.

Weber também é conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade. No seu


trabalho, Weber delineia a famosa descrição da burocratização como uma mudança da
organização baseada em valores e ação (a chamada autoridade tradicional) para uma
organização orientada para os objetivos e ação (chamada legal-racional). O resultado,
segundo Weber, é uma "noite polar de frio glacial" na qual a crescente burocratização da
vida humana a coloca numa gaiola de metal de regras e de controle racional. Seus estudos
sobre a burocracia da sociedade tiveram grande importância no estudo da Teoria da
Burocracia, dentro do campo de estudo da administração de empresas

O pensamento de Weber caracteriza-se pela crítica ao materialismo histórico, que


dogmatiza e petrifica as relações entre as formas de produção e de trabalho (a chamada
"estrutura") e as outras manifestações culturais da sociedade (a chamada "superestrutura"),
quando na verdade se trata de uma relação que, a cada vez, deve ser esclarecida segundo a
sua efetiva configuração. E, para Weber, isso significa que o cientista social deve estar
pronto para o reconhecimento da influência que as formas culturais, como a religião, por
exemplo, podem ter sobre a própria estrutura econômica.

A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre
tipos de ação:

 A ação racional com relação a um objetivo é determinada por expectativas no


comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens e utiliza
essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios
racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim
especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte.

 A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito, é


definida por uma reação emocional do ator em determinadas circunstâncias e não em
relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em
seu filho por se comportar mal.

 A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas


numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator não precisa conceber
um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção, obedece a reflexos
adquiridos pela prática.

Tanto a ação afetiva quanto a tradicional produzem relação entre pessoas (relações
pessoais), são coletivas, comunitárias, nos dão noção de comunhão e conceito de
comunidade.

Observe-se que na concepção de Durkheim, a comunidade é anterior a sociedade, ou


melhor, a comunidade se transforma em sociedade. Já para Weber comunidade e sociedade
coexistem. A comunidade existe no interior da sociedade, como por exemplo, a família
(comunidade) que existe dentro da sociedade.

Ação social é um comportamento humano, ou seja, uma atitude interior ou exterior voltada
para ação ou abstenção. Esse comportamento só é ação social quando o ator atribui a sua
31
conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o
comportamento de outras pessoas.

Para Weber a Sociologia é uma ciência que procura compreender a ação social. Por isso,
considerava o indivíduo e suas ações como ponto chave da investigação evidenciando o que
para ele era o ponto de partida para a Sociologia, a compreensão e a percepção do sentido
que a pessoa atribui à sua conduta.

O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e
perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como dizia
Durkheim. Aquele propõe que se deve compreender, interpretar e explicar respectivamente,
o significado, a organização e o sentido e evidenciar irregularidade das condutas.

Com este pensamento, não possuía a idéia de negar a existência ou a importância dos
fenômenos sociais, dando importância à necessidade de entender as intenções e motivações
dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua idéia é que no domínio
dos fenômenos naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de
proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de
proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e compreendê-las.

Weber também se preocupou muito com a criação de certos instrumentos metodológicos


que possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares sem que ele se
perca na infinidade disforme dos seus aspectos concretos, sendo que o principal instrumento
é o tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar
explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar
essa dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas.

Para Weber, a ciência positiva e racional pertence ao processo histórico de racionalização,


sendo composta por duas características que comandam o significado e a veracidade
científica. Em que estas duas características são o não-acabamento essencial e a
objetividade, em que esta, é definida pela validade da ciência para os que procuram este tipo
de verdade, e pela não aceitação dos juízos de valor. Segundo ele o não-acabamento é
fundamental, diferentemente de Durkheim que acredita que a Sociologia é edificada em um
sistema completo de leis sociais.

Weber por sua vez defendia que para todas as disciplinas, tanto as ciências naturais como as
ciências da cultura, o conhecimento é uma conquista que nunca chega ao fim. A ciência é o
devir da ciência. Seria necessário que a humanidade perdesse a capacidade de criar para que
a ciência do homem fosse definitiva.

A objetividade do conhecimento é possível, desde que se separe claramente o conhecimento


empírico da ação prática. Segundo Weber essa é uma atitude que depende de uma decisão
individual do pesquisador, ou seja, os cientistas devem estar dispostos a buscar essa
objetividade.

Na concepção dos autores Weber e Durkheim, há uma separação entre ciência e ideologia.
Para Weber também há uma separação entre política e ciência, pois a esfera da política é
irracional, influenciada pela paixão e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra. O
homem político apaixona-se, luta, tem um princípio de responsabilidade, de pensar as
conseqüências dos atos. O político entende por direção do Estado, correlação de força,
capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos políticos. É luta pelo poder
dentro do Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento
científicos, não deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científicos, deve fazer
ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigação não será
32
nem imparcial nem objetivo. Para Durkheim política é a relação entre governantes e
governados.

Entretanto, na concepção de Marx não se podem dissociar ciência e ideologia, pois para ele
ideologia faz parte da ciência. Segundo ele ciência é ciência porque explica o objeto tal
como ele é, porém o conhecimento não é neutro. Política para este também é luta, mas não
de indivíduos como para Weber, é, sim, luta de classes.

A sociologia de Max Weber se inspira em uma filosofia existencialista que propõe uma
dupla negação. Nega Durkheim quando afirma que nenhuma ciência poderá dizer ao
homem como deve viver, ou ensinar às sociedades como se devem organizar. Mas também
nega Marx quando diz que nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual é o seu
futuro. A ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a
explicar os valores aos quais os homens aderiram, e as obras que construíram. Ele considera
a Sociologia como uma ciência da conduta humana, na medida em que essa conduta é
social.

Weber fundamenta sua definição de valores na filosofia neokantiana, que propõe a distinção
radical entre fatos e valores. Os valores não são do plano sensível nem do transcendente, são
criados pelas desilusões humanas e se diferem dos atos pelos quais o indivíduo percebe o
real e a verdade. Para Weber, há uma diferença fundamental entre ciência e valor: valor é o
produto das intenções, diferentemente de Durkheim que acreditava encontrar na sociedade
o objeto e o sujeito criador de valores. Weber o contesta dizendo que as sociedades são
meios onde os valores são criados, mas ela não é concreta.

Se a sociedade nos impõe valores, isso não prova que ela seja melhor que as outras. Sobre o
Estado, o conceito científico atribuído por Weber constitui sempre uma síntese realizada
para determinados fins do conhecimento. Mas por outro lado obtemo-lo por abstração das
sínteses e encontramos na mente dos homens históricos.

Apesar de tudo, o conteúdo concreto que a noção histórica de Estado adota poderá ser
apreendido com clareza mediante uma orientação segundo os conceitos do tipo ideal. O
Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode
fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de
normas (constituição). O Estado para Durkheim é a instituição da disciplina moral que vai
orientar a conduta do homem.

Religião também foi um tema que esteve presente nos trabalhos de Weber. "A ética
protestante e o espírito do capitalismo" foi a sua grande obra sobre esse assunto. Nesse seu
trabalho ele tinha a intenção de examinar as implicações das orientações religiosas na
conduta econômica dos homens, procurando avaliar a contribuição da ética protestante, em
especial o calvinismo, na promoção do moderno sistema econômico.

Weber concebia que o desenvolvimento do capitalismo devia-se em grande parte à


acumulação de capital a partir da Idade Média. Mas os pioneiros desse capitalismo
pertenciam a seitas puritanas e em função disso levavam a vida pessoal e familiar com
bastante rigidez. As convicções religiosas desses puritanos os levavam a crer que o êxito
econômico era como uma bênção de Deus. Aquele definia o capitalismo pela existência de
empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível, e cujo meio é a organização
racional do trabalho e da produção. É a união do desejo do lucro e da disciplina racional que
constitui historicamente o capitalismo.

Para Weber o objeto de estudo da sociologia é a ação humana tendo sentido. Sentido esse
que deve ser percebido pelo grupo que o indivíduo se encontra.
33
A França e a Inglaterra desenvolveram o pensamento social sob a influência do
desenvolvimento industrial e urbano, que tornou esses países potências emergentes nos
séculos XVII e XVIII e sedes do pensamento burguês da Europa. A indústria, a expansão
marítima e comercial, o sucesso alcançado pelas Ciências, em particular pela Física e pela
Biologia, influenciaram na adaptação das escolas sociológicas para uma nova visão do
mundo social. Entretanto, esse avanço da Sociologia foi alcançado tardiamente pela
Alemanha devido ao seu processo de unificação política e sob a influência de outras
correntes filosóficas e da sistematização de outras Ciências Humanas, como a História e a
Antropologia.

Devemos distinguir no pensamento alemão, portanto, a preocupação com o estudo da


diferença, característica de sua formação política e de seu desenvolvimento econômico.
Adicione-se a isso a herança puritana com seu apego à interpretação das escrituras e livros
sagrados. Essa associação entre História, esforço interpretativo e facilidade em discernir
diversidades caracterizou o pensamento alemão e influenciou muitos cientistas.

EXERCÍCIOS REFLEXIVOS - Leituras complementar:

Textos adicionais para reflexão In: FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo:
Atlas. 2003.
[A1] Comentário: A análise da teoria
weberiana como ciência tem como ponto
I. ENTENDER O MUNDO NO CHEIRO DO PÃO de partida a distinção entre tipos de ação:

Ignácio de Loyola Brandão. O estado de S.Paulo. São Paulo, 6 abr. 2001, p.


06.

"Sábado, 7 da manhã, caminho devagar pela rua deserta. Da minha casa à CPL, a padaria da
esquina, são menos de cem metros. Um sol tímido. Atravesso entre os sem-teto que, espalhados pelo [A2] Comentário: Desigualda-
de Social Teoria Marxista (Karl Marx)
meio-fio, aguardam a abertura da paróquia, onde tomam banho e recebem ajuda. Muitos chegam no
[A3] Comentário: Solidarieda-–
meio da noite e se dispõem estrategicamente, para ficar em boa posição na fila. Há um gordo, sempre de Durkheim. Acredita que a Sociologia é
edificada em um sistema completo de leis
camisa preta, que se senta em frente da igreja Renascer. Fica ali, imóvel. Dia desses, lia um livro de sociais.
capa vermelha. Não consegui ver o título. Seria o Livro Vermelho de Mão? (Esta revelou minha idade).
Às vezes, aos domingos, o homem gordo aparece com uma camisa branca. Passo e os sem-teto me
olham. Cumprimento, bom-dia, bom-dia. Recebem o cumprimento com surpresa, quase estupor.
Ninguém lhes dá bom-dia. Respondem alegremente e o bom-dia deles é caloroso, acompanhado de [A4] Comentário: Ação Social – Max
Weber. Para Weber o objeto de estudo da
um sorriso, os rostos se iluminam. Tão fácil desejar bom-dia, parece fazer tanto bem. Por que as sociologia é a ação humana tendo sentido.
Sentido esse que deve ser percebido pelo
pessoas são mesquinhas nos cumprimentos? grupo que o indivíduo se encontra.
Nessa hora do sábado ainda não há fila, na padaria. O pão caseirinho, especialidade da casa, está
[A5] Comentário: Weber - Tanto a
saindo do forno. Quase posso ver o vapor subir da cesta. Peço três caseirinhos, a casca é crocante, ação afetiva quanto a tradicional
produzem relação entre pessoas (relações
polvilhada por uma farinha delicada, parece talco, tão suave. Se me distraio como dois ou três, pessoais), são coletivas, comunitárias, nos
barrados de manteiga aviação, amarela, densa. Sinto-me envolvido pelo cheiro espesso do pão recém- dão noção de comunhão e conceito de
comunidade.
assado. O cheiro atravessa o papel e impregna-se em minha mão.
Vou pela rua, carregando o saquinho, apressado para chegar em casa com os caseirinhos ainda
quentes. Caminho envolvido pelo cheiro, quando passo diante de dois homens encostados na árvore
torta que existe no meio da quadra. Um deles exclama: "Cheiro bom tem esse pão"! Paro, e por um
momento, penso nesses pãezinhos crocantes e perfumados. Ofereço:

- Quer um? Estão quentes!


34
- Estou sentindo.
- Apanhe um.
- Não, ainda não bebi hoje... não posso comer. [A6] Comentário: WEBER - Ação
afetiva quanto a tradicional produzem
- Ah... (Digo, adorando a inversão do raciocínio. Falar o quê? Há sabedoria relação entre pessoas.
por trás de cada coisa. Nada de julgamentos precipitados).
- Brincadeira, não bebo. Só quero sentir o cheiro.
- Sentir o cheiro?
- O cheiro.
- Nada mais?
- Não tem nada melhor do que cheiro do pão fresco. Tão bom quanto cheiro de mulher. Elas
passam por aqui, sinto o sabonete, o perfume, o desodorante.
Falava corretamente. Tinha a roupa poída, os sapatos cambaios, mas o rosto estava barbeado,
coisa rara. Encontro nas ruas gente que fez faculdade, terminou colegial. Nada mais me surpreende. [A7] Comentário: Weber: A ciência
weberiana se define como um esforço
destinado a compreender e a explicar os
- Apanhe um, por favor! valores aos quais os homens aderiram, e as
obras que construíram. Ele considera a
- Já disse, meu senhor. Basta sentir o cheiro. É como se tivesse comido. E se comer um, vou Sociologia como uma ciência da conduta
querer dez. E se comer hoje, vou querer comer amanhã. Não! Aprendi a não comer, e pronto. humana, na medida em que essa conduta é
social.
Não posso me acostumar mal, ficar viciado. Fui viciado em cheiro de pão. De vez em quando
vem a tentação, quase me entrego. Por favor, vá embora. Leve o seu pão para longe. [A8] Comentário: Weber - É a união do
desejo do lucro e da disciplina racional que
constitui historicamente o capitalismo.
Sigo meu caminho. Em casa, toda a família ainda dorme, preparo a mesa. Coloco a toalha, o prato,
uma xícara bonita. Uma vez, estava no programa da Silvia Popovic e ela entrevistava Eduardo
Dusek, o cantor. Fascinado, ouvi-o contar que sempre que come sozinho, prepara uma mesa
magnífica, com flores, velas, o melhor prato, copos de cristal, guardanapos de linho. Mesmo que seja
para comer um pastel. Assim, a solidão desaparece, o sentido de elegância permanente.
Apanhei meu pão, cortei, cheirei. Algo inconcebível. Um perfume inebriante (custei, mas usei a
palavra) de trigo assado, de terra, de chuva, me invadiu. Saí de mim. É um chavão, sei! Mas foi assim. O [A9] Comentário: WEBER - Ação
afetiva quanto a tradicional produzem
cheiro do pão me tirou do chão. Flutuei. Vi (criei) imagens de campos dourados. Estrelas durante o dia. Um relação entre pessoas.
lago infinito, uma grande paz.
Entendi o sem-teto, compreendi o mundo." [A10] Comentário: DURKHEIM -
Fato Social - a três características:
generalidade, exterioridade e
coercitividade. Isto é, o que as pessoas
sentem, pensam ou fazem independente de
suas vontades individuais, é um
II. ECONOMIA COMEÇA A EXIBIR SEU LADO POBRE comportamento estabelecido pela
sociedade. Não é algo que seja imposto
especificamente a alguém, é algo que já
Naomi Klein / The Guardian. O Estado de S. Paulo. São Paulo: 28 maio 2001, Economia, p. B10. estava lá antes e que continua depois e que
não dá margem a escolhas.

"LONDRES - Há pouco mais de um ano, a revista do New York Times publicou uma extensa
reportagem sobre a pobreza nos Estados Unidos sob o título The Invisible Poor (Os Pobres Invisíveis).
Era uma peça bem-feita, com belas fotografias, mas havia algo estranho nela. Era como se, no auge do surto
de crescimento da alta tecnologia, no país mais rico do mundo, 'os pobres' habitassem um exótico país
estrangeiro, que está lá para ser descoberto pêlos jornalistas mas não para ser coberto.
A história oficial da maior parte da década, sustentada pelos baixos índices de desemprego
nos EUA, era que a pobreza era problema da 'velha economia'. É certo que o uso de cupons de
alimentação distribuído para pessoas carentes teve uma elevação de 75% em algumas cidades
americanas, que uma em cada cinco crianças americanas vive na pobreza e que 44,3 milhões de
pessoas não têm seguro saúde, mas você nunca soube disso como consumidor da mídia
superficial.
35
A reportagem ocasional pode ter surgido sobre as pessoas que a prosperidade 'deixou para
trás' (como se obra de algum erro tipográfico cósmico), mas na mídia nacional dominante tem havido
muito pouco apetite por essas reportagens deprimentes.
Isso não causa grande surpresa. Os jornalistas (ou 'provedores de conteúdo') têm estado no
centro da transição da 'velha economia' para a nova, uma transição que fez da mídia, da
informação, das ideias e da cultura os produtos de primeira necessidade mais cobiçados do mundo.
E o pior lugar para obter um quadro preciso de um furacão é exatamente quando se está postado
na relativa calma do seu olho. Agora que o turbilhão da nova economia está amainando,
pescoços começam a se espichar para ver o que foi perdido.
Bairros inteiros. O caráter de cidades como São Francisco. E talvez por causa desta pausa na
ação (combinada com a ação afrontosa de redução de impostos de George Bush), finalmente a
pobreza nos Estados Unidos está sendo discutida em termos menos exóticos e misteriosos.
Segundo várias novas reportagens, o motivo para o aprofundamento da pobreza nos Estados
Unidos é muito simples: são todas essas pessoas ricas. A riqueza extrema gerada na camada
superior da economia em vez de escoar para baixo e melhorar a vida de todos, está tendo impacto
negativo direto sobre os que vivem em extrema pobreza, na camada mais inferior.
Sobrevivência: Em seu novo livro, Nickel e Dimed, Barbara Ehrenreich, uma das mais
respeitadas críticas sociais da América, sobrevive 'disfarçada' de salário mínimo. Ela trabalha
como empregada doméstica sem vínculo empregatício no Maine, como caixa do Wal-Mart em
Minnesota, como garçonete na Flórida. Seu desafio é simples: sobreviver com seus salários.
Começou descobrindo que precisava de dois empregos para arcar com despesas de US$
624,00 ao mês do seu trailer em Key West, na Flórida, e a odisseia chega a um final abrupto quando
não consegue pagar por um quarto de hotel em Minneapolis (único aluguel disponível) com seu
salário do Wal-Mart.
O lado negativo da elitização é também um tema recorrente de Secrets of Silicon Valley, um
importante novo documentário de Alan Snitow e Deborah Kaufman. A história acompanha
trabalhadores temporários da alta tecnologia que montam computadores e impressoras - e não
ganham o suficiente para alugar uma moradia em uma cidade onde as casas regularmente são
vendidas por US$ 100 mil dólares a mais que o preço de oferta.
À medida que o sistema de classes invisível da nova economia dos Estados Unidos torna-se
mais visível, tem muito a ensinar a outros países que estão lutando para imitar o chamado
milagre da alta tecnologia.".

III. TRABALHAR PARA O OUTRO: UMA SAÍDA PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA

Delson Ferreira
Vivemos na sociedade do trabalho. Todas as formas de vivência social humana incluem-no e, [A11] Comentário: Marx – Relações de
prodção de trabalho
da infância à velhice, vivemos de operar tudo o que pensamos pela atividade de nossas mãos.
Sendo assim, não conseguimos imaginar o viver sem algum tipo de atividade. Tipicamente
moderna, a separação conceituai entre trabalho e lazer é fruto da perda do sentido profundo do seu
significado para o desenvolvimento do espírito humano. Hoje, somos obrigados a trabalhar apenas
para sobreviver, vinculamo-nos com os nossos empregos na luta pela garantia da subsistência
imediata e poucos de nós sentem, no cotidiano, a realização plena de suas potencia-lidades por
meio do trabalho. [A12] Comentário: Marx – Mais Valia.
Alienação. Trabalho como mercadoria.
36
Na medida em que o trabalho transformou-se em mero emprego e, portanto, em uma
mercadoria como outra qualquer, distanciamo-nos da possibilidade de tê-lo profundamente
vinculado ao nosso ser interno. A nossa relação com ele passou a ser medida apenas pela
[A13] Comentário: Marx - Idem
quantidade de dinheiro obtida ao início de cada mês, o salário. Daí, a dificuldade vivida por
muitos de nós às segundas-feiras e a ansiedade brutal pelo descanso dos finais de semana.
Trabalhar passou a significar, para boa parte das pessoas, cansaço, aborrecimento e pressão. Não é
demais lembrar a exploração comercial feita pela propaganda da cerveja, com os 'amigos' cantando:
'Hoje é Sexta-feira...'
A sociedade conquistou muitos benefícios materiais com a massifïcação da atividade produtiva
humana, mas a distribuição de tanta riqueza acumulada continua extremamente injusta em todo o
mundo. Por outro lado, a revolução tecnológica prometeu o paraíso: a diminuição do tempo de [A14] Comentário: Marx – luta de
classes
trabalho e o aumento correspondente do tempo livre para que pudéssemos dedicá-lo ao lazer, à
cultura e a nós mesmos. Nada disso aconteceu e, nos dias de hoje, além de trabalhar como nunca em
sua História, a humanidade vive perplexa diante do que os economistas chamam, com certa
naturalidade conceituais, de desemprego estrutural. Um erro essencial continua pairando no ar,
ou, como diz o poeta,'... alguma coisa estafara da nova ordem mundial'. Poucos realizam-se pelo
trabalho e muitos perdem-se na labuta diária de seus empregos e subempregos.
Precisamos retomar o sentido profundo do trabalho humano, de modo a emancipá-lo da sua
função meramente econômica, resgatando, assim, o seu sentido de realização para o nosso
espírito. Talvez seja essa a grande questão humana desse início de século: trabalhar com o outro,
pelo outro e, ao mesmo tempo, manter com dignidade a vida material. Nesse sentido, alguns sinais
começam a aparecer no horizonte humano, à medida que parece crescer o número de pessoas que
buscam soluções para humanizar novamente a atividade do trabalho. Saber que se pode contar
com o outro para transformar a natureza em utilidade social e, simultaneamente, não ter a coragem [A15] Comentário: Durkheim -

de explorá-lo, parece utopia, mas, ou a realizamos, ou estaremos fadados todos - patrões e


empregados - ao eterno sono enfastiado que sentimos nas segundas-feiras urbanas.
Por isso, não basta percebermos que precisamos gostar apenas do 'nosso' trabalho individual, é
necessário que criemos condições sociais para que todos possam trabalhar pelo prazer de realizar para
si e para os outros. Descobrimos a sociedade do 'ter' e nela nos sentimos sós, a partir disso precisamos [A16] Comentário: Solidariedade
orgânica
redescobrir a sociedade do 'ser'. E ser só é possível se for para o outro, com o outro.
O filósofo Hegel considerou que há uma relação de troca mútua entre o homem e a natureza. Marx
avançou em relação a essa ideia: para ele, quando o homem altera a natureza ele mesmo também se
altera. Ou seja, quando o homem trabalha, ele interfere na natureza e deixa nela suas marcas, mas no
processo de trabalho também a natureza interfere no homem e deixa marcas em sua consciência.
Ambos perceberam que não temos saída: é necessário resgatar o prazer diário no trabalho emancipado,
que não pode ser mais deleite de alguns - os chamados descolados -, devendo estar disponível a todos.
Nesse aspecto, Steiner demonstra razão quando fala sobre o trabalho comunitário. A seu ver,'. ..para que
alguém trabalhe para outro é necessário que encontre neste outro o motivo para o seu trabalho; e da mesma
forma é necessário que aquele que deve trabalhar para um grupo de pessoas também reconheça o valor, o
ser e o significado deste grupo'.
Talvez aí esteja uma das saídas para a emancipação humana: trabalhar não apenas para si ou
para alguém que o explora, mas para todos. Descobrir no outro a razão de seu e do crescimento coletivo
humano. Perceber com clareza que a liberdade tem duas dimensões, a individual e a social, e que, uma
sem a outra significa a continuidade, como pensou Michel Foucault, da imensa prisão que criamos
para nós mesmos." ( FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo: Atlas. 2003).
37
IV. IDEOLOGIA DA GLOBALIZAÇÃO E (DÊS) CAMINHOS DA CIÊNCIA SOCIAL
Miiiam Limoeiro Cardoso.
Trabalho apresentado no XXI Congresso da Associação Latino-americana de Sociologia, na mesa-
redonda Globalização e exclusão social. São Paulo, Universidade de São Paulo, 3-9-1997, p. 11-15.

"A desigualdade social acentuou-se drasticamente nas últimas décadas. Milhares de pessoas
lutam para sobreviver sob condições extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as
legiões de perseguidos e de refugiados, mas também onde o capitalismo se apresenta como mais
próspero. 'Na década de 80, muitos dos países mais ricos e desenvolvidos se viram outra vez [A17] Comentário: Marx, Luta de
classes
acostumando-se com a visão diária de mendigos nas ruas, e mesmo com o espetáculo mais chocante de
desabrigados protegendo-se em vãos de portas e caixas de papelão, quando não eram recolhidos pela
polícia. Em qualquer noite de 1993 em Nova York, 23 mil homens e mulheres dormiam na rua ou em
abrigos públicos, uma pequena parte dos 3% da população da cidade que não tinha tido, num ou
noutro momento dos últimos cinco anos, um teto sobre a cabeça' (New York Times, 16-11-93, Apud
Hobsbawm, 1997: 396). Aqui não se trata só de pobreza, mas de miséria e indigência. 3% de sem-teto
na grande metrópole da nação que hegemonizou a economia capitalista mundial desde o pós-guerra
não é um dado irrelevante.
Quanto à América Latina, sabemos que a situação social é muito grave. Estudos da CEPAL
sobre dados de 1986 referem 30% dos domicílios urbanos e 53% dos domicílios rurais como sendo
pobres e 11% de domicílios urbanos e 30% dos rurais como sendo indigentes (Lustig, 1995:88).
Dados sobre o Brasil em 1989 indicavam como pobres 34% dos domicílios urbanos e 45%
(número admitido como muito subestimado) dos domicílios rurais (Lopes, 1995: 142).
Estimativa para o Brasil urbano no mesmo ano aponta 22,52% dos domicílios como pobres e
11,03% como indigentes (Singer, 1996:80).
Discutindo a 'teoria da pobreza', Celso Furtado vincula pobreza à concentração da renda. Estatísticas
oficiais mostram que o 1% mais rico da população do Brasil, que detinha 11,9% da renda nacional
em 1960, passou a ter 16,9% em 1980. Se considerarmos os 5% mais ricos, sua participação subiu de
28% para 37,9% no mesmo período, enquanto a dos 50% mais pobres caiu de 17,4% para 12,6%. É um
quadro que não faz senão confirmar Hobsbawm quando identifica o Brasil como 'o candidato a campeão
mundial de desigualdade económica' (Hobsbawm, 1997:397). E desigualdade crescente
significativamente, em que a concentração da renda se acelera ao mesmo tempo em que o crescimento
econômico e a industrialização.
Diante dessa relação, Furtado conclui: Não é de surpreender, portanto, que a
especificação do subdesenvolvimento se haja reintroduzido pela porta traseira da 'teoria da pobreza'
(Furtado, 1992:15). Creio que Furtado tem razão quando não se deixa cair na insidiosa substituição de
'subdesenvolvimento' por 'pobreza'. Só se enganaria se acreditasse efetivamente que com essa
substituição a especificação do 'subdesenvolvimento' estivesse de fato sendo reintroduzida. Pelo que [A18] Comentário: Marx: Ideologia

eu entendo, ele sabe que não é assim e trata de chamar a atenção para a diferença, reintroduzin-do,
agora sim, ele mesmo, a questão omitida.
Tomando aquela substituição como um problema, veremos que ela produz um
apagamento e um deslocamento. É que os tempos são outros, as perspectivas e os interesses do
grande capital também são outros. Nas décadas de 50 e 60, a expansão internacional do capital abria
possibilidades reais amplas e dinamicamente integradoras para o que então passaram a chamar de
países 'subdesenvolvidos', trabalhando ideologicamente o progresso e a esperança do futuro.
Atualmente, a criação da temática 'zonas de pobreza' remete a uma situação em que regiões e segmentos
sociais são excluídos da expansão do capital. Neste caso, a temática do 'desenvolvimento' tenderia
38
mais a evidenciar essa exclusão, o que poderia demandar algum entendimento do processo que a cria. [A19] Comentário: Marx Ideologia

Assim, esse tema privilegiaria a análise do processo histórico, até porque está em pauta uma mudança
de rota, da inclusão desenvolvimentista para a exclusão produzida pelo capital rentista. Ao passo que a
temática da 'pobreza' tende a desviar a atenção para os chocantes 'dados' da miséria e da indigência,
privilegiando a análise do empírico imediato e a descrição mais espacial que temporal.
Entre todos os aspectos da exclusão desencadeada pelo regime contemporâneo de acumulação do
capital, há um que se destaca como essencial para compreender a crise atual em suas contradições mais
profundas: o desemprego estrutural e massivo. A taxa de desemprego na Europa Ocidental subiu, nas
décadas de 1960, 1970 e 1980, de 1,5% para 4,2% e para 9,2%, alcançando 11% em 1993 (Hobs-
bawm, 1997:396). Além de sua elevadíssima expressão quantitativa, o desemprego característico dessa
etapa do capitalismo não é apenas conjuntural, temporário. Na Europa Ocidental, 'metade dos
desempregados (1986-7) se achava sem trabalho há mais de um ano, um terço há mais de dois' (idem,
ibidem). As grandes transformações tecnológicas e organizacionais aplicadas ao sistema produtivo
incidiram diretamente sobre o trabalho e vêm provocando dispensa em massa de trabalhadores.
Mantidas as condições atuais, o problema só tende a se agravar, porque 'o crescente desemprego dessas
décadas não foi simplesmente cíclico, mas estrutural. Os empregos perdidos nos maus tempos não
retornariam quando os tempos melhorassem: não voltariam jamais' (idem 403).
É curioso como a informação sobre o que está ocorrendo atualmente com o em-
prego nos países de desenvolvimento capitalista avançado tem sido sistematicamente
escondida em países como o Brasil. A ideologia neoliberal insiste em apontar o caminho que
vem sendo seguido no desenvolvimento capitalista globalizado como sendo criador de
emprego. Diz-se, assim, que o desemprego aqui se resolverá com o crescimento económico.
Convém lembrar que o desemprego que enfrentamos (8,3% para o conjunto da América
Latina urbana em 1989, segundo dados do BID, 1990) ainda se refere a uma situação
econômica que é anterior à efetiva e generalizada reorganização do setor produtivo local
resultante das transformações tecnológico-organizacionais e anunciada pelas políticas
neoliberais.
As novas tecnologias e as novas formas de organização do trabalho têm permi-
tido um aumento substancial da produtividade. O resultado imediato tem sido acelerada e
crescente dispensa de mão-de-obra. O aumento de produtividade não tem levado a uma
expansão da produção que crie também uma expansão do emprego capaz de absorver pelo
menos boa parte da mão-de-obra expulsa do sistema produtivo. Operando desta maneira, o
sistema cria não somente marginalização, mas propriamente exclusão social - e exclusão que
é estrutural. Neste caso, a redução do trabalho necessário não libera tempo para a vida.
Libera para a exclusão e a miséria um contingente enorme e cada vez maior de
trabalhadores. Ou seja, sob o domínio do capital, o aumento de produtividade não reverte
para 'a sociedade', reverte exclusivamente para o capital.
À massa de excluídos pelo 'progresso' e pela 'racionalização' da produção resta
travar dia a dia a mais árdua luta para garantir minimamente a própria sobrevivência. As
designações formais criadas para reconhecer as atividades 'marginais' ou 'subterrâneas' a que
esses trabalhadores excluídos passam a se dedicar constituem em geral um meio de - no
campo das ideias, das representações e das ideologias -tratá-las sob algum vínculo sob o
qual eles apareçam integrados à sociedade. De fato, porém, se trata de atividades de
excluídos sociais para, enquanto excluídos, conseguirem manter-se vivos.
Para aqueles que logram permanecer empregados, a situação também se com-
plica. O crescimento tão significativo da mão-de-obra excedente atua clara e eficazmente no
sentido do rebaixamento dos salários de uma maneira geral. E todo esse processo se faz
39
presente também no nível da formulação política, dando forma às propostas de precarização
das relações de trabalho, por meio das quais se pretende reduzir ao limite mínimo e, se
possível, abolir direitos e garantias que o trabalho havia conquistado no momento anterior
do desenvolvimento capitalista, em que as relações de forças eram outras.
Os empregadores desejam conservar nas empresas apenas um núcleo reduzido de
assalariados permanentes e, para o resto, poder contratar e dispensar à vontade, em função
das necessidades do momento, 'assalariados temporários ou provisórios' que não terão
direito nem a férias, nem às mesmas garantias sociais, nem à prote-ção sindical. Essa maior
"liberdade" patronal na utilização da mão-de-obra supõe evidentemente o afrouxamento das
legislações trabalhistas e das leis sociais. Ela supõe também que, como para os diaristas
ingleses dos primórdios do capitalismo industrial, um mínimo de subsistência seja garantido à
população marginalizada dos desempregados e semidesempregados que, com os progressos da
informatização e da robotização, só poderão encontrar trabalhos ocasionais irregulares, ingratos, mal
pagos, sem futuro (Gorz, 1990:217).
Trabalhadores sem maior qualificação não terão qualquer chance de fazer parte do
segmento da força de trabalho que se torna 'privilegiado' por conseguir ser absorvido pelo sistema
produtivo. Mas qualificar-se não oferecerá nem mesmo uma garantia mínima de se tornar trabalhador
efetivo. Diante da exclusão que passa a ser norma para a grande maioria da população potencialmente
trabalhadora, a exploração do trabalho passa a ser 'privilégio'." Desenvolva uma análise com
posicionamento crítico sobre esta afirmação. Concorda, discorda, por que?

Fonte: FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo: Atlas. 2003.
Estudo Dirigido

1. Informe, justificando suas respostas, qual das afirmações seguintes está mais correta
e por que as outras são discutíveis:
a) “a Sociologia é uma das ciências sociais cujo objeto é explicar os
comportamentos individuais da pessoa humana.”;
b) “a Sociologia tem várias ramificações, sendo uma delas a teoria que abrange
a ciência chamada Sociologia Aplicada à Administração”;
c) “a Sociologia tem uma ramificação cujo objeto é o de propor medidas para
que sejam feitas mudanças ou ajustamentos na sociedade.”;
d) “a Sociologia também sugere medidas para intervir na sociedade”.

2. Conceitue, exemplificando, cada vocábulo listado a seguir:


Organização, Empresa, Administração, Administradores, Sistema de
Informação e Sociologia.

3. Supondo que você pretenda fundar uma empresa, por exemplo escola, para torná-la
viável, especifique de maneira concreta: Justifique as respostas.

a) a necessidade de pessoas que pretende satisfazer (razão pela qual sua


organização será criada);
b) características do cliente externo como segmento da sociedade, cujas
necessidades pretende suprir;
40
c) meta (visão e missão) em termos concretos de lucro bruto em porcentagem
sobre o capital investido que sua empresa deve atingir no primeiro ano de
funcionamento.

RESUMO DOS CONCEITOS DOS PENSADORES SOCIOLÓGICOS CLÁSSICOS

O conhecimento sociológico mantém uma relação instrumental com o mundo


social com o qual se relaciona. Tal conhecimento pode ser aplicado de maneira tecnológica
para intervir na vida social.

Símbolos e Cultura

 Os Símbolos são compreendidos dentro da Cultura.


 Cultura: tudo aquilo que é produto humano; “é tudo aquilo que permite um povo
viver”. Organização social própria.
 Identidade: é coletiva historicamente construída; cada pessoa desenvolve a
necessidade de sentir-se “especial” ou “única” dentro do seu próprio grupo; abrange
uma dimensão social. Segundo Erickson, sentido consciente da singularidade do
indivíduo; esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência.
 Crise: (Gr. Krysis) possibilidade para mudanças, para crescimento (...). Confusão de
Identidade – imposição, manipulação.
 Identidade Cultural: processo de construção de significado com base e um atributo
cultural – conjunto de atributos culturais inter-relacionados, os quais prevalecem
sobre outras fontes de significados.

Os pensadores da época eram homens de ação, que desejavam introduzir certas


modificações na sociedade. Dentre eles se destacam:

1. Augusto Comte (1798-1856)


2. Karl Marx (1818-1883)
3. Émile Durkheim (1858-1917)
4. Max Weber (1863-1920)

Segundo Comte todo o universo procede da matéria por via de evolução.


Também o homem é produto da evolução da matéria. Quando a evolução atingiu o estágio
humano, teve início histórico, cujas fases principais são a teológico (religião), a metafísica
(filosófica) e a positiva (ciência, observações) as quais constituem as três épocas
fundamentais da história da humanidade, também conhecidas como a lei dos três estados.
Durkheim deu fundamento a uma forma determinada de análise da sociedade:
a análise funcionalista. Tal análise baseia-se na visão da sociedade como um organismo
vivo, um todo integrado, onde cada indivíduo desempenha uma função necessária ao
equilíbrio do todo. Dessa forma, se todos os corações vibram em uníssono, não é por causa
de uma concordância espontânea e preestabelecida; é porque uma mesma força os move no
mesmo sentido. Cada um é arrastado pelos outros.
Durkheim tratou cientificamente os fatos sociais. Combinou a pesquisa
empírica com a teoria sociológica. Sua contribuição tornou-se ponto de partida do estudo de
41
fenômenos sociológicos como a natureza das relações de trabalho os aspectos sociais do
suicídio e as religiões primitivas.
Entende-se por Consciência coletiva o conjunto de crenças comuns à medida
dos membros de uma sociedade formando um sistema de comportar e interpretar a vida com
vida própria. Consciência Coletiva são formas e valores padronizados de conduta social
portanto, quanto maior é a consciência coletiva, mais há coesão entre os participantes da
sociedade estudada, referente a uma conformidade de todas as consciências.
A sociedade necessita de consenso, produzido e vigiado, daí a observação da
coerção social que o indivíduo recebe ao longo do processo da socialização.
Por Solidariedade entende-se uma relação de responsabilidade entre pessoas
unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação
moral de apoiar o(s) outro(s). Durkheim elaborou a tese da solidariedade social – e
procurou mostrar como ela se constitui responsável pela coesão (união) entre os homens e
de que maneira varia de organização social, dada a presença maior ou menor da divisão de
uma consciência mais ou menos similar entre os membros de uma sociedade.
A Solidariedade social, para Durkheim, é formada pelos laços que ligam os
indivíduos uns aos outros, membros de uma sociedade utros formando a coesão social.
As regras sociais, os costumes estão presentes antes mesmo do nascimento das
pessoas e são a elas impostos por mecanismo social, como a educação. Portanto, os fatos
sociais são ao mesmo tempo dotados de existência exterior às consciências individuais.
Nesse aspecto, Durkheim apresenta a teoria da coerção social, que é a força sobre os
indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem
independentemente de suas vontades e escolhas. Portanto, um fenômeno não pode ser
coletivo se não for comum a todos da sociedade ou, pelo menos, a maior parte das pessoas.
E a Anomia é uma patologia social, uma falta de ordem ou caos, ou seja, há
uma predominância e desintegração das normas sociais ou ainda uma quebra de equilíbrio
ou distanciamento da qualidade de vida desejada.
Para Marx o aspecto mais importante da sociedade é a economia. Marx
proclama que o que conta não é interpretar o mundo, mas mudá-lo. O pensamento que vale
realmente é aquele que acompanha a práxis, a ação que modifica as condições de vida dos
homens.
A mais-valia se deve ao fato de que o trabalhador produz uma quantidade de
bens correspondentes ao seu salário em um determinado número das horas, mas deve
continuar trabalhando até preencher o seu horário de trabalho.
Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos” (1936) mostra, com
sensibilidade inigualável e perspectiva tragicômica, o sofrimento do trabalhador na fábrica:
há o que vira “marginal” o que serve de cobaia para novas tecnologias e tratamentos de
saúde, o que tem o sonho da casa própria, etc.
Weber acreditava que a vida humana é marcada por interesses materiais. No
entanto, o ser humano necessita dar um sentido às suas ações, e uma ação racional com
sentido é aquela direcionada a um objetivo último na história humana na história do
indivíduo (são ações com base em interesses ideais). A Ação social é entendida como uma
ação com sentido ético.
Para Weber há uma crescente vinculação ética do indivíduo a algum cosmos
de deveres que tornam seu comportamento previsível. O carisma pode ser baseado na
avaliação das capacidades intrínsecas do excedem as do influenciado. Por exemplo, o
controle exercido por professores sobre alunos e por muitos especialistas sobre seus clientes
42
tem por base o carisma, pois os influenciados não possuem os conhecimentos técnicos par a
julgar a validade e conveniência das diretrizes recebidas, motivo pelo qual o fazem por
acreditar nessa competência.
Atenção: Trata-se apenas de um resumo das aulas expositivas, o assunto requer uma leitura mais
atenciosa da bibliografia especializada (vide plano de ensino).

Questões sobre texto Berger: Perspectivas sociológicas capítulos IV e V:

1. Como Berger interpreta os “traços” da identidade?


2. “(...) a personalidade passa a ser identificada, naturalmente, com a maneira como a pessoa
está localizada com prisão social. ” (p. 9) O que isto significa?
3. Explique por que o controle social é um dos conceitos mais utilizados em sociologia, 2º
Berger?
4. Interprete a seguinte afirmação se posicionando criticamente. “Poucos meios coercitivos
são tão eficientes como aqueles que ameaçam o ganha-pão ou o lucro.” (p. 83).
5. Quais são os instrumentos potentes de controle social 2º o autor?
6. Por que a instituição é tida como um órgão regulador?
7. Por que a sociedade é externa a nós e ainda estamos na sociedade?
8. Por que Berger afirma que a sociedade determina o que fazemos e o que somos?
9. O que se entende por “papel social” ? Exemplifique.
10. Interprete a seguinte afirmação “(...) as identidades que julgamos constituir a essência de
nossas personalidades foram atribuídas socialmente.” (p.111).
11. É correto afirmar que construímos a identidade na relação com o outro? Por que?
Exemplifique.
12. Por que a sociedade está no homem?

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