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APOSTILA
Sociologia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia, acesso em 24.02.2009.
Assim como toda ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de
pesquisa. Ainda que esta tarefa não seja objetivamente alcançável, é tarefa da Sociologia
transformar as malhas da rede com a qual a ela capta a realidade social cada vez mais
estreitas. Por essa razão, o conhecimento sociológico, através dos seus conceitos, teorias e
métodos, pode constituir para as pessoas um excelente instrumento de compreensão das
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situações com que se defrontam na vida cotidiana, das suas múltiplas relações sociais e,
conseqüentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais.
Auguste Comte
A Sociologia surgiu como uma disciplina no século XVIII, na forma de resposta acadêmica
para um desafio de modernidade: se o mundo está ficando mais integrado, a experiência de
pessoas do mundo é crescentemente atomizada e dispersada. Sociólogos não só esperavam
entender o que unia os grupos sociais, mas também desenvolver um "antídoto" para a
desintegração social.
A Sociologia é uma área de interesse muito recente, mas foi a primeira ciência social a se
institucionalizar. Antes, portanto, da Ciência Política e da Antropologia.
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Em que pese o termo Sociologia tenha sido criado por Auguste Comte (em 1838), que
esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e
a Economia.
Em Comte, seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande
força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas
fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia
prescrever os "remédios" para os problemas de ordem social.
A Sociologia surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las.
No entanto, é necessário frisar, de forma muito clara, que a Sociologia é datada
historicamente e que o seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo
moderno.
Esta disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social. A Sociologia
surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las. Desvinculando-
se das preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente
enquanto forma racional e sistemática de compreensão da mesma.
Assim é que a Revolução Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a
introdução da máquina a vapor. Ela representou a racionalização da produção da
materialidade da vida social.
Este fato é importante para o surgimento da Sociologia, pois colocava a sociedade num
plano de análise relevante, como objeto que deveria ser investigado tanto por seus novos
problemas intrínsecos, como por seu novo protagonismo político já que junto a estas
transformações de ordem econômica pôde-se perceber o papel ativo da sociedade e seus
diversos componentes na produção e reprodução da vida social, o que se distingue da
percepção de que este papel seja privilégio de um Estado que se sobrepõe ao seu povo.
Estas três matrizes explicativas, originadas pelos seus três principais autores clássicos,
(Durkheim, Marx e Weber) originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos da
Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já no início do século
XX. É interessante notar que a Sociologia não se desenvolve apenas no contexto europeu.
Ainda que seja relativamente mais tardio seu aparecimento nos Estados Unidos, ele se dá,
em grande medida, por motivações diferentes que as da velha Europa (mas certamente
influenciada pelos europeus, especialmente pela sociologia britânica e positivista de Herbert
Spencer). Nos EUA a Sociologia esteve de certo modo "engajada" na resolução dos
"problemas sociais", algo bem diverso da perspectiva acadêmica européia.
A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o
funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, a classe social ou longos
processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduo num nível
micro-sociológico, sem jamais esquecer-se que o homem só pode existir na sociedade e que
esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a
identidade. Para compreender o surgimento da sociologia como ciência do século XIX, é
importante perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais
desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores a analisar as
questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico.
Ainda que a Sociologia tenha emergido em grande parte da convicção de Comte de que ela
eventualmente suprimiria todas as outras áreas do conhecimento científico, hoje ela é mais
uma entre as ciências.
Atualmente, ela estuda organizações humanas, instituições sociais e suas interações sociais,
aplicando mormente o método comparativo. Esta disciplina tem se concentrado
particularmente em organizações complexas de sociedades industriais.
Quanto a Psicologia social, além de se interessar mais pelos comportamentos do que pelas
estruturas sociais, ela se preocupa também com as motivações exteriores que levam o
indivíduo a agir de uma forma ou de outra. Já o enfoque da Sociologia é na ação dos grupos,
na ação geral.
A Sociologia, em vista do tipo de conhecimento que produz, pode servir a diferentes tipos
de interesses.
A produção sociológica pode estar voltada para engendrar uma forma de conhecimento
comprometida com emancipação humana. Ela pode ser um tipo de conhecimento orientado
no sentido promoção do melhor entendimento dos homens acerca de si mesmos, para
alcançar maiores patamares de liberdades políticas e de bem-estar social.
Por outro lado, a Sociologia pode ser orientada como uma 'ciência da ordem', isto é, seus
resultados podem ser utilizados com vistas à melhoria dos mecanismos de dominação por
parte do Estado ou de grupos minoritários, sejam eles empresas privadas ou Centrais de
Inteligência, à revelia dos interesses e valores da comunidade democrática com vistas a
manter o status quo.
As formas como a Sociologia pode ser uma 'ciência da ordem' são diversas. Ela pode partir
desde a perspectiva do sociólogo individual, submetendo a produção do conhecimento não
ao progresso da ciência por si ou da sociedade, mas aos seus interesses materiais imediatos.
Há, porém, o meio indireto, no qual o Estado, como principal ente financiador de pesquisas
nas áreas da sociologia escolhe financiar aquelas pesquisas que lhe renderam algum tipo de
resultado ou orientação estratégicas claras: pode ser tanto como melhor controlar o fluxo de
pessoas dentro de um território, como na orientação de políticas públicas promovidas
nem sempre de acordo com o interesse das maiorias ou no respeito às minorias. Nesse
sentido, o uso do conhecimento sociológico é potencialmente perigoso, podendo mesmo
servir à finalidades antidemocráticas, autoritárias e arbitrárias.
Nas décadas seguintes de 40 e 50 a sociologia voltou para as classes trabalhistas tais como
salários e jornadas de trabalho, e também comunidades rurais. Na década de 60 a sociologia
se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma agrária e
movimentos sociais na cidade e no campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se
voltou para os problemas sócio políticos e econômicos originados pela tensão de se viver em
um país cuja forma de poder é o regime militar.
Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu
uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria
aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa
que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma
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existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a
realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.
Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma
solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de
modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso
definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que
participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são:
Da divisão do trabalho social (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio
(1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année
Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.
Pensamento
Durkheim formou-se em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à Sociologia. Seu
principal trabalho é na reflexão e no reconhecimento da existência de uma "Consciência
Coletiva". Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se
tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes
característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.
Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três
características: generalidade, exterioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas
sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento
estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo
que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas.
O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro "As regras do método
sociológico", onde define uma metodologia de estudo, que embora sendo em boa parte
extraída das ciências naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que
regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais.
Em seus estudos, ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é
possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está
interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai
bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele
desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia.
Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são
valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador,
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que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser
meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto
fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma
sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"),
sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero,
Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião.
Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as
instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis,
desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente não
podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as
conseqüências. Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e
chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia era a grande inimiga da
sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do
sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.
Anomia
Este termo foi cunhado por Durkheim em seu livro O Suicídio. Durkheim emprega este
termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse
corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente". Em seu famoso estudo
sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente da sociedade
moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento
suicida.
Segundo Robert King Merton, anomia significa uma incapacidade de atingir os fins
culturais. Para ele, ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à
insuficiência dos meios institucionalizados, gera conduta desviante. Seu pensamento
popularizou-se em 1949 com seu livro: Estrutura social e Anomia.
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A teoria da anomia de Merton explica porque os membros das classes menos favorecidas
cometem a maioria das infrações penais, explica os crimes de motivação política
(terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta de rebeliões e explica
comportamentos como os do alcoolismo e tóxico-dependência (evasão). (Obtido em
"http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia")
CLASSE SOCIAL
Uma classe social é um grupo de pessoas que têm status social similar segundo critérios
diversos, especialmente o econômico. Diferencia-se da casta social na medida em que ao
membro de uma dada casta normalmente é impossível mudar de status.
Na Idade Média, a classe dominante era formada pelos senhores feudais, donos das terras
através da aplicação de compulsão e coerção, e a classe dominada era formada pelos
camponeses. Uma classe à parte era a classe dos guerreiros, que era composta pelos
camponeses (alguns eram senhores feudais) e podia passar para uma classe dominante caso
recebesse terras como prêmio de suas conquistas.
Segundo Karl Marx, as classes sociais estão associadas à divisão do trabalho. São grupos
coletivistas que desempenham o mesmo papel na divisão do trabalho num determinado
modo de produção (feudal, mercantil, industrial etc).
A classe média é, portanto, o estrato considerado mais comum e mais numeroso, que,
embora não sofra de dificuldades, não vive propriamente com grande margem financeira.
Nota-se, porém, que, nos países de Terceiro Mundo, a classe média é uma minoria e a classe
baixa é a maioria da população. Desta interpretação, é possível encontrar outras classes:
COERÇÃO
Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força,
intimidação ou ameaça.
A mais óbvia forma de motivação de pessoas ou equipes é a coerção, onde evitar a dor ou
outras conseqüências negativas tem um efeito imediato sob suas vítimas.
Por ser algo privado, a vítima precisa efetuar esforços dobrados para conseguir provar na
justiça o que sofreu, mas é possível conseguir provas técnicas obtidas de documentos (atas
de reunião, fichas de acompanhamento de desempenho, etc), além de testemunhas idôneas
para falar sobre o assédio moral cometido.
Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em
diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que
seguem um padrão determinado no espaço. Se refere a crenças, comportamentos, valores,
instituições, regras morais que permeiam e identifica uma sociedade. Explica e dá sentido a
cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano em um território e num
determinado período.
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FATO SOCIAL
Também se define o fato social como uma norma coletiva com independência e poder de
coerção sobre o indivíduo.
Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a
coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos
grupos pela sociedade, por exemplo.
Para Émile Durkheim, fatos sociais são "coisas". São maneiras de agir, pensar e sentir
exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com
os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São
fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de
agir, costumes, etc.
“É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre
o indivíduo uma coação exterior.”; ou ainda, “que é geral no conjunto de uma dada
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas
manifestações individuais.” Ou ainda:Todas as maneiras de ser, fazer, pensar, agir e
sentir desde que compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e
tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando
o que é certo ou errado, permitido ou proibido.
Analisando os fatos sociais chega-se à conclusão de que toda a educação dada às crianças
consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às
quais ela não teria chegado espontaneamente. Segundo Herbert Spencer, uma educação
racional deveria deixar a criança agir com toda a liberdade. Mas essa teoria pedagógica
nunca foi praticada por nenhum povo conhecido, não passa então de um desejo pessoal. A
educação tem justamente o objetivo de criar o ser social.
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Não é a generalidade que serve para caracterizar os fenômenos sociológicos. Um
pensamento comum a todos ou um movimento por todos os indivíduos não são por isso
fatos sociais. Isso são só suas encarnações individuais.
Há certas correntes de opinião que nos levam ao casamento, ao suicídio ou a uma taxa de
natalidade mais ou menos forte; estes são, evidentemente, fatos sociais. Somente as
estatísticas podem nos fornecer meios de isolar os fatos sociais dos casos individuais. Por
exemplo, a alta taxa de suicídio no Japão; não são só fatos individuais e particulares que os
levam a suicidar. Toda cultura e a educação deste país exerce grande diferença no
pensamento do indivíduo na hora de se suicidar. O mesmo caso particular de frustração do
indivíduo, em outra sociedade, poderia não o levar ao suicídio. Esse é um fato social, além
de psicológico.
Não podemos escolher a forma das nossas casas tal como não podemos escolher a forma do
nosso vestuário sem sofrer algum tipo de coerção externa. Os nossos gostos são quase
obrigatórios visto que as vias de comunicação determinam de forma imperiosa os costumes,
trocas, etc. Isso portanto também é um fato social, visto que é geral.
Nota: Para Durkheim, "coisa" é algo Sui generes, ou seja, é dotado de uma lógica própria.
O casamento é um exemplo de fato social o qual nos deparamos a todo momento em nossa
sociedade. Todo o círculo de parentes e amigos que o cercam de forma direta ou indireta
impõe que o cidadão deve se casar e constituir uma família. Até quando a situação tem
como principal finalidade a descontração, gozação e coisas do gênero, o fato social mostra
suas características, no exemplo abaixo podemos ver nitidamente algumas delas. Ex: "e você
já se casou...", quem nunca se deparou com uma pergunta desta ao rever um grande amigo,
ou numa reunião com seus familiares que não os via há muito tempo? Apesar de ser dotado
de um poder coercitivo, aceitamos o mesmo de bom grado.
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GRUPOS
Grupos primários consistem em grupos pequenos com relações íntimas; famílias, por
exemplo. Podem ser caracterizados por contactos diretos ou indiretos, como corresponder-se
com um irmão noutro país via e-mail. Eles geralmente mantêm-se durante anos.
Já os grupos secundários, em contraste com grupos primários, são grupos grandes cujas
relações são apenas formais e institucionais. Alguns deles podem durar durante anos mas
alguns podem desaparecer depois de uma vida curta. Os termos "grupo primário" e "grupo
secundário" foram criados por Charles Horton Cooley.
Marx
Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de Kant e Hegel um de seus
grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os
tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem
era um admirador. Como filósofo, se posiciona muito mais numa supra-filosofia, em que
"realizar" a filosofia é antes "abolí-la", ou ao realizá-la, ela e a realidade se transformam na
práxis, a união entre teoria e prática.
A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é
uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer
separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas
dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real,
integram uma mesma totalidade complexa.
Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que as questionou
e desenvolveu novas temas, de modo a produzir uma profunda reorientação no debate
intelectual europeu.
Seu pensamento político criticou todas as correntes socialistas por não ter um caráter
decididamente transformador, mas somente reformador. Ainda que para Marx, a evolução e
a revolução são dialéticas, e que cada partido operário ao realizar suas metas curtas, se
abole, pois se torna inútil. Enquanto, a posição que defende, o socialismo científico (para se
opor a um socialismo romantico) ou comunismo (revolucionário, para se opor ao mero
reformismo); defendia não uma melhoria das condições de vida do proletariado, mas a
própria emancipação do proletariado, o fim da condição proletária. Não se tratava de
amenizar a exploração, mas de abolí-la. Mas as condições dessa emancipação, que só a
prática poderia realizar, estava nas condições reais em que estava inserida. Por isso, em
Marx, é o desenvolvimento do capitalismo que cria a proletarização, que é o exército que irá
destronar a burguesia. E a própria hostilidade que o capitalismo produz sobre a condição
proletária é que cria as condições subjetivas para explodir uma revolução.
Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesmo, mas
comove os atores, se trata sempre de um "drama histórico" e não de um "determinismo
histórico" que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo
dialético de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia também ser definido como
uma "dialética realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as
idéias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois
sendo a história uma produção humana, e sendo as idéias produto das circunstâncias em que
tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da
história que criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade
histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E assim,
Marx finaliza as Teses sobre Feuerbach, não se trata de interpretar diferentemente o mundo,
mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo posto, só a
ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.
Karl Marx não teve uma preocupação central em fundar um método científico, apesar de tê-
lo fundado, toda sua atenção sempre consistiu em compreender o real através da filosofia e
ciência em uma prática orientada para a emancipação humana. Marx não possui um livro
em que sistematiza seus métodos, dado que esta nunca foi sua preocupação central. Seu
objetivo fundamental, ao contrário de muito que se afirmou na URSS, não era promover um
método científico superior aos demais, mas sim conhecer e transformar, estudar e lutar. Não
é atoa que em toda sua vida esteve ligado às lutas operárias direta ou indiretamente.
O conceito de Mais-valia foi empregado por Karl para explicar a obtenção de lucros
contínuos a partir da exploração da mão-de-obra. Os donos dos meios de produção obtêm
parte de seus lucros pela exploração do trabalhador.
Marx afirma que a consciência humana é sempre social e histórica, isto é, determinada pelas
condições concretas de nossa existência.
Em Marx, ela assume um caráter essencialmente negativo: é a falsa consciência. Para ele,
ideologia é qualquer formulação teórica das relações sociais que não tenha por base a
produção material. Em outras palavras, a ideologia para Marx é resultado da percepção
incompleta do funcionamento da sociedade, o que faz com que tomemos como
imprescindível uma ordem de coisas que não o é, acreditando ser original uma situação que
é na verdade um efeito, uma conseqüência do estado de alienação em que se encontram os
indivíduos. Só a consciência é capaz de apreender o que realmente determina a organização
social e, a partir daí, de orientar a ação das pessoas.
Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas, e que
vivem na forma da luta de classes, uma imagem que permite a unificação e a identificação
social – uma língua, uma religião, uma raça, uma nação, uma pátria, um Estado, uma
humanidade, mesmos costumes.
Porque nascemos e somos criados com essas idéias e nesse imaginário social, não
percebemos a verdadeira natureza de classe do Estado. A resposta á Segunda pergunta de
Marx, qual seja, por que a sociedade não percebe o vínculo interno entre poder econômico e
poder político, pode ser respondida agora: por causa da ideologia.
Juliana está indo de ônibus para o shopping. Como sempre, vai observando a
paisagem pela janela, perdida em seus pensamentos. De repente, algo chama sua atenção:
um outdoor novo e enorme, todo colorido... uma modelo alta, magra, loura, de olhos azuis
posa com uma nova calça da grife "X". Juliana é morena, baixa e até um pouco gordinha,
mas fica alucinada com a roupa mostrada no cartaz. Ela precisa comprar uma igual, nem que
para isso tenha de fazer um crediário e comprometer seu salário por alguns meses. Já pensou
o que suas amigas iriam pensar se a vissem dentro de uma calça como aquela, linda e
deslumbrante como a modelo do outdoor? E os garotos, então?
Você já parou para prestar um pouco de atenção nas propagandas que bombardeiam
nossos olhos e ouvidos a todo momento? Já pensou sobre as mensagens que nos são
transmitidas pelos meios de comunicação: TV, rádio, jornais e revistas, outdoors?
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Vamos ficar com apenas um exemplo por enquanto: a propaganda dos cigarros Free.
O centro desses comerciais é a afirmação da individualidade e da liberdade: cada indivíduo é
livre e deve afirmar-se por meio de sua criatividade, no entanto, sempre há algo em comum,
que é preferência por aquela marca de cigarro. O mecanismo é o seguinte: se você fuma
Free, você é um sujeito livre, criativo, autônomo; um dos comerciais mostra uma garota que
se afirma livre e que não tentem tirar a liberdade dela, pois ela morde! "Cada um na sua,
mas com alguma coisa em comum", esse é o slogan. Consumir essa marca de cigarro é
afirmar sua independência e singularidade.
O conceito de IDEOLOGIA
A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma "teoria geral
das ideias". Foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um
livro junto com Friedrich Engels intitulado A ideologia alemã. Nessa obra, eles mostram
como, em toda sociedade dividida em classes, aquela classe que domina as demais faz tudo
para não perder essa condição. Uma forma de manter-se no poder é usar a violência contra
todos aqueles que forem contrários a ela. Mas a violência pode voltar-se também contra ela:
a violência pode gerar a revolta do povo. É, então, muito mais fácil e mais eficiente dominar
as pessoas pelo convencimento.
É aí que entra a ideologia: ela constituirá um corpo de ideias produzidas pela classe
dominante que será disseminado por toda a população, de modo a convencer a todos de que
aquela estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. Com o tempo, essas idéias se
tornam as idéias de todos; em outras palavras, as idéias da classe dominante tornam-se as
idéias dominantes na sociedade.
Essa classe que se encontra no poder vai fazer uso de todos os mecanismos possíveis e
imagináveis para distribuir suas idéias para todas as pessoas, fazendo com que acreditem
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apenas nelas. Numa sociedade de dominação, essa é a função dos meios de comunicação,
das escolas, das igrejas e das mais diversas instituições sociais. Onde houver pessoas
reunidas, ou mesmo sozinhas, haverá uma forma de ideologia em ação.
A ideologia passa a dominar todos os nossos atos. Quando nos convencemos da verdade
dessas idéias, passamos agir inconscientemente guiados por elas, ou seja, o corpo de idéias
constituído atravessa nosso pensamento sem nos darmos conta e passamos a desejar o que o
outro determina: quando compro um sabonete ou um creme dental, estou fazendo uma
"escolha" que me foi determinada pela propaganda. Quando voto num candidato a prefeito,
estou fazendo também uma "escolha" determinada pela propaganda pois, na democracia
representativa, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de
que aquele candidato é o melhor. Não foi por acaso que o filósofo Herbert Marcuse afirmou
que "na sociedade, os políticos também se vendem, como sabonetes".
Quando uma ideologia funciona de fato, ela se distribui por toda a sociedade, de forma a
fazer com que cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O triunfo de uma
ideologia acontece quando todo um grupo social está definitivamente convencido de sua
verdade. Se todos estão convencidos, ninguém questiona, e a sociedade pode manter-se
sempre da mesma maneira. De certo modo, o sucesso da ideologia está relacionado com o
processo da alienação, que analisaremos no capítulo seguinte.
Mas o que faz com que o poder de convencimento da ideologia seja tão forte? Se ela é
constituída por ideias que falseiam a realidade para que na sociedade tudo continue como
está, por que as pessoas simplesmente não se revoltam contra ela?
É parece que a coisa não é assim tão simples. Se fosse, não estaríamos imersos em todo esse
processo de dominação e submissão das pessoas.
É claro que todo indivíduo deseja ter sucesso na vida. Mas também é evidente que, numa
sociedade de dominação e desigualdades, o sucesso não é possível para todos. Para que
alguns possam ser muito bem - sucedidos, é necessário que muitos outros permaneçam na
miséria. Se for alardeado pelos meios de comunicação que o sucesso não é possível para
todos, certamente teremos uma boa dose de inconformismo social que pode levar até mesmo
a violentas revoltas. A ideologia trata então de disseminar a idéia de que vivemos numa
sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo, cada
indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na
miséria...
Às vezes, alguém se esforça ao limite, mas nada de chegar ao sucesso . Ele permanece como
um ideal, um sonho quase inatingível, mas do qual não abrimos mão, do qual jamais
desistiremos. Quando esse indivíduo vê o belíssimo comercial do cigarro que estampa a
imagem do sucesso, algo desperta, bem lá no íntimo de seu ser. Inconscientemente, ele
associa a imagem do cigarro à imagem do sucesso, e renova suas forças na busca de obtê-lo.
Fumar Hollywood é ser bem - sucedido, embora, na verdade, ele continue insatisfeito com
seu trabalho, seu salário, com seu casamento...
Você já deve ter conseguido perceber o que estamos tentando explicar: a ideologia funciona
tão bem porque age atravessando e invadindo o íntimo das pessoas. E EMBORA SEJA UM
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CORPO DE IDEIAS, NÃO DOMINA PELA IDEIA, MAS PELAS NECESSIDADES
CRIADAS POR ESSAS IDÉIAS, PELOS DESEJOS QUE ELAS DESPERTAM. O
discurso ideológico é aquele que consegue tocar nas vontades e ambições mais íntimas de
cada indivíduo, dando-lhe a ilusão de sua realização. Alguém fuma Marlboro e tem a ilusão
de sua realiza sua vontade de ter acesso a um outro mundo, a uma terra de liberdade, um
pasto para cavalos, lugar de homem corajoso e forte que, com bravura, realiza-se no que faz;
alguns passam a ver seu patrão como um ideal a ser alcançado, como alguém que gostaria de
ser, imaginando que ele alcançou o sucesso, tem tudo o que quer e é feliz; alguém tem a
vontade de tomar a vitamina Eletrizan para ter mais energia; alguém quase careca usa um
xampu que lhe promete uma abundante cabeleira, e assim por diante.
Para sermos mais enfáticos, além de lidar com as necessidades e as vontades e de influenciar
os desejos das pessoas, a propaganda produz outras necessidades e administra sua satisfação,
de modo que cada um tenha uma ilusão de felicidade, uma ilusão de prazer e se acomode à
situação vivida de sempre querer mais. O consumismo nada mais é do que a afirmação dessa
realidade de realizar os desejos dos outros como se fossem nossos. Por que você sempre
precisa usar uma roupa de grife? Ou cortar o cabelo de acordo com a moda? Enquanto você
consome, suas vontades vão sendo realizadas, mas, ao mesmo tempo, novas necessidades
vão sendo criadas, de forma que é praticamente impossível escapar dessa "roda viva".
Enquanto você consome, não questiona a sociedade na qual vive nem que o leva a consumir
tanto.
Max Weber
Maximillian Carl Emil Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e
considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e
economista Alfred Weber. A esposa de Max Weber, Marianne Schnitger, era a socióloga e
historiadora do Direito.
Significante, também, é o ensaio de Weber sobre a política como vocação. Weber postula
ali a definição de estado que se tornou essencial no pensamento da sociedade ocidental: que
o Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva. A política
deverá ser entendida como qualquer actividade em que o estado tome parte, de que resulte
uma distribuição relativa da força.
A política obtém assim a sua base no conceito de poder e deverá ser entendida como a
produção do poder. Um político não deverá ser um homem da "verdadeira ética católica"
(entendida por Weber como a ética do Sermão da Montanha - ou seja: oferece a outra face).
Um defensor de tal ética deverá ser entendido como um santo (na opinião de Weber esta
visão só será recompensadora para o santo e para mais ninguém). A esfera da política não é
um mundo para santos. O político deverá esposar a ética dos fins últimos e a ética da
responsabilidade, e deverá possuir a paixão pela sua actividade como a capacidade de se
distanciar dos sujeitos da sua governação (os governados).
A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre
tipos de ação:
Tanto a ação afetiva quanto a tradicional produzem relação entre pessoas (relações
pessoais), são coletivas, comunitárias, nos dão noção de comunhão e conceito de
comunidade.
Ação social é um comportamento humano, ou seja, uma atitude interior ou exterior voltada
para ação ou abstenção. Esse comportamento só é ação social quando o ator atribui a sua
31
conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o
comportamento de outras pessoas.
Para Weber a Sociologia é uma ciência que procura compreender a ação social. Por isso,
considerava o indivíduo e suas ações como ponto chave da investigação evidenciando o que
para ele era o ponto de partida para a Sociologia, a compreensão e a percepção do sentido
que a pessoa atribui à sua conduta.
O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e
perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como dizia
Durkheim. Aquele propõe que se deve compreender, interpretar e explicar respectivamente,
o significado, a organização e o sentido e evidenciar irregularidade das condutas.
Com este pensamento, não possuía a idéia de negar a existência ou a importância dos
fenômenos sociais, dando importância à necessidade de entender as intenções e motivações
dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua idéia é que no domínio
dos fenômenos naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de
proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de
proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e compreendê-las.
Weber por sua vez defendia que para todas as disciplinas, tanto as ciências naturais como as
ciências da cultura, o conhecimento é uma conquista que nunca chega ao fim. A ciência é o
devir da ciência. Seria necessário que a humanidade perdesse a capacidade de criar para que
a ciência do homem fosse definitiva.
Na concepção dos autores Weber e Durkheim, há uma separação entre ciência e ideologia.
Para Weber também há uma separação entre política e ciência, pois a esfera da política é
irracional, influenciada pela paixão e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra. O
homem político apaixona-se, luta, tem um princípio de responsabilidade, de pensar as
conseqüências dos atos. O político entende por direção do Estado, correlação de força,
capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos políticos. É luta pelo poder
dentro do Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento
científicos, não deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científicos, deve fazer
ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigação não será
32
nem imparcial nem objetivo. Para Durkheim política é a relação entre governantes e
governados.
Entretanto, na concepção de Marx não se podem dissociar ciência e ideologia, pois para ele
ideologia faz parte da ciência. Segundo ele ciência é ciência porque explica o objeto tal
como ele é, porém o conhecimento não é neutro. Política para este também é luta, mas não
de indivíduos como para Weber, é, sim, luta de classes.
A sociologia de Max Weber se inspira em uma filosofia existencialista que propõe uma
dupla negação. Nega Durkheim quando afirma que nenhuma ciência poderá dizer ao
homem como deve viver, ou ensinar às sociedades como se devem organizar. Mas também
nega Marx quando diz que nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual é o seu
futuro. A ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a
explicar os valores aos quais os homens aderiram, e as obras que construíram. Ele considera
a Sociologia como uma ciência da conduta humana, na medida em que essa conduta é
social.
Weber fundamenta sua definição de valores na filosofia neokantiana, que propõe a distinção
radical entre fatos e valores. Os valores não são do plano sensível nem do transcendente, são
criados pelas desilusões humanas e se diferem dos atos pelos quais o indivíduo percebe o
real e a verdade. Para Weber, há uma diferença fundamental entre ciência e valor: valor é o
produto das intenções, diferentemente de Durkheim que acreditava encontrar na sociedade
o objeto e o sujeito criador de valores. Weber o contesta dizendo que as sociedades são
meios onde os valores são criados, mas ela não é concreta.
Se a sociedade nos impõe valores, isso não prova que ela seja melhor que as outras. Sobre o
Estado, o conceito científico atribuído por Weber constitui sempre uma síntese realizada
para determinados fins do conhecimento. Mas por outro lado obtemo-lo por abstração das
sínteses e encontramos na mente dos homens históricos.
Apesar de tudo, o conteúdo concreto que a noção histórica de Estado adota poderá ser
apreendido com clareza mediante uma orientação segundo os conceitos do tipo ideal. O
Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode
fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de
normas (constituição). O Estado para Durkheim é a instituição da disciplina moral que vai
orientar a conduta do homem.
Religião também foi um tema que esteve presente nos trabalhos de Weber. "A ética
protestante e o espírito do capitalismo" foi a sua grande obra sobre esse assunto. Nesse seu
trabalho ele tinha a intenção de examinar as implicações das orientações religiosas na
conduta econômica dos homens, procurando avaliar a contribuição da ética protestante, em
especial o calvinismo, na promoção do moderno sistema econômico.
Para Weber o objeto de estudo da sociologia é a ação humana tendo sentido. Sentido esse
que deve ser percebido pelo grupo que o indivíduo se encontra.
33
A França e a Inglaterra desenvolveram o pensamento social sob a influência do
desenvolvimento industrial e urbano, que tornou esses países potências emergentes nos
séculos XVII e XVIII e sedes do pensamento burguês da Europa. A indústria, a expansão
marítima e comercial, o sucesso alcançado pelas Ciências, em particular pela Física e pela
Biologia, influenciaram na adaptação das escolas sociológicas para uma nova visão do
mundo social. Entretanto, esse avanço da Sociologia foi alcançado tardiamente pela
Alemanha devido ao seu processo de unificação política e sob a influência de outras
correntes filosóficas e da sistematização de outras Ciências Humanas, como a História e a
Antropologia.
Textos adicionais para reflexão In: FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo:
Atlas. 2003.
[A1] Comentário: A análise da teoria
weberiana como ciência tem como ponto
I. ENTENDER O MUNDO NO CHEIRO DO PÃO de partida a distinção entre tipos de ação:
"Sábado, 7 da manhã, caminho devagar pela rua deserta. Da minha casa à CPL, a padaria da
esquina, são menos de cem metros. Um sol tímido. Atravesso entre os sem-teto que, espalhados pelo [A2] Comentário: Desigualda-
de Social Teoria Marxista (Karl Marx)
meio-fio, aguardam a abertura da paróquia, onde tomam banho e recebem ajuda. Muitos chegam no
[A3] Comentário: Solidarieda-–
meio da noite e se dispõem estrategicamente, para ficar em boa posição na fila. Há um gordo, sempre de Durkheim. Acredita que a Sociologia é
edificada em um sistema completo de leis
camisa preta, que se senta em frente da igreja Renascer. Fica ali, imóvel. Dia desses, lia um livro de sociais.
capa vermelha. Não consegui ver o título. Seria o Livro Vermelho de Mão? (Esta revelou minha idade).
Às vezes, aos domingos, o homem gordo aparece com uma camisa branca. Passo e os sem-teto me
olham. Cumprimento, bom-dia, bom-dia. Recebem o cumprimento com surpresa, quase estupor.
Ninguém lhes dá bom-dia. Respondem alegremente e o bom-dia deles é caloroso, acompanhado de [A4] Comentário: Ação Social – Max
Weber. Para Weber o objeto de estudo da
um sorriso, os rostos se iluminam. Tão fácil desejar bom-dia, parece fazer tanto bem. Por que as sociologia é a ação humana tendo sentido.
Sentido esse que deve ser percebido pelo
pessoas são mesquinhas nos cumprimentos? grupo que o indivíduo se encontra.
Nessa hora do sábado ainda não há fila, na padaria. O pão caseirinho, especialidade da casa, está
[A5] Comentário: Weber - Tanto a
saindo do forno. Quase posso ver o vapor subir da cesta. Peço três caseirinhos, a casca é crocante, ação afetiva quanto a tradicional
produzem relação entre pessoas (relações
polvilhada por uma farinha delicada, parece talco, tão suave. Se me distraio como dois ou três, pessoais), são coletivas, comunitárias, nos
barrados de manteiga aviação, amarela, densa. Sinto-me envolvido pelo cheiro espesso do pão recém- dão noção de comunhão e conceito de
comunidade.
assado. O cheiro atravessa o papel e impregna-se em minha mão.
Vou pela rua, carregando o saquinho, apressado para chegar em casa com os caseirinhos ainda
quentes. Caminho envolvido pelo cheiro, quando passo diante de dois homens encostados na árvore
torta que existe no meio da quadra. Um deles exclama: "Cheiro bom tem esse pão"! Paro, e por um
momento, penso nesses pãezinhos crocantes e perfumados. Ofereço:
"LONDRES - Há pouco mais de um ano, a revista do New York Times publicou uma extensa
reportagem sobre a pobreza nos Estados Unidos sob o título The Invisible Poor (Os Pobres Invisíveis).
Era uma peça bem-feita, com belas fotografias, mas havia algo estranho nela. Era como se, no auge do surto
de crescimento da alta tecnologia, no país mais rico do mundo, 'os pobres' habitassem um exótico país
estrangeiro, que está lá para ser descoberto pêlos jornalistas mas não para ser coberto.
A história oficial da maior parte da década, sustentada pelos baixos índices de desemprego
nos EUA, era que a pobreza era problema da 'velha economia'. É certo que o uso de cupons de
alimentação distribuído para pessoas carentes teve uma elevação de 75% em algumas cidades
americanas, que uma em cada cinco crianças americanas vive na pobreza e que 44,3 milhões de
pessoas não têm seguro saúde, mas você nunca soube disso como consumidor da mídia
superficial.
35
A reportagem ocasional pode ter surgido sobre as pessoas que a prosperidade 'deixou para
trás' (como se obra de algum erro tipográfico cósmico), mas na mídia nacional dominante tem havido
muito pouco apetite por essas reportagens deprimentes.
Isso não causa grande surpresa. Os jornalistas (ou 'provedores de conteúdo') têm estado no
centro da transição da 'velha economia' para a nova, uma transição que fez da mídia, da
informação, das ideias e da cultura os produtos de primeira necessidade mais cobiçados do mundo.
E o pior lugar para obter um quadro preciso de um furacão é exatamente quando se está postado
na relativa calma do seu olho. Agora que o turbilhão da nova economia está amainando,
pescoços começam a se espichar para ver o que foi perdido.
Bairros inteiros. O caráter de cidades como São Francisco. E talvez por causa desta pausa na
ação (combinada com a ação afrontosa de redução de impostos de George Bush), finalmente a
pobreza nos Estados Unidos está sendo discutida em termos menos exóticos e misteriosos.
Segundo várias novas reportagens, o motivo para o aprofundamento da pobreza nos Estados
Unidos é muito simples: são todas essas pessoas ricas. A riqueza extrema gerada na camada
superior da economia em vez de escoar para baixo e melhorar a vida de todos, está tendo impacto
negativo direto sobre os que vivem em extrema pobreza, na camada mais inferior.
Sobrevivência: Em seu novo livro, Nickel e Dimed, Barbara Ehrenreich, uma das mais
respeitadas críticas sociais da América, sobrevive 'disfarçada' de salário mínimo. Ela trabalha
como empregada doméstica sem vínculo empregatício no Maine, como caixa do Wal-Mart em
Minnesota, como garçonete na Flórida. Seu desafio é simples: sobreviver com seus salários.
Começou descobrindo que precisava de dois empregos para arcar com despesas de US$
624,00 ao mês do seu trailer em Key West, na Flórida, e a odisseia chega a um final abrupto quando
não consegue pagar por um quarto de hotel em Minneapolis (único aluguel disponível) com seu
salário do Wal-Mart.
O lado negativo da elitização é também um tema recorrente de Secrets of Silicon Valley, um
importante novo documentário de Alan Snitow e Deborah Kaufman. A história acompanha
trabalhadores temporários da alta tecnologia que montam computadores e impressoras - e não
ganham o suficiente para alugar uma moradia em uma cidade onde as casas regularmente são
vendidas por US$ 100 mil dólares a mais que o preço de oferta.
À medida que o sistema de classes invisível da nova economia dos Estados Unidos torna-se
mais visível, tem muito a ensinar a outros países que estão lutando para imitar o chamado
milagre da alta tecnologia.".
Delson Ferreira
Vivemos na sociedade do trabalho. Todas as formas de vivência social humana incluem-no e, [A11] Comentário: Marx – Relações de
prodção de trabalho
da infância à velhice, vivemos de operar tudo o que pensamos pela atividade de nossas mãos.
Sendo assim, não conseguimos imaginar o viver sem algum tipo de atividade. Tipicamente
moderna, a separação conceituai entre trabalho e lazer é fruto da perda do sentido profundo do seu
significado para o desenvolvimento do espírito humano. Hoje, somos obrigados a trabalhar apenas
para sobreviver, vinculamo-nos com os nossos empregos na luta pela garantia da subsistência
imediata e poucos de nós sentem, no cotidiano, a realização plena de suas potencia-lidades por
meio do trabalho. [A12] Comentário: Marx – Mais Valia.
Alienação. Trabalho como mercadoria.
36
Na medida em que o trabalho transformou-se em mero emprego e, portanto, em uma
mercadoria como outra qualquer, distanciamo-nos da possibilidade de tê-lo profundamente
vinculado ao nosso ser interno. A nossa relação com ele passou a ser medida apenas pela
[A13] Comentário: Marx - Idem
quantidade de dinheiro obtida ao início de cada mês, o salário. Daí, a dificuldade vivida por
muitos de nós às segundas-feiras e a ansiedade brutal pelo descanso dos finais de semana.
Trabalhar passou a significar, para boa parte das pessoas, cansaço, aborrecimento e pressão. Não é
demais lembrar a exploração comercial feita pela propaganda da cerveja, com os 'amigos' cantando:
'Hoje é Sexta-feira...'
A sociedade conquistou muitos benefícios materiais com a massifïcação da atividade produtiva
humana, mas a distribuição de tanta riqueza acumulada continua extremamente injusta em todo o
mundo. Por outro lado, a revolução tecnológica prometeu o paraíso: a diminuição do tempo de [A14] Comentário: Marx – luta de
classes
trabalho e o aumento correspondente do tempo livre para que pudéssemos dedicá-lo ao lazer, à
cultura e a nós mesmos. Nada disso aconteceu e, nos dias de hoje, além de trabalhar como nunca em
sua História, a humanidade vive perplexa diante do que os economistas chamam, com certa
naturalidade conceituais, de desemprego estrutural. Um erro essencial continua pairando no ar,
ou, como diz o poeta,'... alguma coisa estafara da nova ordem mundial'. Poucos realizam-se pelo
trabalho e muitos perdem-se na labuta diária de seus empregos e subempregos.
Precisamos retomar o sentido profundo do trabalho humano, de modo a emancipá-lo da sua
função meramente econômica, resgatando, assim, o seu sentido de realização para o nosso
espírito. Talvez seja essa a grande questão humana desse início de século: trabalhar com o outro,
pelo outro e, ao mesmo tempo, manter com dignidade a vida material. Nesse sentido, alguns sinais
começam a aparecer no horizonte humano, à medida que parece crescer o número de pessoas que
buscam soluções para humanizar novamente a atividade do trabalho. Saber que se pode contar
com o outro para transformar a natureza em utilidade social e, simultaneamente, não ter a coragem [A15] Comentário: Durkheim -
"A desigualdade social acentuou-se drasticamente nas últimas décadas. Milhares de pessoas
lutam para sobreviver sob condições extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as
legiões de perseguidos e de refugiados, mas também onde o capitalismo se apresenta como mais
próspero. 'Na década de 80, muitos dos países mais ricos e desenvolvidos se viram outra vez [A17] Comentário: Marx, Luta de
classes
acostumando-se com a visão diária de mendigos nas ruas, e mesmo com o espetáculo mais chocante de
desabrigados protegendo-se em vãos de portas e caixas de papelão, quando não eram recolhidos pela
polícia. Em qualquer noite de 1993 em Nova York, 23 mil homens e mulheres dormiam na rua ou em
abrigos públicos, uma pequena parte dos 3% da população da cidade que não tinha tido, num ou
noutro momento dos últimos cinco anos, um teto sobre a cabeça' (New York Times, 16-11-93, Apud
Hobsbawm, 1997: 396). Aqui não se trata só de pobreza, mas de miséria e indigência. 3% de sem-teto
na grande metrópole da nação que hegemonizou a economia capitalista mundial desde o pós-guerra
não é um dado irrelevante.
Quanto à América Latina, sabemos que a situação social é muito grave. Estudos da CEPAL
sobre dados de 1986 referem 30% dos domicílios urbanos e 53% dos domicílios rurais como sendo
pobres e 11% de domicílios urbanos e 30% dos rurais como sendo indigentes (Lustig, 1995:88).
Dados sobre o Brasil em 1989 indicavam como pobres 34% dos domicílios urbanos e 45%
(número admitido como muito subestimado) dos domicílios rurais (Lopes, 1995: 142).
Estimativa para o Brasil urbano no mesmo ano aponta 22,52% dos domicílios como pobres e
11,03% como indigentes (Singer, 1996:80).
Discutindo a 'teoria da pobreza', Celso Furtado vincula pobreza à concentração da renda. Estatísticas
oficiais mostram que o 1% mais rico da população do Brasil, que detinha 11,9% da renda nacional
em 1960, passou a ter 16,9% em 1980. Se considerarmos os 5% mais ricos, sua participação subiu de
28% para 37,9% no mesmo período, enquanto a dos 50% mais pobres caiu de 17,4% para 12,6%. É um
quadro que não faz senão confirmar Hobsbawm quando identifica o Brasil como 'o candidato a campeão
mundial de desigualdade económica' (Hobsbawm, 1997:397). E desigualdade crescente
significativamente, em que a concentração da renda se acelera ao mesmo tempo em que o crescimento
econômico e a industrialização.
Diante dessa relação, Furtado conclui: Não é de surpreender, portanto, que a
especificação do subdesenvolvimento se haja reintroduzido pela porta traseira da 'teoria da pobreza'
(Furtado, 1992:15). Creio que Furtado tem razão quando não se deixa cair na insidiosa substituição de
'subdesenvolvimento' por 'pobreza'. Só se enganaria se acreditasse efetivamente que com essa
substituição a especificação do 'subdesenvolvimento' estivesse de fato sendo reintroduzida. Pelo que [A18] Comentário: Marx: Ideologia
eu entendo, ele sabe que não é assim e trata de chamar a atenção para a diferença, reintroduzin-do,
agora sim, ele mesmo, a questão omitida.
Tomando aquela substituição como um problema, veremos que ela produz um
apagamento e um deslocamento. É que os tempos são outros, as perspectivas e os interesses do
grande capital também são outros. Nas décadas de 50 e 60, a expansão internacional do capital abria
possibilidades reais amplas e dinamicamente integradoras para o que então passaram a chamar de
países 'subdesenvolvidos', trabalhando ideologicamente o progresso e a esperança do futuro.
Atualmente, a criação da temática 'zonas de pobreza' remete a uma situação em que regiões e segmentos
sociais são excluídos da expansão do capital. Neste caso, a temática do 'desenvolvimento' tenderia
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mais a evidenciar essa exclusão, o que poderia demandar algum entendimento do processo que a cria. [A19] Comentário: Marx Ideologia
Assim, esse tema privilegiaria a análise do processo histórico, até porque está em pauta uma mudança
de rota, da inclusão desenvolvimentista para a exclusão produzida pelo capital rentista. Ao passo que a
temática da 'pobreza' tende a desviar a atenção para os chocantes 'dados' da miséria e da indigência,
privilegiando a análise do empírico imediato e a descrição mais espacial que temporal.
Entre todos os aspectos da exclusão desencadeada pelo regime contemporâneo de acumulação do
capital, há um que se destaca como essencial para compreender a crise atual em suas contradições mais
profundas: o desemprego estrutural e massivo. A taxa de desemprego na Europa Ocidental subiu, nas
décadas de 1960, 1970 e 1980, de 1,5% para 4,2% e para 9,2%, alcançando 11% em 1993 (Hobs-
bawm, 1997:396). Além de sua elevadíssima expressão quantitativa, o desemprego característico dessa
etapa do capitalismo não é apenas conjuntural, temporário. Na Europa Ocidental, 'metade dos
desempregados (1986-7) se achava sem trabalho há mais de um ano, um terço há mais de dois' (idem,
ibidem). As grandes transformações tecnológicas e organizacionais aplicadas ao sistema produtivo
incidiram diretamente sobre o trabalho e vêm provocando dispensa em massa de trabalhadores.
Mantidas as condições atuais, o problema só tende a se agravar, porque 'o crescente desemprego dessas
décadas não foi simplesmente cíclico, mas estrutural. Os empregos perdidos nos maus tempos não
retornariam quando os tempos melhorassem: não voltariam jamais' (idem 403).
É curioso como a informação sobre o que está ocorrendo atualmente com o em-
prego nos países de desenvolvimento capitalista avançado tem sido sistematicamente
escondida em países como o Brasil. A ideologia neoliberal insiste em apontar o caminho que
vem sendo seguido no desenvolvimento capitalista globalizado como sendo criador de
emprego. Diz-se, assim, que o desemprego aqui se resolverá com o crescimento económico.
Convém lembrar que o desemprego que enfrentamos (8,3% para o conjunto da América
Latina urbana em 1989, segundo dados do BID, 1990) ainda se refere a uma situação
econômica que é anterior à efetiva e generalizada reorganização do setor produtivo local
resultante das transformações tecnológico-organizacionais e anunciada pelas políticas
neoliberais.
As novas tecnologias e as novas formas de organização do trabalho têm permi-
tido um aumento substancial da produtividade. O resultado imediato tem sido acelerada e
crescente dispensa de mão-de-obra. O aumento de produtividade não tem levado a uma
expansão da produção que crie também uma expansão do emprego capaz de absorver pelo
menos boa parte da mão-de-obra expulsa do sistema produtivo. Operando desta maneira, o
sistema cria não somente marginalização, mas propriamente exclusão social - e exclusão que
é estrutural. Neste caso, a redução do trabalho necessário não libera tempo para a vida.
Libera para a exclusão e a miséria um contingente enorme e cada vez maior de
trabalhadores. Ou seja, sob o domínio do capital, o aumento de produtividade não reverte
para 'a sociedade', reverte exclusivamente para o capital.
À massa de excluídos pelo 'progresso' e pela 'racionalização' da produção resta
travar dia a dia a mais árdua luta para garantir minimamente a própria sobrevivência. As
designações formais criadas para reconhecer as atividades 'marginais' ou 'subterrâneas' a que
esses trabalhadores excluídos passam a se dedicar constituem em geral um meio de - no
campo das ideias, das representações e das ideologias -tratá-las sob algum vínculo sob o
qual eles apareçam integrados à sociedade. De fato, porém, se trata de atividades de
excluídos sociais para, enquanto excluídos, conseguirem manter-se vivos.
Para aqueles que logram permanecer empregados, a situação também se com-
plica. O crescimento tão significativo da mão-de-obra excedente atua clara e eficazmente no
sentido do rebaixamento dos salários de uma maneira geral. E todo esse processo se faz
39
presente também no nível da formulação política, dando forma às propostas de precarização
das relações de trabalho, por meio das quais se pretende reduzir ao limite mínimo e, se
possível, abolir direitos e garantias que o trabalho havia conquistado no momento anterior
do desenvolvimento capitalista, em que as relações de forças eram outras.
Os empregadores desejam conservar nas empresas apenas um núcleo reduzido de
assalariados permanentes e, para o resto, poder contratar e dispensar à vontade, em função
das necessidades do momento, 'assalariados temporários ou provisórios' que não terão
direito nem a férias, nem às mesmas garantias sociais, nem à prote-ção sindical. Essa maior
"liberdade" patronal na utilização da mão-de-obra supõe evidentemente o afrouxamento das
legislações trabalhistas e das leis sociais. Ela supõe também que, como para os diaristas
ingleses dos primórdios do capitalismo industrial, um mínimo de subsistência seja garantido à
população marginalizada dos desempregados e semidesempregados que, com os progressos da
informatização e da robotização, só poderão encontrar trabalhos ocasionais irregulares, ingratos, mal
pagos, sem futuro (Gorz, 1990:217).
Trabalhadores sem maior qualificação não terão qualquer chance de fazer parte do
segmento da força de trabalho que se torna 'privilegiado' por conseguir ser absorvido pelo sistema
produtivo. Mas qualificar-se não oferecerá nem mesmo uma garantia mínima de se tornar trabalhador
efetivo. Diante da exclusão que passa a ser norma para a grande maioria da população potencialmente
trabalhadora, a exploração do trabalho passa a ser 'privilégio'." Desenvolva uma análise com
posicionamento crítico sobre esta afirmação. Concorda, discorda, por que?
Fonte: FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo: Atlas. 2003.
Estudo Dirigido
1. Informe, justificando suas respostas, qual das afirmações seguintes está mais correta
e por que as outras são discutíveis:
a) “a Sociologia é uma das ciências sociais cujo objeto é explicar os
comportamentos individuais da pessoa humana.”;
b) “a Sociologia tem várias ramificações, sendo uma delas a teoria que abrange
a ciência chamada Sociologia Aplicada à Administração”;
c) “a Sociologia tem uma ramificação cujo objeto é o de propor medidas para
que sejam feitas mudanças ou ajustamentos na sociedade.”;
d) “a Sociologia também sugere medidas para intervir na sociedade”.
3. Supondo que você pretenda fundar uma empresa, por exemplo escola, para torná-la
viável, especifique de maneira concreta: Justifique as respostas.
Símbolos e Cultura