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ESPIRITO SANTO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4

1 CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL ............................................. 5

1.1 Análise psicológica do comportamento criminoso ................................ 6

2 PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................................................ 8

2.1 Conceito de psicologia ......................................................................... 8

2.2 A psicologia e o direito ......................................................................... 9

2.3 Psicologia Jurídica No Brasil .............................................................. 10

2.4 Principais áreas de atuação do psicólogo jurídico .............................. 11

3 ASPECTOS DO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


NO BRASIL ............................................................................................................... 13

3.1 Breve Histórico a Respeito da Evolução das Penas .......................... 14

3.2 Teoria Geral da pena no Brasil ........................................................... 15

3.3 Aspectos subjetivos e fatores que levam ao ato delituoso ................. 16

3.4 A prisão no Brasil ............................................................................... 18

3.5 O profissional de Psicologia no sistema prisional ............................... 21

3.6 A História do trabalho da psicologia jurídica na instituição penal e a lei


26

4 O PAPEL DA PSIQUIATRIA E DA PSICOLOGIA NA EXECUÇÃO PENAL


31

4.1 Execução penal .................................................................................. 32

4.2 O exame criminológico ....................................................................... 34

4.3 Reforma psiquiátrica........................................................................... 36

4.4 Os direitos humanos ante ao sistema prisional .................................. 38

5 A CONTRIBUIÇÃO DOS PSICÓLOGOS JURÍDICOS JUNTO AO SISTEMA


PRISIONAL ............................................................................................................... 39

2
5.1 A atuação do psicólogo jurídico no contexto das instituições prisionais
39

5.2 Psicologia E O Indivíduo Em Cumprimento De Pena Privativa De


Liberdade 40

5.3 Psicologia e a reintegração do egresso na sociedade ....................... 43

6 O PAPEL DA PSICOLOGIA NA RESSOCIALIZAÇÃO ............................. 46

6.1 A PSICOLOGIA .................................................................................. 46

6.2 O INSTITUTO DA RESSOCIALIZAÇÃO ............................................ 49

6.3 O papel da psicologia na ressocialização........................................... 51

6.4 Trabalho dos psicólogos junto às demais pessoas envolvidas com o


sistema carcerário ................................................................................................. 54

7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 57

3
INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL

Fonte: www.emaze.com

Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho (2010 p.19) ‘“etimologicamente,


criminologia vem do latim Crimino (crime) e do grego logos (estudo, tratado),
significando o estudo do crime”.
Como forma de melhorar os conceitos e contribuir para o estudo da mente do
criminoso, seu surgimento se deu no ano de 1875, fundamentando-se na busca de
fatores que contribuem para a conduta delitiva, e tendo como objeto as causas da
criminalidade, a personalidade e o comportamento do criminoso:

Em sua tentativa para chegar ao diagnóstico etiológico do crime, e, assim,


compreender e interpretar as causas da criminalidade, os mecanismos do
crime e os móveis do ato criminal, conclui que tudo se resumia em um
problema especial de conduta, que é a expressão imediata e direta da
personalidade. Assim, antes do crime, é o criminoso o ponto fundamental da
Criminologia contemporânea. (MACEDO,1977, apud in LEAL, 2008, p.173).

Cabe assim, definir criminologia como conceitua Nestor Sampaio Penteado


Filho (2010, p.19) em sua obra, Manual Esquemático de Criminologia: “A ciência
empírica (baseado na observação e experiência) e interdisciplinar que tem por objeto
de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o
controle social das condutas criminosas”.

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Podemos dizer que a ciência da criminologia surgiu pela necessidade de
entender o crime como um fenômeno social e encontrar uma justiça mais humana e
tornou-se fundamental para área criminal, já que não existe possibilidade de conhecer
o criminoso sem estudar sua vida psíquica, esta por sua vez, é mais importante que a
sua vida orgânica, uma vez que os atos correspondem ao comendo psíquico.
Sendo assim, é importante que um crime não seja julgado somente pelo delito
em si, mas é essencial compreender o motivo que levou o indivíduo a praticá-lo, uma
vez que o homem é reflexo do meio em que vive e elementos socioeconômicos,
discriminação, abandono, entre outros, podem influenciar em sua conduta.
A psicologia criminal, por sua vez, tem por objetivo o estudo da personalidade,
buscando entender os fatores que a influenciam, ou seja, biológicos, mesológicos
(meio ambiente) ou social.
Nestor Sampaio Penteado Filho (2014, p.167) descreve os transtornos de
personalidade como: “Não são tecnicamente doenças, mas anomalias do
desenvolvimento psíquico sendo consideradas perturbações da saúde mental”.
As classificações de transtornos e comportamentos descrevem o transtorno
específico de personalidade como uma perturbação grave, com tendências
comportamentais. Tais transtornos revelam uma falta de harmonia de atitudes e
condutas no relacionamento interpessoal do indivíduo. Esse tipo de transtorno
específico é caracterizado por insensibilidade pelos sentimentos alheios. Quando o
indivíduo não apresenta sensibilidade alguma – com ausência total de remorso ou
arrependimento – ficando indiferente, isso pode levá-lo a um comportamento delituoso
recorrente e seu diagnóstico é de psicopatia (transtorno de personalidade, antissocial,
sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático ou transtorno dissocial).

1.1 Análise psicológica do comportamento criminoso

Segundo Penteado (2010), Um indivíduo que possui boa formação e princípios


pode ter seu equilíbrio rompido e cometer um delito por reação. Essa conduta é
psicologicamente atípica, chamado de crime eventual.
A periculosidade ou personalidade perigosa apresentada é aquela que possui
propensão para o delito por ser o indivíduo incapaz de assimilar as regras
comportamentais e os padrões sociais. O delinquente que, do ponto de vista

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criminológico, reincide em seus crimes no mínimo 3 vezes e com certo intervalo de
tempo entre cada crime, este é conhecido como assassino em série (serial killer).
Nestor Sampaio Penteado (2014, p.172) afirma ainda que:

A diferença entre o assassino em massa, que mata várias pessoas de uma


só vez sem se preocupar com a identidade destas e o assassino em série, é
que este elege cuidadosamente suas vítimas, selecionando na maioria das
vezes pessoas do mesmo tipo e características (Apud AQUILINO, 2019.p.03)

A análise de perfil de personalidade estabelece como estereótipos dos


assassinos em série, na usa maioria, homens jovens de cor branca que atacam
preferencialmente mulheres e cujo primeiro crime se deu antes dos 30 anos. Alguns
possuem histórico de uma infância traumática devido a maus tratos físicos ou
psíquicos, motivando os delinquentes a isolar-se da sociedade ou vingar-se dela.
Tais frustrações induzem os delinquentes a um mundo imaginário, melhor que
o real, onde eles revivem os maus tratos sofridos, identificando-se desta vez com o
agressor. Por essa razão, sua forma de matar normalmente é através do contato direto
com a vítima, utilizando armas brancas, estrangulamentos e golpes, quase nunca
usando arma de fogo.
Os crimes obedecem a uma série de rituais nos quais se misturam fantasias
pessoais com a morte. Devido à capacidade do assassino de fingir emoções e de se
apresentar extremamente sedutor, consegue sempre enganar as suas vítimas.
Conforme reportagem feita no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha
(TAVOLARO, 2004, p. 76):

Há alguns traços característicos entre os pacientes. Um deles é referir-se


aos delitos pelo artigo do Código penal em que foram processados ou para
os quais apresentam sua versão. Outro sintoma da doença é figurar como
vítima. A maioria, porém, foi condenada como medida de segurança, por ser
considerada inimputável pela Justiça. O laudo de insanidade mental, nesses
casos, comprovou que o preso teve a capacidade de entendimento e
determinação abolida no momento do crime. Outra parte enlouqueceu
enquanto cumpria pena nas cadeias do sistema penitenciário.(apud
Marques,2004,p.7)

Pode-se usar como exemplo, muitos crimes cometidos por pacientes detidos
no Manicômio Judiciário Franco da Rocha, todos com justificativas alucinantes dos
mesmos, mas sem sentirem qualquer culpabilidade:

Muitos pacientes andam na cela por 24 horas, inquietos, indo e vindo,


reproduzindo a agitação dos funcionários fora das grades. Sacodem as

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mãos em conversas imaginárias, intercaladas de risinhos nervosos. Outros
permanecem agachados, estáticos, em absoluto silêncio. O psicótico
conhecido como ““Furador de olhos, é assim: pacato, pouco conversa ou
reclama, mas, quando começa a divagar sobre assuntos de japonês e ouro,
o perigo torna-se iminente. Utiliza como forma de defesa para sua alucinação,
a mania de furar os olhos das pessoas. Não importa quem esteja por perto,
paciente, funcionário, ou visitante. Certa vez de traz da grade, roubou a
caneta do bolso da camisa de um enfermeiro que se distraiu e por pouco não
perfurou-lhe o olho. O dissimulado J.P. C é alto e raquítico. Diz ouvir vozes
de três japoneses que o mandam matar para “recuperar o ouro”. E diz: Matei
um, Não, matei dois... Matei cinco. Eu mato por causa do ouro. Os japoneses
me mandam matar pelo ouro que tem no largo do Arouche[...]. (TAVOLORO,
2004, p.93-94).

Dessa forma, apesar de alguns comportamentos se mostrarem comuns em


muitos criminosos. Para Bonger (apud in LEAL, p.174, 2008), não existe uma tipologia
psicológica específica do delinquente, pois é possível encontrarmos entre os
delinquentes todos os tipos humanos possíveis.

2 PSICOLOGIA JURÍDICA

Fonte: www.pt.slideshare.net

2.1 Conceito de psicologia

Como ponto inicial para que seja entendido o que é a psicologia jurídica, é
necessária a análise da psicologia em sua essência. A palavra psicologia deriva da
palavra grega psyque, que quer dizer psique, alma, mente. Assim sendo, a psicologia
que outrora era o estudo da alma ou da consciência, hoje é definida como sendo a

8
ciência que estuda o comportamento e a mente humanos, o que deriva no estudo do
que motiva o comportamento humano.
Por isso, a psicologia tem contribuído em diversas áreas do conhecimento,
justamente por possibilitar, através desta interdisciplinaridade, uma gama de
possibilidades de análises do comportamento humano e da natureza humana nas
mais diversas áreas, inclusive no direito.

2.2 A psicologia e o direito

A autora Sônia Altoé em seu artigo atualidade da psicologia jurídica traz que a
primeira aproximação entre a psicologia e o direito ocorreu através da psicologia do
testemunho.
A história nos mostra que a primeira aproximação da psicologia com o direito
ocorreu no final do século XIX e fez surgir o que se denominou psicologia do
testemunho. Esta tinha como objetivo verificar, através do estudo experimental dos
processos psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo
jurídico. [...] Esta fase inicial foi muito influenciada pelo ideário positivista, importante
nesta época, que privilegiava o método científico empregado pela ciências naturais.
Contudo, não é fácil delimitar o início da psicologia jurídica justamente por não
haver um marco histórico. Por outro lado, a publicação do livro Psychologie Naturelle
do médico francês Prosper Despine, em que foi tratado do estudo de casos de
criminosos daquela época, teria sido um acontecimento que determinou o surgimento
da psicologia jurídica.
Fato é que a interdisciplinaridade entre direito e psicologia se desenvolveu e
deixou de se limitar a laudos frios que diagnosticavam o teor de verdade nos
testemunhos e passou a ser uma importante ferramenta para estudar o
comportamento não só do indivíduo envolvido na demanda, bem como, o
comportamento daqueles que convivem e as circunstâncias que fazem parte do
contexto histórico daquela pessoa.
Sendo de suma importância essa interação, uma vez que, retiraria o direito da
análise fria da lei, do simples deve ser e, nesse encontro com o a ciência do ser, que
é a psicologia, passaria a ser levado em conta todo o contexto em que aquele
indivíduo está inserido e os reflexos de uma decisão jurídica para a sua vida no futuro.

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Importante ressaltar que no bojo do artigo reflexões sobre psicologia jurídica e
seu panorama no brasil da psicóloga jurídica Fátima França, é enfatizado que a
denominação psicologia jurídica apesar de ser a mais usada no brasil, não é a única
denominação que se têm para denominar a área da psicologia que se relaciona com
o direito, por exemplo, na argentina é utilizado o termo psicologia forense.
Ao final, fica evidenciado que o direito e a psicologia convergem-se na
preocupação de entender e analisar a conduta humana, ou seja, como explicar
determinada atitude de um indivíduo para, a partir disso, chegar a uma conclusão que
seja a melhor decisão, ou a menos danosa, para aquela pessoa.

2.3 Psicologia Jurídica No Brasil

A década de 60, com o reconhecimento da profissão, foi o início da atuação


dos psicólogos frente ao judiciário brasileiro. Essa interação, contudo, não ocorreu de
forma única e definitiva, pelo contrário, ocorreu gradualmente ao longo do tempo, e
vem se desenvolvendo e se espalhando pelos diversos campos do direito ainda nos
dias atuais.
Os psicólogos jurídicos realizaram os primeiros trabalhos na área criminal tendo
os estudos como foco adultos delinquentes, bem como, menores infratores.
Essa primeira fase da psicologia jurídica é marcada basicamente por exames
pericias e criminológicos. Ultrapassada essa primeira etapa os psicólogos começaram
a atuar juntamente com os psiquiatras nos exames legais e no estudo da psique dos
jovens.
Mas a atuação do psicólogos não se limitou à área do direito penal, nos
processos de direito civil, também se faz presença tal atuação, e vem aumentando
com o passar do tempo até os dias de hoje.
Neste ponto, importante destacar a atuação dos psicólogos ante aos direitos
da infância e juventude. A implantação do estatuto da criança e adolescente (eca), fez
com que a atuação dos psicólogos jurídicos fosse vista de uma outra maneira, no
sentido de que houve uma maior abertura a debates sobre o comportamento humano,
fez surgir uma interdisplinariedade que fez com que o campo de atuação dos
psicólogos fosse aumentado, pois não estariam mais limitados aos laudos, relatórios
e perícias. (Lago, 2009)

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Nas palavras de Sônia Altoé essa mudança foi refletida da seguinte maneira:

Esse novo campo de atuação que se abre, inclusive no sentido de novos


cargos, novos empregos e cheio de inquietações, indagações e descobertas.
Favorece e amplia o campo da pesquisa e do ensino universitário. E quando
me refiro à pesquisa, é não somente à aquela realizada na academia, mas
também na prática cotidiana de trabalho, onde o espírito do pesquisador é
fundamental para manter o constante questionamento dos caminhos a serem
abertos ou seguidos numa prática tão nova e cheia de desafios. As questões
humanas tratadas no âmbito do direito e do judiciário são das mais complexas
(apud LEAL,2008, p.181)

No tocante à área acadêmica, deve ser mencionado o pioneirismo da


universidade do estado do rio de janeiro, pois desde a década de 80, tem em suas
disciplinas seja na forma de graduação ou de especialização um ramo focado em
psicologia jurídica, ainda que tenha nomenclatura diferente, como foi o caso da
especialização psicodiagnóstico para fins jurídicos. (Lago, 2009).
Contudo, há que se lamentar o déficit que ainda existe, apesar de já haver um
aumento, em relação à disponibilidade do ensino da psicologia jurídica. É o que se
pode abstrair das palavras de Vivian de Medeiros lago:

Esses dados acarretam uma deficiência na formação acadêmica dos


profissionais, o que exige oferecimento, por parte das instituições jurídicas,
de cursos de capacitação, treinamento e reciclagem. Os psicólogos sentem
estar sempre “correndo atrás do prejuízo”, uma vez que as discussões
sempre giram ao redor de noções básicas com as quais o psicólogo deveria
ter tomado contato antes de chegar à instituição. Porém, essa realidade tem
se modificado. Atualmente, são oferecidos cursos de pós-graduação em
psicologia jurídica em universidades de estados brasileiros como alagoas,
Bahia, Ceará, goiás, minas gerais, paraíba, Pernambuco, rio de janeiro, santa
Catarina e São Paulo, o que revela a expansão da área no país. (apud LAGO
et al., 2009)

2.4 Principais áreas de atuação do psicólogo jurídico

O psicólogo jurídico geralmente tem a sua atuação voltada para a produção de


pareceres e relatórios, tendo a liberdade, inclusive de indicar qual seria a solução para
o conflito em questão, o que não pode ser confundido, contudo, com a decisão judicial
da lide, sendo este o papel do magistrado.

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Fonte:jus.com.br

Em seu artigo um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos


de atuação Vivian de Medeiros lago elenca os campos de atuação da psicologia
jurídica, em suma, nos seguintes termos:
Psicólogo jurídico e o direito de família: nesse ramo do direito civil, destaca-se
a atuação dos psicólogos nas ações de divórcio, disputa de guarda e regulamentação
de visitas.
Psicólogo jurídico e o direito da criança e adolescente: nota-se o trabalho dos
psicólogos junto aos processos de adoção e destituição do poder familiar e também
no que tange à aplicação de medidas socioeducativas aos adolescentes.
Psicólogo jurídico e o direito civil: a atuação dos psicólogos é necessária em
ações de indenização em decorrência de danos psíquicos e também nos casos de
interdição judicial.
Psicólogo jurídico e o direito penal: é importante a atuação dos psicólogos para
atuarem como peritos para a análise da periculosidade, das condições de
discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. Sendo
neste ponto, importante a menção que a autora faz à atuação dos psicólogos junto ao
sistema penitenciário e à lei de execução penal, temas que serão ainda tratados mais
detalhadamente no presente estudo.
Psicólogo jurídico e o direito de trabalho: mais uma vez a atuação dos
psicólogos será na produção de pericias em processos trabalhistas.

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A autora finaliza esta parte do seu artigo enfatizando algumas outras áreas de
atuação do psicólogo jurídico, quais sejam, a vitimologia e a psicologia do testemunho.
Superada esta primeira fase em que foi conceituada a psicologia jurídica e a
sua interdisciplinaridade com o direito, o presente estudo passa a discorrer a respeito
do sistema prisional.

Fonte: www.taopsi.com.br

3 ASPECTOS DO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO


BRASIL

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Fonte:ebradi.jusbrasil.com.br

Tania Kolker ao escrever a atuação no psicólogo no sistema penal diz que a


prisão surgiu juntamente com o capitalismo, que inicialmente não era tida como uma
pena pós-condenação, pois era utilizada apenas como um local em que os criminosos
mais perigosos eram deixados à espera do julgamento, em que poderiam ser
condenados a penas de trabalhos forçados, por exemplo.

3.1 Breve Histórico a Respeito da Evolução das Penas

Antes que o sistema prisional seja estudado em sua essência é importante que
seja analisada a evolução das penas até os dias atuais.
A penalização aos transgressores dos costumes e leis tem o seu início já antes
da sociedade organizada. Uma vez que, desde os agrupamentos mais antigos, já
havia as penas relacionadas aos descumprimentos dos preceitos divinos, podendo
chegar inclusive à morte.
No princípio, as penas eram tidas como uma forma de vingança coletiva contra
aquele indivíduo da sociedade que cometesse algum crime. Momentos em que
predominava a prática dos mais arbitrários tipos de pena e que eram aceitas como
normalidade pela sociedade em que eram praticadas, como por exemplo, tortura,
penas de morte, prisões desumanas, banimentos, acusações secretas.
Contrário a essa vertente foi o livro dos delitos e das penas de Cesare Beccaria,
que trouxe para a época um novo pensamento a respeito das penas, que pode ser
sintetizado nas seguintes palavras externadas pelo autor em seu livro:
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve
procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão
a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos
os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males
da vida.
A publicação do livro influenciou demasiadamente a execução penal, uma vez
que o estado sentiu a necessidade de centralizar em si a aplicação das penas, para
que fossem evitadas penas que tinham um caráter meramente vingativo.

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Contudo, ainda durante muito tempo o estado punia de forma exagerada e
arbitrária àquele que cometesse algum delito. As sanções desvinculavam-se de um
ordenamento jurídico que, em tese, tinha como objetivo a busca pela justiça. Com o
passar dos anos, a pena começou a ter um caráter maior de sanção legal, apesar de
ainda guardar em sua essência um cunho retributivo ao ato praticado pelo ofensor.
A partir século XVIII, já com uma percepção mais aguçada do estado
democrático de direito pelos povos e com os ideais iluministas aflorando por toda a
sociedade, passou a trocar o desejo por penas severas, como a tortura, pela defesa
dos direitos fundamentais dos acusados. Momento em que também começa a surgir
os princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal.
Surgindo, então, a pena privativa de liberdade criada por Bentham que vem se
aprimorando ao longo dos anos e é hoje uma das adotadas pelo código penal
brasileiro. Contudo, desde a sua criação há de se reconhecer que dificilmente ela
atende ao fim em que se funda, que é o de recuperar o indivíduo.

3.2 Teoria Geral da pena no Brasil

O estudo da teoria geral da pena consiste em analisar uma série de regras que
vão nortear a aplicação da sansão penal. O art. 32 do código penal traz em seu bojo,
as três grandes modalidades de penas que existem no ordenamento jurídico
brasileiro. Sendo elas, a privativa de liberdade, a restritiva de direito e a de multa,
assim, no brasil são três as espécies das penas.
Especificamente, as penas privativas de liberdade se subdividem em outras
duas espécies, quais sejam, reclusão e detenção. Consistindo a diferença entre elas,
nas palavras de Nestor Távora:

A principal diferença de uma para outra é quanto aos limites deferidos ao juiz
para a fixação do regime de cumprimento de pena. Daí que a pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto,
enquanto que a detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado. (apud SANTOS, 2015)

Como foi visto, são três os tipos de regimes, sendo o fechado, que deverá ser
cumprido em estabelecimentos de segurança máxima ou média, o regime semiaberto
será cumprido em estabelecimento, industrial ou similar, regime aberto, a pena será
cumprida em casa de albergado ou estabelecimento similar. Cabendo ao magistrado

15
definir qual deve ser o regime que deverá ser adotado no início do cumprimento da
pena.
O instituto jurídico brasileiro contempla a figura da progressão de regime, que
em respeito ao princípio da individualização da pena, a pena privativa de liberdade
será cumprida em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso,
a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, atendidas as normas que vedam a progressão, nos termos
do art. 112 da lei 7.210 de 1984.
A partir deste estudo a respeito da teoria geral da pena conclui-se necessária
se faz a participação dos psicólogos jurídicos, não só na aplicação da pena, bem como
na evolução do instituto punitivo.

3.3 Aspectos subjetivos e fatores que levam ao ato delituoso

O ato delituoso tem se tornado cada vez mais complexo, haja vista que, com o
passar dos anos surgem diferentes e variadas práticas delituosas, o que leva os
legisladores a uma constante reformulação das leis e os operadores do direito a uma
interpretação ainda mais pormenorizada da legislação no momento de aplicar a
sanção penal.

Fonte:tribunalarbitralbrasileiro.org

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Sendo necessário um estudo das entrelinhas do que leva ao indivíduo cometer
o crime. Lombroso em sua teoria defendia que o criminoso já nascia assim, entretanto,
os novos estudos convergem para o fato de haver uma série de fatores que podem
levar um criminoso a cometer um delito.
Fiorelli defende que devem ser observados dois tipos de fenômenos, sendo
eles o condicionamento, que se relaciona com o reforço positivo, ou seja, um indivíduo
que está sempre exposto a determinado tipo de situação tende a repeti-la, e a
observação de modelos, em que consiste em observar as formas do comportamento
agressivo, para mais tarde repeti-las. Para Fiorelli esses fatores são adquiridos na
infância.
Ainda por essa vertente, surge a figura da imputabilidade, que é quando um
indivíduo comete um fato delituoso e tem a capacidade entender a sua conduta, por
outro lado, aquele que pratica uma conduta tida como crime e não é capaz de fazer o
julgamento daquele ato que cometeu, é considerado inimputável. Devendo também
ser mencionada a figura da semi-imputabilidade, em que a culpabilidade é diminuída
em casos de o indivíduo apresentar transtornos de intensidade leve.
Enfim, fato é que indivíduos que praticam delitos fazem parte da sociedade
desde os tempos mais remotos, contudo, a percepção, o estudo do que motiva o crime
vem evoluindo, em busca das verdades presentes nas entrelinhas de uma atitude
delituosa.
Por fim, cabe salientar as palavras de Fiorelli à luz de Foucault, em que é
apontado o fato discriminatório na aplicação das penas, sendo elas mais severas ante
os menos favorecidos, muitas vezes devido a uma visão viciada da sociedade como
um todo.
Essa percepção viciosa faz com que as pessoas naturalmente percebam
comportamentos indicadores de delitos que se ajustam às suas crenças arraigadas a
respeito dos prováveis praticantes. Uma mentira que veste armani não passa de um
lapso de memória ou uma inocente confabulação que Freud explica, enquanto o
esquecimento do desdentado Sebastião, receptador de autopeças no popular
desmanche da periferia, é visto como uma estratégia ingênua para burlar a polícia e
falsear o testemunho.
A psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria atuante na interface
psiquiatria e Direito. Sua função é proporcionar o diálogo técnico entre a Medicina e o

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Direito com a tradução dos significados dos termos de uma das ciências para a outra.
Nesta interface faz-se mister que o perito médico tenha conhecimento técnico em
psiquiatria, além de ser imprescindível o conhecimento jurídico. Somados estes dois
quesitos, o psiquiatra forense deverá fazer as conversões de linguagem médica para
que os operadores do Direito possam exercer suas funções legais.

3.4 A prisão no Brasil

Do ponto de vista historiográfico, temos importantes contribuições de vários


pesquisadores. Pedroso (1997, p. 121), no seu texto Utopias penitenciárias, projetos
jurídicos e realidade carcerária no Brasil, no que se refere ao sistema de segregação
no Brasil Colônia, diz:

“[...] A instalação da primeira prisão brasileira é mencionada na Carta Régia


de 1769, que manda estabelecer uma casa de correção no Rio de Janeiro [...]
as casas de recolhimento de presos no início do século XIX mostravam
condições deprimentes [...] Um relatório de uma comissão nomeada para
visitar as prisões [...] apontou o aspecto maltrapilho e subnutrido dos presos.
[...]”
“[...] A primeira menção à prisão no Brasil foi dada no Livro V das Ordenações
Filipinas do Reino, código de leis portuguesas que foi implantado no Brasil
durante o período colonial. O código decretava a Colônia como presídio de
degredados. A pena era aplicada aos alcoviteiros, culpados por ferimentos
por arma de fogo, duelo, entrada violenta ou tentativa em casa alheia,
resistência às ordens judiciais, falsificação de documentos, contrabando de
pedras e metais preciosos”. (Ordenações Filipinas, 1870, p. 91 apud
CANÊDO,2010).

Ficam patentes o descaso e as condições desumanas da instituição penal


desde a sua origem.
O suplício dos corpos como técnica de sofrimento, aos poucos, cedeu lugar a
novas formas de punição. A Justiça criminal, utilizando-se de outros saberes, técnicas
e discursos “científicos” do pensamento positivista do século XIX, passou a deslocar
o foco da criminologia do crime para o criminoso, estabelecendo, assim, um novo
regime de verdades sobre a pessoa do criminoso, sobre sua subjetividade. Era preciso
transformá-los, disciplinar seus corpos e suas almas. Sob essa ótica, as legislações
foram se modificando ao longo dos anos, para dar conta de uma outra forma de
punição mais “humanizada”.(FOUCAULT, 1975). Guimarães (2002), num outro estudo
sobre o histórico das prisões, apresenta a evolução das penas e das legislações ditas

18
“mais humanizadas”, desde o século XIX até a Lei de Execução Penal, de 1984.
Segundo o autor:

“[...] Em 1808, foi inaugurada a Prisão Aljurbe, com capacidade para 20


presos, mas que abrigava 390. A Cadeia Velha, na capital imperial, foi criada
em 1812. Em 1824, era conhecida como lugar de infecção e morte. Em 1841,
foi desativada. Em 1824, o Império aboliu os castigos bárbaros. Em 1830, o
Código Criminal Imperial determinou os limites das punições, cadeias limpas
e arejadas e separação do réu de acordo com a natureza de seu crime. Em
1890, surgiu o Código Penal da República. Em 1940, foi introduzido o regime
progressivo de penas. Em 1984, surge a Lei de Execução Penal”.

As mudanças ao longo dos anos não se deram apenas no campo jurídico, mas
também nas características socioculturais da população carcerária e dos tipos de
delito. O perfil dos presos, segundo as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE (1901 a 2000), apresenta diferenças discrepantes nos respectivos
períodos, revelando também o contexto histórico das diferentes épocas. Os registros
de 1907 fazem as seguintes referências quanto aos dados levantados sobre os
presos:

“[...] 69% dos condenados eram filhos legítimos; 12%, ilegítimos; 1% eram os
chamados ‘expostos’ (crianças encontradas) e 18% tinha filiação ignorada;
54% foram educados em casa materna, e o restante dividia-se entre: casa
estranha, colégios, internatos e estabelecimentos análogos, asilos e
estabelecimentos congêneres e lugares ignorados. Quanto à profissão,
38,5% trabalhavam na agricultura, 70% eram analfabetos e 28% mal sabiam
ler e escrever. Referente aos antecedentes jurídicos dos condenados, 96%
eram primários. Dos 2.833 condenados na época, 2.422 tinham cometido
homicídio; 53, tentativa de homicídio; 223, lesão corporal; e 135, ‘violência
carnal’[...]”

Em termos comparativos, observa-se, no início do século XX, o predomínio


absoluto de crimes contra a pessoa, enquanto, em 1985, as estatísticas do IBGE
indicam que 57,8% foram condenados por crimes contra o patrimônio, delito que
começa a aparecer a partir do anuário de 1943. Já o problema do tráfico e do uso de
drogas tem início na década de 60, e, no período entre 1965 e 1985, o número de
condenados por esses delitos triplicou, explodindo, mesmo, a partir do ano 2000.
Outro dado que compromete seriamente o sistema penal, no momento atual, refere-
se às taxas de reincidência. Segundo o criminalista Zippin (2006), designado pelo
Conselho Nacional de Justiça para estudar a população carcerária no Brasil, a média
de reincidência no crime é de 85%.

19
Salla (2003, p.8), pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da
Universidade de São Paulo, constata uma impressionante escalada nas taxas de
encarceramento no Brasil: em, a taxa por 100 mil habitantes era de 65,2; em 1993, de
83,2; em 2000, sobe para 134,9; em 2002, aumenta para 146,5; em 2003, foi para
181,5; e, em 2005, a elevação foi para 196,2 por 100 mil habitantes.
Os professores Soares e Guindani (2006), também comentando a respeito do
elevado número de presos no Brasil, dizem que:

“[...] São Paulo tem 144 mil presos. Isso equivale a 360 por 100 mil habitantes.
Em 1995, havia 150 mil presos no Brasil, o que representava 95 por 100 mil
habitantes. Os números nos dizem que o Brasil tem encarcerado muito e de
forma acelerada, e que São Paulo tem sido mais voraz no encarceramento
do que os demais estados [...]” (apud FRANÇA,2007, p.22)

A realidade, portanto, é preocupante. Segundo o INFOPEN – Sistema de


Informações Penitenciárias, em 2005, havia 381.402 mil presos nos 1021
estabelecimentos cadastrados no sistema penitenciário e nas instâncias policiais do
país. A situação das prisões no Brasil é tão grave que um dos maiores estudiosos
sobre a temática, Loïc Wacquant (2001), chama a atenção para o sistema carcerário
brasileiro, referindo-se a uma “verdadeira ditadura sobre os pobres”. Diz ele:
“[...] É o estado apavorante das prisões do país, que se parecem mais com
campos de concentração para pobres, ou com empresas públicas de depósito
industrial dos dejetos sociais, do que com instituições judiciárias que servem para uma
função penalógica [...]”

Diante do quadro estarrecedor, é importante destacar que os legisladores e os


operadores dos mecanismos de controle social, em nome da ordem e da Justiça,
implementam medidas que não têm contribuído para amenizar ou inibir o grave
problema da criminalidade, ou seja, a crença na punição através das penas de prisão
é cada vez mais reforçada, apesar de falaciosa, como demonstram os altos índices
de reincidência.

20
3.5 O profissional de Psicologia no sistema prisional

Fonte:exame.abril.com.br

Segundo informações contidas no trabalho Resgate histórico da Psicologia no


Sistema Penitenciário do estado do Rio de Janeiro, realizado pelos psicólogos do
sistema penitenciário desse estado, o ingresso dos primeiros psicólogos no sistema
penal brasileiro ocorreu no Rio de Janeiro, em meados da década de 60, logo após a
regulamentação da profissão no Brasil (1962). No Manicômio Judiciário Heitor
Carrilho, no período de 1967 a 1976, esses profissionais faziam suas residências
acadêmicas integrando o corpo técnico que trabalhava com os chamados “loucos
infratores”, considerados inimputáveis diante da lei, e que cumpriam, naquele
estabelecimento hospitalar, a medida de segurança.
Entretanto, nos estabelecimentos prisionais do país, a presença de psicólogos
ocorreu em diferentes épocas, conforme as políticas e as estruturas administrativas
de cada estado.
Segundo Badaró (2006), no Rio de Janeiro, por exemplo, ingressaram no fim
da década de 1970, expandindo suas ações do âmbito das medidas de segurança
(manicômio judiciário) para o campo das penas privativas de liberdade
(estabelecimentos prisionais), participando de projetos que visavam à individualização
do cumprimento das penas por meio de atividades de classificação dos apenados e
acompanhamento de seu “tratamento penitenciário”.
Nesse mesmo trabalho, fazem referência à Exposição de Motivos da Nova
Parte Geral do Código Penal:
21
“[...] De acordo com a Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do Código
Penal, de 09 de maio de 1983, o tratamento penitenciário consistia na
aplicação individualizada do regime progressivo da pena – fechado/semi-
aberto/aberto – consoante as ‘condições personalíssimas do agente’
auferidas por meio de exame criminológico bem como na atribuição de
trabalho ‘segundo as aptidões ou ofício anterior do preso’. Esse tratamento
visava à redução da reincidência por meio da ‘outorga progressiva de
parcelas da liberdade suprimida’ e baseava-se no ‘mérito’ do condenado e
em uma ‘prognose’ de sua ‘presumida adaptabilidade social’. Posteriormente,
a Lei de Execução Penal, lei nº 7210, de 11.07.1984, instituiu um sistema de
direitos e deveres, sanções e recompensas que regulamentava a aplicação
da disciplina bem como os dispositivos de apuração e avaliação da reação
dos condenados a esse ‘tratamento’. Definiu também as assistências a que o
preso fazia jus (assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e
religiosa). Esse tratamento penitenciário não consiste, portanto, em uma
abordagem clínica ou de saúde, termo em geral associado à expressão
‘tratamento’, mas, sim, em uma expectativa de alteração da conduta dos
sujeitos por meio da própria regulação da pena e da disciplina penitenciária
[...]”

Em 1984, com a promulgação da Lei de Execução Penal, fundamentada,


portanto, no princípio da individualização da pena, o exame criminológico foi
efetivamente implementado e instituída a Comissão Técnica de Classificação – CTC
como dispositivos para o acompanhamento individualizado da pena.
Esse exame, realizado por psiquiatra, psicólogo e assistente social, tinha por
objetivo identificar, no início do cumprimento da pena, as múltiplas causas que, na
história dos indivíduos, constituiriam fatores geradores da conduta delituosa, traçando,
assim, um perfil psicológico com vistas ao tratamento penitenciário, e, por ocasião do
livramento condicional ou progressão de regime, permitir a avaliação das mudanças
ocorridas ao longo da pena no sentido de sua superação, apontando o juiz da Vara
de Execuções Penais um “prognóstico psicológico” quanto a um possível retorno ou
não à delinquência.
À CTC (comissão multidisciplinar composta por um psicólogo, uma assistente
social, um psiquiatra, dois chefes de serviço e presidida pelo diretor do
estabelecimento prisional), caberia elaborar o programa individualizador e
acompanhar a execução das penas privativas de liberdade, além de elaborar
pareceres nos quais deveria “propor as progressões e regressões de regime, bem
como as conversões” (art.6º da LEP).
A prática do psicólogo na área da execução penal foi se dando empiricamente
ao longo dos anos, sem uma formação específica nesse campo de intervenção, já que
não era uma discussão privilegiada nos meios acadêmicos. Cada um, ao seu estilo
próprio, seu potencial criativo e as condições institucionais de sua inserção nos
22
estabelecimentos prisionais, buscou a sua forma de atuar, mesmo tendo como função
principal realizar perícia, ou seja, elaborar laudos e/ou pareceres psicológicos para
integrar o exame criminológico. Apesar das diferenças regionais, a presença dos
psicólogos nas prisões tem sido marcada por muitas lutas e confrontos diários, diante
da cultura prisional imposta, e por questionamentos sobre a prática pericial do exame
criminológico.
A concepção positivista e determinista que fundamenta o exame criminológico
busca investigar o ser humano, estudá-lo, percebê-lo, sondá-lo e identificá-lo em toda
a sua história de vida de modo que se possa prever o comportamento “apto” a viver
na sociedade. Em outras palavras, a crença nas essências (boa ou má), que emerge
no contexto histórico de meados do século XX, permeia o pensamento científico nos
diversos campos do conhecimento, inclusive na Psicologia, como aponta Coimbra
(2003). Diz ela:
“[...] A Psicologia se pergunta: quem é esse homem? Como e qual é o seu
mundo interno? E o seu íntimo? Acreditando que tem possibilidade de atingir o âmago
do ser – nomeado sujeito-, a Psicologia vai produzindo um determinado modo de ser
humano”.
No campo do Direito, os doutrinários analisam os equívocos da criminologia
clássica refutando todo o determinismo biológico, o método positivista, que buscava,
nas essências, as causas do comportamento criminoso, e desconsiderava “a
importância das práticas sociais na produção dos objetos, saberes e sujeitos”
(COIMBRA, 2003).
Alessandro Baratta, um defensor da Criminologia Crítica, alega que o Direito é
desigual por excelência e que:

“[...] o cárcere seria o momento culminante de mecanismos de criminalização,


inteiramente inútil para a reeducação do condenado – porque a educação
deve promover a liberdade e o auto respeito; o cárcere produz degradação,
despersonalização; portanto, se a pena não pode transformar homens
violentos em indivíduos sociáveis, institutos penais não podem ser institutos
de educação[...]”(apud COSTA SANTOS; SOEIRO BARROS; VIANA, 2007)

A questão do exame criminológico tem sido um dos pontos mais polêmicos


entre os técnicos que dele participam, principalmente os psicólogos. De um lado, há
os que questionam a sua importância no contexto penal, e, de outro, os que acreditam
na permanência da função de peritos e indagam a quem interessa o seu

23
desaparecimento. Será que uns poderiam atuar somente como peritos, realizando o
exame criminológico, e outros, buscando novas alternativas de atuação?
As experiências foram se somando aos questionamentos, às reflexões, às
inquietações da própria prática profissional, acrescidas dos embates contra um
cotidiano repressor e punitivo que passa por cima dos direitos fundamentais do ser
humano.

Fonte: www2.ma.gov.br

As lutas não são apenas contra esse sistema, mas ocorrem também entre os
próprios psicólogos, uns assumindo papel similar ao do policial fascista, do inquisidor,
do carrasco, tornando naturais as práticas normativas e reguladoras do
comportamento humano; outros, mais acomodados, aceitando e repetindo tarefas,
sem o espírito crítico necessário ao contexto prisional.

Outra parcela, inquieta diante de seu papel na prisão, busca saídas, escapes,
“linhas de fuga”, campos de criação e de invenção, pois acredita que, “por
mais submetido que ele (o psicólogo) seja às regras de controle e disciplina,
poderá também ser um foco de luta e resistência”. (BADARÓ, 2005, apud
FRANÇA,2007, p.40).

Como dissemos anteriormente, o campo da Psicologia Jurídica, especialmente


o da execução penal, não foi abarcado pelas universidades nos respectivos cursos de
Psicologia. É possível que o período crítico da ditadura, principalmente no tocante às
liberdades acadêmicas, tenha prejudicado o rumo dessas discussões, daí a
importância de se realizar uma pesquisa sobre o legado dessa área de atuação,

24
coletando trabalhos de merecida importância, para que compreendamos,
criticamente, esse campo de intervenção.
Pesquisas sobre a prática da Psicologia no Brasil, segundo Gomes (2003),
foram iniciadas por Plínio Olinto (1944), Anita Cabral (1950), Lourenço Filho
(1955/1971, 1969/1971) e Pessotti (1975), que retomou os trabalhos pioneiros de
Anita Cabral e Lourenço Filho. Pessotti (1988, p. 22) cita ainda que, no período entre
1840 e 1900, foram defendidas 43 teses por médicos psicólogos com temas
relacionados à Psicologia. Entretanto, diz Gomes, foi na Bahia que a pesquisa se
voltou “à aplicação social da Psicologia, através da Criminologia, da psiquiatria
forense e da higiene mental”.
Na primeira década do século XXI, autoras como as psicólogas Cristina Rauter
e Fernanda Otoni, bem como a psiquiatra Tania Kolker e outros, apresentam
contribuições importantes sobre a temática do sistema prisional, que polemizam e
problematizam as controvertidas práticas da Psicologia na prisão, uma vez que o
cativeiro não pode ensinar a ser livre e incita reações contrárias ao poder que oprime,
segrega e deixa marcas indeléveis da perversidade da instituição em si, provando que
a prisão não é o laboratório da construção da cidadania, da transformação e da
inclusão social. Muito pelo contrário, é o espaço da humilhação, da segregação e da
exclusão social, da produção de novos criminosos. Como diz Foucault, em Microfísica
do Poder (1979, p. 131-132): “Desde 1820, constata-se que a prisão, longe de
transformar os criminosos em gente honesta, serve apenas para fabricar novos
criminosos ou para afundá-los ainda mais na criminalidade”.
As medidas recentes de revogação dos crimes hediondos, da aplicação das
penas alternativas para usuários e dependentes de drogas, as campanhas e as
cobranças para que o Poder Judiciário não adote penas privativas de liberdade, e sim,
medidas e penas alternativas, sem a necessidade de segregação social, são
respostas que podem começar a diminuir a superpopulação carcerária e o caos em
que se transformaram os presídios, resultado patente, principalmente após a criação
da lei dos crimes hediondos.

25
3.6 A História do trabalho da psicologia jurídica na instituição penal e a lei

Fonte: sites.usp.br

Como vimos, a doutrina positivista marcou o início da prática do psicólogo na


prisão através da “observação científica” da personalidade, sendo, portanto, à época,
o pilar de sustentação do tratamento penal. Embora a dicotomia seja perene entre o
que determina a lei e o que acontece na prática, cabe esclarecer o que diz o texto da
Lei de Execução Penal no que se refere ao trabalho do psicólogo:
Capítulo I
Da classificação
Art. 5º. Os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
Art. 6º. A classificação será feita por comissão técnica de classificação que
elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das penas
privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade
competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões.
Art. 7º. A comissão técnica de classificação existente em cada estabelecimento
será presidida pelo diretor e composta no mínimo por dois chefes de serviço, um
psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de condenado à
pena privativa de liberdade.
Parágrafo único. Nos demais casos, a comissão atuará junto ao Juízo da
Execução, e será integrada por fiscais do serviço social.
Art. 8º. O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em
regime fechado, será submetido a exame criminológico para obtenção dos elementos

26
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da
execução.
Parágrafo único. Ao exame de que se trata este artigo poderá ser submetido o
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto.
Art. 9º. A comissão, no exame para obtenção de dados reveladores da
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou
informações do processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II – requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e
informações a respeito do condenado;
III – realizar outras diligências e exames necessários.
A Lei, portanto, determina o estudo da personalidade que, por sua vez, requer
o exame das diversas áreas que deverão produzir um diagnóstico com vista ao plano
individualizado de tratamento penal. Em 1º de dezembro de 2003, a Lei nº10.792
alterou alguns artigos da Lei de Execução Penal, dentre os quais o que se refere à
prática do exame criminológico (art. 112), o que causou diferentes entendimentos
quanto à obrigatoriedade da realização de tal exame para os benefícios legais de
livramento condicional e progressão de regime. Para muitos operadores do Direito e
especialistas em Direito Penal, o exame criminológico não foi abolido, permanecendo,
porém, segundo Mirabete (2004, p. 254), “a possibilidade de realização do exame
quando o juiz da execução o considerar indispensável, amparado no art. 96, § 2º, LEP,
que dispõe sobre a viabilidade de produção de prova, inclusive pericial, nos
procedimentos relativos à execução da pena”. Argumenta, inclusive, que um atestado
de conduta carcerária assinado pelo diretor do estabelecimento penal, conforme
dispõe o novo texto do artigo 112 da Lei nº10.79210, não pode oferecer importantes
subsídios, como uma análise mais profunda da personalidade e de outros aspectos
subjetivos existentes, para embasar o pronunciamento do juiz ao deferir ou indeferir
um pedido de benefício do preso. Tal entendimento tem sido acatado na maioria dos
estados, e, por isso, permanece a prática do exame criminológico.
Acredita-se que os motivos que resultaram na alteração do art. 112 estejam
voltados para os entraves do sistema penal: o aumento das taxas de encarceramento,
que produzem as superlotações e a morosidade das Varas de Execuções Penais.

27
Com a extinção do exame criminológico, seria possível dar mais agilidade e
objetividade à condução dos benefícios.
Outros motivos agravam a problemática penitenciária e dizem respeito à não-
valorização da área das assistências previstas na Lei de Execução Penal (Capítulo II):
assistência material, à saúde, à educação, assistência jurídica, social e religiosa bem
como a assistência aos egressos. Os investimentos financeiros dos governos
priorizam a construção de presídios e equipamentos de segurança sem uma política
séria voltada para o cumprimento da Lei e dos direitos humanos, principalmente no
que tange a trabalho e estudo.
A ociosidade produz efeitos nocivos à subjetividade, desqualificando e
despotencializando qualquer possibilidade de redirecionamento de suas vidas fora do
mundo do crime.
O governo brasileiro, atendendo à recomendação do Comitê Permanente de
Prevenção do Crime e Justiça Penal da ONU, fundamentado na Declaração Universal
dos Direitos do Homem, estabeleceu, através do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil,
dispostas na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, que visa a um tratamento
mais digno e mais humano para os presos. Em seus artigos 1º e 3º, respectivamente,
diz:
“[...] As normas que se seguem obedecem aos princípios da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e daqueles inseridos nos tratados, convenções e
regras Internacionais de que o Brasil é signatário [...] art. 3º. [...] é assegurado ao
preso o respeito a sua individualidade, integridade física e dignidade pessoal [...]”.
A Lei de Execução Penal, portanto, acatando tais recomendações, elencou as
assistências a que os presos fazem jus, de modo a garantir, principalmente, a
dignidade pessoal. Entretanto, o que se observa no cenário das prisões é a total falta
de cumprimento de tais assistências a uma população já excluída dos direitos
constitucionais de preservação da vida. Os espaços prisionais, na verdade, foram
construídos para abrigar os filhos da pobreza, da indigência, da exclusão social.
Conforme apontam Guindani e Soares:

“Se o país está encarcerando mais e não cumpre a Lei de Execução Penal,
está jogando lenha na fogueira [...] Não se pode prender aos milhares e
despejar essa multidão no inferno [...] um Estado que desrespeita a lei comete

28
crime. Em o fazendo, estimula a violência dos presos[...]” (apud
FRANÇA,2007, p.30)

Por outro lado, a falência do sistema diante do discurso da recuperação é


evidente, tendo em vista o caos que temos presenciado decorrente das altas taxas de
reincidência e o grave processo de exclusão social, decorrentes da ideologia
neoliberal que privilegia o capital financeiro e aumenta de forma absurda a distância
entre ricos e pobres.
A massa carcerária, procedente das camadas mais pobres da sociedade, é mal
escolarizada, despreparada para o mercado de trabalho, excluída do processo de
produção e, para agravar, é, na grande maioria, usuária de drogas ilícitas, o que a
torna mais vulnerável ao tráfico de drogas e aos ataques da polícia.
A grande influência e o marco das reflexões inquietantes, que atingem não só
os estudiosos das ciências criminais mas também os profissionais que atuam no
interior das prisões, está na obra de Foucault, que nos permite fazer uma nova leitura
sobre a dinâmica prisional e sobre a Psicologia que, durante muito tempo, funcionou,
ou ainda funciona, como um instrumento disciplinar a serviço do poder. Para Foucault
(1979, p. 73):

“[...] O que é fascinante nas prisões é que nelas o poder não se esconde, não
se mascara cinicamente, mostra-se como tirania levada aos mais ínfimos
detalhes, e, ao mesmo tempo, é puro, é inteiramente ‘justificado’, visto que
pode inteiramente se formular no interior de uma moral que serve de adorno
a seu exercício: sua tirania brutal aparece então como dominação serena do
Bem sobre o Mal, da ordem sobre a desordem [...]” (apud WEIZENMANN,
2013)

29
Fonte: www2.ma.gov.br

O autor, em sua clássica obra Vigiar e Punir, escrita em 1975, faz um profundo
estudo sobre o sistema de prisão, que surge em substituição aos espetáculos públicos
das práticas de suplícios.
Com a prisão, o controle e o adestramento do corpo passam a ser feitos pelo
uso de métodos sutis e dissimulados; os suplícios se dão de forma velada, com a
instalação de táticas disciplinares individualizadas. Sobre a prisão, diz Foucault (2001,
p. 197-198):

“[...] sua ação sobre o indivíduo deve ser ininterrupta: disciplina incessante.
Enfim, ela dá um poder quase total sobre os detentos; tem seus mecanismos
internos de repressão e castigo: disciplina despótica. Leva à mais forte
intensidade todos os processos que encontramos nos outros dispositivos de
disciplina. Ela tem que ser a maquinaria mais potente para impor uma nova
forma de indivíduo pervertido; seu modo de ação é a coação de uma
educação total [...]”

Portanto, ao evidenciar a questão do poder, Foucault desvela os mecanismos


de sujeição dos presos, pois, para conseguirem benefícios, devem obedecer
cegamente às normas instituídas para, assim, obterem o mérito, ou seja, o
reconhecimento dos operadores da máquina penal. Então, o mascaramento e a
artificialidade fazem parte do jogo de poder. É preciso representar para ser
reconhecido e aprovado, fazer de conta que acata a cultura prisional para não se
prejudicar.

30
Sem essa capacidade de discernimento e autocontrole emocional, fatalmente
estará incorrendo em faltas disciplinares por infração às normas institucionais, sendo
por isso julgado e penalizado pela CTC ou pelo Conselho Disciplinar, instrumentos de
controle previstos legalmente. Diante de tamanha sujeição, a prisão produz uma
grande diversidade de sentimentos despotencializadores: ódio, humilhação,
hostilidade, mágoa, rancor, temor e desesperança. Perguntamo-nos como trabalhar
com um sujeito que precisa forjar uma identidade e viver em regime de extrema
obediência e disciplina, que precisa ser dócil, submisso e educado?
Em muitos estados brasileiros, outras medidas disciplinares, como andar de
mãos para trás, ficar de frente para as paredes quando parado, ainda são preservadas
como demonstração de respeito e obediência, quando não são utilizadas práticas de
tortura conforme denúncias publicadas no livro de Execuções Sumárias no Brasil
1997-2003, da ONG Justiça Global.
A pretensão de trazer novos elementos, de questionar e refletir sobre o que
consiste a atuação do psicólogo nesse campo de intervenção, já é um passo
importante para pensarmos em uma prática para além dos laudos e pareceres. É
necessário que a Psicologia desvincule-se do modo essencialista de ver o homem, a
histórico e descontextualizado, produzido pela sociedade capitalista, tão bem
chamada por Foucault de sociedade disciplinar (2001, p.173).
Segundo Badaró (2005), buscar “uma prática psicológica comprometida com
os princípios dos direitos humanos e com a ética profissional, de modo a poder criar
dispositivos que acionem novos processos de subjetivação que potencializem a vida
das pessoas presas”, é o nosso grande desafio, pois nós, psicólogos, também
estamos sujeitos às armadilhas e capturas produzidas pelas contradições da própria
prisão.

4 O PAPEL DA PSIQUIATRIA E DA PSICOLOGIA NA EXECUÇÃO PENAL

A psicologia forense corresponde à área da psicologia que atua com os


sistemas da Justiça. No caso da psicologia que trabalha justamente com execução
das penas restritivas de liberdade e restritivas de direito nomeia-se Psicologia
Penitenciária ou Carcerária. Nesta área do conhecimento e da atuação profissional é
papel do psicólogo a realização de estudos sobre condenados, intervenção junto ao

31
recluso, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em população carcerária,
trabalho com agentes de segurança, ações com o stress em agentes de segurança
penitenciária, labor com egressos, penas alternativas (penas de prestação de serviço
à comunidade), entre outros.

Fonte:www.g1.globo.com

4.1 Execução penal

A individualização da pena não se encerra quando a sentença é proferida. É


necessário também que sejam feitas adaptações durante o cumprimento da pena.
Para tanto, o juízo da execução pode contar com diversos mecanismos apresentados
na Lei de Execução Penal (LEP), como o exame de personalidade, o exame
criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC).4, 5
A LEP, Lei 7.210, promulgada em 1984, prevê a individualização da pena,
oferecendo ao sentenciado maiores possibilidades de recuperação e reinserção
social.6 Para isso, define a existência da CTC em cada estabelecimento de execução
penal.5, 6
A CTC deve ser presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por dois chefes
de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de
condenado à pena privativa de liberdade. (LEP, art. 7º)
A CTC tinha como função, segundo a LEP, artigo 6º,elaborar um programa
individualizado e acompanhar a execução das penas privativas de liberdade e
32
restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as progressões e
regressões dos regimes, bem como as conversões.
Este artigo citado previamente, alterado em 1º de dezembro de 2003, dava à
CTC a incumbência de propor as progressões. Para Sá & Alves, a CTC,
diferentemente da equipe de perícia, ao dever tomar a iniciativa nos procedimentos
de progressão de pena, traria a possibilidade de uma execução de pena realmente
dinâmica e humana, em prol da própria paz na população carcerária.
Com a alteração na LEP citada anteriormente, foi suspendida a avaliação do
sentenciado para a progressão de regime realizada pela CTC:
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que
elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao
condenado ou preso provisório.
Sá & Alves apontam que as modificações trazidas pela Lei 10.792/03
representaram um retrocesso. Segundo os autores, o resultado é que hoje os
benefícios prisionais estão lastreados em mero atestado de boa conduta fornecido
pelo diretor do presídio. Por outro lado, de nada adiantará modificar novamente a lei
se os estabelecimentos prisionais não possuírem CTC com infraestrutura adequada
para a elaboração de pareceres interdisciplinares, humanos, de qualidade, e não
mecanizados, padronizados.

Fonte: enviarsolucoes.jusbrasil.com.br

O parecer de CTC deve avaliar o histórico prisional e a conduta do indivíduo de


forma global e justa. Representa uma avaliação das respostas que o preso vem dando

33
às propostas terapêutico-penais que lhe têm sido disponibilizadas. Para tanto, há que
se oferecer um programa que dê oportunidade ao preso, minimamente planejada e
adequada à sua pessoa, para que nela ele possa se encontrar, conhecer-se melhor,
conhecer seus interesses, aptidões e pensar melhor em seu futuro, e que ele seja
acompanhado, humanamente observado, e estimulado. Esse trabalho de
planejamento de oportunidades adequadas ao perfil dos presos é especificamente a
função da CTC.
A partir do exposto, pode-se observar o importante papel desempenhado pelos
médicos e pelos psicólogos na execução penal.

4.2 O exame criminológico

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime


fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da
execução. (LEP, art. 8º)
O exame criminológico é caracterizado como perícia e deve ser feito e assinado
somente por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Por se tratar de perícia, o
Manual de Tratamento Penitenciário Integrado para o Sistema Penitenciário Federal
coloca que o exame criminológico deve ser realizado, sempre que possível, por
profissionais sem envolvimento com o dia-a-dia do preso.

34
Fonte: www.estrategiaoab.com.br

Devido ao envolvimento diário com o presídio e seus programas, uma relação


interessada com o cotidiano do cárcere e dos presos, o parecer de CTC não tem as
características para ser perícia, e, portanto, exame criminológico deve ser feito.
Este exame visa avaliar as condições pessoais, das funções mentais, corpo, e
fatores sócio familiares do preso; e as circunstâncias que o envolveram; o que, de
alguma forma, podem explicar sua conduta criminosa anterior. Esta avaliação
possibilita a verificação sobre a adaptação do preso ao cárcere, oferecendo subsídios
para a individualização da execução de sua pena. Ou ainda, possibilita uma aferição
sobre possíveis desdobramentos futuros de sua conduta, em termos de probabilidade
de recidiva e obviamente nunca apresentar certeza.
Portanto, outros profissionais designados pelo Ministério da Justiça e Poder
Judiciário devem fazer o exame criminológico, ainda que a Portaria 2.065/2007
indique a possibilidade de o exame criminológico ser feito pelos mesmos profissionais
da CTC. Deve-se também a motivos teóricos e éticos e das Classes Profissionais de
Psicologia, Serviço Social, ser importante que sejam feitos por profissionais
especialmente designados para o exame.
Atualmente o Conselho Federal de Psicologia, de acordo com a Resolução CFP
12/2011, coloca que:8
Art. 4º. Em relação à elaboração de documentos escritos para subsidiar a
decisão judicial na execução das penas e das medidas de segurança:
a) A produção de documentos escritos com a finalidade exposta no caput deste
artigo não poderá ser realizada pela(o) psicóloga(o) que atua como profissional de
referência para o acompanhamento da pessoa em cumprimento da pena ou medida
de segurança, em quaisquer modalidades como atenção psicossocial, atenção à
saúde integral, projetos de reintegração social, entre outros;
b) A partir da decisão judicial fundamentada que determina a elaboração do
exame criminológico ou outros documentos escritos com a finalidade de instruir
processo de execução penal, excetuadas as situações previstas na alínea 'a', caberá
à (ao) psicóloga (o) somente realizar a perícia psicológica, a partir dos quesitos
elaborados pelo demandante e dentro dos parâmetros técnico-científicos e éticos da
profissão.

35
§ 1º Na perícia psicológica realizada no contexto da execução penal ficam
vedadas a elaboração de prognóstico criminológico de reincidência, a aferição de
periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito
delinquente.

4.3 Reforma psiquiátrica

Fonte:bemblogado.com.br

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 30 de julho de


2010, dispôs quanto à substituição do modelo manicomial de cumprimento de medida
de segurança para o modelo antimanicomial, no que tange à atenção aos pacientes
judiciários e à execução da medida de segurança. Essa substituição deve ser
implantada e concluída no prazo de 10 anos.
A partir de então, fica determinado a mudança do modelo assistencial de
tratamento e cuidado em saúde mental, que deve acontecer de modo antimanicomial;
em serviços substitutivos em meio aberto; buscando a intersetorialidade como forma
de abordagem; o acompanhamento psicossocial contínuo, realizado pela equipe
interdisciplinar; a individualização da medida; a inserção social; o fortalecimento das
habilidades e capacidades do sujeito em responder pelo que faz ou deixa de fazer.
A adoção do modelo antimanicomial traz funções importantes ao psiquiatra
forense e ao psicólogo jurídico, como a elaboração de projeto individualizado de

36
atenção integral; o acompanhamento psicológico do paciente judiciário; perícias
criminais nos casos em que houver exame de sanidade mental e cessação de
periculosidade; emitir relatórios e pareceres ao juiz competente sobre o
acompanhamento do paciente judiciário nas diversas fases processuais; sugerir à
autoridade judicial medidas processuais pertinentes, com base em subsídios advindos
do acompanhamento clínico social; prestar ao Juiz competente as informações clínico
sociais necessárias à garantia dos direitos do paciente judiciário.

Fonte:www.uepb.edu.br

A psicologia e a psiquiatria forense são áreas do conhecimento em saúde com


estudo em interface com as Ciências Jurídicas que auxiliam as tomadas de decisões
da Justiça. Possuem importante participação na matéria das execuções penais, como
na elaboração de programa individualizador da pena, exame criminológico e
abordagens antimanicomiais.

37
4.4 Os direitos humanos ante ao sistema prisional

Fonte:www.radionoticiamaranhao.com.br

Neste último ponto deste capítulo, necessário se faz discorrer a respeito dos
direitos humanos, haja vista, os objetivos de valorização dos seres humanos e
proporcionar uma sociedade mais igualitária, diminuindo assim com disparidades
sociais.
Passando por esse norte a lei de execução penal, em seu bojo, contempla não
só a individualização das penas dos condenados como também assegura os direitos
humanos, como assistência médica, social, religiosa, dentre outros, à aqueles que
cumprem as penas restritivas de liberdade. O que proporcionaria uma real
reintegração, após o cumprimento da pena, do condenado na sociedade.
Contudo, essa ainda é uma realidade distante das prisões brasileiras, pois ainda
há problemas como superlotação, violência entre os próprios apenados, além de
abuso de autoridade, podendo chegar até a tortura.
Nesta mesma vertente, não se pode virar as costa também para o entendimento
do conselho federal de psicologia, é facilmente percebido nos estabelecimentos
prisionais, onde o perfil dos apenados são geralmente de pessoas de baixa
escolaridade e de pouco poder aquisitivo, que o aquele que corrobora com o ditado
quem tem dinheiro não fica preso.

38
Após tudo o que foi visto até aqui, imprescindível se faz a presença do psicólogo
jurídico nesta área do direito penal, uma vez que é um campo que não pode ficar ao
crivo puro e seco da lei, devendo todas as subjetividades que passam desde os
condenados até os direito humanos serem objetos que necessitam da atenção da
psicologia jurídica, o que será detalhado no próximo capítulo.

5 A CONTRIBUIÇÃO DOS PSICÓLOGOS JURÍDICOS JUNTO AO SISTEMA


PRISIONAL

Fonte: www.psicologiamsn.com

5.1 A atuação do psicólogo jurídico no contexto das instituições prisionais

Inicialmente, necessário pontuar que a intervenção dos psicólogos no âmbito do


sistema prisional não se restringe às pessoas em execução de pena privativa de
liberdade, muito pelo contrário. Com efeito, tais profissionais atuam em prol de todo o
sistema, sempre em busca de promover mudanças satisfatórias, capazes de torná-lo
mais eficiente na resolução de seus problemas.
Retratando os diversos campos de atuação dos psicólogos, vale trazer a lume a
seguinte colocação da psicóloga Karine Belmont Chaves, atuante no sistema
prisional:

A psicologia está inserida dentro deste contexto jurídico, desempenhando


papéis de avaliação e tratamento, desenvolvendo, além do polêmico exame
criminológico, atividades psicoterapêuticas e, ainda no que se refere à
psicologia criminal, estudando e analisando intervenções possíveis, perante

39
as pessoas presas e a instituição prisional como um todo. (Chaves, 2010, p.5
apud MARQUES; OLIVEIRA,2014, p.05)

O trabalho dos psicólogos frente ao sistema carcerário brasileiro foi reconhecido


oficialmente em 1984, com a promulgação da lei de execuções penais (LEP),
proporcionando inúmeros debates pelo brasil a respeito do assunto. No entanto, nota-
se que eles já atuavam há mais de quarenta anos, seja mediante trabalho informal,
seja através de serviços voluntários.
A relevância desta atuação dos psicólogos também é evidenciada nos debates
travados em parceria pelo conselho federal de psicologia (CFP), departamento
penitenciário nacional (DEPEN) e o ministério da justiça (MJ).
O conselho federal de psicologia, por meio da resolução CPF 012/2011, ressalta
que os psicólogos deverão ter sempre em vista a observância dos direitos humanos
daqueles encarcerados, os quais deverão ser reinseridos na vida social. Em outras
palavras, os profissionais deverão atuar em prol da construção da cidadania,
afastando a cultura relativa à ideia de vingança. (Silva, 2007, p. 104).
Nesse diapasão, percebe-se como é abrangente o campo de atuação do
psicólogo jurídico nas prisões, notadamente em razão da grande demanda por seus
serviços, os quais podem ser efetivados junto aos detentos, familiares, comunidade,
bem como junto aos próprios profissionais que ali trabalham.

5.2 Psicologia E O Indivíduo Em Cumprimento De Pena Privativa De Liberdade

Cumpre agora tratar do trabalho dos psicólogos frente às pessoas que cumprem
pena privativa de liberdade.
Ao chegar no estabelecimento prisional, os detentos são submetidos às
comissões técnicas de classificação (CTC’S), criada pela LEP no afã de intervir da
forma mais adequada, aprimorando a execução penal. Para tanto, incumbe às CTC’S
estudar e propor medidas que conduzam a uma redução nos prejuízos de convivência
e contribuindo para capacitação dos reclusos para o convívio em sociedade. (Kolker,
2004).
A propósito, chaves (2010) assim estabelece:

Os casos dos presos que dão entrada na unidade para cumprir sua pena
passam pela reunião da CTC, em que são analisados os históricos pessoais,

40
criminais, familiares e comportamentais e são feitas sugestões de
encaminhamento para intervenções necessárias e disponíveis. Por exemplo:
se o preso é analfabeto, encaminha-se para alfabetização; se não tem
profissão, para curso profissionalizante; se tem hipótese de transtorno
mental, encaminha-se para avaliação psiquiátrica pelo sus; se tem alguma
doença, passará por avaliação médica detalhada; se tem histórico de abuso
de drogas, poderá participar de grupo específico com a psicologia, e assim
por diante.

O conselho federal de psicologia prevê como atenção individualizada ao recluso


o atendimento psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento,
orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio, atendimento ambulatorial entre
outros” (Conselho Federal de Psicologia, 2009, p. 19). Em outras palavras, tais
atendimentos têm por escopo avaliar o preso quanto a sua saúde mental, acolhê-lo,
escutar suas angústias, orientá-lo sobre as dificuldades impostas pelo cumprimento
da pena, como também defender os seus direitos com base nas suas subjetividades.
A demanda pelos serviços especializados pode se dar em várias circunstâncias,
como em casos de indisciplina do preso, ocasião em que o psicólogo irá auxiliá-lo na
busca por soluções, no intuito de que tal comportamento não o prejudique na
execução da pena, inibindo a concessão de benefícios e a progressão de regime.
Outra hipótese de demanda é quando a família ou o próprio detento solicita o
acompanhamento psicológico. Neste último caso, há um atendimento melhor quanto
aos resultados, na medida em que o preso está disposto a aceitar a intervenção.
De todo modo, os tratamentos devem sempre estar pautados pela observância
dos direitos humanos, pelo princípio da humanização das relações. Assim, devemos
observar até a forma de chamar os presos, deixando de chamá-los por números ou
por ladrão. Afinal, a volta do detento à vida social sem agredir ao próximo depende de
um conjunto de ações, desde aquelas mais pequenas. (Chaves, 2010).
Ocorre que é muito difícil colocar em prática tamanhas medidas individualizadas,
em razão da notória fragilidade dos presídios brasileiros:

Muitas vezes faltam até salas específicas para os atendimentos, bem como
para outras atividades que podem acontecer dentro do sistema, pois não raro
a construção física das unidades penais desconsidera os espaços para
intervenções numa perspectiva de humanização, estando focadas na
questão da segurança.
(...)Desconsideram qualquer necessidade de “setting terapêutico”. Muitas
vezes a “necessidade” de acompanhamento por agentes, em prol da
segurança, limita o estabelecimento de um vínculo genuíno, visto que não
conseguimos lhes fornecer condições éticas de confidencialidade e sigilo.
(Chaves, 2010, p.11/12)

41
Outra mazela é a superlotação que acomete os estabelecimentos prisionais.
Dados do sistema de informações penitenciárias (INFOPEN) do ministério da justiça
revelam que a população carcerária no brasil no final de 2012 era de 548 mil pessoas.
Contraditoriamente, os presídios dispõem apenas de 310,6 mil vagas, ou seja, um
défit de 237,4 mil vagas.
Lago (2009) afirma que:

As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis


nos presídios brasileiros em razão das superpopulações existentes. Pelo
mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou
estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários,
internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que
trabalham junto ao sistema carcerário.

Lado outro, também existe a possibilidade dos trabalhos serem realizados em


grupo, oportunizando as relações interpessoais entre os enclausurados, mas sempre
se observando as medidas de segurança necessária caso a caso. Neste ponto, o CFP
enumera várias técnicas a serem utilizadas, como oficinas terapêuticas, psicoterapia
e reflexões em grupo. Além de possibilitar a convivência e a troca de experiências
entre os apenados, os trabalhos em grupo proporcionam uma atuação mais
abrangente no que se pertine à quantidade de beneficiados com o atendimento, pois
é sabido que poucos são os profissionais face ao número de pacientes.

Fonte:www.grupoopcao.com.br

42
Chaves (2010) evidencia sobremaneira a importância desse trabalho grupal
entre os detentos, pontuando que pode ser uma forma de resgatá-los, trazendo-os de
volta para a sociedade de uma forma mais saudável, na medida em que, por exemplo,
evita a contaminação do indivíduo encarcerado por eventuais companheiros de cela
entrelaçados com a cultura do crime.
Como exemplos de grupos, podem ser citados aqueles voltados para
dependentes químicos, os de prevenção a DST/aids e os grupos terapêuticos. Cada
projeto em grupo possui objetivos específicos, como a busca pelo diálogo, orientação
e informação, o resgate de histórias de vida, proporcionar reflexões, apoio e
autoestima, bem como intervir para que os enclausurados reincidentes repensem
sobre os seus projetos de vida.
Assim, embora seja de suma importância o que é previsto na LEP, no sentido de
que deve ser feito acompanhamento dos apenados desde a sua chegada até a
completa reinserção na sociedade, tem-se que sua realização prática resta em parte
comprometida, mormente aquelas individualizadas.

5.3 Psicologia e a reintegração do egresso na sociedade

Um outro trabalho de suma importância realizado pelos psicólogos é aquele feito


frente aos egressos do sistema prisional, notadamente em razão do grau de
vulnerabilidade dos mesmos.
Para tanto, a lei de execuções penais (LEP) dispõe que deverá ser estendida ao
egresso a assistência prevista ao preso. O artigo 26 deste diploma legal define que
egressos são as pessoas liberadas definitivamente da prisão, até o lapso de um ano
após a sua colocação em liberdade, bem como aquelas liberadas condicionalmente,
durante o período de prova.
Neste contexto, a LEP prevê em seu artigo 25 que os egressos do sistema
prisional sejam assistidos, orientados e apoiados na reintegração para a vida em
liberdade, inclusive, sendo necessário, deverá ser disponibilizado a eles alojamento e
alimentação durante o prazo de dois meses, o qual é prorrogável, período para que
obtenha emprego e moradia.
No entanto, o Conselho Federal de Psicologia (2009, p. 32) pontua que:

43
Como regra, nenhuma dessas indicações legais é observada no Brasil. Os
egressos retornam, assim, ao convívio social sem que, muitas vezes, tenham
recursos para adquirir uma passagem de ônibus à saída do presídio. Essa
realidade contrasta fortemente com a experiência dos países mais
desenvolvidos – notadamente as nações da europa ocidental – que mantêm
há décadas projetos consistentes de apoio ao egresso. (Apud MARQUES;
OLIVEIRA,2014, p.12)

Como solução, este mesmo conselho propõe a criação de um programa


nacional de apoio aos egressos, abarcando várias medidas, dentre outras, a atenção
psicossocial.
Na medida em que um programa de assistência a esses egressos é implantado,
estar-se-á promovendo a reintegração do indivíduo na sociedade e,
consequentemente, diminuindo os índices de reincidência. Isso evidencia ainda mais
a enorme contribuição da psicologia para o sistema prisional, reforçando a
necessidade desta constante interação.
Um bom exemplo é contribuir para que o egresso consiga um trabalho,
mormente se considerando que a sua grande maioria é de baixa renda e grau de
escolaridade. Com uma renda própria, além de aumentar a autoestima e distanciar-
se do mundo do crime, facilita para que o egresso seja e se sinta verdadeiramente
reintegrado à sociedade, a qual passará a vê-lo de outro modo.
Atualmente, existem diversos programas que buscam romper o ciclo de
violência dos egressos, com consequente redução da reincidência criminal. Pode-se
citar o instituto elo, que atua por meio de diversos programas, como a central de
acompanhamento de penas e medidas alternativas (CESPA) e o programa de
reintegração do egresso do sistema prisional (PRESP).
Destaca-se o programa de reintegração do egresso do sistema prisional
(PRESP). Quanto a sua área de atuação, objetivos e métodos, assim explicita a
secretaria de estado de defesa social:

O programa de inclusão social de egressos do sistema prisional (PRESP)


trabalha com aqueles indivíduos que sofreram processos de criminalização e
cerceamento de liberdade. Seu objetivo é diminuir as exclusões e estigmas
decorrentes dessa experiência, promovendo condições para a retomada da
vida em liberdade. O programa busca o distanciamento do egresso das
condições que provoquem a reincidência criminal. (...)

O programa busca trabalhar o imaginário social na importância do acolhimento


do egresso do sistema prisional como estratégia de redução da violência e prevenção

44
à criminalidade. Assim, possibilita o acesso aos direitos sociais e trabalha para a
compreensão e implicação do aumento do capital social por meio de diversas
atividades individuais e em grupo com os integrantes do PRESP.
No tocante aos efeitos dos diversos programas de reabilitação, o conselho
federal de psicologia (2009), com base em pesquisas, assevera que os mesmos
podem ser maximizados quando:
1. Há uma efetiva focalização nos fatores que contribuem para o
comportamento indesejado do infrator;
2. São empregados métodos participativos orientados pela solução de
problemas;
3. A intensidade e a duração do tratamento são estabelecidas de acordo com
os riscos de reincidência;
4. Há persistência em uma direção, a partir de uma base teórica definida,
evitando-se a mudança aleatória de objetivos e métodos de trabalho;
5. Os infratores são alocados em programas de acordo com suas
necessidades e estilos de aprendizagem.
Neste ponto, deve-se questionar o senso comum sobre as opiniões acerca das
prisões, penas e perfil dos condenados. Assim, o apropriado seria empreender
esforços para que a ideia de recuperação daqueles que cumprem pena privativa de
liberdade ganhe consistência, ao invés de simplesmente adotarmos uma visão
preconceituosa, não acreditando nessa reabilitação.
Note-se, a título de reflexão, que, enquanto o estado tenta, por um lado,
promover a reinserção do egresso no campo de trabalho da iniciativa privada, por
outro, não aceita estes mesmos indivíduos para seus cargos.
Em suma, extrai-se que os trabalhos com egressos do sistema prisional e sua
consequente reintegração a vida social apresentam resultados positivos,
notadamente na diminuição da reincidência criminal, o que é viabilizado pela atuação
conjunta com os profissionais psicólogos.

45
6 O PAPEL DA PSICOLOGIA NA RESSOCIALIZAÇÃO

Fonte: www.portalabcrede.com.br

Conviver durante anos num espaço mínimo para necessidades mais básicas do
ser humano não conduz alguém a um estado de satisfação com a sociedade, muito
pelo contrário. O que devia ser o objetivo da sanção criminal acaba se tornando um
fator que impulsiona o presidiário de forma negativa, trazendo mais ao lado da
reincidência que da reinserção social. Sendo este um dos principais fatores de falha
do sistema em si.

6.1 A PSICOLOGIA

Compreendendo as relações sociais sob o prisma psicológico é possível indicar


o motivo de falha e tentar amenizar, senão corrigir, tal situação. A condição atual do
sistema prisional brasileiro não favorece aos presidiários em si condições de seguir
um padrão de vida fora da prisão.
Um dos principais fatores da inserção do indivíduo no crime é o econômico,
somado a ele, o sentimento de desejo, satisfação. A delinquência supõe uma relação,
uma atitude de confronto, antagonismo e oposição perante a sociedade as suas

46
normas e costumes, atitude essa que pode ter suas formas de manifestação já nos
primeiros anos de vida. (SÁ. 2007 p. 68)
O confronto na mente do indivíduo é evidente e podem-se colocar dois pontos
de partida: conduta proveniente de questões ambientais, de meio ou um somatório de
experiências recentes. Não muito diferente da realidade de crianças e adolescentes
que residem em periferias de grandes cidades. Seja porque convivem desde o
nascimento com um ambiente hostil ou que vislumbram aquilo que para elas seria o
auge e o modo como ele foi atingido: de modo criminoso. O determinismo (influência
forte do meio) é sim um fator, porém, psicologicamente, não é exclusivo e pode ser
observado pelo perfil daqueles que, de fato, decidem por entrar ou não na
delinquência.
A capacidade de envolvimento emerge no começo do desenvolvimento
emocional, no contexto das relações mãe-bebê como duas unidades já distintas, e
continua a desenvolver-se até a fase adulta.

O desenvolvimento das relações sociais acontece com o crescimento da


pessoa. Cabe ressaltar que o envolvimento não diz respeito apenas a assumir
a responsabilidade dos atos que venha a praticar, mas também reconhecer
os impulsos que os motivaram. (SÁ. 2007 p.75 apud CARVALHO,2014.)

A evolução da personalidade é inversamente proporcional à dependência do


meio, fator que reforça o caráter não absoluto do determinismo na composição da
psique do indivíduo. Alvino Augusto de Sá menciona a delinquência como via de
solução para privação emocional e o confronto de desejos. Para a motivação são duas
teses: a destruição e o furto.

47
Fonte:www.dicasdemulher.com.br

Na destrutividade, o que se busca é o limite, o impacto com os próprios impulsos


porque o indivíduo já não consegue contê-los internamente, a busca de um ambiente
que suporte a sua tensão. Identificado nos crimes contra a vida, contra a integridade
física e vandalismos. Na motivação por furto, tem-se a procura obsessiva por “algo”
de forma insaciável, que nunca será encontrado. O furto expressa a privação do
objeto. Identificado nos crimes contra o patrimônio. (SÁ. 2007 p.86)
De forma semelhante, ao cumprir sua pena, o ex-detento se depara com uma
situação em que pode manifestar ambos os desejos. A frustração na busca pelo
objeto, orientada pela questão econômica e a insegurança com relação a ela, e
também o medo de encarar novamente a sociedade.
A instrução psicológica é voltada para a compreensão dos desejos e impulsos
do indivíduo, ajuda no controle e/ou supressão daquilo considerado prejudicial à sua
reinserção. A avaliação psicológica pode percorrer toda a vida do indivíduo, e, por
lógica, todo o processo penal, auxiliando na compreensão, estudo e avaliação da
subjetividade da pessoa. Sendo então analisado se caberá a possibilidade de se
realizar o psicodiagnóstico em detentos, para averiguar-se o momento ideal para que
seja concedida a progressão da pena. E em outros casos, levando em conta a
aplicação de medidas de segurança como a internação hospitalar, por exemplo.

48
6.2 O INSTITUTO DA RESSOCIALIZAÇÃO

Fonte: agenciaalagoas.al.gov.br

Sociedade, palavra oriunda do vocábulo grego societas que significa associação


amistosa com outros, é para Émile Durkheim, o conjunto de regras e normas, padrões
de conduta que não existem na consciência individual, regidas por leis sociais. Max
Weber, no entanto, diz que a sociedade não está acima do indivíduo, mas a vê como
um conjunto de padrões, convenções, regras que formam as relações sociais
instituídas entre os indivíduos. Por fim, o brilhante Karl Marx, que analisou de forma
mais veemente a sociedade capitalista, conceituou a sociedade de forma geral de
acordo com o contexto histórico-social, a classe a que cada indivíduo pertence.
Tomando por base a conceituação dos três “clássicos sociológicos”, podemos
inferir superficialmente que sociedade é o conjunto de indivíduos regidos pelos
mesmos costumes, valores sociais, de forma coercitiva pelo Estado, através de uma
norma cogente.
Ressocialização, conforme já explicitado, nada mais é, grosso modo, que a uma
nova socialização do indivíduo, uma nova habituação aos preceitos, costumes e
valores da sociedade. O instituto da ressocialização se dá, de forma ampla e,
sobretudo na abordagem do presente estudo, quando o cidadão é retirado da
sociedade por um lapso temporal significativo, o que ocorre quando é condenado e
cumpre uma pena restritiva de liberdade em regime fechado, pela prática de um delito.

49
O crime nada mais é que uma conduta praticada contra os bens tutelados pela
vida em sociedade, ele fere padrões típicos de conduta harmônica com os demais
membros civis, padrões harmônicos estes desenvolvidos pelo convívio e costume ao
longo de séculos, sofrendo adaptações até chegar à norma vigente. O sujeito que
pratica um ato atentatório à estes bens tutelados e desarmoniza a vida social, não foi
socializado ou não está apto a exercer uma vida comum, em grupo, por isso sofre
coercitiva punição por parte do Estado, sendo privada sua liberdade e seu convívio
com os demais cidadãos. A aplicação da pena privativa de liberdade ao transgressor
da norma tem característica punitiva e pedagógica. Punitiva pois o afasta da
sociedade, de seus entes queridos e priva sua circulação no meio comum; pedagógica
pelo caráter de aprendizado e sopesamento de seu ato frente ao bem social tutelado.
A reprimenda imposta ao criminoso visa perseguir um fim condizente com os
ditames constitucionais e com a democracia, motivo pelo a Lei de Execução Penal
(Lei nº 7210, de 1984 – LEP) atribui à pena restritiva de liberdade um caráter punitivo
e retributivo, de forma a ressocializar o apenado para uma “harmônica integração
social do condenado e do internado”, conforme aduz seu Artigo Primeiro.
No mesmo toar, a LEP preceitua diretrizes a serem seguidas ao condenado
assim que se tornar egresso do sistema prisional. O artigo 25, inciso I aduz que “a
assistência ao egresso consiste na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em
liberdade”. Está mais que demonstrado através do supracitado artigo o caráter
ressocializador do Estado para com o egresso do sistema prisional após o
cumprimento da sua pena. Para a prática de tal ato, cabo ao Estado também oferecer
as condições necessárias ao egresso para sua reinserção na comunidade, através de
programas públicos de assistência jurídica, social e psicológica.
O sistema prisional, que deveria ser um instrumento de ressocialização, muitas
vezes, funciona como escola do crime, devido à forma como é tratado pelo estado e
pela sociedade (ASSIS, 2007) e tal quadro, amplamente discutido em diversos
estudos, contribui para a deterioração acelerada do ser humano durante o
cumprimento de sua pena.
A instituição carcerária deveria ser um local de reclusão e aprimoramento
humano, mas, na gritante maioria das vezes, é simplesmente o local de esvaziamento
de personalidade do sujeito, onde ele entra para ser reabilitado socialmente e sai pior
do que entrou, ainda mais envolvido na criminalidade ou desestabilizado

50
psicologicamente. Desta forma, fica extremamente evidenciada a importância do
trabalho psicológico com os egressos do sistema carcerário, um acompanhamento e
tratamento efetivo, para potencialização do escopo de reinserção.
O trabalho de uma equipe interdisciplinar para amparar o condenado é de suma
importância para sua ressocialização, tanto que a Lei de Execução determina, em
alguns artigos, a participação de diversos profissionais para otimizar resultados nessa
empreitada junto ao apenado. Tendo como exemplo, o artigo 7º aduz que:
A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será
presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um)
psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado
à pena privativa de liberdade
No mesmo sentido:
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando
prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A
assistência estende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde;
III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa.

6.3 O papel da psicologia na ressocialização

Fonte: www.seap.mg.gov.br

51
O sistema prisional, como já apontado, tem caráter punitivo e retributivo,
seguindo os ditames da Lei de Execução Penal. Porém a cada dia mais se evidenciam
as mazelas do sistema carcerário no nosso país, seja pela falta de estrutura
organizacional, pela pouca demanda de interesse profissional ou falta de investimento
estatal.
As condições precárias das instituições prisionais, que se fazem por estes
motivos anteriormente citados, culminam no não cumprimento das duas funções
básicas deste sistema, até preceituadas em lei. Em virtude disso, muitas vezes o
Poder Judiciário juntamente com algumas esferas governamentais dão soluções
alternativas para minimizar a influência negativa dos presídios e buscar formas
efetivas para ressocialização do egresso do sistema prisional. Como exemplos destas
soluções paliativas, podemos citar, no âmbito do Estado de Minas Gerais, de onde é
produzido o presente estudo, os Centros de Prevenção à Criminalidade – CPCs, os
Centros de Referência de Assistência Social – Cras e os Centros de Referência
Especializado de Assistência Social, onde os egressos do sistema prisional podem
buscar auxílio e acompanhamento para propiciar uma melhor reintegração social.
Os presídios são lugares inóspitos, inadequados e corruptivos, por isso há uma
grande necessidade de acompanhamento durante e após o cumprimento da pena,
tanto é que são criados centros de atendimento para este público. Estes espaços de
atendimento, para melhor acompanhamento dos usuários, são compostos de equipes
multidisciplinares, com profissionais de diversas áreas, para resolver todas as
demandas possíveis que possam aparecer.
Dentro destas equipes multidisciplinares, é de enorme valia o trabalho dos
profissionais da área da Psicologia. Seu trabalho tanto dentro, quanto fora das
unidades prisionais é de extrema importância, pois quem cumpre ou cumpriu pena
privativa de liberdade sofre ou sofreu várias influências quem podem afetar seu estado
normal psicológico.

52
Fonte:estudiodamente.com.br

As psicoses, neuroses, histerias e outras “doenças psicológicas” são causadas


por fatores orgânicos ou funcionais. Há pessoas que nascem com uma predisposição
genética para desenvolver algum distúrbio mental, já outras desenvolvem de forma
funcional, por uma situação vivida, um fator externo que influenciou seu surgimento.
As prisões, sendo entidades com tantos problemas como os já citados, e o período de
readaptação social logo que o apenado se torna egresso do sistema carcerário são
starts suficientes para se tornarem fatos geradores de qualquer transtorno psicológico.
Assim sendo, fica evidenciado o papel do Psicólogo no acompanhamento deste
sujeito marginalizado socialmente, para evitar o surgimento de qualquer quadro clínico
de ordem psíquica e para tratar os que os adquiriram, tornando suas vidas o mais
normal possível, dentro de uma estabilidade, para que a tentativa de ressocialização
se efetive da forma mais natural que possa ser

53
6.4 Trabalho dos psicólogos junto às demais pessoas envolvidas com o
sistema carcerário

A intervenção dos psicólogos não se restringe aos indivíduos que cumprem pena
privativa de liberdade, estendendo também aos familiares destes, bem como aos
agentes penitenciários.
Essa interação com os familiares consiste, inicialmente, em acolhê-los para
ficarem cientes do caso do ente familiar, informando-os sobre suas condições.
Ademais, o atendimento familiar propicia a manutenção do vínculo familiar,
fundamental para interferir de forma positiva na vida do preso, contribuindo para a
futura reinserção do mesmo ao seu núcleo familiar e, consequentemente, a
readaptação na sociedade. (Conselho Federal de Psicologia, 2009).
Referida contribuição é evidenciada através de pesquisas a respeito da
influência das visitas familiares aos detentos. No estado da Flórida (EUA), constatou-
se que os reclusos visitados frequentemente possuem índices de reincidência bem
inferiores em relação aos outros. (Bales, 2008).
Lado outro, também se faz necessário o acompanhamento psicológico dos
agentes penitenciários, a fim de que possam desenvolver suas atividades de forma
saudável. Neste particular, Molina e Calvo:

o ambiente contribui para que o trabalhador sofra desgastes de ordem física


e emocional, sendo importante para manter a saúde operar algumas
modificações no sentido de melhorar este ambiente e gerar maior satisfação
e adequação da instituição para que o trabalhador possa desenvolver suas
funções de forma saudável.

A necessidade deste acompanhamento está ligada inicialmente ao fato do


ambiente prisional possuir características pouco saudáveis, com iluminação precária,
equipamentos e utensílios desgastados e a falta de asseio em alguns setores. Tal
situação causa grande risco à saúde física e mental dos profissionais que ali atuam
diariamente.
Soma-se a isso o fato destes profissionais trabalharem em um ambiente
pesado, com resquícios de um sistema penal antigo, que se limitava a punir,
relacionado com a ideia de vingança, exclusão, castigo.
Deste modo, é fácil constatar a grande vulnerabilidade dos presídios quanto às
condições de trabalho e rotina, o que prejudica um desempenho mais satisfatório.

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Tal contexto, permanecendo por longo prazo, pode fazer com que os agentes
penitenciários manifestem seu stress e suas angústias com comportamentos
agressivos destinados ao preso, o que não pode ser admitido em hipótese alguma.
Por outro lado, esta violência pode se voltar contra o próprio agente, que muitas das
vezes acaba adoecendo.
Isso evidencia sobremaneira a necessidade de um acompanhamento
psicológico destes profissionais. Para tanto, o conselho federal de psicologia (2009)
dispõe que os sistemas prisionais devem oferecer atenção psicológica, orientações,
avaliações, entre outros serviços especializados. No caso, também há a possibilidade
de se fazer trabalhos em grupos.
Com propriedade, o conselho federal de psicologia resume que foi apontado
como tarefa do (a) profissional psicólogo (a), o compromisso de melhorar as condições
de vida do presídio, bem como transformar a cultura institucional e garantir os direitos
das pessoas presas (2009, p. 24).
Ao estudar os aspectos do cumprimento da pena privativa de liberdade no
Brasil, comprovou-se a necessidade de se buscar alternativas para um melhor
funcionamento do sistema prisional como um todo, que puna e trate ao mesmo tempo.
Explicitou-se o que é psicologia jurídica e sua tamanha abrangência,
notadamente sua imprescindível relação com o direito e as várias maneiras de atuar
em conjunto com a justiça.
Constatou-se que o trabalho dos psicólogos é capaz de mudar a cultura
difundida pelo senso comum, no sentido de que a ideia de readaptação dos egressos
seria apenas uma ilusão. Analisou-se então, a partir da procura por meios que
aprimorassem o sistema prisional, como a atuação dos psicólogos contribui no âmbito
dos estabelecimentos prisionais brasileiros.
Observou-se que seus trabalhos não se restringem às pessoas dos detentos,
sendo de suma importância a atuação frente também aos familiares, à comunidade,
aos egressos e, inclusive, junto aos funcionários do sistema.
No tocante aos reclusos e egressos, verificou-se que a atuação dos psicólogos
proporciona que eles se sintam como cidadãos, de fato integrantes da comunidade
social, vencendo estigmas preexistentes. Tal trabalho é fundamental para recuperar
aqueles indivíduos que se encontram em flagrante situação de vulnerabilidade,
contribuindo sobremaneira para a redução da reincidência criminal.

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A participação da família, por sua vez, facilita a readaptação dos apenados na
vida social, sendo certo que também cumpre à sociedade não rotulá-los, pois o fato
de serem excluídos influi para uma maior probabilidade de retornarem ao mundo do
crime.
Destacou-se que, embora o sistema carcerário seja frágil, os psicólogos logram
êxito em contribuir para que seus objetivos sejam realizados de maneira mais
satisfatória, principalmente aqueles contidos na lei de execução penal.
Portanto, restou demonstrado que a atuação dos psicólogos no âmbito das
prisões é eficaz, trazendo inúmeros benefícios para os envolvidos direta e
indiretamente com o sistema prisional. É este profissional que melhor saberá lidar com
as particularidades dos sujeitos.

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